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Indígenas residentes na área urbana da Região Metropolitana do Rio de Janeiro segundo o Censo Demográfico 2010

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Academic year: 2021

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Indígenas residentes na área urbana da RMRJ segundo o Censo Demográfico 2010

Resumo

Esse trabalho tem por objetivo investigar o local de residência e as características da população indígena da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em comparação as demais ‘cor ou raça’. Para tal foram realizadas análises descritivas e espaciais utilizando covariáveis sociodemográficas. Verificou-se que os indígenas e os brancos residiram majoritariamente (nas mesmas localidades) do município do Rio de Janeiro enquanto os pardos e pretos residiam nos municípios do Rio de Janeiro e naqueles da Baixada. Ambas as distribuições foram confirmadas pelas análises espaciais. Em 75% dos setores censitários da região metropolitana não residiam indígenas. Em 98,6% dos setores com indígena residiam menos que 20 indígenas, sendo que em aproximadamente 20% residia um indígena. Em relação aos demais segmentos populacionais, os indígenas possuíam proporcionalmente menos indivíduos entre zero e 19 anos e mais acima de 40 anos. A composição etária dos indígenas que residiam em setores com um indígena diferiu marcadamente daquela das demais ‘cor ou raça’ e dos demais recortes analisados. A distribuição espacial da população indígena considerando os setores com três ou mais indígenas revelou uma redução na densidade em determinadas localidades do município do Rio de Janeiro e Niterói. Este estudo contribuiu para um maior e melhor conhecimento dos indígenas residentes em área urbana no Brasil. Os indígenas da região metropolitana do Rio de Janeiro, em comparação com as outras categorias de ‘cor ou raça’, eram mais velhos, residiam em setores com poucos indígenas, e em locais onde residem, majoritariamente e historicamente, os brancos. É importante que sejam realizados estudos desse tipo em outras áreas urbanas do país para verificar a existência de um padrão quanto às características sociodemográficas e espaciais dos indígenas. Da mesma forma, é imprescindível que os dados do Censo 2020 permitam verificar o padrão dessa população temporalmente.

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Introdução

No Brasil, assim como na América Latina, uma parcela da população indígena reside em áreas classificadas como urbana. Os três últimos recenseamentos do Brasil (1991, 2000 e 2010) quantificaram, dentre outros aspectos, os indígenas residentes em áreas urbanas: 23,9; 52,2 e 39,2%, respectivamente (IBGE, 2005, 2012a)⁠. Nesse contexto, um dos desafios apontados por CARDINAL (2006) para caracterizar os indígenas urbanos estão o desenvolvimento de indicadores e de métodos para avaliar as condições de vida nesse contexto.

A história da ocupação do território do estado do Rio de Janeiro resultou na maior concentração populacional, comercial e econômica no município do Rio de Janeiro e naqueles mais próximos (DAVIDOVICH, 2010). Como resultado, em 1974 se estabeleceu a Região Metropolitana do Rio de Janeiro (MELLO; MELLO; ORRICO F, 2016)⁠. Em 2010, a população do estado do Rio de Janeiro era de 15.989.929 habitantes, sendo que a Região Metropolitana do Rio de Janeiro concentrava 75% da população (IBGE, 2012b; RIBEIRO et al., 2012). A importância da região metropolitana para o país permanece, tanto pelo seu desempenho econômico, como pelo quantitativo populacional. Contudo, coexiste em seu território expressivas desigualdades socioeconômicas (AZEVEDO; FERNANDES, 2014; RIBEIRO; SILVA; RODRIGUES, 2011).

De acordo com a documentação histórica relativa ao Estado entre 1818 e 1844, o total de indígenas estaria entre 1.500 a 5.615. Contudo, considera-se que, de um ponto de vista populacional, tais dados devem ser interpretados com cautela (SILVA, 2016)⁠. O recenseamento de 1872, o primeiro com abrangência nacional, não trouxe informações sobre os indígenas. Este segmento populacional foi incluído como uma categoria na opção de resposta ao quesito sobre ‘cor ou raça’ sistematicamente a partir de 1991 (IBGE, 2005, 2012d; OSORIO, 2003)⁠.

Dessa forma, diante da expressiva da importância da região para o país, da presença histórica de população indígena e dos desafios de compreender tal segmento populacional no contexto urbano atual, o objetivo desse estudo foi

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verificar o local de residência e as características da população indígena, em comparação as demais ‘cor ou raça’, da área urbana da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Métodos

Trata-se de um estudo baseado nos dados do Censo Demográfico 2010. Para este estudo foram usados os dados do questionário do universo agregados por setor censitário. Desde o Censo 1991 a classificação no quesito “cor ou raça” inclui cinco categorias: branca, preta, parda, amarela e indígena (IBGE, 2005, 2012b)⁠.

As análises descritivas deste estudo foram realizadas para 18.620 setores censitários, do total de 19.507 da região metropolitana. Foram excluídos setores classificados como rural, como especiais, com informações omitidas pelo IBGE (menos de cinco domicílios) e com menos de 30 domicílios e 30 indivíduos. Ressalta-se que os 19 municípios que compunham a região metropolitana, em 2010, eram: Rio de janeiro, Itaguaí, Seropédica, Japeri, Queimados, Nova Iguaçu, Mesquita, Belford Roxo, Nilópolis, São João de Meriti, Duque de Caxias, Magé, Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá, Maricá, Guapimirim e Paracambi.

As variáveis ‘cor ou raça’ (com exceção da categoria amarela, excluída de algumas análises do estudo), sexo, idade (em anos), tipo de setor (comum ou aglomerado subnormal), município e setor censitário de residência foram utilizadas nas análises descritivas.

Para as análises espaciais empregou-se a estimativa de Kernel, com os centroides dos setores para analisar o padrão espacial do percentual da população por ‘cor ou raça’ dos 4.747 setores com residentes indígenas. Foi elaborado também um Kernel do percentual da população indígena considerando todos os indígenas e os setores com 3 ou mais indígenas. Posteriormente, foi realizada a razão de Kernel entre o percentual da população de uma determinada categoria de ‘cor ou raça’ dividido pelo percentual da população de outra categoria de ‘cor ou raça’.

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A maioria dos municípios da região metropolitana teve a população classificada dentre as cinco opções ‘cor ou raça’ utilizadas no Censo 2010, sendo os pardos e brancos predominantes, e os amarelos e indígenas, minoria. O município do Rio de Janeiro concentrou a maior população da região metropolitana (53,46%) e Tanguá, a menor (0,23%).

A população parda, em comparação às demais cor ou raça, foi mais expressiva em 12 dos 19 municípios. Os brancos, por sua vez, foram maioria nos municípios de Niterói, Maricá, e Rio de Janeiro. Os 11.857 indígenas (0,11% da população) foram mais expressivos, com percentuais entre 0,14 e 0,11%, nos municípios de Itaguaí, Niterói, Seropédica, Rio de Janeiro e Magé. Contudo, considerando somente este segmento populacional, a maioria residia no município do Rio de Janeiro (56,93%), seguido pelos municípios de São Gonçalo Duque de Caxias, Niterói e Nova Iguaçu (entre 7,56% e 5,47%).

O total populacional por ‘cor ou raça’ nos setores mostrou que os brancos, pretos e pardos residiam majoritariamente nos setores com população entre 100 e 499 indivíduos da mesma ‘cor ou raça’. Diferentemente, os indígenas estavam presentes em somente 25% dos setores da região metropolitana sendo que 60,12% deles residiam em setores contendo de 1 a 4 indígenas.

A composição relativa por idade e sexo da população segundo ‘cor ou raça’ evidenciou uma base da pirâmide mais estreita para os indígenas e mais larga para os pardos. Os indígenas apresentaram maior percentual de população, em comparação às demais categorias, a partir da faixa de 30-39 anos para o sexo feminino e 40-49 anos para o masculino. Destaca-se ainda que o percentual da população indígena masculina a partir dos 60 anos se aproximou da população branca.

Verificam-se expressivas diferenças no perfil por sexo e idade dos indígenas considerando os recortes aplicados. Os setores com um indígena possuem uma população proporcionalmente mais velha, acima de 30 anos no sexo masculino e, no feminino acima de 40 anos, com destaque para aqueles entre 50-59 anos. Em relação às idades mais jovens, os setores com um indígena apresentaram o percentual de indígenas entre zero e 29 anos consideravelmente menor quando comparado aos demais recortes analisados.

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Por outro lado, chama atenção a semelhança entre o formato da pirâmide nos demais recortes.

A análise espacial revelou pelos mapas Kernel que a intensidade dos brancos e indígenas foi mais alta e se concentrou nos setores de determinadas localidades do município do Rio de Janeiro e de Niterói. No município do Rio de Janeiro há localidades com setores cuja quantidade de indígenas era, predominantemente, de um ou dois indígenas, uma vez que a densidade diminuiu em relação aos setores com pelo menos três indígenas.

A concentração de indígenas e brancos em determinadas localidades do município do Rio de Janeiro se confirmou por meio da razão entre os Kernel, uma vez que nos setores destes locais não houve domínio de nenhuma destas duas ‘cor ou raça’. Para as demais razões, em determinadas localidades do município do Rio e em alguns setores de Niterói a concentração de indígenas e dos brancos superou a de pardos e pretos.

Considerações finais

Este estudo apresenta resultados relevantes para o conhecimento de características dos indígenas residentes em área urbana. Observou-se que, na região metropolitana do Rio de Janeiro, os indígenas (uma pequena da parcela da população) residiam majoritariamente no município de Rio de Janeiro, se concentrando em determinadas localidades. Os resultados mostraram ainda que essa população era mais velha, em comparação com as demais ‘cor ou raça’ e residia em locais onde residiam, majoritariamente, os brancos. Adicionalmente, verificou-se, nessas localidades, que em uma grande parcela de setores residia somente um indígena, que por sua vez apresentou um perfil diferente em vários aspectos em relação aos demais setores com indígenas. A impossibilidade de comparar o local de residência e as características sociodemográficas e econômica com os censos anteriores é uma limitação do estudo. Há a necessidade de desenvolvimento de estudos similares em outras regiões metropolitanas de modo a confirmar ou não se os padrões observados no Rio de Janeiro quanto à distribuição espacial dos indígenas são particulares ao contexto investigado ou recorrentes nas grandes aglomerações urbanas no país.

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Referências bibliográficas

AZEVEDO, S.; FERNANDES, J. DE S. Polos regionais do Norte Fluminense e a Região Metropolitana: cultura política em perspectiva comparada. Caderno Metropolis, v. 16, n. 31, p. 197–219, 2014.

CARDINAL, N. The exclusive city: Identifying, measuring, and drawing attention to Aboriginal and Indigenous experiences in an urban context. Cities, v. 23, n. 3, p. 217–228, 2006.

DAVIDOVICH, F. Estado do Rio de Janeiro: o urbano metropolitano. Hipóteses e questões. Geo UERJ, v. 21, n. 2, p. 23, 2010.

IBGE. Tendências demográficas: Uma análise dos indígenas com base nos resultados da amostra dos Censos Demográficos 1991 e 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2005.

IBGE. Os indígenas no Censo Demográfico 2010 primeiras considerações com base no quesito cor ou raça, 2012a.

IBGE. Censo Demográfico 2010: Características gerais dos indígenas (resultados do universo). Rio de Janeiro: IBGE, 2012b.

MELLO, J. A. V. B.; MELLO, A. J. R.; ORRICO F, R. D. Centralidade basada em deslocamentos e seus reflexos sobre a estrutura monopolicentrica da região metropolitana do Rio de Janeiro. Investigaciones Geograficas, v. 89, n. 89, p. 74–89, 2016.

OSORIO, R. G. O sistema classificatório de “cor ou raça” do IBGE. Brasília: IPEA, 2003.

RIBEIRO, L. C. et al. Os Estados e as Regiões Metropolitanas constitutivas do Observatório das Metrópoles no Censo 2010. Rio de Janeiro: Observatório das Metrópoles, 2012.

RIBEIRO, L. C. DE Q.; SILVA, É. T. DA; RODRIGUES, J. M. METRÓPOLES BRASILEIRAS : diversificação, concentração e dispersão. Revista Paranaense de Desenvolvimento, v. 120, p. 177–207, 2011.

SILVA, A. P. DA. O Rio de Janeiro continua índio : território do protagonismo e da diplomacia indígena no século XIX. Rio de Janeiro: Tese (Doutorado em Memória Social), 2016.

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