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O ESPORTE, SUAS LEGITIMAÇÕES E RELAÇÕES COM A ESCOLA EM MOMENTO DE COPA DO MUNDO NO BRASIL

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Contato: Rebeca Signorelli Miguel - rebecasignorelli@gmail.com

O esporte, suas legitimações e relações com a

escola em momento de Copa do Mundo no

Brasil

Sport, its legitimations and relations with the school during the World

Cup in Brazil

Rebeca Signorelli Miguel1 Elaine Prodócimo1 1 Universidade Estadual de Campinas Recebido: 29/06/2018 Aceito: 23/04/2019

RESUMO: O ano de 2014 foi marcado, no Brasil, pela ocorrência da Copa do Mundo, que teve como

sede 12 cidades brasileiras e como subsedes algumas outras que receberam seleções nacionais para se hospedarem e treinarem durante o evento, que durou, aproximadamente, um mês. O presente artigo apresenta investigações e análises sobre relações entre as instituições escola e esporte em momento de megaevento esportivo em solo brasileiro. O estudo das instituições e suas legitimações, e suas formas de consolidação na sociedade, embasam as análises e investigações de alguns impactos da Copa do Mundo de 2014 na educação pública brasileira. O objetivo do artigo, portanto, é refletir sobre as relações entre escola e esporte com base em projetos que tematizaram a Copa do Mundo em uma rede municipal de educação em 2014 no Brasil. A pesquisa, qualitativa, foi realizada por meio da análise de documentos públicos e comunicados oficiais direcionados às escolas de uma cidade do interior de São Paulo durante 2014, o que é denominado de pesquisa documental; e, da pesquisa de campo, que possibilitou a vivência da realidade em relação aos projetos para além dos documentos (implementação, recepção, desenvolvimento). Constatou-se a presença de projetos destinados à educação que tematizavam o megaevento, explicitando a relação entre as instituições esporte e escola. Foi possível perceber as maneiras que as/os professoras/es são localizadas/os em meio à elaboração, desenvolvimento e resultados dos projetos anunciados. E que a iniciativa em apresentar projetos com a temática para as unidades educacionais, advindas da prefeitura, era mais importante do que o desenvolvimento real desses mesmos projetos.

Palavras-chave: Esportes; Copa do Mundo; Escola.

SIGNORELLI MIGUEL R, PRODÓCIMO E. O esporte, suas legitimações e relações com a escola em momento de Copa do Mundo no Brasil. R. bras. Ci. e Mov 2019;27(2):143-154.

ABSTRACT: The year of 2014 was marked in Brazil by the occurrence of The World Cup, that had 12

Brazilian host cities and anothers as home city to the participating teams (for training too). Its duration was about one month. This article presents investigations and analysis about relations between school and sport institutions during an sport megaevent in Brazil. The study of the institutions and their legitimations, and the ways of their society consolidation bases the analysis and the investigations of some impacts of the 2014 World Cup in the Brazilian public education. This article´s goal is to think about the relations between school and sport by projects that had The World Cup as theme in a municipal net of teaching in 2014 in Brazil. The research is qualitative and was realized by the analysis of public documents and official communications to the schools of an interior city of São Paulo during 2014, what means documental research. And a field research, that enables see the reality about the projects beyond the documents (implementation, reception, development). It found the presence of education projects that had the mega event as a theme, explaining the relation between the school institution and the sport institution. Was possible learn the ways teachers are localized in the elaboration, development e results of the announced projects. The initiative of presents projects with that theme for the schools was more important than the real development of them.

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Introdução

O esporte surgiu nos séculos XVIII e XIX na Inglaterra em um contexto de urbanização e industrialização, e se tornou uma instituição a partir da sistematização, do estabelecimento de regras fixas e da padronização de movimentos frequentemente executados pelos indivíduos, que, na época eram entendidos como jogos1. A instituição esportiva se desenvolveu, portanto, durante a modernização — industrialização, urbanização, tecnologização dos transportes e comunicação, expansão do tempo livre e surgimento dos sistemas de ensinoi, momento em que a escola também assumiu novos contornos, modernos, disciplinadores, de formação de mão de obra, espaço de convívio.

A escola moderna, segundo Pérez Gómez3, assume as contradições das sociedades contemporâneas. Tem função de socialização, ensinando a reproduzir o funcionamento (capitalista, racional e discriminatório) das instituições sociais atuais, porém educa sobre o ser cidadão, com vivência de participação política. A escola, portanto, constitui o local de convívio e de sistematização de conhecimento, de comportamentos culturais, de vivência de direitos e de intervenção pedagógica.

Segundo Linhales4, as relações entre esporte e escola são preocupações constantes da área da Educação Física. Elas configuram relações de poder, contradições, relações sociais, que trazem à tona o passado e o presente destas instituições. Tanto o esporte quanto a escola são práticas modernas que produzem sentidos e significados.

Berger e Luckmann5 aproximam a institucionalização de uma atividade humana ao seu controle social. Dessa forma, o esporte institucionalizado carrega características específicas desse momento histórico ao qual pertenceu sua origem.

Sua institucionalização em escala internacional foi baseada na crença na educação do caráter e no controle do tempo livre das camadas populares, em especial do que se chamava classe operária,

personagem que se consolidava e expandia na medida do crescimento das cidades6 (p. 482).

Faz-se necessário, para o estudo e compreensão dessa instituição, seu conhecimento, principalmente no que diz respeito ao momento histórico durante o qual foi institucionalizado. A sociedade burguesa de classes na Europa refletiu a institucionalização do esporte2.

Segundo Berger e Luckmann5, as instituições pretendem ter autoridade sobre os indivíduos e sua preservação na sociedade deve se assentar em um comportamento estabelecido. Elas surgem na sociedade como fruto da necessidade da ordenação social. A ordem institucional pretende garantir a construção de um mundo social.

Podemos pensar que as instituições são o ‘esqueleto’ da sociedade e constituidoras do ‘esqueleto’ dos indivíduos. São uma espécie de repertório de possibilidades/necessidades de o indivíduo ser em uma determinada sociedade. Elas configuram aquilo que chamamos ‘mundo humano’, o qual ultrapassa

(não necessariamente negando) a vida no plano da natureza7 (p.13).

Este estudo busca analisar relações entre o esporte e a escola, principalmente aquelas visíveis quando a sociedade brasileira recebe megaeventos esportivos em seu território, como a Copa do Mundo1 em 2014. O objetivo deste artigo, portanto, é refletir sobre as relações entre escola e esporte a partir de projetos que tematizaram a Copa do Mundo no Brasil na rede de educação de Campinas-SP em 20142.

Materiais e métodos

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, aquela que não busca procedimentos sistemáticos previstos e não se dirige a generalizações8. Para alcançar o objetivo almejado, foi utilizada a pesquisa documental9, em que documentos

1Ao longo deste artigo, utilizaremos “Copa do Mundo” para nos referirmos ao evento Copa do Mundo de futebol masculino, da

FIFA.

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Este artigo é um recorte da pesquisa realizada para a dissertação “A escola recebe a Copa do Mundo no Brasil”, defendida em 2015

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públicos e comunicados oficiais da prefeitura e secretarias do município estudado foram analisados; e pesquisa de campo, concomitantemente, o que permitiu a visualização dos conteúdos contidos nos documentos inseridos na prática cotidiana da escola.

Os procedimentos da análise documental foram a pesquisa nos meios de divulgação oficiais da FIFA (plataformas eletrônicas, bases de notícias), no Diário Oficial do município, e o estudo de todo o material com a temática da Copa do Mundo que chegava à escola (por e-mail, comunicados oficiais impressos destinados à gestão ou à professores etc.). A pesquisa de campo se deu por meio da vivência cotidiana na escola (diariamente) durante todo o primeiro semestre letivo até a ocorrência da Copa do Mundo de 2014. Essa presença na escola, ainda que apenas em uma unidade escolar, possibilitou que os projetos fossem acompanhados e analisados quando em seu destino e objetivo.

Essa pesquisa foi realizada na rede municipal de ensino de Campinas – SP, uma das subsedes da Copa do Mundo, e contou com a aprovação no comitê de ética, com autorização da gestão da escola e dos responsáveis pelas/os alunas/os. Foi registrada sob o número 25996114.9.0000.5404.

Resultados

No contexto de Copa do Mundo no Brasil, foi possível verificar a ocorrência de alguns projetos que relacionaram escola e esporte com base na temática do evento, ou do futebol. Esses projetos tiveram origens diferentes, sendo todos com destino na escola pública municipal, local de realização da pesquisa. A própria prefeitura do município estudado e até a FIFA, entidade máxima do futebol e organizadora do evento que se realizou no Brasil em 2014, se preocupou em destinar projeto para a escola pública.

A FIFA implementou um projeto denominado “FIFA 11 Pela Saúde”, o qual teve o objetivo de “fornecer o ensino de educação em saúde com base em um cenário de futebol para crianças”10.

No momento pré-Copa do Mundo, a prefeitura do município onde se realizou a pesquisa lançou projetos para as escolas municipais com a temática desse megaevento esportivo. Os projetos tinham como títulos: “O Brasil abraça a Copa”, “Etnias”, “Minha Nigéria brasileira”, “Gandula”.

O primeiro deles, “O Brasil abraça a Copa”, tinha como objetivo a ornamentação das escolas com as cores das bandeiras do Brasil e dos dois países que se hospedaram na cidade. Um concurso da “melhor escola” na decoração, premiaria com uma bola oficial e um home theater. Este projeto era destinado, principalmente, às turmas de 1º a 5º anos.

O projeto “Etnias” seria uma parceria do município com um hotel fazenda famoso da região. Nele, os alunos teriam uma aula teatral com ênfase na história da colonização brasileira.

“Minha Nigéria brasileira” se tratava de um projeto para os 8o

e 9o anos em que haveria oficinas com a equipe do mesmo hotel fazenda que buscasse desconstruir o imaginário da história da África, especialmente da Nigéria. Esse projeto confeccionaria uma cartilha com os resultados das oficinas e realizaria uma mostra cultural no município. Previa, também, a confecção de máscaras africanas em papel machê.

O projeto “Gandula” era destinado, exclusivamente, a meninos dos 9o anos das escolas municipais. Tratava-se

de uma seleção de alguns deles para atuarem como gandulas nos jogos treinos das seleções hospedadas no município. Essa escolha se daria por um concurso de histórias em quadrinhos tematizados na Copa do Mundo que deveriam ser confeccionados por todos os alunos dos 9o anos (incluindo meninas e meninos).

Discussão

Sobre os projetos

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146 entidade, resultados satisfatórios no continente africano, mas careceu de mais adaptações à realidade local. Ele foi polêmico em seu desenvolvimento por apresentar temas relacionados à saúde de forma moralista, conservadora e pouco crítica.

Primeiramente, trazia como uma de suas ferramentas o “Manual do Treinador”10, nomeado assim, para fazer

alusão ao futebol. Esse material coloca as/os educadoras/es em uma posição de meros reprodutores e aplicadores do programa, sem entendê-los como mediador do processo ensino-aprendizagem. Ainda, compreende as/os alunas/os como elementos passivos dos “condicionamentos” e “treinamentos” que o projeto proporcionava (com quantidade de tempo — em minutos — prevista para cada atividade), indo na contramão de uma visão da educação de “saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”11 (p. 47).

Algumas informações trazidas no Manual eram de cunho conservador e moralista. De acordo com Guimarães12, “o programa apresenta conteúdos de saúde e abordagens educacionais que, segundo diversos especialistas, vão na contramão das políticas e das demandas da sociedade civil organizada no Brasil”. De acordo com a notícia “a mensagem mais polêmica — embora não seja a única — é a que, juntamente ao uso de camisinha, indica a abstinência sexual e a fidelidade como formas de prevenção ao HIV/Aids”.

Apesar de o Ministério da Saúde esclarecer que tais conteúdos tiveram sua retirada solicitada para a FIFA, no material, constam as informações polêmicas: “você pode proteger-se do HIV abstendo-se de sexo tanto quanto possível; Ser fiel a um(a) parceiro(a) não infectado(a); ou usar um preservativo corretamente todas as vezes que tiver relações sexuais”10(p. 24).

Rechia, Silva e Moro13 questionam o atendimento pelo projeto a respeito das reais necessidades da comunidade local:

destaca-se que o futebol pode sim, como prática esportiva, ser um agente potencializador de determinados valores considerados importantes. Porém, é necessário deixar claro que não apenas com o futebol haverá melhor qualidade de vida da comunidade onde o jovem está inserido, e que apenas sua prática, desvinculada de ações reflexivas e da compreensão dos diferentes contextos sociais,

dificilmente gerará mudanças13 (p. 954).

Lançando esses projetos, a FIFA revela sua tentativa de alcançar a dita “responsabilidade social” nos países sede. Por se tratar de países subdesenvolvidos, parece que a intenção da divulgação dos programas é ainda maior, já que a mídia se responsabiliza pelo forte apelo aos espectadores do futebol. Porém, ao vermos os problemas em um projeto como este, constata-se que, como afirma Marinho14 “o esporte ainda está longe de atender às demandas do coletivo” (p.24,25).

“O Brasil abraça a Copa” foi um projeto que supunha o “abraço”, ou seja, a boa recepção da escola (e do município) não somente às seleções que ali estariam hospedadas, mas também ao evento da Copa do Mundo (como o próprio nome do projeto explicita), recepção tão questionada naquele momento pelo Brasil.

O objetivo do projeto, ornamentação da escola com as cores das bandeiras dos países, sugere uma superficialidade no trato com a Copa do Mundo naquele momento de ocorrência do evento na nossa sociedade, em detrimento de uma abordagem crítica e profunda (mais coerente com o objetivo de uma escola) sobre o assunto. Mas isso pode significar uma certa “tradição” com a forma como lidamos com a Copa do Mundo. “Temos um ‘encontro marcado’ e, a cada quatro anos, não é incomum vermos nossas escolas decoradas com bandeirolas e enfeites nas cores verde e amarelo durante a realização da Copa do Mundo”15

(p. 90).

Os projetos “Etnias” e “Minha Nigéria brasileira” compreendiam abordagens mais elaboradas e profundas, tematizadas nas seleções nacionais que se hospedaram nessa subsede. O trabalho não teria ligação direta com futebol ou com o evento da FIFA, porém, possibilitariam às/aos alunas/os refletirem de uma forma diferente da tradicional acerca das relações entre o Brasil e esses outros dois países.

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Seriam projetos que possibilitariam trabalhos que a escola carece — como aqueles que contemplam a lei 10.639(3)16, além de vivências artísticas como produção em papel machê e teatro. Porém, aparentemente eram projetos custosos para a prefeitura, já que foram divulgados com realização em um hotel fazenda da região.

O “Gandula” se mostrou um projeto bastante incoerente em relação aos seus objetivos concretos. Primeiramente, apresentava grande discriminação de gênero, já que seriam escolhidos apenas meninos para serem gandulas nos treinos oficiais das seleções aqui hospedadas. E o critério de avaliação seria a partir da confecção de história em quadrinhos realizadas por todas/os alunas/os do 9º ano — inclusive as meninas, que não poderiam ser “presenteadas”.

Além disso, o projeto coloca em evidência a polêmica do trabalho de gandula, que seria realizado pelos alunos como “presente” e, portanto, sem remuneração ou regulamentação devida. Isso causa a ausência de debates possíveis para alunas/os dessa faixa etária, que ficou, nesse caso, invisibilizada em meio à confecção de história em quadrinhos por todos e o “presente”/trabalho para os meninos.

A instituição esportiva e suas legitimações

O mundo institucional permite que a atividade humana seja objetivada, que a subjetivação humana seja expressa sem deixar explícitos os requisitos da realidade em que o ser humano é produtor de um mundo social. Como afirmam Berger e Luckmann5, ao mesmo tempo em que o mundo social é produto humano, os indivíduos produtores são, também, um produto social do mundo produzido pelos próprios humanos.

De acordo com Bracht2:

a instituição ‘chama’ o homem para uma forma específica e não para quaisquer formas de ação. Isso não é diferente com a instituição esportiva: ela fornece uma forma de satisfazer necessidades ligadas

ao movimento — sem considerar agora quais motivações estejam por trás dessa necessidade2 (p. 102).

As instituições, fruto do mundo social e dos indivíduos, implicam historicidade e controle. Para estudá-las se faz necessária sua compreensão histórica, já que foi produzida durante momentos históricos específicos, o que determina sua ocorrência e consolidação. Berger e Luckmann5 salientam o controle da conduta humana, com estabelecimento de padrões previamente definidos, presente nas instituições.

A disseminação, e, portanto, a aprendizagem ao longo do tempo, de uma instituição na sociedade, implica certo endurecimento da sua objetividade. Dessa forma, “todas as instituições aparecem da mesma maneira como dadas, inalteráveis e evidentes”5 (p. 86). “Cabe lembrar que ‘as instituições nos ultrapassam’ como indivíduos isolados. Elas

são produto de uma espécie de ‘contrato social’ que nos antecede”7 (p.13).

As instituições, portanto, se tornam naturalizadas, quase inquestionáveis, quase sem (re)(des)construção. Isso se deve ao processo de reificação4 da realidade social. Esse processo é o grau extremo na objetivação, presente na institucionalização. “A reificação implica que o homem é capaz de esquecer sua própria autoria do mundo humano, e mais, que a dialética entre o homem, o produtor, e seus produtos é perdida de vista pela consciência”5

(p. 123).

3

A Lei 10.639 acrescenta à atual LDB (Lei de Diretrizes e Bases - 9394/1996) que “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”.

4

Conceito marxista desenvolvido posteriormente por Lukács a partir da teoria da racionalização de Weber e do fetichismo da mercadoria, de Marx. “É o ato (ou resultado do ato) de transformação das propriedades, relações e ações de coisas produzidas pelo homem, que se tornaram independentes (e que são imaginadas como originalmente independentes) do homem e governam sua vida. Significa, igualmente, a transformação dos seres humanos em seres semelhantes a coisas, que não se comportam de forma humana, mas de acordo com as leis do mundo das coisas. A reificação é um caso ‘especial’ de alienação, sua forma mais radical e

generalizada, característica da moderna sociedade capitalista”17

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148 A questão da reificação nos remete ao problema da adaptação do comportamento das pessoas às normas emanadas da instituição esportiva como algo ‘natural’, não passível de questionamento; à questão do poder coercitivo da instituição esportiva para determinar a forma de satisfação de

determinadas necessidades2 (p. 103).

É a institucionalização, e seu grau extremo de reificação, portanto, que tem a possibilidade de tornar o esporte como algo imutável, inquestionável, distante da relação humana, um não produto histórico-social.

Uma importante necessidade das instituições é a autopreservação. A sua perduração, ao longo de gerações, é importante para a continuidade da realidade social. Mas, para isso, é necessário o ensinamento de seu funcionamento, além da atribuição de funções e a certeza de que “ações do tipo X serão executadas por atores do tipo X”5 (p. 75).

Pérez Gómez5 diz que os grupos humanos efetivam mecanismos de transmissão para garantir a sobrevivência de suas conquistas históricas para as novas gerações. Mas essa transmissão deve acontecer de forma a contemplar a preservação daquelas conquistas históricas específicas e isso ocorre por meio das legitimações. A exigência do mundo institucional constitui a legitimação, que explica e justifica sua existência5.

O conhecimento do significado das instituições é fundamental para a sua compreensão. Porém, no momento em que há necessidade das instituições serem passadas para as gerações futuras, esse conhecimento se perde (já que as instituições são históricas e os indivíduos se encontram distantes historicamente de sua origem), sendo necessárias ferramentas que propaguem o histórico da instituição. Assim, é importante “interpretar para eles [gerações futuras] este significado em várias fórmulas legitimadoras”5 (p. 88).

A legitimação produz novos significados, que integram os significados anteriores, causados pela institucionalização. Sua função “consiste em tornar objetivamente acessível e subjetivamente plausível as objetivações de 'primeira ordem’, que foram institucionalizadas”5

(p. 126). A incorporação da instituição, seu funcionamento e a configuração dos indivíduos em tipos específicos de pessoas é um processo educacional.

Para Pérez Gómez3, é denominado de socialização, e é a função da educação na sociedade. Berger e Luckmann5 afirmam que a socialização é a “ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela” (p. 174), com a função da interiorização da realidade. Pérez Gómez3 entende que esse

processo, a socialização, ajusta os sujeitos à vida social, e é conservador e reprodutor, pois contribui para a interiorização das ideias, normas e valores.

Visto isso, nada melhor para o bom funcionamento de uma instituição e sua perduração na sociedade do que atuar e colocar em prática suas fórmulas legitimadoras no terreno escolar, lugar de certeza de passagem das gerações futuras. Ali é possível tornar a instituição esportiva apreendida e enaltecida pelas crianças e adolescentes fazendo-os disseminar o esporte pela sociedade de forma apaixonada. A interiorização, na escola, do modo de pensar e agir, acontece de forma a transformar o controle externo, essencial nas instituições, em autocontrole3. As legitimações, nesse espaço

terão de ser consistentes e amplas no que se refere à ordem institucional, a fim de levarem a convicção à nova geração. A mesma história [...] tem de ser contada a todas as crianças. Segue-se que a ordem institucional em expansão cria um correspondente manto de legitimações, que estende sobre si uma cobertura protetora de interpretações cognoscitivas e normativas. Estas legitimações são

aprendidas pelas novas gerações durante o mesmo processo que as socializa na ordem institucional5

(p. 88, 89).

Elas atuam diretamente na vida das pessoas e se fazem muito presente na escola e nas políticas educacionais de diversas maneiras. Em momentos de megaeventos, isso se torna nítido principalmente com ações diretas nas escolas públicas do país que os sediam — como leis e projetos. Escola e esporte relacionando-se em momentos de megaeventos esportivos.

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As ferramentas legitimadoras foram necessárias para a consolidação do esporte na sociedade. Elas ainda se encontram enraizadas tanto nos discursos da população consumidora e espectadora quanto em políticas relacionadas à educação e ao esporte. Embora não sejam primordiais para o desenvolvimento e perpetuação das práticas esportivas institucionalizadas, em virtude do fator econômico que, atualmente, é determinante nas relações esportivas, elas ainda são vistas legitimando a instituição esportiva (e suas derivadas ações) por meio de diversas e distintas ações.

é incontestável que ele possui legitimidade social, além de apoio e apelo político e econômico [...] O esporte conta com um discurso legitimador que circula na sociedade em geral e na escola em particular. Um discurso que argumenta: esporte é saúde, esporte é confraternização, esporte é

educação19 (p. 96).

Há uma intensificação do processo de legitimação quando se trata especificamente do esporte futebol, como no caso da Copa do Mundo. Trata-se do esporte mais importante, a paixão nacional dos brasileiros18.

No caso da instituição esportiva, não somente o processo de institucionalização se torna reificado, mas também sua legitimação (indispensável às instituições). Os mecanismos de perpetuação da instituição esportiva se consolidam e passam a fazer parte da tessitura da vida social, com pouca interferência transformadora humana devido ao caráter reificado do fenômeno.

Berger e Luckmann5 nos atentam para o fato de as legitimações atingirem certa autonomia em relação às instituições. O processo legitimador da instituição esportiva ultrapassa seus limites funcionais, de perpetuar a instituição, e se sustenta em ações já conhecidas, reproduzidas, que repetem, constantemente, as máximas da legitimação do esporte, mesmo já consolidado. Essas ações repetidas, já conhecidas, reificadas, são aceitas socialmente, quase sem reflexão ou questionamento. E assim são reproduzidas constantemente, como natural, imutável.

A atuação das ferramentas de legitimação da instituição esporte pode ser vista ao longo da sua história. O futebol, no Brasil e no mundo, desde sua origem na Inglaterra, sempre esteve arraigado a funções sociais. Expressões como: disciplina, moral, higiene, saúde, obediência, docilização do corpo, combate às drogas e ao racismo6, estão, direta ou indiretamente, ligadas ao esporte até hoje. Esses discursos constituem as legitimações do esporte na sociedade. Segundo Bracht2, historicamente esses discursos legitimadores do esporte se concentram em eixos: “a educação, a saúde e a confraternização (entre os povos, entre os grupos sociais, entre as raças) e a paz mundial” (p.109).

De acordo com Kunz20, o esporte é uma agência ideológica que, além de ideologia, gera dominação e cria nos indivíduos interesses e necessidades. Ele funciona como instrumento legitimado pelas ações de um sistema maior, a sociedade — e o Estado —, com seus valores e normas. Desde a época que o futebol era novidade no Brasil, e até hoje, o esporte é visto como um “fator positivo de sociabilidade, de saúde e de proteção a desvios de conduta, como a drogadição”21 (p.334), o que é contestável7. Segundo Bracht2, o esporte é um forte aliado dos governos federais já que

oferece prestígio e reconhecimento internacional com repercussões internas legitimadoras e retorno econômico, de forte poder.

A realização da Copa do Mundo no Brasil traz elementos da legitimação do esporte — principalmente do futebol — na escola, no contexto de uma sociedade que assiste e recebe esse megaevento. O sucesso e a popularização do futebol já é presente em idade escolar, o que faz com que carreguem e construam nesse ambiente as (re)significações do esporte.

É com a preocupação de buscar compreender as relações entre a instituição esporte e suas legitimações, e a

6A Copa do Mundo 2014 publicitou o tema social “Por um mundo sem armas, sem drogas, sem violência e sem racismo”.

7

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150 instituição escola, no momento de megaeventos ocorridos em território nacional, mais especificamente, da Copa do Mundo de 2014, que foi construída essa análise, também transfigurada8:

Figura 1. Proposta de esquema legitimação do, por meio do e para o esporte.

É possível considerar que as legitimações do, por meio do e para o esporte estão constantemente imbricadas de forma que fazem parte da instituição esportiva e sua consolidação na sociedade. É como um ciclo que se retroalimenta, como apresentado na figura esquemática acima.

Os discursos que legitimam o esporte (legitimação do esporte) fortalecem essa instituição para que, por meio dela, determinadas ações sejam permitidas, legitimadas. Então, é possível enxergar a legitimação por meio do esporte, responsável pela ocorrência, por exemplo, dos megaeventos esportivos com suas consequências sociais e econômicas.

É possível, também, observar alguns fatos ou ações (ferramentas legitimadoras) que colaboram e afirmam a importância da perpetuação da instituição esportiva, promovendo-a. Esta é denominada aqui: legitimação para o esporte. É também uma ferramenta legitimadora, mas que não utiliza de funções externas para consolidar o fenômeno, mas reafirma e promove o próprio esporte. Nesse caso, um exemplo são os projetos tematizados na Copa do Mundo que a prática, vivência e o consumo do próprio futebol é o principal.

Durante o período de realização da Copa do Mundo no Brasil, foram várias as ações que relacionavam as instituições esporte e escola. Algumas delas eram garantidas por leis, como é o caso das alterações nos calendários escolares previstas pela Lei Geral da Copa22. Outras adentraram os terrenos escolares por meio de projetos tematizados no evento, ações promovidas tanto pela entidade promotora da Copa do Mundo, FIFA, quanto por administrações de outros níveis, como as prefeituras.

A Copa do Mundo no Brasil causou impactos sociais consideráveis, não apenas no âmbito da educação, mas na economia, transporte, urbanização etc. As transformações sociais (remoções forçadas de moradores, ações na mobilidade urbana e nos locais de competição) e as alterações dos calendários das escolas brasileiras decorreram da Copa do Mundo no Brasil e foram legitimadas por meio do esporte.

O esporte consegue ter o poder de legitimar tais ações por conta de sua própria legitimação. E esse ciclo não tem seus limites na legitimação do fenômeno esportivo (legitimação do esporte) e nas permissões sociais causadas (legitimação por meio do esporte), ele é retroalimentado, legitimando também visando a sua própria prática.

Mas investir e divulgar projetos sociais ligados ao megaevento esportivo e desenvolver programas com objetivos de promoção da própria instituição esportiva, consolida, mais uma vez, o esporte como prática legitimada, e ainda com possibilidade de propagandeá-lo e à entidade promotora do evento. Por essa razão, “em tempos de

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Utilizamos esta palavra com a intenção de explicitar a transformação da proposta em figura. Algo como transcrever em imagem, a ideia, e não com seu sentido oficial, de ter sofrido alterações.

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R. bras. Ci. e Mov 2019;27(2):38-49.143-154

megaeventos esportivos, a circulação de projetos para a Educação Física aumenta sua velocidade e amplitude no âmbito das mídias”23 (p. 19).

Na escola fica a preocupação sobre “gerar uma população passiva que apenas consuma os espetáculos esportivos e os produtos a eles associados de forma acrítica, sem possibilidade de maiores conhecimentos e, sobretudo, de prática”24 (p.135). O esporte, assumindo o posto de negócio, carrega para a instituição escolar, legitimada e legitimando, a cultura do consumo, tão realizada nos megaeventos esportivos. Os compromissos comerciais em torno da competição6 caminham lado a lado à suas consequentes ações (legitimações), e o que adentra as escolas carregam o mesmo ideário.

Conclusões

A escola, recebendo a Copa do Mundo com tantos projetos, demonstra a íntima relação entre as instituições educacional e esportiva, relação esta que data do surgimento do esporte moderno. O esporte teve seus primeiros passos, efetivando sua existência como instituição, no cenário escolar das Public Schools na Inglaterra do século XVIII e, mais especificamente, XIX25. Até hoje mostra, como pôde ser visto neste artigo, seus laços inseparáveis.

Esse processo, que ocorre na escola, a socialização (e interiorização e aprendizagem das instituições), afirma os laços entre as instituições educacional e esportiva. Em momentos de Copa do Mundo, isso é evidenciado pelos projetos. A conservação rotineira mantém a realidade interiorizada na vida cotidiana, tornando os elementos da instituição corporificados em rotinas.

A efetivação do esporte na escola também é vista quando as ferramentas legitimadoras da instituição esportiva escolhem esse local como palco. A escola legitima o esporte em seu interior.

A utilização pelo Estado do jargão ‘o esporte educa’ (ou ‘esporte é saúde’) tinha (e ainda tem) o objetivo de insinuar e disseminar a visão de que o esporte tem tudo a ver com a educação e que, por

‘natureza’, haveria uma afinidade entre ambos26

(p. 133).

O esporte é bem visto dentro do universo escolar, principalmente por estar acoplado a tantas ferramentas legitimadoras desde seu início. Essa possível afinidade entre a escola e o esporte gera situações favoráveis à política/sistema esportivo atual, principalmente visando sua perpetuação na sociedade.

Os programas (legitimação para o esporte) carregam a intenção de mostrar a importância da ocorrência da Copa do Mundo, e ainda, acoplar, mais uma vez, funções sociais ao esporte. Trazem, em sua organização, elementos que comprovam os valores legitimados do esporte, demonstrando, explicitamente, por meio desses discursos, a importância do megaevento no país como promotor desses valores e funções sociais. A ausência da possibilidade de participação ativa dos cidadãos envolvidos (as/os professoras/es, alunas/os etc.), no desenvolvimento dos projetos, corrobora a perpetuação do ciclo de legitimações do esporte, impossibilitando, portanto, seu debate crítico mais próximo das reais necessidades da população.

Esses projetos, brevemente descritos neste artigo, tinham a intenção de serem desenvolvidos em nível municipal. Trata-se de ações políticas locais com destino na escola pública. A escola, portanto, foi tida como um lugar propício para o desenvolvimento dessas ações legitimadoras, principalmente com base na compreensão de que essas ferramentas constituem processos educativos que visam à perpetuação da instituição nas novas gerações.

A pesquisa de campo discutida neste artigo limitou a vivência cotidiana dos projetos em apenas uma escola, não permitindo uma análise total dos projetos destinados à escola pública na ocorrência da Copa do Mundo no Brasil. No local de realização da pesquisa, os projetos não contaram com a participação ativa dos cidadãos envolvidos, e não foram avaliados. Percebe-se que, na execução desses projetos, além de se propagandear a entidade responsável e seu megaevento (mais do que o próprio conteúdo), mostra-se como o esporte “pode tudo”9.

(10)

152 Devem-se considerar, também, as políticas de isenções fiscais concedidas governamentalmente devido à execução de projetos sociais destinados à população10. E então cabe a problematização sobre a real participação da população brasileira (principalmente a parcela atendida por estes programas) no megaevento, que tinham acesso restrito socialmente e economicamente (devido aos valores nos ingressos, ao acesso à informação etc.). A ocorrência dos projetos destinados a essa população sugere sua participação no evento mundial. Porém, ocorre a formação (e consagração) de consumidores do esporte (e do megaevento). É a legitimação para o esporte, a qual, como fim, aponta para o consumo do esporte, alimentando a estrutura econômica que está detrás de um megaevento esportivo.

De acordo com o site da FIFA, sua intenção em relação à organização desses programas é “construir um futuro melhor”(11)27(tradução das autoras). Este é um exemplo do alcance do esporte, disseminando suas ideais por onde

passa. Por meio desse programa (“Fifa 11 pela saúde”) presenciamos o mesmo projeto sendo efetivado nas escolas na África do Sul e após quatro anos no Brasil. A instituição moderna com status global mostra sua relação (in)tensa com a escola, palco de seus projetos para “construir um futuro melhor”.

Esses projetos são construídos de forma unilateral, são trazidos ao país já estruturados e definidos, o que mostra despreocupação e certa generalização desconhecida da realidade local.

Destaca-se também a importância do melhor entendimento da formulação de políticas públicas e projetos a serem aplicados no país, tendo em vista as reais necessidades da população brasileira, ressaltando que para que isso ocorra, a construção de tais projetos não podem ser realizadas de forma

autocráticas13 (p. 956).

Sobre os projetos em nível municipal, ressalta-se a informação de que nenhum ocorreu como previsto. Dos quatro projetos descritos, nenhum deles foi desenvolvido integralmente. Isso pode ser significativo para a compreensão da dinâmica de funcionamento da escola pública.

Possivelmente, alguns desses projetos seriam bem recebidos pela escola (professoras/es, alunas/os, gestão) e outros poderiam acontecer mesmo sem desejo das/os educadores. Porém, a questão é que eles não tiveram sua implementação da forma planejada. Além disso, uma grande polêmica surgida em torno dos projetos refere-se à falta de debate com as/os professoras/es acerca de suas realizações. Não houve possibilidade de discussão anterior aos planejamentos, que aconteceu sem o conhecimento dos que estão no chão da escola.

A falta de diálogo, de debate entre as/os educadoras/es, a ausência de espaços de construção coletiva e o não reconhecimento da/o professor/a como pensador fundamental, no processo de criação/desenvolvimento de projetos, faz com que haja descompasso entre o que as Secretarias desejam realizar e o que a escola “pensa” como instituição educacional. É possível de se observar que esses projetos (e tantas outras ações) são implementados à revelia das/os trabalhadoras/es daquele espaço, ausentando, do corpo do projeto, o debate que a instituição onde serão desenvolvidos já acumula. Assim é possível compreender a falta de oportunidade da escola em efetivar projetos interessantes, que coadunariam com o projeto político pedagógico da escola e com suas reais necessidades, diagnosticadas pelas/os que compõem, cotidianamente, esse espaço.

De acordo com Berger e Luckmann5, a conservação da realidade pode se dar de forma crítica, o que possibilitaria a transformação da realidade subjetiva. Por mais enlaçadas que as instituições esportiva e educacional estejam, o estão fragilmente — pois inconstante, incerto, nem sempre interessante, como pôde ser visto nos projetos

9Referência ao livro do Vitor Marinho “O esporte pode tudo”, embasado por uma crítica pertinente e atual sobre o quanto o esporte

participa da produção de consenso (das ideias dominantes) da sociedade capitalista, e lhe é atribuído um poder de atender às

demandas sociais12.

10

A Lei nº 12.350, de 20 de dezembro de 2010 dispõe sobre as isenções fiscais concedidas à FIFA para a realização da Copa das Confederações e Copa do Mundo. Em seu parágrafo 5º, diz que é possível fazer importação de bens com isenção fiscal se estes forem doados para programas sociais relacionados ao esporte.

(11)

R. bras. Ci. e Mov 2019;27(2):38-49.143-154

analisados, nas alterações de calendário. Trata-se de um aparelho poderoso, dotado de recursos e símbolos. Mas, há tentativa de desmistificação desse universo, de forma a torná-lo crítico e transformador.

Se a instituição esporte estivesse presente na escola de forma a alcançar “um subuniverso de significação relativamente autônomo [haveria] a capacidade de exercer uma ação de retorno sobre a coletividade que a produziu”5

(p.117), ou seja, ressignificar as ações institucionais, torná-las menos endurecidas, mais próprias daquele universo, com mais autonomia dos sujeitos que a reconstroem cotidianamente.

Referências

1. Elias N. A génese do desporto: um problema sociológico. A busca da excitação. Lisboa: Difel. 1992:187-221. 2. Bracht V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. Centro de Educação Fisica e Desportos da Ufes; 1997. 3. Pérez Gómez AI. As funções sociais da escola: da reprodução à reconstrução crítica do conhecimento e da experiência. Gimeno Sacristán, J, Pérez Gómez AI. Compreender e Transformar o Ensino. 1998; 4: 13-26. 4. Linhales MA. A escola e o esporte: uma história de práticas culturais. São Paulo: Cortez, 2009.

5. Berger PL, Luckmann T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes; 1974.

6. Soares AJ, Vaz AF. Esporte, globalização e negócios: o Brasil dos dias de hoje. História do esporte no Brasil: do Império aos dias atuais. 2009: 481-504.

7. González FJ, Fensterseifer PE. Entre o “não mais” e o “ainda não”: pensando saídas do não lugar da EF escolar II. Cadernos de formação RBCE. 2010; 20: 1(2).

8. Martins J. A pesquisa qualitativa. Metodologia da pesquisa educacional. 1989; 8: 47-58. 9. Marconi MD, Lakatos EM. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas; 2002.

10. FIFA. Manual do Treinador. Brasil; 2014.

11. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente. São Paulo: Paz e Terra. 1996: 90. 12. Guimarães C. O legado da FIFA na saúde e educação. Portal Fio Cruz; 2014.

13. Rechia S, Schaeffer PA, Silva EAPC, Moro L. Projeto FIFA “Os 11 pela saúde”: uma análise qualitativa. Pensar a Prática. 2015; 18: 949-958.

14. Marinho V. O esporte pode tudo. Cortez Editora; 2010.

15. Vaz AF, Bassani JJ. Esporte, sociedade, educação: megaeventos esportivos e educação física escolar. Impulso. 2013; 23(56): 87-98.

16. Brasil. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília: 1996. 17. Bottomore T. Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1988.

18. Daolio J. Cultura: educação física futebol. Campinas, SP: Editora da UNICAMP; 1997.

19. Assis de Oliveira S. O “novo” interesse esportivo pela escola e as políticas públicas nacionais. [Tese de Doutorado]. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2009.

20. Kunz E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ed. Unijuí; 1994.

21. Santin S. Megaeventos esportivos no Brasil: benefícios-contradições. Motrivivência. 2009; 1(32-33): 332-4. 22. Brasil. Lei nº 12.663, de 05 de junho de 2012. Lei Geral da Copa. Brasília, DF; 2012.

23. Betti M. Copa Do Mundo E Jogos Olímpicos: inversionalidade e transversalidades na cultura esportiva e na Educação Física escolar. Motrivivência. 2009; 1(32-33): 16-27.

24. Daolio J. Educação Física escolar e megaeventos esportivos: desafios e possibilidades. Fórum Permanente “Megaeventos Esportivos e Educação Física Escolar: desafios e possibilidades para a escola”. Campinas: UNICAMP; 2013.

25. Melo VA. Corpos, bicicletas e automóveis: outros esportes na transição dos séculos XIX e XX. História do esporte no Brasil: do império aos dias atuais. São Paulo: UNESP; 2009.

26. Bracht V, Almeida FQ. Esporte, escola e a tensão que os megaeventos esportivos trazem para a Educação Física Escolar. Em Aberto. 2013; 26(89): 121-143.

(12)

154 27. FIFA.COM. Programa "11 pela Saúde" da FIFA é lançado no Brasil. 2013. Disponível em:

http://pt.fifa.com/worldcup/news/newsid=2150414/. [2013 ago. 09].

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