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Ciências da Linguagem e da Cognição
As apresentações power-point resultam de contribuições de:
! António Branco
! Helder Coelho
! Luis Antunes
! João Balsa
Memória: Interferência na recuperação; efeito de ventoinha; Retenção: função de esquecimento.
Amnésia
(conclusão da aula anterior)
" Memória de curto prazo: teoria de
Baddeley, ciclo articulatório e bases neuronais.
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Teoria de Baddeley (1986)
3
" Modelo para memória de curto prazo
" Ilustração:
! Multiplicar mentalmente 23 por 35
Ciclo articulatório -> “voz interior”
Armazém fonológico -> “ouvido interior”
MCP: ciclo articulatório (1)
" Experiência: Baddeley et al, 1975
! Tarefa: após lerem 1 sequência de 5 palavras 1 vez, sujeitos devem repeti-las.
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MCP: ciclo articulatório (1)
" Experiência: Baddeley et al, 1975
wit sum harm bay
top
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MCP: ciclo articulatório (1)
" Experiência: Baddeley et al, 1975
university opportunity aluminum
constitutional auditorium
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8
MCP: ciclo articulatório (1)
" Experiência: Baddeley et al, 1975
! Tarefa: após lerem 1 sequência de 5 palavras 1 vez, sujeitos devem repeti-las.
! Condição 1 (C1): cada palavra tem 1 sílaba
" wit, sum, harm, bay, top
! Condição 2 (C2): cada palavra tem 5 sílabas
" university, opportunity, aluminum, constitutional, auditorium
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MCP: ciclo articulatório (1)
" Experiência: Baddeley et al, 1975
! Resultados:
" C1: média de 4.5 palavras repetidas
" C2: média de 2.6 palavras repetidas
! Conclusões
" A amplitude da memória de curto-prazo não é fixada
por um determinado número de items,
" mas é fixada por um determinado intervalo de tempo
para articulação verbal dos items.
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MCP: ciclo articulatório (2)
" Experiência: Vallar e Baddeley, 1982
! Condição 1 (C1):
" após lerem 1 sequência de 5 palavras 1 vez, sujeitos devem repeti-las
" cada sequência tem palavras de 1 a 5 sílabas
! Condição 2 (C2):
" Medido tempo de leitura das palavras.
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MCP: ciclo articulatório (2)
" Experiência: Vallar e Baddeley, 1982
! Resultados:
" taxa de leitura idêntica a taxa de recuperação
de palavras.
! Interpretação
" amplitude da memória de trabalho: quantidade
de itens que pode ser ensaiado verbalmente num ciclo de 1.5 a 2.0 segundos
! Interpretação
" modelo alternativo da estrutura da memória:
# memória de trabalho é um arquivo temporário para activação, altamente transiente, mas não necessariamente intermédio entre arquivo
sensorial e memória de longo-prazo. 12
" Experiência: Jacobsen, 1935
! Delayed match-to-sample task
MCP: bases neuronais
MCP: bases neuronais
" Experiência: Jacobsen, 1935
! Tarefa:
" Macacos vêm o sítio da comida; esperam; devem procuram a comida.
! Condição 1:
" Macacos sem lesões na área 46.
! Condição 2:
" Macacos com lesões na área 46.
! Resultados:
" Macacos na condição 2 falham.
MCP: bases neuronais
" Experiência: Goldman-Racik, 1988
! Neurónios da área 46 disparam apenas durante o período de espera.
" Humanos
! Crianças: só após 1 ano conseguem executar a tarefa (Diamond, 1991)
! TEP: (Smith e Jonides, 1995)
# Área 47 para MCP visual
# Área 6 para MCP verbal
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Recapitulação da Memória
" Constituição
! traços mnésicos
! activação:
" frequência, novidade, propagação na rede.
! intensidade:
" ensaio, significado, processamento elaborativo.
" Estrutura
! arquivo sensorial:
" memória icónica.
! memória de curto-prazo:
" amplitude, ciclo-articulatório.
! memória de longo-prazo:
" rede proposicional, rede conceptual, esquemas, categorização e graus de pertença.
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Memória: Processamento
" Processamento
! Codificação
" formato de representação do conhecimento (Cap. 5)
# baseada na percepção, baseada no conhecimento.
! Retenção
" introdução e manutenção de informação (Caps. 6, 7)
# memória de curto prazo
# esquecimento e amnésia
! Recuperação
" acesso e extracção da informação (Cap. 7)
# interferência
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Recuperação: interferência
" Paradigma experimental
! Grupo experimental:
" aprende duas listas de pares de items tais que certos items ocorrem nas duas listas
(e.g. cat e house, etc)
# Lista A-B: ..., cat-43, house-61, ...
# Lista A-D: ..., cat-82, house-37, ...
! Grupo de controle:
" aprende duas listas de pares que não partilham elementos
# Lista A-B: ..., cat-43, house-61, ...
# Lista C-D: ..., bone-82, cup-37, ...
! Testa-se a recuperação da primeira das listas nos dois grupos (passados 1 a 7 dias)
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Recuperação: interferência
" Paradigma experimental
! Testa-se a recuperação da primeira das listas nos dois grupos
" Grupo experimental tem piores resultados para
# aprender a segunda lista
# recuperar a primeira lista
A passagem do tempo não é o único factor que afecta a perda de memória!
! Interpretação:
" novos traços mnésicos interferem com intensidade sobre traços mnésicos prévios: é
difícil manter múltiplas associações com o mesmo estímulo.
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Interferência
"
Aprender associações
adicionais a um estímulo pode causar que antigas
associações sejam esquecidas.
21
Interferência
O tempo que os sujeitos levaram a fazer cada um dos trés julgamentos aumentou com o número de factos fantasiosos que aprenderam.
22
Interferência: efeito de ventoinha
" Experiência: Anderson, 1974
! Tarefa:
" sujeitos aprendem 26 frases com o padrão "A pessoa X está no
lugar Y".
" devem reconhecer se as frases pertencem à lista
# Condição 1-1: lugar Y tem uma pessoa
# Condição 1-2: lugar Y tem duas pessoas
# Condição 2-1: Pessoa X está em dois lugares
# Condição 2-2: X está em dois lugares; Y com duas pessoas
23
Interferência
24
Interferência
Tempo de reconhecimento médio para as frases: função do número de factos associados com uma pessoa e uma localização. O tempo aumenta como função do número de factos de uma pessoa e o número de factos estudados sobre a localização.
Conclusão: a recuperação de informação é sensível a interferências e leva mais tempo.
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Interferência: efeito de ventoinha
" Experiência: Anderson, 1974
! Resultados:
" Tempo de reconhecimento médio para as frases: função do
número de factos associados com uma pessoa e uma localização.
" O tempo aumenta como função do número de factos de uma
pessoa e o número de factos estudados sobre a localização.
26
Interferência
redes proposicionais
(1-1)
(1-2) (2-1)
(2-2)
27
Interferência: efeito de ventoinha
" Experiência: Anderson, 1974
! Interpretação
" Efeito de ventoinha: quanto mais caminhos houver a partir de
um conceito numa rede proposicional menor é a propagação a partir desse conceito.
" a activação propagada de um nó proposicional: soma de
activações propagadas a partir dos seus conceitos.
! Conclusão:
" a recuperação de informação é sensível a interferências e leva
mais tempo.
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Interferência: memórias pré- experimentais
" Será que o efeito de ventoinha também se observa
relativamente a memórias anteriores à experiência?
" Experiência: Lewis e Anderson, 1976
! Tarefa: após estudarem entre 0 a 4 factos-fantasia acerca de
figuras públicas, os sujeitos devem indicar como verdadeiros todos os factos conhecidos (fantasiados ou não)
! Condição 1: Assinalar "Verdade efectiva”:
# ex.: Napoleão era um imperador
! Condição 2: Assinalar "Verdade fantasiosa” (aprendida na experiência):
# ex.: Napoleão era indiano
! Condição 3: Assinalar "Falso" caso contrário 29
Interferência: memórias pré- experimentais
" Experiência: Lewis e Anderson,
1976
" Resultados:
! Para uma dada figura, o tempo que os sujeitos levaram a fazer cada um dos três julgamentos aumentou com o número de factos fantasiosos que aprenderam.
" Interpretação:
! novos traços mnésicos interferem com intensidade sobre traços mnésicos prévios, bem conhecidos.
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Retenção: função de esquecimento
" Experiência: Wickelgren, 1975
! Tarefa:
" após leitura de série de palavras, sujeitos devem
recuperar essas palavras
! Condições:
" recuperação é feita entre 1 minuto e 14 dias
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Retenção: função de esquecimento
" Experiência: Wickelgren, 1975
! Resultados
" intensidade dos traços mnésicos (d’) deteriora-se com a
passagem do tempo.
" a deterioração é porém cada vez menor com o tempo (aceleração
negativa).
As medidas de desempenho são funções de
potência do
atraso: função do
esquecimento. 32
Retenção: esquecimento a longo prazo
" Experiência: Bahrick, 1984
! Ilustra aceleração negativa da retenção
! Tarefa: sujeitos devem traduzir para inglês lista de 15 termos em espanhol.
! Condição 1: sujeitos tiveram 1, 3 ou 5 cursos de espanhol na escola secundária e faculdade
! Condição 2: sujeitos são testados após o curso e até 50 anos depois
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Retenção: esquecimento a longo prazo
" Experiência: Bahrick, 1984
! Resultados: (atenção: apenas abcissas são logarítmicas do tempo)
! Interpretação
" Replica a função de esquecimento.
" com particularidade: decréscimo brusco por volta dos 30 anos após a aprendizagem.
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Retenção: decaimento
" Função de esquecimento
! mesmo perfil que a função de aprendizagem/treino
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Retenção: decaimento
" Função de esquecimento
! mesmo perfil que a função de aprendizagem/treino
" Esquecimento
! degradação da intensidade
! decaimento
" sustentação neurológica dos traços mnésicos
# transmissão sináptica mais lenta se não for activada.
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Amnésia
" Amnésia
! Retrógrada: perda de memórias de antes da lesão
! Anterógrada: perda de memórias após a lesão
! Podem não ser totais
! Podem apresentar-se dissociadas
" estruturas/processos para novas (hipocampo) e antigas
memórias (hipocampo e lobo temporal) não coincidem totalmente
! Podem afectar apenas certo tipo de memórias
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Amnésia
" Barbizet, 1970
! Lesão: após coma de 7 semanas devido a pancadas na cabeça, sujeito foi testado quanto a memória:
" 5 , 8 e 16 meses após a lesão:
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Amnésia: recuperação
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Retenção: há esquecimento total?
" Experiência: Penfield, 1959
! Durante intervenção cirúrgica ao cérebro mantendo os pacientes conscientes, diferentes partes do
cérebro foram estimuladas electricamente, sem dor.
! Estimulação do lobo temporal levam pacientes a
recuperar traços mnésicos aos quais tinham deixado de ter acesso.
! Dificuldade experimental:
" confirmar que esse traços mnésicos existiram previamente
(ou se são novos e tomados como antigos). 41
Retenção: há esquecimento total?
" Experiência: Nelson, 1971
! Tarefa:
" sujeitos estudam lista de 20 pares de número-palavra até
conseguirem recuperar a lista sem erros (e.g. 43-cão)
" duas semanas depois, tentando recuperar a lista de novo, falham
25%
! Condição 1: sujeitos ensaiam 1 vez a lista de 20 pares inalterada (inclui 43-cão, se este tiver sido um par falhado)
! Condição 2: sujeitos ensaiam 1 vez lista de 20 pares obtida a partir da anterior
" pares acertados mantêm-se
" pares falhados: a palavra foi alterada (inclui 43-casa, p.ex., se 43-
cão tiver sido um par falhado) 42
Retenção: há esquecimento total?
" Experiência: Nelson, 1971
! Resultados:
" Condição 1: recuperação de 78% dos pares falhados
" Condição 2: recuperação de 43% dos novos pares
! Interpretação
" apesar de não conseguirem recuperá-los no primeiro teste, os
sujeitos parecem reter algum traço mnésico dos pares falhados, o que explicará a diferença para os pares
aprendidos de novo.
43
44
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Memória animal
Aprender Lembrar Esquecer
Exemplo da Mosca: as drosófilas memorizam um odor particular num minuto, e podem distingui-lo de outro dez minutos mais tarde, e sem qualquer
hesitação. A sua memória de curto prazo dura
algumas horas e a de longo prazo estabelece-se se esperarmos quinze minutos em sessões, uma
propriedade que ocorre noutras espécies, como o homem. Ninguém conhece ainda qual o mecanismo molecular que se esconde por detrás deste tempo de repouso.
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Memória animal
Questão:
Existem limites no modelo animal?
" Quando se trabalha com ratos podem-se colocar
questões sobre o hipocampo e estabelecer um paralelo aceitável com o homem. No caso da abelha isso não é possível pois esta possui apenas 960.000 neurónios e não tem
equivalente ao hipocampo.
" Contudo, este animal tem competências
cognitivas muito desenvolvidas em matéria de
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Memória animal
" Qual é o aspecto específico da memória
humana? Podemos compreendê-lo se
distinguirmos as formas diferentes da memória.
Por exemplo, a memória procedimental
permite-nos sobreviver ajudando-nos a adaptar ao nosso ambiente envolvente. A memória
episódica permite-nos lembrar do que fizemos ou vivemos, quando e onde.
" Segundo Endel Tulving este tipo de memória é
apenas própria do homem, o único a poder fazer viagens mentais no passado, para poder vivê-lo através do pensamento.
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Variedades de Memória
Memória Sensorial
Memória de Curto Prazo
Memória de Longo Prazo Memória Episódica
Lembranças datadas e localizadas
Memória Semântica Factos culturais gerais
Memória de Longo Prazo procedimental
Gestos Repetidos
Memórias Permanentes Memórias Permanentes Memória Não Declarativas Implícitas Declarativas Explícitas Temporárias
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Memória animal
" Alguns pássaros, como os corvídeos, são
capazes de se lembrarem do tipo de
alimentos que esconderam, e quando e onde os colocaram, os trés critérios que definem a memória episódica.
" Tulving não nega este facto, mas
argumenta que estes animais não
conseguem fazer uma verdadeira viagem mental no passado.
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Memória infantil segundo Piaget
" Longe de se desenvolver de forma linear, a
memória infantil está estreitamente subordinada às etapas da consciência.
" Duas transições chave têm lugar aos 8 meses
(teste do objecto escondido) e sobretudo aos 18 meses, quando a criança é capaz de se
reconhecer num espelho. A etape decisiva, o estádio do espelho, anuncia também o uso correcto dos pronomes pessoais (eu, tu)
" A possibilidade de se lembrar do passado só é
constituída plenamente aos 5 anos de idade. 51
Campeonato Mundial de Memória na Malásia
" Recurso a técnicas antigas com 2500 anos (não
havia escrita para recordar a informação) para executar habilidades: decorar em minutos um poema com meia centena de versos ou a maior sequência de números, a ordem de 52 cartas
acabadas de baralhar, ou os nomes de 99 caras desconhecidas.
" Treinar todos os dias e levar ao limite as
capacidades intelectuais: recitar mais de 83 mil casas do número pi. É necessário iniciativa e persistência.
" Prova: cada participante tem uma hora para
estudar a folha e duas para escrever a
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Saber recordar
" A melhor recordação de certos eventos está
relacionada com a organização da informação a armazenar na memória, de modo a facilitar o
seu acesso posterior.
" Técnica: converter elementos sem significado
para o cérebro em imagens mentais mais familiares.
" Técnica da viagem para decorar sequências
aleatórias de palavras, números ou outros
elementos (cartas): decorar vários pontos de um percurso familiar, como o trajecto entre a porta de casa e o local de emprego. Depois, basta associar cada elemento da sequência que se quer memorizar a um determinado ponto da
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Saber recordar
" A técnica da viagem não só permite memorizar
a sequência de elementos, como saber a
posição exacta de cada um deles e enunciar a sequência a partir de qualquer ponto, ou mesmo em sentido inverso.
" A recordação de uma parte da informação
aumenta a possibilidade de a restante se tornar acessível.
" Factores como a idade, a actividade profissional,
o estado de saúde ou o nível de stress são
determinantes na capacidade de memorização.
" A superioridade da memória de um mestre de
xadrez verifica-se apenas no seu domínio de
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Rudiger Gamm
" As experiências efectuadas com um especialista
em cálculo de problemas matemáticos revelam as áreas cerebrais activas durante as suas
demonstrações: a sua memória de longo prazo (responsável por conter todos os nossos
conhecimentos e lembranças)
" Porque não somos capazes de reter os pedidos
de clientes, como um criado de cervejaria? Por causa da nossa memória de curto prazo, a que nos permite manter vivas no espírito as
informações diversas e o tempo necessário para a sua utilização.
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Memória freudiana
" Freud descobriu, pela primeira vez, que existe
uma memória própria do inconsciente, a do esquecimento, onde certos acontecimentos decisivos são completamente esquecidos por um sujeito, que os reprime (traumatismo) até que a cura psicoanalítica os faça de novo
resurgir.
" Esta forma de memória é a única a não ser
afectada pelo tempo que passa.
" O aparelho psíquico proposto por Freud é um
aparelho de memória, permitindo explicar fenómenos de memória, situados como sintomáticos.
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Saber recordar
" O interesse e a atenção desencadeiam o
processo de registo: entrada da informação na memória, o que implica que ela seja
transformada de modo a ficar armazenada.
" É necessário relacionar a nova informação
aprendida com o que se passou anteriormente.
Quanto mais rica for a estrutura do
conhecimento já existente, mais fácil se torna compreender e recordar informação nova.
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Melhor memória
" O que produz melhor facildade de memorizar:
atenção, interesse, e organização da informação.
" O que piora a capacidade de memorizar:
estados de saúde que provoquem dor crónica ou depressão, ansiedade, expectativas
negativas, estilos de vida de lassidão e ócio,fadiga, stress, idade ou alguns
medicamentos.
" É possível aprender a usar a memória de forma
mais eficaz: treino distribuído ao longo do
tempo, e muito esforço (adquirir novos hábitos).
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