• Nenhum resultado encontrado

VIH E INFECÇÕES FÚNGICAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "VIH E INFECÇÕES FÚNGICAS"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

VIH E INFECÇÕES FÚNGICAS

Graciete Freitas, Maria Manuel Lopes e João Pedro Frade

Departamento de Microbiologia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) está associada a múltiplas infecções oportunistas, entre as quais as fúngicas. Já a primeira publicação científica sobre SIDA referia a ligação com pneumonias provocadas por Pneumocystis carinii (1) considerado, na altura, um parasita, mas classificado actualmente como um fungo, de acordo com a taxonomia molecular (2). Também as candidoses orais, esofágicas, brônquicas e pulmonares, e as meningites criptocóccicas são desde sempre reconhecidas como importantes marcadores universais de infecção pelo VIH, assim como os fungos dimorfos Histoplasma capsulatum e Coccidioides immitis nas zonas endémicas.

A candidose é a infecção mais comum nos doentes VIH/SIDA, sendo Candida albicans (C. albicans) a espécie mais frequentemente isolada. As infecções orais são as de maior incidência, seguidas das esofágicas e vaginais. Já as infecções disseminadas e as profundas localizadas são raramente observadas. As células T e a imunidade de mediação celular constituem o principal mecanismo de defesa contra as infecções das mucosas por C. albicans (3, 4, 5), enquanto os polimorfonucleares são as células tipo na protecção contra as candidémias e as candidoses sistémicas (5, 6). A diminuição acentuada das células T, nomeadamente dos CD4, observada nos indivíduos infectados pelo VIH, contribui decididamente para a localização superficial, nas mucosas, das infecções por C. albicans.

Embora a candidose oral e esofágica por C. albicans reflicta primeiro que tudo as alterações específicas da resposta imunitária do hospedeiro provocadas pelo VIH, também a profilaxia e os tratamentos prolongados com antifúngicos são factores condicionantes da(s) espécie(s) de Candida isolada(s) nos doentes com SIDA, como veremos mais adiante.

(2)

Candida não são mais comuns nas mulheres infectadas pelo VIH, não havendo, portanto, correlação com o decréscimo das células CD4 (10, 11).

As diferentes espécies de Candida são organismos ubiquitários, isolados da cavidade oral de cerca de um terço dos indivíduos sãos. Nos doentes VIH a colonização aumenta proporcionalmente à gravidade da doença, representando C. albicans cerca de 80% dos isolados recolhidos da cavidade oral daqueles indivíduos, enquanto C. glabrata e C. tropicalis representam cerca de 5-10% dos isolados.

A candidose orofaríngea é a infecção mais comum entre os indivíduos infectados pelo VIH e C. albicans a espécie oportunista mais frequente, ocorrendo em cerca de 95% dos doentes. Todavia, a emergência de espécies não-albicans tem sido referida por diferentes autores. O surgimento desta flora fúngica tem sido relacionado com a administração dos antifúngicos e especialmente com o fluconazol. A eficácia deste triazol na prevenção e tratamento da candidose orofaríngea, assim como a sua fraca toxicidade, tornaram-no o antifúngico de eleição nestas infecções. Mas se é verdade que a candidose orofaríngea responde bem ao fluconazol, também é verdade que a erradicação completa da infecção não é fácil, dado o reaparecimento da infecção alguns meses após a conclusão do tratamento. Nas recidivas pode verificar-se o aparecimento de isolados de C. albicans com susceptibilidade diminuída ao fluconazol, in vivo e in vitro; a substituição de uma estirpe de C. albicans sensível por outra estirpe resistente; e, ainda, a substituição de C. albicans por espécies não-albicans, como C. glabrata, C. krusei, C. tropicalis e C. dubliniensis (12, 13, 14).

(3)

imunodeprimidos a pressão selectiva exercida pelos antifúngicos pode favorecer a substituição da flora endógena sensível, por espécies de menor sensibilidade ou mesmo resistentes.

Acresce ainda que para além da transmissão inter-humana de estirpes, frequente entre os parceiros sexuais, são já também conhecidos casos de transmissão oral de estirpes resistentes de C. albicans (16).

C. dubliniensis é, sem dúvida, a espécie não-albicans recolhida com maior frequência da cavidade oral de indivíduos infectados pelo vírus da imunodeficiência humana e dos doentes com SIDA, especialmente nos doentes com infecções de repetição, e considerada, por alguns autores, o agente etiológico da candidose (17, 18).

(4)

isolados de C. albicans, obtidos de doentes expostos ao fluconazol por longos períodos de tempo, embora não evoluam para a resistência durante os episódios da doença, podem ser substituídos por outras espécies resistentes ao fluconazol.

Os estudos realizados no nosso laboratório nos anos 1991-92, em colaboração com os Serviços de Doenças Infecciosas do Hospital de Santa Maria (Prof. Francisco Antunes) e do Hospital Egas Moniz (Dr. Kamal Mansinho), em 38 doentes VIH/SIDA permitiram o isolamento de 57% de C. albicans, 32,7% de C. glabrata, 9,3% de C. krusei e 0,9% de C. tropicalis (23).

Os testes de susceptibilidade ao fluconazol, realizados segundo as normas de referência propostas pelo National Committee for Clinical Laboratory Standards – NCCLS - (24), revelaram valores de CMIs compreendidos entre 0,125 - 64µg/ml para C. albicans, 8 - 64 µg/ml para C. glabrata, 32 - 64 µg/ml para C. krusei e 2 µg/ml para C. tropicalis (23). De todos os isolados de C. albicans apenas um apresentou evolução para a resistência ao fluconazol, com valores de CMIs de 0,5 µg/ml e 64 µg/ml na primeira e ultima colheita, respectivamente. No entanto, a caracterização molecular, efectuada por electroforese em campo pulsado (PFGE: pulsed-field gel electrophoresis) e análise dos polimorfismos de restrição (RFLP: restriction fragment length polymorphism) dos isolados obtidos durante os diferentes episódios da infecção, mostrou que em nenhum dos doentes as estirpes iniciais de C. albicans foram substituídas por estirpes diferentes, dado que o seu genótipo se manteve ao longo do período do estudo (25). Porém, em 2 doentes verificou-se a substituição de C. albicans por C. glabrata e, num terceiro, por C. krusei, sendo os isolados de ambas as espécies resistentes ao fluconazol (CMIs - 64 µg/ml).

No que respeita às infecções por C. dubliniensis, e dado que a morfotipificação e a biotipificação nem sempre são capazes de identificar ou se mostram mesmo incapazes de diferenciar esta espécie (26), só os métodos genotípicos permitem a sua identificação, sendo as técnicas mais utilizadas a reacção de polimerização enzimática em cadeia (PCR: polymerase chain reaction) e a amplificação do ADN ao acaso (RAPD – random amplified polymorphic DNA).

(5)

outros métodos utilizados na caracterização de C. dubliniensis, este apresenta as vantagens de ser rápido e de fácil implementação e, tal como os outros, de grande poder discriminatório (27).

A terapêutica anti-retrovírica de alta eficácia (HAART) implementada nos últimos anos diminuiu acentuadamente a incidência das infecções oportunistas de etiologia fúngica. Também as candidoses orofaríngeas por C. albicans são hoje muito menos frequentes, o que significa uma menor exposição dos doentes VIH/SIDA aos azóis e, consequentemente, uma menor prevalência de resistência adquirida em estirpes de C. albicans. No entanto, são cada vez mais frequentes os trabalhos científicos que evidenciam o surgimento de espécies de leveduras não-albicans nas candidoses orofaríngeas, cuja presença é entendida, por uns, como cúmplice na infecção, por outros, como vítima da mesma.

Conclusões

(6)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Gottlieb, M.S., Schrodd, R., Schanker, H.M., Weisman, J.D., Fan, P.T., Wolf, R.A., and Sawon, A. 1981. Pneumocystis carinii pneumonia and mucosal candidiasis in previously healthy homosexual men. Evidence of a new acquired cellular immunodeficiency. N. Engl. J. Med. 305:1425.

2. Edman, J.C., Kovacs, J.A., Masur, H., Santi, D.V., and Elwood, H.J. 1988. Ribosomal RNA sequence shows Pneumocystis carinii to be a member of the fungi. Nature. 334:519.

3. Kirkpatrick, C.H. 1989. Chronic mucocutaneous candidiasis. Eur. J. Clin. Microbiol. Infect. Dis. 8:448-456.

4. Odds, F.C. 1988. Chronic mucocutaneous candidosis. p.104-110. In Candida and candidosis. University Park Press. Baltimore.

5. Kwong-Chung, K.J., and Bennett, J.E. 1992. Candidiasis. p.280-336. In Medical mycology. Lea & Febiger. Philadelphia.

6. Lortholary, O., and Dupont, B. 1997. Antifungal prophylaxis during neutropenia and immunodeficiency. Clin. Microbiol. Rev. 10:477-504.

7. Fidel, P.L., Jr., Lynch, M.E., Redondo-Lopez, V., Sobel, J.D., and Robinson, R. 1993. Systemic cell-mediated immune reactivity in women with recurrent vulvovaginal candidiasis (RVVC). J. Infect. Dis. 168:1458-1465.

8. Fidel, P.L., Jr., Lynch, M.E., and Sobel, J.D. 1995. Circulating CD4 and CD8 T cells have little impact on host defense against experimental vaginal candidiasis. Infect. Immun. 63:2403-2408.

9. Fidel, P.L., Jr., and Sobel, J.D. 1996. Immunopathogenesis of recurrent vulvovaginal candidiasis. Clin. Microbiol. Rev. 9:335-348.

10. Clark, R.A., Blakley, S.A., Rice, J., and Brandon W. 1995. Predictors of HIV progression in women. J. Acquired Immune Defic. Syndr. Hum. Retrovirol. 9:43-50. 11. White, M.H. 1996. Is vulvovaginal candidiasis an AIDS- related illness? Clin. Infect. Dis. 22(Suppl. 2):S124-S127.

(7)

13. Coleman, D.C., Rinaldi, M.G., Haynes, K.A., Rex, J.H., Summerbell, R.C., Anaissie, E.J., Li, A., and Sullivan, D.J. 1998. Importance of Candida species other than Candida albicans as opportunistic pathogens. Med. Mycol. 36 (Suppl. 1):156-165. 14. Masia Canuto, M.M., Rodero, F.G., Durcasse, V.O.T., Gonzalez, C.M., Hortelano, C.M.E., Rufete, A.M., and Hidalgo, A.M. 1999. Epidemiology of yeast colonization and oropharyngeal infection other than Candida albicans in patients with HIV infection. Med. Clin. 112:211-214.

15. Sangeonzan, J.A., Bradley, S.F., He, X., Zarins, L.T., Ridenour, G.L., Tiballi, R.N., and Kauffman, C.A. 1994. Epidemiology of oral candidiasis in HIV-infected patients: colonization, infection, treatment, and emergence of fluconazole resistance. Am. J. Med. 97:339-346.

16. White, T.C., Marr, K.A., Bowden, R.A. 1998. Clinical, celular, and molecular factors that contribute to antifungal drug resistance. Clin. Microbiol. Rev. 11:382-402. 17. Vargas, G.K., and Joly, S. 2002. Carriage frequency, intensity of carriage, and strains of oral yeast species vary in the progression to oral candidiasis in human immunodeficiency virus-positive individuals. J. Clin. Microbiol. 40:341-350.

18. Martinez , M., López-Ribot, J.L., Kirkpatrick, W.R., Coco, B.J., Bachmann S.P., and Patterson, T.F. 2002. Replacement of Candida albicans with C. dubliniensis human immunodeficiency virus-infected patients with oropharyngeal candidiasis treated with fluconazole. J. Clin. Microbiol. 40:3135-3139.

19. Sullivan, D.J., Westerneng, T.J., Haynes, K.A., Bennett, D.E., and Coleman, D.C. 1995. Candida dubliniensis sp. nov.: phenotypic and molecular characterization of a novel species associated with oral candidiasis in HIV-infected individuals. Microbiology. 141:1507-1521.

20. Joly, S., Pujol, C., Rysz, M., Vargas, K., and Soll, D.R. 1999. Development and characterization of complex DNA fingerprinting probes for the infectious yeast Candida dubliniensis. J. Clin. Microbiol. 37:1035-1044.

(8)

22. Ruhnk, M., Schmidt-Westhausen, A., and Morschhauser, J. 2000. Development of simultaneous resistance to fluconazole in Candida albicans and in Candida dubliniensis in a patient with AIDS. J. Antimicrob. Chemother. 46:291-295.

23. Giammanco, G.M., Lopes, M.M., Coimbra, R.S., Pignato, S., Grimont, P.A.D., Grimont, F., Salvo, S., Giammanco, G. Caratterizzazione fenotipica e genotipica di ceppi di Candida albicans e di C. dubliniensis isolati da soggetti sieropositivi per HIV. 39º Congresso Nazionale “La Promozione della Salute nel Terzo Millennio”. Società Italiana di Igiene Medicina Preventiva e Sanità Pubblica. Ferrara. Itália. 2000.

24. National Committee for Clinical Laboratory Standards. 1997. Reference method for broth dilution antifungal susceptibility testing of yeasts. Aproved standard. NCCLS document M27-A. National Committee for Clinical Laboratory Standards, Wayne, Pa. 25. Giammanco, G.M., Lopes, M.M., Coimbra, R.S., Pignato, S., Grimont, P.A.D., Grimont, F., Salvo, S., Giammanco, G. Valutazione comparativa di RAPD fingerprinting, cariotipizzazione, morfotipizzazione e biotipizzazione come strumenti per la caratterizzazione di ceppi di Candida albicans e Candida dubliniensis isolati da pazienti HIV-sieropositivi. 5º Congresso Nazionale. Federazione Italiana Micopatologia Umana e Animale. Bari. Itália. 2000. P15.

26. Gales, A.C., Pfaller, M.A., Houston, A.K., Joly, S., Sullivan, D.J., Coleman, D.C., and Soll, D.R. 1999. Identification of Candida dubliniensis based on temperature and utilization of xylose and -methyl-D-glucoside as determined with the API 20C AUX and Vitek YBC systems. J. Clin. Microbiol. 37:3804-3808.

27. Lopes, M.M., Mansinho, K., Antunes, F., Freitas, G. Evolução para a resistência aos triazóis de isolados de Candida albicans provenientes de indivíduos VIH + submetidos a tratamento. Congresso Nacional de Microbiologia. Tomar. 1997. A04.

28. Lopes, M.M., Freitas, G. Epidemiological study of Candida spp isolated from HIV positive patients. 13th Congress of The International Society for Human and Animal Mycology. Parma. Itália. 1997. P145.

Referências

Documentos relacionados

A prototipagem rápida vem crescendo cada vez mais como uma opção na busca de redução do tempo e dos riscos no processo de desenvolvimento de produtos, pois facilita a comunicação

First used as a means of private communication, which consisted of an online transposition of pre-existing social networks, the ways in which Facebook and Twitter are used

27 found between the perceived clarity of the processes and perceived injustice (Favoritism Situations) it is, as expected, a negative one, namely System Understanding (r= -, 253,

No tecido adiposo branco inguinal, foi observada tendência de redução da expressão de Thrb em resposta ao co-tratamento com liraglutida e o agonista

the operational approach to generalized Laguerre polynomials as well as to Laguerre-type exponentials based on our results from [ 3 ] and [ 4 ] about a special Appell sequence

De seguida foram identificadas as fases de inspeção e diagnóstico, assim como alguns ensaios destrutivos e não destrutivos, que auxiliam na determinação do estado

O que não nos admira, porque vem confirmar o já inferido para o factor Conceito de Liderança e Director no modelo de gestão das escolas por cargos que o docente desempenha

Analisar o processo de democratização escolar, seus avanços e desafios postos, numa sociedade em constante transformação, necessita-se da instauração de uma nova