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SECULARIZAÇÃO E ENSINO RELIGIOSO NA PÓS MODERNIDADE

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0127 SECULARIZAÇÃO E ENSINO RELIGIOSO NA PÓS MODERNIDADE

Robson Stigar Mestre em Ciências da Religião – PUCSP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo robsonstigar@hotmail.com

GT 01 RELIGIÃO E EDUCAÇÃO

Resumo: O presente trabalho procura apresentar o contexto do Ensino Religioso no Brasil diante da questão da secularização e da pós-modernidade, pois entende se que a separação da Igreja com o Estado, bem como o processo de secularização e a defesa estatal da liberdade religiosa promoveram grandes mudanças sociais, culturais e religiosas, atingindo inclusive as estruturas epistemológicas do ensino religioso em especial, sendo necessário um novo olhar para esta disciplina, pois a questão do ensino religioso é ampla e complexa. Assim sendo o presente artigo propõe apresentar e a refletir brevemente o que é secularização, o que é pôs modernidade, como o ensino religioso se relaciona com a secularização e com a pôs modernidade, como situar o ensino religioso no mundo atual frente ao pluralismo religioso, dentre outras questões que necessitam ser refletidas e debatidas para buscarmos uma nova epistemologia junto com a ciência da religião para o ensino religioso no mundo laico e religioso contemporâneo sem perda de identidade.

Palavras chave: Ensino Religioso, Ciência da Religião, Pós modernidade, Secularização

Anais do IV Congresso da ANPTECRE

“Religião, Direitos Humanos e Laicidade”

ISSN:2175-9685 Licenciado sob uma Licença

Creative Commons

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0127

Introdução

O início deste século apresenta uma explosão de novas formas de religiosidade que enfatizam a questão do Transcendente e renegam as esferas constitucionalizadas, ou seja, vivemos um processo de decline Institucional, denominado de Secularização da Religião. Neste processo emergente de secularização é natural a aceitação da retirada de símbolos religiosos presentes na esfera pública, bem como a pratica religiosa neste espaço.

Como a tentativa da superação do proselitismo, gerado pela confessionalidade do Ensino Religioso nas Escolas Públicas, surge juntamente com os ideais da laicidade a perspectiva de um Ensino Religioso fenomenológico, que objetiva um resgate do sagrado numa perspectiva plurirreligiosa.

O surgimento dos Novos Movimentos Religiosos Contemporâneos se inseriu como a projeção criativa da mesma lógica secularizante. Em contraposição, vê-se nesses surtos “religiosos”, uma volta; um retorno da religião, mas não na esfera pública e sim na vida privada. Diante dos fatos apresentados questiona-se: como situar o Ensino Religioso neste contexto sócio-cultural-religioso?

A Epistemologia e a Etimologia

A secularização é um processo através do qual a religião perde a sua influência sobre as variadas esferas da vida social. O termo Secularização foi usado pela primeira vez no fim do século XVI, indicando a redução de um clérigo regular perante o Estado, buscando com isso a automatização das diversas esferas da vida social que antes estavam sob controle e tutela da religião para o controle e tutela do Estado de direito público exclusivamente. Secularização relaciona-se ainda como fé no progresso, um tipo de fé secularizada e ao mesmo tempo uma fé na secularização.

Podemos afirmar ainda que a secularização não é o abandono da experiência e da tradição e sim uma transformação de valores, pois uma cultura secularizada não é uma cultura que tenha atirado para trás das costas os conteúdos religiosos da tradição,

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mas que procura vivê-los como vestígios, modelos cultos e deturpados, mas profundamente presentes. Podemos, portanto, acompanhando o pensamento de Vattimo, afirmar que secularização pode ser a presença do religioso de forma não religiosa.

Para Peter Berger (1971) a secularização é um processo pelo qual setores da sociedade e da cultura são subtraídos à dominação das instituições religiosas. Na perspectiva de Berger, a religião entra no campo da secularização enquanto processo através do qual os setores da sociedade e da cultura são subtraídos à autoridade das instituições religiosas e respetivos símbolos.

Por conseguinte, há uma perda da importância da instituição religiosa em prol de outras que oferecem semelhante satisfação das necessidades, mesmo que numa lógica distinta. Neste sentido, no plano das sociedades avançadas, estas funções latentes tornaram-se pluralistas nas suas dimensões culturais e religiosas, pelo que a religião tem vindo a perder o seu domínio sobre as atitudes morais, uma vez que, por um lado, as ciências naturais desenvolveram-se e encontraram uma resposta validada e comprovada para a ordem natural, tendo abolido alguns dos pensamentos religiosos; e, por outro lado, os governos regulam as suas decisões por diferentes pontos de vista que não apenas o religioso.

Ao analisarmos o conceito de secularização, percebe-se que há várias posições divergentes sobre o mesmo: Secularização significa o recuo e o definhamento até o extremo do fenômeno religião: é o fim da religião. Contrário à esse conceito, diz-se que não significa o fim, mas sim a transformação da religião, composição nova de energias recobrindo somente em partes as funções antigas.

Segundo Chaves (1998) secularização refere-se, portanto, ao declínio da autoridade social da religião e não das manifestações religiosas, isto é, da presença, ausência da crença, organização ou ritual religioso. Trata-se de um projeto social desenvolvido por alguns atores e, também, pela resistência de outros, que veem na secularização um fim em si mesmo, ao invés de um processo. Tal fato direciona a atenção para os conflitos que surgem acerca da autoridade religiosa e para os atores sociais que são relevantes nesses mesmos conflitos, emergentes das consequências das lutas sociais em vez das mudanças institucionais concretas.

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Já Max Weber aponta a questão da riqueza como grande motivador do processo de secularização da Modernidade, já que o aparato institucional no qual a Igreja promovia era violentamente contrário ao enriquecimento e tinha isso como usura, sendo assim desnecessários separar a igreja do Estado.

Ciência da Religião, Ensino Religioso, Secularismo e Pós-modernidade

Vivemos em um mundo de mudanças muito rápidas, e podemos verificar esse processo refletido fortemente no fenômeno religioso, que ocupa espaço importante na vida social e particular das pessoas. Um exemplo disso vê-se no caso do Ensino Religioso nas escolas públicas em sua nova formulação, fenomenológica, apresenta características que o enquadram na categoria de uma laicidade de coabitação, e uma laicidade aberta, ao menos teoricamente.

Praticamente todas as confissões religiosas buscam espaço neste novo modelo de Ensino Religioso e a escola por sua vez procura implantar o multiculturalismo e a pluralidade religiosa contemporânea para adaptar a este cenário do qual o fenômeno religioso não pode mais ser excluído da escola.

Ao estudarmos os textos legais sobre o Ensino Religioso, constatamos uma atenção cuidadosa, quanto à liberdade religiosa dos alunos, com o objetivo de assegurar-lhes a liberdade de escolha diante do Ensino Religioso oferecido pela escola, como uma das demais áreas do conhecimento, onde o Ensino Religioso deixa de ser prioritariamente uma iniciação e formação de adeptos de uma igreja, passando a fazer parte da formação integral dos alunos.

A partir da Lei nº 9475/97, que altera e dá nova redação ao artigo 33 da LDB, o Estado admitiu o Ensino Religioso como uma disciplina escolar, porque o considera este componente curricular como algo importante na educação, bem como relevante para a formação básica do cidadão como um todo.

Uma perspectiva que temos para a disciplina de Ensino Religioso é a inserção da Ciência da Religião como um novo modelo norteador para tal disciplina. A Ciência da religião é o estudo científico do fato religioso, sendo os graduados e pós-graduados em

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Ciência da Religião os profissionais mais qualificados a lecionar a disciplina Ensino Religioso.

O modelo da Ciência da Religião rompe com o modelo catequético e com o modelo teológico em nome da autonomia epistemológica e pedagógica do Ensino Religioso. Ele toma como pressuposto do Ensino Religioso a educação do cidadão, sem proselitismo. E reconhece a religiosidade e a religião como dados antropológicos e socioculturais que devem ser abordados no conjunto das demais disciplinas acadêmicas por razões cognitivas e pedagógicas.

O retorno do sagrado, enquanto realidade presente na Pós-modernidade nos leva a remeter a questão do Ensino Religioso nas escolas públicas, inseridas numa sociedade secularizada com um papel importantíssimo para a formação intelectual e humana do educando, procurando resgatar os valores religiosos numa perspectiva pacifica.

Consideramos assim, que além do Ensino Religioso ser uma questão de educação para a cidadania, contribui para que o educando possa encontrar na escola um lugar adequado, onde ele possa desenvolver sua experiência de fé e de sua opção religiosa, com a premissa de que isto vai contribuir não somente para o crescimento individual do aluno, mas como também para a sociedade como um todo, pois viver em harmonia consigo mesmo e com os outros, trazendo a possibilidade da paz e do humanismo.

A transição da era moderna para a pós-moderna coloca um sério desafio ao Ensino Religioso no contexto de sua nova geração. Confrontado por esse novo estado de coisas, o educador não pode cair na armadilha de um desejo nostálgico pelo retorno daquela modernidade científica e iluminista, pois não somos chamados a sermos educadores numa época remota, mas aos dias de hoje, cujo contexto se acha sob a influência da pós-modernidade e de outros valores.

Assim apesar da sociedade estar “secularizada”, e que de certa forma a modernidade possa ter cumprido o seu projeto, o homem Pós-moderno possui uma consciência que não é secularizada, isto é, a modernidade despertou o sentido de sagrado, gerando ou despertando a espiritualidade no ser humano.

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Segundo José J. Queiroz (2006) o rosto do homem contemporâneo já não é o mesmo de 50 anos atrás. É plausível falar-se em pós-modernismo como um jeito novo de estar e ser no momento atual, que vai desde o social às ciências, da filosofia à literatura e as demais humanidades, das artes ao folclore, da linguagem à comunicação, das teologias às ciências das religiões.

A ciência racionalista presente na pós-modernidade não leva em consideração a dimensão religiosa do ser humano, fato preocupante diante da formação integral do ser humano. Porem neste mesmo período pós-moderno, a experiência religiosa tem um retorno individual e no foro intimo. A Pós-modernidade questionou radicalmente a grande narrativa, seja do Iluminismo, seja da revelação, seja da ciência. Para os pós- modernos cabe valorizar o foro intimo, ou seja, o particular que é diferente de individualidade.

Segundo Polidoro (2009) numa sociedade secularizada e mais especificamente na pós-modernidade as pessoas desenvolvem sua religião de forma privada. Isso não quer dizer que diminuiu o número de fiéis, mas apenas deixaram de demonstrar publicamente sua religiosidade para viver sua fé no foro intimo.

Com o advento dos Estados democrático de direito na Pós-modernidade é natural o declínio da religião na esfera pública, o que para muitos será denominado de morte da religião, fato que vai permitir o amadurecimento da democracia e do Estado laico propriamente. Neste processo emergente de secularização é natural a aceitação da retirada de símbolos religiosos presentes na esfera pública, bem como a pratica religiosa nestes espaços.

Conforme o próprio Berger constatou, a relação entre modernização e secularização não é algo tão simples, e nesses dois casos temos uma relação bastante distinta. Porém, se isso acontece, o fenômeno do ressurgimento religioso não pode ser explicado apenas por uma premissa antropológica, qual seja, a de que o homem possui um impulso religioso.

Conforme nos é apresentado por Peter Berger uma das características mais evidentes da secularização e da Pós-modernidade pode ser justamente a separação entre o poder político e o poder religioso. Entretanto, essa separação não implicou

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necessariamente em ruptura com as instituições religiosas ou na negação da religiosidade do humano que vive e expressa a mesma.

Considerações Finais

Ao analisarmos as legislações sobre o Ensino Religioso, constatamos uma atenção cuidadosa, quanto à liberdade religiosa dos alunos, com o objetivo de assegurar-lhes a liberdade de escolha diante do Ensino Religioso oferecido pela escola, como uma das demais áreas do conhecimento. Assim sendo contata se que o Estado admitiu o Ensino Religioso como uma disciplina escolar, porque o considera um componente importante na educação como um todo do cidadão, respeitando assim os princípios da laicidade do Estado e o direito do cidadão de escolha de sua religião.

Porém percebemos que a laicidade do Estado na Pós Modernidade é uma via de mão dupla. Por um lado o Estado deve garantir a liberdade religiosa do cidadão e por outro garantir o seu direito de exercer a sua religiosidade. Assim sendo o Ensino religioso permanece numa situação critica, desconfortável e delicada diante da laicidade do Estado e do pluralismo religioso que permite a experiência religiosa individual do cidadão seja ela exteriorizada no espaço público ou privado.

Referências

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BERGER, Peter. O Dossel Sagrado. Rio de Janeiro: Vozes, 1971.

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Referências

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