• Nenhum resultado encontrado

O BOI NOSSO DE CADA DIA: UM CASO PARA ENSINO SOBRE ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O BOI NOSSO DE CADA DIA: UM CASO PARA ENSINO SOBRE ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

Recebido em 21/12/2016. Aprovado em 02/06/2017. Avaliado pelo sistema double blind peer review.

Cynthia Pires Hartwig1

Elvis Silveira-Martins2

Resumo:

Este caso para ensino por meio da trajetória do protagonista, Antônio dos Santos, sintetiza a história da origem e evolução de uma empresa familiar. O caso apresenta as diferentes fases do desenvolvimento da empresa Frigorífico e Abatedouro Gaúcho, situado na região sul do estado do Rio Grande do Sul (RS), Brasil. Descrevem-se os acontecimentos desde os tempos em que o Sr. Antônio transportava em uma charrete, linguiças feitas na zona rural para serem vendidas na cidade, até a fase da construção do frigorífico, o qual está em atividade até os dias de hoje. De maneira concomitante, destaca-se a personagem Ana Paula, integrante da terceira geração da família dos Santos, que apresenta interesse pelo empreendimento da família e tino empreendedor, tal como seu avô. Os nomes aqui utilizados, para a empresa, personagens e município, são fictícios, a fim de que suas identidades sejam preservadas. Como contribuição para os estudos sobre organizações empresariais, aponta-se a análise e a reflexão sobre as decisões estratégicas tomadas pelos gestores, bem como suas orientações empreendedoras, que, em face às dificuldades enfrentadas e oportunidades percebidas, irão delinear diferentes caminhos.

Palavras-chave: Caso para ensino; Frigorífico; Empreendedorismo.

THE OUR OX OF EACH DAY: A CASE FOR TEACHING ABOUT ENTREPRENEURSHIP

Abstract:

This case for teaching through the trajectory of the protagonist, Antônio dos Santos, synthesizes the history of the origin and evolution of a family business. The case presents the different phases of the development of the company Frigorífico and Abatedouro Gaúcho, situated in the southern region of the state of Rio Grande do Sul (RS), Brazil. The events are described from the time when Mr. Antônio carried in a cart, sausages made in the countryside to be sold in the city, until the phase of the construction of the fridge, which is in operation until the present day. At the same time, the character Ana Paula, a member of the third generation of the Santos family, stands out. She is interested in the entrepreneurial venture, like her grandfather. The names used here, for the company, characters and municipality, are fictitious in order for their identities to be preserved. As a contribution to the studies on business organizations, we analyze and reflect on the strategic decisions taken by managers,

1

Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Sistemas Agroindustriais da Universidade Federal de Pelotas (PPGDTSA/UFPel). E-mail: cynthiahartwig@hotmail.com

2

Doutor em Administração e Turismo pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Professor Adjunto e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Sistemas Agroindustriais da Universidade Federal de Pelotas (PPGDTSA/UFPel) . E-mail:

(2)

118 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

as well as their entrepreneurial orientations, which, faced with the difficulties faced and perceived opportunities, will outline different paths.

Keywords: Case for teaching; Fridge; Entrepreneurship.

INTRODUÇÃO

O presente caso para ensino objetiva apresentar a trajetória do Abatedouro e Frigorífico Gaúcho, instalado na região sul do Rio Grande do Sul/Brasil. O texto relata a história real das diferentes fases dos negócios da família Santos, lideradas pelo patriarca Antônio e assimiladas pelos seus sucessores, que conseguiram identificar um nicho de mercado, mas, sobretudo tiveram competência para enfrentar e superar as dificuldades e os desafios que o ambiente lhes impunha.

O Frigorífico e Abatedouro Gaúcho originou-se a partir da trabalhosa atividade de confeccionar linguiças na zona rural do município de Estrada Velha. Após serem transportadas por charrete, elas eram comercializadas na zona urbana do mesmo município.

Os negócios batalhados e conquistados pelo chefe da família Santos e seus descendentes apresentam-se em etapas sucessivas, porém cada nova etapa supera, significativamente, a anterior. Isso acontece devido à perspicácia e às atitudes do líder familiar Sr. Antônio Santos, que sempre visou alcançar algo novo e mais consistente, utilizando-se, com grande habilidade, as experiências obtidas na etapa anterior para, assim, articular a próxima fase do empreendimento.

A união e a persistência presentes entre os membros da família Santos, o espírito de vislumbrar oportunidades e de aceitar desafios, principalmente, por parte do Sr. Antônio e, posteriormente, pela sua neta Ana Paula, foram os principais pilares que sustentaram e, ainda sustentam, a empresa de abate e processamento de carne bovina. O exemplo dessa família pode ser inspirador para o êxito de outras empresas, sejam elas de natureza familiar ou não. Com vista nisso, acrescentam-se outros fatores decisivos para a manutenção da competitividade do Frigorífico e Abatedouro Gaúcho, são eles: o entendimento dos gestores a respeito de mudanças e adaptações que precisavam ser feitas e a aceitação de que alguns riscos precisam ser assumidos.

Embora o caso verídico tenha sido arrolado a partir de observações e relatos empíricos, do ponto de vista científico relaciona-se ao modelo teórico de orientação empreendedora proposto por Miller (1983). Na concepção do autor, o empreendedorismo é compreendido de forma abrangente e dinâmica, em face às sucessivas mudanças que as empresas experimentam, pois crescem, alteram suas estruturas, lidam com ambientes complexos e, por isso, precisam estar, constantemente, renovando-se, assumindo riscos e buscando novas oportunidades.

Em complemento, Dahan e Shoham (2014), salientam que a orientação empreendedora não deve ser apenas relacionada aos novos empreendimentos, visto que decisões são tomadas em diferentes momentos do desenvolvimento de uma empresa. Por esse motivo, do ponto de vista didático, o caso possibilita aos estudantes identificarem as teorias científicas pertinentes e relacionarem os gestores, aos seus diferentes perfis de orientação empreendedora. Além do mais, o caso vivenciado pela família do Sr. Antônio aqui relatado poderá servir como fomento e motivação para o êxito de outros empreendimentos.

(3)

119 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

1 O CASO PARA ENSINO

1.1 O abençoado boi nosso de cada dia!

A cena parecia se repetir ao final de cada produção de linguiças artesanais no sítio da família Santos, quando o Sr. Antônio dos Santos, junto a sua esposa D. Amália, apreciando o produto final e saboreando um chimarrão, expressou: - É, Amália, mais uma empreitada concluída e só podemos dizer abençoado boi nosso de cada dia que nos deu a matéria-prima para fazermos estas linguiças. Agora, só precisamos de um abençoado cliente de cada dia para comprá-las. Enquanto isso, D. Amália servia mais um chimarrão, escutando atentamente o seu marido e observando o fruto do trabalho de um dia todo.

No dia seguinte, mesmo as linguiças estando em processo de maturação, o Sr. Antônio colocou-as em sua charrete e partiu para a cidade onde esperava encontrar seus clientes cativos com interesse nos produtos que já possuíam a fama de serem muito saborosos. Enquanto saía para a as vendas e prospecção de novos clientes, D. Amália cuidava da propriedade e dos dois filhos do casal: Carlos e Maria.

No regresso a propriedade, o Sr. Antônio sempre trazia alimentos que não eram produzidos no sítio da família, além do dinheiro resultado das suas vendas. À noite, após o jantar, com a família ainda reunida junto à mesa, ele contava sobre as negociações ocorridas durante o dia. Mesmo com pouco estudo, o patriarca acreditava que uma parte de tudo o que recebia deveria ser reempregada no pequeno empreendimento informal, outra parte utilizada para o sustento da família e uma terceira destinada à reserva.

O Sr. Antônio, a cada ida à cidade, objetivava ampliar o número de clientes, ou pelo menos iniciar uma aproximação com mais pessoas, para que elas se tornassem consumidoras de seus produtos no futuro. Costumava explicar seus planos e metas de negócios para a família. Carlos e Maria ouviam atentamente os ensinamentos do pai, o qual sempre finalizava: - Aprendam comigo enquanto estou vivo, sempre estejam preparados para um “possível inverno rigoroso”.

Em seguida, D. Amália arrematava: - Já negociaram demais por uma noite, agora está na hora de todos irmos dormir, porque amanhã cedo começa tudo outra vez. Sorrindo, complementava: com inverno ou sem inverno!

1.2 Das linguiças aos açougues

A rotina de trabalho do Sr. Antônio era sempre compartilhada com sua esposa e seus dois filhos, era uma atividade que ocorria de maneira direta, porque preparavam as linguiças em conjunto e, indireta, devido aos relatos do pai, acerca de suas negociações feitas na cidade. Esse processo manteve-se sem grandes alterações por vários anos. Apesar dessa situação relativamente habitual, o Sr. Antônio, durante todo esse tempo, em torno de seis anos, sempre planejou os próximos passos para o seu negócio.

Certo dia, Sr. Antônio, retornando de mais uma jornada de entrega de linguiças na cidade, “convocou” a esposa e seus dois filhos, para, em seguida, fazer o seguinte comunicado: - Minha gente, vou contar uma novidade para vocês. Hoje pela manhã, consegui realizar algo que já vinha planejando há algum tempo, comprei as instalações de um açougue no Mercado Público, bem na região central da cidade. D. Amália feliz, e, ao mesmo tempo,

(4)

120 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

preocupada, interfere: - Mas como vamos pagar tudo isso? E os equipamentos? E o aluguel Antônio?

Questionamentos aos quais ele responde: - Calma minha querida companheira, todos os equipamentos já estão pagos – entraram na negociação. Quanto ao aluguel da loja no Mercado Público, não precisa te preocupar, o valor não é muito elevado, porque a loja não é das menores que existem por lá. Mas já vou logo avisando, que pretendo um dia ocupar outra maior, pois vamos trabalhar bastante e bem unidos para que isso realmente possa acontecer!

A esposa mais tranquila e cheia de orgulho do marido, acrescentou: - Certamente permaneceremos unidos e trabalhando cada vez melhor, tu sabes Antônio, os teus sonhos e planos são também os meus. E vocês crianças? Não vão falar nada?

As crianças a que D. Amália estava se referindo eram: Carlos, com 22 anos de idade, e Maria, com 19 anos, eternas crianças para o casal. Carlos logo respondeu: - Eu acho uma ótima ideia, irei com o pai trabalhar na cidade e tu, Maria, ficarás aqui com a mãe preparando as linguiças. Nesse momento, Maria retrucou: - Carlos, como tu és metido, pensas que podes decidir tudo! Quem sabe eu vou para a cidade com o pai e tu ficas aqui com a mãe?

Sr. Antônio, para frear os impulsos dos filhos, falou com firmeza: - Acalmem-se! Isso iremos decidir depois, agora é hora de comemorarmos o novo negócio, sem brigas! Precisamos estar bem unidos para enfrentarmos as próximas etapas que nos esperam. Em seguida, completou: - Jantem em paz.

No dia seguinte, o Sr. Antônio não foi à cidade, ficou em casa com a família, planejando e organizando como seriam as atividades posteriores. Logo após o almoço, aproveitando a presença dos dois filhos e da esposa, ele comunicou a sua decisão: - Eu pensei muito, acredito que tenha encontrado o melhor jeito para trabalharmos.

No açougue, vamos continuar vendendo os mesmos produtos que o proprietário anterior já vendia, apenas acrescentaremos as linguiças de nossa produção, já que são bem conhecidas como produtos saborosos e de boa qualidade. O que pensam a respeito? Na pausa, Maria perguntou: - Pai, afinal, que produtos o dono do açougue que compraste vendia? O Sr. Antônio respondeu: - Ah sim, esqueci-me de falar, ele trabalhava com carne suína, bovina e ovina. Logo, Carlos indagou: - Mas como vamos dar conta de tudo isso?

Sr. Antônio, esboçando um pequeno sorriso no rosto, disse: - Boa pergunta, Carlos. De fato, a nossa criação de animais não será suficiente para abastecer o açougue, por isso, acertei com o Nestor, nosso vizinho, para nos fornecer a carne de porco e com o Miguel, irmão dele, que tem propriedade mais perto da cidade, para nos fornecer a carne de ovelha. A isso, D. Amália completou: - E a carne bovina será fornecida, preferencialmente, pela nossa propriedade, só compraremos de fora quando realmente for necessário, não é isso que estás pretendendo Antônio? Sei que pretendes terminar com a criação de ovelhas, são muito visadas pelos ladrões e ainda muito suscetíveis às doenças, além disso, a lã está pouco valorizada. Comentou Sr. Antônio: - Isso mesmo, Amália, como negociante estás me saindo melhor do que a encomenda, já posso me aposentar!

Além disso, o patriarca acrescenta: Não sei se vocês perceberam, mas precisamos dos fornecedores de carne bovina e da carne suína, localizados mais próximos a nossa propriedade, porque as linguiças continuarão sendo feitas aqui. Já quanto ao fornecedor da carne ovina, quanto mais próximo estiver da cidade, melhor será, já que essa carne não será utilizada na produção das linguiças, continuou, Sr. Antônio.

Com o olhar atento a tudo, Maria se indaga o Sr. Antônio: - Pai, como o senhor conseguirá carregar a carne e as linguiças daqui da nossa propriedade até o açougue na

(5)

121 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

cidade? Como o senhor terá condições de parar em tantos lugares para atender os clientes antigos? - Essa é a minha filha, sempre atenta e preocupada com os detalhes, observa Sr. Antônio, para responde-la: - Vou fazer um pouco diferente Maria, não vou mais parar em tantos lugares, vou passar em apenas dois clientes, antes de chegar ao estabelecimento do Miguel. Lá, deixarei a parte das linguiças que ele irá revender e também pegarei a carne ovina para abastecer o nosso açougue na cidade.

Poucos anos depois, além de transferir o seu primeiro açougue para uma loja maior no Mercado Público, como havia anunciado, anteriormente, a sua família, o Sr. Antônio abriu mais dois açougues. Um deles localizado também na região central e o outro em um dos bairros mais afastados da cidade. Dessa maneira, para poder melhor atender os três açougues, o comerciante mudou-se para a cidade com a sua família e resolveu arrendar a sua propriedade rural. A moradia da família era junto ao terceiro estabelecimento, isto é, naquele localizado em um bairro afastado do centro da cidade. Nesse local, as linguiças continuavam a ser feitas e vendidas nos três estabelecimentos do Sr. Antônio.

1.3 Dos açougues ao abatedouro

As atividades da empresa familiar estavam agora divididas da seguinte forma: D. Amália, a filha Maria, já com vinte e nove anos de idade, e o genro Ivo, tomavam conta do açougue do bairro, da confecção e da distribuição das linguiças. O Sr. Antônio dividia o seu tempo entre os afazeres que lhe impunham os dois açougues localizados no centro da cidade.

Já Carlos, com trinta e dois anos de idade, dedicava-se a constante busca de fornecedores de carne de qualidade. Ele visitava abatedouros para escolher a melhor carne e negociar os preços e prazos mais favoráveis.

Em um final de tarde no mês outubro, período de uma primavera muito quente no município de Estrada Velha, após o término da festa de comemoração do sétimo aniversário de Ana Paula, filha de Maria e Ivo, quando todos os convidados já haviam se retirado, os avós da menina conversavam. Eles estavam sentados sobre um gramado no pátio da propriedade da família, de onde um enorme varal com linguiças e outros apetrechos podiam ser vistos.

D. Amália emocionada comenta: - Quem diria Antônio, nossa neta já está completando sete anos de idade! Pensar que lembro claramente dos tempos em que as “nossas crianças” eram muito mais pequeninas do que ela! Lembro das tuas viagens de charrete para vender as nossas linguiças, lembro de quando nos comunicaste que tinhas comprado as instalações para o nosso primeiro açougue. Primeiro fiquei assustada, mas depois entendi que estavas bem preparado para assumir o novo negócio.

O Sr. Antônio continuou mexendo nas lembranças: - E tu Amália, lembras de quando o nosso único fornecedor de carne suína era o nosso vizinho Nestor e o único de carne ovina era o irmão dele, o Miguel? Lembras de que praticamente só vendíamos a carne bovina da nossa propriedade rural e que toda a nossa produção de linguiças era feita lá?

Enquanto conversavam, Antônio e Amália ouviram um barulho de correria de crianças. Eram os primos em ação. Carlinhos, filho de Carlos, havia pego a boneca preferida de Ana Paula. Pronto, estava armada a confusão. Por sorte, Carlos chegou e resolveu a desavença entre as “verdadeiras crianças”. Depois que elas se acalmaram, Carlos e seu pai conversaram longamente no pátio, pois D. Amália havia entrado para ajudar Maria a organizar a casa em função dos “remanescentes” da festinha de sua neta. Pai e filho trocavam

(6)

122 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

ideias a respeito de muitas coisas, falavam em futebol, política e em negócios, mas sempre acabavam falando dos seus próprios negócios.

Nesse clima que Carlos disse: - Pai, estou achando bastante complicado encontrar bons fornecedores de carne para os nossos açougues. Cada vez percorro maiores distâncias visitando criadores e abatedouros, porém poucos são os que me agradam. Interpelou o Sr. Antônio: - Então, o que está te desagradando meu filho? Carlos argumentou: - Muitas coisas. Poucos são os abatedouros que trabalham com animais de qualidade, quero dizer, animais saudáveis e jovens. Além disso, as condições de higiene nas quais os abates são feitos estão deixando muito a desejar. Quanto à conservação e ao transporte da carne, também tenho observado muitos problemas... E o senhor conhece a nossa clientela muito melhor do que eu. Sabemos que são pessoas exigentes e que estão acostumadas a levarem bons produtos para suas casas!

Diante das colocações do filho, o Sr. Antônio reage com outra pergunta: Carlos, tu estás dizendo que podemos ter problemas para o abastecimento dos nossos açougues? Que talvez possa nos faltar carne para vendermos? Carlos pensa um pouco e depois responde: - Pai, faltar totalmente eu acho que não, porém com a qualidade a que estamos acostumados trabalhar, penso que pode nos faltar sim. Após ter relatado a situação ao pai, Carlos esperava que ele ficasse mais preocupado do que realmente demonstrou.

De fato, Carlos percebeu a reação do “velho negociante Antônio dos Santos” ao desabafo que tinha feito, mas o filho logo entendeu que não era somente preocupado que seu pai estava, outros sentimentos pairavam por ali. Carlos respeitou o silêncio do pai, contudo não por muito, para, em seguida, perguntar: - Pai, em que o senhor está pensando? - Já vou te responder, mas, primeiro, me serve mais um “gole” de cerveja e me alcança esse prato de salgados, porque, com sede e fome, não consigo pensar direito e se não penso também não respondo. E tu também Carlos, aproveita e molha a garganta, porque já falamos bastante só nós dois, e, quando terminares, vai lá dentro chamar a tua mãe e a tua irmã. Carlos insiste: - E a resposta? O Sr. Antônio solta o copo sobre a mesa e fala: - vou responder sim, mas na presença de todos.

O filho fez mesmo o que o pai disse, molhou a garganta, empinou o copo de cerveja em uma “tocada” só! De fato estavam enfrentando uma primavera demasiadamente quente. Foi chamar a mãe e a irmã ainda com os pés descalços, pois estava bastante curioso e apressado para ouvir a resposta do pai. Carlos entra na cozinha e diz: - Terminem logo com isso, o pai quer conversar com a gente, ele quer responder a minha pergunta. Maria reagiu um pouco incomodada: - Mas vocês já não estavam sentados conversando todo esse tempo? Por que ele já não respondeu essa tua tão importante pergunta? D. Amália sabiamente interferiu: - Vamos lá “minhas eternas crianças”! Vamos ouvir o que o Antônio está planejando dessa vez! Os três dirigiram-se ao pátio. D. Amália já carregava mais duas cadeiras, porque conhecia muito bem o marido e sabia que o assunto não deveria ser breve. Chegando perto do seu companheiro, ela disse: - Primeiro vamos sentar, depois o Antônio pode começar a falar, seja lá o que for! - Todos sentados? Pois bem, agora ouçam. Após ter dado esse comando, o Sr. Antônio começou a explicar a sua mais nova ideia com relação aos negócios da família: - O caso é o seguinte, o Carlos estava me contando sobre as dificuldades que está tendo para encontrar carne de qualidade para os nossos açougues. Ele disse que as condições dos abatedouros estão deixando muito a desejar, assim eu pensei...

- Olha lá Antônio, o que estás inventando dessa vez! D. Amália já foi interrompendo a fala do marido, porém ele falou mais alto: - Sabes Amália, para ser bem sincero, eu já estava

(7)

123 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

planejando isso há alguns meses, então digo que, pelo menos para mim, a “novidade” já é “velha”. Ele riu para descontrair a esposa, percebendo que mais uma vez ela estava preocupada. O Sr. Antônio prosseguiu: - Vocês lembram de que sempre tive o costume de guardar umas economias para enfrentar um “possível inverno rigoroso”, digo, um período difícil? Então, agora o inverno rigoroso é a nossa dificuldade com os fornecedores de carne. Por isso é que vamos construir o nosso próprio abatedouro. O que pensam disso?

D. Amália já iria começar a falar, entretanto o marido a surpreendeu dizendo: - Lembras minha querida companheira, de quando compramos o nosso primeiro açougue no Mercado Público e, em princípio, ficaste preocupada, para, em seguida, disseste que os meus planos eram também os teus? Lembras disso? D. Amália tirou os chinelos, acomodou-se melhor na cadeira, pediu ao filho que lhe servisse um copo de cerveja, tomou um gole bem grande e afirmou: - Lembro sim, Antônio, que venha então o nosso abatedouro! Maria, mais sorridente, falou: - Nesse caso, Carlos, por favor, também me serve um copo de cerveja, porque também sou filha de Deus, além do mais, só me resta comemorar! A partir desse momento, nasce o Abatedouro e Frigorífico Gaúcho. A empresa foi construída aos poucos.

Ivo, o marido de Maria, acompanhava as obras bem de perto. A propriedade da família dos Santos era suficientemente grande para abrigar o açougue, a moradia e, ainda, o abatedouro, que inicialmente tinha instalações modestas. Carlos continuou lidando com os fornecedores dos animais a serem abatidos no frigorífico da família. Ele ficava a maior parte do tempo fora das dependências do frigorífico, enquanto que Maria e D. Amália permaneciam na empresa, onde controlavam a produção de linguiças, as quais passaram a ser confeccionadas por dois funcionários contratados e trabalhadores no abate. Conforme os negócios cresciam, Maria, cada vez mais, tomava conta do escritório, haja visto que tinha estudado bem mais do que os seus pais. Já o velho negociante Antônio dos Santos continuava sempre liderando os negócios. Durante as manhãs coordenava as atividades no abatedouro. Reservava as tardes para monitorar os açougues. Desse modo, dividia o seu tempo entre orientar os funcionários, trocar ideias e obter informações com as pessoas que por lá circulavam.

Após alguns anos de funcionamento da empresa, outros dois grandes terrenos, localizados ao lado da planta inicial, foram adquiridos pela família e incorporados às dependências do estabelecimento. O abatedouro foi crescendo, equipamentos foram adquiridos, funcionários foram contratados e a capacidade de abate/dia também aumentou. Em razão disso, as exigências também aumentaram e algumas dificuldades começaram a surgir. Exigências por parte da fiscalização sanitária, da legislação ambiental e trabalhista, entre outras, e uma das grandes dificuldades como a escassez de bovinos para o abate, principalmente, nas condições que os consumidores passaram a desejar, isto é, carne macia, de animais precoces.

Num certo dia, mais para o final da manhã, enquanto observavam atentamente as tarefas da limpeza, que se repetiam ao término de cada abate, D. Amália perguntou ao seu marido: - Antônio, vamos continuar abatendo bois mesmo com toda essa escassez de bons animais? Não seria melhor substituirmos os bois pelas ovelhas e porcos? O esperto Antônio respondeu rapidamente: - Ora, Amália, é especialmente com os bovinos que vamos continuar trabalhando. Ovelhas e porcos muitos conseguem abater, vamos fazer aquilo que poucos conseguem fazer, não achas que estou certo? D. Amália sacode a cabeça e diz: - Nem sei por que eu ainda te pergunto essas coisas! O velho companheiro replica: - Eu sei, perguntas por que tu sabes que vou te dar a melhor resposta!

(8)

124 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

De fato, a empresa da família dos Santos, passou a trabalhar quase que exclusivamente com o abate de bovinos, seguindo as intuições e os direcionamentos do líder dos negócios, o Sr. Antônio.

1.4 O tempo dos “bois magros”

Com o passar dos anos, Ivo, o marido de Maria deixou a empresa da família da esposa e foi trabalhar em uma grande construtora. Poucos anos depois, D. Amália, que já estava bastante adoentada, faleceu, infelizmente, bem no dia do aniversário de dezoito anos da Ana Paula. O Sr. Antônio sofreu muito com a doença e com a morte da companheira, parecia que já não tinha mais interesse pelos negócios, enfim, parecia que estava cansado mesmo. Ele e seus filhos decidiram fechar os dois açougues localizados no centro da cidade. Mantiveram as atividades do abatedouro, frigorífico e do açougue localizado nas dependências do empreendimento maior. As linguiças já não eram mais fabricadas desde quando D. Amália ficou doente. Assim, a empresa passou por um período de relativa estagnação.

Carlos e Maria conseguiram apenas manter o que já havia sido idealizado e construído pelo pai. Carlos continuou cuidando, principalmente, dos contatos com os fornecedores. Maria continuava o trabalho no escritório da empresa, cuidava dos assuntos financeiros, da documentação, das rotinas diárias, controlava as compras de insumos e a expedição da carne a ser vendida, lidava com os clientes e funcionários, entre outros afazeres. O Sr. Antônio, que morava com a filha, o genro e a neta, na residência da família junto à empresa, costumava transitar pelo local onde os animais eram desembarcados, pelo pavilhão do abatedouro, pelo açougue, e pelo escritório. Muitas vezes, ele caminhava pelo grande pátio da propriedade e conversava com a neta.

O patriarca gostava de contar a ela toda a trajetória da sua vida, seguidamente, dizia a ela que sentia muitas saudades da esposa, D. Amália. Com quase oitenta anos de idade, mas com excelente memória, o avô de Ana Paula contava algumas passagens de sua vida: - Sabe, minha menina, eu, tua mãe, teu tio e tua avó morávamos para fora, na zona rural mesmo, lá nós fazíamos linguiças. Eu as trazia para vender aqui na cidade. Naquela época, o transporte era difícil, eu vinha de charrete, demorava muito para chegar até aqui. - Quem comprava as linguiças? Pergunta a neta curiosa. - Eu entregava às famílias que faziam encomendas e também para as pequenas casas de comércio e açougues. - Ah, o senhor trazia as linguiças para os seus açougues da cidade e para esse daqui? - Que nada minha querida, quando comecei a distribuir linguiças, eu não tinha açougue nenhum, nem essa propriedade! - Como o senhor conseguiu construir tudo isso? - Isso é uma longa história, qualquer dia eu conto mais um pouco. - Está certo, vou querer saber!

Ana Paula se apressa e entra no carro para ir à faculdade. Ela estava no primeiro semestre do curso de Educação Física, pois adorava praticar esportes, além de que, desde muito pequena frequentava aulas de dança. O outro neto do Sr. Antônio, Carlinhos, cursava o segundo ano de engenharia mecânica. Naquele período, os dois jovens, envolvidos com os estudos, não participavam dos assuntos da empresa. Quando os primos ainda estavam na universidade, a empresa da família enfrentou uma séria crise. Na ocasião, Carlos e Maria vislumbraram apenas duas opções: investir firmemente para adaptar o abatedouro e frigorífico às inúmeras normas sanitárias, ambientais e trabalhistas, que se impunham, e às maiores exigências dos clientes, ou fechar as portas. Escolheram a primeira opção, para tanto,

(9)

125 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

tomaram um financiamento junto ao BNDES. Dessa forma, conseguiram realizar as adaptações necessárias à sobrevivência do negócio.

1.5 É a vez da terceira geração

A jovem Ana Paula, formada em Educação Física, professora de dança e de ginástica em duas academias da cidade, retornou do trabalho. Estacionou o carro no pátio das dependências da empresa, o mesmo de sua casa, e, antes mesmo de entrar diretamente na cozinha para lanchar, como fazia costumeiramente, vai até o escritório onde sua mãe, Maria, estava trabalhando. Sua mãe pergunta: O que houve Ana Paula? O que fazes aqui com essa roupa de ginástica, ao menos fizeste um lanche? A filha responde: - Não houve nada de especial, apenas estou querendo conversar contigo, mas primeiro preciso tomar um copo de água.

A mãe já se adiantou: - Então, como andam as coisas no teu trabalho minha filha? - Pois é mãe, queria trocar umas ideias contigo. Como tu sabes, decidi cursar Educação Física, pois achava que com isso me realizaria plenamente. Lembras que antes de me formar, já comecei a dar aulas de ginástica e de dança? - Claro que lembro, responde Maria. Ana Paula continua: - Mãe, inicialmente eu gostava bastante do que fazia, mas, agora, com o passar do tempo, acho que estou sempre fazendo a mesma coisa. Apesar dos alunos apresentarem diferentes perfis e de todo o meu empenho para elaborar aulas criativas, estou um pouco desmotivada, quero dizer, eu penso que preciso e posso fazer alguma coisa que me desafie mais.

- Tu achas isso mesmo minha filha? Pensa bem! Se for o caso de trocares de atividade, já pensaste em alguma outra coisa? A filha serve mais um copo de água, serve também outro para a mãe e continua: - Eu estive pensando, pensando muito mesmo, em tudo o que tu e o tio Carlos comentam sobre o gerenciamento do nosso frigorífico, para ser sincera, pensei até no que vocês não comentam, mas que, mesmo assim eu observo. - Que comentários, Ana Paula? Ela respondeu: - Vou repetir apenas alguns, por exemplo: “todos os dias um problema novo, todos os dias uma nova situação, não se pode prever o que nos espera amanhã, ora é exigência do sindicato dos funcionários, ora é exigência da fiscalização sanitária, ora é dificuldade de encontrar bovinos com qualidade para o abate” e por aí vai”... A mãe acrescentou: - É isso mesmo, filha, posso queixar-me de muitas coisas, porém não posso dizer que vivo em um clima monótono, pois nunca sei o que me espera na empresa no dia seguinte. Em continuidade, a filha pergunta e sugere ao mesmo tempo: - Será que esses problemas, essas novas situações, essa falta de previsibilidade sobre o que virá, não seriam parte da motivação que está me fazendo falta? Maria responde com outra pergunta; - Gostarias de trabalhar aqui na empresa, minha filha? - Sim. Acho que poderia ser bom para a empresa, para mim e para todos nós da família. Maria novamente pergunta: - Tu achas ou tens certeza? Se tu apenas achas, voltaremos a conversar mais adiante, se tens certeza, amanhã mesmo converso com o Carlos e também com o Carlinhos, como tu sabes, não posso decidir isso sozinha. - Tenho certeza mãe. Deixa que eu mesma vou conversar com eles.

Ana Paula entra em casa, vai até a cozinha, lancha rapidamente e procura o primo e o tio. Encontra apenas o primo, Carlinhos, pois Carlos chegaria bem mais tarde, tinha viajado até um município vizinho para verificar e, talvez, negociar, uma carga de novilhos gordos. Carlinhos, que gerencia a manutenção de máquinas e equipamentos tais como: câmaras frigoríficas, instalações para o fluxo de água, instrumentos para controle de temperatura,

(10)

126 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

componentes dos caminhões frigoríficos, entre outros equipamentos, é graduado em engenharia mecânica, porém já atuava na empresa antes mesmo da conclusão do curso.

O rapaz, poucos anos mais velho do que a prima, é bastante competente no que faz, todavia não se envolvia com a gestão da empresa, ele diz não gostar dessa área. A conversa dos dois foi tranquila, foi quase um monólogo, porque Ana Paula falou bastante, enquanto que o primo apenas escutava e respondia às perguntas da jovem, além de demonstrar boa vontade em recebê-la para trabalhar na empresa.

Ana Paula estava ansiosa, porque só conseguiu encontrar seu tio Carlos no dia seguinte, já era noite. Para não entrar diretamente ao assunto sobre a sua intenção de trabalhar na empresa da família, começou a conversa fazendo algumas indagações: - Tio, quantos animais vocês abatem aqui por dia? Carlos, experiente, estranhou o interesse da sobrinha por questões tão específicas, mesmo assim respondeu com gentileza. É o seguinte Ana Paula: - Hoje temos uma capacidade instalada para o abate de setenta bovinos por dia. Temos um caminhão boiadeiro com capacidade para carregar 50 cabeças de gado. Dificilmente abatemos mais do que 50 animais por dia. - De onde o senhor compra o gado? Prossegue Ana Paula. O tio responde: - Compro de produtores do nosso município e de outros municípios vizinhos. - E nas terras do meu avô, não temos gado para serem abatidos aqui? Quem ocupa aquelas terras atualmente? - Não é possível, Aninha, é uma porção pequena, teríamos um grande envolvimento e não supriríamos as nossas necessidades. Além do mais, aquelas terras estão arrendadas para os filhos do Nestor, hoje, falecido, um velho parceiro do teu avô.

A sobrinha ainda insistiu: - Ah, está bem, mas ao menos para suprir apenas alguma parcela, talvez nos momentos de grande escassez, conforme já ouvi o senhor e a mãe comentar? - Sim, mas, para isso teríamos que conseguir um pouco mais de terra, além disso, essas terras teriam que estar juntas à propriedade do teu avô, e isso não é fácil de encontrar. Em seguida, Carlos comenta: - Vejo que estás muito curiosa, comenta Carlos, queres perguntar mais alguma coisa? A jovem aproveitou o embalo e seguiu perguntando: - E os caminhões frigoríficos que vejo saindo daqui, para onde levam a nossa carne? – Atualmente, a maior parte das vendas é feita no nosso município, para açougues, mercados e supermercados, embora nós sejamos credenciados, oficialmente, para a comercialização em todo o território do Estado do Rio Grande do Sul.

Aproveitando a curiosidade da jovem, Carlos contou a ela que o frigorífico da família foi o primeiro do município a receber o selo “BPF”, que significa Boas Práticas de Fabricação. Explicou também que As Boas Práticas de Fabricação abrangem um conjunto de medidas que devem ser adotadas pelas indústrias de alimentos, a fim de se garantir qualidade sanitária e conformidade dos produtos alimentícios com os regulamentos técnicos. O tio ainda comentou que a empresa contava com o trabalho de, em média, vinte e cinco colaboradores, entre funcionários, sócios e terceirizados.

1.6 Malhando na empresa

Por entender que os problemas da empresa, que sua mãe repetidamente comentava, pudessem ser os seus desafios, Ana Paula abandona a carreia de professora de Educação Física e passa a trabalhar no Abatedouro e Frigorífico Gaúcho. Seguindo os conselhos da mãe e do tio, ela permaneceu, durante os dois primeiros meses, envolvida com a parte operacional da empresa, acompanhava, assim, o descarregamento dos bovinos nos currais, o abate e suas diferentes etapas, o acondicionamento da carne para armazenamento e expedição e a

(11)

127 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

higienização das dependências onde essas operações eram feitas. Ela observava com atenção, registrando com detalhes, todos os procedimentos inerentes às diversas tarefas. Nesse período, Ana Paula esteve, praticamente, todo o tempo envolvida em observar as práticas do setor operacional.

Após os dois primeiros meses da permanência de Ana Paula na empresa, ela comenta com sua mãe: - Mãe, eu não imaginava que o pessoal do abate precisasse ser tão bem treinado! Maria prossegue: - Percebeste, minha filha? Todos que trabalham no abate precisam estar muito bem alinhados, pois as tarefas estão todas encadeadas, e, a falha em uma pode resultar em um verdadeiro desastre. Ana Paula segue comentando: - Mãe, é incrível, até a limpeza tem padrões rigorosos, os funcionários seguem rotinas bem definidas e possuem um tempo específico para terminarem o trabalho. Maria diz: - É claro, porque, após a limpeza, eles trabalham no processamento da carne e, se na manhã seguinte, o fiscal detectar um mínimo de resíduos, o abate do dia poderá ser suspenso. Tu podes imaginar que prejuízo isso nos causaria? - Sim mãe, imaginar acho até que posso!

Outro aspecto relevante que a jovem observou, foram as atitudes dos colaboradores com relação ao cumprimento das regras do bem-estar dos animais. Novamente, Ana Paula relatou a sua mãe: - Percebi que maioria dos funcionários que lida com os animais vivos, já incorporou o sentido do bem-estar animal, digo, do abate humanitário, mas mãe, tu sabes o que eu ouvi esses dias? - Se não contares, como vou saber? – Infelizmente, alguém disse: - Para que tratar esses bichos com tanto cuidado se vão morrer mesmo. Em pouco tempo, a moça percebeu o quão difícil era fazer com que as pessoas agissem corretamente, para cumprirem todos os requisitos necessários à eficiência dos processos inerentes ao abate e processamento da carne.

Com isso, Ana Paula pensou que deveria concentrar, pelo menos em um primeiro momento, a maior parte dos seus esforços em direção à capacitação dos recursos humanos. Então ela argumenta com a mãe e o tio: - Se os nossos colaboradores não assimilarem, por exemplo, o porquê das bancadas de inox, as serras, o piso, etc., precisam estar, ao final do dia, extremamente limpos, eles não os deixarão extremamente limpos. Ela argumenta mais ainda: - Se eles não incorporarem o significado e a importância do bem-estar animal, eles não agirão de forma a minimizar o sofrimento dos animais, pelo contrário, serão indiferentes a isso. Estou apenas citando dois exemplos. Estou certa? Ainda na presença de Carlos e Maria, disse: - Penso que deveríamos preparar o nosso pessoal, através de treinamentos, cursos, palestras, quero dizer, qualificá-los mesmo. Diante de tantas imposições que enfrentamos; diante de tantas cobranças externas, como vigilância ambiental, inspeção sanitária, defesa dos animais, etc.; nada melhor do que estarmos com o nosso pessoal bem qualificado e conscientizado.

A mãe e o tio perguntaram quase que ao mesmo tempo: - E como faremos isso, Ana Paula? Ela respondeu: - Já encontrei e também já aceitei o meu primeiro desafio aqui na empresa, vou me preparar para isso. Estava pensando nesse assunto há alguns dias. Hoje é segunda-feira, na quinta-feira começo uma especialização em Gestão de Pessoas, aqui na cidade mesmo, o curso será ministrado no turno da noite. Assim, a candidata a especialista em Gestão de Pessoas realmente ingressa no curso. A partir daí, começa a utilizar na empresa, os ensinamentos e teorias advindas das aulas e, por outro lado, levava da empresa relatos e experiências para serem compartilhados no ambiente educacional.

(12)

128 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

1.7 Foco nos recursos humanos

Tendo concluído o curso de especialização em Gestão de Pessoas, que se estendeu por mais ou menos um ano e meio, Ana Paula, cada vez mais, apostava na capacitação das pessoas como sendo um dos principais fatores para o sucesso da empresa. Da sua especialização, trouxe para a empresa diferentes procedimentos a serem trabalhados. Passou-se, portanto, a adotar certas rotinas que até então não se utilizava, como: palestras educativas e motivacionais, vídeos para treinamentos específicos, dinâmicas de grupo para maior entrosamento, entre outras.

Ao final de uma palestra motivacional realizada nas dependências da empresa, o primo Carlinhos, com certo ar de incredulidade, pergunta à prima: - Então, Ana Paula, o que mais aprendeste nessa tua “tal Especialização em Gestão de Pessoas”? Ana Paula respondeu: - É com muito prazer, primo, que te darei apenas umas pinceladas sobre o que aprendi, porque, realmente, foram muitas coisas, mas vamos lá: nas disciplinas de psicologia, aprendi a lidar com as pessoas diferentes da gente, principalmente, com aquelas menos instruídas, foi uma das disciplinas que eu mais gostei. Aprendi a identificar as pessoas certas para determinadas funções.Aprendi que não existem pessoas totalmente desprovidas de aptidões, pois, às vezes, temos um ótimo funcionário, porém em uma função inadequada ao seu perfil.

- E o que mais prima? - Nas aulas de comunicação, por exemplo, aprendi como dar as informações certas, como participar de reuniões, como e onde colocar avisos e placas. - Primo, tu sabes que estamos conseguindo fazer com que os nossos funcionários usem mais e melhor os equipamentos de segurança? Que isso é fruto de palestras e treinamentos que trouxe do meu curso para a nossa empresa? - Tudo certo, prima, já estou convencido. Vou para junto dos meus motores, eles não falam tanto assim! - Espera, eu ainda não terminei, acho que isso que vou dizer servirá muito para ti! - Sim, podes falar minha jovem empresária!

- Carlinhos, tudo o que se aprende tem utilidade, todo o conhecimento é importante. Quando eu poderia imaginar que a minha graduação em Educação Física fosse me ajudar aqui na empresa, mas não é que está ajudando mesmo! Com a experiência que tive como aluna na graduação e, depois, como professora em academias, consigo facilmente enxergar em quais atividades e em quais os movimentos os trabalhadores fazem mais esforço físico.

Ana Paula empolgada, ainda complementou: - Estou implementando a ginástica laboral aqui na empresa, estás sabendo? Penso que isso fará muito bem ao nosso pessoal, pois terão a mente e os músculos mais relaxados durante trabalho. A minha mãe e o teu pai são meus parceiros nesse projeto. Carlinhos tratou de encerrar o assunto dizendo: - Eu também serei teu parceiro, Ana, mas agora preciso ir mesmo.

Ana Paula, após ter trabalhado na empresa há, aproximadamente, dois anos e meio, tornou-se gerente de recursos humanos, porém, paralelamente às atividades inerentes ao cargo, interessou-se mais por outros setores do frigorífico. Ficou mais tempo no escritório recebendo orientação de sua mãe sobre as rotinas burocráticas e procurou obter informações sobre o fornecimento de gado. Estabeleceu, também, ligação com os principais compradores da carne produzida na empresa e buscou conhecer melhor os seus clientes. Entrou em contato com os líderes sindicais da categoria de seus funcionários e criou relacionamentos com outros empresários do mesmo ramo. Consultou, ainda, organismos de defesa dos animais e do meio ambiente, entre outras atitudes.

(13)

129 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

1.8 De volta aos caminhos da charrete!

Em uma tarde muita fria, em pleno mês de julho, a jovem empresária organizou uma reunião no Frigorífico e Abatedouro Gaúcho. Ana Paula havia convidado representantes de outros frigoríficos da região, que, em princípio, eram concorrentes. Antes que os “convidados” chegassem, ela argumentava com a mãe e com o tio os motivos que a fizeram reunir aquelas pessoas ali, justamente nas dependências da empresa da família. Ana Paula diz: - Vamos nos reunir com outros empresários de abatedouros e frigoríficos. Sei que eles estão pretendendo formar um grupo chamado “grupo da compra coletiva”. Carlos perguntou:- Para que serve esse grupo menina? -Tio, respondeu Ana Paula, nesse grupo são feitas pesquisas e cotações entre diferentes fornecedores, sobre preços e prazos para pagamento de produtos como: uniformes brancos, luvas, botas, produtos químicos e de limpeza, facas, serras, etc..

Maria também questiona a filha: - O que estás inventando agora, Ana Paula? - Mãe, me escuta, é o seguinte, são produtos que todos os frigoríficos usam muito, quando comprados em grandes quantidades, conseguimos menores preços e condições de pagamento bastante atraentes. - O que achas disso, Carlos? Falou Maria ainda insegura. - Carlos respondeu: - Vamos participar sim da reunião e ainda vamos torcer para que se consiga organizar esse “grupo da compra coletiva”, valeu minha sobrinha, garota esperta! De fato, a reunião aconteceu como o planejado. Um número significativo de representantes de outros frigoríficos esteve presente. O “grupo da compra coletiva” havia acabado de ser constituído.

Realmente, era uma tarde muito fria. A reunião com o pessoal do “grupo da compra coletiva” tinha acabado há pouco tempo. Carlos comentava com a irmã a respeito do período de escassez de gado que estavam enfrentando. Isso se repetia a cada inverno. De repente, apresenta-se na saleta de reuniões, o “velho negociante Antônio”, com os seus oitenta e dois anos de idade, porém lúcido como sempre. Maria logo foi falando: Pai, o que o senhor faz na rua com esse frio? - O mesmo que tu fazes Maria, estou em reunião de negócios com a família. E por acaso vocês não vão me oferecer um café bem quente?

Ana Paula, que sempre foi muito amiga do avô, prontificou-se para buscar um café novo e quentinho para o servir. Pegou o café que, costumeiramente, ficava pronto em uma cafeteira grande, instalada na cozinha da casa da família, levou-o, juntamente com uns biscoitos salgados, para a saleta onde estava o pessoal. Em seguida, o Carlinhos entra no recinto.

O velho Antônio falou, falou firme e entusiasmado, como já não o fazia há alguns anos. É o seguinte, lembram da velha frase de guardar umas economias para um “possível inverno rigoroso”? Os quatro responderam em coro: Lembramos! - Ainda bem que lembram, disse o “chefe” Antônio. - Fala de uma vez meu avô! Diz a neta curiosa e apressada. - Mas tu ainda não me serviste o café Aninha, respondeu o avô. - Tudo bem, é para já. Está aqui o seu café com os biscoitos que o senhor adora, agora, já podes falar, não é? - Sim vou falar: consegui adquirir mais uma terrinha ao lado daquela que já tenho lá fora, lá onde tudo começou. Ainda mais, os meninos do Nestor vão entregar a minha parte que estavam arrendando, assim, ficará tudo junto. - Que beleza pai, disse Carlos. - Maria emocionada falou: Que maravilha! Eu tenho muitas saudades daquele lugar!

- Carlinhos perguntou: - Mas, meu avô, o que isso tem a ver com guardar economias para um “possível inverno rigoroso”? Ana Paula falou alto: - Meu avô! será que o senhor está pensando o mesmo que eu estou pensando? - Bom, só saberei se tu me disseres em que estás pensando, respondeu o avô. - Vou arriscar, disse a neta: o “inverno rigoroso” é essa escassez

(14)

130 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

de animais para o abate que enfrentamos quase todos os anos? Maria interrompe e comenta admirada: Meu Deus, neta de peixe peixinho é! - Isso mesmo, minha querida! - Meu avô, então o senhor acha que poderemos produzir animais em terras próprias, para abatermos aqui nos períodos em que a oferta escassear? - Acho que sim. Inicialmente, só conseguiremos produzir poucos animais, apenas para os períodos mais críticos, mas com o tempo, quem saberá?

Entre cafés e biscoitos, Ana Paula observou, pela janela da saleta, um caminhão boiadeiro, que estava vazio, saindo das dependências da empresa, o qual, certamente, dirigia-se até um fornecedor. Ao ver o veículo afastar-dirigia-se, ela falou aos familiares com grande entusiasmo: Gente, eu acredito que, em um futuro bem próximo, esses caminhões farão os mesmos caminhos que a charrete do meu avô Antônio tanto já fez! O que o senhor acha disso meu avô? O Sr. Antônio respondeu: - Eu vou dizer, mais ou menos, aquilo que a minha querida companheira Amália diria se estivesse aqui: - daqui para frente, os planos de vocês, digo, da minha família, serão também os meus planos.

2 NOTAS DE ENSINO – ORIENTAÇÕES PARA PROFESSORES 2.1 Objetivos educacionais

Tomando por base as atitudes e as decisões do protagonista, senhor Antônio dos Santos, bem como dos demais componentes de sua família, a partir das experiências por eles vividas nas diferentes fases da história da construção da empresa, o Frigorífico e Abatedouro Gaúcho, o presente caso para ensino propõe os seguintes objetivo educacionais:

- relacionar o caso para ensino aqui proposto, na perspectiva de realidade empresarial, a uma perspectiva teórica e pedagógica;

- destacar atitudes empreendedoras, relacionando-as aos diferentes personagens;

- apontar as principais dificuldades enfrentadas, bem como as oportunidades aproveitadas pela família dos Santos, tendo em vista que o empreendimento sofre influências das flutuações do mercado do agronegócio;

- promover a reflexão sobre a importância do processo de sucessão para a manutenção e prosperidade de uma empresa familiar.

2.2 Utilização recomendada

Indica-se este caso para ensino, com o intuito de incrementar os conteúdos das disciplinas relativas à estratégia empresarial, ambiente organizacional e empreendedorismo, para cursos de extensão em níveis de graduação e de pós-graduação. O caso poderá também integrar os conteúdos programáticos das universidades empresariais, servindo, por exemplo, como elemento gerador de debates sobre o perfil empreendedor dos gestores de acordo com as suas percepções sobre o ambiente organizacional. No âmbito empresarial, por sua vez, esse instrumento de ensino, poderá se traduzir em pistas a serem perseguidas pelos gestores, como também em fatores motivacionais para a diversificação dos negócios já existentes.

(15)

131 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

2.3 Situação problema

Se todos os personagens (membros da família) possuíssem a mesma orientação empreendedora, a história da empresa teria sido a mesma?

O caso para ensino apresentou a história da criação e da evolução de uma empresa, originalmente, rural e familiar, com práticas artesanais, que, atualmente, atingiu a dimensão de uma indústria frigorífica com planta instalada para o abate de 70 bovinos por dia. Essa evolução, ao longo de mais de meio século, possibilitou à empresa, entre outras coisas, conseguir a certificação para comercializar os seus produtos em todo o estado do Rio Grande do Sul (RS), Brasil. Além disso, por decisão dos gestores, a empresa passará a atuar em todos os elos da cadeia da carne, pois parte dos animais para o abate serão oriundos de criação em terras próprias. Desse modo, por se tratar de uma empresa que logrou êxito em cada nova etapa que sucedeu a anterior, salienta-se a importância de que os discentes identifiquem essas etapas, bem como se posicionem diante das decisões tomadas e das atitudes empreendidas pelos personagens.

2.4 Sugestões de questões para discussão

A. Como você classificaria o personagem Antônio dos Santos, considerando suas decisões tomadas no início de cada nova fase do negócio? Justifique a resposta.

B. Trace um paralelo entre o perfil de Ana Paula e de seu avô Antônio, apresentando características comuns entre ambos.

C. Por que Ana Paula decidiu trabalhar na empresa da família? Por que, após a observação e experiência em diferentes setores, resolveu intensificar sua atenção para os recursos humanos?

D. Empresas que dependem da produção agropecuária e das mazelas do agronegócio enfrentam dificuldades. Quais as principais dificuldades que o caso apontou? Quais as atitudes dos gestores diante delas?

E. Destaque trechos do relato, nos quais você tenha identificado uma atitude empreendedora por parte dos personagens. Comente os trechos destacados.

F. No contexto atual do agronegócio, ao se considerar as características regionais e da empresa familiar estudada, qual é a sua opinião sobre a decisão do protagonista de produzir, em terras próprias, parte dos animais a serem abatidos? Apresente vantagens e desvantagens que possam resultar dessa decisão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, I. C.; ANTONIALLI, L. M.; GOMES, A. F. Comportamento estratégico de mulheres empresárias: um estudo baseado na tipologia de Miles e Snow. Revista

Ibero-Americana de Estratégia, v. 10, n. 1, p. 102-127, 2011.

BRAGA, M. Redes, alianças estratégicas e intercooperação: o caso da cadeia produtiva de carne bovina. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 39, Viçosa, 2010.

(16)

132 RECC – Revista Eletrônica Científica do CRA-PR, v. 4, n. 1, p. 117-132, 2017.

DAHAN, G.; SHOHAM, A. Strategic orientations: developing an integrative model of pioneeering, entrepreneurial, and stakeholder orientation. Procedia – Social and Behavioral

Sciences, v. 109, p. 758-762, 2014.

DUNCAN, R. B. Characteristics of organizational environments and perceived environmental uncertainty. Administrative Science Quarterly, v. 17, n. 3, 313-327, 1972.

JANK, M. S.; NASSAR, A. M. Economia e gestão dos negócios agroalimentares: indústria de alimentos, indústria de insumos, produção agropecuária, distribuição. São Paulo: Pioneira, 2000.

KOTHA, S.; VADLAMANI, B. L. Assessing generic strategies: an empirical investigation of two competing typologies in discrete manufacturing industries. Strategic Management

Journal. v. 16, p. 75-83, 1995.

LEE, H. L. Creating value through supply chain integration. Supply Chain Management

Rewiew. New York, v. 4, n. 4, p. 30-36, 2000.

MILLER, D. The correlates of entrepreneurship in three types of firms. Management Science v. 29, n. 7, p. 770-791, 1983.

SILVEIRA-MARTINS, E. & TAVARES, P. M. Processo de formulação de estratégias: capacidade mercadológica, incerteza ambiental e desempenho. Organizações em Contexto, v. 10, n. 20, p. 297-322, 2014.

SILVEIRA-MARTINS, E. ; VAZ, C. S. Orientação empreendedora e sua associação com as capacidades dinâmicas: um estudo em agroindústrias gaúchas. Revista em Agronegócios e

Meio Ambiente, v. 9, n. 3, p. 509-529, jul./set., 2016.

ZYLBERSZTAJN, D. Conceitos gerais, evolução e apresentação do sistema agroindustrial.

In: ZYLBERSZTAJN, D.; FAVA, M.F (org). Economia e Gestão dos Negócios Agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2005.

Referências

Documentos relacionados

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

Apresenta-se neste trabalho uma sinopse das espécies de Bromeliaceae da região do curso médio do rio Toropi (Rio Grande do Sul, Brasil), sendo também fornecida uma chave

esta espécie foi encontrada em borda de mata ciliar, savana graminosa, savana parque e área de transição mata ciliar e savana.. Observações: Esta espécie ocorre

Comunicar ao seu médico ou farmacêutico, todos os medicamentos que estiver em uso ou que tenha feito uso recentemente ao início do tratamento com o ALCYTAM (mesmo os sem necessidade

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

variáveis “potência de UV irradiada” e pH , quando a variável [CN - ]0 está em seu nível inferior e a variável “razão molar [H2O2]:[CN - ]” estão em seu nível superior

servidores, software, equipamento de rede, etc, clientes da IaaS essencialmente alugam estes recursos como um serviço terceirizado completo...

Podem treinar tropas (fornecidas pelo cliente) ou levá-las para combate. Geralmente, organizam-se de forma ad-hoc, que respondem a solicitações de Estados; 2)