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ALTERAÇÕES DA SENSOPERCEPÇÃO

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Academic year: 2021

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ALTERAÇÕES DA SENSOPERCEPÇÃO

Sensação: fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados, originados fora ou dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos receptivos, estimulando-os. As diferentes formas de sensação são geradas por estímulos sensoriais específicos: visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos, proprioceptivos e cenestésicos.

Percepção: é a tomada de consciência pelo indivíduo do estímulo sensorial. Atribui-se, então, a sensação à dimensão neuronal, ainda não plenamente consciente do processo de sensopercepção. Já a percepção é a dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo. A percepção é a transformação de estímulos puramente sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes.

Alterações quantitativas da sensopercepção:

Nesse caso, as imagens perceptivas têm uma intensidade anormal, para mais ou para menos.

Hiperestesia: condição na qual as percepções estão anormalmente aumentadas. Os sons são ouvidos de forma muito amplificada, um ruído parece um estrondo, a imagens visuais, as cores ficam mais intensas. Ocorre nas intoxicações por alucinógenos (eventualmente também com a ingestão de cocaína ou maconha), em algumas formas de epilepsia, na enxaqueca, no hipertireoidismo, na esquizofrenia aguda e em alguns quadros maníacos.

Hipoestesia: ocorre em alguns pacientes depressivos. O mundo é percebido como mais escuro, as cores mais pálidas, sem brilho, os alimentos sem sabor e os odores sem intensidade. Podem ocorrer analgesias e disestesias [pesquisar – será mistura da quantitativa com a qualitativa?] de partes do corpo em pacientes histéricos, hipocondríacos, somatizações e em pacientes submetidos a estados emocionais intensos.

Alterações qualitativas da sensopercepção:

São as alterações mais importantes. Compreendem as ilusões, as alucinações, a alucinose e a pseudo-alucinação.

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1. Nos estados de diminuição do nível de consciência quando, por turvação da consciência, a percepção torna-se imprecisa e os estímulos são percebidos de maneira deformada.

2. Nos estados de fadiga grave.

3. Em determinados estados afetivos, por sua intensidade acentuada, o afeto deforma o processo de sensopercepção, gerando as ilusões catatímicas.

Tipos de ilusão:

Mais comuns: visuais – pessoas, monstros, animais etc. nos móveis, roupas, objetos, figuras na parede.

Auditivas – a partir de estímulos sonoros inespecíficos, o paciente ouve seu nome próprio, palavras significativas ou chamamentos.

Alucinações: são a vivência de percepção clara e definida de um objeto (voz, ruído, imagem), sem que este objeto esteja presente, sem o estímulo sensorial respectivo. Alguns autores falam de alucinações verdadeiras para designar as alucinações que possuem todas as características de uma imagem perceptiva real: nitidez, corporeidade, projeção no espaço externo, constância.

Alucinações mais freqüentes:

Alucinações auditivas: são as mais freqüentes. A mais comum é a alucinação audioverbal, na qual o paciente escuta vozes sem qualquer estímulo real. As vozes, em geral, o ameaçam e o insultam. O conteúdo é quase sempre depreciativo e de perseguição.

Às vezes, o paciente ouve “vozes de comando” – vozes que ordenam que ele faça algo, até mesmo que se mate. As vozes podem comentar as atividades do paciente: “O Fulano está indo beber água, agora vai lavar as mãos...”.

As alucinações audioverbais são típicas e freqüentes nas psicoses esquizofrênicas, mas não são exclusivas delas. Também ocorrem em depressões muito graves, com conteúdo negativo, de ruína, de culpa, de doença etc. Também nos quadros maníacos, podem ocorrer com conteúdo de grandeza, de poder, místico etc.

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A sonorização do pensamento é a vivência sensorial de ouvir o pensamento no momento em que ele está sendo pensado (sonorização) ou de forma repetida, após ter sido pensado (eco do pensamento). Existem 2 tipos básicos de sonorização ou eco do pensamento:

1. Sonorização do próprio pensamento como fenômeno do tipo alucinatório – a vivência é semelhante a uma alucinação auditiva audioverbal, em que o paciente ouve seus próprios pensamentos no momento mesmo em que os pensa. Ele reconhece claramente que está ouvindo seus próprios pensamentos.

2. Sonorização do pensamento como vivência alucinatório-delirante – o paciente ouve pensamentos que foram introduzidos em sua cabeça por um estranho.

3. Publicação do pensamento – o paciente tem a nítida sensação de que as pessoas ouvem o que pensa no momento mesmo em que está pensando.

Alucinações visuais: são visões nítidas sem a presença de estímulos sensoriais visuais. Podem ser:

- simples: fotopsias – cores, bolas, pontos brilhantes – na epilepsia.

- complexas: figuras, imagens de pessoas vivas ou mortas, partes do corpo, entidades (fantasmas, demônio, santa), objetos etc.

- cenográficas: cenas completas (um paciente via seu quarto pegando fogo).

- liliputianas: o paciente vê inúmeras personagens diminutas, minúsculas, entre os objetos e pessoas reais de sua casa.

As cenográficas e as liliputianas são mais raras – ocorrem em psicoses e na epilepsia.

As alucinações visuais podem ocorrer em qualquer psicose, são muito freqüentes nas síndromes psicoorgânicas (delirium) e nas psicoses desencadeadas por drogas (LSD, mescalina).

Alucinações táteis: O paciente sente espetadas, choques, insetos e pequenos animais correndo sobre a pele (ocorre no delírio de infestação). É freqüente no delirium tremens, nas psicoses tóxicas (especialmente nas produzidas pela cocaína).

Também são freqüentes as sensações nos órgãos genitais, os pacientes sentem tocar ou penetrar seus genitais – ocorre na esquizofrenia.

Alucinações olfativas e gustativas: são relativamente raras.

Olfativas: cheiro de coisas podres, de cadáver, de fezes, de pano queimado, etc. Ocorrem na esquizofrenia (Ex: paciente sente cheiro de pus que provinha de seu próprio abdome) e nas crises epiléticas.

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Gustativas: o paciente sente na boca o sabor de ácido, de sangue, de urina. Ocorrem muitas vezes juntamente com as olfativas.

Alucinações cenestésicas: sensações incomuns e claramente anormais em diferentes partes do corpo – sentir o cérebro encolhendo, o fígado se despedaçando, uma víbora dentro do abdome. Ex: Caso Schreber – sentia que engolia o próprio esôfago quando comia.

Cenestopatia – é o fenômeno geral de experimentar sensações alteradas nas vísceras e no corpo de modo geral.

Alucinações cinestésicas: sensações alteradas de movimentos do corpo – sentir o corpo afundando, as pernas encolhendo, um braço se elevando.

Alucinações funcionais: são alucinações desencadeadas por estímulos sensoriais, o que faz com que elas fiquem muito parecidas com as ilusões. São diferentes das ilusões, porque as ilusões são a deformação de uma percepção de um objeto real e presente, ao passo que a alucinação funcional é uma alucinação (ausência do objeto) apenas desencadeada por um objeto real. Ex: paciente começa a ouvir vozes quando abrem o chuveiro ou a torneira da pia.

Alucinações combinadas ou sinestesias: ocorrem ao mesmo tempo experiências alucinatórias de várias modalidades sensoriais – auditivas, visuais, táteis etc. Ex: paciente vê uma pessoa que fala com ele, toca seu corpo etc. Ocorrem na esquizofrenia e nas psicoses em geral.

Alucinações extracampinas: são alucinações experimentadas fora do campo perceptivo usual. Paciente vê uma imagem “nas suas costas” ou “atrás de uma parede”. São raras e ocorrem nas psicoses.

Alucinações autoscópicas: é geralmente uma alucinação visual (às vezes também tátil e cenestésica) na qual o indivíduo enxerga a si mesmo, vê o seu corpo como se estivesse fora dele, contemplando-o. É relativamente rara e ocorre na esquizofrenia e na epilepsia.

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Sensação de uma presença: feeling of a presence. O paciente tem a nítida sensação de que um ser invisível o acompanha. A sensação é muito forte, mesmo quando o paciente tem uma crítica em relação à natureza ilusória da experiência. Na esquizofrenia, na epilepsia e na intoxicação por drogas.

Alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas: são alucinações auditivas, visuais, táteis, sempre relacionadas à transição entre o sono e a vigília.

Hipnagógicas: surgem no momento em que se está adormecendo. Hipnopômpicas: ocorrem na fase em que o indivíduo está despertando.

Não são sempre fenômenos patológicos e podem ocorrer em indivíduos normais. Em geral são alucinações visuais com pessoas, objetos, animais, monstros etc. Ocorre caracteristicamente na síndrome de narcolepsia.

Estranheza do mundo percebido: ocorre nas fases iniciais de muitos quadros psicóticos. O mundo como um todo é percebido alterado, bizarro, difícil de definir pelo doente. Parece que o mundo se transformou, ou parece estar morto, sem vida, vazio, estranho. Não se trata de um erro de julgamento, mas é o próprio mundo que é percebido de outra forma, a visão de mundo é que está alterada e não o julgamento sobre ele. É um fenômeno muito próximo da desrealização.

Alucinose: é o fenômeno pelo qual o paciente percebe uma alucinação como sendo estranha à sua pessoa. Na alucinose, embora o paciente veja a imagem ou ouça a voz ou o ruído, falta a crença que, em geral, o alucinado tem em sua alucinação. O indivíduo permanece consciente de que aquilo é um fenômeno estranho, patológico. Diz-se que a alucinose é um fenômeno “periférico ao eu”, enqaunto a alucinação é um fenômeno “central ao eu”.

Ocorre com maior freqüência em quadros psicoorgânicos. Uma forma comum é a alucinose alcoólica, que ocorre em alcoolistas crônicos e consiste em vozes que falam do paciente na 3ª pessoa: “Olha como o João está sujo hoje!”, “O Pedro é mesmo um covarde” etc.

Ocorre com nível de consciência preservado e na maioria das vezes o paciente tem um boa crítica.

Etiologia das alucinações: suas possíveis causas ainda são controversas. Teorias psicodinâmicas:

Na base das alucinações estariam as tendências afetivas e os desejos, sobretudo aqueles ligados aos conflitos inconscientes.

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A alucinação seria o efeito da expulsão do aparato psíquico de certos conteúdos conflituosos insuportáveis, elementos recalcados não aceitos pelo eu consciente. Seriam análogas ao sonho. As vozes alucinadas seriam aspectos significativos das fantasias inconscientes.

Teoria neurobioquímica: diversas drogas podem produzir alucinações em indivíduos normais. As substâncias que produzem alucinações frequentemente, e de forma inequívoca, estão relacionadas com 3 neurotransmissores:

- Serotonima  LSD, psilocibina, harmina (ayahyasca ou Santo Daime), dimetiltriptamina, mescalina – são alucinógenos agonistas da serotonina.

- Dopamina  levo-dopa, bromocriptina (usada no mal de Parkinson).

- Acetilcolina  substâncias com ação anticolinérgica (atropínicas),usadas em alta dose, produzem alucinações associadas a uma diminuição do nível de consciência e um quadro de confusão mental – são pouco nítidas e de contornos pouco precisos.

As alucinações produzidas por agentes serotoninérgicos e dopaminérgicos ocorrem com preservação do nível de consciência – são alucinações claras e bem formadas. Em conseqüência disso, postula-se que a alucinação em doentes mentais esteja relacionada com a hiperativação de circuitos serotoninérgicos e/ou dopaminérgicos.

Para a psicanálise (Lacan), as alucinações são efeito do retorno no real daquilo que foi foracluído do simbólico: o que é foracluído do simbólico retorna sempre no real. Exemplo: no caso freudiano do Homem dos Lobos, a alucinação do dedo cortado significou o retorno no real da castração que fora foracluida do simbólico.

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Referências

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