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A UTILIZAÇÃO POLÍTICA DO MITO DO APÓSTOLO SANTIAGO NO REINADO DE ALFONSO II, O CASTO ( ).

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Academic year: 2021

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A UTILIZAÇÃO POLÍTICA DO MITO DO APÓSTOLO

SANTIAGO NO REINADO DE ALFONSO II,

O CASTO (791-842).

CAMPOS, Andréa Rodrigues (UEM) REIS, Jaime Estevão dos (UEM)

INTRODUÇÃO

O reino das Astúrias situado no extremo norte da Península Ibérica, nas montanhas cantábricas, foi formado após o fim do reino visigodo com a invasão muçulmana. Os visigodos não conseguiram derrotar os invasores muçulmanos na batalha de Guadalete em 711. Em meio aos sobreviventes do reino, destaca-se a figura de Pelayo, um nobre da corte régia visigoda, que destaca-se refugiou com a família nas montanhas do norte da Península, reunindo um grupo de cristãos que o aclamaram em assembléia como chefe, por volta de 718.

Pelayo obteve seu primeiro êxito militar contra as tropas islâmicas na batalha de Covadonga, em 722. Esta batalha deu iniciou à formação do reino das Astúrias, cuja capital foi estabelecida em Cangas de Onís. Segundo Rios Mascarelle, com a morte de Pelayo em 737, o seu filho Favila o sucedeu, mas teve um curto reinado (737-739).

Alfonso I (739-752), genro de Pelayo, foi quem o sucedeu e deu continuidade à ampliação do território do reino das Astúrias, estendendo-o até a região da Galícia (2003 p. 34).

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Alfonso I foi sucedido por Fruela I (757-768), cujo reinado foi bastante conturbado em função das divergências políticas entre bascos e galego. Acusado de ter matado seu irmão Vimara, o rei foi morto por vingança em 768. Segundo Isla Frez, esse contexto conturbado dificultou a ascensão de um novo monarca. Foram vinte e três anos até que Alfonso II, o Casto (791-842), assumisse o trono do reino das Astúrias (2002 p. 21).

Este monarca adotou medidas políticas que fizeram com que o reino asturiano ganhasse credibilidade frente aos demais reinos cristãos ocidentais. O reino já possuía um território que fora conquistado anteriormente. Alfonso II continuou a expansão pela Cantabria, as províncias bascas, e pela Galícia, até o rio Minho. Além disso, transferiu a capital de Cangas de Onís e Pravia para Oviedo.

Segundo Álvarez Palenzuela e Luis Suárez Fernández, Alfonso II estabeleceu relações diplomáticas permanentes, demonstrando sua intenção de fazer parte da cristandade. Cronistas carolíngios relataram três encontros entre os representantes de Alfonso II e os de Carlos Magno. Um desses momentos ocorreu no ano de 798 quando um conselheiro de Alfonso II participou da Assembléia ou Cúria plena de Toulouse. Nessa Assembléia foram tomadas decisões como promover ao sul dos Pirineos os movimentos de independência e consolidação entre os hispânicos (1991 p. 40).

Para Júlio Valdeón Baruque, o conjunto de normas jurídicas adotado no reino a Liber Iudicum procede de tempos visigodos, e Alfonso II também reorganizou o Palatium, elemento central da corte ao estilo visigótico (2006 p. 57). Pierre Bonnassie; Pierre Guichard e Marie-Claude Gerbet mencionam que, supostamente, foi Alfonso II quem “gotificou” o reino, introduzindo usos e costumes visigóticos. Além dessas medidas adotadas, Alfonso II conduziu uma política de hostilidade para com os muçulmanos. Foi um período de intensas batalhas, de contínuas aceifas muçulmanas e razzias cristãs O emir de Al-Andalus, Hisham I, adentrou Oviedo com um forte exército em 794, e saqueou a cidade, mas Alfonso II conseguiu vencê-lo em uma emboscada. Alfonso II

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aliou-se com Luis de Aquitania, filho de Carlos Magno, firmaram um pacto para combaterem juntos os muçulmanos de Al-Andaluz (2001 p.192).

É neste contexto de expansão do reino das Astúrias que foi encontrado o suposto túmulo do apóstolo Santiago. Descoberto por volta de 820-830 na diocese de Iria Flávia, esse acontecimento repercutiu além das fronteiras do reino, despertando o interesse da Europa cristã. Após a descoberta, Alfonso II preocupou-se em conservar as relíquias e edificou no local do túmulo uma igreja. Para o processo de Reconquista esse achado foi de grande importância, pois adquiriu um caráter religioso: era preciso reconquistar um território que fora evangelizado por um dos apóstolos de Cristo e que por direito pertenceria aos cristãos.

Segundo Francisco Singul, Alfonso II interessou-se politicamente por essa descoberta, pois acreditava que o reino asturiano poderia obter prestígio perante a Igreja e aos demais reinos cristãos. A cidade de Toledo, considerada cabeça da organização eclesiástica tradicional, estava situada em território muçulmano e o reino asturiano precisava de uma igreja independente. Em 812, foi instaurada a Sé episcopal de Oviedo, Alfonso II tornou a capital política também em capital religiosa. Para o rei Alfonso II era importantíssimo que Oviedo tivesse uma política consolidação territorial e de combate aos muçulmanos, baseada no catolicismo, tendo a figura de Santiago como santo patrono.

REFERENCIAL TEÓRICO

Existe uma vasta historiografia sobre o tema “Santiago de Compostela”, a grande maioria dos historiadores tem destacado as origens do culto ao apóstolo e a construção do caminho de Santiago, bem como a sua infra-estrutura (hospitais, hospedarias, Igrejas e pontes). O pesquisador Francisco Singul, já mencionado anteriormente, é hoje um dos mais respeitados especialistas no tema jacobeu. Dentre as suas obras destacam-se: O Caminho de

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Santiago: a peregrinação ocidental na Idade Média (1999) e História Cultural do Caminho de Santiago (1999). Este autor afirma que já no reinado de Alfonso II iniciou-se: “uma corrente peregrinatória para o santuário jacobeu dentro do próprio reino, que rapidamente haveria de transpor as fronteiras do mesmo, para ir formando a rota de peregrinação mais característica da espiritualidade e da cultura da Europa medieval” (1999 p. 40).

Também em relação à construção do Caminho de Santiago e as peregrinações ao longo da Idade Média, cabe destacar o trabalho inovador de Alejandro González-Varas Ibáñez. Em La protección jurídico-canónica y secular de los peregrinos de la Edad Media (2003), o autor discute a legislação criada tanto pela Igreja quanto pelos reis para proteger os peregrinos que percorriam o Caminho.

Na mesma perspectiva dos autores acima, encaixa-se o trabalho de Alberto José Lleonart Amsélem, El Camino de Santiago y Europa: contexto histórico y raíces cristianas (2007).

Juan de Atienza, outro especialista no estudo do Caminho de Santiago tem dado ênfase às lendas que cercam o caminho, em obras como: Lendas do Caminho de Santiago (2002) e Los peregrinos del camino de Santiago (2004).

Nesta pesquisa enfocaremos o tema de Santiago numa outra perspectiva, não a da construção do caminho em si, mas o da utilização do mito ou o uso político do mito de Santiago pelos monarcas asturianos, especificamente durante o reinado de Alfonso II o Casto (791-842). Procuraremos mostrar que a descoberta do túmulo do apóstolo Santiago ocorreu num momento de afirmação política do reino das Astúrias e a intenção do rei Alfonso II em utilizar o mito de Santiago para reforçar a luta contra os mulçumanos, ao mesmo tempo em que buscava o reconhecimento da Igreja e de outros reis cristãos, especialmente de Carlos Magno.

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Investigar como a descoberta do suposto túmulo do apóstolo Santiago foi utilizada como instrumento político de consolidação da monarquia asturiana durante o reinado de Alfonso II, o Casto.

METODOLOGIA

O estudo sobre o uso político do mito de Santiago por Alfonso II será realizado por meio da análise de um conjunto variado de fontes que inclui: a História Compostelana, as Crónicas Asturianas, escritas durante o reinado de Alfonso III, o Magno (866-912), mas que compreendem desde o reinado de Alfonso II, o Libro del Jacobeo escrito por Aimeric Picaud, no século XIII, a Primeira Crónica General de España, de Alfonso X, o Sábio, entre outras fontes relativas ao reino das Astúrias e a Santiago de Compostela.

O suposto túmulo do apóstolo Santiago foi descoberto por volta de 820-830, no reinado de Alfonso II, em um momento de afirmação política do reinado das Astúrias. Alfonso II prosseguiu a luta iniciada por seus predecessores contra os mulçumanos, mas no seu reinado os confrontos foram muito mais intensos do que os anteriores.

Para Singul, neste contexto a descoberta de uma relíquia como a do corpo do apóstolo Santiago foi de importância fundamental para a afirmação do reino perante a cristandade ocidental. Para que houvesse o fortalecimento político das Astúrias era preciso a criação de uma Igreja asturiana autônoma, já que a de Toledo, importante centro eclesiástico, encontrava-se sob o poder dos muçulmanos (1999 p. 41-42).

Após a descoberta do apóstolo, Alfonso II mandou construir uma igreja de pedra no lugar do túmulo para que as relíquias do apóstolo ficassem seguras (BONASSIE; GUICHARD; GERBET, 2001, p. 192). José Angel García de Cortázar menciona que o rei, no empenho de consolidar o reino asturiano, também colaborou para o fortalecimento de Igreja, que neste período é “presenteada” com a descoberta do túmulo. Segundo o autor, este achado

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serviu para consolidar a situação da hierarquia eclesiástica e a própria vida do reino (1976 p. 131).

Com o reconhecimento do túmulo do apóstolo Santiago, dá-se início às peregrinações no reinado de Alfonso II. O monarca providenciou para que uma comunidade de monges cuidasse do local e da devoção ao Santo. Houve uma transformação em Compostela. Com a vinda dos peregrinos a cidade cresce, atraindo novos moradores. Houve a criação de uma infra-estrutura e o fluxo de peregrinos contribuiu para o avanço da Reconquista na medida em que desperta o interesse e o apoio dos reis cristãos e da própria cristandade.

A leitura e a análise das fontes indicadas acima e da bibliografia relativa ao período e ao tema em questão possibilitaram a investigação sobre o uso político do mito de Santiago durante o reinado de Alfonso II, o Casto.

Conclusão: Neste trabalho, referente ao Projeto de Iniciação Científica, o estágio atual da pesquisa é o de leituras sobre o contexto histórico do Reino das Astúrias e leituras das fontes, o que justifica sua inserção na categoria pôster.

R E F E R Ê N C I A S

ATIENZA, Juan G. Los peregrinos del camino de Santiago. Madrid: Edaf, 2004.

BONNASSIE, P.; GUICHARD, P.; GERBET, M. - C. Las Españas medievales. Barcelona: Crítica, 2001.

CRONICAS ASTURIANAS. Oviedo: Universidad de Oviedo, 1985.

GARCÍA DE CORTÁZAR, J. A. Historia de Espana Alfaguara II: La época medieval. Madrid: Alianza, 1976.

GONZÁLEZ-VARAS IBÁÑEZ, Alejandro. La protección jurídico-canónica y secular de los peregrinos de la Edad Media: origen y motivos. Vigo: Xunta de Galícia, 2003.

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ISLA FREZ, Amâncio. La Alta Edad Media: siglos VIII-XI. Madrid: Síntesis, 2002.

LLEONART AMSÉLEM, Alberto J. El camino de Santiago y Europa: contexto histórico y raíces cristianas. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2007. PICAUD, Aimeric. El libro del Jacobeo. Madrid: Encuentro, 2004.

SINGUL, Francisco. Historia Cultural do camiño de Santiago. Vigo: Galáxia, 1999.

SINGUL, Francisco. O caminho de Santiago: a peregrinação Ocidental na Idade Média. Trad. de Maria do A. Tavares Maleval. Rio de Janeiro: Eduerj, 1999.

VALDEÓN BARUQUE, Julio. La Reconquista. El concepto de España: unidad y diversidad. Madrid: Espasa Calpe, 2006.

Referências

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