MAURÍCIO
JOSÉ
SIEWERDT
_DA CULTURA
COMO
MEDIAÇÃO
À MEDIAÇÃO
COMO
CULTURA
1>OLÍT1CAz
UM
ESTUDO DE RECEPÇÃO
COM
EDUCADORES DO
MST
FRENTE
AOS
RECURSOS
AUDIOVTSUAJS
Dissertação apresentada
como
requisito Parcial àObtenção
do
grau
de
Mestre.Curso
de
Pós-Graduação
em
Educação,
Centro de
Ciênciasda
Educação,
Universidade
Federalde
Santa Catarina. Orientador:Prof
Dr.Reinaldo
Matias
FleuriILHA
DE SANTA
CATARINA
É
UNIVERSIDADE
FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
DE
CIÊNCIAS
DA
EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE
Pós-GRADUAÇÃO
CURSO
DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“D4
CULTURA
COMO
MEDIA ÇÃ
O
À_MED1A
ÇÃ O
COMO
CULTURA
POLITICA:
UM
ESTUDO
DE
RECEPÇAO
COM
EDUCADORES
DO MST
FRENTE A
OS RECURSOS
A
UDIO
VISUAIS”
Dissertação
submetida
ao
Colegiado
do
Curso de Mestrado
em
Educação do
Centro
de
Ciências
da
Educação
em
cumprimento
parcialpara
a
obtenção do
titulode Mestre
em
Educação.
APROVADO
PELA
COMISSÃO
EXAMINADORA
em
15/06/2000
Dr.
Reinaldo Matias Fleuri/UFSC-Orientador
Dra. Gilka
ElviraPonzi
Girardello/UFSC-Examinadora
Dra.
Marisa
CristinaVorraber
Costa/RS-Examinadora
Dr.
Carlos
Eduardo
dos Reis/UFSC-Examinador
Dr.
Paulo Sérgio
Tumolo/UFSC-Suplente
Mw
MQ,
O
z
Élçülz/
C:/ze-sf-
raEdel
Ern
Coordenadora
PPGE
Á/
f`
J,
mA,/Q
-,¿//
I `Maurício
José
Aiewerdr
fiff
R‹
,
fr'
“Í
Florianópolis,Santa
Catarina,junho
de
2000.
...eu
sempre
digo, falo para eles: Ó, televisão écomo
se fossecomer
um
peixe.O
peixe,você
tira as
escamas, você
limpao
peixe.Aquilo
que não
se aproveitavocê
tira fora,você
tirao
espinho e
come
a carne. Televisãotambém
eisso.
E
como
sevocê
fossecomer
um
peixe.Você
não
vaipoder
engolirum
peixe inteiro.Você
só aproveita aquiloque
dá. Prof. Adílioda
SilvaPaz
I
AGRADECIMENTOS
À
Maria Luiza
eao Tiago
pelacompreensão,
peloamor
e pela força.À
Teresa
pela existênciaque
afirma
minha
existência,com
muito
amor.Ao
Wily, àAlma
eao Manfred, por serem
os primeiros ame
estimularem
o
gosto pelaleitura; muitas saudades.
Ao
Cezar
e à Sonia pelo estímulo.A
Telma
por
acreditarno
belo.Ao
Reinaldo,meu
orientador, porme
provocar
tanto;um
privilégio.À
Gilka, co-olrientadora, por ensinar a endurecersem
perder a ternura.A
Aglair, pela luz.A
Bel, pelaoportunidade de
aprender tanto.Ao
Sérgio,Josefina
e Adolfo, porum
pedacinho de cada
um
de vocês
aqui, saudades.Ao
Reginaldo, pelasmadrugadas
na
impressora.Ao
Elton e a Cris, pelas catarses.À
Vera,médica
humanista, coisa rara,por
me
alertar das armadilhas.A
Liliane,V
idalcir, Clésio,Geruse
e Eliane,companheiros de
jornada...Aos
professoresda
Pós-Graduação,
porbalançarem
minhas
certezas.Aos
professores das escolas, porme
ensinarem
esperançar.Aos
companheiros
do
MST,
pela recuperaçãodos
sonhos...i
RESUMO
A
presente pesquisa objetiva explicitar as bases teóricas e metodológicas.como
também
os resultadosde
um
estudode
recepção,que
foi realizado junto aum
grupo de
professores
de
três escolas articuladascom
o
Movimento
dos Trabalhadores
RuraisSem
Terra-
MST.
Este estudo tevecomo
finalidade procurar entenderque
mediações
são re-correntes para estes professores, diante
da
necessidadede
seleção criticados
recursosda
linguagem
audiovisual (televisão e vídeo), para a sua utilizaçãono
contextodo espaço
es- colar. Para tamtoprocuramos
localizar,na formação
cultural destes professores, atravésde
suas historias
de
vida e nas suas posturas diante das mídias,o
lugaronde
se materializam as mediações.E
entendendo que
cumpre
àEducação
Popular
aaproximação
corn asnovas
abordagens no
campo
das teoriasda comunicação,
especialmente osEstudos de Recepção,
propomos
a realizaçãode
uma
interface entre estas linhasde
pesquisa.Como
resultado desse trabalho, foiobservado
que
aEducação
Popularpode
encon-
trar
uma
significativa parceria investigativacom
aModerna
Tradição LatinoAmericana
dos Estudos de Recepção.
E,ao
investigarmos os professores atravésda
categoria“media-
ção”,
pudemos
nos
dar contados
sentidos edos
modos
como
os professores significam as mídias. Estasmediações,
produtoda
experiência cultural e política destes professores, semanifestam na forma
do
engajamento
em
tomo
de
um
projetode
rupturacom
o
discursohegemônico,
na direçãoda
construçãode
uma
culturaprofundamente
marcada
pelo politi-co.
ABSTRACT
The
objectiveof
the present study is tomake
explicit the theoreticaland
methodo-
logical
grounds
as well as the resultsof
a studyon
receptionwhich
was
carried out with agroup of
teachersof
three schools articulated with theMovimento
dos Trabalhadores
Ru-
rais
Sem
Terra -MST
(Landless RuralWorkers Movement).
This studyaimed
at investi-gating
what
mediations are recurrent for these teachers, facedwith
theneed
for a criticalselection
of
the audiovisuallanguage
resources (videoand
television), for its use in the school setting.For
such,we
sought to locate the locuswhere
the mediations niaterialize inthe cultural dervelopment
of
these teachers,through
their life experiences, orbackground,
and
their stancetoward
the media.And
assuming
that the PopularEducation
is responsiblefor the search
of
new
approaches
in thefield
of
Communication
Theories, particularly the studieson
reception,we
propose
the establishmentof
an interfacebetween
these researchlines.
The
researchfinding showed
thatEducação
Popular
may
find a significant investi-gative partnership
with
theModema
Tradição
LatinoAmericana
dos Estudos de Recepção.
The
finding, too, led us, while investigating the teachersthrough
the categoryof
“mediati- on”, to realize themeanings and
modes
how
the teachers capture,and
givemeaning
to, the media.These
lmediations, productof
the teachers” culturaland
political experience, are expressedthrough
theway
they areengaged
in a projectof
rupture with thehegemonic
discoursetoward
the constructionof
a culture deeplymarked by
the politics.SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO
lzA
QUESTÃO
DA
PESQUISA
I.Educação
Popular, mídia
e sociedade.2.
A
Educação
Popular
e oolhar sobre
olugar
do
sujeito diantedas
mídias.3.
Os
Estudos
de Recepção:
potencialidades investigativaspara
aEducação
Popular.
4. lndicativos e
formulação
hipotéticada
necessidade
de
mudança
de
para-
digma.
5.
Eixo
teórico:Mediações
como
espaço
de
negociações
pelahegemonia.
6.
O
espaço
da
pesquisa.7.
Os
sujeitosda
pesquisa.8.
Metodologia
empregada.
8. I.
Fundamenitação
teórico-metodológica.8.2.
Coletando
os dados.8.3.
DO
tratamentodos
dados.CAPÍTULO
uz
O
OLHAR
E
O
Uso
l. Televisão e escola:
um
diálogoimportante.
2. Utilizando a
TV
e o vídeo:freqüência
e obstáculos.3.
Sala
de
aula: aTV
em
discussão.4.
Professor
X
alunos:escolhendo a
obra para
o estudo.5.
As
metodologias
do
uso.6.
A
realidade e a ficção vistas pelos professores.l
6
79
14 16 1923
23
25
25
27
27
29
30
34
37
43
48
53
I
. | -
CAPITULO
III:MEDIAÇOES
1.
Cinema,
televisão e vida.l.l.Cinema
e vida.l.2. Televisão e vida.
2.
Vida
e saltoicríticopara
olhar
asmídias
audiovisuais.3.
O
Movimemto
dos
Trabalhadores
Rurais
Sem
Terra
como
mediação
4.A
TV
e o cotidiano.4.1.
Quando
ver aTV.
4.2.
Escolhendo o que
verna
“telinha”.5.
A
entrevistacomo
mediação.
6.
Considerações
finais.ANEXO
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
O
presente trabalhocomeçou
com
a pretensãode
“levar” aos professores pesquisados a “alfabetização”em
linguagem
audiovisual...Quanta
pretensão!Imaginar
os sujeitoscomo
incapazesde
problematizar suas experiênciasde
vida, os objetos efenômenos
que
fazem
partede
seu cotidiano.Mas
foiassim
que
iniciamos estacaminhada.
A
princípio,acreditávamos que
para capacitar os professores bastaria tratarde
conduzi-los
em uma
incursão pelos “guetos” simbólicos daquelesque
operam
com
alinguagem
audiovisual. Isto é, bastaria estar familiarizando-oscom
os “planos”, “cortes”,“seqüências” e`
mais
um
pouco
da
históriado
cinema
eda
televisão, tornando-os assim“preparados” para
compreender
o
universodo
“fazer”Agindo
dessa forma, acreditávamos, forjaríamos hábeis leitores desse tipode
linguagem.Foi
com
essa intençãoque
chegamos
aos professores das escolas pesquisadas:implementar
um
programa
de
“alfabetização” para asimagens
em
movimento
eposteriormente averiguar, através
de
um
questionário,o quanto
os professoreshaviam
apreendido.Mas
veremos
a seguirque nao
foio que
ocorreu.Logo
em
nossa
primeiraviagem
ao
Assentamento
Vitóriada
Conquista,em
outubro de
1998,ao
falarmosde nosso
projetode
pesquisa epedirmos
aos professores para entrevista-los, dois episodios alterariamprofundamente o
percurso dessacaminhada
que
agora
termina;ou
que
estáapenas
começando...Um
primeiro fatonos
chamava
a atenção.Ao
apresentarmos o
objetode
nossa investigação, os professoresprontamente
secolocaram
como
favoráveis à sua realização. Bastariamarcarmos
as datas, e os trabalhoscom uma
oficinade
vídeo seriam iniciados. Elesestavam muito
empolgados
com
esta idéia. Entretanto, amedida
que iamos
conversando,
qualnão
foi anossa
surpresaquando
os professores secolocavam
a falarde
maneira
critica e perspicaz acercados
meios
e instituiçõesque
produzem
os audiovisuais.Ao
voltarmos
a Florianópolis,duas
questõesnos
inquietavam:como
estaríamoslevando
aos professoresum
conjuntode informações
sem
anteriormente investigar quaisseriam seus
pontos de
vista e seusposicionamentos
sobreo problema da
utilizaçãodos
recursos audiovisuais
no
interiordo
espaço
escolar?Ou
ainda, se jáem
nossas primeiras conversas elesdemonstravam
propriedade critica acercada
interferência das mídiasem
suacomunidade, nos perguntávamos:
afinal,como
teriam seformado
nos
professores esteolhar frente aos produtos audiovisuais?
Foi a partir dai,
que
uma
incursão peloCurso de
Jornalismoda Universidade
Federal
de
Santa Catarina,mais precisamente por
um
tema
que
vem
sendo estudado
pela professora AglairBernardo,
osEstudos de Recepção,
trouxe à luz possibilidades teóricas emetodológicas de
investigação sobre as quaistinhamos
totaldesconhecimento.
Estas
novas abordagens no
campo
da
comunicação
socialfazem
partede
uma
tradição
dos
estudosde recepção que dos anos 80
para ca,na
América
Latina,tem
servidocomo
paradigma
para a investigação das relações entre produtores econsumidores dos
meios de comunicação.
Os
pressupostos teóricosque
embasam
esta vertente,partem da
concepção
do
processocomunicativo
como
um
espaço de negociações
pelahegemonia
cultural. Isto é, os produtos veiculados pelas midias seriam resultado
de
um
jogo de
forçasentre produtores e
consumidores,
onde
teriamosnos
produtos a expressaode
um
espaço de
negociações mediatizado
pela culturade ambos.
Do
ponto de
vistada
Educação
Popular,enquanto
campo
de
investigaçãocientífica,
veremos no
primeiro capítulocomo
as teoriasda dependência
eda
indústria culturalde
massa
continuam sendo
referendadascomo
fortesparadigmas de
analiseda
relação
do
popularcom
osmeios de comunicação.
Ainda no
primeiro capítulo, trataremosde
tentarcomprovar
nossas suspeitasde
como
os pesquisadoresda
Educação
Popular no
Brasil citados,com
basenos
referenciais teóricosacima
descritos, quaissejam
os das teoriasda
dependência
edo
modelo
Frankfurtiano,têm
procurado
compreender
a influência das mídias, especialmente atelevisão,
no
interior dascomunidades
populares enos
movimentos
sociais. E, ainda,como
os sujeitos sociais interagemcom
osmeios
ecom
as instituiçõesque
produzem
asmensagens.
Também
veremos
que
os pressupostos teóricosda
Moderna
Tradição
LatinoAmericana
dos Estudos de
Recepção
que
podemos
encontrarem
Barbero
(1987), Cordelian, Gaitan&
Orozco
(1996),Souza
(1995), Figaro (1998),Lopes
(1993),Araújo
&
Jordão (1995)
e Borelli (1995),foram adotados
como
referencial teórico para a realização desta pesquisa.Por
sua vez, estes pressupostos,em
muito
seaproximam
da concepção que
baliza as relações entre sujeito e sociedade
que encontramos
na vertente freireanada
Educação
Popular. Isto se dá,segundo o
esforço pornós
realizadono
sentidode
aproximação
destes doismodelos,
essencialmente pelo fatode
que
ambas
vertentesde
pesquisa
têm
procurado
compreender
o
popular a partirda
investigaçãodos
sentidos atribuídos as coisasdo
mundo
pelo popularcomo
lógicas diferenciadas, eque
muitasvezes
são
incompreendidas
pelossegmentos
eruditosde produção do
saberlAcreditamos que
estas lógicas produzidas pelo popular,no
caso, os professoresdas escolas pesquisadas,
podem
ser encontradas nasmediações
que, constituídas pelas próprias consciênciasdos
sujeitos_
interpelados pela cultura e pela ideologia-,
acabam
se materializandonum
espaço de negociações
pelahegemonia
cultural entre produtores econsumidores dos
produtos audiovisuais. E.com
efeito, são estasmediações que nos
permitem
localizar e interpretar os sentidos e os significadosque
os sujeitos atribuem àrelação
que estabelecem
com
estes meios.Nesse
sentido,segundo Robert
White:As
mediações constituem tun tipo de “espaço". no qual diversas construções designificado
podem
acontecer. depeiidendo da lógica cultural do receptor e da possibilidade de negociação que se estabelece para a construção do sigiiificadofNo
entanto, parachegarmos
àsmediações,
compreendíamos
que
nossa primeira tarefa seria ade
investigar aos professoresnos usos
e significadosda
televisão edo
vídeono
seu cotidiano escolar.E
e dissoque
trataremosno segundo
capitulo: °O
Olhar
eo
Uso
°.Isto é, estareinos tratando nesse capitulo,
considerando
como
o
“olhar”, a importânciaque
1
A
oposição "popular" e “enidito" aqui encontra-se no sentido de explicitar a contraposição entre os sujeitosque se apropriam. ou não. das diversas linguagens-padrão utilizadas pela humanidade. Nesse sentido. os
teniios soinente aparecem
como
referência à compreensão e apropriação da linguagem audiovisual.3
WHITE,
Robert. A. Tendências dos Estudos de Recepção. ln: Comimicação e Educação. São Paulo. (13):os professores atiibuem à discussão sobre a televisão a partir da
capacidade de
inferência relacionalde cada
um
deles.Já
com
respeitoao
“uso”, trataremosde
enfocar, aindano segundo
capitulo, os aspectos práticosque
envolvem
o uso dos
recursosda
televisão edo
video.Desse
modo.
estaremos
abordando
a freqüênciade
assistência e os obstáculosque
os professoresapresentam
com
respeitoao uso
destes recursos.Também
descreveremos,
a partirdo
ponto
de
vistados
professores, as discussõesque ocorrem
entre professores e alunosno
interiorda
salade
aula sobreo
fenômeno
da
televisãoem
seus cotidianos.Abordaremos
aindacomo
se da,segundo
os professores,o enfrentamento
entre os gostos e preferênciasde
professores e | alunos diante
da
necessidadede
escolhade
uma
determinada obra
audiovisual para ser trabalhada
em
salade
aula. E, finalmente, trataremosde
descrever asmetodologias
utilizadas pelos professoresno
aproveitamento dos
produtos audiovisuaiscomo
instrumentos pedagógicos.No
terceiro capitulo, ao investigarmos as históriasde
vidados
professores,estaremos
mergulhando
com
eles,num
exercíciode
esforçode
ativaçãoda
memória
de
suas próprias vidas,
na
direçãodo
entendimento da formação da
cultura eda
identidadeem
cada
um
deles.Nesse
sentido,poderá
o
leitor encontrar neste capítulo as distintasmediações de que fazem uso
os professores paracompreenderem
as midias.Sobretudo
porque
defendemos
esta idéia. estasmediações
aquiaparecem
como
elemento de
materialização das culturas constitutivas destes sujeitos-professores.
Desse
modo,
trataremosde
descrevercomo
equando
o cinema
e a televisão entra nas vidasdos
professores e
com
quais significados.Trataremos
também
de
descreverque elementos
teriam
colaborado
paraque ao longo de
suas vidascomeçassem
a olhar estes produtos da indústria culturalde maneira
crítica.l
Veremos, também,
atéque ponto o
Movimento
dos Trabalhadores
RuraisSem
Terra teriacolaborado
como
mediação
alterando as posturasdos
professores amedida
que
iam convivendo
no
cotidianodo
Movimentos
Ainda poderemos
incursionarcom
osprofessores
em
seus cotidianos, e buscar ai,em
seusmomentos
de
vida privada.o
tempo
3O
tcmio “Moyimento”
com
a inicial maiúscula. aparecerá ao longo deste trabalhocomo
menção ao movimento socialem
que se inserem os professores. qual seja. o Movimento dos Trabalhadores RuraisSem
Tem.
4
que dedicam
rotineiramenteao
contatocom
a televisão eo
vídeo,bem como
osprogramas
e
filmes
de
sua preferênciaquando
seencontram
forada
escola. E, finalmente,entendendo
que o espaço da
entrevistaacabou
se constituindoem
um
espaço de
diálogo,de
trocade
saberes e
de
dúvidas, resultou daium
redede novas
mediações.‹`\Pi11¡.‹›|
\ ‹gl'r;_‹¡¡`\‹›
ln
Pí;s‹)1 |s \1.
Educação
Popular,
mídia
esociedade
I
Tem
sido freqüente,no
interiordos
debates acercados
novos
rumos
das pesquisasem
Educação
Popular, nestefim de
milênio, a procurapor
modelos
explicativos às perguntasformuladas
no
intuitode
secompreender
o
desafioque
se apresenta aoseducadores
popularesno
contatocom
osmeios de
comunicação
de
massa
e suaslinguagens.
Nesse
sentido,nos
últimosanos
asreflexões
teóricas voltadas a pensar aEducação
Êopular
vêm
tomando rumos
diferentesdos
anteriores aosanos
70.Gonzalo
de
la
Maza
postula ser necessário “abrir janelas parao
futuro”, e sobre isto discorre que:Quando
trabalhávamos sob condições das ditaduras militares, fomos obrigados à autonomia, pois os espaços sociais e políticos nos eram vedados. Agora é imperativoinserir-se no contexto mais amplo
sem
perder a bússola. (...) Quando se trabalhava naalfabetização de pequenas comunidades rurais, bastava ter
um
bom
projeto euma
estratégia metodológica. Agora, que os camponeses têm televisão, (...) isso já não é
mais suficientef' (Grifos nossos).
l
O
que
Maza
aquiargumenta
éque o advento da
televisão trouxeuma
nova
dinâmica
às 'relações sociais.Sobretudo
a introduçãode
uma
nova
linguagem, de
uma
nova
midia
discursiva,no
contextoda
educação, para eledeve
constituir-secomo
um
importantetema
a ser debatidono
espaço de
atuaçãoda
Educação
Popular.É
relevante a questão levantada pelo Diretorde
Educación
y
Comunicaciones
(ECO)
do
Chile.Certamente,
comunidades
inteirasvêm
sendo influenciadas
pelas mídiastelevisivas. lAñnal, tais mídias
passaram
a representarsinônimo de
informação,de
atualização el
de
integração entre os povos.Contudo,
a ressalva“sem
perder a bússola”,grifada
na
citlaçãode
Maza,
aparececomo
uma
metáfora
carregadade
subjetividade.A
bpssola, objetoque
tem
por finalidade
indicaronde
estamos, paraassim
| .
,_ . ~ .
podermos
esíolher qual direçao seguir, traz a grata sensaçaode que o
autor tenha ainda4
MAZA
E.. Gonzalo de la. Abrir Janelas para o Futuro : cinco reflexões sobre alianças para a educação
popular. ln:
GARCIA,
Pedro Benjamim (org.).O
Pêndulo das Ideologias : a educação popular e 0 desafio dapós-moaenúdzóë. Rio de Janzimz Reiumz-z Dumzuâ. 1994. pp. io-i i.
I
algumas
certezas. Certezas estasque
talvez representem as especificidades das lutastravadas
no
campo
dos
movimentos
sociais.Ao mesmo
tempo
que
osmovimentos
sociais,às voltas
com
as especificidadesde
suas lutas, materializam conflitos entre si_
eno
seupróprio interior
-
, por outro lado,com
efeito,também
secompatibilizam
em
identidadenas
demandas
em
torno das quais os própriosmovimentos
semobilizam
epautam
sua existência; e esempre
bom
lembrar, inclusive nas das lutasde
classe.Perder a bússola representaria a sensação
da
perdade
referências,de
horizonte. Issodeslocado analogamente ao
campo
social,pode
ser aquicompreendido
como
a perdade
identidade pelo objetivode
sua luta.E
todo
movimento
social se pauta pelomovimento
complexo
de
construçãopermanente de
identidade entre os indivíduosque o
compõem;
uma
identidadeque
vaisendo
forjada na própria lutaque dá
vidaao
movimento,
que
se (re)compõe, se (re)estrutura, se (re)organiza acada
dia,num
movimento
pendularrepresentado pelos
embates que
setravam
no
interiordo
própriomovimento.
O
surgimento da
televisãono
interiordos
movimentos
sociaistem
provocado
ruídos nos
espaços de negociações que
anteseram
quase que
restritos aum
contextoautônomo
dos
própriosmovimentos
sociais. Entretanto tais ruídosnão
sãonenhuma
novidade, selevarmos
em
consideraçãoque
a televisãovem
areboque de
outras“mídias”
que
parecem
ser relegadasao esquecimento
nas consideraçõesde
Maza,
quaissejam
o
discurso religioso,
o
discurso politico,o
rádio etc.Mas
é procedente apreocupação
dasreflexões
lançadaspor
Maza,
selevarmos
em
contaque
amidia
televisiva viria aacrescentar
novos elementos
aosmeios de
comunicação
de
massa, principalmenteo
movimento
àsimagens,
coisaque o
cinema
já vinha fazendo,mas
que
a televisão incorporaiiaao
cotidiano das sociedadesde maneira
irreversível.Nesta
última década, a sociedade global sofreuprofundas transformações no que
diz respeito
ao
acesso às informações.Em
quase
todos os lugaresdo
planeta, osmeios de
comunicaçãd
de
massa
são acessadoscom
enorme
facilidade.Apenas no
Brasilforam
contabilizados,
no
sensodo
IBGE
realizadoem
1998,36
605
634
domicílioscom
aparelhosde
televisão,sendo que
31693
781encontravam-se na
áreaurbana
e4
91 1853
na área rural.
Ou
melhor,dos 157
389 000
brasileiros pesquisados pelo sensode
1998, 1 17597
761na
áreaurbana
e20 406 810
na área rural,alegaram
possuir televisão. Isto é,somadas
as áreasurbana
e rural,teremos
um
totalde
138004
571de
brasileirosque
entreos entrevistados
alegaram
possuir televisâos.Ou
ainda.em
números
percentuais.dos
indivíduos pesquisados
87,6% possuem
televisão.Estes
números
nos
remetem
a questões importantes: primeiramente,podemos
deduzirque
parcela significativada população
estabeleceuma
relação cotidianacom
aquele conjuntode pontos luminosos que
produzem
um
facho de
luzde grande
intensidade a gerarformas
que muito
seassemelham, por
contado movimento,
à “realidade”que
veicula;
em
segundo
lugar,temos
aí a evidênciade
que
ascamadas
popularesvêm
dialogando, nestes últimos30
anos,com
um
novo
tipode
linguagem, a audiovisual.Como
conseqüência
disso,muitos
intelectuais dasmais
diversas áreasdo pensamento
contemporâneo (Comunicação,
Antropologia,Educação,
História, Sociologia, Filosofia,Psicologia, etc.)
têm andado
às voltascom
a reflexão sobre as implicações geradaspor
estefenômeno
da
comunicação
de
massas.2.
A
Educação
Popular
e oolhar
sobre o lugar
do
sujeitodiante
das
mídias.No
campo
da
Educação
Popular, estaspreocupações
têm
sido evidenciadaspor
uma
sériede
publicaçõesque
vêm
dando
timidamente
os primeiros passos parao
enfrentamento
destefenômeno
lingüístico.Nesse
sentido,podemos
encontrarem
Marco
Raúl Mejia
a referidapreocupação
quando
esteargumenta
que:...estamos
em
profunda restruturação cultural. que nos situa diante de novas formas desocialização. produto. por sua vez. de novas formas de saber. basicamente relacionadas
com
os comportamentos sociais. Esses processos atuais de socialização comportam formas diferentes de representar e entender. mais ligadas aomundo
da imagem. (...)Grande parte da informação que hoje nos chega é veiculada pelo fenômeno da imagem. Muitas das pessoas que não passaram pela escola são ligadas ao nnuido simbólico gestado pela
imagem
(...) ou seja. a universalização pretendida pela escola está sendoobtida,
com
cada vez maior sucesso, pela imagem. Isto leva os professores a sedepaiarem. no seu fazer cotidiano.
com
lógicas e processos de saber que não constavam de suas referências. lógicas estas que produzem. às vezes.um
choquecom
o sabercscolar.°(Grifos nossos)
É
justamente
estechoque
com
o
saber escolar, esteenfrentamento dos
professores,
no
seu fazer cotidiano,com
lógicas e processosque não constavam de
suas referências,que
consisteo
objetode nosso
interesse.Contudo
não
é possivel aceitar”
IBGE.
PNAD
-Pesquisa
Nacional porzllmoslra de Domicilio. Rio de Janeiro. 1998.6
MEJIA
Marco Raúl. Educação e Politica : fundamentos parauma
nova agenda latino-americana. In:GARCIA.
Pedro Benjamim (org.).O
Péndulo dm- Ideologias : a educação popular e o desafio da pós-passivamente
as colocaçõesde
Mejia. Elasnos
provocam
e instigam a fazeralgumas
observações.Primeiramente.
o
fenômeno
da
imagem
não
éabsolutamente
algo recente.Durante
toda a históriada
humanidade
asedução
eo convencimento
atravésdo
aliciamento pelaimagem
foifenômeno
presenteem
todas as culturas.É
sónos
darmos
conta das relações totêmicas estabelecidas pelas sociedades “primitivas”sem
Estado;o
papel coercitivo eao
mesmo
tempo
sedutorda
arquiteturana
antigüidade clássica ena Idade
Média
cristã; a exuberante presençada
arquiteturamoura
portodo o
OrientePróximo,
Magreb
e PeninsulaIbérica;
o marketing da iconografia
cristãdo
Barroco
Católico frente à necessidadede
contenção da
onda
expansionistado
puritanismoem
toda aEuropa
eAmérica
etc.Em
segundo
lugar,que
universalização pretendida pela escola é esta a qualMejia
faz
menção?
Gostaríamos de
destacar aqui a estrofede
uma
canção de Adriana
Calcanhoto:
Pela janela do carro.
Pela janela do quarto.
Pela tela.
quem
e' ela.quem
e ela.Eu
vejo tudo enquadrado.Remoto controle.
A
explícita genealidadeda compositora
pode
contribuir parao
que estamos
pretendendo
argumentar, isto e'.que
o olhar dianteda
imagem
dá
contaapenas de
perceberfragmentos de
uma
suposta “realidade” representada.No
caso dasimagens
às quais serefere Mejia, estas são
como
coisadada prontamente
para ser digerida universalmente.Imagem-fragmentos, quadrada
(sena TV), redonda
(seno microscópio
ou
na
luneta).Mas,
cabe
apontar, todas estasformas encontram-se
no
universoda
representação edo
simulacrog
Í
C
ALC
ANHOITO.
Adriana. Pe/a Janela. Sony Records. 1998.K
Sobre esta qiuestâo do simulacro. é interessante ver as rcflexões de
BAUDRILLARD.
Jean.A
Troca Simbúlica e a Morte. São Paulo: Loyola. 1996. Nas páginas 81-82. do capítulo"O
Tátil e o Digital".Baudrillard ar menta que "Todo signo. toda
mensagem
(tanto os objetos de uso 'funcional'como
este ouaquele clemeräó da
moda
ou qualquer infomtação televisiva. sondagem ou pesquisa eleitoral) se nosapresenta
comq
pergunta/resposta. (...) Ora. os testes e os referendos são.como
se sabe. formas perfeitas desimulação: a resposta é induzida pela pergwrta. e detemtinada de antemão. (...) Cada
mensagem
éum
veredito.
como
aquele queadvém
das estatísticas de sondagem.O
simulacro de distância (talvezmesmo
decontradição) entre os dois pólos não passa. tal
como
o efeito dc real no interiormesmo
do signo. deuma
alucinação tática."
Ora,
retomando
a citaçãode
Mejía,não
se atinge a universalização pretendida pela escolaolhando
através“do” enquadramento
do cinema ou
da
TV,
mas
da
soma
“dos”
vários
“enquadramentos” que
a vidanos
permite experimentar.Ao
mesmo
tempo
que
é procedente a constataçãode
que
os professores estão hojeem
choque
com
novas
lógicas e processosde
saber gestados pelaimagem
(acrescente-seem
movimento),
é importantelembrar
que
os professoresvêm
assistindo televisão ecinema por muitos
anos.Por
outro lado, e é aquique
se encontrao grande equívoco
que,no nosso
entendimento,Mejía
comente quando menciona
o
fenômeno
dasimagens
veiculadas pela televisão
como
se estivéssemos tratandodo
“esperanto”,uma
linguagem
universalizante.
Na
verdade, toda tentativa universalizante esbarranos
próprios limitesde
significação e sentidos
que
uma
cultura,dotada de
seus imaginários,possa
atribuirao que
vê
e ouve.Segundo
a historiadoraEvelyne
Patlagean,o domínio
do
imagináriopode
sercompreendido como:
...constituido pelo conjunto das representações que exorbitam do limite colocado pelas constatações da experiência e pelos encadeamentos dedutivos que estas autorizam. Isto
é. cada cultura. portanto cada sociedade. e até
mesmo
cada nivel deuma
sociedadecomplexa. tem seu imagináriog
Jean-Claude
Bernardet corroborao que
vinhamos
acima problematizando
acercadas relações entre cultura e imaginário frente às
imagens
em
movimento.
Elemenciona
os obstáculosque
tiveram, eque
têm, certasproduções
cinematográficas ocidentais para encontrareco
em
muitas regioesdo
planeta:Outros obstáculos
podem
ser barreiras culturais: paisescom
fortes culttuas nacionaisnão se tomaram bons públicos para os lilmes europeus ou americanos. simplesmente porque os espectadores não os entendiam.
como
a India. o Japão. o que facilitou o desenvolvimento de cinematograñas nacionais. Jáem
outros países que não oferecemresistência cultural. ou cuja cultura foi ein grande parte formada pelos invasores ou
dominadores.
como
o Brasil. a dominação cinematográfica pode ser quase total.”Diante disso, e por outro lado, se os professores
vêm
assistindo televisão ecinema
ao longo de muitos
anos, elesdevem,
na condição de
sujeitos culturais e sociaisde
seutempo,
estar apresentandotambém
suasformas de problematização
ede
resistência cultural9
PATLAGEAN.
Evelyne.A
História do Imaginário. ln:LE
GOFF.
Jacques (org). .4 História .\'m‹'a. SãoPaulo : Martins Fontes. 1993. p. 291.
“'
BERNARDET.
Jean-Claude.O
que e' cinema. ln: Coleção Primeiros Passos. São Paulo1 Brasiliense. l980. p. 26.
frente
ao
fenômeno
da
televisao e àlinguagem que
esta utiliza.Sistematicamente
ou
nao,acreditávamos que
estes professores estariamdesenvolvendo metodologias de
resoluçãode
problemas
com
vistas à elucidaçãode
fenômenos
que
se lhesaparecem
como
problemáticos.
Não
obstante, naEducação
Populartêm
sido freqüentes aspreocupações
relacionadas àscamadas
populares diantedo fenômeno
das mídias televisivas.Como
asesboçadas
anteriormente porMaza
e Mejía, acrescentam-se outrascomo
Alder
Calado,que
referindo-se à sociedade e a
educação
brasileira,argumenta
que:...acentuadamente marcadas pelos conflitos sociais. inclusive os de classe. trata-se de
um
cotidiano extremamente pródigoem
fatos. ocorrências e situações. de que se servemdiferentes setores das classes dominantes para manter e ampliar e. sc possível lhes fora.
perpetuar 0 controle das decisões fundamentais da vida social. econômica. politica. cultural. ideológica... Basta ver o profundo alcance ideológico dos meios de comunicação de massa. por meio dos quais a
Rede
Globo. por exemplo. se dá ao luxode não somente “fazer a cabeça` de enomies parcelas da população.
como
ainda temo desplante de fazê-lo. dizendo-se neutra. isenta. independente." (grifos nossos)Também
sobre esteproblema
discorre SeverinaNascimento:
A
incapacidade do sistema para responder às demandas diversificadas dos diferentes setores sociais. o crescimento das desigualdades econômicas e o avanço dos meios de comunicação. permitindo o aumento do poder dos aparelhos de dominaçãosimbólica. que se estende
como
os fios deuma
malha envolvendo todos os dominios. os espaços e os gestos do social. conduzem a fragmentação dos lugares de conflito e ao surgimento de novos atores sociais mastambém
à busca de novas e diversificadasfomias de ação social e política." (grifos nossos)
Ou
ainda ElisaGonçalves,
referindo-seao
pensamento
da Pedagogia
Critica Atual, esta afirma que:O
problema que se coloca. diante deum
processo do agir comunicativo. é que muitas das suas defonnações. que são obstáculos para o sucesso dos diálogos. existem porque ocorremnmna
sociedade desigual. Essas deformações. muitas advindas demanipulação político-ideológica e da mídia. são mecanismos que legitimam a
dominação. pois
impedem
a problematização. a tematização discursiva das normasinterativas.” (grifos nossos)
A
despeitodo
ponto de
vistados
pesquisadoresda
Educação
Popular,que
vinhamos vendo
até aqui,pudemos
observarque
neles aindapermanece
como
muito
forte a idéiados
atores sociaiscomo
indivíduos passivos emanipulados
pela batutall
C
ALADO.
Alder Júlio Ferreira. Reproblematizando o(s) conceito(s) de Educação Popular. In:COSTA
Ivlarisa
"
Vorraber (org.). Educação Popular Hoje. São Paulo : Lo_vola. 1998. p. 139.NASCIMENTO.
Severina Ilza do. Repensando a Educação Popular no Processo de Metamorfose daSociedade "` Global
_
novas problemáticas. Ibidem. p. 241.GONÇALVES.
Elisa Pereira. Educação Popular : entre a modemidade e a pós-modernidade. Ibidem. p.227.
arregimentadora
do poder
onipotente das midias. Istonão
ocorreao
acaso. Afinalgrande
parte da
formação da
intelectualidade brasileira teve suas bases alicerçadasno
chão dos
paradigmas
das teoriasda dependência
eno
modelo
Frankfurtiano.A
titulode
esclarecimento sobre as teoriasda
dependência, é importante registrarque
estaspodem
sercompreendidas
como
produtoda
elaboração intelectual, nosanos
60,de
alguns pesquisadores brasileiros às voltascom
a questãoda dependência
edo
subdesenvolvimento.
Estes pesquisadores, àquele período,inovavam
com uma
basede
sustentação teórica marxista
em
suas pesquisasdos
fenômenos
sociais.Sobre
istoMauro
Wilton argumenta:
A
teoria de dependência que então se formulou procurava explicitarcomo
as relações dospaíses desenvolv1`dos centrais e liegemônicos
com
os países subdesenvolvidos. periféricos edominados não se limitavam a questões econômico-financeiras. mas envolviam a tecnologia da produção. a cultura. o saber. a linguagem e os estilos de concepção de vida pessoal e social.(...)Os meios de comunicação eram vistos
como
agentes desse processo nãosó pelo capital que os criava e mantinha. ou pela tecnologia de que se serviam. ou
mesmo
pelos produtos que veiculavam.
mas
pela lógica de concepção de vida que alimentavam c pelo lugar cultural que passavam a ocupar na vida cotidiana de pessoas e grupos sociais.”A
partir daí,como
um
desdobramento da
teoriada
dependência. e sobo
mesmo
paradigma
marxista, a partirdos anos
80, os intelectuaisda
Comunicação
brasileirareferenciados
no
modelo
Frankfurtiano,caminharão
na direçãode
uma
teoria criticaque
privilegiará a razão técnica
como
estruturade
poder.Sobre
isto,Mauro
Wilton
acrescenta:O
modelo frankfurtiano. sobretudo na sua acepção que mais de perto foi estudada. a da'indústria cultural`. entre 1960 e l980. acentuava que a relação de dominação não era
apenas linear e direta entre fonnações capitalistas desenvolvidas e subdesenvolvidas.
A
racionalidade técnica. base da modemidade. acabam se transfonnando de iluminadoraem
principal instrumento da inodcma dominação que estava _para além das fonnações sociais.
encontrava-se no interior do próprio processo capitalista.”
Notadamente
o que
temos
aqui éum
paradoxo.Se
nas diversas proposições elencadas por estes pesquisadoresda
Educação
Popular. acercade
outros objetos. é lugarcomum
empreender
uma
busca
pelas falas e lógicasde
resoluçãode problemas
pelo popular,por
que não
estariam estes pesquisadores partindodo
pressupostode
que o
mesmo
poderia estar
sendo
investigadocom
relaçãoao
popular dianteda
mídias? Isto é, assimcomo
e sabido por estespensadores da
Educaçäo
Popular que
ashomogeneizações
daspercepções
pelo popular diante das coisasdo
mundo
possa acarretar sérios prejuízosl-1
SOUZA.
Mauro
Wilton de. Recepção e Comunicação 1 a busca do sujeito. ln:SOUZA.
Mauro
Wilton de(org). Sujeilo. o Indo oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense. l995. pp. 18-19.
'°
investigativos,
não
édemais
lembra-losque ao massificarem o
popular diante das midias,ai
também
estaremos encontrando
limites para acompreensão
do
popularquanto
àpossibilidade
de
investiga-loem
suas multiplicidades perceptivas.Nesse
sentido,veremos
a seguircomo
osEstudos de
Recepção
poderiam
vir acolaborar para
uma
revisãodos paradigmas que direcionam
os olharesdos
pesquisadores daEducação
Popular
dianteda
necessidadede
compreensão do
popular diante das midias.3.
Os
Estudos
de Recepção:
potencialidades investigativaspara
aEducação
Popular
Ainda
hojeo paradigma que impera na
investigação das audiências,em
muitas
pesquisasde
opiniao pública,opera
com
a idéiados impactos
edos
efeitos.Sobre
isto.lnesita
Araújo
eEduardo
Jordãoconsideram
que:lmpacto traz subjacente a idéia de
um
emissor-atirador que emite-disparauma
mensagem-projétilem
direção aum
público-alvo que está lá. homogêneo. estáticocomo
um
muro e que vai continuar lá. imóvel. pennitindo que se verifique se o alvo foiatingido e a profundidade do rombo. (...)
Mas
a maioria dos estudos que avaliamimpacto ignora a dinâmica c as pltualidades sociais. despreza a cultura c a história dos
receptores. não leva
em
conta a existência de outros atores. outras fontes de infonnaçãooutros discursos
em
cena...“`O
que
podemos
depreender
daqui. éque
existeum
esforçoda
partedos
pesquisadores
dos Estudos de
Recepção
em
materializar as invisibilidadesque
seencontram
acobertadas pela multiplicidade das subjetividades, provenientes das culturasconstitutivas
dos
sujeitos sociais. Isto e', àmedida
que
empreendem
uma
busca
pelossujeitos receptores, a partir
do
empréstimo
das falas destesmesmos
sujeitos,acabam
enveredando
parao
interiordo
popularnão mais
impactado,mas
dissolvidoem
multiplicidades perceptivas.
As
falasdos
sujeitos sociaisdemandam uma
sondagem
criteriosa sobre seusposicionamentos
e posturas frente aosfenômenos
que
seapresentam
diantede
seus olhares e ouvires.Acreditamos que
nem
sempre
tais posturassejam de
sujeição e prostração.Existe
um
imperativoquanto
a necessidadede
sondar esta possível multiplicidadede
olhares ede
ouvires.l( `
ARAÚJO.
lnesita&
JORDÃO.
Eduardo. Velhos Dilemas. Novos Enfoqucs :uma
contribuição para odebate sobre estudos de recepção. In: PITTA. Áurea M. da Rocha (org.) Saúde e Cumu/1icuçä‹›
_
usibilidades e silêncios. São Paulo: Hucitec. 1995. p. 177.Diante
do
quadro apontado
até aqui, parece sensatoafirmar
a necessidadede
aEducação
Popular buscar outras referências. outros “braços” teóricosque
possam
vir a contribuir parao aproiímdamento
das pesquisas edos
debatesem
seu interior.Os
novos
tempos
engendraram
um
avanço
na direçãode formas
hibridasde
pensamento
acercados fenômenos.
As
disciplinasnão
sebastam mais
em
seuscampos
especificosde
reflexão,dada
acomplexidade
que
os objetosdemandam.
Nesse
sentido foique
defendemos
a idéiada
realizaçãode
uma
interface entre aEducação
Popular e as teoriasda comunicação,
particularmente osEstudos de Recepção,
onde
dos anos 80
para cá os pesquisadoresda
comunicação
vêm
defendendo novas
posturas diante
da
complexidade
em
que
consiste atualmente a tarefade
compreendermos
os
espaços de negociação permanente
entre os sujeitosque
emitem
asmensagens
e ossujeitos
que
as“percebem”.
Ao
em
reendermos
a tarefade dialovarmos
O
com
aluns dos
autoresdos Estudos
de
Recepção
atravésde
seus trabalhos científicos,pudemos
nos
dar contade
como
osEstudos de
Recepção possam
vir a contribuircomo
uma
pedagogia
para os meios.Notadamente
pudemos
nos
dar contade
como
Paulo Freiretem
influenciado
fortementeo
professor doutor
Guillermo
Orozco
Gomes,
da Universidade de
Guadalajara,México,
pesquisador latino-americano
dos
processosde recepção dos meios de
comunicação
eda
inter-relação
comunicação/educação.
Segundo
Orozco:
Um
dos autores que maisme
inspirou c motivou foi Paulo Freire. Estudei toda a sua obra quando estava na universidade.Como
educador. tive de fazerum
pouco o tipo de educação inspirado na metodologia de Paulo Freire que. afinal (...) éuma
proposta deintervenção pedagógica. Isso
me
possibilitou a condição de efetivarum
trabalho altamente consciente durante esses_ anos (...) e esse era muito do significado que PauloFreire passava: poder transl`ormarÍ
Foram
estesargumentos de
Orozco
que
então viriam a justificar aindacom
maior
vigor
o
caminho
que perconiamos.
Ao
procurarmos
investigar os professoresenquanto
I
receptores, estaríamos
dando
forma ao que nos
propúnhamos
desde
o
inicio desse trabalho: efetuaruma
propostapedagógica
para osmeios de comunicação,
particularmente osque
fazem
uso
dasimagens
em
movimento.
Isto é.ao
mesmo
tempo
que ao levantarmos
os1-
FÍGARO.
Roseli.Uma
Pedagogia para os Meios de Comunicação 1 aprender a ensinar para transformar. eis a preocupação de Guillemio OrozcoGómes
ao tratar docampo
comunicação/educação (entrevista).depoimentos dos
professorescom
o
objetivode
que
pudessem
eles se dar contade
como
as suas distintas experiências culturais osmarcam
diferentementequanto
àpercepção dos
produtos audiovisuais, estaríamos
também
levando
acabo
a materializaçãode
uma
interface entre osEstudos de
Recepção
e aEducação
Popular.Contudo,
osEstudos de
Recepção
atualmente sãoreconhecidamente
um
áreade
estudos
de grande
densidade.São
muitas asreflexões que
vêm
sendo
realizadaspor
seuspensadores
tantodo ponto de
vistados
temas
e suas problematizações.quanto
do
ponto
de
vista
metodológico
e epistemológico.Nesse
sentido, foique
também
serviramde
paradigma
investigativo para estapesquisa,
do
ponto de
vistada problematização do tema que contempla
as relaçõesdos
sujeitos e as midias, os estudos
que
vêm
sendo
desenvolvidos porMauro
Wilton de
Souza
que
tem
empreendido
uma
busca
pelo sujeitonos
estudosde recepção”.
Este estudode
Mauro
Wilton,colaborou fundamentalmente
paraque
mudasse
a nossacompreensão do
sujeito e suas inter-relaçoes
com
acomunicação.
Finalmente, e isto
veremos
a seguir,como
que o
filósofo JesusMartim-Barbero,
assessor
do
Institutode Estudos
sobre Culturas eComunicação
da Universidade Nacional
da Colômbia,
contribuiusobremaneira
para amudança
do
enfoque
sobreo
objeto e ossujeitos
de nosso
estudo.A
suaobra
“De
losMedios
a las Mediaciones”'9, representouum
marco
de
mudança
de
percursoem
nossacaminhada.
Estaobra
viria a influir diretamente namaneira
de
enfocar as relações entre os professores entrevistados eobservados
e asformas
como
estes significam os meios.4. lndicativos e
formulação
hipotéticada
necessidade
de
mudança
de
paradigma
São
muitos
osproblemas encontrados
atualmenteno
interiorde
uma
escola rural.Porém,
talvezum
dos mais contundentes que encontramos
nas falasde
alguns professores,sejam dúvidas
acercado
tratamentoque deve
serdado
frente à penetraçãomaciça da
1*
SOUZA.
Mauro
Wilton de. Recepção e Comunicação : a busca do sujeito. ln:SOUZA.
Mauro
Wilton de (0rg.). Sujeito. 0 lado ocu/Io do receptor. São Paulo: Brasiliense. 1995. pp. l3-38.'9
MARTIN-BARBERO.
Jesús.
De
los .lledios a las .llediaciones : comtniicacion. cultura e hegemonia.Barcelona: Gustavo Gili. l987.
Fomos
informados de que existe tuna versãoem
português. mas não conseguimos cncontrá-la.televisão
no
interiordo
assentamento. Estesdepoimentos foram
tomados
ao longo de
nossas primeiras visitas à escola
em
váriosmomentos
distintos: durante as conversasnos
intervalos das atividades
de
um
projetode
formação de
professorescom
o
qualcolaboramos
e participamos”,colhendo
feijãocom
acomunidade
escolar; nas noites que, excitados pelacompanhia
benfazejada
cuiade
chimarrão, seestendiam
em
conversassem
fim; e nosmomentos
das refeições e letargias subsequentes àquelesdesfmtes
gastronômicos
que
nossamemória-paladar não
esquece.Naqueles
momentos,
foram
muitas e instigantes asobservações
feitas pelosprofessores:
A
professoraNena
nos
dizia “a gentenão
sabeo que
fazer.Nos
tentamos
passar
um
pouco
de
crítica paranossos
alunosmas
elespassam
a tardevendo
a Angélica, os pais,o
jornal e asmães,
as novelas”,ou
ainda, amesma
professora,agora
referindo-seao
poder
dasimagens
sentenciavaque
“a televisão émuito
perigosa.É
tudo
muito
cinematográfico”.
Nena
também
nos
aleitava parao
fatode que
“a televisão éuma
coisamontada”.
ou
aindao
professor Adílioobservava
que “tem
uma
psicologiade
convencimento por
detrásda
televisão” e, finalmente,também
Adílio, referindo-seao
Movimento
dos
Trabalhadores RuraisSem
Terra e as midias,afirmava
que
“amidia
esconde nossos
líderes”.De
posse
desses primeirosdepoimentos,
entendemos
entãoque
os professoresestavam nos convidando
a vê-loscomo
sujeitos que,por
estarem jáem
contatocom
asmídias
ao longo de
suas vidas,vinham
tratandode
problematizá-lasno
interiordo
lugar culturalem
que
trabalham, a despeitoda
força aglutinadorado
MST
que
os integra ideologicamente. Isto é,ao
mesmo
tempo
que
acomunidade
de
assentados encontraidentidade
com
propostasde
mudança
da
ordem
vigente atravésdos símbolos
que
congregam
os integrantesdo
MST,
por outro ladotambém
encontra identidadena
programação
sensaeionalista e bestializante (juizode
valor nosso) veiculada pela televisãobrasileira.
fl '
Este projeto. coordenado pela professora Maria Isabel Batista Serrão do Depanamento de Metodologia de Ensino do
CEU
-UFSC.
ainda se encontraem
funcionamento. Seu objetivo principal é a Fnrnmção doPrq/èssor Leitm; e Escri1or_ este é o
nome
do projeto _com
vistas a tomar mais presente nos professoresa necessidade do trabalho
com
os registros de suas atividades. Nossa colaboração se limitou auma
exposição sobre a linguagem audiovisual e ampla participação nos debates subsequentes aos estudos propostos pela professora Maria Isabel.Entretanto, por
mais que
estes professores, sujeitosque
em
maior
ou menor
grau participamdo
MST,
encontrein-seem
sintonia identitáriaquanto
à especificidade das lutasque
osmovem
(a luta pelareforma
agrária, a luta poruma
politica agrária, a luta poruma
sociedade igualitária, a luta pela preservaçãodos
valores culturais regionais etc), e importante levartambém
em
consideraçãoque
estes sujeitos são corpos distintos,marcados
por
diferentes trajetórias históricas, culturais, psicológicas e sociaisao longo de
suas vidas. Portanto, à
medida
que
eles seencontram
em
confrontocom
osfenômenos
que
lhes
aparecem
como
problemáticos.acabam
significando estesmesmos
fenômenos
mediados
por suas próprias históriasde
vida,dos
rastros emarcas que
a vida deixacomo
legado indelévelde
um
percurso singular. E, nesse sentido,segindo
Fleuri:assumir efetivamente a multiplicidade e a reciprocidade de diferentes pontos de vista
pode ser
um
caminho para se compreender melhor o que as classes populares estão efetivamente dizendo e que os intelectuais tem dificuldade de entender.”Isto
não
significao
abandono do
olhar sobreo
universo macrosocial,mas
sim
a possibilidadeda
aberturade
outras portasque propiciem
abriro
lequede entendimento da
tessitura
que comporta
diversos contextos,mesmo
o dos
contextos microsociais. Afinal. considerando-secada
individuocomo
parte constituintede
um
determinado corpo
social.argumenta
Fleuri que:Dada a coniplexidadc de cada indivíduo. é indetenninável e iinprevisível o sentido que cada sujeito asstunirá
em
um
contextoem
transformação. Entretanto. as ações e reaçõesde cada sujeito. dada a sua ligação
com
os outros elementos do contexto. interferem dcum
modo
ou de outro no sentido da transfonnação do contexto."Desse
modo,
o que procurávamos
então erao que
dizia respeitoao que medeia
cada
um
dos
sujeitos professoresao
atribuir sentidos diantedo
contexto das midias dasimagens
em
movimento.
Acreditávamos,
amodo
de
hipótese,que
estes professorespor
estarem detectando
problemas
com
respeito à interferência das midiasno
cotidiano escolar,deveriam
estartambém
tratandode
desenvolverreflexões
e práticasmetodológicas
com
vistas a resolução
do
problema da
influênciado fenômeno
televisivoem
seus cotidianos.Mas
paraque
os professoresproduzissem
estas reflexões e práticasmetodológicas
acreditávamos, e esta era a
nossa segunda
hipótese,que
para tanto estariamsendo
mediados
por
suas experiênciascom
as midias e pelas relações sociaisque
estabeleceram31 FLEURI.
Reinaldo Matias. Educação Popular e Complexidade. ln:
COSTA.
Mansa
Vonaber (org).Educação Popular Hoje. São Paulo: Loyola. 1998. p. l07.