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PESQUISAS DE OPINIÃO PÚBLICA, MÍDIA E VOTO

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Academic year: 2022

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PESQUISAS DE OPINIÃO PÚBLICA, MÍDIA E VOTO

Public opinion researches, media and vote.

Renate Köcher

Institut für Demoskopie Allensbach - Alemanha

O EM DEBATE publica na edição deste mês a segunda parte da entrevista, realizada em novembro de 2009, pelas as professoras Helcimara Telles (UFMG) e Silvana Krause (UFG), do Conselho Editorial do Em Debate, com a diretora e pesquisadora do Institut für Demoskopie Allesnbacht (http://www.ifd-allensbach.de/), da Alemanha, Dra. Rentate Köcher. Nesta parte, ela fala a respeito da realização de pesquisas de opinião pública, sua interação com a mídia e com a decisão do voto.

Em Debate: Como a Sra. conduz pesquisas no que diz respeito à Internet

Renate Köcher: Deve-se responder a essa pergunta de diferentes maneiras, na verdade. Nós nos dedicamos intensivamente à questão de como o uso da internet está evoluindo na sociedade, o que praticamente significa que o uso da internet está sendo considerado um objeto de pesquisa. A internet é um veículo para realizar investigações, de modo que nós conduzimos entrevistas via Internet, mas apenas a utilizamos muito seletivamente. Nós ainda preferimos entrevistas frente-a-frente.

ED: De que forma a Sra explora o fenômeno da comunicação através da internet?

RK: Nós estamos intensivamente envolvidos com isso. Nós conduzimos 10000 entrevistas anuais para analisar isso e apenas recentemente publicamos, mais uma vez, os resultados do estudo feito em Munique, apresentado em uma das mais

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importantes publicações que tratam das tendências do uso da internet na Alemanha.

ED: A Sra também publicou o material em inglês na internet?

RK: Nós o publicamos em alemão. Até que ponto ele já está traduzido, eu não sei.

Geralmente o nosso grande Mapa de Estudos sobre a Mídia é publicado em alemão e em inglês. Existem também livros-código em inglês, os quais podem informar sobre tudo que o estudo contém.

ED: Como a senhora emprega o método qualitativo e o quantitativo? Você os combina?

RK: Nos utilizamos as duas técnicas, mas com um forte enfoque em métodos quantitativos. Normalmente, nós utilizamos métodos qualitativos para preparar as investigações quantitativas. Por exemplo, no momento estamos investigando, com a ajuda de métodos qualitativos, a seguinte questão: porque o CDU1 tem problemas estruturais para ganhar o apoio da juventude e dos eleitores das grandes cidades.

Primeiro, nós estamos abordando essa questão qualitativamente antes de começarmos a investigar mais com a ajuda de métodos quantitativos. Mas nós conduzimos surveys de pesquisas eleitorais tendo como base principalmente métodos qualitativos com a ajuda de entrevistas face-a-face.

ED: É possível realizar pesquisas eleitorais três dias antes das eleições legalmente?

RK: Sim, nós publicamos os resultados cinco dias antes e novamente dois dias antes das eleições. Não há nenhum problema nisso.

ED: Em que medida essas publicações de intenção de voto antes das eleições influenciam as próprias eleições?

RK: Eu diria que os institutos de pesquisas de opinião não discutem esse tema há muito tempo, porque todas as teses levantadas a esse respeito não haviam se mostrado verdadeiras. Por exemplo, em 2005 o CDU deveria ter tido um aumento de seu apoio (eleitoral) ao invés de uma diminuição. Durante o último dia podem ocorrer alterações significativas nas opiniões dos eleitores devido a um novo assunto que atrai a atenção do público. Por exemplo, durante as eleições de 2002, um pouco antes das eleições houve uma mudança nos assuntos em discussão pelo publico; do mercado de trabalho para o Iraque. E o tema da discussão “mercado de

1 Christlich Demokratische Union (União Democrata Cristã)

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trabalho” estava ajudando o CDU e o tema da discussão “Iraque” estava ajudando o SPD2. Quando há uma mudança nos temas das discussões antes de uma eleição – e isto também é visto pelos partidos como uma tática eleitoral sempre interessante a se pensar - há algum assunto que é possível apoiar nos últimos minutos antes de uma eleição para dar visibilidade a “agenda de governo” que está tentando mudar a perspectiva dos eleitores? Tais coisas também são importantes. Ou se os partidos cometem erros graves em relação à tática eleitoral no final da campanha, como o CDU em 2005, que foi de repente, apresentando uma nova política fiscal que também foi discutida de maneira controversa no próprio partido. Mas em relação à publicação das pesquisas de opinião não existem evidências que sugerem uma influência que seja razoável, especialmente porque existem vários institutos que publicam na semana anterior às eleições sem que se possa, entretanto, explorar influências significativas.

ED: No caso do Brasil, caso se queira saber em que medida os contornos políticos do eleitorado têm mudado, ou seja, o comportamento eleitoral, e em que medida as alterações do comportamento eleitoral ocorrem devido às diferentes estratégias dos partidos durante as eleições, isso significa estudar os efeitos das campanhas eleitorais sobre os votos, que representam o comportamento político dos eleitores.

RK: Qual o período de tempo que deve ser pensado para uma campanha eleitoral no Brasil? Na Alemanha, por exemplo, nós apenas observamos de 4 a 6 semanas de campanha eleitoral e nesse período pouca coisa mudou

ED: No Brasil, são três meses. Muita TV. A TV é crucial, fundamental, e por causa disso o marketing é tão importante, para produzir bons programas para a TV.

Deve-se considerar que os programas são muito concentrados nas pessoas, então a imagem das pessoas é decisiva. Por isso Lula mudou uma grande quantidade de coisas para as eleições de 2002. O eleitorado, especialmente porque a maioria (das pessoas) recebeu uma educação mínima, recebe suas informações através da TV.

RK: A TV também está se tornando de maior importância aqui na Alemanha, porque o consumo dos jornais está diminuindo.

ED: A diferença é que na Alemanha as pessoas estão prestando mais atenção à TV do que aos jornais nos dias de hoje, mas no Brasil a política começou na TV.

2 Sozialdemokratische Partei Deutschlands (Partido Socialdemocrata Cristão)

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RK: É claro, mas também na Alemanha durante o período de expansão da TV o montante de pessoas interessadas pela política duplicou. A principio, antes do estabelecimento da TV na Alemanha, o número de pessoas que tinham interesse pela política era de aproximadamente ¼ da população e depois de alguns anos de TV a quota subiu para ½, nível este que se manteve.

ED: Mesmo que a tevê seja muito importante para se obter informação sobre a política durante as eleições, isto não significa que as pessoas estejam interessadas pela política. A falta de afinidade das pessoas em relação à política não será abolida pela TV

RK: O mesmo se aplica a Alemanha

ED: A TV no Brasil muito provavelmente tem um papel diferente que aqui na Alemanha. De maneira geral os brasileiros consideram a TV como uma atividade de lazer [uma forma de relaxar]. Eles estão acostumados às telenovelas, que passam o tempo todo na TV, então muitos brasileiros consideram as campanhas eleitorais na TV como um tipo de telenovela, que serve para relaxar e eles não as levam muito a serio. Mas eu acho que na Alemanha é diferente.)

RK: Eu penso que na Alemanha o desenvolvimento (da TV) está seguindo exatamente nessa direção

ED: E a política adota o formato da TV?

RK: Na Alemanha todos os canais de TV privados foram estabelecidos desde o fim dos anos 80. Desde o começo eles estavam se concentrando em infotainment, ou seja, informações não muito sérias, muito personalizadas, com as partes informacionais [da programação] fortemente reduzidas, e quando levamos em consideração especialmente a geração mais jovem, que usa a TV como um meio de entretenimento, eles vêem a política na TV basicamente sob o prisma do entretenimento, com um momento de relaxamento/descanso

ED: Quais são os fatores que têm um impacto mais profundo sobre a formação da opinião pública: os meios de comunicação ou a comunicação interpessoal?

RK: Essa é uma questão que não pode ser respondida de maneira genérica. Em situações nas quais as pessoas formam suas opiniões relacionadas a vários tópicos, sobre os quais as pessoas já têm experiências em situações nos seus ambientes, geralmente a comunicação interpessoal é mais importante. Em todos os outros assuntos, em que não se tem uma escolha a não ser confiar na mídia, por exemplo

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na Europa, em relação à participação alemã em operações militares, e assim por diante, a visão da mídia é de alta importância. Também é importante ter em mente que o processo de formação da opinião publica é sempre caracterizado pela dependência, o que significa que a comunicação interpessoal e midiática estão se influenciando mutuamente, especialmente o estabelecimento da agenda pela mídia tem forte influência na comunicação interpessoal.

ED: Em que medida é ainda possível supor que os meios de comunicação estão recebendo uma maioria silenciosa que não é capaz de articular a sua opinião na esfera pública em tempos de veículos de comunicação modernos, especialmente quanto às possibilidades de fóruns de discussão que são acessíveis através da internet?

RK: Eu não sei se eu entendi a pergunta. Nós estamos intensivamente observando o significado da internet para as informações políticas. O que nos observamos é que a internet está proporcionando a uma enorme audiência às informações políticas, mas a grande maioria dessas pessoas utiliza a Internet apenas esporadicamente, em razão de uma procura ativa por informação. A internet serve como um veículo de informação de base regular apenas para um público relativamente pequeno. A maior parte das informações ainda é majoritariamente recebida através da TV e da mídia impressa. Por isso, este é um assunto muito importante para mim, a internet está mudando o modo de se lidar com a informação. Aqueles que confiam na internet não se informam de uma forma regular, mas apenas quando querem achar uma informação em particular. Isso significa que o processo da informação está mais vinculado a uma ocasião ou evento em particular e, portanto, menos a um processo contínuo e profundo.

Como conseqüência, o que podemos observar é que na geração jovem o espectro de interesses está ficando mais estreito principalmente porque eles perguntam sobre as coisas que lhes interessam primeiro.

ED: O Brasil é um país onde a mídia é controlada por poucas pessoas. No entanto, mesmo sendo muito criticado pela mídia antes das eleições, Lula foi capaz de vencê-las. Como é possível explicar que, embora a mídia esteja tentando denegrir Lula todos os dias e, também, à luz dos escândalos políticos, que ele ainda tenha uma popularidade tão elevada?

RK: Reitero, eu não conheço a situação do Brasil. Deste modo, só posso mencionar a hipótese sobre a qual desenvolvi meu estudo. Primeiramente, eu poderia me perguntar o quão profundo é o conhecimento da população a respeito

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do controle das mídias de massa por uns poucos indivíduos e, assim, considerando a mídia de massa como um veículo comunicador de um grupo particular, o que resulta em uma vigilância básica da população sobre a mídia de massa, se a mídia de massa está fornecendo informações reais ou só propaganda, como comumente ocorre na Itália. A resposta viria facilmente a partir de pesquisas de opinião. Então, eu poderia investigar nesta questão o quão bem sucedeu um candidato, especialmente em uma sociedade marcada por contrastes profundos, em conectar- se com a população de modo que a população diga: “ele é um de nós, ele luta por nossos interesses e está sendo criticado pela mídia por causa disso”, culminando num efeito solidário. Além disso, deve-se investigar os diferentes candidatos e seus perfis, não cedendo a uma caracterização pessoal, o que é muito importante para os eleitores. Posso imaginar que esta situação, especificamente, coincide com a de Lula no contexto brasileiro.

ED: Em que medida é possível explicar o forte desvio dos resultados das pesquisas de opinião dos valores reais a partir do fenômeno da espiral do silencio?

RK: Na verdade, em nenhuma medida, porque normalmente os resultados não diferem muito da realidade. Nós tivemos apenas um caso, que foi em 2005, e este caso não teve nada a ver com a espiral do silencio, mas ocorreu devido a dissonâncias. Os eleitores estavam convencidos de que eles teriam de mudar o governo do SPD para o CDU, porque o SPD renunciou de facto ao cargo antes do final da legislatura e se rendeu. Mas a CDU anunciou aumentos nos impostos e reformas no estado de bem-estar. Também foi o caso de que, naquele momento, as pessoas estavam inseguras se a Sra. Merkel seria capaz de conduzir o governo, que acabara de mudar em seu primeiro mandato. Assim, o povo não gostou do programa da CDU. As preferências pelos candidatos eram em favor de Schröder e não de Angela Merkel, e isto levou a uma decisão de último minuto, em que um grande número de eleitores finalmente optou por não votar no CDU. Dessa forma, aprendemos a prestar uma atenção especial às dissonâncias, isto é, se vários indicadores estão caminhando para a mesma direção ou não. Nas últimas eleições, todos os indicadores apontavam na mesma direção. Os candidatos preferidos eram em favor da CDU, as preferências pelos partidos eram em favor da CDU, o desejo de que a CDU devesse permanecer no gabinete era forte e, por esse motivo, desta vez o cenário era claro e não havia um forte desvio.

ED: Na Alemanha e na Europa vivem muitos mulçumanos que têm seus próprios costumes e valores culturais que não são compatíveis com muitos dos valores

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ocidentais. É possível, olhando para este grupo, que uma espiral do silencio esteja se desenvolvendo?

RK: Nós não temos essa impressão. Recentemente, realizamos um levantamento com os imigrantes, com a ajuda de entrevistadores bilíngües que em sua maioria tem uma experiência com a imigração. Normalmente, os imigrantes estão dizendo abertamente suas opiniões políticas. Mas, dependendo do grupo de imigrantes as simpatias variam muito. Imigrantes turcos são claramente mais de esquerda, enquanto os imigrantes da antiga União Soviética, tendem a apoiar o outro lado.

ED: É possível explicar porque os turcos são mais de esquerda enquanto os imigrantes de ex-Estados Soviéticos tendem a apoiar os partidos mais de direita?

RK: Primeiramente temos que ter em mente que também na Turquia os partidos mais a esquerda são fortes. Sem contar que aqui os imigrantes turcos estão sujeitos igualmente a um efeito de classe. E uma terceira razão é que o SPD sempre foi considerado como um partido pró-imigrantes, enquanto o CDU, principalmente se levarmos em conta sua opinião básica acerca da entrada da Turquia na União Européia, onde o CDU sempre enfatizou que dá suporte a uma parceria privilegiada, mas não a uma adesão da Turquia [à União Européia]. Tal posição foi considerada menos amigável pelos imigrantes turcos.

Roteiro: Carlos Eduardo Freitas3 e Helcimara de Souza Telles4 Entrevista: Helcimara de Souza Telles e Silvana Krause5

Tradução: Aline Burni6, Fabio Bouzada7, Leonardo da Silveira Ev8 e Moritz Lohe9.

3 Jornalista, especialista em Comunicação: Imagens e Culturas Midiáticas pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, membro do grupo de pesquisa Opinião Pública: Marketing Político e Comportamento Eleitoral.

4 Professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo – USP. Coordenadora do grupo de pesquisa Opinião Pública:

Marketing Político e Comportamento Eleitoral.

5 Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás – UFG. Doutora em Ciência Política pela Katholische Universität Eichstätt, Alemanha. Membro do grupo de pesquisa Opinião Pública:

Marketing Político e Comportamento Eleitoral.

6 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG – vinculada ao projeto “Opinião Pública: Partidos Políticos e Comportamento Eleitoral” do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais – DCP/UFMG.

7 Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Bolsista de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq – vinculado ao projeto “Opinião Pública: Partidos Políticos e Comportamento Eleitoral” do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais – DCP/UFMG.

8 Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Bolsista de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq – vinculado ao projeto “Opinião Pública: Partidos Políticos e Comportamento Eleitoral” do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais – DCP/UFMG.

9 Mestrando em Ciência Política pela Freie Unversität Berlim – FUBERLIM, com período de estágio na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

Referências

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