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A Importância da Família na Formação Social do Adolescente

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Academic year: 2021

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Vivian Freitas Oliviéri Ferronatoa*

Resumo

Este artigo aborda a família, suas transformações ao longo dos tempos, e a sua importância, na formação social de seus adolescentes, como primeira identidade social responsável pela proteção e socialização destes, abordando também o significado da adolescência como uma fase peculiar de desenvolvimento. Utilizou-se para tanto a pesquisa bibliográfica para investigar o papel que família exerce na formação social dos adolescentes. Conclui-se que é possível afirmar que é no seio da família e da comunidade que crianças e adolescentes constroem suas relações primárias que são definidas como primordiais para seu desenvolvimento.

Palavras-chave: Adolescente. Família. Adolescência.

Abstract

This paper comprises the Family, its transformations along the time, and its importance, on the social formation of its teenagers, as the first social identity responsible for their protection and socialization, approaching also the meaning of adolescence as a peculiar development stage. For that, it was used bibliographic research in order to investigate the role the Family plays at the teenagers´social formation. It is concluded that it is possible to state that it is in the Family and in the Community that children and teenagers build up their primary relationships which are seen as essential for their development.

Keywords: Adolescent. Family. Adolescence.

A Importância da Família na Formação Social do Adolescente

The Importance of Family on the Teenager´s Social Formation

aFaculdade Anhanguera de Pirassununga, Curso de Pós-Graduação em Serviço Social e Gestão de Projetos Sociais, SP, Brasil *E-mail: vivianolivieri@ig.com.br

1 Introdução

O presente artigo aborda a importância da família na formação social do adolescente, pois como assistente social do Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS, trabalho diariamente com famílias e seus adolescentes de classe social menos favorecida, e na dificuldade destas famílias frente à fase de desenvolvimento que estes adolescentes estão passando, quanto ao papel que exercem de orientar e educar, a entrada precoce destes adolescentes no mercado de trabalho e as políticas públicas de apoio a estas famílias suas transformações ao longo dos tempos e seu papel na formação de seus adolescentes.

Este trabalho tem como objetivos; investigar o papel que família exerce na formação social dos adolescentes, pesquisar as transformações da família ao longo dos tempos e analisar as transformações que a adolescência provoca no individuo como uma fase peculiar de desenvolvimento.

2 Desenvolvimento

A metodologia utilizada foi à pesquisa bibliográfica por meio de leituras específicas da área.

2.1 Adolescência: um conceito moderno

O termo adolescência tem sua origem no Latim, sendo composto pelo sufixo a, que indica a para mais e o prefixo

olescere forma incoativa de olece, crescer. Portanto, a adolescência significa o crescimento ou o processo de crescimento.

Para Organização Mundial da Saúde - OMS, a adolescência corresponde à segunda década de vida que vai dos 10 aos 19 anos.

No âmbito exclusivamente nacional, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA em seu artigo 2º estabelece o critério etário que situa a adolescência entre 12 e 18 anos incompletos: “considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”.

No mundo ocidental o conceito de adolescência é considerado como um espaço entre a infância e a idade adulta, deixando as crianças de serem consideradas um adulto em miniatura, surge no início do século XX, ganhando expressão após a Segunda Guerra Mundial.

A respeito desse processo, os historiadores das mentalidades, segundo Reis e Zioni (2007), até o Século XVIII, a escola organizava-se de maneira bastante diferente da atual era mais abrigo de estudantes pobres do que instituições de ensino. Contudo, as exigências do Século XVIII inspiraram um movimento disciplinador, cuja extensão transformou a escola da época em um colégio encarregado do ensino, da vigilância e enquadramento da juventude. O primeiro passo

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desse movimento foi separar as crianças menores das mais velhas, permitindo a identificação da fase cronologicamente posterior à infância (a adolescência) de preparação à vida adulta. Utilizando-se de processo semelhante ocorrido entre oficiais no exército do Século XVIII. Daí em diante, a adolescência se expandiria, empurrando a infância para trás e a maturidade para frente. Portanto, a adolescência, do século XIX e início XX, teve na escola e no exército seus elementos concretos de formação. De maneira mais precisa, foi através da observação das experiências dessas duas instituições que a sociedade moderna pôde compor uma nova realidade psicológica, a adolescência.

Esse conceito, no entanto, veio acompanhado de diversos estereótipos, fazendo com que acreditássemos que existe uma adolescência única.

Observa Frota (2007, p.148) que nessa perspectiva, a adolescência se configura como um momento em que, naturalmente, o indivíduo torna-se alguém muito chato, difícil de se lidar e que está sempre criando confusão e vivendo crises. Deste modo, existe uma leitura de senso comum que costuma colocar a criança vivendo o melhor momento da vida e o adolescente, uma fase difícil para ele e para quem convive com ele.

Na realidade a adolescência surge, nas sociedades ocidentais, diz Silva (1999, p.16),

[...] enquanto uma categoria especifica, como consequência do desenvolvimento do capitalismo, mais particularmente no momento em que crianças e jovens começam a deixar o trabalho nas industrias. Esse momento decorre do excesso de mão de obra, ocasionando pelo intenso processo de urbanização das cidades, o qual acompanha a industrialização. Ainda com a necessidade de especificação da força de trabalho, impetrada pela modernização cada vez maior das relações de produção capitalista, a escolarização um status crucial, sendo o ensino obrigatório prolongado cada vez mais. Consequentemente, a entrada do jovem no mundo do trabalho vai sendo adiada, configurando-se um espaço entre a infância e a vida adulta, ou seja, entre a fase economicamente não produtiva e a produtiva do ser humano. O processo de constituição da adolescência no Brasil foi lento, por estar atrelado a sua formação social escravocrata, onde crianças e adolescentes deviam obediência ao trabalho escravo e tinham escasso tempo de vida.

Os filhos dos senhores de engenho até os 10 anos exercitavam-se através de jogos brutais, enquanto os filhos dos escravos trabalhavam nas cozinhas das casas grandes e a partir dos 10 e 12 anos entravam para a vida adulta.

As mulheres brancas casavam-se por volta dos 12 e 13 anos, a educação era dispensada a elas fazendo com que desconhecessem a instituição escolar, e eram criadas em um ambiente patriarcal vivendo na dura tirania dos pais depois substituída pela tirania dos maridos.

A menina escrava iniciava a sua vida sexual precocemente, pois eram vistas pelos aristocratas com o um ventre criador, sendo assim envelheciam rapidamente devido à higiene

escassa, alimentação desequilibrada, maternidade precoce e desassistida, impostas pelo sistema social escravocrata.

Para Reis e Zioni (2007), tanto no conceito brasileiro quanto europeu,

[...] o conceito de adolescência pode ser entendido como ‘masculino’ porque se constituiu a partir de experiências históricas concretas das quais as mulheres encontravam-se excluídas. No Brasil, a inclusão feminina no âmbito de experiências socialmente valorizadas e, consequentemente, dotadas de visibilidade, foi inaugurada pelo movimento higieniza que criou condições-pelo menos parciais- para que, posteriormente, o conceito de adolescência fosse estendido ao mundo das mulheres. A contribuição dos higienistas para essa extensão- que não significou desmasculinização do conceito- deve-se ao fato de que foram eles que tematizaram a situação social da mulher, ao se encarregarem de promover a transformação do modelo familiar brasileiro, principalmente em sua versão urbana.

Através do Movimento Higienista1, é que a adolescência

foi estendida ao mundo das mulheres no Brasil, pois este movimento veio disseminando novos valores na busca da conservação da saúde. Pretendia-se com este movimento uma maior higienização das residências. As escravas que até esse período eram as responsáveis pela limpeza e higienização das casas, foram avaliadas como incapazes para o exercício deste trabalho nas residências dos aristocratas. Sendo assim esse processo passou a ser exercido por suas esposas, as quais passaram a ser mais valorizadas e reconhecidas, passando a responsabilizarem-se pelo universo familiar, pela disciplina doméstica e pelos cuidados dos filhos e dos maridos.

Avançando no tempo, constatamos que enquanto construção da modernidade, a adolescência contemporânea foi engendrada a partir de um contexto de crises e contestação social. Esse fenômeno facilitou que se plasmasse tal caracterização como a característica própria dos jovens. É possível vermos que a virada para o século XX traz consigo a invenção de uma adolescência representada como uma fase de tempestades e tormentas e germe de transformações. O movimento hippie, da década de 60, e o juvenil, de 1968, contribuíram para formar um discurso sobre o que é ser adolescente, instituindo o modelo masculino, da classe média, como o estalão privilegiado. Por toda a década de 70, o movimento de ampliação da contracultura juvenil continuou se expandindo. Mas a história não para e, na década de 80, acontece uma fragmentação nos movimentos juvenis. Grandes mudanças surgem no plano político, o mesmo acontece no espectro público da juventude brasileira (FROTA, 2007).

Observamos que em função dos índices de fertilidade registrados nos anos de 1980, vivemos no Brasil uma onda adolescente entre 1995 e 2005. Isto significa que em 1995, tínhamos 15,8 milhões de adolescentes entre 15 e 19 anos (10,4% da população brasileira). O censo demográfico de 2000 mostra que existem 84,3 milhões de pessoas na faixa etária de 0 a 24 anos-crianças adolescentes e jovens, sendo 1 O Movimento Higienista surgiu no fim do século XIX e inicio do século XX, e propunha-se educar a população, ensinando novos hábitos de vida, com

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25.001.851 adolescentes, entre 12 e 18 anos (IBGE, 2001). Nos dias atuais o período da adolescência é visto como uma época especial do desenvolvimento humano, caracterizado através de processos de socialização diversos em relação às fases da vida adulta e da infância.

Na visão de Frota (2007, p.157), a adolescência

[...]deve ser pensada para além da idade cronológica, da puberdade e transformações físicas que ela acarreta, dos ritos de passagem, ou de elementos determinados aprioristicamente ou de modo natural. A adolescência deve ser pensada como uma categoria que se constrói, se exercita e se re-constrói dentro de uma história e tempo específicos.

Assim, para a compreensão da adolescência, é necessário levar em conta as transformações ocorridas na sociedade contemporânea.

2.2 A adolescência como fase peculiar de desenvolvimento A adolescência é caracterizada como um momento de transição na história do homem, e é vista como uma fase de maturação dos corpos, aquisição de novos valores.

Observa Frota (2007, p.155) que,

para a maior parte dos estudiosos do desenvolvimento humano, ser adolescente é viver um período de mudanças físicas, cognitivas e sociais que, juntas, ajudam a traçar o perfil desta população. Atualmente, fala-se da adolescência como uma fase do desenvolvimento humano que faz uma ponte entre a infância e a idade adulta. Nessa perspectiva de ligação, a adolescência é compreendida como um período atravessado por crises, que encaminham o jovem na construção de sua subjetividade. Porém, a adolescência não pode ser compreendida somente como uma fase de transição. Na verdade, ela é bem mais do que isso. É um período peculiar de desenvolvimento, não apenas o momento da puberdade do individuo, mas um momento de desenvolvimento sócio histórico ligados diretamente a fatores biológicos, psicológicos, sociais e jurídicos.

Do ponto de vista biológico é a fase em que o individuo passa por transformações hormonais, físicas, já possui os caracteres sexuais secundários e atinge a fase de maturação sexual.

Durante a adolescência ocorrem significativas mudanças hormonais, que acabam influenciando diretamente no comportamento dos adolescentes. Em geral há alterações no estado do humor, no comportamento, na agressividade, na alternância de períodos de tristeza, felicidade e agitação, sendo características comuns a essa fase de desenvolvimento.

Nesse período os processos psicológicos e as formas de identificação passam da fase infantil para a fase adulta, fazendo com que o adolescente passe por uma transição de dependência econômica total para um estado de relativa independência.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (1999, p.106)

No aspecto afetivo, o adolescente vive conflitos, deseja libertar-se do adulto, mas ainda depende dele. Deseja ser aceito pelos amigos e pelos adultos, o grupo de amigos é um importante referencial para o jovem, determinando o vocabulário, as vestimentas e outros aspectos do seu comportamento. Começa a estabelecer sua moral individual, que é referenciada à moral do grupo, os

interesses do adolescente são diversos e mutáveis, sendo que a estabilidade chega com a proximidade da idade adulta.

Uma marca comum na maioria dos adolescentes é a necessidade de fazer parte de um grupo. Essa necessidade está relacionada à importância atribuída as amizades, as quais possibilitam a integração a um grupo de interesses comuns. O grupo exerce influências sobre suas escolhas, gostos, comportamentos e atitudes.

Outro aspecto de suma importância é a construção da identidade, que acontece durante toda, ou grande parte da vida do individuo, pois desde o nascimento o homem inicia uma longa interação com o meio em que está inserido, a partir da qual constituirá não só a sua identidade, como sua inteligência, suas emoções, seus medos e sua personalidade.

De acordo com Erickson (1972, p.21),

a formação da identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o individuo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, a luz do modo como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornam importantes para ele.

Romamelli e Watarai (2005) acrescentam que nessa fase, paralelamente ao surgimento de novas formas de sociabilidade e com a emergência de mudanças corporais e o início de manifestações de sexualidade, os adolescentes vivem sentimentos conflitantes enquanto buscam conquistar independência financeira e autonomia em relação aos pais e aos adultos em geral. Trata-se de um processo marcado por novas descobertas, que são vividas de modo intenso na busca de construção da identidade.

Erickson (1972, p.21) enfatiza “[...]que a identidade não deve ser vista como algo estático e imutável, como se fosse uma armadura para a personalidade, mas como algo em constante desenvolvimento”.

Portanto, entre os aspectos importantes no desenvolvimento da identidade, estão as fases ou períodos da vida que o individuo atravessa até chegar a idade adulta, desta forma, o grande conflito da adolescência é a crise da identidade e esta fase só terminará quando a identidade do individuo estiver encontrado uma forma que determinará, a vida ulterior.

Cabe ressaltar que o termo crise adotado por Erickson não é sinônimo de catástrofe ou desajustamento, mas de mudança; de um momento crucial no desenvolvimento no qual há a necessidade de se optar por uma ou outra direção mobilizando recursos que levam ao crescimento.

A construção da identidade é pessoal e social, pois acontece de forma interativa por meio de trocas entre o individuo e o meio e está intimamente relacionada, com a cultura, com os valores e a sociedade e o contexto social em que está inserido.

Para Violante (1984) ao ser introduzido no mundo objetivo da sociedade, o individuo aprende a realidade ao mesmo tempo em que adquire identidade, sendo a identidade

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elemento chave da realidade subjetiva, elo entre o individuo e a estrutura social.

Para os adolescentes oriundos de classes sociais mais favorecidas, criam-se expectativas para que quando o jovem adentrar para o mundo adulto, termine os estudos, saia da família de origem, constitua outra família e tenha um emprego estável, já para as famílias empobrecidas preocupa-se com a luta diária pela garantia e manutenção da sobrevivência.

Nestas circunstâncias diz Losacco (2007, p.72),

[...] dos jovens de classes menos favorecidas e dos segmentos mais pobres da sociedade, exige-se a entrada precoce no mundo do trabalho. Sem a possibilidade da preparação necessária (escolaridade formal, cultural e técnica) para o desempenho de um papel profissional especializado, vemos cada vez mais dificultada a conquista de emprego e ampliada a exploração de sua mão de obra, exploração, esta concretizada pelos baixos salários e o acúmulo de jornadas de trabalho para garantia de sua manutenção.

Sendo assim, os jovens oriundos de classes menos favorecidas, chegam ao mundo adulto com diversas dificuldades, com poucas condições para refletir sobre as condições a que se encontra, seus conflitos familiares e com a sociedade como um todo, tendo que por muitas vezes preocupar-se primordialmente em conseguir o básico: roupa, comida e quem sabe algumas vezes conseguir a diversão.

Nesta perspectiva Coimbra (2005, p.22) afirma que [...]para o jovem ser pobre e residir na periferia é condição intransponível e determinante de uma categoria, pois as oportunidades de ascensão social ou de acesso aos direitos básicos são escassos ou quase inexistentes. Isso pode gerar atitude de revolta, frustração e desesperança, pois ele não acredita na possibilidade de mudar o curso de sua história.

Já os adolescentes de classes sociais mais favorecidas têm acesso a boas escolas, se alimentam bem, usam roupas boas, residem em bairros com boa infraestrutura, em sua grande maioria possuem planos de saúde e atividades de lazer.

Aos adolescentes de classes menos favorecidas a realidade apresenta-se de uma forma bastante perversa, sendo que um grande número é forçado a iniciar no mundo do trabalho precocemente, o que acarreta nestes jovens sérias consequências em seu desenvolvimento físico, emocional e social.

Independentemente da classe social a que pertença, o adolescente provoca uma verdadeira revolução em seu meio familiar e social, e isto cria um problema de gerações nem sempre bem resolvido. Enquanto ele passa por uma adaptação para a fase adulta, seus pais vivem a ruptura do equilíbrio do desempenho do papel de pais de criança, para adquirirem, também, com mais ou menos esforço e sofrimento, um novo papel, o de pais de adolescente, situação que lhes exigirá novas respostas (LOSACCO, 2007, p.69).

Portanto, as diferenças e semelhanças existentes entre os adolescentes de diferentes classes sociais, explicam as diversas formas de ver, de reagir e de inteirar-se com o mundo, com padrões de comportamentos singulares.

Na realidade é necessário reconhecer que em razão

das diferenças nas condições concretas de vida em sociedade, a adolescência, mais do que uma fase peculiar de desenvolvimento, tem seus contornos definidos e é delimitada pela realidade sócio histórica em que está inserida.

2.3 Família e adolescente

A família, ao longo do tempo, tem sofrido várias transformações, contudo figura como maior agente de socialização e desenvolvimento de seus membros.

Na concepção de Losacco (2007, p.64) a família é a célula do organismo social que fundamenta uma sociedade. Lócus nascendi das histórias pessoais, é a instância predominantemente responsável pela sobrevivência de seus componentes; lugar de pertencimento, de questionamentos; instituição responsável pela socialização, pela introjeção de valores e pela formação de identidade; espaço privado que se relaciona com o espaço público.

Para Sarti (2003, p.42),

A família no capitalismo, deixou de ser uma ‘unidade de produção’ na medida em que esse sistema separou a produção, como esfera pública, da família, que se tornou a esfera privada da vida social. Em termos de sua funcionalidade econômica, a família passou, então, a constituir uma ‘unidade de consumo’. Para a razão instrumental, a organização da vida material, a sobrevivência para os pobres é concebida como a razão da constituição da família.

Fazendo um retrocesso histórico, percebemos que nas sociedades primitivas não existia uma organização familiar. Sakamoto (2007), relata que nesse estágio ainda não se podia falar em organização familiar, uma vez que homens e mulheres viviam em estado total liberdade social e sexual, com uniões múltiplas no interior do grupo e sem demarcação de parentesco.

Segundo Piana (2007) foi somente em meados do século XVII que a família começou a delimitar uma área maior de vida particular e os costumes contemporâneos foram fortemente influenciados pelo sentimento de família que se desenvolveu na Europa a partir do século XVI, especialmente nas classes mais abastadas.

Para Sakamoto (2007) a família transformou-se com o passar dos anos, na mesma proporção ao que ocorreu ao próprio individuo. O conceito de família veio sendo constituído desde os primórdios da civilização e, em nenhuma época a família se mostrou igual a uma outra.

Na contemporaneidade, com as novas formações societárias também ocorreu transformações no modo de se organizar das famílias, com novos arranjos familiares.

Segundo Minuchim (1990) a família, ao sofrer influências da sociedade muda, se adapta e se reestrutura às circunstancias históricas, de maneira a manter a continuidade e a intensificar o crescimento psicossocial de cada membro.

Esclarece Romanelli (2003), que pesquisas sobre família no Brasil demonstram a diversidade na sua organização, tanto na composição quanto nas formas de sociabilidade que vigoram em seu interior.

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diferentes maneiras, seja pelo casamento civil ou religioso, pela união estável, por grupos formados pelos pais ou ascendentes e seus filhos, sobrinhos ou netos, mães e pais solteiros e uniões homossexuais, deixando a família de ser vista só como aquela formada unicamente pelo casamento formal. Essas novas configurações são baseadas mais no afeto do que nas relações de consanguinidade, parentesco ou casamento.

No debate contemporâneo, segundo Losacco (2007) não é mais possível falar de família (no singular). A partir das diversidades e das complexidades apontadas, além de outras aqui não exploradas, o eixo do discurso deve ser famílias (em sua pluralidade).

Genofre afirma (2003, p.102) “que na constituição da família, o segmento mais vulnerável é o da criança e do adolescente, pois, é neste ambiente que eles vivenciam o contato com a vida social”.

A esse respeito Szymanski (2003, p.23) complementa que desde de Freud, a família, em especial, a relação mãe-filho,

[...] tem aparecido como referencial explicativo para o desenvolvimento emocional da criança. A descoberta de que os anos iniciais de vida são cruciais para o desenvolvimento emocional posterior focalizou a família como o lócus potencialmente produtor de pessoas saudáveis, emocionalmente estáveis, felizes e equilibradas, ou como o núcleo gerador de inseguranças, desequilíbrios e toda sorte de desvios de comportamento.

A família figura ainda como fonte de segurança e em referencial para o adolescente uma vez que,

este vivencia intensamente o processo de construção de sua identidade, sendo fundamental a experiência vivida em família e a convivência com os pais, irmãos, avós e outras pessoas significativas. Uma atitude de oposição a seu modelo familiar e aos pais é parte inerente do processo de diferenciação em relação a estes e de construção de seu próprio eu. O desenvolvimento da autonomia se dará de modo crescente, mas o adolescente, em diversos momentos, precisará recorrer tanto a fontes sociais que lhe sirvam de referência (educadores, colegas e outras) quanto à referência e à segurança do ambiente familiar (PNCFC, 2006, p.31).

De acordo com Romanelli (2003) a forma de organização da família é um elemento relevante no modo como ela conduz o processo de socialização dos imaturos, transmitindo-lhes valores, normas e modelos de conduta e orientando-os no sentido de tornarem-se sujeitos de direitos e deveres no universo doméstico e no domínio público.

No cenário brasileiro, tanto na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), quanto no Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) a família, a criança e o adolescente ganham centralidade - expressas basicamente em dois artigos da CF: art. 226 a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado e art. 227 que estabelece:

é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma

de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

As demais legislações produzidas ao longo da década de 1990 e 2000, reafirmam os princípios constitucionais e ressaltam a importância da família no desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes, uma vez que, é no seio da família e da comunidade que são construídas as relações primárias.

De acordo com Guimarães (2007, p. 131):

O Estado deve ser o maior responsável e a sociedade no seu conjunto, co-responsável, na execução de uma política global de família com especial atenção para com seus membros mais vulneráveis e mais desprotegidos. Devendo ser proporcionados às famílias, os meios e recursos necessários para que deles possam cuidar, tendo como primazia a manutenção dos vínculos familiares, independente da situação de vulnerabilidade social. Segundo Guimarães (2007) a Política Nacional de Assistência Social vem estabelecer efetivamente a assistência social como política de Estado, determinando ao Estado a responsabilidade na universalização da cobertura e na garantia de direitos e de acesso a serviços, programas e projetos a serem assegurados aos brasileiros, através do Sistema Único da Assistência Social - SUAS.

Já o SUAS constitui-se na regulação e organização em todo território nacional da rede de serviços sócio assistenciais, vindo materializar o conteúdo da Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, promulgada em 7 de dezembro de 1993 (Lei n° 8.742), que regulamenta os artigos 203 e 204 da Constituição, estabelecendo o sistema de proteção social para os grupos mais vulneráveis da população, por meio de benefícios, serviços, programas e projetos.

Em seu art. 2°, estabelece que a assistência social tem por objetivo dentre outros: I) a proteção à família, à infância e a adolescência; II) o amparo às crianças e adolescentes carentes.

Vale salientar que as ações de assistência social não se dirigem ao universo, a população infanto-juvenil, mas a um segmento especifico que delas necessita por se encontrar em estado de carência, exclusão ou risco pessoal e social.

Constatamos assim, que a legislação brasileira vigente reconhece e preconiza a família, enquanto estrutura vital, lugar essencial à humanização e à socialização da criança e do adolescente, espaço ideal e privilegiado para o desenvolvimento integral dos indivíduos. Contudo, a história social das crianças, dos adolescentes e das famílias revela que estas encontraram e ainda encontram inúmeras dificuldades para proteger e educar seus filhos. Tais dificuldades foram traduzidas pelo Estado em um discurso sobre uma pretensa ‘incapacidade’ da família de orientar os seus filhos. Ao longo de muitas décadas, este foi o argumento ideológico que possibilitou Poder Público o desenvolvimento de políticas paternalistas voltadas para o controle e a contenção social, principalmente para a população mais pobre, com total descaso pela preservação de seus vínculos familiares.

A esse respeito Guimarães (2007, p.133) acrescenta que a família

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constitui uma realidade dinâmica e em permanente evolução, sendo essencial desenvolver medidas concretas e adequadas que correspondam às necessidades próprias das diferentes fases do ciclo de vida familiar, que contribuam e proporcionem melhores condições educativas, econômicas, laborais, sociais e culturais, que facilitem a formação e a realização da pessoa humana no seio da família, a manutenção de unidade familiar e a sua estabilidade ao longo do tempo.

Contudo, as famílias em situação de pobreza e frente a não oferta ou oferta irregular de políticas públicas, como elucida Coimbra (2005, p.23),

[...] são obrigadas a criar suas estratégias de sobrevivência levando seus filhos a contribuírem com o sustento da família, privando-os do tempo que deveriam se dedicar à escola, ao esporte e ao lazer. Estas por sua vez, expostas às vivências de rua, entram em contato com as drogas, com a prostituição, e com a infração em geral.

Nessa perspectiva entendemos que, para que a proteção especial a família ocorra, dada a sua reconhecida importância no desenvolvimento da criança e do adolescente, são necessários requisitos, ou compromissos a serem assumidos necessariamente pelo Estado e pela sociedade civil (GUIMARÃES, 2007). Através da concepção, fomento, desenvolvimento e integração de políticas adequadas, que efetivamente potencialize as suas funções específicas como agente socializador.

3 Conclusão

Ao abordarmos a importância da família na formação social do adolescente, devemos ressaltar que o conceito de adolescência é recente, surgindo no mundo ocidental no início do século XX, ganhando visibilidade após a segunda guerra mundial.

A fase da adolescência é vista como uma fase de inquietações e contestações, sendo de extrema importância para o adolescente à influência de grupos de amigos, e de ser aceito neste grupo. Nessa fase também se dá a construção da sua identidade, a qual acontece durante toda a vida do indivíduo, as transformações corporais e a aquisição de novos valores.

Embora as modificações psicológicas, físicas e corporais assemelham-se entre esses jovens de todas as classes sociais, as condições de sobrevivência são determinadas de diferentes maneiras, onde os jovens oriundos das classes sociais mais favorecidas preocupam-se em terminar seus estudos e conseguir um emprego estável, e os jovens oriundos de famílias empobrecidas preocupam-se com a luta diária pela sobrevivência.

Consideramos assim que a adolescência seja mais que uma fase peculiar de desenvolvimento, tendo seus contornos definidos e sendo delimitada pela realidade sócio-histórica a qual está inserida.

Podemos afirmar ainda que é no seio da família e da comunidade que crianças e adolescentes constroem suas relações primárias que são definidas como primordiais para seu desenvolvimento.

Face a está realidade, o assistente social tem que pensar em formas interventivas eficazes para auxiliar as famílias frente aos desafios colocados nesta fase da adolescência, além de cobrar do poder público políticas públicas voltadas a este segmento.

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Referências

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