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Prevalência, conhecimento e tipos de métodos contraceptivos utilizados pelas mulheres, segundo o tipo de união: um estudo para Brasil e México

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Academic year: 2021

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Prevalência, conhecimento e tipos de métodos contraceptivos utilizados pelas

mulheres, segundo o tipo de união: um estudo para Brasil e México

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Juliana Vasconcelos de Souza Barros♣ Laura Lídia Rodríguez Wong

Na América Latina, as últimas décadas foram marcadas por um declínio sustentado da fecundidade. As taxas de fecundidade passaram de altos para baixos níveis em todos os países da região, embora a velocidade e a intensidade tenham variado em cada um deles. A mudança no comportamento da fecundidade está relacionada ao processo de modernização vivenciado na região, o qual engloba diversos fatores que influenciam no número final de filhos. Entre esses fatores, o aumento na prevalência, conhecimento e uso de métodos contraceptivos modernos é apontado como um dos principais determinantes próximos do declínio da fecundidade na América Latina. Dado esse contexto, o objetivo deste artigo é analisar a prevalência contraceptiva e os principais tipos de métodos conhecidos e utilizados por mulheres em dois países representativos do declínio acentuado e do baixo nível da fecundidade na América Latina, Brasil e México. A análise será feita segundo o tipo de união da mulher. O recorte por união é importante uma vez que estaria emergindo, na América Latina, uma forma de união semelhante às coabitações existentes em populações que estariam vivenciando a Segunda Transição Demográfica. Esse novo tipo de união seria característico de mulheres com melhores condições socioeconômicas, enquanto as uniões consensuais seriam tradicionalmente mais frequentes entre as mulheres com piores condições socioeconômicas. Entre as mulheres casadas formalmente, por outro lado, os diferenciais socioeconômicos seriam menores. Para se captar as desigualdades intragrupo, visto que essa nova forma de união que não passa pela formalização ainda aparece nas estatísticas latino-americanas como uniões consensuais tradicionais, será realizado, também, um recorte por escolaridade, a qual é um relevante diferenciador das mulheres em cada tipo de união. Serão utilizados dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (2006) e da Encuesta Nacional de la Dinámica Demográfica (2009) para uma análise descritiva do uso e conhecimento de métodos contraceptivos. Os resultados mostram que há importantes diferenciais na prevalência e no mix contraceptivo utilizado em cada país. Mulheres casadas utilizam, em maior proporção, métodos definitivos, enquanto as unidas de alta escolaridade apresentam maior uso de métodos modernos variados. Conclui-se que as políticas passadas de planejamento familiar têm grande influência nos métodos utilizados em cada país atualmente. Além disso, observa-se importantes diferenciais por tipo de união e escolaridade, o que chama atenção para a necessidade de ações que tornem o acesso aos métodos universal. Palavras-chave: métodos contraceptivos; tipo de união; planejamento da fecundidade.

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Trabalho apresentado no XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Águas de Lindóia/SP – Brasil, de 19 a 23 de novembro de 2012.

Doutoranda em Demografia pelo Cedeplar/UFMG ♦

Professora do Departamento de Demografia do Cedeplar/UFMG

Este artigo tem como base a dissertação “Medindo a saúde reprodutiva segundo o tipo de união na América Latina: indicadores sintéticos para Brasil e México”, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Demografia – Cedeplar/UFMG. Os autores agradecem o apoio do CNPq para o desenvolvimento desta pesquisa.

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1. Introdução

Os países latino-americanos têm experimentado, ainda que em velocidades e intensidades diferenciadas, um sustentado declínio da fecundidade. Essa queda teve início em meados dos anos sessenta e hoje, na maior parte deles, a fecundidade está bem próxima da reposição. Entretanto, muitas evidências apontam que a tendência de queda não se estabilizou no nível de reposição e, em diversos países, a fecundidade se encontra abaixo desse limiar (Rosero-Bixby, 2004; Wong e Bonifácio, 2009). A mudança no comportamento da fecundidade está relacionada, em grande medida, ao processo de modernização vivenciado na região, o qual engloba diversos fatores que influenciam no número final de filhos. Entre esses fatores, o aumento na prevalência, conhecimento e uso de métodos contraceptivos modernos é apontado como um dos principais determinantes próximos do declínio da fecundidade na América Latina (Bongaarts, 1997; Perpétuo e Wajnman, 1998; Tuirán et al, 2002; Perpétuo e Wong, 2009).

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é analisar a prevalência contraceptiva e os principais tipos de métodos conhecidos e utilizados pelas mulheres, segundo o tipo de união em que elas se encontravam, em dois países representativos do declínio acentuado e do baixo nível da fecundidade na América Latina, Brasil e México. O interesse em se avaliar a prevalência, o conhecimento e o tipo de método utilizado segundo o tipo de união está relacionado ao fato de que haveria um novo perfil de mulheres adotando a união consensual, semelhante ao dos países que estariam vivenciando a chamada Segunda Transição Demográfica.

Na América Latina, reconhecia-se, até muito recentemente, dois tipos de união: casamento formal e união consensual1

Captar os diferenciais de mulheres em união consensual, no entanto, é uma tarefa complexa. A dificuldade reside no fato de que, nas estatísticas latino-americanas disponíveis sobre nupcialidade, essas uniões “modernas”, similares à coabitação, aparecem como a união consensual “tradicional”, comum na região. Assim, elas se confundem com as uniões consensuais propriamente ditas, se tornando difícil distingui-las. No entanto, a emergência desse perfil moderno de mulheres em união consensual seria uma realidade nos países latino-americanos e

, sendo esse último tradicionalmente mais prevalente entre grupos menos favorecidos social e economicamente. No entanto, atualmente estaria emergindo, na região, um tipo de união não formalizada semelhante às denominadas coabitações, comum em contextos de Segunda Transição Demográfica, com características distintas às demais. Essa nova forma de união seria fruto de mudanças de atitude engendradas por valores modernos como o individualismo, secularismo, autonomia e emancipação feminina, sendo adotado pelos setores com melhores condições socioeconômicas. As uniões consensuais “tradicionais” da América Latina seriam mais comuns entre as camadas menos favorecidas da população, representando uma opção aos custos e aos trâmites burocráticos relacionados à formalização da união (Castro Martín, 2001). Elas possuem, portanto, uma conotação distinta das uniões não formalizadas “modernas” existentes nos países que estariam experimentando a Segunda Transição Demográfica.

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Neste trabalho, entende-se como união não formalizada ou consensual um casal que vive junto, de maneira permanente, sem que essa união seja reconhecida pelas leis e dispositivos legais ou pela Igreja (Quilodrán, 1999).

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teria uma origem similar às mudanças observadas na Europa, como aponta a literatura sobre o assunto (por exemplo, Quilodrán, 1999; Castro Martín, 2001; CEPAL/CELADE, 2002; García e Rojas, 2002; Rodríguez, 2005). Nesse sentido, para se verificar as possíveis diferenças conforme tipo de união, faz-se também um recorte por escolaridade. A escolaridade é um importante diferencial entre as mulheres em cada tipo de união e mesmo dentro dela. As mulheres casadas formalmente possuem maior escolaridade do que aquelas em união consensual e, entre as mulheres em união consensual, aquelas que adotariam uma união não formal devido a um comportamento moderno seriam mais escolarizadas do que as que adotam a união consensual tradicional (Quilodrán, 1999; García e Rojas, 2002; Rodríguez, 2005). O nível educacional, dessa forma, funciona como uma variável de controle das características socioeconômicas dessas mulheres e que estão fortemente associadas com o tipo de união que elas adotam.

O estudo é realizado para Brasil e México e se baseia nos dados provenientes de pesquisas sobre demografia e saúde realizadas nos dois países. No caso do Brasil, os dados utilizados são da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS), realizada em 2006, e, no caso do México, da Encuesta Nacional de Dinámica Demográfica (ENADID), realizada em 2009. Esses países foram escolhidos por serem um exemplo das transformações demográficas vivenciadas na América Latina e das dualidades no quadro descrito anteriormente. Ambos os países passaram por um rápido processo de transição demográfica e hoje apresentam uma fecundidade bastante baixa2

Não obstante tamanha semelhança, Brasil e México possuem aspectos culturais e religiosos significativamente diferentes, de modo que a sociedade mexicana está mais atrelada a certos rituais mais tradicionais (Quilodrán, 1999), como o casamento, por sua tradição católica mais marcada do que no Brasil, onde o sincretismo religioso é mais característico. Outro fator que diferencia os dois países é o histórico de políticas de planejamento familiar existente em cada país. Enquanto no Brasil a redução da fecundidade ocorreu sem que nenhuma política governamental de planejamento familiar tenha sido explicitamente implementada, no México foram estabelecidas políticas sólidas de planejamento familiar as quais contribuíram sobremaneira para a difusão de práticas e métodos contraceptivos e, consequentemente, para a queda da fecundidade (Pullum et al, 1985; Potter, 1999; Perpétuo e Wajnman, 1998; Perpétuo e Wong, 2009). Esses fatos fazem com que os dois países, apesar de muito semelhantes em aspectos demográficos, se distanciem em alguns sentidos.

, o que os torna bons casos a serem analisados diante dos objetivos deste trabalho. Trata-se, ainda, de dois dos maiores países da América Latina, tanto em população como em território, e que exercem grande influência econômica e política na região. A trajetória e os acontecimentos históricos em ambos os países possuem raízes comuns. Além disso, são ainda marcados por grandes desigualdades sociais, regionais e econômicas.

O conhecimento e o uso de métodos contraceptivos estão inseridos no marco dos direitos reprodutivos, conforme estabelecido nas recomendações do Plano de Ação da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento – CIPD, realizada no Cairo em 1994. Todo

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A taxa de fecundidade total era, aproximadamente, 1,9 e 2,0 filhos por mulher no Brasil e no México, respectivamente, em 2010 (fonte: www.ibge.org,br e www.inegi.org.mx).

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indivíduo tem o direito de implementar suas preferências reprodutivas, devendo, para tal, possuir amplo acesso e informação aos meios de espaçar ou evitar filhos. Nesse sentido, este trabalho contribui na identificação de perfis diferenciados de conhecimento, uso e preferências contraceptivas, fornecendo insumos para a formulação de políticas relacionadas ao planejamento da fecundidade que sejam eficazes para todos os grupos sociais e garantam acesso universal aos direitos reprodutivos.

1. Políticas de planejamento familiar e uso de contraceptivos no Brasil e no México

A América Latina tem experimentado, desde meados da década de 1960, um declínio progressivo da fecundidade. Todos os países da Região estão vivenciando um período de transição da fecundidade, embora o estágio em que cada um se encontra possa divergir (Chackiel e Schkolnik, 2003). Alguns países, no entanto, já apresentam níveis de fecundidade que estão bem próximos ou mesmo abaixo da reposição – como Brasil, México e Uruguai. Por outro lado, a queda da fecundidade não se deu de maneira igual entre os estratos sociais. Ela ocorreu primeiramente entre mulheres com condições socioeconômicas mais elevadas, principalmente entre as de maior nível educacional, e que habitavam na área urbana. Atualmente, apesar das brechas entre os grupos ainda existir, ela tem diminuído consideravelmente (Chackiel, 2004; Chackiel e Schkolnik, 2003).

O uso de contracepção é aceito como um dos principais determinantes próximos da queda da fecundidade na América Latina (Pullum et al, 1985; Bongaarts, 1997; Perpétuo e Wajnman, 1998; Perpétuo e Wong, 2009). Ocorreu na região, desde a década de 1980, um aumento considerável no uso de métodos contraceptivos, principalmente os métodos modernos. Um aspecto peculiar no aumento da prevalência contraceptiva na América Latina é a ausência de um padrão diferenciador no uso de métodos entre os grupos socioeconômicos (Wong e Perpétuo, 2011), com exceção de países em que a fecundidade permanece em níveis elevados, como Bolívia e Haiti. A convergência para elevadas proporções de uso levou a uma homogeneização entre os diferentes estratos sociais, de forma que a prática contraceptiva tem contribuído sobremaneira para a redução nos diferenciais de fecundidade entre esses grupos.

Brasil e México apresentam um padrão semelhante ao observado na América Latina, com os métodos contraceptivos desempenhando papel principal na redução da fecundidade. Ambos apresentam elevada prevalência de métodos contraceptivos modernos, com a esterilização e os métodos hormonais representando a quase totalidade dos métodos utilizados (Wong e Perpétuo, 2011). Cavenaghi e Alves (2009) destacam que o Brasil, não obstante a grande desigualdade socioeconômica, não a reflete no uso de contracepção; os diferenciais entre os grupos são pequenos. No México, Mendoza (2009) constatou que a prática contraceptiva aumentou proporcionalmente mais entre as mulheres de áreas rurais, sem escolaridade e de etnia indígena.

Entretanto, os dois países possuem diferenças importantes em relação às políticas de planejamento familiar adotadas. O México, em meados da década de 1970, reverteu sua política pró-natalista e estabeleceu programas nacionais de planejamento familiar (Pullum et al, 1985). Como consequência, métodos modernos de contracepção se tornaram disponíveis a baixo ou

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nenhum custo em instituições governamentais de saúde. Segundo Pullum et al (1985), grande parte das mulheres que usavam contracepção, no fim da década de 1970, receberam seus métodos do governo. A participação governamental na oferta de métodos contraceptivos diminuiu imensamente os custos da regulação da fecundidade, ampliando o acesso principalmente para mulheres de estratos socioeconômicos mais baixos. Potter (1999) destaca que o intuito do governo mexicano de reduzir o crescimento populacional se estendeu inclusive para as áreas rurais, com a atuação de programas governamentais de promoção da prática contraceptiva nessas áreas. Como consequência, o declínio da fecundidade no México foi rápido e com um elevado grau de uniformidade entre os estratos sociais (Pullum et al, 1985).

No Brasil, ao contrário, o aumento no uso de métodos contraceptivos se deu sem que houvesse uma política clara de planejamento familiar no país. O Estado brasileiro adotou uma postura “laissez-faire”, talvez até pró-natalista, em relação à fecundidade (Caetano, 2001). Não obstante a ausência de regulamentação e de políticas de planejamento familiar que fornecessem informação e acesso a uma variedade de métodos anticoncepcionais, a prevalência contraceptiva no Brasil sempre foi elevada. Nesse contexto, alguns atores desempenharam papel fundamental para a difusão de práticas contraceptivas. As agências privadas, especialmente as internacionais, tiveram atuação relevante na propagação de métodos contraceptivos (Perpétuo e Wajnman, 1998). Outros dois agentes fundamentais foram os médicos, os quais, baseados em princípios de medicina curativa, realizavam a esterilização durante o parto cesáreo, e os políticos, os quais trocavam votos por bens e serviços, entre os quais a esterilização (Caetano, 2001; Goldani, 2002). Dessa forma, devido, em grande medida, à falta de informação e acesso a métodos contraceptivos alternativos, a esterilização feminina se tornou o principal tipo de método contraceptivo utilizado no país, mesmo em um cenário em que ela não era permitida – salvo em caso de risco gestacional, como múltiplos partos cesáreos, o que levou a um aumento significativo desse procedimento no país (Caetano, 2001; Berquó e Cavenaghi, 2003; Perpétuo e Wong, 2009). Somente em 1997 houve a regulamentação legal do planejamento familiar e da esterilização feminina no país.

Apesar de contextos diferenciados, em que México contou com uma política mais sólida de planejamento familiar do que o Brasil, ambos os países alcançaram um padrão semelhante em relação ao mix de métodos. Apenas dois métodos respondem pela quase totalidade dos métodos adotados entre as mulheres: a esterilização feminina e o DIU, no México, e a esterilização feminina e a pílula anticoncepcional no Brasil. Nos dois países, a esterilização é o método mais utilizado, principalmente entre as mulheres de estratos sociais mais desfavorecidos e nas regiões mais empobrecidas do país (Perpétuo e Wajnman, 1998; Potter, 1999). No Brasil, o predomínio engendrado pela ausência de políticas e serviços de planejamento familiar e a presença de atores que facilitaram o acesso a esse método (Perpétuo e Wajnman, 1998; Caetano, 2001). Por outro lado, o mix contraceptivo adotado no México está relacionado à postura de médicos e pessoas envolvidas nas políticas de planejamento familiar, os quais atuaram no sentido de estimular o uso desses dois tipos de métodos (Potter, 1999).

O padrão existente em cada país, por sua vez, persiste há décadas, condizendo com o que Potter (1999) caracterizou como “path dependence”: os acontecimentos passados relacionados às

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práticas contraceptivas tem grande influência no comportamento atual. Há, dessa forma, uma inércia que faz com que as decisões em relação à anticoncepção não mudem rapidamente, de modo que os padrões e práticas contraceptivas se mantiveram ao longo dos anos.

2. Dados e método

Os dados utilizados neste artigo são provenientes da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS), realizada no Brasil em 2006, e da Encuesta Nacional de la Dinámica Demográfica (ENADID)3

A PNDS é uma pesquisa de representatividade nacional, cujas entrevistas foram realizadas com mulheres de 15 a 49 anos de idade, das zonas rurais e urbanas das cinco regiões brasileiras, e permite traçar o perfil da população feminina em idade fértil e dos filhos menores de cinco anos dessas mulheres. As informações disponíveis nessa base de dados permitem analisar a fecundidade e intenções reprodutivas, atividade sexual e anticoncepção, assistência à gestação e ao parto, morbidade feminina, estado nutricional das crianças, acesso a medicamentos, os micronutrientes e a segurança alimentar nos domicílios (Ministério da Saúde/CEBRAP, 2008).

, realizada no México em 2009. Ambas são fontes de dados que têm por objetivo fornecer dados e análises para um amplo conjunto de indicadores de planejamento, monitoramento e avaliação de impacto nas áreas de população, saúde e nutrição de mulheres e crianças nos países em desenvolvimento. Nesse sentido, são relativamente comparáveis entre si.

A ENADID possui representatividade nacional (rural e urbano) e por entidade federativa e está dividida em dois módulos: um sobre os domicílios e outro sobre as mulheres, dirigido para a população feminina com idade entre 15 e 54 anos. É uma fonte de dados que capta informações sobre as características sociodemográficas da população, comportamento da fecundidade, contracepção e preferências reprodutivas das mulheres em idade fértil, história de nascimentos, perfil da mortalidade infantil, saúde materno-infantil, nupcialidade, migração e principais características dos domicílios e famílias mexicanas (INEG, 2009).

Este trabalho consiste em uma análise descritiva das principais variáveis relacionadas ao conhecimento e ao uso de métodos contraceptivos no Brasil e no México. Em primeiro lugar, apresenta-se a proporção de mulheres em cada tipo de união e uma pequena caracterização dessas mulheres, como características por idade e escolaridade. A seguir, é feita a análise da prevalência contraceptiva e dos métodos conhecidos e utilizados pelas mulheres, segundo o tipo de união, identificando-se o percentual de mulheres que utilizam ou já utilizaram métodos, o número de métodos conhecidos e os principais tipos de métodos utilizados.

É importante esclarecer que, nas análises seguintes, foram consideradas apenas as mulheres que se declaram casadas formalmente ou em união consensual. A amostra mexicana é

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Informações sobre as pesquisas e download dos bancos de dados e questionários podem ser encontradas, para o Brasil, em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/pnds/index.php e http://bvsms.saude.gov.br/bvs/pnds/banco_dados.php e, para o México, em http://www.inegi.org.mx/sistemas/microdatos2/encuestas.aspx?c=15276&s=est (acessado em 29 de junho de 2012).

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composta de 52.176 mulheres casadas e unidas e a amostra brasileira de 9.989 mulheres em ambos os tipos de união. Para a classificação segundo o nível educacional, foram consideradas de baixa escolaridade, no Brasil, mulheres com até oito anos de estudo e, de alta escolaridade, aquelas com nove anos ou mais. No México, o baixo nível de escolaridade corresponde às mulheres com até nove anos de estudo, enquanto o alto nível é composto pelas mulheres com mais de nove anos de estudo.

3. Resultados

3.1. Algumas características das mulheres em cada tipo de união

Esta seção analisa as características das mulheres em cada tipo de união e verifica se o perfil encontrado condiz com o apontado pela literatura, especialmente no que diz respeito à coexistência de mulheres em uniões consensuais “tradicionais” e “modernas”. Segundo os estudos sobre nupcialidade na América Latina, há uma distinção relevante entre o perfil socioeconômico das mulheres que aderem a cada tipo de união na região. As mulheres que tradicionalmente adotam a união consensual possuem, em geral, menor idade média ao se unir do que aquelas que se casam formalmente (Quilodrán, 1999; Costa, 2004), menor nível de escolaridade (Quilodrán, 1999; Quilodrán, 2001) e a natureza da atividade que exercem no mercado de trabalho é muito mais precária e com menores salários do que aquelas exercidas por mulheres casadas (Quilodrán, 2001), o que as coloca em condições socioeconômicas menos favoráveis em relação às demais. Alguns estudos indicam a existência de perfis análogos ao descrito tanto no Brasil como no México, de modo que há grandes semelhanças entre as mulheres em cada tipo de união nos dois países e na América Latina (Greene e Rao, 1992; Quilodrán, 2001; Costa, 2004; García e Rojas, 2004).

Considerando-se as mulheres entre 15 e 49 anos, deve-se destacar que, no Brasil, 64% delas estavam em alguma forma de união. Dentre essas, 57,4% estavam casadas formalmente e 42,6% estavam em união consensual no momento da pesquisa. No México, essa proporção era de 57,2%, das quais 71,9% estavam casadas formalmente e 28,1% em união consensual no momento da pesquisa. Assim, nesse último país, a união consensual tem uma representatividade menor em comparação ao Brasil.

Os Gráficos 1 e 2 apresentam a distribuição das mulheres por idade e escolaridade, de acordo com o tipo de união em que se encontravam.

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Gráfico 1

Distribuição percentual por idade das mulheres segundo o tipo de união, com indicação da idade média, por nível de escolaridade. Brasil, 2006.

Baixa escolaridade Alta escolaridade

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 P r o p o r ç ã o Idade

Casadas (I.Média =36,8) Unidas (I.Média=31,0)

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 P r o p o r ç ã o Idade

Casadas (I.Média=33,9) Unidas (I.Média=29,8)

Fonte: PNDS, 2006.

Gráfico 2

Distribuição percentual por idade das mulheres segundo o tipo de união, com indicação da idade média, por nível de escolaridade. México, 2009.

Baixa escolaridade Alta escolaridade

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 P ro p o ã o Idade

Casadas (I.Média=35,9) Unidas (I.Média=30,8)

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 P ro p o ã o Idade

Casadas (I.Média=35,5) Unidas (I.Média=29,5)

Fonte: ENADID, 2009.

Os gráficos mostram uma clara diferenciação etária entre as mulheres em cada tipo de união. A estrutura das mulheres em união consensual é mais jovem em relação à distribuição das casadas, em ambos os países considerados, qualquer que seja o nível de educação; no caso do Brasil, o abismo é maior entre as mulheres de baixa escolaridade, onde a idade média para as mulheres em união consensual é cerca de seis anos menor que para aquelas em uniões formais. Já no caso do México, a diferença maior localiza-se entre as mulheres de maior escolaridade onde a

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idade média para as uniões consensuais é, exatamente, 6 anos a menos que para as formais. Há, sempre, maior proporção de mulheres nas idades mais jovens (até 29 anos) dentre aquelas que se declaram como unidas. Já nas idades mais avançadas, observa-se maior proporção de mulheres casadas. Esse fato vai de encontro aos achados da literatura sobre o assunto.

A proporção de mulheres vivendo em união consensual tende a declinar com a idade, enquanto a de casadas tende a aumentar, em ambos os países. Esse fato pode ser resultado da tendência de formalização da união consensual com a idade (Quilodrán, 1999). Outra razão para essa queda no percentual de mulheres em união consensual pode ser uma maior proporção de rupturas desse tipo de união, devido a sua maior instabilidade, como apontado na literatura (Castro Martín, 2001; Rodríguez, 2005). Observa-se, no entanto, uma tendência de arrefecimento da queda nas curvas das mulheres em união consensual com o aumento da idade entre as mulheres de alta escolaridade em ambos os países. Isso poderia significar a presença de uniões de ordem superior a um (segundas ou mais uniões), ou seja, a emergência da união consensual como uma opção de recasamento.

A Tabela 1 apresenta o perfil das mulheres segundo o nível de escolaridade.

Tabela 1

Percentual de mulheres por nível de escolaridade e número médio de anos de estudo, por tipo de união. Brasil, 2006 e México, 2009.

Brasil México Nível de educação Proporção (%) Número médio de anos de estudo Proporção (%) Número médio de anos de estudo Casadas Baixo 50,5 5,3 61,0 6,6 Alto 48,5 11,1 38,8 13,6 Total 99,0 8,5 99,8 9,5 Unidas Baixo 63,2 5,2 74,7 6,4 Alto 35,7 10,7 25,1 12,7 Total 98,9 7,4 99,8 8,2 Fonte: PNDS, 2006; ENADID, 2009.

De forma geral, ambos os tipos de união apresentaram grandes proporções de mulheres com baixa escolaridade, tanto no Brasil como no México, refletindo a composição da população total. Entretanto, essa proporção foi ainda maior entre as mulheres em união consensual. Os anos médios de estudo em cada tipo de união mostram que as mulheres casadas têm, em média, mais anos de estudo que aquelas em união consensual, confirmando os resultados encontrados na literatura. É importante enfatizar, por outro lado, que há uma proporção considerável de mulheres em união consensual com alto nível de escolaridade, especialmente no Brasil. Esse fato merece destaque por ser contrário ao perfil usual de mulheres unidas, as quais apresentam, em geral,

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menor escolaridade. Assim, isso poderia ser indicativo de um perfil diferenciado de mulheres aderindo às uniões consensuais, as quais teriam características próximas às mulheres que optam por coabitar em contextos que estariam vivenciando uma Segunda Transição Demográfica.

Através da análise do perfil de mulheres, o que se observa é que o perfil encontrado condiz, de forma geral, com o descrito na literatura. Entretanto, é importante notar que alguns achados apontam características distintas daquelas comumente aceitas como das mulheres em união consensual. Uma proporção considerável possui escolaridade elevada, o que poderia ser um indício do novo perfil de mulheres adotando uniões não formalizadas, tal como considerado neste trabalho, constituído por mulheres de melhores condições socioeconômicas. A literatura sobre o assunto também aponta para a existência desse perfil diferenciado dentro da união consensual. Quilodrán (2001) constata um aumento na proporção de uniões informais, tanto no Brasil como no México, principalmente entre mulheres mais escolarizadas. García e Rojas (2004) destacam que ainda persiste, na maioria da população, uniões consensuais do tipo tradicional; não obstante, parece estar crescendo a convivência de dois tipos de união consensual. Essa coexistência, no entanto, parece estar em estágio mais avançado no Brasil, em relação ao México. Nesse sentido, as evidências apresentadas apontam para dois perfis de união consensual nesses países.

3.2. Prevalência, conhecimento e tipos de métodos contraceptivos utilizados no Brasil e no México

Nesta seção, analisa-se o uso, o conhecimento e os tipos de contraceptivos utilizados pelas mulheres entre 15 e 49 anos, de acordo com o tipo de união em que elas se encontravam no momento da pesquisa. O uso e o conhecimento de métodos contraceptivos estão relacionados ao direito de decidir quando e quantos filhos ter, de forma a implementar suas preferências reprodutivas. Nesse sentido, seu entendimento é de grande importância para compreender outros fatores relacionados, como a queda da fecundidade, gravidezes indesejadas e a demanda insatisfeita por filhos.

A Tabela 2 mostra o número médio de métodos conhecidos4 pelas mulheres, a proporção delas que já utilizaram método contraceptivo alguma vez e a proporção que está utilizando atualmente.

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Para mensurar o conhecimento sobre métodos contraceptivos, foi feito uma espécie de contador de métodos, computando pontos se a mulher conhecia determinado método. Após a soma desses pontos, foi realizada a média por tipo de união e escolaridade. As pesquisas de ambos os países têm uma lista de quatorze métodos contraceptivos, incluindo a categoria outros.

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Tabela 2

Número médio de métodos conhecidos, percentual de mulheres que já utilizou método contraceptivo alguma vez e percentual que utiliza atualmente, por nível de escolaridade e

tipo de união. Brasil, 2006 e México, 2009.

Brasil México

Casadas Unidas Casadas Unidas

Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta

Média de métodos conhecidos 9,4 11,4 9,3 11,0 9,4 11,7 8,8 11,6 Usou 95,8 99,3 97,1 99,1 84,5 89,3 81,2 86,6 Usa 82,6 83,4 76,6 79,0 73,4 77,2 65,3 69,9 Amostra 2.891 2.773 2.685 1.516 22.781 14.777 10.769 3.730 Fonte: PNDS, 2006; ENADID, 2009.

O conhecimento de métodos contraceptivos é de grande importância; saber sobre eles favorece a escolha de um método que seja mais adequado para controlar a fecundidade quando esse controle é desejado. De forma geral, a média de métodos conhecidos foi bastante elevada e semelhante nos dois países. Não há grandes diferenças por tipo de união em relação ao conhecimento de métodos, mas a escolaridade se mostra como um relevante diferenciador. As mulheres de baixa escolaridade, especialmente as unidas mexicanas, são aquelas que apresentam o menor número médio de métodos conhecidos.

No que diz respeito ao uso de métodos, observa-se que a maioria das mulheres já utilizou método alguma vez para evitar uma gravidez. A prevalência contraceptiva é maior no Brasil, em comparação ao México. No Brasil, essa proporção está próxima de 100%. O tipo de união diferencia as mulheres quanto ao uso de métodos, nos dois países. Aquelas que estão unidas apresentam menor uso de métodos do que as casadas, sendo que as de baixa escolaridade apresentam um percentual de uso ainda menor. As mulheres casadas de alta escolaridade, tanto no Brasil como no México, são aquelas que apresentam maior uso, enquanto as unidas de baixa escolaridade são as que menos usam métodos. São essas, portanto, que tem maiores e menores chances, respectivamente, de conseguirem controlar sua fecundidade.

O tipo de método utilizado também é relevante na análise da implementação das preferências reprodutivas, pois sua eficácia está relacionada ao fato dele ser um método moderno ou tradicional, definitivo ou não, etc. O Gráfico 3 apresenta o percentual de mulheres utilizando cada tipo de método5

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Os métodos modernos que apresentaram pequena proporção de uso (até 5% de mulheres utilizando) foram agregados em uma única categoria, outros métodos modernos. No Brasil, esses métodos correspondiam ao DIU, implantes, camisinha feminina, diafragma, creme/óvulo, pílula do dia seguinte e outros métodos contraceptivos. No

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Gráfico 3

Método contraceptivo que a mulher usa atualmente, por escolaridade e tipo de união a) Brasil, 2006 Casadas Unidas 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

Est. Fem. Est. Masc. Pílula Camis. Masc. Injetáveis Outros met. Mod. Met. Trad. P ro p o ã o Tipo de Método Baixa Alta 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

Est. Fem. Est. Masc. Pílula Camis. Masc. Injetáveis Outros met. Mod. Met. Trad. P ro p o ã o Tipo de Método Baixa Alta Fonte: PNDS, 2006. b) México, 2009 Casadas Unidas 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

Est. Fem. Camis. Masc.

Pílula DIU Injetáveis Outros met. Mod. Met. Trad. P ro p o ã o Tipo de Método Baixa Alta 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

Est. Fem. Camis. Masc.

Pílula DIU Injetáveis Outros met. Mod. Met. Trad. P ro p o ã o Tipo de Método Baixa Alta Fonte: ENADID, 2009.

No Brasil, a esterilização feminina é o principal método utilizado pelas mulheres nos dois tipos de união, exceto pelas unidas de alta escolaridade. As proporções de uso desse método são superiores entre as mulheres casadas, com um pequeno diferencial por escolaridade. O segundo método mais utilizado por essas mulheres é a pílula anticoncepcional. Seu uso, no entanto, é México, correspondiam à esterilização masculina, implante, adesivo, camisinha feminina, creme/óvulo, pílula do dia seguinte e outros métodos contraceptivos.

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consideravelmente maior entre as mulheres unidas. A camisinha masculina também aparece como um dos métodos mais utilizados entre as brasileiras.

Chama atenção o caso das mulheres unidas de alta escolaridade, cujo padrão de métodos utilizados difere daquele observado entre as demais mulheres. A esterilização aparece apenas como o terceiro tipo de método mais utilizado, com uma prevalência de 16,4%. A pílula é o principal método utilizado por essas mulheres, seguida da camisinha. Esse fato merece destaque por se opor à prevalência da esterilização apontada pela literatura e observada para as mulheres casadas de alta e baixa escolaridade e para as unidas de baixa escolaridade. É importante se pesquisar porque entre elas a prevalência é tão baixa. Uma hipótese é que essas mulheres teriam maiores opções de contracepção em relação às outras mulheres. Ademais, elas aparentam ter comportamento semelhante às mulheres européias, em que os contraceptivos orais, como a pílula, apresentam maior prevalência de uso (Skouby, 2004).

Outro fator que pode estar influenciando esse resultado é o fato das mulheres unidas serem mais jovens do que as casadas. A esterilização é mais comum entre mulheres mais velhas (Perpétuo e Wajnman, 1998; Perpétuo e Wong, 2009); dessa forma, é esperado que haja uma maior proporção de mulheres casadas esterilizadas, uma vez que elas apresentam, em média, uma idade mais elevada. Entretanto, sua elevada prevalência entre as mulheres unidas de baixa escolaridade, as quais também seriam mais jovens, indica que esse achado deve ser melhor estudado para se compreender em que medida se trataria de um maior empoderamento das mulheres em união consensual de alta escolaridade no que diz respeito ao acesso e uso de diferentes opções de contracepção.

No México, o cenário observado apresenta algumas diferenças em relação ao Brasil. A esterilização feminina também é o principal método utilizado pelas mulheres nos dois tipos de união, em ambos os níveis de escolaridade analisados. A prevalência de uso da esterilização feminina, no entanto, é maior no México do que no Brasil. A proporção de uso é consideravelmente maior entre as mulheres casadas do que entre as unidas. Ela é menor entre as unidas de alta escolaridade, apesar de esse ainda ser o método mais usado por elas. Assim como no caso do Brasil, esse resultado pode estar influenciado pelo efeito de composição por idade, mas pode também representar maior acesso dessas mulheres aos diversos tipos de métodos – o que indicaria um perfil mais moderno das mulheres em uniões não formalizadas de alta escolaridade em relação às demais.

O segundo método mais utilizado no México é o DIU, principalmente entre as mulheres unidas. A proporção de mulheres utilizando esse método é maior entre aquelas de alta escolaridade, em relação às de baixa escolaridade, nos dois tipos de união. A camisinha masculina é o terceiro tipo de método mais utilizado pelas mulheres mexicanas, com maior proporção entre as unidas e entre as mulheres de alta escolaridade nos dois tipos de união. A pílula é um método pouco utilizado nesse país, ao contrário do que ocorre no Brasil.

O uso de métodos tradicionais, como a tabelinha e o coito interrompido, é pequeno, apesar de uma proporção relevante de mulheres optar por esses métodos. No Brasil, essa proporção é maior entre as unidas de alta escolaridade e entre as casadas de baixa escolaridade.

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No México, o uso desse tipo de método é maior entre as mulheres casadas de alta e baixa escolaridade.

As diferenças observadas na estrutura etária das mulheres em cada tipo de união podem influenciar os resultados anteriormente. Nesse sentido, é importante se analisar o uso de métodos segundo a idade da mulher visando identificar padrões etários que possam auxiliar na compreensão do perfil contraceptivo de cada país. O Gráfico 4 apresenta, para cada um dos três principais tipos de métodos, a proporção de mulheres que os utilizam em cada faixa etária, segundo o tipo de união e a escolaridade, para Brasil e México.

Gráfico 4

Proporção de mulheres utilizando cada um dos principais métodos contraceptivos, por escolaridade, tipo de união e idade

a) Brasil, 2006 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0

Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Esterilização Pílula Preservativo Esterilização Pílula Preservativo

Casadas Unidas P ro p o rçã o 15-24 25-34 35-49 Fonte: PNDS, 2006.

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15 b) México, 2009 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0

Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Esterilização Preservativo DIU Esterilização Preservativo DIU

Casadas Unidas P ro p o rçã o 15-24 25-34 35-49 Fonte: ENADID, 2009.

O que se observa, para os dois países, é uma maior prevalência de esterilização entre as mulheres mais velhas. Isso era esperado por se tratar de mulheres que se encontram próximas do final do seu período reprodutivo e, em geral, já tem um número de filhos que consideram como suficiente e, portanto, optam por um método definitivo. O uso da esterilização é maior entre as casadas, tanto no Brasil como no México. Chama atenção, por outro lado, o fato de entre as mulheres brasileiras unidas de alta escolaridade o percentual de esterilizadas nas faixas etárias entre 35 e 49 anos não alcançar 50%, enquanto entre as casadas com qualquer escolaridade ele chega a quase 80% - o que não cocorre no México. Esse achado poderia ser indicativo de que essas mulheres possuiriam maior acesso a outros tipos de métodos.

Em relação aos demais métodos considerados nos gráficos, no México, há uma clara distinção entre a utilização de métodos por idade e tipo de união e pouco diferenciação em relação à escolaridade. Entre as casadas, o uso de preservativo masculino e DIU entre as mulheres com idade entre 15 e 24 anos é baixo, enquanto entre as unidas na mesma faixa de idade observa-se uma elevada prevalência. Assim, entre as mulheres casadas que usam preservativo ou que usam DIU, a maior proporção encontra-se nas idades entre 25 e 34 anos, com proporção significativa de mulheres mais velhas utilizando-os. Já entre as unidas, das mulheres que usam preservativo, a maior proporção tem entre 15 e 24 anos e há pequena diferença no uso de DIU entre as faixas etárias de 15 a 24 anos e 25 a 34 anos. É importante destacar que, apesar de não ser definitivo, o DIU é um método de longa durabilidade, o que afeta as decisões quanto ao seu uso.

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No Brasil, também há diferenças marcantes no uso de contraceptivos segundo o tipo de união e a idade, enquanto, por escolaridade, existem poucas diferenças. Entre as unidas, há maior proporção de mulheres entre 15 e 24 anos utilizando pílula e preservativo masculino em relação às casadas. Merece destaque, entre as casadas que usam preservativo, a elevada proporção de uso entre mulheres com 35 a 49 anos, principalmente entre as de baixa escolaridade. Entre as unidas, o uso desse tipo de método é maior entre as mais jovens. Entre as mulheres que utilizam a pílula, tanto entre as casadas como entre as unidas há maior prevalência entre as mais jovens – exceto pelas casadas de baixa escolaridade.

4. Considerações Finais

Este trabalho analisou a prevalência contraceptiva e os principais tipos de métodos conhecidos e utilizados pelas mulheres casadas formalmente e em união consensual. A análise segundo o tipo de união, tomando-se como referência níveis de educação, obedece à necessidade de identificar um novo perfil de mulheres adotando a união consensual, o qual seria semelhante ao dos países que vivenciariam a chamada Segunda Transição Demográfica e contrário ao perfil de mulheres que tradicionalmente adotam uniões consensuais na América Latina. Brasil e México foram selecionados para essa análise por serem países em avançado processo de transição da fecundidade, com nível abaixo da reposição, porém com diferenças importantes no que diz respeito à cultura, à religião e às políticas de planejamento familiar implementadas.

A descrição estatística das variáveis relacionadas ao perfil das mulheres em cada tipo de união mostrou que as características das mulheres unidas, tanto no Brasil como no México, se assemelham àquelas encontradas na literatura para a América Latina. Entretanto, alguns achados apontam características distintas àquelas comumente aceitas como das mulheres em união consensual. Uma proporção considerável possui escolaridade elevada, o que poderia ser um indício do novo perfil de mulheres adotando uniões não formalizadas, constituído por mulheres de melhores condições socioeconômicas. Como o aumento na proporção de uniões informais, tanto no Brasil como no México, ocorreu principalmente entre mulheres mais escolarizadas, é possível pensar que, entre uma parcela mais favorecida socioeconomicamente, estaria se espraiando orientações e valores modernos os quais trouxeram uma nova forma de união distinta das consensuais tradicionais da região. Entre a maior parte da população que adota uniões consensuais, no entanto, ainda persistem aquelas do tipo tradicional; não obstante, parece estar crescendo a convivência de dois tipos de união consensual. Essa coexistência, no entanto, parece estar em estágio mais avançado no Brasil, em relação ao México. Assim, poderia-se dizer da existência de dois perfis opostos de união consensual.

Os resultados encontrados mostram que o conhecimento de métodos é elevado nos dois países analisados. Entretanto, não se pode mensurar a qualidade desse conhecimento, ou seja, em que medida as mulheres conhecem de fato como usar cada tipo de método, sua eficácia, efeitos colaterais etc., ou se somente ouviram falar sobre determinado método. Nesse último caso, é possível que a escolha do método ocorra diante de uma gama restrita de opções, podendo, muitas vezes, não se adequar às necessidades da mulher. O conhecimento sobre o método também está

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relacionado ao uso correto do mesmo, de forma que a falta de conhecimento pode conduzir a erros de utilização. O uso de métodos contraceptivos também foi elevado no Brasil e no México. Da mesma forma, uma proporção de uso elevada não implica que todas as mulheres conseguirão evitar uma gravidez, uma vez que esse uso pode ser incorreto e ocasionar falhas contraceptivas e gravidezes indesejadas, por exemplo.

Observou-se, ainda, que as mulheres de alta escolaridade em uniões não formalizadas apresentam maior tendência ao uso de métodos não definitivos. Tanto no Brasil como no México, essas mulheres apresentaram menor uso de esterilização feminina e maior uso de pílula (entre as brasileiras) e DIU (entre as mexicanas). Esse fato pode ser indicativo de maior empoderamento dessas mulheres, no que concerne ao maior acesso e conhecimento de métodos alternativos aos métodos definitivos. Essas mulheres possuiriam, portanto, um perfil mais moderno, semelhante ao das mulheres de contextos de Segunda Transição Demográfica, o que lhes permitiria um planejamento mais adequado e satisfatório de sua fecundidade.

A alta prevalência de esterilização feminina chama atenção nos dois países. Por se tratar de um método irreversível, ou seja, que não permite ter mais filhos, é imprescindível que as mulheres tenham informações sobre esse fato e façam uma escolha consciente sobre sua adoção. Conforme aponta a literatura, muitas mulheres que realizaram a esterilização o fizeram tanto pela falta de informação e acesso a outros métodos quanto por influência de atores chave, como médicos e políticos. Assim, é muito provável que parte das mulheres que realizou a esterilização o fez por falta de opção. Segundo Perpétuo e Aguirre (1998), nos grupos socialmente mais favorecidos se observa uma tendência de arrefecimento no uso da esterilização feminina, provavelmente porque eles teriam maior conhecimento e acesso a métodos alternativos. É possível, portanto, que esse comportamento se espalhe para os setores da população, diminuindo a prevalência da esterilização – a qual ainda permanecerá como método mais utilizado devido ao efeito acumulação.

Os diferenciais por idade no uso de contracepção complementam a análise anterior e são importantes devido às diferenças na estrutura etária das mulheres em cada tipo de união. É notória a maior prevalência da esterilização entre as mulheres mais velhas, em ambos os países e tipos de união. Já entre aquelas que não utilizam método definitivo, observa-se mulheres mais jovem utilizando a pílula e o preservativo masculino. O fato de poucas mulheres jovens recorrerem à esterilização é satisfatório no sentido de que elas ainda não terminaram seu ciclo reprodutivo, de modo que o uso de um método definitivo poderia impedi-las de ter um número desejado de filhos.

Nesse sentido, os tipos de métodos utilizados pelas mulheres estão relacionados, em grande medida, às políticas passadas de planejamento familiar, ao contexto em que se deu o início da prática contraceptiva em cada país e aos atores que atuaram de forma decisiva na definição dos métodos a serem usados. Fica clara a presença de uma “path dependence” (Potter, 1999), em que as decisões passadas sobre contracepção têm influência ainda hoje, fazendo com que o mix contraceptivo usado atualmente varie pouco em relação ao que a literatura apontou sobre a história de contracepção de Brasil e México.

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O conhecimento e o uso de métodos contraceptivos estão inseridos no marco dos direitos reprodutivos, conforme estabelecido nas recomendações da Conferência do Cairo de 1994, a qual determina que todos os indivíduos devem possuir amplo acesso e informação aos meios de planejamento da fecundidade. O elevado conhecimento sobre métodos e a grande proporção de uso indicam que se estaria no caminho para garantir esse direito. No entanto, a falta de informações sobre a qualidade desse conhecimento e uso deixa margens para se questionar a extensão desse direito. A existência de mulheres que apresentam, na América Latina, uma necessidade não suprida por métodos contraceptivos, bem como a considerável proporção de mulheres com fecundidade indesejada e mais filhos do que o desejado, indicam que muitas mulheres não têm acesso ou não sabem usar adequadamente os métodos. O fato de existirem importantes diferenciais entre as mulheres em cada tipo de união, segundo a escolaridade, mostra que ainda existem desigualdades no uso e no acesso a diferentes tipos de métodos. Tais fatos ressaltam, dessa maneira, a necessidade de políticas de planejamento mais eficientes e que sejam capazes de atingir os setores com demanda insatisfeita por contracepção, garantindo, assim, o acesso universal aos direitos reprodutivos.

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