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SEGMENTAÇÃO OCUPACIONAL DOS TRABALHADORES BRASILEIROS SEGUNDO RAÇA

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SEGMENTAÇÃO OCUPACIONAL DOS TRABALHADORES

BRASILEIROS SEGUNDO RAÇA

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Anita Kon**

Palavras-chave: trabalho; raça; gênero; carteira de trabalho

Resumo

O objetivo global deste estudo foi contribuir com subsídios para a análise do perfil ocupacional do trabalhador brasileiro no que se refere à segmentação segundo raça e gênero. São analisadas inicialmente, considerações teóricas acerca de conceitos de segmentação, gênero e segregação ocupacional. As análises empíricas, apresentadas em seqüência, foram implementadas a partir de informações do IBGE, da PNAD-Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios, de 1999, agregando-se os microdados em categorias ocupacionais específicas segundo uma tipologia delineada para os objetivos específicos de análise ocupacional e de acordo com uma base teórica definida. As categorias ocupacionais distinguem a segmentação dentro e fora de empresas e em diversos níveis que retratam atributos específicos de qualificação dos trabalhadores. A análise investiga primeiramente a distribuição global dos ocupados segundo raça e categorias ocupacionais, para em seqüência verificar esta distribuição considerando-se os anos médios de estudo e a remuneração média do trabalhador. Para cada uma destas últimas variáveis, foram elaborados Coeficientes de Diferenciação, que permitem observar as diversidades entre as raças, segundo gênero e condição de carteira assinada. Os resultados permitem observar a predominância de ocupados auto-classificados como pertencentes às raças Branca e Parda. A investigação encontrou forte relação entre a condição de ocupados com registro em carteira e maior remuneração, para todas as raças. No entanto, em relação à escolaridade, verificou-se que a maior parte das mulheres detêm maior nível, porém menor remuneração em cada categoria ocupacional específica.

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Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxaambí – MG – Brasil, de 20-24 de Setembro de 2004.

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SEGMENTAÇÃO OCUPACIONAL DOS TRABALHADORES

BRASILEIROS SEGUNDO RAÇA

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Anita Kon**

1. Considerações iniciais

As consideráveis transformações sócio-econômicas que vêm sendo observadas no Brasil nos anos noventa, paralelamente às condições estruturais e conjunturais complexas, apontam para reflexos significativos sobre a divisão do trabalho entre grupos ocupacionais. Observa-se na atualidade a redução de postos de trabalho, a urgência da criação de novos empregos e freqüentemente a necessidade de readaptação da mão-de-obra a ocupações e funções criadas, paralelamente à constante requalificação de suas habilidades enquanto trabalhadores.

As condições de oferta e demanda por trabalho da economia, resultantes destas transformações estruturais e conjunturais constantes, impactam a segmentação ocupacional dos trabalhadores de acordo com o perfil da força de trabalho de cada região. A composição da população ocupada em categorias de ocupações específicas relacionadas a níveis significativamente diversos de qualificação, em atividades que exigem (ou não) requisitos de habilidade ou outros sociais específicos, reflete tanto as condições da empresa em oferecer postos de trabalho correspondentes à natureza da oferta do trabalho desta população, quanto ao perfil dos trabalhadores, que afeta a capacidade de atenderem aos requisitos exigidos pelas empresas.

No entanto, as pesquisas mostram que a segmentação ocupacional do mercado de trabalho brasileiro é um processo cujos determinantes vão muito além dos limites ditados pela oferta de trabalhadores dispostos a se empregarem e pelo perfil de qualificação. As condição de raça e gênero exercem um papel significativo na distribuição de trabalho, desde que estas características conferem, de uma maneira global, situações (des)vantajosas, em relação a qualificação, remuneração e outras condições sociais vigentes. Estas desvantagens são históricas e se intensificam em momentos de crise econômica e de maior competição por postos de trabalho. As políticas públicas a serem adotadas como forma de diminuir as desvantagens de grupos específicos de trabalhadores, portanto, devem se basear no conhecimento da situação vigente em cada espaço e em cada momento, nos países de níveis variados de desenvolvimento.

O objetivo global deste estudo foi contribuir com subsídios para a análise do perfil ocupacional do trabalhador brasileiro no que se refere à segmentação segundo raça e gênero. São analisadas inicialmente, considerações teóricas acerca de conceitos de segmentação e segregação ocupacional. Embora não seja possível determinar-se através desta metodologia as causas das diferenças nesta segmentação, a determinação desta situação permite a análise do direcionamento necessário de determinadas políticas de apoio, de acordo com as carências dos diversos grupos.

Existem indicações na literatura sócio-econômica, de que o nível de remuneração do trabalho é relacionado a níveis específicos de segmentação do mercado de trabalho e condicionado à situação de escolaridade ou qualificação específica do trabalhador. Como nestes mercados certos setores da economia ou certas ocupações são acessíveis apenas a determinados grupos sociais, a melhor alocação do trabalho entre setores se torna consideravelmente difícil.

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Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu – MG – Brasil, de 20-24 de Setembro de 2004.

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2. A segmentação do mercado de trabalho: o debate teórico

2.1 A segmentação no mercado interno das empresas

As desigualdades persistentes observadas nos mercados de trabalho levaram, desde a década de 1970 ao desenvolvimento da Teoria da Segmentação do mercado de trabalho, em substituição às idéias neo-clássicas de equilíbrio. Os diferentes enfoques desta nova teoria procuravam explicar as desigualdades existentes nos tipos de emprego dentro de empresas, a partir de diferentes critérios de recrutamento, seleção, treinamento e promoção da mão de obra, por um lado, e por formas diversas de condições de trabalho e promoção, associadas a níveis salariais específicos (Gordon, Reich & Edwards, 1973; Doeringer e Piore, 1971; Vietorisz & Harrison, 1973; Cacciamali, 1978).

O dualismo no mercado interno de trabalho, do ponto de vista da demanda é influenciado pelo tipo de empresa e pela característica do emprego. As premissas básicas desta abordagem são de que os diferentes segmentos de mercado de trabalho interno às empresas são definidos como Primário e Secundário. O mercado Primário é composto por empregos em período integral, com estabilidade, e com salários e produtividades relativamente elevados. As promoções e os salários são estabelecidos através de regras dentro das empresas, e são freqüentemente adotados em grandes empresas, oligopolistas ou que tenham alta relação capital/trabalho. São divididos em dois tipos: Primário dependente e independente.

O Primário dependente ou rotineiro, é formado por ocupações da linha de produção direta de bens e serviços das empresas privadas e rotineiras de escritório e burocráticas da Administração Pública. A mão-de-obra é qualificada no emprego e apresenta como atributos, hábitos de trabalho estáveis, responsabilidade, respeito à hierarquia e metas de produção definidas. O segmento Primário independente ou criativo, encontrado em grandes empresas corresponde ao grupo mais privilegiado no mercado interno de trabalho, assumindo ocupações de gerência, supervisão administrativa e financeira. As atribuições da mão-de-obra se voltam para a iniciativa, criatividade, tendo como princípio de que as regras são um dado e que precisam ser inovadas, requerendo raciocínio dedutivo e abstrato, liderança, capacidade e rapidez de tomar decisões.

O segmento Secundário é composto por trabalhadores com qualificação e treinamento mínimos, que não são incorporados em cadeias promocionais. Os salários são relativamente baixos, assim como a produtividade e os hábitos de trabalho não são estáveis, apresentando alta rotatividade, e poucos contratos formais. Os salários são determinados por oferta e demanda e não pela qualificação da mão-de-obra. As características históricas do trabalhador são um impecilho para a mudança em suas condições de trabalho ou de salário, a partir da repetição de hábitos adquiridos e do preconceito social contra esta classe de trabalhadores.

Do ponto de vista da oferta de trabalho, algumas características especiais da mão-de-obra serão básicas para o preenchimento de postos de trabalho no segmento primário ou secundário, como por exemplo o status sócio-econômico, gênero, raça, escolaridade, idade, experiência no serviço, entre outras.

2.2 Segmentação e segregação

As teorias mais recentes sobre o mercado de trabalho observam que no núcleo da segmentação estão grupos e instituições sociais. Os processos que regem a alocação e a formação

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de preços dentro dos mercados internos de trabalho são sociais, e se opõem seja a processos competitivos ou a cálculos instrumentais. Estas forças sociais que moldam a estrutura ocupacional distinguem os trabalhadores profissionais liberais e gerentes de outros membros da força de trabalho. As instituições são moldadas por práticas sociais e valores culturais, que conduzem a uma rede de acessos a oportunidades de postos de trabalho e podem facilitar ou bloquear o livre fluxo do mercado e o equilíbrio entre oferta e demanda de trabalho. Estas situações determinam as condições de trabalho, atribuições de salário e outras formas de hierarquias (Piore, 1983; Gerke e Evers, 1993).

O conceito de segmentação relacionado à concentração de trabalhadores em determinados setores ou ocupações, confunde-se muitas vezes com a conotação de discriminação e de segregação, pois é observado que parte dos efeitos de segmentação tem como causa a discriminação em relação às funções que devem ser desempenhadas pelos sexos, etnia e outros condicionantes, originadas por valores sociais. Do ponto de vista econômico esta discriminação é conceituada quando duas pessoas que possuem igual produtividade e gostos para o trabalho naquelas condições, mas que são membros de diferentes grupos (definidos de acordo com alguma característica, seja de gênero, raça, classe, preferência sexual, crença religiosa, etc.), recebem diferentes resultados no local de trabalho, em termos de salários pagos e/ou acesso ao posto de trabalho.

A segmentação ou a segregação observada em alguns setores, tem raízes profundas na divisão de trabalho, tanto historicamente nas sociedades mais antigas, quando nas modernas, que ocorre entre firmas e internamente às mesmas, entre setores e ocupações. Uma das primeiras teorias sobre o tema, elaborada por Becker (1957: 6) sustentava a existência de um gosto pela discriminação de empregadores e de trabalhadores, para enfatizar que em termos de análise econômica, este gosto se incluía entre outros gostos e preferências dos indivíduos, que são transferidos para o âmbito econômico, influenciando as escolhas e a conduta e a estruturação dos mercados de trabalho.

Algumas teorias foram desenvolvidas no decorrer da evolução da Economia Política para explicar porque a segmentação nas atividades de trabalho, se formou, adquiriu padrões de estruturação e persiste em sociedades mais desenvolvidas. Procuram explicar que em determinadas condições a segregação poderá levar a sociedade a uma maior eficiência alocativa, definida pela distribuição de homens e mulheres na força de trabalho de modo a maximizar a produção final de bens e serviços da sociedade e o resultado total na melhora do bem-estar da sociedade. Alguns determinantes mais relevantes podem ser resumidos, como diversidades entre gêneros e raças no que se refere a gostos por determinadas atividades de trabalho, capacidade (capital humano), informação imperfeita, necessidade conciliar trabalho doméstico e profissional, tensões culturais e sociais, entre outras.

As políticas que influenciam os salários são principalmente adotadas em funções governamentais locais ou estaduais, porém não se verificaram constatações efetivas de que tiveram o efeito de diminuir a segregação em todos os setores. Os defensores destas políticas argumentam que salários mais elevados em ocupações onde predominam mulheres, levam os homens a se dirigir a estes postos e, portanto reduzir a concentração ou segregação nestes setores. Os oponentes consideram que a segregação aumentaria com as políticas, pois salários mais elevados desencorajariam as mulheres de deixarem estes postos (Aaron e Lougy, 1986). Estas duas óticas são justificáveis, considerando o lado da oferta de trabalhadores, porém não consideram mudanças na demanda por trabalho. A elevação (diminuição) de salários em um determinado posto de trabalho torna o trabalho mais (menos) procurado tanto por homens quanto

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por mulheres, no entanto o efeito líquido sobre a segregação não é possível de previsão sem a consideração de outras forças que determinam a oferta de trabalho.

Outras políticas destinadas a influenciar o padrão de contratação e promoção dos empregadores, podem atuar através de restrições legais, que determinam uma taxa obrigatória mínima de contratação de determinado gênero (geralmente feminino) ou raça, que atuam assim como as metas voltadas contra a discriminação de raça ou outras minorias. Em alguns setores, poderia verificar-se a ocorrência de vagas em postos, quando não fosse possível competir por um número insatisfatório de pessoas qualificadas ou que se oferecem para exercê-los. Os resultados, portanto, dependem da oferta relativa de trabalhadores de cada gênero e raça para aqueles postos específicos. As políticas de treinamento e educacionais visam proporcionar à força de trabalho alvo as condições de assumir os tipos de colocações oferecidas, o que não significa necessariamente a garantia de obtenção de trabalho, tendo em vista outros requisitos demandados pelos empregadores para contratação e promoção. Um caminho adicional de política seria a concessão de subsídios ou isenções a empregadores que apresentem esforços comprovados para a integração da mulher e equalização de salários.

Algumas políticas que influenciam especificamente a decisão feminina sobre a intensidade de participação na força de trabalho e que, portanto afetam a segregação, referem-se à disponibilidade de condições de cuidados às crianças, seja através de creches no local de trabalho ou de disponibilidade destes serviços baratos e de boa qualidade fora da empresa; as licenças-maternidade e a flexibilidade na jornada de trabalho também são políticas influentes, embora as mudanças no grau de segregação têm se mostrado não significativas, com estas medidas, desde que a tendência das mulheres é de se dirigirem principalmente aos postos de trabalho predominantemente femininos, o que aumentaria a segregação.

Entre as causas determinantes das diferenças de remuneração entre os gêneros e raças, destacam-se a disponibilidade de capital humano, a existência de diferenciais de compensação para tipos de trabalhos e a discriminação. As formas de capital humano ligadas diretamente à força de trabalho que se dirige ao mercado de trabalho, referem-se especificamente à educação formal, treinamento especializado fora ou dentro das empresas (in-the job) e experiência.

Algumas teorias não consideram que o capital humano seja sempre diretamente responsável pelos diferentes retornos de um indivíduo, primeiramente porque nem sempre existe uma relação direta entre educação e remunerações, ou seja, em muitos casos a educação em si nada acrescenta à produtividade do trabalhador em determinado processo produtivo. Além disso, os teóricos institucionalistas argumentam que a relação entre escolaridade, treinamento, experiência de um lado, e as remunerações de outro passa por uma série de dispositivos legais. A discussão dentro do campo econômico tende a se limitar à discriminação na forma de remuneração, nas condições de contratação e nas práticas de promoção. Por outro lado, a comprovação destas evidências se torna difícil, recorrendo a formas de depoimentos diretos, pesquisas de auditoria e evidências indiretas através de informações estatísticas, que no entanto muitas vezes perdem o poder de explicação devido á interferência de outros fatores que influenciam as variáveis, embora se encontre na literatura alguns modelos neo-clássicos que tentam explicar através da maximização da utilidade ou dos lucros, os mecanismos de equilíbrio que consideram discriminação (Jacobsen, 1998:304).

Estas teorias basearam-se seja no preconceito, seja em divergências do modelo de competição perfeita. As fontes de preconceito nestes modelos, podem ser tanto os empregadores, quanto os trabalhadores ou os consumidores. As divergências da competição perfeita apontam para poder de mercado da parte de grupos da sociedade ou informação imperfeita sobre a

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produtividade do trabalhador, como visto. Estas teorias podem ser agrupadas como modelos de monopsônio, modelos de busca de diferencial de retornos, modelos de dois setores, e outros modelos estatísticos da discriminação. No entanto, cada modelo explica uma parte das implicações da discriminação e não existe um modelo abrangente que abarque vários fatores determinantes. Por outro lado, estes modelos tentam justificar a discriminação para a consecução do equilíbrio a longo-prazo.

3. Perfil ocupacional brasileiro segundo raça e gênero

3.1 Aspectos metodológicos

Categorias Ocupacionais

As análises empíricas, apresentadas em seqüência, foram implementadas a partir de informações da PNAD-Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios, de 1999, agregando-se os microdados em categorias ocupacionais específicas segundo uma tipologia delineada pela autora para os objetivos específicos de análise ocupacional e de acordo com uma base teórica definida (Kon, 1995). As categorias ocupacionais distinguem a segmentação dentro e fora de empresas e em diversos níveis que retratam atributos específicos de qualificação dos trabalhadores. Os símbolos das categorias ocupacionais encontrados nas Tabelas apresentam o seguinte significado: 1. 2. 3. 4. 5.

Dirigentes: CD1 =Proprietários; CD2 = Assalariados;

Produção: PQ1= Qualificados, nível técnico de escolaridade; PQ2 = Qualificados, nível superior de escolaridade; PSQ1 = Semi-qualificados, sem atribuições de chefia; PSQ2 = Semi-qualificados, com atribuições de chefia; PNQ = Não-qualificados;

Administração: AQ1 = Qualificados, nível técnico de escolaridade; AQ2 = Qualificados, nível superior de escolaridade; ASQ1 = Semi-qualificados, sem atribuições de chefia; ASQ2 = Semi-qualificados, com atribuições de chefia; ANQ = Não-qualificados;

Serviço doméstico = SD;

Conta próprias = CPPL – Profissionais Liberais; CPCD1 = Dirigentes proprietários; CPPQ1 = Qualificados, nível técnico; CPPSQ1 =Semi-qualificados de menor escolaridade; CPPSQ2 = Semi-qualificados de maior escolaridade; CPPNQ = Não-qualificados.

Coeficiente de Diferenciação

O Coeficiente de Diferenciação utilizado como indicador selecionado para a análise dos diferenciais dos perfís ocupacionais é definido como:

CDij = (Xij/Xj. 100) / (Xi/X . 100),

sendo Xi = número de pessoas ocupadas no país na categoria ocupacional i; X = número de pessoas ocupadas no país; Xij =número de pessoas ocupadas na raça j na categoria ocupacional

i; Xj = número de pessoas ocupadas na raça j.

Mede o grau de diferenciação da representatividade da categoria ocupacional i na raça j, em relação à média nacional. Sendo j definido por uma das seguintes situações: total de trabalhadores; condição de carteira assinada, gênero, anos de estudo e rendimentos médios. A interpretação de CDij pode ser feita mediante as seguintes considerações: (a) CDij < 1, a categoria ocupacional i é menos representativa na situação j, se comparada à representatividade na situação nacional global; (b) CDij > 1, a categoria ocupacional i é mais representativa na situação j se comparada à representatividade na situação nacional global.

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Índice de Diferenciação

O Índice de Diferenciação (Iij) utilizado como indicador selecionado para a análise dos diferenciais de escolaridade e de rendimentos entre raças nas estruturas ocupacionais neste trabalho, é conceituado como:

Iij = [(X/Y) k] ij ,

onde X = ocupados com carteira ou Homens ocupados ; Y = ocupados sem carteira ou Mulheres ocupadas; k = Anos médios de Estudo ou Rendimentos médios; i = categoria ocupacional; j = raça

A partir da Teoria da Segmentação do mercado de trabalho acima discutida, o trabalho analisa as categorias ocupacionais respectivamente, como componentes do mercado Primário independente (CD1, CD2, PQ2 e AQ2), mercado Primário rotineiro (PQ1, PSQ1, PSQ2, AQ1, ASQ1 e ASQ2) e mercado Secundário (PNQ, ANQ e SD).

3.2 A representatividade da raça segundo categorias ocupacionais

Inicialmente é preciso considerar-se que a representatividade da população ocupada brasileira segundo a raça, tem relação direta com a participação de cada grupo como pertencente à população total do país. Deve ser salientado que nas pesquisas do IBGE sobre raça, os resultados se originam da própria classificação do indivíduo que responde ao questionário e podem ser passíveis de discussões quanto à análise resultante, tendo em vista o alto grau de mixigenação da população brasileira. Como já amplamente observado com relação à população negra, a classificação do IBGE determina grupos denominados Pretos e Pardos, no entanto entre estes últimos, podem se auto-classificar indivíduos que não são fruto de mixigenação exclusivamente entre brancos e pretos. Por outro lado, a auto-classificação de negros enquanto pretos ou pardos, também é passível de discussão quanto à apropriação.

Dessa forma, a análise aqui efetuada adota como base os resultados estatísticos apresentados pelas pesquisas do IBGE, sem conseguir determinar eventuais desvios em relação aos problemas originados pela auto-clasificação. O Censo de 2000 do IBGE, mostra que os grupos que mais concentram a população total e ocupada são a raça Branca, que concentra cerca de 48% da população total e a parda com 34,4%. No entanto, observa-se que estes dois grupos agregam respectivamente quase 55% e 39% da população ocupada, o que poderia ser interpretado não apenas como maiores oportunidades de trabalho, mas como maior oferta de trabalhadores destas raças. Aspectos de discriminação ou segregação não encontram base para análise nestas informações. As demais raças, apresentam pouca representatividade no contexto geral da população residente e ocupada e guardam proporção entre concentração na populaçãototal e no trabalho.

Considerando-se a distribuição de trabalhadores em cada raça separadamente, segundo as categorias ocupacionais (Tabela 1), observa-se que a maior representatividade de ocupados em empresas se referem às raças Amarela e Branca (respectivamente 72,5% e 67,6%), grupos que apresentam maior participação de Dirigentes, tanto proprietários (mais de 17,6%% e 5,7% do total), quanto assalariados (quase 3,9% e 2,8%). Enquanto a raça negra inclui pouco mais de 61% de ocupados em empresas, os indígenas têm a menor alocação em empresas (57,3%).

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Tabela 1 - Distribuição da população ocupada por raça e categorias ocupacionais. Brasil, 1999. Negra

Categorias Ocupacionais Brasil Amarela Branca Indígena

Total Parda Preta DISTRIBUIÇÃO POR RAÇA (%)

TOTAL BRASIL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 EMPRESAS 64,7 72,5 67,6 57,3 61,2 61,3 60,1 DIRIGENTES – CD1 4,1 17,6 5,7 0,8 2,0 2,1 1,1 CD2 2,1 3,9 2,8 0,8 1,2 1,3 0,9 PRODUÇÃO - PQ1 2,0 2,1 2,3 1,4 1,8 1,7 2,2 PQ2 3,8 7,6 4,8 2,1 2,6 2,6 1,9 PSQ1 37,0 22,6 34,4 38,1 40,3 40,5 39,5 PSQ2 2,9 3,1 3,3 2,1 2,4 2,4 2,4 PNQ 0,8 0,2 0,5 3,6 1,1 1,0 1,2 ADMINISTRAÇÃO – AQ1 1,1 3,1 1,4 0,7 0,6 0,6 0,6 AQ2 1,3 2,2 1,7 1,5 0,9 0,9 1,0 ASQ1 5,0 7,2 6,1 4,1 3,6 3,6 3,6 ASQ2 1,3 1,9 1,6 0,3 0,8 0,9 0,6 ANQ 3,4 1,0 3,0 1,7 3,8 3,6 5,0 SERVIÇO DOMÉSTICO 7,4 2,3 6,1 6,8 14,6 8,4 14,6 CONTA PRÓPRIAS - CPPL 0,7 2,5 1,0 0,2 0,2 0,3 0,2 CPCD1 6,0 5,5 5,1 8,2 4,6 7,4 4,6 CPPQ1 0,4 0,4 0,5 0,7 0,4 0,3 0,4 CPPSQ1 17,3 13,8 16,2 25,2 17,5 18,9 17,5 CPPSQ2 1,1 1,5 1,4 0,2 0,4 0,8 0,4 CPPNQ 2,3 1,6 2,1 1,5 2,1 2,6 2,1 Total 27,8 25,2 26,3 35,9 30,3 25,3

DISTRIBUIÇÃO POR CATEGORIA OCUPACIONAL (%)

TOTAL BRASIL 100,0 0,5 54,8 0,2 44,5 39,0 5,5 EMPRESAS 100,0 0,6 57,2 0,2 42,06 36,9 5,1 DIRIGENTES - CD1 100,0 2,2 76,0 0,0 21,76 20,3 1,5 CD2 100,0 0,9 73,1 0,1 25,91 23,6 2,3 PRODUÇÃO - PQ1 100,0 0,5 60,7 0,1 38,6 32,5 6,1 PQ2 100,0 1,0 69,1 0,1 29,7 26,9 2,8 PSQ1 100,0 0,3 50,9 0,2 48,6 42,7 5,9 PSQ2 100,0 0,5 62,1 0,1 37,1 32,6 4,5 PNQ 100,0 0,1 38,3 0,8 60,8 52,0 8,8 ADMINISTRAÇÃO - AQ1 100,0 1,5 71,7 0,1 26,7 23,5 3,2 AQ2 100,0 0,8 68,8 0,2 30,1 26,1 4,0 ASQ1 100,0 0,7 66,9 0,1 32,2 28,2 4,0 ASQ2 100,0 0,8 69,9 0,0 29,3 26,7 2,6 ANQ 100,0 0,1 49,6 0,1 50,1 41,9 8,3 SERVIÇO DOMÉSTICO 100,0 0,2 44,8 0,2 54,8 44,0 10,8 CONTA PRÓPRIAS - CPPL 100,0 1,8 79,9 0,0 18,2 16,4 1,8 CPCD1 100,0 0,5 46,9 0,2 52,4 48,1 4,3 CPPQ1 100,0 0,5 67,7 0,3 31,5 26,5 5,0 CPPSQ1 100,0 0,4 51,2 0,3 48,1 42,5 5,6 CPPSQ2 100,0 0,7 68,5 0,0 30,7 28,6 2,1

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Graficos 1 - Distribuição da população ocupada brasileira segundo raça

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Em todas as raças, a maior representatividade de trabalhadores nas empresas se situa na categoria de trabalhadores semi-qualificados de menor escolaridade da área da produção direta de bens e serviços (do Primário rotineiro), onde as maiores concentrações se referem às raças Parda e Preta (em torno de 40% do total) e a menor à Amarela (abaixo de 23%). Por outro lado, tanto na área da produção direta de bens e serviços, quanto na da administração das empresas, bem como entre os autônomos, observa-se que a concentração de trabalhadores em grupos de ocupações não-qualificadas (Secundário) ou semi-não-qualificadas de menor escolaridade, se dá entre os pardos e pretos, embora entre os brancos a concentração de não-qualificados na administração e entre autônomos supera até a dos indígenas.

Por sua vez, a abordagem considerando-se cada categoria ocupacional separadamente (Tabela 1), mostra que no Brasil, as maiores concentrações relativas das raças Branca e Parda na população ocupada, como visto, também se apresenta em todos os demais grupos ocupacionais e entre os não-qualificados da produção, e os autônomos proprietários a representatividade superior se dá entre os que se classificam como pardos. No serviço doméstico, a participação destas duas raças é quase que equilibrada, com percentual ligeiramente superior entre os brancos.No entanto, a participação dos trabalhadores brancos nas categorias de ocupações mais qualificadas tanto nas empresas (Primário independente) quanto entre os trabalhadores por conta própria é consideravelmente divergente e superior, situando-se numa faixa entre 60% a 80% do total da força de trabalho, ao passo que os pardos representam entre 20% a 30%. Os pretos, embora representem apenas 5,5% do total também se alocam com maior intensidade em ocupações de não-qualificados (Secundário), onde representam nas áreas de produção e administração das empresas respectivamente 8,8% e 8,3%. No entanto nas ocupações de qualificados de nível técnico e semi-qualificados (Primário rotineiro) da produção direta de bens e serviços, a concentração é superior à participação média do grupo.

3.3 O perfil da escolaridade

As diversidades nos níveis de escolaridade foram analisadas a partir de Coeficientes de Diferenciação (CDij) calculados com base na média global de anos de estudo do país. Para o total das pessoas ocupadas de cada raça, observa-se um diferencial cerca de 62% superior à média para a raça Amarela e de 17% para a Branca, enquanto que os demais grupos apresentam escolaridade inferior à média em 26%, 21% e 69% respectivamente para os grupos de indígenas, pardos e pretos (Tabela 2 ).

Observando-se especificamente os trabalhadores brancos e pardos que apresentam a maior representatividade da mão-de-obra, observa-se em todas as categorias ocupacionais, maior nível dos primeiros, em relação à média nacional, em relação à qual são observados diferenciais positivos em quase todas as categorias, com exceção das categorias de não-qualificados, dos proprietários autônomos (-37%), dos semi-qualificados de menor nível (-13%) e dos ocupados nos serviços domésticos (-23%). Por sua vez, os pardos revelam níveis de escolaridade superiores não apenas em ocupações de qualificados, como também entre os semi-qualificados da área administrativa, embora os proprietários por conta própria apresentem escolaridade consideravelmente negativa de 68%, em relação à média brasileira.

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Tabela 2

Coeficientes de Diferenciação* dos anos médios de estudo da população ocupada total por raça, segundo categorias ocupacionais. Brasil, 1999

Categorias Ocupacionais Brasil Amarela Branca Indígena Parda Preta

TOTAL BRASIL 1,00 1,62 1,17 0,74 0,79 0,31 EMPRESAS DIRIGENTES – CD1 1,42 1,53 1,52 0,66 1,06 0,91 CD2 1,77 2,05 1,86 1,33 1,49 1,02 PRODUÇÃO - PQ1 1,60 1,82 1,68 1,23 1,45 0,57 PQ2 2,16 2,44 2,24 2,28 1,96 1,87 PSQ1 0,85 1,41 0,98 0,69 0,71 0,26 PSQ2 1,10 1,76 1,17 1,23 0,98 0,58 PNQ 0,68 1,07 0,76 0,36 0,63 0,19 ADMINISTRAÇÃO – AQ1 1,67 2,16 1,72 1,65 1,49 1,00 AQ2 1,88 2,37 1,96 2,11 1,68 1,13 ASQ1 1,61 2,09 1,67 1,30 1,48 0,55 ASQ2 1,78 1,99 1,83 1,65 1,64 0,57 ANQ 0,81 1,34 0,86 1,06 0,75 0,29 SERVIÇO DOMÉSTICO 0,73 0,53 0,77 0,61 0,69 0,20 CONTA PRÓPRIAS - CPPL 2,28 2,39 2,34 2,47 1,99 1,92 CPCD1 0,47 0,92 0,63 0,22 0,32 0,18 CPPQ1 1,53 1,28 1,68 1,65 1,20 0,52 CPPSQ1 0,75 1,25 0,87 0,58 0,62 0,24 CPPSQ2 1,05 1,75 1,12 1,07 0,88 0,82 CPPNQ 0,85 1,44 0,93 0,68 0,77 0,26

Fonte dos dados brutos: IBGE-PNAD/1999. Elaboração da autora. * Base = Média global do Brasil.

Entre as demais raças, as maiores diferenças positivas se referem à Amarela, que são encontradas na quase totalidade de categorias ocupacionais, mesmo nas que exigem menor qualificação e entre os não-qualificados, excetuando-se as ocupações de serviços domésticos em que o diferencial é consideravlemente negativo. O grupo de trabalhadores pretos apresenta as maiores diversidades negativas em relação à média, ainda inferiores à dos indígenas, que se repetem em quase todas os grupos de ocupações, com exceção entre os dirigentes assalariados e profissionais liberais autônomos.

A situação segundo o gênero, apresenta algumas diferenças consideráveis. Embora a partir destes dados não seja possível determinar-se causas para as diferenças na segmentação, a Tabela 3 mostra que na maior parte das categorias ocupacionais em todas as raças, as mulheres apresentam maior escolaridade relativa aos homens, ou seja, os coeficientes são inferiores à unidade. Apenas nas categorias ocupacionais de qualificados com nível superior da produção (exceto entre indígenas), não-qualificados da administração (exceto indígenas) e de autônomos semi-qualificados de menor escolaridade, é que os coeficiente apresentam-se acima da unidade em quase todas as raças.

Observe-se que entre os brancos e pardos, que representam a maior intensidade de concentração dos ocupados, os indicadores apenas são superiores à unidade em poucas

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Tabela 3

Índices de Diferenciação* dos anos médios de estudo da população ocupada por raça, segundo categorias ocupacionais e gênero. Brasil, 1999.

Categorias Ocupacionais Brasil Amarela Branca Indígena Parda Preta

TOTAL BRASIL 0,87 0,95 0,89 1,05 0,85 1,47 EMPRESAS DIRIGENTES - CD1 0,82 0,93 0,86 0,25 0,68 0,80 CD2 0,87 1,09 0,91 0,65 0,77 0,88 PRODUÇÃO - PQ1 0,98 0,93 1,00 0,99 0,94 1,36 PQ2 1,07 1,03 1,06 0,87 1,07 2,14 PSQ1 0,87 0,95 0,88 1,16 0,90 1,56 PSQ2 0,59 0,61 0,61 1,18 0,61 2,02 PNQ 0,86 ... 0,83 1,48 0,91 1,32 ADMINISTRAÇÃO - AQ1 0,82 0,83 0,84 ... 0,80 1,39 AQ2 0,79 1,04 0,81 1,15 0,76 0,77 ASQ1 0,88 0,97 0,91 0,93 0,84 1,01 ASQ2 0,91 1,28 0,93 ... 0,89 2,03 ANQ 1,07 1,27 1,08 0,53 1,09 1,14 SERVIÇO DOMÉSTICO 0,85 0,41 0,83 0,28 0,88 1,23 CONTA PRÓPRIAS - CPPL 1,09 0,94 1,04 ... 1,26 3,20 CPCD1 0,81 1,11 0,79 1,16 0,77 1,67 CPPQ1 0,85 0,80 0,87 ... 0,89 1,30 CPPSQ1 1,10 1,18 1,08 1,35 1,13 2,62 CPPSQ2 0,55 ... 0,56 .... 0,60 ... CPPNQ 0,85 1,72 0,87 1,46 0,81 1,07

Fonte dos dados brutos: IBGE-PNAD/1999. Elaboração da autora. * Média Homens/ Média Mulheres

Tabela 4

Índices de Diferenciação* dos anos médios de estudo da população ocupada por raça, segundo categorias ocupacionais e condição de carteira assinada. Brasil, 1999.

Categorias Ocupacionais Brasil Amarela Branca Indígena Parda Preta

TOTAL BRASIL 1,86 1,44 1,43 1,73 1,72 2,14 EMPRESAS DIRIGENTES - CD2 1,19 0,89 1,16 1,54 1,23 2,31 PRODUÇÃO - PQ1 1,08 1,36 1,06 0,71 1,11 1,83 PQ2 1,10 0,99 1,06 1,50 1,13 1,69 PSQ1 1,45 1,25 1,30 1,20 1,55 2,59 PSQ2 1,13 1,18 1,13 2,30 1,10 1,45 PNQ 0,95 ... 0,96 ... 0,90 1,70 ADMINISTRAÇÃO - AQ1 1,07 0,87 1,04 ... 1,12 2,76 AQ2 0,98 1,30 0,99 0,67 0,96 0,51 ASQ1 1,06 1,32 1,05 0,71 1,04 1,60 ASQ2 1,17 1,37 1,19 ... 1,10 1,19 ANQ 1,07 2,26 1,02 0,99 1,14 1,78 SERVIÇO DOMÉSTICO 1,04 0,15 1,02 ... 1,03 1,55

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Grafico 2 - Média de anos de estudo da população ocupada brasileira

Fonte dos dados brutos: IBGE-PNAD/1999. Elaboração da autora. 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00

Brasil* Amarela Branca Indígena Parda Preta

Segundo raça e condição de registo em carteira

C/C S/C 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

Brasil* Amarela Branca Indígena Parda Preta

Segundo raça e gênero

Homens Mulheres

categorias ocupacionais e apresentando uma diferenciação pouco significativa (menos de 10% em relação à média. Por outro lado entre os indígenas e pretos, ocorre o inverso, pois a maior parte das categorias apresentam coeficientes consideravelmente acima da unidade

Com relação à situação de registro em carteira (Tabela 4), verifica-se inicialmente para o Brasil como um todo que em todas as raças, a média de escolaridade dos trabalhadores com carteira é superior, ou seja, os índices apresentam-se acima da unidade e com diferenciais muito significativos. O maior diferencial é encontrado na raça Preta (114%) e os menores nas Branca e Amarela (em torno de 43%).

De fato, para a quase totalidade das categorias ocupacionais em todos os grupos raciais, os indicadores são positivos e os maiores diferenciais encontram-se entre as ocupações de semi-qualificados da área da produção direta de bens e serviços, tanto entre os de menor escolaridade, onde as diferenças situam-se de 20% a 159% (esta para a raça Preta), quando para os com atribuições de chefia, entre 10% a 130% (esta para a raça Indígena). Também entre os

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não-qualificados da área administrativa, os ocupados com carteira apresentam médias de anos de estudo entre 7% a 116% (esta para a raça Amarela). A maior ocorrência de coeficientes negativos se dá na categoria de qualificados de nível superior da área da administração (Primário independente), onde os ocupados sem carteira apresentam escolaridade muito superior, com exceção entre os de raça Amarela. A raça Preta é a que apresentam as maiores diferenças positivas em quase todas as categorias, e a maior negativa, nas ocupações de qualificados de nível superior da administração (Primário independente).

3.4 Diferenciais nos rendimento médio

Os indicadores de diferenças na remuneração média do trabalhador entre raças, tendo como base de comparação a média de rendimentos para o global do país, apresentam disparidades consideráveis. Observando-se o total das raças, é verificado que as raças Amarela e Branca apresentam diferenciais positivos respectivamente de 126% e 27%, enquanto que para as demais, os coeficientes são negativos em torno de 33% (Tabela 5).

Tabela 5

Coeficientes de Diferenciação* dos rendimentos médios da população ocupada total por raça, segundo categorias ocupacionais. Brasil, 1999

Categorias Ocupacionais Brasil Amarela Branca Indígena Parda Preta

TOTAL BRASIL 1,00 2,26 1,27 0,67 0,65 0,69 EMPRESAS DIRIGENTES – CD1 2,99 3,70 3,21 1,67 2,16 2,00 CD2 2,69 3,48 2,99 0,91 1,80 2,25 PRODUÇÃO - PQ1 1,39 1,25 1,55 0,49 1,12 1,25 PQ2 2,30 3,47 2,60 3,27 1,51 1,91 PSQ1 0,60 0,88 0,73 0,52 0,46 0,56 PSQ2 1,53 3,13 1,67 0,98 1,27 1,27 PNQ 0,39 0,18 0,46 0,01 0,33 0,43 ADMINISTRAÇÃO – AQ1 2,58 3,33 2,74 2,31 2,09 2,19 AQ2 2,63 4,02 2,84 1,58 2,07 2,48 ASQ1 1,29 1,70 1,39 1,05 1,04 1,22 ASQ2 1,56 2,38 1,67 0,72 1,27 1,25 ANQ 0,66 0,52 0,73 1,41 0,59 0,63 SERVIÇO DOMÉSTICO 0,41 0,41 0,45 0,43 0,36 0,44 CONTA PRÓPRIAS - CPPL 3,23 3,85 3,45 5,79 2,21 2,01 CPCD1 0,66 1,99 0,91 0,20 0,43 0,39 CPPQ1 1,64 1,49 1,90 5,79 1,02 1,13 CPPSQ1 0,73 1,84 0,92 0,52 0,52 0,54 CPPSQ2 2,09 1,75 2,29 5,79 1,65 1,81 CPPNQ 0,74 1,66 0,89 0,36 0,59 0,57

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Entre as categorias de ocupações, observa-se comportamentos bem homogêneos, de remunerações acima da média nacional (embora com níveis bem distintos de divergência da média) em todas as raças para determinadas categorias de maior requisitos de qualificação, como entre dirigentes nas empresas, qualificados das áreas da produção, da administração (Primário independente) e autônomos, semi-qualificados com maior escolaridade da produção e autônomos, as duas categorias de semi-qualificados da administração (Primário rotineiro) e os profissionais liberais autônomos. Estes últimos autônomos apresentam, em média, remunerações consideravelmente superiores aos alocados como assalariados nas empresas.

Gráficos 3 - Rendimentos médios da população ocupada brasileira

Fonte dos dados brutos: IBGE-PNAD/1999. Elaboração da autora. 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0

Brasil Amarela Branca Indígena Parda Preta

Segundo raça e gênero

Homens Mulheres 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0

Brasil Amarela Branca Indígena Parda Preta

Segundo condição de registro em carteira

C/C S/C

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Coeficientes abaixo da média nacional são encontrados para todas as raças de forma homogênea, para categorias de menor produtividade e menores requisitos de escolaridade como Semi-qualificados de menor escolaridade da produção, todas categorias de não-qualificados (Secundário), proprietários autônomos e entre os ocupados em serviços domésticos.

As diferenças de remuneração considerando-se as raças e o gênero conjuntamente, mostram para o total de todas as raças que os rendimentos masculinos superam consideravelmente os femininos, em níveis entre 44% e 93%. As maiores disparidades médias totais encontram-se entre os indígenas (93%), pardos (62%) e brancos (54%), enquanto que nas raças Preta e Amarela as divergências se situam em torno de 45% acima (Tabela 6).

Tabela 6

Índices de Diferenciação* dos rendimentos médios da população ocupada por raça, Segundo categorias ocupacionais e gênero. Brasil, 1999.

Categorias Ocupacionais Brasil Amarela Branca Indígena Parda Preta

TOTAL BRASIL 1,53 1,44 1,54 1,93 1,62 1,47 EMPRESAS DIRIGENTES - CD1 1,09 1,10 1,13 1,19 1,00 0,80 CD2 1,26 1,25 1,27 0,64 1,33 0,88 PRODUÇÃO - PQ1 1,36 0,64 1,36 1,01 1,39 1,36 PQ2 1,97 1,99 1,86 1,55 2,00 2,14 PSQ1 1,65 1,75 1,67 2,01 1,83 1,56 PSQ2 0,75 0,84 0,79 ... 0,82 2,02 PNQ 1,22 ... 1,32 0,00 1,22 1,32 ADMINISTRAÇÃO - AQ1 1,07 1,54 1,04 ... 1,39 1,39 AQ2 0,83 1,54 0,87 0,78 0,78 0,77 ASQ1 1,23 1,46 1,27 1,30 1,21 1,01 ASQ2 1,37 1,16 1,39 ... 1,44 2,03 ANQ 1,32 0,70 1,33 3,42 1,36 1,14 SERVIÇO DOMÉSTICO 1,47 0,38 1,42 0,78 1,61 1,23 CONTA PRÓPRIAS - CPPL 1,68 0,94 1,51 ... 3,28 3,20 CPCD1 1,22 2,47 1,11 3,47 1,36 1,67 CPPQ1 1,28 2,44 1,32 ... 1,83 1,30 CPPSQ1 2,67 1,07 2,58 3,42 2,98 2,62 CPPSQ2 0,80 ... 0,83 ... 0,82 ... CPPNQ 1,50 5,82 1,46 3,39 1,52 1,07

Fonte dos dados brutos: IBGE-PNAD/1999. Elaboração da autora. * MédiaHomens/Média Mulheres

Entre os grupos raciais de brancos e pardos, que apresentam a maior concentração de ocupados, as remunerações femininas apenas são superiores às dos homens nas categorias de semi-qualificados com atribuições de chefia da área da produção e de autônomos e de qualificados com nível superior da administração. As maiores disparidades positivas destas duas raças (maiores remunerações masculinas) encontram-se entre os profissionais liberais autônomos, os qualificados de nível superior da produção e entre os semi-qualificados de menor

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escolaridade autônomos. Salienta-se que entre os semi-qualificados com chefia da produção e autônomos das demais raças (exceto entre os pretos na produção) se repete a condição de maiores remunerações femininas. Ainda entre os pretos, as mulheres dirigentes das empresas também recebem maiores ganhos.

As diversidades entre raças nos rendimentos da população ocupada a partir da consideração sobre a condição de registro ou não em carteira assinada nas empresas e no serviço doméstico, podem ser visualizadas através dos Índices apresentados na Tabela 7. Para o total do país, em todas as raças a diferença positiva da remuneração dos trabalhadores com carteira é considerável, porém com níveis bem diversos entre os grupos raciais. As maiores divergências de remuneração encontram-se nos grupos de indígenas, pardos e pretos, onde os ocupados com carteira mostram ganhos superiores em respectivamente 170%, 124% e 114%. Embora menos significativas, as remunerações dos com carteira nos grupos de amarelos e brancos também é expressiva, equivalendo a 39% e 53% acima dos demais.

Tabela 7

Índices de Diferenciação* dos rendimentos médios da população ocupada por raça, segundo categorias ocupacionais e condição de carteira assinada. Brasil, 1999.

Categorias Ocupacionais Brasil Amarela Branca Indígena Parda Preta

TOTAL BRASIL 1,81 1,39 1,53 2,70 2,24 2,14 EMPRESAS DIRIGENTES - CD2 1,60 3,17 1,52 1,55 1,65 2,31 PRODUÇÃO - PQ1 1,69 3,48 1,49 1,23 2,05 1,83 PQ2 1,74 2,09 1,59 5,57 1,83 1,69 PSQ1 3,14 3,48 2,88 2,73 3,31 2,59 PSQ2 1,38 3,24 1,29 3,05 1,47 1,45 PNQ 2,18 ... 1,90 ... 2,44 1,70 ADMINISTRAÇÃO - AQ1 1,43 2,34 1,32 ... 1,65 2,76 AQ2 1,11 ... 1,19 0,86 0,97 0,51 ASQ1 1,83 1,79 1,83 2,36 1,81 1,60 ASQ2 2,10 3,36 2,05 ... 2,20 1,19 ANQ 1,88 5,04 1,91 8,49 1,79 1,78 SERVIÇO DOMÉSTICO 1,65 0,98 1,56 1,57 1,76 1,55

Fonte dos dados brutos: IBGE-PNAD/1999. Elaboração da autora. * Média de Rend. CC/Média Rend. SC

Entre as categorias ocupacionais, apenas entre os qualificados com nível superior da administração, apresentam coeficientes menores que a unidade, ou seja, significando que as remunerações dos sem carteira superam a dos demais. Os maiores diferenciais favoráveis aos com carteira se verificam entre os semi-qualificados de menor escolaridade da área da produção direta de bens e serviços, que corresponde à categoria que agrega o maior percentual de trabalhadores em todas as raças e setores, chegando a representatividades de 50% a 70% do total de trabalhadores do país, dependendo do setor em que alocam. As diferenças nesta categoria entre as raças, superam os 150%, 170% e 188% para os negros, indígenas e brancos

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respectivamente, mas atingem divergências entre 230% e 240% para os pardos e os da raça Amarela. Especificamente com relação aos indígenas, observa-se que a condição de maior escolaridade para alguns trabalhadores que permite a contratação em postos regulamentados por carteira de trabalho, é uma vantagem considerável em termos de remuneração, tanto para os mais qualificados, como os com nível superior da produção quanto para não-qualificados da administração.

Considerações finais

O estudo analisou a segmentação ocupacional do trabalhador brasileiro segundo raça e gênero. As informações mostram que a quase totalidade da população ocupada brasileira é composta de indivíduos das raças Branca e Parda (94%) e os pretos equivalem a 5,5%.

Verificou-se que as ocupações em que a participação das mulheres é mais intensa, em todas as raças, são as de escritório ou burocráticas e de outros serviços. É necessário acrescentar que nestas, o processo de feminização tem aumentado de intensidade desde os anos 80 nos países mais avançados e nos menos desenvolvidos, e os homens se dirigem relativamente menos a estes postos. Também caracteristicamente femininas são ocupações ligadas a trabalhos de serviço doméstico em domicílios ou em empresas (hotéis, restaurantes), onde os homens são caracteristicamente minoria e em grande parte imigrantes recentes (de outras regiões do país ou de outros países). No que diz respeito aos gerentes e administradores, ou seja, a denominada “classe dirigente”, a participação feminina embora crescente, é menos significativa, em todas as raças, especialmente em cargos de direção mais elevados. No entanto, com relação à escolaridade, observou-se que é muito mais freqüente, em todas as raças, maior nível do gênero feminino, embora sem a correspondente remuneração.

As categorias ocupacionais o setor Primário independente e as mais qualificadas do Primário rotineiro, tanto na área da produção direta de bens e serviços quanto na área administrativa, concentram mais intensamente trabalhadores das raças Branca e Amarela, que apresentam maior remuneração relativa em relação às demais raças. Já entre os profissionais liberais autônomos, que apresentam muitas vezes renda superior aos alocados em empresas, quase 80% são de brancos e acima de 16% são pardos.

A condição de carteira assinada é nitidamente uma vantagem considerável, observada em todas as raças e em quase todas as categorias ocupacionais, com exceção dos não-qualificados da produção e qualificados com nível superior da Administração (exceto a raça Amarela nesta categoria).

Na atualidade, verificou-se em países capitalistas que os padrões de segmentação podem ser influenciados por uma série de políticas públicas voltados para o mercado de trabalho, destinadas seja a melhorar as condições de absorção da mulher, ou de raças menos privilegiadas (através de cotas mínimas de integração), programas de treinamento ou políticas específicas anti-discriminatórias. Estas políticas, ainda de incipiente discussão e implementação no Brasil, estão sendo visualizadas de acordo com seu objetivo primordial, ou resumidamente:

a) voltadas para influenciar os salários, das quais as mais comumente adotadas visam elevar os salários em setores em que predomina a mão-de-obra feminina, para se compararem aos setores em que a masculina é predominante, comparando o valor de trabalhos que são comparáveis.

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b) as que tentam modificar o comportamento do empregador com relação à contratação e promoção;

c) voltadas mais a trabalhadores do que a empregadores e que visam o treinamento e outros programas educacionais;

d) programas como subsídios para o cuidado das crianças, que afetam a decisão familiar de entrada ou não da mulher na força de trabalho.

Alguns aspectos das diferenças da divisão do trabalho entre os gêneros e raças ainda não foram devidamente analisados para o Brasil como um todo e do ponto de vista regional, de modo a possibilitar investigar outras causas sociais e econômicas da segmentação diferenciada e não igualitária, temas que não se incorporaram aos objetivos específicos desta pesquisa, mas que no entanto deverão ser examinados posteriormente.

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