• Nenhum resultado encontrado

LEGITIMIDADE PASSIVA SEGURO OBRIGATÓRIO AUTOMÓVEL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "LEGITIMIDADE PASSIVA SEGURO OBRIGATÓRIO AUTOMÓVEL"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0010747

Relator: MARQUES PEREIRA Sessão: 20 Dezembro 2000 Número: RP200012200010747 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: REC PENAL.

Decisão: NEGADO PROVIMENTO.

ACÇÃO CÍVEL EMERGENTE DE ACIDENTE DE VIAÇÃO

ACÇÃO CÍVEL CONEXA COM A ACÇÃO PENAL

LEGITIMIDADE PASSIVA SEGURO OBRIGATÓRIO AUTOMÓVEL

Sumário

Incumbe ao demandante alegar, no requerimento em que deduz o pedido, factos que mostrem que desconhece sem culpa a existência do seguro, a qual, de resto, constitui a regra, dada a obrigatoriedade deste.

Não tendo a lesada feito essa alegação, sendo que na própria participação policial é feita referência à existência de seguro, carece o lesante de

legitimidade para figurar inicialmente na acção cível enxertada na acção penal como único demandado.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação do Porto:

No Tribunal Judicial da Comarca de Matosinhos, o Ministério Público deduziu acusação, em processo comum, com intervenção do tribunal singular, contra o arguido Manuel ..., imputando-lhe a prática, em autoria material, das seguintes infracções:

a)um crime p. e p. no art. 148, n.º 1 do C. Penal;

b)Uma contra-ordenação p. e p. no art. 24, n.º 1 e 3, conjugado com os arts.

148, al. d) e 141, n.º 1 e 2 do C. da Estrada, aprovado pelo DL n.º 114/94, de 3 de Maio.

A lesada Cremilde ... deduziu pedido cível de indemnização contra o

(2)

arguido, concluindo pela condenação deste a pagar-lhe a quantia de 4.371.313

$00, acrescida de juros, à taxa de 10%, vincendos desde a notificação do pedido.

O arguido requereu a abertura da instrução, que foi admitida.

No decurso da instrução, foi proferido despacho que julgou extinto, por amnistia, o procedimento pelo crime e pela contra-ordenação imputados ao arguido, nos termos dos arts. 7, al. d) da Lei n.º 29/99, de 12 de Maio e 127 e 128, n.º 2 do C. Penal.

Notificada, a lesada veio requerer o prosseguimento do processo, apenas para efeito de apreciação do pedido cível, nos termos do art. 11, n.º 4 da Lei n.º 29/99, de 12/05.

Remetidos os autos ao Tribunal de Competência Especializada Criminal de Matosinhos, onde foram distribuídos ao 3.º Juízo, foi logo proferido despacho judicial do seguinte teor:

“A fls. 49 e seg. dos autos, veio Cremilde ... deduzir pedido de

indemnização civil contra o arguido Manuel ..., cujo teor aqui damos por reproduzido, pedindo a condenação deste no pagamento da quantia de

4.371.313$00, acrescida de juros de mora vincendos, à taxa legal.

Importa, desde já, por razões de economia processual, apreciar a

admissibilidade de tal pedido, por se nos afigurar que a sua procedência se encontra, à partida, comprometida.

Efectivamente, se é certo que do ponto de vista formal nada obsta à admissão do referido pedido, uma vez que foi deduzido em tempo e por quem tem

legitimidade para tal, já o mesmo se não passa do ponto de vista substancial, como veremos.

Dispõe o art. 29, n.º 1 do DL n.º 522/85, de 31.12 que “As acções destinadas à efectivação da responsabilidade civil decorrente de acidente de viação, quer sejam exercidas em processo civil, quer o sejam em processo penal, e em caso de existência de seguro, devem ser deduzidas obrigatoriamente: a) só contra a seguradora, quando o pedido formulado se contiver dentro dos limites fixados para o seguro obrigatório”.

Ora, conforme decorre dos autos, mormente da participação do acidente de viação, o veículo automóvel conduzido pelo arguido aquando do acidente encontra-se abrangido por contrato de seguro titulado pela apólice n.º 6453042 da “...”.

Assim sendo, e porque o valor do pedido está perfeitamente compreendido dentro dos limites fixados para o seguro obrigatório, devia o pedido de indemnização civil em apreço ter sido deduzido contra a seguradora e não contra o arguido/demandado, o qual é parte ilegítima, o que implicará necessariamente a sua absolvição da instância, já que constitui excepção

(3)

dilatória de conhecimento oficioso (cfr. arts. 288, n.º 1 al. d), 494 al. e) e 495, todos do Código de Processo Civil).

Pelo exposto, decido não admitir o referido pedido de indemnização civil.

Custas a cargo do demandante.

Notifique”.

Não se conformando com tal decisão, a demandante recorreu, tendo terminado a sua motivação de recurso com as seguintes conclusões:

“1.O art. 29 do DL n.º 522/85, de 31/12 pressupõe que o seguro exista, ou seja, que seja válido e esteja em vigor, o que não se encontra apurado ou determinado nos autos e apenas nessa hipótese se poderia afirmar, com rigor, que o pedido deveria ter sido formulado tão só contra a mencionada

seguradora.

2.Não se apurou nos autos dessa validade do dito contrato, pelo que faltam factos que possam suportar a justeza da decisão recorrida.

3.A decisão proferida, embora tenha referido a ilegitimidade do arguido

demandado pelas referidas razões, limita-se a, no final, “não admitir o referido pedido de indemnização civil”, não proferindo decisão que, nomeadamente, decrete a absolvição de instância do arguido, por alegada ilegitimidade, o que, na perspectiva que propugna, deveria ter sido feito (Cód. Proc. Civil, arts. 288, n.º 1, 494, al. e) e 495).

4.E é seguro que se o tivesse feito, como se afigura que deveria, teria

facultado à recorrente a possibilidade de apresentar nova petição, desta vez, se assim se entendesse, formulada contra a mencionada seguradora, nos

termos permitidos pelos arts. 234, n.º 4 al. a), 234-A, n.º 1 e 476 do Cód. Proc.

Civil, ex vi art. 4 do Cód. Proc. Penal.

5.A decisão proferida, da forma como o foi, impede que a ora recorrente se socorra dessa faculdade.

6.Tal decisão violou, salvo o devido respeito, os normativos referidos nas precedentes 1.ª, 3.ª e 4.ª conclusões e o art. 668, n.º 1 als. c) e d) do Cód.

Proc. Civil”.

Não houve resposta.

Foi proferido despacho de sustentação.

Nesta instância, o Ex. m.º Procurador Geral Adjunto apôs o seu visto.

Colhidos os vistos e efectuada a conferência, cumpre apreciar e decidir.

Em dois fundamentos se estriba o recurso:

Primeiro: Não tendo sido apurada a validade, nem sequer a existência do seguro, não podia o Ex. m.º Juiz “a quo” ter proferido decisão a considerar inadmissível o pedido cível por não ter sido proposto só contra a seguradora, nos termos do art. 29, n.º 1 al. a) do DL n.º 522/85, de 31/12;

Segundo: Tendo a decisão recorrida entendido existir ilegitimidade passiva,

(4)

impunha-se que concluísse pela absolvição da instância do arguido/

demandado, nos termos dos arts. 228, n.º1, 494, al. e) e 495 do C. P.C., não se limitando a não admitir o pedido cível.

Apreciemos.

Quanto ao primeiro fundamento:

Dispõe o art. 29 do DL n.º 522/85, de 31/12:

No n.º 1 al. a):

“1.As acções destinadas à efectivação da responsabilidade civil decorrente de acidente de viação, quer sejam exercidas em processo civil quer o sejam em processo penal, e em caso de existência de seguro, devem ser deduzidas obrigatoriamente:

a)Só contra a seguradora, quando o pedido formulado se contiver dentro dos limites fixados para o seguro obrigatório;”

No n.º 3:

“3.Quando, por razão não imputável ao lesado, não for possível determinar qual a seguradora, aquele tem a faculdade de demandar directamente o

civilmente responsável, devendo o tribunal notificar oficiosamente este último para indicar ou apresentar documento que identifique a seguradora do veículo interveniente no acidente”.

No n.º 6:

“6.As acções destinadas à efectivação da responsabilidade civil decorrente de acidente de viação, quando o responsável seja conhecido e não beneficie de seguro válido ou eficaz, devem obrigatoriamente ser interpostas contra o Fundo de Garantia Automóvel e o responsável civil, sob pena de

ilegitimidade”.

Analisando o regime consagrado neste artigo, Lopes do Rego [Regime das Acções de Responsabilidade Civil por Acidentes de Viação Abrangidos pelo Seguro Obrigatório, in Revista do Ministério Público, Ano 8, n.º 29, p. 61 e segs.] salienta três aspectos fundamentais no regime das acções destinadas a efectivar a responsabilidade civil derivada dos acidentes de viação abrangidos pelo seguro obrigatório:

_o princípio da legitimação exclusiva da seguradora, quando o pedido se contiver dentro dos limites fixados para o seguro obrigatório;

_o regime de litisconsórcio necessário passivo da seguradora e do civilmente responsável, quando o pedido formulado ultrapassar os referidos limites;

_a extensão deste regime à própria acção civil exercida no âmbito do processo penal.

No caso, a demandante deduziu o pedido de indemnização civil unicamente contra o lesante, sem fazer qualquer referência à existência de seguro.

O pedido contém-se dentro dos limites fixados para o seguro obrigatório (cfr.

(5)

art. 6, n.º 1 do DL n.º 522/85, de 31/12).

Andou bem o Ex. m.º Juiz ao considerar, de imediato, o demandado parte ilegítima, por a acção dever ter sido proposta só contra a seguradora?

Entendemos que sim.

Na verdade, parece-nos resultar, com meridiana clareza, do art. 29, n.º 1 al. a) e n.º 3 do DL n.º 522/85, de 31/12, que ao demandante incumbe alegar no requerimento em que deduz o pedido factos que mostrem que desconhece sem culpa a existência do seguro, a qual, de resto, constituirá a regra, dada a

obrigatoriedade deste.

Como escreve Lopes do Rego, no estudo citado, p. 85, “Tal alegação constitui, pois, verdadeira circunstância impeditiva ao regime geral da legitimação exclusiva da seguradora, ou ao princípio do litisconsórcio necessário passivo, consagrados no art. 29, n.º 1”.

Não tendo a lesada feito essa alegação, sendo que na própria participação policial é feita referência à existência de seguro, carece o lesante de

legitimidade para figurar inicialmente na acção cível enxertada na acção penal como único demandado.

Quanto ao segundo fundamento:

Julgamos ser, nesta parte, manifesta a improcedência do recurso.

Com efeito, uma leitura atenta da decisão recorrida mostra que nesta além de se declarar o demandado parte ilegítima, se considerou que sendo a

ilegitimidade de alguma das partes uma excepção dilatória, de conhecimento oficioso, a consequência é a absolvição do demandado da instância, tudo nos termos expressos dos arts. 288, n.º 1 al. d), 494, al. e) e 495 do Cód. de Proc.

Civil.

Tendo-se concluído, logicamente, pela não admissão do pedido cível.

Decisão:

Nestes termos, acordam os Juizes desta Relação em negar provimento ao recurso, confirmando a decisão recorrida.

Fixa-se em 3 UCs a taxa de justiça a cargo do recorrente.

Porto, 20 de Dezembro de 2000

Joaquim Matias de Carvalho Marques Pereira Francisco Marcolino de Jesus

Nazaré de Jesus Lopes Miguel Saraiva

Referências

Documentos relacionados

Temos, por isso, que não tinha aplicação ao caso do acordão recorrido, como bem nele se julgou, a regra da inversão do onus da prova da culpa insita do preceito do n. 2 do artigo

* Os ingredientes não estão em concentração suficiente que contribua para o perigo ou Ingrediente não classificado como perigoso pelo Sistema de Classificação

O Fundo de Garantia Automóvel, mecanismo indissociável do Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel é um instrumento especializado para garantir o

Execução de instrumentos de gestão territorial e outros instrumentos urbanísticos 1 - As operações de loteamento com as condições definidas na licença ou comunicação prévia

-me porque é simbólica do conjunto da minha atividade: é uma metáfora tanto do processo criativo como do traba- lho que desenvolvo na favela da Maré há cerca de 10 anos, com

25 do DL 522/85, de 31.dez., o Fundo de Garantia Automóvel, tendo satisfeito a indemnização aos lesados por um acidente de viação, fica sub-rogado nos direitos destes quer contra

7- O acidente dos autos não se encontra garantido pelo contrato de seguro de responsabilidade civil de exploração (ramo construção civil), celebrado com a recorrente, garantindo

D) Nos termos do ponto 7 das condições particulares, “O segurador assume a cobertura da responsabilidade do segurado por todos os sinistros reclamados pela primeira vez contra