II Encontro Nacional de Produtores
e Usuários de Informações Sociais,
Econômicas e Territoriais
Rio de Janeiro, 21 a 25 de agosto de 2006
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA: ASPECTOS RELACIONADOS AO FINANCIAMENTO DAS INSTITUIÇÕES
Nelson Cardoso Amaral1
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O financiamento da educação superior brasileira, a partir dos anos de 1990, tornou-se um tema de relevância em discussões que ocorrem no meio acadêmico, nos setores definidores das políticas públicas nacionais e em diversos ambientes da sociedade.
Essa relevância pode ser explicada pela necessidade de elevarmos o percentual de estudantes com idade entre 18 e 24 anos matriculados na educação superior e pela enorme expansão ocorrida no setor privado no Brasil, acompanhada por uma grande inadimplência e por um percentual elevado de vagas oferecidas nos processo seletivos e que não são preenchidas. Associados a essas causas estão a já conhecida incapacidade financeira do Estado de suportar uma elevação substancial dos recursos públicos que se dirigem às instituições públicas, sem comprometer o pagamento dos encargos financeiros da União, e a limitada condição das famílias brasileiras para arcarem com o pagamento das mensalidades escolares.
Adiciona-se a esse fato a exigência cada vez maior, no ambiente de mundo “globalizado”, principalmente no período pós crise do Estado de Bem-Estar Social europeu, da capacitação das pessoas para exercerem funções que exigem cada vez mais habilidades que só são desenvolvidas por aqueles que em alguma etapa da vida freqüentou e participou do mundo da educação superior.
1 Professor do Instituto de Física e do Programa de pós-graduação em educação da Faculdade de
A discussão sobre o financiamento da educação superior é sensível, pois a dependência dos recursos financeiros é responsável pela existência de amarras à liberdade acadêmica das instituições, o que pode comprometer o papel desempenhado por elas no processo de desenvolvimento da Nação.
A discussão sobre o financiamento desse nível educacional no Brasil se complica pela grande diversidade e complexidade das instituições de educação superior (IES): são universidades (8,4%), centros universitários (5,3%), faculdades integradas (5,9%), faculdades, escolas e institutos (73,2%) e centros de educação tecnológica (7,2%), conforme dados do INEP contidos no Censo da Educação Superior de 2004. Além disso, elas são públicas – federais, estaduais, municipais – ou privadas – particulares em sentido estrito, comunitárias, confessionais ou filantrópicas. Predomina, ainda, nesse cenário, um conjunto de instituições que prioritariamente desenvolvem atividades relacionadas ao ensino de graduação, ficando a pós-graduação, a pesquisa e as ações mais efetivas de interação com a sociedade por conta de poucas instituições.
Entretanto, não se pode falar sobre o financiamento das IES sem se perguntar o que se espera desse conjunto heterogêneo de instituições, ou seja, que papel e que funções elas devem desempenhar, considerando-se a legislação, a cultura e a realidade do país.
O que se nota, nas instituições públicas e, portanto, financiadas com recursos do fundo público2, é a “tentativa ou a tentação do controle estatal, a fim de obrigar a universidade a cumprir seus deveres com a sociedade.” (BERCHEM, 1990, pp. 28-29). Nas instituições privadas, a dependência financeira revela-se no quase-mercado”3 educacional, através das mensalidades dos estudantes e dos contratos com a iniciativa privada. Nesse caso é o mercado que tende a fazer o controle dos rumos das atividades acadêmicas da universidade. Quando o financiamento com recursos do fundo público se revela insuficiente e as instituições públicas se dirigem fortemente às atividades de
2 O fundo público de um país reúne os recursos financeiros colocados à disposição dos seus dirigentes –
Poderes Executivo e Legislativo – para implementar políticas públicas.
3 “quase-mercados são mercados porque substituem o monopólio dos fornecedores do Estado por uma
prestações de serviços, oferecendo cursos, assessorias e consultorias remuneradas, elas passam, então, a enfrentar dois pólos de controle: o estatal e o do mercado, cada um deles, a seu modo, procura, em geral, tolher a liberdade intelectual da instituição.
As instituições públicas, por viverem essa tensão entre o estatal e o mercado, passaram a desenvolver um conjunto de atividades que as caracteriza como uma
multiversidade, que é “muito sucintamente, uma universidade funcionalizada,
disponível para o desempenho de serviços públicos e a satisfação de necessidades sociais conforme as solicitações das agências financiadoras, estatais e não estatais.” (SOUSA SANTOS, 1999, p. 206). Essas instituições seguiram esse caminho, talvez, por se encontrarem, dentre outros motivos, pressionadas por crises de hegemonia, de legitimidade e institucionais, que se abateram sobre as instituições de ensino superior, em diversos países, a partir dos anos sessenta, como analisado por Sousa Santos (1999, p. 190).
As instituições privadas por dependerem quase que exclusivamente do pagamento de mensalidades sofrem pressões dos estudantes, do governo e da sociedade para que exerçam plenamente as funções de ensino, pesquisa e extensão. No entanto elas se vêem constrangidas pela áspera concorrência imposta pelo quase-mercado educacional, que as obriga a reduzir o valor pago mensalmente pelos estudantes, o que pode comprometer a qualidade das atividades desenvolvidas pelas instituições.
Um dos temas que inevitavelmente aparece no debate sobre o financiamento das IES é o quanto se gasta para formar um estudante de graduação, o que é comumente chamado de custo do aluno. Muita confusão, entretanto, se faz presente nessa discussão quando simplesmente se divide o gasto total da instituição pelo número de estudantes de graduação, o que se constituiria num outro indicador que é o gasto total por estudante de graduação e que normalmente é chamado de gasto por
estudante. Mas para fazermos comparações consistentes entre as instituições é preciso,
entretanto, efetivar modelagens que permitam apurar o custo do aluno e não o gasto
por estudante. Não há sentido na comparação entre o gasto por estudante de uma IES
Uma das intenções deste trabalho é o de apresentar uma proposta inicial para uma metodologia que calcule o custo do aluno, permitindo a comparação entre diferentes instituições nos diversos estados da federação.
Outra informação relevante se refere à explosão de crescimento da educação superior no período de 1996 a 2004; as vagas oferecidas, por exemplo, passaram de 634.236 para 2.320.421, um aumento de 265,9%. Entretanto, o percentual de vagas que não foram preenchidas nos processos seletivos das escolas públicas tem ficado em baixos percentuais, atingindo 6,9% em 2004, ao passo que, nas instituições privadas, esse percentual que era estável, em torno de 20% até 1999, passou para 31,2% em 2001, para 37,4% em 2002 e 49,5% em 2004, conforme dados do Censo da Educação Superior.
O que se pode apreender desse resultado? Estaria sendo atingido o limite para as famílias brasileiras pagarem mensalidades, em função da desigualdade social existente no País?
Pretende-se no trabalho apresentar uma análise que permite concluir que limites existem para a expansão das vagas privadas, realizando um cruzamento de dados do PNAD/IBGE e do Censo da Educação Superior.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFONSO, A. J. Avaliação Educacional: regulação e emancipação. São Paulo: Cortez, 2000.
AMARAL, N. C. Financiamento da Educação Superior: Estado x Mercado. São Paulo: Cortez e Piracicaba-SP: UNIMEP, 2003.