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A Identidade do RS em Jorge Salis Goulart

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Academic year: 2021

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IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação

PUCRS

A Identidade do RS em Jorge Salis Goulart

Jefferson Teles Martins, Dr. Flávio Heinz (orientador)

Programa de Pós-Graduação em História, Faculdade de História, PUCRS,

Resumo

No processo de construção de uma identidade e na fixação de uma memória social participam diversos agentes, entre os quais destacamos, para efeito de análise, os intelectuais. Neste sentido é parte da função social da história (e dos historiadores), ainda que de forma limitada, a formação das identidades quer regional ou nacional.

Segundo Anthony Smith:

toda espécie de identidade é uma “construção” social, uma construção fluida e maleável, que é resultado e o produto de situações particulares. As identidades culturais coletivas são múltiplas, porosas e freqüentemente se sobrepõem. As identidades étnicas, regionais, religiosas, de gênero e de classe social se entrelaçam em situações determinadas e são facilmente penetráveis. (Smith, 2000, p. 1)

Diversos grupos dentro do corpo social “se comprometem com os processos de seleção, reconstrução e reidentificação, sobretudo, os intelectuais e os profissionais, mas também os burocratas, os clérigos e os dirigentes”. Por outro lado, isto não significa, no entender de Smith, que as elites intelectuais operem livremente estes processos. Estão elas “coagidas” e “limitadas” pela necessidade de ressonância social:

Assim sendo, as elites operam dentro dos limites da ressonância popular das identificações tradicionais, do conhecimento histórico do momento e das tradições históricas compartidas, se querem que suas inovações e re-interpretações culturais tenham conseqüências sociais e políticas perduráveis. (Smith, 2000, p.10)

Desta forma, Smith aponta para a intrínseca e complexa relação entre o papel da intelligentsia e suas condições sociais com os elementos da herança ou patrimônio cultural

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das populações eleitas. Sugere equilíbrio entre o impacto da atividade dos intelectuais e a influência do passado étnico ou cultural.

Assim, partimos do pressuposto de que o apelo à identidades específicas, seja de um espaço regional ou nacional, em geral, está relacionado à consecução de propósitos políticos, econômicos e culturais. Este entendimento permite tomar os conceitos de região e regionalismo como elucidativos aos estudos históricos – enquanto categorias de análise – pois podem trazer luz aos campos político, social, econômico e cultural através do cotejamento da relação entre o regional e o nacional. Especialmente, em torno da arena política a experiência histórica do RS é um bom exemplo para se analisar esta relação (Damatta, 2004) vislumbrando-a a partir do papel e atuação dos intelectuais nesta dialética, reconhecendo-se que há uma intersecção entre história intelectual e história das idéias políticas.

Portanto, pode-se vincular o processo de (re)formulação de uma identidade para o Rio Grande do Sul, pela sua intelectualidade, num amplo horizonte dentro do movimento intelectual que após a Primeira Guerra tornou-se marcadamente nacionalista à medida que as esperanças de salvação para o Brasil voltaram-se para a construção de uma identidade nacional (Costa, 1967), e ainda como uma questão regional que impunha-se dentro do contexto da segunda década do século XX, em que há a busca de reconhecimento e espaços para o RS nos centros de poder do país. Uma das vias utilizada para tal foi a afirmação da brasilidade do RS enfatizando-se sua matriz lusitana, em oposição à matriz hispano-platina, e da construção de uma identidade em que o sul-riograndense deixasse de ser apenas gaúcho e se tornasse principalmente brasileiro, porém sem negar suas singularidades, mas ao mesmo tempo reafirmando as similaridades com o Brasil (Gutfreind, 1992). É neste ponto que insere-se a atuação de Jorge Salis Goulart como um dos articuladores dessa repreinsere-sentação ou insere-sentido de identidade. Em 1927, publica a obra paradigmática “A Formação do Rio Grande do Sul”, na qual delineia um perfil da identidade gaúcha, articulando valores e representações sociais que se tornarão marcantes na historiografia tradicional do RS, e permanecerão vigorosos ainda hoje, para certos grupos, como o MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho). Mas, sobretudo, revela os interesses políticos e ideológicos na construção de uma identidade regional para o RS atada à identidade nacional.

Introdução

Ao lado de outros fatores de unidade, sem dúvida, as elites intelectuais, apesar de suas limitações, tem o seu quinhão no processo de constituição das identidades nacionais e

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regionais. O apelo à identidade específica de espaços determinados seja de uma região ou uma nação, em geral, concorre à consecução de objetivos políticos, econômicos e culturais.

Neste artigo, vamos perquirir o processo de construção do sentido de identidade regional do RS, e o papel da intelligentsia nesse processo, através da análise do trabalho de um intelectual sul-riograndense, Jorge Salis Goulart, devido à que sua obra lança as bases para o desenvolvimento da noção de “gauchidade”, ainda que isto não apareça em suas intenções explícitas.

Primeiramente, faremos uma abordagem acerca das discussões sobre a questão da identidade regional. Em segundo momento, analisaremos as proposições do autor escolhido – Salis Goulart – articulando-as ao seu horizonte histórico e intelectual.

Metodologia

Este trabalho fundamenta-se no exame exegético e crítico do próprio conteúdo dos textos impressos da produção intelectual de Jorge Salis Goulart, em especial A Formação do Rio Grande do Sul (1927), enquanto fontes de pesquisa. Por outro lado, realizamos diálogo constante com as discussões teóricas sobre intelectuais e construção de identidades.

Resultados (ou Resultados e Discussão)

Salis Goulart foi o primeiro intelectual sul-riograndense que procurou dar base sociológica sistemática e estrutural à história do RS, ou seja, compreender os principais aspectos da formação histórica da sociedade sul-riograndense a partir de pressupostos sociológicos então correntes na época, marcados por uma visão cientificista tributária ao século XIX. Os conceitos que aparecem como chaves para compreender a realidade na perspectiva de Salis são sociedade, raça e meio geográfico. No seu dizer, “do entrechoque das forças sociais e das possibilidades do meio resulta a formação gaúcha”. Outro aspecto saliente na obra de Salis é sua ênfase no caráter particular e peculiar da formação sul-riograndense, que fará escola na historiografia gaúcha. Por exemplo, quando diz que a sociedade rio-grandense é mais secularizada que o restante do Brasil, em suas palavras: “o meio social desviou, pois, do objetivo religioso os destinos do nosso povo.” (Goulart, p. 61). Ou quando afirma o dogma da democracia sulina, ou seja, a não existência de conflitos sociais no RS. Em decorrência, ou talvez premissa do ponto anterior, afirma que “o rio-grandense, socialmente falando, é um povo republicano”. (Goulart, p.153). Mas ao mesmo tempo, em

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que assinala a singularidade do povo gaúcho, é enfático ao afirmar a matriz lusitana – para usar a expressão de Ieda Gutfreind – da formação do RS: “é a colonização açoriana que coloca num campo, aonde se entrecruzavam o espírito belicoso e a idéia de aventura, a nota inicial do trabalho organizado e da vida calma e operosa, preparadora de um grande futuro econômico” (Goulart, p.15). Também, ressalta o precoce e inato “sentimento nacional, o patriotismo brasileiro dos naturais da Província” (Goulart, p. 153). No outro flanco ideológico, marca distância em relação à matriz platina negando as aproximações do RS com a área do Prata, pois: “As diferenças entre o povo rio-grandense e o platino se nos apresentam numerosas e importantes” (Goulart, p. 101) devido a duas causas: “o fator social e o fator étnico” (Goulart, p. 102).

Conclusão

A produção intelectual de Jorge Salis Goulart, da década de 1920, enfocada como fonte de pesquisa permite vislumbrar a inserção da intelectualidade sul-riograndense no projeto de construção da identidade gaúcha vinculada à nacional. Além de evidenciar as origens de vários “mitos” da historiografia rio-grandense.

Referências

CARNEIRO, Newton Luis Garcia. Identidade Inacabada: regionalismo político no Rio grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.

CORADINI, O. L. As missões da cultura e da política: confrontos e reconversão das elites culturais e políticas no Rio Grande do Sul. (1920-1960). In: Estudos Históricos, RJ, no. 32, 2003, PP. 125-144.

COSTA, J. Cruz. Contribuição à História das Idéias no Brasil. 2. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

DAMATTA, Roberto. Nação e região: em torno do significado cultural de uma permanente dualidade brasileira. In: SCHÜLER, Fernando Luís; BORDINI, Maria da Glória (org.). Cultura e Identidade Regional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

GUTFREIND, Ieda. A Historiografia Rio-Grandense. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1992.

POZENATO, José Clemente. O regional e o universal na literatura gaúcha. Porto alegre: Editora Movimento/ Instituto estadual do Livro, 1974.

SAID, Edward. Representações do intelectual. São Paulo: Companhia da Letras, 2005.

SALIS GOULART, Jorge. A Formação do Rio Grande do Sul. 3. ed. Porto Alegre: ESTSLB/Martins Livreiro, Caxias do Sul: UCS, 1978.

SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René. Por uma história política. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ/FGV, 1996.

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SMITH, Anthony D. Interpretações sobre a identidade nacional In: GUIBERNAU, Montserrat. Nacionalisme. Debats i dilemes per a um nou mil-enni. Barcelona: Proa, PP. 119-142.

___________________. ¿Gastronomia o Geologia? El rol del nacionalismo en la reconstrucción de las naciones. Disponível em: http://www.cholonautas.edu.pe/modulo/upload/4smith.pdf. Acesso em 20 maio 2009.

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