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MATÉRIA DE FACTO RECURSO EMPREITADA ÓNUS DA PROVA

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 5629/2007-8

Relator: SALAZAR CASANOVA Sessão: 21 Junho 2007

Número: RL

Votação: DECISÃO INDIVIDUAL Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: CONFIRMADA A DECISÃO

MATÉRIA DE FACTO RECURSO EMPREITADA ÓNUS DA PROVA

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

Sumário

I- O ónus da prova de que foi celebrado entre as partes um contrato de

empreitada cabe àquele que reclama o preço emergente do referido contrato (artigos 342.º e 1207.º do Código Civil).

II- A circunstância de não se ter provado que determinados trabalhos

executados por um professor de estabelecimento particular de ensino foram realizados em regime de voluntariado em execução do contrato de trabalho não implica a conclusão de que tais trabalhos foram realizados no âmbito de um contrato de empreitada.

III- A reapreciação da matéria de facto justifica-se quando, se for alterada, essa alteração tiver incidência na questão de direito; se assim não suceder, não tem o Tribunal da Relação de proceder à análise do material probatório tendo em vista saber se a prova produzida justifica ou não justifica que determinado quesito seja dado como provado integralmente.

S.C.

Texto Integral

Recurso próprio, efeito devido, nada obstando ao conhecimento de mérito.

Decisão liminar nos termos do artigo 705.º do Código de Processo Civil:

1. João […], que foi admitido ao serviço da ré em 1 de Outubro de

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1984 por contrato de trabalho a tempo indeterminado para exercer funções docentes de professor de trabalhos oficinais e educação visual, demandou em 2004 P.[…] pedindo a sua condenação no

pagamento de € 100.250,00 com juros de mora desde a citação, valor de empreitadas (v.g. presépio, papel cenário para peça de teatro infantil, mural de azulejo) que executou para a ré nos anos de 1985, 1988, 1991, 1992, 1995, 2000.

2. A ré contestou alegando que o A. trabalhou para ela ao abrigo de contrato de trabalho desde 1-10-1984 até 11-11-2003; os

referidos trabalhos foram realizados no âmbito das actividades circum-escolares, entre as quais se destacam visitas de estudo, representações teatrais, espectáculos musicais, exposições de trabalhos manuais e artísticos executados por alunos, actividades da iniciativa e responsabilidade dos professores, que nelas se integram em regime de voluntariado em colaboração dos alunos.

3. Tais actividades são realizadas dentro dos horários de

trabalho, com materiais e equipamentos pertencentes ao externato e em cumprimento das tarefas profissionais, lectivas e não lectivas.

4. O Tribunal relegou para final a excepção de incompetência do tribunal em razão da matéria.

5. Foi proferida decisão que julgou improcedente a invocada excepção e absolveu a ré do pedido.

6. Desta decisão foi interposto recurso tendo o autor apresentado as seguintes conclusões:

1ª- o quesito n.º 2 da base instrutória devia ter sido considerado provado na sua íntegra pois, como resulta os depoimento das

testemunhas, as obras executadas pelo recorrente são morosas, não tendo nenhuma delas referido que as referidas obras se realizariam em menos tempo do que o constante dos autos. Muito pelo contrário afirmaram que não se surpreenderiam se o tempo despendido pelo recorrente na execução das obras fosse superior

2ª- Ficou provado que o recorrente não executou as obras dos autos nem em regime de voluntariado nem em cumprimento do contrato de trabalho.

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3ª- O que levou, então, o recorrente a executar todas as obras referidas nos autos durante o período que decorreu entre 1984 a 2002?

4ª- Da análise dos artigos 1207º e ss do Código Civil de onde se retiram os elementos do contrato de empreitada e da sua conjugação com depoimento das testemunhas chega-se à conclusão da existência de um contrato de empreitada entre A. e Ré.

5ª- Constituem elementos do contrato de empreitada: a adjudicação de certa obra, execução da mesma, a execução da obra conforme o que foi convencionado onde se inclui a estipulação de prazo para a execução da obra, determinação do preço e aceitação da obra por parte do dono da obra.

6º-Tais elementos encontram-se reunidos, como a seguir se demonstra.

7ª- Quanto à execução das obras, o Tribunal a quo considerou provado que as obras foram executadas pelo A. ora recorrente.

8ª- Tal como facilmente se constata, e é referido nos depoimentos das testemunhas do A. e da Ré, o recorrente executou aquelas obras para peças de teatro infantis; para ocasiões natalícias, como é o caso dos presépios; para cumprir objectivos traçados pela ré como é o caso do desenho, recorte e colocação das letras “Educamos para a cultura - A Solidariedade”, o caso do painel de expansão Marista no planeta ou mapa-mundi e o painel de azulejos, 4 unidades.

9ª- Portanto, não pode deixar de se considerar que o recorrente teve de obedecer a um prazo estipulado pela Ré pois cada obra teve um fim e um objectivo bem delineado que, desenquadrado dessa

estipulação, não faria sentido.

10ª- Quanto à aceitação da obra por parte da ré também resulta dos depoimentos de todas as testemunhas da ré bem como das fotografias às obras constantes dos autos que as mesmas foram utilizadas pelo réu em seu benefício.

11ª- Algumas dessas obras ~ são sistematicamente utilizadas pela Ré, como é o caso do presépio que é colocado todos os anos à porta do director; do desenho, recorte e colocação de letras: “

Educamos para a cultura - A Solidariedade” que está exposto na escola para quem quiser ver; do painel de expansão Marista no planeta ou mapa-mundi que está exposto no hall de entrada da escola de Benfica e o painel de azulejos, 4 unidades, expostos também à vista de todos.

12ª- Portanto, a Ré aceitou sem reservas as obras executadas pelo

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A.

13ª- No acto de aceitação das obras a Ré não pagou os respectivos preços.

14ª- Não tendo sido determinado ou convencionado o modo de

determinar o preço relativamente às obras constantes dos autos o artigo 1211º, nº1 do Código Civil estipula que a determinação do preço é efectuada recorrendo-se às regras constantes do artigo 883.º.

15ª- Deste modo, vale como preço contratual o que o vendedor

normalmente praticar à data da conclusão do contrato, ou seja, os valores peticionados nos autos.

16ª- Da existência e conjugação de todos estes elementos do

contrato de empreitada, como atrás se demonstra, bem como da prova de que o recorrente não executou as referidas obras em regime de voluntariado, nem em cumprimento do contrato de trabalho, não podia o Tribunal a quo deixar de considerar que a ré adjudicou ao A, ora recorrente, a execução das obras constantes dos autos.

17ª- Pelo que, ao decidir como decidiu, o Tribunal a quo violou os artigos 1207º e seguintes do Código Civil.

7. Factos provados:

1- O Autor João […] foi admitido ao serviço da ré “ P.[…]” em 1 de Outubro de 1984, por contrato de trabalho por tempo indeterminado, para prestar a sua actividade, sob a autoridade e direcção desta, exercendo as funções docentes como professor de trabalhos

oficinais e de educação visual, mantendo-se, ininterruptamente , ao serviço da ré até 15-11-2002 (A)

2- O Autor executou as seguintes obras: presépio, painel/cenário para peça de teatro infantil, painel/cenário “ As Culturas do Campo” e painel/cenário “ O Espantalho”, desenho, recorte e

colocação de letras “Educamos para a cultura - A Solidariedade”, painel “ Presépio”, painel de expansão Marista no planeta ou mapa- mundi e painel de azulejos ,4 unidades (2)

Apreciando:

8. O recorrente pretende que a matéria do quesito 2º devia ter sido dada como integralmente provada.

9. No entanto, ainda que assim fosse, a decisão da causa não poderia sofrer qualquer alteração.

10. Não interessa assim, por não ter qualquer utilidade em termos

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de resultado final da acção, reanalisar a prova para se concluir, sim ou não, o tempo que o recorrente demorou a executar as obras referidas no quesito 2º.

11. O Autor fundou a sua pretensão numa determinada causa de pedir: sucessivos contratos de empreitada que celebrou com a ré no período em que trabalhava para a ré ao abrigo de contrato de trabalho iniciado em 1 de Outubro de 1984 e que cessou em 2002.

12. À luz do pedido formulado pelo A. o tribunal comum era competente me razão da matéria.

13. Importava, pois, provar se houve efectivamente entre A. e Ré, para além do contrato de trabalho, vários contratos de empreitada, sabendo-se que a empreitada é o contrato pelo qual uma das partes se obriga em relação à outra a realizar certa obra, mediante um preço (artigo 1207.ºdo Código Civil).

14. Ora tal prova que resultaria do quesito 1º, se provado, não a logrou obter o A.

15. O ónus da prova competia ao A. (artigo 342.º do Código Civil).

16. Como é possível com base nos factos provados, incluída que seja a resposta integral ao quesito 2º, concluir-se que houve um contrato de empreitada entre A. e Ré?

17. Pretende o recorrente que da ausência de prova a um quesito ( o quesito 3º, não provado, onde se perguntava se as referidas obras foram executadas pelo A. em regime de voluntariado e em cumprimento de contrato de trabalho) deve concluir-se que houve contrato de empreitada.

18. Da ausência de prova não se pode concluir nem o que o quesito visava demonstrar nem o contrário.

19. E a que título “ o contrário” seria a prova da existência de uma empreitada?

20. Não é possível executarem-se trabalhos gratuitamente?

21. A prestação de serviços não pode ser realizada sem

retribuição? Claro que sim: veja-se o artigo 1154.º do Código Civil.

22. É, aliás, corrente que assim suceda no âmbito da colaboração entre alunos, docentes e discentes no campo das instituições de ensino, colaboração que muitas vezes é extensiva aos próprios familiares.

23. Não se deve confundir. como faz o recorrente, a questão da determinação do preço na empreitada da questão que se traduz na

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prova da empreitada que pressupõe a obrigação de realizar certa obra, mediante um preço (artigo 1207.º do Código Civil).

24. A acção não poderia, pois, deixar de improceder.

Concluindo:

I- O ónus da prova de que foi celebrado entre as partes um

contrato de empreitada cabe àquele que reclama o preço emergente do referido contrato (artigos 342.º e 1207.º do Código Civil).

II- A circunstância de não se ter provado que determinados trabalhos executados por um professor de estabelecimento

particular de ensino foram realizados em regime de voluntariado em execução do contrato de trabalho não implica a conclusão de que tais trabalhos foram realizados no âmbito de um contrato de empreitada.

III- A reapreciação da matéria de facto justifica-se quando, se for alterada, essa alteração tiver incidência na questão de direito; se assim não suceder, não tem o Tribunal da Relação de proceder à análise do material probatório tendo em vista saber se a prova produzida justifica ou não justifica que determinado

quesito seja dado como provado integralmente.

Decisão: nega-se provimento ao recurso confirmando-se a decisão recorrida.

Custas pela recorrente Lisboa, 21-6-2007

(Salazar Casanova)

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