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CAPÍTULO 3 CIRCENSES EM PERNAMBUCO

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Academic year: 2021

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CAPÍTULO 3 – CIRCENSES EM PERNAMBUCO

Graças às dimensões continentais do Brasil, o circo pôde adaptar-se aos mais diversos contextos sócio-culturais presentes nas cinco regiões do país. Em Pernambuco, elementos do circo tradicional, com números de mágica, acrobacia, malabares e aéreos, incorporaram particularidades da cultura local, principalmente nas apresentações de palhaços, com expressões, hábitos e tipos, além de gêneros musicais próprios da região, resultando numa forte empatia e identificação com o público.

3.1 Circos – Lona, tradição e família

Aquele que viaja o mundo sem sair de casa. Assim pode ser definido o circense: cidadão de todos os cantos, aquele que absorve diferentes culturas e devolve identificação e encanto a quem os assiste. Últimos filhos de uma tradição que repassa seus conhecimentos de pai para filho, estes artistas são a porta de entrada para outros segmentos culturais. Não é difícil

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CIRCO MÁGICO ALAKAZAM

Liderado pelo carisma de Wilson Ribeiro, o circo Mágico Alakazam se apóia na experiência de seu personagem mais conhecido, que acumula mais de 60 anos de circo. Figura presente na infância de muitos pernambucanos, ele leva o espetáculo de sua trupe a diversos municípios deste e de outros estados. A história de Wilson com o picadeiro começou aos 10 anos de idade, quando fugiu de casa para seguir com o Circo Espano Mágico, que havia cruzado seu caminho por três vezes consecutivas.

A primeira vez que viu o circo Espano Mágico foi durante uma visita à casa de parentes no município de Bom Jardim. Dali, a trupe seguiu para Surubim, terra natal do pequeno Wilson. O reencontro com as luzes, as cores e os números do picadeiro trouxeram à tona uma certeza que nunca tivera antes: ele queria fazer parte daquele mundo. Depois que o circo partiu, o menino tomou um caminhão em direção à feira de Frei Miguelinho, onde o Espano havia se instalado. Foi durante a viagem que ele deu o passo que mudaria sua vida.

“Durante a viagem eu conheci um casal de artistas que fazia parte da trupe, e eu fiquei mais

encantado ainda. Eles perceberam o meu interesse por aquele mundo através da minha conversa e me perguntaram se eu não queria seguir com o circo. Aceitei, e fui embora com

Fig. 24 – Mágico Alakzam – Foto de divulgação. (Fonte: Acervo da Fundarpe, Foto: Renata Pires, 2013)

Fig. 25 – Espetáculo de Lira no Circo Mágico Alakazam. (Fonte: Acervo Pesquisa, Foto: Juliano da Hora, 2013)

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eles. Só voltei pra casa aos 18 anos, minha mãe já nem tinha mais esperança de me encontrar. E o mais engraçado é que eu voltei no dia de finados”, lembra o mágico.

No picadeiro, ele aprendeu de tudo. Ensaiou por seis meses a arte do contorcionismo, enquanto ajudava nos afazeres do dia-a-dia e nos bastidores dos espetáculos, até estrear nos picadeiros. Depois enveredou pelos números de cilindro japonês, animais amestrados, desde cachorros, passando por bodes, e chegando até leões e elefantes! E assim ele seguiu por várias companhias, que ele afirma não lembrar mais quantas foram ao todo. Mas algumas marcaram sua carreira, como o Circo Rosário, o Circo Garcia, Gran Mouralves Circo e o Circo Ideal.

Mas o manto da mágica só viria ao seu encontro graças a um infortúnio: Por conta de um acidente no giro da morte em 1954, Wilson teve de abdicar dos números em que se exigiria esforço intenso de seu corpo. Após passar 21 dias internado, com costela, braços e pernas quebrados, por recomendação médica, Wilson decidiu entrar no mundo da mágica. E ali nascia o mágico Alakazam.

Em 1974, fundou o Circo Mágico Alakazam, que percorreu a maioria dos municípios

Fig. 26 – Espetáculo de Pêndulo no Circo Mágico Alakazam. (Fonte: Acervo Pesquisa, Foto: Juliano da Hora, 2013)

Fig. 27– Itinerância do Circo Mágico Alakazam. (Fonte: Acervo Pesquisa, Foto: Juliano da Hora, 2013)

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Isso aqui já mudou a vida de muita gente, como mudou a minha. Embora hoje eu atue em menor tamanho, comparado ao que já tive, o público tem à disposição números de ilusionismo, palhaços, belas performances de tecido aéreo, mastro giratório, ventríloquo, pêndulo espacial, atirador de facas, equilíbrio e globo da morte”, informa.

Além dos números citados, Alakazam também dá espaço para a interação com o público através dos números de dublagem e dança, nos quais os espectadores mirins são convidados a deixar a timidez de lado e conquistar os aplausos da plateia. O Circo Mágico Alakazam conta com uma programação apoiada pelo elenco próprio, mas por conta da itinerância, também pode apresentar novidades ao estabelecer parcerias com outros artistas circenses nos locais que visita.

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FAMÍLIA ALVES

Fundado em 1995, a companhia é capitaneada pela sergipana Ira Alves, mais conhecida como Gardênia Alves, que se encontra na terceira geração de uma família dedicada ao circo, que chegou ao Brasil em 1901, através de seus bisavós. Atualmente, a família Alves possui integrantes em várias companhias em todo o país. A companhia se vale da larga experiência e do conhecimento adquirido com artistas de várias linguagens e locais ao longo dos anos.

Para Gardenia, nascer numa família circense facilitou o aprendizado dos números. “Tudo

ocorreu de forma lúdica e natural. Conforme íamos evoluindo, estabeleceu-se uma disciplina diária de duas horas de treino pela manhã e uma à tarde”, revela. Tanto entusiasmo e

dedicação fez com que ela estreasse aos quatro anos de idade, com números de arame. Mas, isso não foi o bastante: a paixão pela arte e a disposição para aprender trouxeram maturidade para lidar com o circo como uma extensão de sua identidade, do seu lugar no mundo. Hoje, ela se desdobra nas apresentações de laço, chicote e pirofagia, entre outros.

Até ser responsável pelo seu próprio circo, Gardenia Alves pôde aprimorar suas técnicas em cerca de 20 companhias, entre elas o Circo Garcia, Circo d’ Nápoles, Circo Rocca,

Fig. 28 – Espetáculo de laço no Circo Alves.

(Fonte: Acervo da Fundarpe, Foto: Renata Pires, 2013)

Fig. 29 – Espetáculo de Lira no Circo Alves.

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Em suas temporadas com as diversas famílias circenses pelo Brasil, Gardenia pôde confirmar a necessidade dos profissionais da área desenvolverem uma visão multifacetada do entretenimento. A gestão de equipe e infraestrutura revelou-se um dos principais fatores responsáveis pelo êxito nos picadeiros. “Engana-se quem pensa que esta vida se resume à

arte e ao aplauso. Temos de ser empreendedores, ter bons contatos, ser equilibrados para apaziguar qualquer desequilíbrio que comprometa o bom desempenho da trupe… Não é fácil”, afirma a circense.

O Los Alves Circo oferece entretenimento para toda a família, com números de acrobacia, malabarismo, corda indiana, trapézio, aro russo, tecido, giro, pirofagia, chicote, monociclo, palhaço e magia. A bordo de seu comboio composto de dois trailers, um ônibus e um caminhão de pequeno porte, a equipe de 13 membros já visitou toda a região Nordeste, além de estados do Sudeste como São Paulo. Atualmente, concentra suas atividades em Pernambuco.

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CIRCO BAMBOLÊ

Fundado em 1983 e sob a coordenação de Alexsandro Alves, Mister Sandro ou também conhecido como palhaço Pililiu. O Circo Bambolê é mais um representante das companhias itinerantes que percorrem os estados da região, indo aonde as grandes companhias não chegam. Com um espetáculo voltado ao público geral (crianças, jovens e adultos), oferece números de trapézio, balé aéreo, malabares, cuspidores de fogo, palhaços, mágico, equilibrista, acrobacia de solo e dublagem cômica. Ao todo, a companhia conta com dezessete integrantes de uma mesma família que se mantém há três gerações com mais de trinta anos de tradição nos picadeiros.

Para Mister Sandro, o circo é um dos poucos canais disponíveis na sociedade para se estabelecer um laço verdadeiro entre o público e a arte. “Somos uma maneira acessível que

o povo tem para usufruir cultura. A gente precisa se organizar e planejar como uma forma de entretenimento, mas ultrapassamos essa visão. Circo é sensibilidade, ele amplia nossa percepção das coisas, incentiva o exercício da criatividade e da persistência: Temos de ter essa virtude para sermos melhores em nossos números, assim como para continuar levando o circo adiante, frente a tantas dificuldades”, conclui.

Fig. 30 – Circo Bambolê.

(Fonte: Acervo da Fundarpe, Foto: Roberta Guimarães, 2013)

Fig. 31 – Circo Bambolê.

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Para alcançar público e manter as atividades da trupe, o Circo Bambolê se apresenta a preços populares, com ingressos entre três e cinco reais. Atualmente a equipe percorre bairros mais afastados dos municípios da região metropolitana do Recife, com visitas a outras cidades do estado, em menor frequência.

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DISNEY CIRCO

O Disney Circo nasceu em Caruaru, por iniciativa da paraibana Francisca Oliveira, mais conhecida pelo nome artístico de Stefany. A trupe iniciou suas atividades em 1996, mas seus integrantes fazem parte da terceira geração de uma família de circenses. “Foi cerca de 20

anos passando por diversas companhias, as primeiras delas, seguindo meus pais, que me criaram neste ambiente”. Seria praticamente impossível eu não me encantar com tudo isso”,

lembra Stefany, que além de aprender os números, foi alfabetizada pela própria mãe, embaixo da lona.

Perseverança sempre foi uma forte característica de Stefany. Ela compara o aprendizado no picadeiro ao desempenho do circo como um todo, ao lembrar-se da vontade de ser dona de seu próprio espetáculo: “Da mesma forma que as atividades de picadeiro me exigiam foco,

concentração e persistência, a vontade de ter a minha própria lona também me exigia um empenho semelhante, com a diferença de que eu não podia focar apenas no meu mundo”,

revela a circense, que aprendeu a observar a dinâmica do cenário cultural, na busca por capacitações e editais de fomento.

Fig. 32 – Apresentação do Disney Circo. (Fonte: Divulgação)

Fig. 33 – Número de Mastro - Disney Circo. (Fonte: Acervo Fundarpe, Foto: Marcelo Soares)

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em 2007, além de workshops de gestão, direção e formação, promovidas pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) em 2011.

A trupe já percorreu todo o Nordeste, e tem como característica não se manter em apenas uma cidade nos estados que visita. A turnê do Disney Circo costuma durar de um a seis anos, dependendo do desempenho nas praças. O espetáculo de Stefany e companhia já passou um ano no Rio Grande do Norte, três anos no Piauí, quatro anos no Ceará e seis anos na Paraíba. Para Stefany, o contato com públicos diferentes renova o espírito do artista: “Nasci

em Souza, na Paraíba, mas me considero cidadã de todos os lugares que visitei e daqueles que ainda vou conhecer”, conclui.

Fig. 34 –Pula corda no Disney Circo. (Fonte: Acervo Fundarpe, Foto: Marcelo Soares)

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GLOBO REAL CIRCO

Fundado por Jaime Barbosa, mais conhecido como Jaime do Globo, a companhia tem tradição neste número, com trajetória reconhecida em diversos festivais e veículos de comunicação do Brasil. A história deste circo se confunde com o avanço do Globo da Morte pelos espetáculos circenses no Brasil. Tudo começou aos 22 anos do seu proprietário, quando Jaime e seus irmãos trabalhavam como pilotos de teco

passageiros, ora faziam panfletagem aérea.

Numa de suas visitas a Feira de Santana, Jaime conheceu o Globo da Morte através do Circo Fu-Manchu, que estava de passagem pela cidade. Ele conseg

voltou a Pernambuco, onde decidiu pôr em prática o plano de construir o seu próprio globo, em parceria com os irmãos e um amigo, dono de uma oficina mecânica.

A partir daí, Seu Jaime iniciou uma trajetória de sucesso, tanto

negócios, com encomendas de seus globos cada vez mais solicitadas pelas companhias circenses Brasil afora. O Globo Real Circo continua na ativa, tendo percorrido todo o Nordeste com cerca de 15 integrantes, oferecendo aos espectad

Fundado por Jaime Barbosa, mais conhecido como Jaime do Globo, a companhia tem trajetória reconhecida em diversos festivais e veículos de comunicação do Brasil. A história deste circo se confunde com o avanço do Globo da Morte pelos espetáculos circenses no Brasil. Tudo começou aos 22 anos do seu proprietário, ãos trabalhavam como pilotos de teco-teco, que ora transportavam

Numa de suas visitas a Feira de Santana, Jaime conheceu o Globo da Morte através do Circo Manchu, que estava de passagem pela cidade. Ele conseguiu tirar fotos da estrutura e voltou a Pernambuco, onde decidiu pôr em prática o plano de construir o seu próprio globo, em parceria com os irmãos e um amigo, dono de uma oficina mecânica.

A partir daí, Seu Jaime iniciou uma trajetória de sucesso, tanto nos picadeiros quanto nos negócios, com encomendas de seus globos cada vez mais solicitadas pelas companhias circenses Brasil afora. O Globo Real Circo continua na ativa, tendo percorrido todo o Nordeste com cerca de 15 integrantes, oferecendo aos espectadores uma hora e meia de

Fig. 35 – Globo Real Circo em 2009. (Fonte: Acervo da companhia)

Fig. 36 –Antiga estrutura do Globo Real Circo. (Fonte: Acervo

Globo Real Circo em 2009. (Fonte: Acervo da companhia)

Antiga estrutura do Globo Real Circo. (Fonte: Acervo da companhia)

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CIRCO DE MÔNACO

Para Pollyana Cristina, o circo é mais que espetáculo. É sua casa, sua identidade, sua bandeira. Nascida durante uma temporada circense no município de Betânia, interior de Pernambuco, ela conheceu a vida através dos arames, dos saltos, do brilho e do aplauso, mas desde cedo aprendeu que o circo não se resumia somente a isso. “Conforme fui

crescendo, eu via o quanto meus pais se esforçavam em busca de um bom desempenho nas apresentações. Havia muito amor pelo que faziam, mas também muito suor, não era só essa visão romântica que as pessoas têm do circo, não”, revela a circense.

Aos 12 anos de idade, treinava com o pai, bastante conhecido no meio por seu trabalho como o Palhaço Timbira. Os exercícios eram praticados todos os dias, durante a manhã e a tarde, sendo o equilíbrio no arame seu número de estréia no picadeiro. “Era divertido, mas

aprendi a ter muita disciplina pra seguir em frente”, lembra Pollyana. E foi a disciplina aliada

à vontade de crescer como artista, que fez com que sua família passasse por diversas companhias, entre elas o Circo de Beto Carrero.

No ano 2000, com a experiência acumulada em mais de 10 companhias, que o Palhaço Timbira decidiu seguir com seu próprio circo, batizado de Golden Circo Shalon, que anos depois, sob os cuidados da filha Pollyana, tornou-se o Circo de Mônaco. Sua companhia hoje

Fig. 37– Circo de Mônaco. (Fonte: Acervo companhia.

Fig. 38 – Interior do Circo de Mônaco. (Fonte: Acervo companhia.

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dispõe de equipamentos de iluminação, som, pêndulo, globo da morte, tecido, cubo aéreo, giro. Num total de 35 membros, sendo 10 não familiares. Que apresentam números de palhaçaria, malabares, acrobacia, mágica, pirofagia, aéreo, dança e dublagem cômica.

Basicamente, visita os municípios do interior dos estados do Nordeste, entre eles Paudalho, Itambé, Goiana, Petrolina e Petrolândia (PE), Paulo Afonso (BA), JoãoPessoa, Cajazeiras (PB), Parelhas, Caicó e Jardim do Seridó (RN), entre outros.

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CIRCO NAWELLINGTON

Fundado há 20 anos por Iracema Ferreira, o Circo Nawellington reflete a realidade de muitas mulheres do Nordeste, que tomam as rédeas de suas vidas para seguir enfrentando os desafios. E crescer no circo lhe deu segurança para se firmar no cenário competitivo do setor: “Para mim, o mundo era tudo isso aqui. Enquanto algumas crianças têm um contato

com o espetáculo como algo fora de sua rotina normal, eu me descobri gente aqui na lona. Então, tudo que eu sei, aprendi aqui. E o que eu aprendi fora me fez olhar pro meu mundo como uma maneira de amenizar o peso da vida”, afirma a matriarca do Nawellington.

O Nawellington faz parte das companhias que à primeira vista podem parecer pequenos, se vistos armados nos bairros mais afastados de grandes cidades, mas se tornam grandes ao chegar aos municípios pequenos. “O circo tem o tamanho que o público dá. Nós não

existimos sem os espectadores. Por isso ficamos felizes ao ver que provocamos entusiasmo e curiosidade quando chegamos. Isso nos dá forças para continuar”, diz Iracema, que aos 45

anos de idade, se mantém atenta aos detalhes que cercam a sua companhia, não importando a dimensão de seu show.

Um espetáculo tem de cerca de 2 horas e 20 minutos, com números de malabares, equilíbrio de escada, duplo trapézio, escada oscilante, corda indiana, balão aéreo, chicote, cama

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elástica, pirofagia, mágica, palhaçaria e arremesso de facas. O público tem acesso através de preços populares, entre três e cinco reais, como a maioria dos circos de lona.

Para administrar o picadeiro, Iracema costuma ficar atenta ao movimento externo à sua lona, sempre se informando a respeito de ações que possam afetar ou beneficiar a continuidade artística de sua prole. Ela participa de reuniões de sindicatos, estabelece parcerias com outros circenses e procura outras iniciativas que se atêm sobre a classe como um todo. Uma de suas bandeiras é a educação, que defende com unhas e dentes: “Educação

é essencial para tudo, principalmente para quem é de circo. É a única forma de não sermos passados pra trás nesse cotidiano da gente”, afirma.

E foi justamente com o setor educacional que Iracema pôde constatar a falta de informação a respeito dos direitos das famílias circenses. Uma das maiores dificuldades na vida circense diz respeito à matrícula das crianças e jovens circenses nas escolas. “Todas as vezes que

visito as escolas, já levo debaixo do braço a minha cópia da Lei 6.533/78, que garante a entrada dos nossos filhos e netos nas escolas dos municípios onde cumprimos temporada. Na maioria das vezes eu recorro à esta cópia, por que já tive matrícula recusada por professores e diretores que desconhecem a lei”, conta Iracema.

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Mesmo com a apresentação desta lei, o direito à educação ainda enfrenta uma barreira, pelo fato do próprio recurso limitar a matrícula à apresentação de um certificado da escola de origem, que muitas famílias não possuem ou acabam perdendo entre as mudanças de uma praça à outra. Mesmo assim, ela não desanima. “Se eu insisto em dar uma boa

educação a eles, é para que possam ter a consciência do valor de nossa arte, e capacidade para mantê-la de forma digna e criativa”, conclui.

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CIRCO MÁGICO ROMANO

A história do Circo Mágico Romano tem início com o carisma do garoto José Carlos, que aos nove anos de idade foi vender doces e pipoca no Circo Irmãos Lira, que havia chegado ao município de Bezerros. A postura brincalhona e simpática com os clientes, que sempre voltavam para comprar mais guloseimas, chamou a atenção do proprietário da companhia, que o convidou para seguir com a trupe. E assim, com a permissão dos pais e a promessa de um futuro melhor, ele juntou-se à família da lona.

Durante o tempo em que passou ajudando com pequenos afazeres e aprendendo números, José teve acesso à rotina complexa do circo. Ali, ele viu que aquele universo englobava algo mais além da música, das cores e dos holofotes. A convivência com Nestor Lira, o dono da companhia, que cuidava pessoalmente da educação do garoto, foi fundamental para a formação do futuro palhaço Birrinho: “Eu aprendi que circo era mais que espetáculo. Quem

tá de fora só consegue enxergar esse lado. A gente que vive o circo tem que conviver com os dois ângulos dele: É divertido, nos realiza em alguns aspectos, mas também é coisa séria, como qualquer outro trabalho, e não pode ser levado assim, sem seriedade”, reflete Birrinho.

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Seu treinamento começava cedo. Ia das 5 às 7 da manhã, e retornava após cada espetáculo, para tentar pôr em prática o que havia visto durante a noite. E foi assim que no seu primeiro ano de atividade ele estreou como palhaço e trapezista. Aos 14 anos já era um exímio atirador de facas, e aos 20, enveredou pela mágica. Tamanho esforço lhe deu mais segurança e uma boa dose de orgulho para seguir em frente. “Quanto mais eu aprendia,

mais eu me sentia parte daquele mundo. Foi aí que me deu vontade de ter o meu próprio circo”.

Mas José quis explorar outros mundos. Ao deixar os Irmãos Lira, participou daqueles que compunham o elenco estelar das companhias: Circo Garcia, Continental, Circo D’ Nápole, América, Globo Real, Kaoma, Celeste e Miami, entre outros. Em 1988, já estabelecido no mercado, inaugurou o seu Circo Mágico Romano, fruto de muito esforço, algumas economias, auxílio dos familiares e a participação de vários profissionais com quem trabalhou ao longo da carreira.

A trupe é composta de 14 membros, todos familiares, que dão continuidade à tradição circense, com números de mágica, contorcionismo, trapézio, balé aéreo, arame, palhaço, malabarista, atirador de faca, pirofagia, bailarina e ventríloquo. Para se apresentar, o Circo Mágico Romano conta com a estrutura de uma lona, 50 cadeiras, 14 tramas de

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arquibancada, seis cabos de aço e dois mastros, transportados junto com a trupe em dois carros e quatro trailers. “É difícil, mas a gente não quer deixar o circo morrer, por que ele é a

nossa vida”, desabafa Birrinho.

O Circo Mágico Romano engrossa a lista das companhias que tentam se equilibrar numa corda bamba que parece não ter fim. Para atrair o público, Birrinho e sua trupe cobram entre dois e quatro reais pelo espetáculo de uma hora e meia de duração. Dependendo da praça, não sobra muito para se investir na melhoria da estrutura e dos equipamentos. De acordo com Birrinho, o circense trava uma luta injusta que tende a levar a classe para a estagnação: “Enquanto artistas reconhecemos que há um patamar de excelência em

estrutura e números, até por que fomos criados nesse universo e treinados para nos superar. Mas as condições de hoje em dia não nos dão espaço para encarar desafios maiores”, afirma.

Para sobreviver, muitos circenses levam o circo da maneira que é possível. E isso é o primeiro passo para um caminho sem volta: “cobrando pouco para termos o mínimo para viver. Cobrando pouco, não podemos investir no picadeiro. Consequentemente, isso afasta o público, que gosta de novidades, de espetáculos bem feitos”, desabafa o palhaço. E assim vão caminhando várias famílias circenses, roubadas no seu direito de atuar naquilo que mais

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CIRCO TRANSAMÉRICA

Com cerca de 50 anos nos picadeiros, Gerson Cardoso - natural de Quebrângulo/Alagoas, e em 1958 seguiu com o circo Águia de Prata, que se instalou próximo à sua casa - conhece muito bem as glórias e os desafios da vida no circo. Ele é dono do Circo Transamérica, que em mais de 30 anos reuniu familiares e outros artistas em busca de um espaço para desenvolver seus talentos. Hoje, as atividades pouco lembram a intensidade de alguns atrás. "Já passei por cerca de 200 circos, mas quando tentamos seguir com os nossos, que são

menores de idade porte, as dificuldades fazem com que a gente diminua o ritmo", afirma

Gerson, que viu aos poucos a sua equipe diminuir. Composta em sua maioria por filhos e outros parentes, a trupe teve de ceder à necessidade de obter uma renda mais estável, e muitos fixaram residências e mudaram de ramo pelo caminho.

Em seus tempos áureos, o Transamérica possuía malabaristas, trapezistas, palhaços, dançarinas e globo da morte, percorrendo vários estados. Por conta de sua contribuição e persistência em levar a bandeira da arte circense ao grande público, em 2007 foi agraciado com o prêmio Carequinha de Estímulo ao Circo, da Fundação Nacional de Artes (Funarte).

Nos últimos anos, com a saída de seus membros, e as constantes crises econômicas que afetaram o país, a companhia resumiu seu campo de atuação aos bairros mais populares das

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cidades, que segundo Gerson, ainda apresentavam uma demanda por entretenimento, somente preenchida pela televisão, rádio e festas nos bares das redondezas. Para atrair as pessoas para fora de casa, o Circo Transamérica recorreu a preços bastante populares, como dois reais pela entrada de adultos, e um real para crianças. Se por um lado este recurso ajudou com o mínimo para que a família pudesse se manter, por outro, afastou a possibilidade de se investir na manutenção dos equipamentos e na obtenção de novos.

Esse círculo vicioso da luta pela sobrevivência e da falta de recursos para continuar na estrada é a razão do sepultamento de várias companhias, acredita Gerson. Ele afirma que o tempo trouxe mudanças para o setor circense, mas não conseguiu mudar o tratamento dado aos seus artistas. "Eu acho que a sociedade e o poder público, que se orgulham tanto de

novas conquistas, de avanços, decidiram ficar presos ao passado quando o assunto é o circo. Prefeituras não pensam nos espaços urbanos como locais de apoio à cultura popular, não reservam um canto pros circos. Eu diria até que eles dificultam nossa vida em muitos aspectos”, diz.

De fato, a reclamação mais constante dos circenses pernambucanos é a dificuldade para encontrar terrenos e a regularização do uso dos mesmos. Segundo Gerson, as prefeituras

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só os grandes podem pagar, às vezes não nos recebem, e alguns que o fazem nos olham como algo nocivo à comunidade, nos expulsam, se esquecem que somos cidadãos, que também votamos e queremos o direito de também exercemos nosso ofício, aquilo que nos realiza e nos faz felizes", conclui.

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CIRCO VENEZA

Companhia capitaneada por José do Amparo, mais conhecido como Palhaço Juquinha. Filho de circenses, José assumiu o personagem Juquinha aos 10 anos de idade, para substituir o seu irmão mais velho. Gostou tanto da experiência, que nunca mais largou sua nova faceta. Tanto, que a partir dela, traçou sua própria trajetória, perpetuando uma tradição que alcançou a terceira geração de artistas circenses.

O Circo Veneza surgiu no início dos anos 80, após José ter vendido seu antigo circo, o América. Após reunir condições para montar um novo circo, o batizou com o nome da famosa cidade italiana. De estrutura simples, o Veneza continuou a levar a arte circense aos mais diversos locais, até que um serviço prestado ao Projeto Chapéu de Palha do então governador Miguel Arraes na segunda metade da década fez com que novos equipamentos pudessem ser adquiridos.

Hoje a companhia, que já percorreu todo o Nordeste, conta com cerca de 15 membros, entre familiares e artistas, que apresentam números de malabares, arame, giro, palhaços, acrobacia, pirofagia, dança, mágica e arremesso de faca.

Fig. 39 –Palhaço Juquinha. (Fonte: Divulgação)

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3.2 Trupes – Paixão e encanto

Em um contexto mais reduzido, abordaremos as trupe e companhias. Quando não só é composta por uma equipe menor, como também não depende da “lona” para sua existência.

Por essas e outras, o circo consegue ir até onde o povo está e até mesmo onde estará: Para quem é tocado pelo picadeiro, as trupes abrem as mentes e as portas das possibilidades de crescimento pessoal e profissional.

Algumas delas por sinal, são fruto de um desmembramento de um circo maior, ou mesmo, como é mais comum, têm sua origem numa escola de circo, onde a coletividade dos números circenses cria uma interação constante entre os integrantes e permite que esses elementos realizem ações de maneira diversa e que explore o perfil de cada um, sem perder a uniformidade do grupo. Mesmo nas substituições, a unidade do grupo se mantém e na maioria das vezes todos aprendem um pouco de tudo, o que facilita essa alternância de papéis.

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CARAVANA TAPIOCA

Fundada em 2010, a Caravana Tapioca não é um circo de lona, mas uma trupe circense que se apresenta em praças, parques e teatros. Formada pelos produtores e pesquisadores paulistanos Anderson Machado e Giulia Cooper, a Caravana reuniu o melhor de dois mundos, pelo fato de ambos terem formação neste segmento, com experiências dentro e fora do Brasil.

“Acredito que foi a curiosidade e a paixão pelo universo circense que nos guiou a muitos

nomes e iniciativas legais do meio nacional e internacional. Isso nos permitiu enxergar o circo como uma afirmação da cultura livre dos povos”, afirma Giulia. Esta visão se estende ao

acesso desta representação por parte da sociedade. “Se a cultura é livre, nada mais justo que

esta arte também tome as ruas, cenário que reúne todos os cidadãos, sem distinção de classe, cor, gênero ou posição social”, conclui. Conhecimento circense que une teatro,

malabarismo, mágica, palhaçaria e música, através de encontros com cidadãos e grupos artísticos. Dessa forma, incentivam a troca de saberes e parcerias criativas na forma de oficinas e festivais. Entre os frutos deste empenho, estão o Palco Aberto Recife e o Festival de Circo a Céu Aberto, que trazem um fôlego artístico e lúdico ao cotidiano da cidade,

Fig. 40 – Caravana Tapioca – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia)

Fig. 41 – Caravana Tapioca – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia)

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CIA 2 EM CENA

A Cia 2 em Cena foi fundada com o propósito de estudar a arte da palhaçaria no Brasil. Com o desenvolvimento de pesquisas pelos atores-produtores Alexsandro Silva e Arnaldo Rodrigues, seus membros atuam desde 2006 com oficinas, textos de dramaturgia e contribuições como artigos para publicações dedicadas ao segmento cênico.

Aqueles interessados em aprimorar seus talentos encontram nesta iniciativa o espaço perfeito para imergir nas nuances deste personagem tão importante no imaginário popular. “Aqui não ficamos apenas na teoria. Ela nos impulsiona a procurar na prática o que seria a

formação da identidade do palhaço no Brasil e sua relação com os contextos sociais e culturais. Visitamos circos, conversamos com os profissionais, vamos às ruas, procuramos vivenciar aquilo que estudamos”, afirma Alexsandro Silva.

Este posicionamento rendeu à trupe um desdobramento de outras pesquisas no campo da música e dos folguedos populares, além de interagir com público a partir de um tema que possa incentivar à reflexão ou discussão, em pontos de grande circulação de público da

Fig. 42 – Cia 2 em Cena – Foto divulgação. (Fonte: Acervo da companhia)

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cidade. Por isso, a Cia 2 em Cena também pode ser chamada, nas palavras de seus próprios fundadores, um circo sem lona: “conseguimos levar este universo lúdico às pessoas, ao mesmo tempo que estabelecemos uma troca com elas. A partir de suas reações, de seu olhar sobre nós, podemos absorver pontos importantes na compreensão do lugar do palhaço e sua contribuição à sociedade”, dizem Arnaldo e Alexsandro.

Como o perfil da companhia é o foco na pesquisa, ela costuma se apresentar gratuitamente em espaços urbanos e feiras livres, e preferencialmente em comunidades carentes, que são contempladas com 80% das atividades do grupo. Para levar esta iniciativa adiante, a trupe conta com o apoio de recursos obtidos em editais de fomento à cultura.

A Cia 2 em Cena é composta por nove integrantes, distribuídos entre músicos, pesquisadores, atores e dançarinos. Suas apresentações duram entre 45 minutos auma hora. Sua margem de público é variante, a depender do tráfego de pedestres e do horário, onde e quando são encenadas.

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CIA ANIMÉE

Fundada em 2007 pelas atrizes Enne Marx e Nara Menezes, a Cia Animée busca aprofundar a linguagem do clown, através de apresentações que mesclam linguagem cômica e musical e ações de formação com oficinas voltadas a este segmento circense. A trupe se completa com Juliana de Almeida e Tâmara Floriano, que se uniram à dupla para formar a banda de palhaças As Levianas, cuja estréia se deu em 2010, no II Encontro Nacional de Mulheres Palhaças em Brasília.

A companhia possui diversos instrumentos de percussão e elementos cênicos de seus três espetáculos encenados, além de violões, teclado, bateria, baixo e guitarra, que as auxiliam na pesquisa e nos treinamentos musicais aliados à linguagem do palhaço e à comicidade cênica. Além disso, faz a produção e curadoria do Festival Internacional de Palhaças do Recife: Palhaçaria, que discute a discussão do espaço feminino neste segmento da arte. A programação contempla o público infantil e adulto, passando por peças completas a números de cabaré de palhaças. As integrantes da Cia Animée já ultrapassaram as fronteiras nacionais, tendo levado o humor feminino até a Áustria. No Brasil, acumulam êxitos em Pernambuco, Ceará, Bahia, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Distrito Federal, entre outros estados.

Fig. 43 – Cia Animée – Foto divulgação. (Fonte Acervo companhia, Foto: Lana Pinho)

Fig. 44 – Cia Animée – Foto divulgação. (Fonte Acervo companhia, Foto: Lana Pinho)

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CIA. BRINCANTES DE CIRCO

A Cia. Brincantes de Circo está intimamente ligada à trajetória de seu fundador, Boris Trindade Jr, fundador da Escola Pernambucana de Circo em 1996, junto com o amigo José Clementino de Oliveira.

Bóris - ou Borica, como também é conhecido - iniciou sua trajetória circense no ano de 1986, no Circo Escola Picadeiro em São Paulo. Sua fome de picadeiro o levou a buscar novas técnicas em instituições como a Escola Nacional de Circo, a Central do Circo e a Central de Santa no Rio de Janeiro; e a Ecole de Cirque de Voiron, na França. A sua bagagem artística também acumula êxitos na área do circo social, tendo desenvolvido trabalhos com referências nacionais como o Projeto Social Crescer e Viver (RJ), Grupo Cultural Afroregae (RJ), Escola Nacional de Circo (RJ), e a Central da Lapa (SP). A Cia. Brincantes de Circo tem sua origem da experiência trazida por Borica ao longo dos anos. Em 2009, de volta ao Recife, Bóris dá início à iniciativa, junto com o Projeto Pirueta Circo Social. Ambos unem as técnicas circenses à excelência da performance esportiva, com a participação de professores, instrutores, capoeiristas e ginastas.

Fig. 45 – Cia Brincantes – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia)

Fig. 46 – Cia Brincantes – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia)

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DUAS COMPANHIAS

A Duas Companhias foi fundada em dezembro de 2003, pelas atrizes pernambucanas Lívia Falcão e Fabiana Pirro, que entre os trabalhos experimentais desenvolvidos em várias linguagens, estão a palhaçaria, o teatro de bonecos e de máscaras, que convivem entre diversos projetos como leituras dramatizadas, documentários e impressos.

As próprias atrizes que estão à frente do projeto têm laços com as técnicas do universo circense, por que além de produtoras e diretoras, elas possuem o sorriso da palhaçaria em seus currículos. Mas não para por aí. A Duas Companhias é composta por um grupo de 25 pessoas, entre dramaturgos, atores, cantores, poetas, fotógrafos, iluminadores, sonoplastas, cenotécnicos, cineastas e músicos, dentre os quais alguns também apresentam o espírito do palhaço em suas atividades.

Com uma carreira de sucesso, a Duas Companhias já ultrapassou as fronteiras do país, tendo visitado Portugal e Bélgica com a peça “Caetana” em 2005. No território nacional, já percorreram quase o Brasil inteiro, tendo participado de iniciativas como o Palco Giratório do SESC, com apresentações: Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Sergipe, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Manaus, Tocantins, Amapá, Roraima, Espírito Santo, Paraná, Acre, entre outros.

Fig. 47 – Duas Companhias – Foto divulgação.

(Fonte:< https://www.facebook.com/duascompanhiaspe>, acesso em: 01/09/2013)

Fig. 48 – Duas Companhias – Foto divulgação.

(Fonte:< https://www.facebook.com/duascompanhiaspe>, acesso em: 01/09/2013)

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fundadores, um circo sem lona: “conseguimos levar este universo lúdico às pessoas, ao mesmo tempo em que estabelecemos uma troca com elas. A partir de suas reações, de seu olhar sobre nós, podemos absorver pontos importantes na compreensão do lugar do palhaço e sua contribuição à sociedade”, dizem Arnaldo e Alexsandro.

Como o perfil da companhia é o foco na pesquisa, ela costuma se apresentar gratuitamente em espaços urbanos e feiras livres, e preferencialmente em comunidades carentes, que são contempladas com 80% das atividades do grupo. Para levar esta iniciativa adiante, a trupe conta com o apoio de recursos obtidos em editais de fomento à cultura.

A Cia 2 em Cena é composta por nove integrantes, distribuídos entre músicos, pesquisadores, atores e dançarinos. Suas apresentações duram entre 45 minutos a uma hora. Sua margem de público é variante, a depender do tráfego de pedestres e do horário, onde e quando são encenadas.

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IRMÃOS SANTANA

Os Irmãos Santana são um exemplo do poder contagiante do circo. Allison, Jaqueson e Anderson foram incentivados por um tio que atuava no projeto Circo Oi OiOi, desenvolvido por Madre Arnia Escobar com grandes nomes do setor cultural pernambucano, no Centro Educativo de Comunicação Social do Nordeste (Cecosne).

Além do fascínio natural que as cores e os movimentos do circo causam no público infantil, ter um parente que os levava para assistir aos ensaios e os espetáculos prontos foi o empurrão que faltava para que adentrassem pela porta do picadeiro. Anderson conta que no início, o contato com os números era feito de forma muito lúdica. “A gente via aquilo como

uma grande brincadeira, até o momento em que quisemos realizar todas aquelas façanhas da forma correta. Lembro que a primeira coisa que aprendemos foi malabarismo. Nós tínhamos que atravessar a sala em direção ao meu tio praticando quem errasse, voltava para o início do percurso”, afirma o artista.

Foi somente em 1995 que os irmãos resolveram se apresentar profissionalmente, com números de malabares, perna de pau, palhaçaria e pirofagia. A primeira apresentação foi com um número de palhaços, justamente para a mentora de seu tio e de vários outros

Fig. 49 – Irmãos Santana – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia, Foto: Sávio Uchôa)

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circenses que conheceram: Madre Escobar, que àquela época iniciava a ONG Arraial Intercultural de Circo do Recife - O Arricirco.

Ao longo dos anos, os irmãos tiveram contato com diversas instituições, além de trupes do Brasil e do exterior, com quem trocaram saberes e estabeleceram parcerias. Uma das mais notáveis foi a Caravana do Selo UNICEF - Município Aprovado, que durante o ano de 2006 percorreu cidades de Pernambuco, Paraíba e Alagoas que cumpriram com suas metas relacionadas à educação, saúde e proteção, com foco em melhor qualidade de vida para crianças e adolescentes.

Para Jaqueson Santana, o circo desenvolve a sensibilidade, a perseverança e a disciplina, mas é subestimado pela sociedade, que poderia tirar maior proveito deste segmento cultural. “Creio que falta mais integração da nossa arte com as demais. O artista circense não tem o

mesmo prestígio que um ator, cantor, músico ou pintor”, afirma. Jaqueson atribui as

dificuldades enfrentadas à falta de informação e valorização a respeito de sua arte. “Como

consequência, demoramos a receber nossos cachês, enfrentamos mais dificuldades para conseguir locais e patrocínios para nos apresentar”, conclui.

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e o Festival de Circo a Céu Aberto. Entre os circos pelos quais passaram, estão o Los Angeles, Disneylândia, e Circo Sandra. Atualmente, os irmãos desenvolvem trabalhos como arte educadores, confecção de acessórios e instrumentos circenses. Além dos picadeiros, eles também investem em outros segmentos, como artes visuais e música.

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TRUPE CIRCUS

A Trupe Circus é resultado do trabalho desenvolvido pela Escola Pernambucana de Circo, uma iniciativa voltada à formação social e cultural de crianças e jovens, apoiada nas técnicas circenses. O espaço também serve de apoio aos jovens artistas que buscam aperfeiçoar e reciclar seus conhecimentos.

A trupe existe há oito anos, e possui um elenco de 20 membros, composto por ex-alunos, artistas convidados e professores do quadro da escola, o que reforça o caráter social da proposta. Entre os integrantes, o educador Ítalo Feitosa é uma prova viva da contribuição do circo para a comunidade: “Fui aluno e hoje passo adiante meu conhecimento a essa nova

geração, oferecendo um tempo preenchido com criatividade, incentivo ao trabalho em equipe, respeito e disciplina. “O circo transforma as pessoas para melhor, muitos saíram daqui e hoje são educadores ou artistas, até mesmo em outros países”, afirma feliz com o

trabalho realizado.

Fig. 50 – Trupe Circus (Fonte: Juliano da Hora, 2013)

Fig. 51 – Trupe Circus (Fonte: Juliano da Hora, 2013)

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Atualmente, a Trupe Circus conta com a coordenação executiva e artística de Fátima Pontes, que reforça a postura dinâmica da iniciativa, pela presença de vários perfis no grupo, que preza pela troca dos mais experientes com os mais novos. Ela afirma que dessa forma, o coletivo mostra ao individual que é preciso estar sempre em movimento, sem parar de aprender. “Uma prova disso está no repertório de nossos espetáculos, onde buscamos fazer

experimentações entre várias linguagens, como o próprio circo, o teatro e a dança, que divergem sobre temas importantes para o ser humano”.

Entre os espetáculos apresentados, estão “Ilusão - Um Ensaio Melodramático Circense”, encenado entre 2009 e 2010, que enfocou as dúvidas e anseios dos jovens frente à entrada no mundo adulto. “Sonho do Circo”, encenado entre 2010 e 2011, falava do empenho dos palhaços em conquistar a plateia, mostra o quanto o circo é feito de suor, treino e perseverança.

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Em 2013, o público teve a chance de conferir “Círculos que não se Fecham… Experimento nº 1”. Nele, a trupe estabeleceu um diálogo com a plateia acerca da violência sofrida e atribuída aos jovens, em especial aqueles das periferias urbanas. A violência em questão ultrapassa o limite do físico, sendo notada também no campo da identidade e autoestima, com questões acerca das potencialidades, talentos e confiança na realização de suas aspirações.

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TRUPE PERNILONGOS

Composta por Sérgio Muniz, Jonauto Andrade, Alequissandro Batista e Didha Araújo, a Trupe Pernilongos é fruto da responsabilidade social do circo. Todos os seus integrantes vieram de comunidades humildes do Grande Recife, tendo sido contemplados pelo trabalho do Arraial Intercultural de Circo do Recife (Arricirco), que ofereceu lhes perspectivas de inclusão social e profissionalização através da arte circense.

Em 2007, decidiram se unir e pôr em prática a experiência adquirida para se apresentar em parceria com companhias de vários portes, além de festivais e eventos privados. “O circo nos

ensinou a correr atrás do que desejamos, nos ensinou a pescar, só que de uma forma mais lúdica e artística que os demais ofícios por aí”, afirma Sérgio Muniz.

A trupe explora números de equilíbrio, força e agilidade, tais como malabares com bolas, claves de luz e de fogo, argolas e prato chinês, pernas-de-pau (que por sinal, nomeia o grupo pelo trocadilho de palavras), acrobacia, tecido acrobático, monociclo, rola bola, palhaçaria, bandeiras de swing e arame móvel. Para alcançar seu público, os Pernilongos contam a ajuda

Fig. 52 – Trupe Pernilongos – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia)

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de recursos próprios, parcerias com outras companhias, e buscam editais públicos para manutenção de suas apresentações.

Mas para eles, este apoio, apesar de bem-vindo, não pode ser a única fonte de incentivo. “Acreditamos que o circo ainda não caminha com as próprias pernas no Brasil. Seja por falta

de visão da própria sociedade, que não nos encara como um segmento cultural de fato, seja pela classe, que poderia se organizar melhor na defesa de seus interesses”, defende Jonauto

Andrade.

Para completar a renda, os integrantes da trupe possuem atividades que desempenham em paralelo às artes circenses - inquestionavelmente essa é a realidade de muitos outros artistas - mas também encontram tempo para atuar em ações formativas de arte-educação, mantendo uma agenda regular de apresentações.

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3.3Escolas – O social e a técnica

ARRICIRCO

Uma iniciativa que pode ser considerada um capítulo importante na história da arte circense de Pernambuco. Descobrir novos talentos a partir de crianças e adolescentes das comunidades carentes fez toda a diferença para o Arraial Intercultural de Circo do Recife (Arricirco), uma ONG fundada em 1995, pela freira gaúcha madre Armia Escobar, a partir de sua experiência com a criação do Circo Oi OiOi em 1985, quando diretora do Centro Educativo de Comunicação Social do Nordeste (Cecosne).

Com foco na faixa etária entre sete e 17 anos, o Arricirco ultrapassa o ensino gratuito das artes circenses, ao também promover um acompanhamento psicológico, no intuito de construir futuros cidadãos conscientes e pró-ativos. A ONG atua com cerca de 100 alunos: 30 no período da manhã, mais 30 no período da tarde, e ainda outros 40 alunos com aulas em escolas públicas.

Fig. 53 – Arricirco – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia)

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Entre as atividades, malabares, acrobacia, pernas de pau, trapézio e tecido. O trabalho realizado é reconhecido internacionalmente, com convites para apresentações que foram bastante aplaudidas em países como França, Itália, Holanda e Canadá.

Um detalhe importante desta iniciativa é o fato da maioria dos profissionais que atuam na ONG são ex-alunos, que para os mais novos são modelos de superação e profissionalismo. Muitos ingressam levados pelos amigos ou parentes que já tinham assistido a alguma apresentação, e acabam por alçar voos maiores, a partir de atuações em outras escolas e companhias. Grande parte dos profissionais circenses atuantes no estado já passaram pela escola ou já realizaram algum trabalho em parceria com a mesma.

Fig. 54 – Arricirco durante as aulas. (Fonte: Juliano da Hora, 2013)

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PIRUETA CIRCO SOCIAL

O Pirueta Circo Social é um projeto voltado aos jovens, que utiliza as técnicas circenses e a dança como um caminho de conquista da cidadania. Sob a coordenação do diretor circense Bóris Trindade Júnior, também conhecido como Borica, a iniciativa contempla números de aéreos, malabares, solo, equilíbrio e até balé clássico.

O projeto é fruto da atuação do Centro Cultural Picadeiro, que desde 1996 acumula êxitos e parcerias com importantes instituições ao longo de sua trajetória, entre elas a Fundação Nacional de Artes (Funarte), a Escola Nacional de Circo, o Ministério da Cultura (MinC), a Fundarpe, a Fundação de Cultura Cidade do Recife, a Fundação Joaquim Nabuco, o Instituto HSBC Solidariedade e as prefeituras de Olinda, Recife, Camaragibe e Jaboatão dos Guararapes.

Fig. 55 – Pirueta Circo Social – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia)

Fig. 56 – Pirueta Circo Social – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia)

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CIRCO DA TRINDADE

Sorrisos, saltos, cambalhotas e aplausos, aliados a um trabalho de pesquisa sobre dramas circense e a cultura popular. Estes foram os elementos da iniciativa capitaneada por Gilberto e Juliana Trindade, que em 2004 deram início a um núcleo voltado ao estudo e experimentações nas artes circenses e suas manifestações, o Circo da Trindade.

Fundado entre os anos de 2003 e 2004, sob a batuta dos atores Gilberto Trindade e Maria Luiza Lopes, a partir de uma pesquisa de campo em drama circense coordenada pelo arte educador Marco Camarotti. A oportunidade serviu como incentivo para a união dos conhecimentos que ambos possuíam em teatro e dança com as artes dos picadeiros. E assim foi criado um centro experimental dedicado a explorar as nuances que existem entre estes três segmentos, agregando artistas e aprendizes. A iniciativa rendeu vários frutos ao longo dos anos, como apresentações em festivais, prêmios e o reconhecimento da classe.

Fig. 57 – Circo da Trindade – Foto divulgação. (Fonte: Acervo companhia)

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A iniciativa tem um padrinho especial: o diretor teatral, ator, dramaturgo, produtor e professor Marco Camarotti (1947 - 2004), que em 2003 estava formando uma equipe que o auxiliaria numa pesquisa de campo acerca das relações entre as linguagens circenses, as montagens cênicas tradicionais e a cultura popular. Gilberto Trindade foi convidado junto com a colega Maria Luiza Lopes para o time que contribuiria para aquele estudo. O resultado foi o livro “O Palco no Picadeiro: na trilha do circo-teatro”, de Camarotti.

A participação na pesquisa foi o impulso que Gilberto Trindade e Maria Luiza precisavam para abraçar as artes circenses como objeto de estudo e experimentação. Uniram-se a Juliana Trindade, e decidiram fundar o núcleo de estudos, apoiado na iniciativa de seu mentor. A ideia cativou outras mentes criativas, e logo vieram Marcelo Oliveira, Júlia Fontes e Neto Portela, entre outros. Estava formado o Circo da Trindade.

Seus integrantes acreditam que a proposta desenvolvida no Circo da Trindade contribui com um olhar mais amplo sobre o universo do picadeiro. "O universo circense pode ser melhor

integrado em diversos setores da sociedade, como a educação, através do potencial lúdico e criativo que a arte proporciona, e também com a saúde, tendo em vista os benefícios que a

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prática de números de força, equilíbrio e resistência trazem a quem procura esta alternativa", pondera Gilberto.

Como resultado desta postura, o Circo da Trindade já acumula um bom número de artistas que se lançaram no setor, após terem sido tocados pela proposta de seus organizadores. Segundo Gilberto, "isso é resultado do nosso foco na construção do indivíduo e do cidadão.

Aqui ele aprende mais sobre si mesmo, ao testar seus limites, descobre seus potenciais, e tem a oportunidade de trabalhar temas importantes que podem ser apresentados na linguagem do picadeiro", revela.

Além das pesquisas, o grupo também desenvolve cursos e oficinas de tecido, acrobacia de solo e trapézio, além de alugar lonas e equipamentos circenses. Outro atrativo do Circo da Trindade é o constante intercâmbio dos alunos com artistas nacionais e internacionais, proporcionado pela articulação com a Rede de Circo do Mundo.

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ESCOLA PERNAMBUCANA DE CIRCO

A Escola Pernambucana de Circo (EPC) foi fundada em 1996 no Recife, com foco no aprendizado das artes circenses como fator de inclusão social de crianças, adolescentes e jovens das comunidades populares.

As atividades da EPC alcançam cerca de 100 integrantes da comunidade da Macaxeira e bairros adjacentes, trabalhando a conscientização social e identidade através de uma pedagogia que agrega os saberes e as potencialidades dos alunos. A partir desta premissa, é possível fortalecer elementos como solidariedade, identificação e debate de valores e coletividade.

Além das artes circenses, outras linguagens são contempladas, como música, teatro, dança e artes plásticas. Tamanho empenho de seus integrantes rendeu à escola diversos prêmios, entre eles o Prêmio de Estímulo ao Circo Carequinha da Fundação Nacional das Artes (Funarte / MinC), nos anos de 2004, 2005, 2006 e 2009. Entre os parceiros conquistados ao

Fig. 58 – Escola Pernambucana de Circo. (Fonte: Acervo companhia)

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longo dos anos, nomes como Oxfam, Fundarpe, Grupo Afroreggae, Instituto de Ação Social e Cidadania - IASC, BNDES e Banco do Nordeste do Brasil, entre outros.

A EPC consegue manter a gratuidade da formação de novas turmas e de suas apresentações através de editais públicos e serviços prestados como oficinas, workshops e encenações.

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3.4Personalidades Independentes

MÁGICOS

No amplo universo circense, a categoria dos mágicos sempre exerceu o fascínio da platéia, que assiste ao impossível se desenrolar diante de seus olhos. Em Pernambuco, a tradição do ilusionismo tem como principal característica o autodidatismo. Oriundos de diversas realidades, esses profissionais se pautavam por outros mais experientes, mas não tinham muito acesso a recursos que os permitissem refinar seus conhecimentos.

Cativados pelas apresentações às quais assistiram quando crianças, nomes como Axtor, Lorax, LuGom, Mr Denis e outros, não se limitaram às barreiras impostas pela distância dos grandes centros urbanos, e recorreram a livros e cursos por correspondência. Já para artistas como Alakazam, a mágica foi apenas um dos vários números que tiveram de aprender durante a sua vida embaixo das lonas.

Fig. 59 – Axtor.

(Fonte: Revista Continente, n.151, 2013)

Fig. 60 – Mr Denis.

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Por mais que as famílias e grupos circenses percorressem longas distâncias, os profissionais do ilusionismo tinham de recorrer à região Sudeste para conhecer pólos de encontro e lojas

para a obtenção de livros, revistas e equipamentos necessários para o exercício dos números. Esta lacuna foi devidamente preenchida com a criação do Clube Mágico do Recife, fundado por Axtor e Antônio Paulo do Rego Pereira, o mágico Myhtus, em 1965.

Durante a entrevista, foi constatado que embora a figura do ilusionista faça parte do universo dos picadeiros, os mágicos pernambucanos preferiram não se limitar ao circo, tendo o teatro e espaços públicos como palcos mais frequentes. Ações beneficentes também fazem parte da bagagem de alguns destes artistas, que desempenhavam outras profissões.

Estes mágicos pavimentaram o caminho para a nova geração, que encontrou um cenário mais favorável ao aprendizado e mobilização, graças à popularização das artes circenses e ao avanço da tecnologia. “Quem não teve a chance de adquirir livros ou aprender diretamente

Fig. 61 – LuGom.

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Caruaru, que aos 13 anos de carreira, já acumula a realização de festivais de mágica em sua região e apresentações em vários estados do país.

O cenário do ilusionismo pernambucano encontra-se em franca atividade, com forte presença em apresentações privadas e eventos temáticos.

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3.5Entidades de classe – Defesa e representação

Atualmente, a classe circense conta com duas entidades para defesa de seus interesses profissionais, Associação dos Proprietários e Artistas Circenses no Estado de Pernambuco (APACEP) e o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões (SATED-PE). Durante a pesquisa, ao contrário da disponibilização do SATED, a APACEP não disponibilizou nenhum tipo de contato com seus associados, ou mesmo uma convocatória desses associados para uma apresentação oficial do projeto e cadastramento de quem, assim, tivesse o interesse.

Entre os desafios inerentes à proposta de mapeamento, estava o contato direto com os artistas, dificultado por conta do frequente trânsito entre cidades e estados, que por sua vez acarretava constantes mudanças de números telefônicos. Recorrer à APACEP seria a medida mais racional a se tomar, visto que uma entidade representativa viria fortalecer a seriedade da pesquisa junto a seus membros.

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Após duas visitas à sede da Associação, foi acordado entre as partes (Equipe de pesquisa e APACEP) um termo de compromisso no qual o Projeto Dentro e Fora dos Picadeiros teria acesso aos canais de contato (telefones e endereços eletrônicos) de seus associados, para colher informações que contribuiriam para dar uma visão geral da comunidade circense do estado. Tais dados fariam parte de tabelas e relatórios acerca de fatores como nível escolar, situação financeira, distribuição de seus agentes entre categorias como idade e gênero, nomes ainda na ativa, entre outros.

A terceira visita foi marcada pelo retrocesso no acordo registrado e assinado pelo presidente da APACEP. A coleta dos dados de contato de seus associados foi vetada pela artista Margarida Pereira de Alcântara, mais conhecida como Índia Morena, que assinou uma declaração afirmando não autorizar o trabalho da equipe do projeto Dentro e Fora dos Picadeiros.

Frente a esta situação, restou a equipe continuar com o trabalho contando apenas com os contatos adquiridos de entrevista em entrevista. A usual desconfiança da classe, que se mostra desacreditada com ações de terceiros e sem perspectivas de melhorias em sua situação, tornou infrutíferas algumas tentativas, que tiveram de ser repetidas até o convencimento de sua importância para o projeto, que beneficiaria toda a comunidade.

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Mesmo com alegações da proteção dos dados dos associados, fato muito justo, mas que não impedia o fornecimento dos dados básicos, como nome, atividade e telefone. Nada foi liberado. Pior que isto foi receber diversos relatos de falta de apoio da estruturação da classe. Retenção de informações ou defasagem nas ações realizadas. O fato é: paira um clima de incredibilidade de todas as partes, e enquanto os indivíduos discutem, perde-se espaço no cenário da política cultural voltada para o circo.

O fato não impediu que cada circense indicasse outros circenses a serem cadastrados, contudo, a APACEP alega possuir cerca de 3.000 cadastros individuais, e apesar de ter liberado o uso desses contatos após muita insistência e apresentação da importância desse mapeamento para a própria classe, poucos dias após, na continuidade do levantamento esta ação foi anulada por completo, tirando qualquer tipo de acesso a esses cadastrados. Enfatizando a contribuição da própria classe na divulgação dos outros contatos e à assistência do SATED na liberação de seus associados.

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Atualmente, Pernambuco conta com duas iniciativas voltadas à promoção da arte circense: tratam-se do Festival de Circo do Brasil, idealizado pela Luni Produções, e o Festival Circo a Céu Aberto, iniciativa da Caravana Tapioca, dos artistas Giulia Cooper e Anderson Machado. Ambas iniciativas reúnem artistas e coletivos que ocupam espaços da cidade, com o intuito de ir além do entretenimento.

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3.6 Festivais – visibilidade para os artistas

O Festival de Circo do Brasil é realizado desde 2004, e conta com o apoio do Ministério da Cultura (MinC), através de incentivo da Lei Rouanet e patrocínio da Petrobras, Funcultura/Governo de Pernambuco, entre outros parceiros. A iniciativa abre espaço para as mais diversas nuances do espetáculo circense, desde as práticas mais clássicas, às inovações obtidas com a mescla de linguagens e expressões regionais e internacionais.

Para dar espaço a tanta gente, as atrações são distribuídas em vários bairros da capital pernambucana, no período de 10 dias, atingindo um público de cerca de 30 mil pessoas. De acordo com seus organizadores, o evento é pautado por quatro diretrizes, sendo elas o

próprio espetáculo, realizado em lonas ou teatros a preços populares; a intervenção urbana, de caráter gratuito por ser realizada em espaço público; o fomento, com ações de formação e preservação das práticas circenses na forma de oficinas, palestras e debates; e a circulação, que promove um espetáculo para ser encenado em pelo menos cinco cidades do

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Os benefícios desse evento deixam um saldo positivo tanto para os circenses quanto para o público: a participação de artistas e grupos do Brasil e de outros países contribui à formação e aperfeiçoamento dos artistas locais e das escolas de circo, cujos alunos são beneficiados pelo contato com artistas mais experientes. O público também tem acesso a oficinas e palestras, além dos espetáculos, numa ação que estreita laços entre o universo de quem se apresenta e o de quem aplaude.

Idealizado e realizado pela Cia. Animée, mais conhecida pela banda de palhaças As Levianas, o Palhaçaria – I Festival Internacional de Palhaças do Recife é realizado com incentivo do Funcultura, e distribui suas atrações em teatros, centros culturais e intervenções urbanas. O objetivo é fortalecer o movimento da palhaçaria feminina, discutindo o papel da mulher na arte. Além das apresentações, o público conta com fóruns, oficinas e exposições.

A iniciativa preza pela troca de experiências entre os participantes, a começar pela curadoria, composta por artistas de Santa Catarina, Brasília, Rio de Janeiro e Viena, com espaço para apresentações de profissionais consagradas em paralelo aos novos talentos.

Fig. 64 – Cartaz do Festival Internacional de Palhaças do Recife.

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Já o Festival de Circo a Céu Aberto, como o nome já diz, é encenado sem lonas, nos espaços públicos, como praças e parques, com atrações nacionais e acesso gratuito. O evento é realizado pela Caravana Tapioca em parceria com a Papelão Produções, com incentivo do Funcultura/Governo de Pernambuco. A iniciativa também é distribuída em diferentes locais da capital pernambucana e também conta oficinas e bate-papos abertos ao público. A primeira edição foi realizada em abril de 2013.

Para Giulia Cooper, da Caravana Tapioca, a existência de festivais é essencial para que o circo se faça mais presente na construção da identidade cultural do cidadão. “Além disso, são ótimas oportunidades de avaliarmos como estamos, nossas demandas, nosso reconhecimento enquanto gênero artístico que dialoga com diversos fatores da sociedade”, afirma.

Fig. 65 – Cartaz do Festival de Circo a Céu Aberto. (Fonte: Divulgação)

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