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DIVERSIDADE SEXUAL E DIREITOS HUMANOS

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DIVERSIDADE SEXUAL E DIREITOS HUMANOS

Diego Augusto Rivas dos Santos1 Evellin Mcryan Sennes de Souza2

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo propiciar uma discussão aprofundada acerca do tema Diversidade Sexual e Direitos Humanos, tomando por base a obra intitulada de: “O Terceiro Travesseiro do autor Nelson Luiz de Carvalho. Essa escolha deve-se ao fato desta literatura ter sido o primeiro contato de muitos adolescentes com a temática da diversidade sexual, cujo enredo apresenta elementos importantes para discussão das diferenças e da sexualidade, que ainda é vista em pleno século XXI rodeada de tabus e equívocos. Além da síntese reflexiva pautada nesta obra, esse estudo visa correlacionar a questão da diversidade sexual com os princípios fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948, apresentando dados sobre a homofobia e transfobia no Brasil, articulando-se com a criminalização da homofobia aprovada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A metodologia utilizada para construção deste trabalho é de caráter exploratório, a partir de uma abordagem bibliográfica realizada através dos vídeos, textos, artigos e discussões propiciadas pelo Curso Gênero, Diversidade Sexual e Direitos Humanos promovido pela UFRJ, em 2019, realizado por um dos autores desta produção, além das reflexões suscitadas no decorrer dos encontros do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Infância, Juventude e Família promovido pela UNIGRANRIO em que debateu-se: a importância de discutir sexualidade no âmbito familiar, escolar e acadêmico diante da violência LGBTfóbica que assola o Brasil.

Palavras-chave: Diversidade Sexual; Direitos Humanos; Terceiro Travesseiro; Adolescência;

Sexualidade Introdução

O presente trabalho tem por objetivo propiciar uma discussão aprofundada acerca do tema Diversidade Sexual e Direitos Humanos, tomando por base a obra intitulada de: “O Terceiro Travesseiro do autor Nelson Luiz de Carvalho3. Essa escolha deve-se ao fato desta literatura ter sido o primeiro contato de um dos autores desse estudo com a temática da diversidade sexual. Falar

1Mestre em Serviço Social pela PUC/RJ. Especialista em Atendimento a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Doméstica pela PUC/RJ. Graduação em Serviço Social pela Universidade do Grande Rio Prof. José de Souza Herdy (UNIGRANRIO). Participou como docente membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Infância, Juventude e Família (NUPIJUF) vinculado promovido pelo Curso de Serviço Social da UNIGRANRIO. Pós Graduando em Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos pela FIOCRUZ. Graduando em Licenciatura em História pela UNIGRANRIO.

Professor do curso de Serviço Social da UNIGRANRIO. Coordenador de Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Políticas Públicas, Diversidade Sexual e de Gênero (ENSIN-E/NEZO/INOVE SABER). Professor em Curso de Pós Graduação, Atualização e Preparatório do NEZO e Inove Saber. Link para acesso ao currículo lattes:

http://lattes.cnpq.br/3067772786480197. E-mail: diegorivasas@gmail.com.

2 Graduada em Serviço Social pela Universidade Do Grande Rio Professor José de Souza Herdy - UNIGRANRIO no ano de 2018. Atualmente cursando a graduação de Ciências Humanas na universidade Estácio de Sá (UNESA).

Participou como membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Infância, Juventude e Família (NUPIJUF) vinculado promovido pelo Curso de Serviço Social da UNIGRANRIO. Link para acesso ao currículo lattes:

http://lattes.cnpq.br/4781516224974868. E-mail: evellinmcryan@gmail.com.

3 É escritor e empresário. Escreveu os livros O terceiro travesseiro e Apartamento 41, publicados pelas Edições GLS.

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sobre sexualidade ainda é um grande tabu na nossa cultura. Mas, é necessário falar sobre esse tabu, pois o desconhecimento sobre esse assunto só contribui para perpetuar o sofrimento que milhares de pessoas passam todos os dias.

Ao propor um estudo reflexivo sobre diversidade sexual, faz-se necessário apresentar que o sexo corresponde a parte biológica e que se divide em: macho e fêmea, definido pelos cromossomos XY. Temos também a denominação de intersexo quando o ser apresenta características sexuais de macho e fêmea. É definido pelos cromossomos XY. Já o gênero, consiste nas categorias de masculino e feminino que construímos socialmente. Os gêneros englobam todas as práticas atribuídas arbitrariamente as pessoas que nascem com um aparelho genital ou outro. Cada cultura incentiva que pessoas tenham hábitos, comportamentos pessoais e profissionais, vestuários, de acordo com o aparelho sexual.4

Para Jesus (2011)5, muitos indivíduos acreditam que as diferenças entre homens e mulheres são “naturais”, ou seja, biológicas, quando, na verdade, boa parte delas é influenciada pelo convívio social, pois é justamente a sociedade em que vivemos, que dissemina a crença de que os órgãos genitais definem se uma pessoa é homem ou mulher. Portanto, a construção da nossa identificação como homem ou mulher não é biológica e sim social.

A presente síntese reflexiva propõe ainda, correlacionar a questão da diversidade sexual com os princípios fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948. No que tange aos direitos humanos, esse conceito precisa ser compreendido a partir de um arcabouço teórico-metodológico que dê sustentação para essa categoria, pois caso contrário, corremos o risco de derrocar na armadilha propagada por grupos conservadores, e em ideias simplistas advindas da esfera do senso comum6, que tendem a associar tais direitos a certos grupos.

Portanto, quando falamos em direitos humanos, estamos nos referindo aos direitos de todos os cidadãos, que deve ser aplicado de forma universal, sem qualquer tipo de discriminação ou

4 Para Jesus (2012) desde criança você foi ensinado(a) a agir e a ter uma determinada aparência, de acordo com o seu sexo biológico. Se havia ultrassonografia, esse sexo foi determinado antes de você nascer. Se não, foi no seu parto.

5 Jaqueline Gomes de Jesus é autora do livro Homofobia, uma das indicações de leitura apresentadas pela professora durante a aula

6 “É muito comum encontrar pessoas que associam os direitos humanos com a defesa do crime ou ao menos dos criminosos. (...) A afirmação (...) é falaciosa, quando busca forjar a ideia de que o movimento de direitos humanos apenas se preocupa com o direito dos presos e suspeitos, desprezando os direitos dos demais membros da comunidade.

Esta falácia começou a ser difundida no Brasil, no início dos anos oitenta, por intermédio de programas de rádio e tabloides policiais”. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/oscarvilhena/3teses.html. Acesso em:

06/08/2020.

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seleção. Todos os indivíduos que vivem em sociedade devem ter seus direitos garantidos, simplesmente pelo fato de serem humanos. Porém, o que vemos é a população LGBTQIA+7, tendo seus direitos violados e sendo vítimas de múltiplas violências, como será evidenciado no decorrer desse estudo, por meio da apresentação de dados estatísticos de homofobia e transfobia que ocorrem no Brasil.

Em relação a metodologia, destaca-se o caráter exploratório em que o estudo foi desenvolvido, a partir de uma pesquisa bibliográfica realizada pelos autores, que culminou em um debruçamento em vídeos, textos e artigos existentes atrelados a temática, possibilitando reflexões críticas sobre o assunto.

A pesquisa possibilitou dá concretude as reflexões dos autores, após estes, ocuparem espaços de formação de socialização, cujas discussões resultaram nos dados aqui apresentados, problematizados e analisados.

Direitos Humanos: do que estamos falando?

Os direitos humanos são positivados com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. No entanto, na reflexão acerca das raízes dos direitos humanos, faz-se necessário compreender, onde e quando começou o direito. Não o direito positivo, mas sim o direito natural.

Segundo Neto (s/a), o direito positivo, presente na lei, poder ser documentado, por meio das pesquisas históricas. Trata-se de um ordenamento jurídico que vigora durante um determinado período e representa a vontade soberana de uma sociedade, cabendo a todos os indivíduos respeitarem, visando assegurar as relações interpessoais e a ordem de uma sociedade. Já o direito natural, origina-se: da natureza, de Deus ou deuses e do pensamento racional do ser social, não dependendo de qualquer positividade para existir.

Percebe-se então, que os direitos naturais já apresentavam uma noção de justiça, visando a sociabilidade, porém de natureza religiosa, marcada por uma ausência de consciência. Os direitos naturais marcam a gênese da filosofia do direito e não irão desaparecer, pelo contrário ainda encontram-se implícitos na lei. É justamente o direito natural, presente no período que antecede a existências das normas escritas, que irá corroborar para o surgimento do direito positivo.

7 LGBTQIA+ é o movimento político e social que defende a diversidade e busca mais representatividade e direitos para a comunidade. Vejamos, o significado de cada letra da sigla: L = lésbicas; G = gays; B = bissexuais; T = transexuais; Q

= pessoas com o gênero “queer” (A teoria queer defende que a orientação sexual e identidade de gênero não são resultado da funcionalidade biológica, mas de uma construção social); I – intersexo; A = assexual e; + = serve para incluir outros grupos e variações de sexualidade e gênero.

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No que tange à reflexão acerca dos direitos humanos, temos o Código de Hamurabi8, compreendido como o código jurídico mais distante já localizado. Esse código apresenta algumas tentativas de garantia dos direitos humanos. O referido código consolidou a tradição jurídica, harmonizou os costumes e estendeu o direito e a lei a todos os súditos do rei ao estabelecer regras de vida e de propriedade, apresentando leis específicas, sobre situações concretas e pontuais, contemplando questões de ordem: civil, penal e administrativa.

Temos também, as Leis das XII Tábuas, documento de relevante valor, pois representou a abolição do direito divino e deu início ao direito civil. Segundo Costa (2015), em Roma, aproximadamente 509 a.C, os abusos das Leis Divinas começaram a incomodar o povo, provocando a desconfiança. Foi então que os súditos começaram a exigir que as leis fossem feitas pelos homens e não pelos Deuses. A Lei das XII Tábuas9 foi afixada na porta do fórum para que todos tivessem conhecimento das Leis. A legislação contemplava: Direito Processual, Família, Sucessões, Negócios Jurídicos e Direito Penal.

A queda do Império Romano resultou no fim das leis que vigoravam naquela civilização e a Europa ingressou em um período de indefinições das leis. Com a consolidação do modo de produção feudal (Idade Média), os senhores feudais passaram a ter o direito de julgar além de terem a prerrogativa de nomear substitutos para exercer tal função.

Para Montes D’Oco; Dias (2016) durante a transição do modo de produção feudal para o modo de produção capitalista10, ocorreram as chamadas revoluções burguesas11, denominadas também de: revolução inglesa e revolução francesa, que trabalharam a questão de igualdade, liberdade e fraternidade e contribuíram para a discussão dos direitos humanos. Mas devemos salientar que, esses discursos se enquadraram dentro dos interesses do Estado liberal, do modo de produção capitalista. Com a ascensão do capitalismo, temos os direitos políticos e civis baseados na concepção iluminista.

8 Hamurabi (Khammu-rabi) foi fundador do 1º Império Babilônico, unificando amplamente o mundo mesopotâmico, unindo os semitas e os sumérios e levando a Babilônia ao máximo esplendor

9 A Lei das XII Tábuas foi o primeiro diploma escrito que eliminou as diferenças de classes dando origem ao Direito Civil.

10 Com o declínio do modo de produção feudal (Idade Média) e a ascensão do modo de produção capitalista (Idade Moderna), os direitos humanos passam a assumir um caráter universal influenciados pelos seguintes fatos: Declaração de Virgínea (1776) que precede a independência dos Estados Unidos; a Constituição dos Estados Unidos da América (1787); a Declaração dos Direitos (1791) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão na França. (1789).

11 A Revolução Gloriosa foi a primeira revolução burguesa, ocorreu na Inglaterra entre os anos de 1688 e 1689, e marcou a destituição do Rei Jaime II. Ficou conhecida como a “Revolução sem sangue” devido à forma pacífica como ocorreu. O rei Jaime II foi compelido a assinar um documento chamado “Petition of Rights” o qual afirmava que o rei não poderia criar impostos sem declarar guerra e nem assinar tratados sem a autorização do Parlamento. Segundo Silva (2015), a Revolução Gloriosa apresenta uma importância, no que se refere aos direitos humanos, pois reafirma os direitos da Magna Carta, dando ênfase a propriedade e a proibição da detenção arbitrária.

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A revolução francesa consiste, que contou com a ajuda do povo, tinha como objetivo lutar contra o absolutismo (Antigo Regime) e combater a nobreza parasitária da monarquia e da Igreja que eram sustentadas pela maioria da população. Essa revolução foi relevante para os direitos humanos devido a criação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que proclamou os direitos humanos fundamentais: o direito de resistir a tirania e a opressão; a possibilidade de associação política; promoveu o direito a igualdade jurídica, o direito à propriedade, a liberdade;

contemplou ainda, o princípio da legalidade, da reserva legal, da presunção de inocência, da liberdade religiosa e da livre manifestação de pensamento. Além disso, buscou a eliminação dos privilégios da nobreza, o fim da exploração dos camponeses, o confisco de algumas propriedades da igreja e pôs fim a isenção de impostos a nobreza.

Segundo Montes D’Oco; Dias (2016), o século XX ficou marcado pela disputa entre países pela conquista política, territorial e econômica ocasionando a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e, logo após, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Segunda Guerra Mundial é ressaltada como um dos momentos mais trágicos relacionado à violação da dignidade e dos direitos humanos.

Também ficou pautada mediante a rivalidade entre as nações e interesses, no que tange a expansão territorial. Esse período também presenciou uma enorme perda de grande porte de seres humanos de inúmeras nacionalidades.

O século XX também foi marcado por atos ilícitos e desumanos, como cenários de barbáries devido ao nazismo, levando a morte de milhões de pessoas devido a questão de raça. Assim, houve novas possibilidades acerca de uma nova visão sobre a necessidade de proteção internacional dos direitos humanos. Portanto, foi neste período que houve a criação de sistemas de proteção internacional.

A Organização das Nações Unidas (ONU), é uma organização internacional composta por países diversos que se uniram voluntariamente em prol da paz e desenvolvimento mundial. Criada em 1945, o objetivo da ONU consiste em promover e preservar a paz e a segurança mundial, a cooperação internacional e incentivar o respeito aos direitos individuais e coletivos dos seres humanos. A ONU reconhece que os seres humanos possuem direitos seja ele homem ou mulher, procurando promover progresso social, melhores condições de vida acompanhado de liberdade.

No entanto, alguns direitos foram definidos somente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU, em 1948. Essa declaração possuí a finalidade de definir regulamentações, no âmbito internacional, agindo diretamente na defesa do combate das violações contra os seres humanos e fornecendo a promoção da paz entre as nações.

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Em 1976, temos instituída a Declaração Universal dos Direitos dos Povos, que trata do direito de um povo não se sujeitar, ou ser sujeitado, à soberania de um outro povo ou Estado contra sua vontade.

Segundo Ruiz (2011), direitos humanos é um tema que perpassa inúmeras dimensões das nossas vidas: saúde, educação, habitação, economia, política, democracia, entre outros. Levando a reflexão de como os seres humanos organizam suas vidas e se relacionam nessas diferentes dimensões. Este assunto é tratado algumas vezes superficialmente e automaticamente há uma dificuldade em conhecer seu surgimento, características que assume nos diferentes modos de produção e como esse assunto pode oferecer e contribuir para que haja uma sociedade igualitária e justa, por isso a importância da análise acerca dos direitos humanos numa perspectiva de totalidade e historicidade.

Discutindo as diferenças: é necessário quebrar tabus

A sexualidade é um elemento importante da existência humana, do nascimento até a morte, faz parte da nossa vida. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sexualidade humana abarca tanto: as relações sexuais, o erotismo, a intimidade e o prazer. A sexualidade é experimentada e expressada através de pensamentos, de ações, de desejos e de fantasias. Falar sobre sexualidade, o que nos leva a abordar, algumas distinções que são imprescindíveis para essa discussão e reflexão propiciado por este estudo.

A identidade de gênero está atrelada ao gênero que você se identifica. Um indivíduo biologicamente macho, pode se identificar com o gênero masculino ou com o gênero feminino.

Uma pessoa biologicamente fêmea também pode se identificar com qualquer um dos dois. Os indivíduos denominados de transgênero apresentam a identidade de gênero ou expressões dessa identidade diferente do gênero relacionando com o seu sexo biológico. Já a pessoa é denominada de cisgênero quando a identidade e expressão de gênero é coerente com o gênero atribuída a ela.

Já a orientação sexual12 está atrelado atração sexual e afetiva, ou seja, refere-se à direção ou à inclinação do desejo afetivo e erótico de cada pessoa onde temos: a) Homossexual (gay e lésbicas): único objeto de desejo pessoas do mesmo sexo; b) Bissexual: tem atração/desejo por pessoas de ambos os sexos; c) Heterossexual: sente-se atraído por pessoas do sexo oposto que o seu;

12 O termo “orientação sexual” tem sido utilizado nos últimos anos, ao invés de opção sexual, pois a ideia de “opção”

permite a compreensão de que o(a) homossexual escolheu sentir o desejo que sente e, portanto, poderia ter optado por ser heterossexual. Por isso, o correto é dizer e utilizar orientação sexual.

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d) Pansexual: gostam de todos os gêneros sexuais existentes, sem distinção e não se limitando a binária de gênero homem – mulher.

A orientação sexual e a identidade de gênero costumam se manifestar desde cedo independente da orientação sexual ou identidade de gênero dos pais ou pessoais próximas. Todas essas características da sexualidade são determinadas por muitas coisas: herança genética;

funcionamento das glândulas e hormônios; primeiras formas de socialização; cultura vigente e experiências durante a vida. Nossa sociedade, cujo preconceito encontra-se enraizado acaba incentivando algumas orientações e identidades, enquanto discrimina outras.

No Brasil, por exemplo, homossexuais e pessoas com identidade de gênero destoantes do seu sexo biológico tendem a ser discriminadas em nossa sociedade. A construção social acerca de gênero e sexualidade é fundamentada em uma perspectiva heteronormativa, patriarcal e machista e em pleno século XXI, percebe-se que quem não se enquadra nesse padrão pré-estabelecido pelo status quo é denominado como um indivíduo “anormal” alguém que está passando por questões psicológicas e que precisa se curar.

A obra: “O Terceiro Travesseiro” do autor Nelson Luiz de Carvalho e a questão da sexualidade

O livro o Terceiro Travesseiro13 corresponde a uma das literaturas existentes no Brasil que abordava a questão da sexualidade, por meio da descoberta de dois jovens do mesmo sexo que sentiam atração um pelo outro, que resultou posteriormente em uma relação também afetiva e de cumplicidade. O enredo da história retrata a descoberta dos pais dos jovens sobre a relação de ambos, o que resulta em um grande conflito familiar, tendo em vista que muitas pais naquela época, e ainda hoje, não aceitam a orientação sexual dos filhos, caso não seja a heterossexual, imposta pela sociedade e vista por muitos como a única correta, aceitável e reconhecida pela figura de Deus.

Tanto que, no livro, é notório a angústia e medo dos jovens em expor a relação e as estratégias que posteriormente a família encontra para esconder tal relação das demais pessoas que fazer parte do convívio de ambos.

A obra torna-se mais polêmica ao retratar a inclusão de uma terceira pessoa nesta relação, do sexo oposto, quebrando vários tabus, tendo em vista que expor uma relação entre três pessoas, é

13 Baseado em uma história real, este romance desafia rótulos e hipocrisias, revelando os meandros de consciência de Marcus, um jovem comum da classe média paulistana. Com o melhor amigo Renato, descobre o amor e compreende que os dois precisarão encontrar o equilíbrio entre o que sentem e o que a família e a sociedade esperam deles, até que um terceiro personagem aparece.

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algo difícil de ser compreendido ainda pela sociedade, que não reflete acerca dos sentimentos que giram em torno desta história, mas somente julgam pelo viés da sexualidade.

Os autores ao proporem uma reflexão citando a obra: “O Terceiro Travesseiro”, objetivam lançar o seguinte questionamento: por que será que na grande maioria das vezes, a discussão acerca da sexualidade não é feita no âmbito familiar e escolar?

Diversos jovens, acabam não tendo acesso a informações necessárias sobre sexualidade, e pelo fato de não ter acesso, ou não conhecer e discutir sobre acabam se frustrando, se auto rotulando como errados, fora as situações em que muitos jovens acabam com a própria vida por não poderem falar e muito menos expressar o que sentem.

Ao longo do processo histórico que perpassa a sociedade, no que tange a diversidade sexual e os direitos humanos, ainda há muita controvérsia, violência, preconceito, discriminação e ausência de informações. Nessa direção podemos perceber que, o homem que não segue um papel que a sociedade determinou para ele, como: forte, macho, viril, heterossexual, cis, chefe de família e detentor do poder das relações sociais do meio que esse homem vive, passa a ter a sua masculinidade colocada em xeque. Esse homem está indo contra o que foi estabelecido em sociedade os papeis definidos para o homem e para a mulher, ou seja, ser homossexual nessa sociedade quer seja, feminino ou masculino é algo visto como errado, e até mesmo demonizado.

Diversidade sexual, o aparato jurídico legal e as barreiras da invisibilidade: todos somos iguais perante a lei?

Vamos iniciar a reflexão desse item com a seguinte questão: todos somos iguais perante a lei?

Pois bem, quando analisamos a Constituição Federal do Brasil de 1988, percebemos contradições fruto de uma sociedade que carrega uma herança patriarcal, racista, cisnormativa e heteronormativa, por isso a necessidade de debatermos as diferenças e pensarmos a igualdade, considerando as especificidades, ou seja, buscando a equidade.

Os grupos conservadores e radicais, ao invés de compreender a necessidade de pensar a igualdade a partir das especificidades, tendo em vista a desigualdade social, racial e de gênero presentes na estrutura da nossa sociedade, preferem argumentar que a população LGBTQIA+, assim como os negros e as mulheres, lutam por privilégios.

Pensando nisso, cabe pontuar, que os direitos conquistados pela população LGBTQIA+ no Brasil, são recentes e ainda se faz necessário avançar em muitos aspectos. Ressalta-se também, que tais direitos foram garantidos, por meio de muitas lutas, cujo movimento LGBT apresenta um papel

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central. Vejamos agora, algumas destas conquistas, tomando por base o conteúdo presente na cartilha intitulada de: Ministério Público e a igualdade de direitos para LGBTI (2017):

✓ Em 1985, o Conselho Federal de Medicina retirou da lista de transtornos a classificação

“homossexualismo”, temos com isso a despatologização da homossexualidade;

✓ A substituição do termo opção sexual por orientação sexual, pelo simples fato de uma pessoa não optar por sua sexualidade, porque ela é natural;

✓ A Portaria nº 2.836, de 1º de dezembro de 2011, institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral de LGBT;

✓ A possibilidade de união estável entre pessoas do mesmo sexo, também conhecida como

“união homoafetiva”, reconhecida pelo STF em 2011 e a conversão da união estável em casamento e a celebração de casamento direto foram reconhecidas pelo CNJ, em 2013.

✓ A adoção por casais do mesmo sexo é reconhecida pelo STF em 2015;

✓ Em 2016, CNJ regula o registro do nascimento dos filhos gerados por meio de técnicas de reprodução assistida, de casais hetero e homoafetivos.

✓ Recentemente o STF declarou inconstitucional o artigo do Código Civil que estabelecia tratamento diferenciado para as uniões estáveis, com relação ao casamento, assim, independentemente da orientação sexual ou da natureza da união (casamento ou união estável), aplica-se a mesma regra quanto ao direito à herança;

✓ O direito à modificação do prenome e do gênero da pessoa no registro civil, independentemente da adoção de procedimentos de transgenitalização, foi autorizado para pessoas trans em 2018;

✓ o Judiciário permitiu o enquadramento dos crimes de homofobia e transfobia pela aplicação analógica da Lei de Racismo até que o Congresso Nacional edite uma lei sobre a matéria;

✓ Em 2020, o STF derrubou a restrição a homossexuais na doação de sangue.

É notório, que a grande maioria dos direitos civis da população LGBTQIA+ foram assegurados por decisão do Poder Judiciário, isto comprova o quanto os Poderes Executivo e Legislativo ainda são conservadores, no que tange os direitos da população LGBTQIA+.

O enquadramento da homofobia e da transfobia a Lei de Racismo representa um grande avanço jurídico e um mecanismo importante no combate à violência LGBTfóbica, pois, segundo informações do Grupo Gay da Bahia - GGB (2019), 4.422 denúncias de assassinato registradas entre 2011 e 2018 pelo Disque 100 estão associadas a homofobia e 2.687 a transfobia. O Brasil vive

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hoje uma epidemia de violência contra homossexuais e pessoas trans, que transformou o país no lugar mais perigoso do mundo para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Os dados apresentados nos fazem refletir sobre quanto ainda precisamos avançar para garantir os direitos e a vida da população LGBTQIA+.

Considerações Finais

Diante do exposto, no que se refere o debate sobre a diversidade sexual e os direitos humanos, defende-se a ideia de que só teremos a materialização dos direitos humanos quando houver respeito as diferenças, a diversidade sexual e a liberdade de expressão. Portanto, temos que buscar a todo instante eliminar qualquer tipo de preconceito existente.

Em relação ao ponto de como estão os indicadores que comprovam a violência LGBTfóbica no Brasil, os dados apresentados acima nos chocam e despertam um sentimento de impotência e impunidade. Esperamos que, com enquadramento da homofobia e da transfobia a Lei de Racismo, pelo STF, a questão política para a construção da cidadania LGBT no Brasil avance, pois, esses indivíduos encontram-se cansados de serem silenciados e mortos.

Todos as reflexões travadas até aqui, assim como os dados apresentados, mas que comprovam a necessidade da criminalização da homofobia e da transfobia, pois não se trata de privilégios, e sim da vida de pessoas, acreditando que assim avançamos um passo para que a sociedade possa modificar os seus atos.

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Sexual diversity and human rights

Abstract: This paper aims to provide an in-depth discussion on the theme Sexual Diversity and Human Rights, based on the work entitled: “The Third Pillow by author Nelson Luiz de Carvalho.

This choice is due to the fact that this literature was the first contact of many adolescents with the theme of sexual diversity, whose plot presents important elements for discussion of differences and sexuality, which is still seen in the 21st century surrounded by taboos and misconceptions. . In addition to the reflective synthesis based on this work, this study aims to correlate the issue of sexual diversity with the fundamental principles of the Universal Declaration of Human Rights adopted by the UN in 1948, presenting data on homophobia and transphobia in Brazil, articulating with criminalization. homophobia recently approved by the STF. The methodology used for the construction of this work is exploratory, based on a bibliographical approach carried out through the videos, texts, articles and discussions provided by the Gender, Sexual Diversity and Human Rights Course promoted by UFRJ in 2019 by one of the authors of this production. , in addition to the reflections raised during the meetings of the Center for Studies and Research on Childhood, Youth and Family promoted by UNIGRANRIO in which it was debated: the importance of discussing sexuality in the family, school and academic context in the face of the LGBTphobic violence that ravages Brazil .

Keywords: Sexual diversity; Human rights; Third Pillow; Adolescence; Sexuality

Referências

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