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A história dentro da história em Terra sonâmbula

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Academic year: 2023

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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CAMPUS VENDA NOVA DO IMIGRANTE

CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS-PORTUGUÊS

AMANDA PRUDENCIANA DE LIMA

A HISTÓRIA DENTRO DA HISTÓRIA EM TERRA SONÂMBULA

VENDA NOVA DO IMIGRANTE-ES 2023

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AMANDA PRUDENCIANA DE LIMA

A HISTÓRIA DENTRO DA HISTÓRIA EM TERRA SONÂMBULA

Monografia apresentada à Coordenadoria do Curso de Licenciatura em Letras-Português o Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Venda Nova do Imigrante, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em Letras-Português.

Orientadora: Prof.ª, Drª Adrianna Machado Meneguelli

VENDA NOVA DO IMIGRANTE-ES 023

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griffo@griffosupermercado.com.br

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus pelo dom da vida, por todas as bênçãos e pela superação dos obstáculos encontrados ao longo da realização deste curso.

Às Mulheres da minha vida, minha mãe Celeisina Prudenciana de Lima e minha avó Guilhermina Prudenciana, me faltam palavras para elucidar todo o esforço e trabalhos dedicados a mim, cada gesto de carinho e afago foram refúgio nesta jornada. Elas são meus exemplos de vida.

Ao meu falecido pai, que sempre sonhou com esse momento mais por conta do destino, não teve o privilégio de estar presente em um momento tão feliz.

Ao meu padrasto Geneçi Vieira que contribui sendo um exemplo de inspiração e sempre me incentivou a não desistir.

À minha orientadora Adrianna Machado Meneguelli, que sempre se fez presente, motivando e auxiliando em cada etapa. Aos demais professores, que foram essenciais para minha formação acadêmica, por todo o conhecimento adquirido no decorrer dessa jornada. Aos colegas de curso que, de alguma forma, contribuíram para o meu aprendizado, agradeço pelo companheirismo, cumplicidade e amizade.

Agradeço à instituição do IFES, professores, mestres e doutores todo o corpo docente que muito contribuíram para meu desenvolvimento.

Por fim, quero agradecer de coração a todos que torceram e me incentivaram, a estes dedico meu trabalho e os frutos advindos de meus estudos.

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Há três espécies de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar.

-Platão

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RESUMO

Com o título "História dentro da história em terra sonâmbula" o presente trabalho realiza um estudo da obra Terra sonâmbula de Mia Couto (1992). O romance retrata uma época marcante para o país africano e, mesmo que a obra seja uma ficção, tornou-se uma fonte histórica para conhecer as memórias de Moçambique. Levando tal fato em consideração, a pesquisa buscou informações sobre a obra em artigos e documentários que apresentam o resgate da cultura de Moçambique e os diversos elementos que contribuem para a busca da identidade de uma nova nação. Buscou também, analisar a estratégia literária da mise-em-abyme, ou a história dentro da história, que não somente enriquece a narrativa, mas faz com que as duas pontas se liguem ao final.

Palavras-Chave: Terra Sonâmbula. Mia couto. mise-em-abyme

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ABSTRACT

With the title "history within history in terra sonâmbula" this work makes a study of the work Terra sonâmbula by Mia Couto (1992). The novel portrays a remarkable period for the African country and, even if the work is fiction, it has become a historical source to know the memories of Mozambique. Taking this fact into account, the research sought information in articles and documentaries about the work that present the rescue of the culture of Mozambique and the various elements that contribute to the search for the identity of a new nation. It also sought to analyze the literary strategy of mise-em- abyme, or the story within the story, which not only enriches the narrative, but makes the two ends connect at the end.

Keywords: Terra Sonâmbula. Mia couto. mise-em-abyme

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...8

1 CONHECENDO MOÇAMBIQUE...9

1 1 .1 GUERRA CIVIL...10

.2 PÓS-GUERRA CIVIL...11

2 CONHECENDO TERRA SONÂMBULA...12

2 2 2 2 .1 A LINGUAGEM COUTINIANA...12

.2 O ENREDO DE TERRA SONÂMBULA...14

.3 ESTRUTURA DO ABISMO...16

.4 A PRESENÇA DA ANCESTRALIDADE...20

CONSIDERAÇÕES FINAIS...23

REFERÊNCIAS...24

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho propõe uma análise da obra Terra Sonâmbula, escrito e publicado pelo autor moçambicano Mia Couto no ano de 1992. Contextualmente o romance descreve o passado que aconteceu entre 1977 e 1992, período em que houve uma guerra civil que varreu Moçambique. Nesse período, pessoas perderam suas casas e suas famílias, e o sofrimento dominou o país.

No decorrer da narrativa de histórias e fantasias presentes na obra, o leitor é levado a uma viagem para conhecer essa região da África, seus habitantes e toda riqueza presente em sua cultura tradicional, de um povo que tanto sofreu durante o período pós, independência que durou cerca de 16 anos. Assim, trazendo para o romance uma relação entre literatura e história, que tornou a obra um registro histórico literário.

Mia Couto, descreve na primeira página de seu livro que “Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada”. (COUTO 2007, p,09). Ao descrever esse cenário, pode-se compreender que trata-se de uma obra nascida em meio ao caos da guerra civil em Moçambique. Dessa forma, a narrativa se inicia contando a história do menino Muidinga e do velho Tuahir, que fugiam da guerra em uma estrada descrita como uma “estrada morta”. Durante essa longa e cansativa jornada, o velho e o menino acabam encontrando um machimbombo (ônibus) queimado para se abrigarem. Nesse ônibus a criança acaba encontrando uma maleta com 11 diários e durante a sua leitura acaba descobrindo que pertencem ao rapaz chamado Kindzu. Esses se tornaram a única distração naquele enfadonho lugar e, por meio, desses escritos foi possível conhecer a infância e a trajetória desse personagem.

Ademais, o romance retrata uma época marcante para o país africano, mesmo que a obra seja uma ficção, tornou-se uma fonte histórica para conhecer as memórias de Moçambique. Levando tal fato em consideração, a pesquisa buscou informações sobre a obra em artigos e documentários para compreender, por meio deles, o resgate da cultura de Moçambique e os diversos elementos que contribuíram para a busca da identidade de uma nova nação. Buscou também, analisar a estratégia literária da mise- em-abyme, ou a história dentro da história, que não somente enriquece a narrativa, mas faz com que as duas pontas se liguem ao final.

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1 CONHECENDO MOÇAMBIQUE

A obra Terra Sonâmbula se passa nas terras de Moçambique, na porção sudeste do continente africano, boa parte de seu território está situado ao leste e ao sul pelo oceano Índico. No ano de 1498, o português Vasco da Gama chega em terras moçambicanas durante uma de suas expedições para Índia, a princípio não a colonizaram, mas capturaram habitantes daquelas terras para que se tornassem escravos no continente americano.

De forma que, apenas 8 anos depois, Moçambique foi incorporado como parte de Portugal, dando início a exploração das riquezas daquela região como o cobre e a prata. O foco principal era o ouro e a comercialização de mão de obra escrava, afinal não tinham objetivo de investir no desenvolvimento daquelas terras, mas sim somente usufruir do que elas possuíam. “Essas potências coloniais diferiam em níveis de desenvolvimento, riqueza e necessidades. Tal situação determinou diferenças secundárias, porque as colônias eram predominantemente de exploração e não de povoamento” (VISENTINI, RIBEIRO, PEREIRA, 2014, p. 88). Por conta desse comportamento agressivo, grande parte dos continentes africanos, assim como Moçambique, apenas estão sobrevivendo, faltando até mesmo necessidades básicas de um ser humano.

O desejo de emancipação ganhou força logo após o final da Segunda Guerra Mundial, dando início a criação Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), um partido político fundado no dia 25 de junho de 1962, tendo como objetivo lutar pela independência de Moçambique do domínio colonial português. Josilene Silva Campos diz que “com o fim do colonialismo, a Frelimo assumiu o controle do Estado moçambicano, por meio de uma eleição intrapartidária que elegeu Samora Machel presidente” (CAMPOS, 2009, p. 80), com a posse deste governo de renovação, houve desavenças com o povo por conta de suas crenças e cultura, considerando as antiquadas.

Devido à supremacia da Igreja Católica imposta durante o colonialismo, o novo governo passou a menosprezar os brancos que permaneceram nas terras moçambicanas, nacionalizando suas empresas, terras e todos seus bens. Baseado nesses

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acontecimentos, esses povos passaram a temer por suas vidas. Por medo, decidiram se mudar “com a fuga da maior parte da elite branca, Moçambique passou a ser governado por um movimento negro, que se proclamava marxista-leninista, na fronteira da Rodésia e da África do Sul, países cujos movimentos de libertação passaram a receber apoio moçambicano” (VISENTINI, RIBEIRO, PEREIRA, 2014, p.136).

Com as novas mudanças, políticas e a supremacia religiosas foram afetadas as manifestações culturais no país africano, tais mudanças também ocasionaram uma busca pelas raízes daquele povo, suas culturas, entendimentos e fé. Com isso, muitos escritores precisaram sair de seu país de origem para escreverem seus textos e manter uma produção literária a respeito da situação histórica que aquelas terras viviam, dando início uma produção livre do jugo colonial. Percebemos então que, ao longo da obra Terra Sonâmbula, Mia Couto mostra uma realidade existente em Moçambique ao longo de seu enredo e a constante busca pela sua identidade e cultura.

1.1 GUERRA CIVIL

A Guerra Civil em Moçambique iniciou em 1977, ano em que a Frelimo iniciou uma rebelião contra o governo da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), movimento de oposição ao regime da Frelimo. Assumindo o poder após a independência de Moçambique, em 1975, foi estabelecido um governo comunista no país. A Renamo, no que lhe concerne, era um grupo de oposição que se formou para lutar contra a ditadura do atual governo. Ela foi uma das principais forças motrizes da independência de Moçambique, tendo lutado contra o colonialismo português. No entanto, ao longo dos anos, tornou-se cada vez mais corrupta e abusando de seu poder, o que culminou numa guerra civil que durou décadas e causou a morte de milhares de pessoas. Em 1992, após a derrota, assinou um acordo de paz com o governo, desde então, perdeu o seu apoio popular e, nas últimas eleições, ficou em terceiro lugar.

A guerra civil moçambicana durou mais de 16 anos e envolveu as duas principais forças políticas do país, a Frelimo e a Renamo. A violência perpetrada durante a guerra civil em Moçambique não foi uma exclusividade da Renamo, a Frelimo também cometeu violências contra a população. Segundo Visentini, Ribeiro e Pereira, “durante a guerra

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civil, a Frelimo, apoiada pela URSS e Cuba, cometeu abusos contra a população civil, queimou aldeias, destruiu plantações e promoveu a repressão aos opositores”

(VISENTINI, RIBEIRO, PEREIRA, 2014, p. 141). A violência da guerra civil, que iniciou em 1975, deixou cerca de um milhão de mortos e 2,5 milhões de deslocados.

Após a assinatura do acordo de paz em 1992 a violência não cessou, pelo contrário aumentou. A guerra civil terminou, mas a violência não, a impunidade é a tônica desses crimes. Segundo a Comissão de Verdade e Reconciliação, “oito anos depois do fim da guerra civil, em 2000, a violência contra a população civil continuava” (COMISSÃO DE VERDADE E RECONCILIAÇÃO, 2009, p. 10). A comissão concluiu que, durante a guerra civil, “a Frelimo cometeu violências contra a população civil, queimou aldeias, destruiu plantações e promoveu a repressão aos opositores” (COMISSÃO DE VERDADE E RECONCILIAÇÃO, 2009, p. 10).

1.2 PÓS-GUERRA CIVIL

A luta pela liberdade de Moçambique não foi fácil, o país ainda enfrenta diversos problemas, mas a paz voltou a reinar e o país está se reerguendo gradualmente. A economia estava praticamente destruída e a maioria da população vivia na miséria, uma vez que a infraestrutura básica como, estradas, pontes, escolas e hospitais haviam sido destruídos, além disso, a educação e a saúde públicas estavam praticamente inexistentes. O conflito armado em Moçambique deixou mais de um milhão de vítimas, das quais 15 mil sofreram mutilações. Em suma, essas experiências traumáticas, vividas por tantas pessoas, deixaram suas marcas, fazendo com que ainda hoje sejam visíveis as profundas feridas abertas pela guerra e essas pessoas, ainda, enfrentam dificuldades para se reinserir na sociedade. O governo de Moçambique, com a ajuda internacional, tem trabalhado para reconstruir o país e melhorar a vida da população, mas ainda há muito a ser feito.

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2 CONHECENDO TERRA SONÂMBULA

2.1 A LINGUAGEM COUTINIANA

Mia Couto é um escritor moçambicano, nascido em 1955, filho de portugueses que emigraram para Moçambique e viveram em Beira, onde ele nasceu. Couto é jornalista, professor e biólogo, com apenas 14 anos, teve alguns poemas publicados no jornal Notícias da Beira. Em 1971 se mudou para a capital Lourenço Marques, agora Maputo, para iniciar seus estudos acadêmicos em Medicina, mas no terceiro ano do curso ele deixou a faculdade para assumir o Jornalismo, pois no momento da independência o jornalismo moçambicano precisava de mais profissionais.

Sua formação literária, além de ser diversificada, fez com que ele se tornasse um escritor único, que pensa e escreve de forma distinta de todos os outros. Sua obra é composta de diversos gêneros literários como: poesia, conto, romance, ficção científica, dentre outros. Como escritor, Mia Couto é bastante original, pois sua escrita se destaca dos outros profissionais da área. O estilo do autor é único; ele analisa a sociedade através de um ponto de vista diferente, o que faz com que o leitor pense de forma distinta sobre a temática apresentada. Por ser um autor bastante criativo, principalmente quando o assunto é a forma de construção de sua obra, o autor inova ao escrever e chama a atenção do leitor, que passa a prestar mais atenção na sua escrita.

Apesar de sua extensa obra literária Couto não diz ser escritor, mas sim, um contador das estórias da sua gente: “as gentes que fazem parte/farão parte de um país em construção”. Sendo biólogo ele também tem a oportunidade de conviver com o povo e suas diferentes culturas, conforme Fernanda Cavacas: é como biólogo que ele contacta populações e (re)aprende a genuinidade de comunidades não urbanas que ainda vivem segundo as tradições dos antepassados e delas lhe vão dando conta. É um movimento circular! O escritor “alimenta-se” das vivências do biólogo e o biólogo prepara-se para novas vivências através da imaginação do escritor.

Estas aprendizagens existentes no país autêntico é um tanto mais enriquecedora quanto diversificada é a composição étnica das nações moçambicanas e, talvez, só um

“estrangeiro” estivesse em condições de manter a postura e tratá-las de igual modo e as incorporar na sua escrita. (CAVACAS in CHAVES, MACEDO, 2006, p. 64). É desse

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modo que Mia Couto consegue escrever tão bem sobre Moçambique, tendo vivido e convivido com os nativos das aldeias e tribos ainda existentes, vivenciando seus costumes e assim, conhecendo essas realidades lutou pela coletividade, diversidade, tanto cultural como social.

Surpreende-se, por filho de brancos imigrantes portugueses, difundir a cultura de um povo predominantemente negro. Difunde-se branco que ama aquele lugar, com toda a sua multiplicidade, que o seduziu “tão naturalmente como ser, é se da terra onde sentimos as raízes do coração, os quais são sem sombra de dúvida as mais verdadeiras” (CHAVES, MACEDO, 2006, p. 64).

O romance Terra Sonâmbula é reconhecido pela poesia presente na obra, colocando beleza em uma estória melancólica, não deixando de destacar a linguagem dos habitantes daquela região. Segundo a Pires, Laranjeira afirma que Couto recria e faz grandes inovações na sua produção:

Mia Couto se apropria de modos típicos da oralidade. A (re) criação verbal com neologismos e inovações sintáticas (que se encontrariam também no português do Brasil), advém do gozo da língua e de aproveitar o contato entre várias delas, mas também da necessidade de criar e relatar novas realidades, rurais e urbanas, numa língua literária que, urbana e cosmopolita, retoma práticas orais com origem no enraizamento da ruralidade. (LARANJEIRA, 2001, p.202).

A linguagem poética de Couto é, portanto, uma linguagem que se utiliza de recursos como: a rima, musicalidade, sonoridade para criar imagens na mente do leitor. Ela é uma forma de linguagem especialmente eficaz na criação de um mundo imagético e no envolvimento do leitor com a história. Um exemplo desse marco:

As ondas vão subindo a duna e rodeiam a canoa. A voz do miúdo quase não se escuta, abafada pelo requebrar das vagas. Tuahir está deitado, olhando a água a chegar. Agora, já o barquinho balouça. Gradualmente se vai tornando leve como mulher ao sabor de carícia e se solta do colo da terra, já livre, navegável.

Começa então a viagem de Tuahir para um mar cheio de infinitas fantasias. Nas ondas estão escritas mil estórias, dessa de embalar as crianças do inteiro mundo (COUTO, 2007, p.195).

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Neste trecho, podemos identificar uma sonoridade, uma musicalidade e uma rima interna que leva o leitor a um mundo de imagens. É uma linguagem que se usa ao contar histórias para crianças. Ainda que a guerra seja o tema central da obra, o autor consegue transmitir beleza e poesia ao longo da leitura. A dupla de protagonistas nos acompanha em sua jornada por um mundo destruído, mas ainda assim conseguimos ver a beleza nas estórias que eles encontram pelo caminho. Isso nos faz refletir sobre a importância da fantasia e imaginação em meio às dificuldades da vida.

2.2 O ENREDO DE TERRA SONÂMBULA

Mia Couto, descreve na primeira página de seu livro. “Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada”. (COUTO 2007, p,09). Uma obra nascida em meio ao caos da guerra civil em Moçambique, que se constitui de duas narrativas nas quais a leitura interliga a história de Muidinga, descrita em onze capítulos e a de Kindzu lida em onze cadernos.

O romance se inicia apresentando Tuahir, um senhor de idade que por causa da guerra, perdeu sua família e aparenta ter perdido todas as esperanças, em contrapartida, Muidinga, um menino encontrado quase morto pelo idoso, em um campo de refugiados prestes a ser enterrado com outras crianças. As consequências daquele conflito levaram o menino a ingerir mandioca azeda, o fazendo adoecer e por pouco não perde a vida. Como consequência, o menino perde sua memória que lhe causa um desgosto enorme por não saber quem ele é, nem de onde veio.

Para o povo africano, em específico, a memória é responsável por toda a perpetuação da cultura, pois as tradições e histórias eram repassadas de geração para geração oralmente. A perda das lembranças descritas na obra remete a perda de parte da história de Moçambique de um olhar de quem realmente viveu.

Os dois personagens centrais apresentam aspectos diferentes: um cheio de esperança e outro desacreditado, que ainda insistem em lutar por suas perdas. Juntos decidem procurar pela família do pequeno, entretanto passou a ser uma tentativa de sobreviver em meio àquele caos. Ao longo da viagem, vagam por uma estrada no qual o autor descreve como “morta”, onde encontram um machimbombo (ônibus) queimado, e se

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abrigam em meio aos cadáveres queimados na tentativa de salvarem suas vidas.

Naquele lugar o jovem encontra uma maleta que possuía alguns cadernos, ao ler para o senhor Tuahir descobre que tornou-se único passatempo, ou seja, uma fuga daquela terra massacrada e sem esperança para os mais belos sonhos.

No primeiro caderno, Kindzu se apresenta, fala de sua infância, de como viu a sua família desintegrar-se (“quebrar-se feito um pote lançado ao chão”) e de seu irmão Junhito, o último a nascer do ventre de sua mãe. Conta que, tempos depois, sozinho, foi em busca de uma vida melhor. No segundo caderno começa a narrar o percurso cumprido na canoa em que embarcou para fugir da vida triste, sempre beirando o litoral.

Durante o percurso no mar, seu falecido pai — Taímo — lhe apareceu em sonho, assombroso; dizia ser quem azarava os caminhos de Kindzu, que largara a terra dos antepassados e não lhe prestava homenagens. O filho dizia que a missão era ajudar a acabar com aquela guerra. E eram tantos os mortos enterrados naquela terra que Taímo alegava ter que disputar lugar com os esqueletos. Dizia-se amaldiçoado, que ninguém lhe levava comida, etc. O filho retorquiu que desde que o pai morrera levava todas as noites, mas que alguém lhe devia ter roubado. Do diálogo sonhado, ficou o medo de Kindzu, de que o próprio pai estava a lhe amaldiçoar e, ainda, a reclamação de que a terra deles estava se divorciando dos antepassados, o que para aquela cultura era no mínimo sinal de mal agouro.

Entremeados aos cadernos que narram as aventuras de Kindzu, narram-se as pequenas vivências de Muidinga e de Tahuir, sobrevivendo à fome e agora ainda mais sofridos, por terem seu cabrito roubado enquanto dormiam. Sorte tiveram por estarem no ônibus queimado, onde os ladrões não devem ter acreditado ter alguém dormindo.

Por crescer a desolação, e a necessidade de se buscar alimento distanciam-se do velho machimbombo em busca de terrenos onde se cultivavam raízes, como a mandioca, até que o menino encontrou algumas ressecadas e ameaçou levá-las à boca, mas o velho gritou desesperado, dizendo que aquelas não eram para se comer, e que por causa delas é que Muidinga havia ficado à beira da morte. Parte de sua história, portanto, é narrada por Tahuir, que o salvara da morte, tendo-o encontrado junto a outras crianças mortas, com apenas os dedos vivos se mexendo.

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Mais tarde, encontram alento nos cadernos de Kindzu, que chega a uma vila — cujos habitantes que restaram reúnem-se na praia para fugir dos perseguidores —, mas é expulso e volta ao mar, conduzido por um fantasma, para chegar a um barco abandonado. Ali conhece Farida, por quem se apaixona, e cuja história é cercada de tristeza e, sobretudo, de abandono. Adotada por um casal de portugueses, ao crescer tornou-se alvo das investidas lascivas do senhor que a adotara, Romão Pinto. A mulher, então, levou-a para que um padre a cuidasse, porém, Farida quis voltar à aldeia de sua infância.

Pensou, assim, em passar pela casa de Virgínia, que a colocara aos cuidados do padre, considerando visitá-la brevemente, mas foi violentada pelo marido dela que se encontrava fora de casa. Farida seguiu em direção à antiga vila e lá descobriu que havia engravidado, quando deu à luz entregou o filho, Gaspar, para a igreja e nunca mais o viu.

Importa sintetizar até esse ponto a narrativa, porque aí o entrelaçamento entre as duas histórias começa a se construir de modo mais efetivo. Isso porque, o pedido que Farida faz a Kindzu – para encontrar seu filho Gaspar – acaba levando-o à dupla Muidinga e Tuahir. É interessante, inclusive, abrir um parêntese, para destacar o uso da mise-em- abyme enquanto estratégia narrativa. Esse é um termo francês que significa “estrutura em abismo”, e se refere a uma história dentro de outra história, podendo ser utilizado também em outras artes, como na pintura ou mesmo no cinema. Em Terra Sonâmbula, dentro de cada capítulo há uma segunda narrativa referente aos “cadernos de Kindzu”, portanto 11 capítulos, envolvendo a história de Muidinga e de Tahuir, e 11 relatos, sobre a história de Kindzu. Podemos, nessa perspectiva, pensar a estrutura proposta por Couto em termos de especular a idade, uma vez que uma se projeta na outra, ou mesmo se reflete, a começar pela inicial identificação do menino leitor com o menino relator, ambos abandonados pela mãe.

2.3 ESTRUTURA DO ABISMO

O mise-em-abyme é um recurso narrativo que tem no escritor francês André Gide, do final do século XIX, uma referência para seu uso. Inspira-se na heráldica representada

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por um escudo contendo em seu centro outro escudo miniaturizado. E o que vemos também nas matrioskas russas, as bonecas que contêm outras tantas em seu interior, em camadas, o que se traduz em espelhamento ou mesmo reflexo no campo da literatura. Na década de 70 o teórico Lucien Dallenbach aprofundou-se nos estudos desse procedimento, enriquecendo a concepção “abismal” ou especular nas relações textuais.

Para esse teórico, as narrativas em abyme podem causar uma expansão de sentidos se considerarmos que o uso de apenas uma das narrativas não seria possível. Assim, a inserção de outra narrativa no mesmo espaço textual nos leva a questionar não somente as relações entre as duas, como também a nos posicionar enquanto leitores, de modo a questionar o momento em que ambas se tocam; afinal a própria situação de estar uma inserida na outra leva a uma intenção. E qual seria essa intenção? Eis a pergunta que acompanha o leitor, e que torna a narrativa ainda mais instigante. Essa é uma das razões que leva esse procedimento a ampliar os sentidos do texto. Tanto que Dallenbach chegou a comentar: “a especialização escritural se sustenta pela sua especialização imaginária” (1989, p. 17).

Como dito anteriormente, a busca por Gaspar é que possibilitará que a relação entre as duas histórias se estabeleça de uma maneira mais efetiva ou na direção do esclarecimento; justamente daquele ponto em que ambas se tocam. Sendo assim, após descobrir que o filho de Farida não estava mais com o padre. Kindzu após muitos acontecimentos, dentre eles: envolver-se amorosamente com Farida e em seguida com Carolinda, mulher do administrador da vila, que o perseguiu e o prendeu. Sendo solto pela amante, chegou até a casa da bondosa Dona Virgínia, que adotou Farida no passado e descobriu, então, que Gaspar havia fugido.

Enquanto isso, no trajeto de Muidinga e de Tuahir, ainda outro infortúnio: foram presos por um velho chamado Siqueleto, que ao fim acabou morrendo e os dois sendo libertos.

No retorno ao machimbombo, e aos relatos de Kindzu, Muidinga acaba sendo violentado por um grupo de mulheres velhas que participavam de um ritual. Em seguida, e imerso na história da busca por Gaspar, filho de Farida, descobre por Tuahir, que tinha sido levado para um velho feiticeiro que lhe extraiu as memórias; por isso não

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se recordava de quem havia sido, apenas do entendimento das letras. No décimo capítulo, ao demonstrar Muidinga o desejo de observar o mar, concorda o velho em saírem do machimbombo e atravessar os campos, agora molhados pela chuva, em direção ao oceano.

Carregava na mente do menino a imagem de Farida, aguardando no barco o retorno do filho perdido; o mar era para ele um alívio daquele mundo acabado. No caminho pelo pântano, porém o velho começa a tremer febril e adoece; mesmo com ele doente, chegam a uma praia e Tuahir pede ao mais novo que o coloque num dos barcos para morrer no mar. Curiosamente, um dos barcos tem o nome do pai de Kindzu Taímo, o que intriga Muidinga. Decide, então, terminar a leitura do último caderno, enquanto descansam, enquanto o velho espera a maré subir para envolver a canoa em que repousava e, por fim, ser levado pelas águas. “Nas ondas estão escritas mil estórias, dessas de embalar as crianças do inteiro mundo” (COUTO, p. 116).

Por fim, após receber a informação — pela velha tia de Farida — que Gaspar fora levado para outro campo, junto a outras crianças, Kindzu resolve voltar à vila onde combinou com um antigo companheiro, agora recuperando algum lucro no comércio local, de partir no próximo machimbombo, pegar a estrada para encontrar o menino.

Então sonha: nesse sonho revê o irmão Junhito, que virara um galo, com a mãe, com o sacerdote da antiga aldeia, dentre outros conhecidos. Até que, sentindo que a noite ia chegando ao fim, quis acelerar as visões que lhes surgiam, e se viu numa estrada; o coração, aos pulos, avistou um machimbombo queimado, onde, tomado pela fraqueza, desfaleceu:

Deixo cair ali a mala onde trago os cadernos. Uma voz interior me pede para que não pare. É a voz de meu pai que me dá força. Venço o torpor e prossigo ao longo da estrada. Mais adiante segue um miúdo com passo lento. Nas suas mãos estão papéis que me parecem familiares. Me aproximo e, com sobressalto, confirmo: são os meus cadernos. Então, com o peito sufocado, chamo: Gaspar! E o menino estremece como se nascesse por uma segunda vez. De sua mão tombam os cadernos. Movidas por um vento que nascia não do ar, mas do próprio chão, as folhas se espalham pela estrada. Então, as letras, uma por uma, se vão convertendo em grãos de areia e, lentamente, todos meus escritos se vão transformando em páginas de terra. (COUTO, p. 120).

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Termina assim o livro de Mia Couto, e aí nesse ponto as histórias intercaladas revelam o seu ponto de encontro, a razão do seu espelhamento. Tal encontro, contudo, reveste- se da matéria de sonho; afinal os escritos se transformam em terra, e as letras convertem-se em grãos de areia. A presença do fantástico — do que contorna a expectativa de veracidade, e faz aparecer o inusitado – assenta-se nesse encontro, que não por acaso tem lugar no sonho do personagem Kindzu. Assim também, na abertura da obra, em uma das epígrafes, lemos:

Se dizia daquela terra que era sonâmbula. Porque enquanto os homens dormiam, a terra se movia espaços e tempos afora. Quando despertavam, os habitantes olhavam o novo rosto da paisagem e sabiam que, naquela noite, eles tinham sido visitados pela fantasia do sonho. (Crença dos habitantes de Matimati).

Ao entrar em contato com a realidade fantástica presente nas narrações de Kindzu é que Muidinga se afirma indiretamente, enquanto sujeito crítico, que começa a despertar para o ambiente em que se encontra, às mutações da terra, do clima e do espaço; às mudanças da própria realidade e do próprio corpo. Se por um lado Kindzu espelha a realidade de Muidinga, por outro espelham ambos a da própria terra moçambicana, sonâmbula, isto é, quase morta em meio a uma guerra civil absolutamente devastadora, e a refletem. Essa representação traduz-se não somente na presença da tradição africana através do culto à sabedoria dos mais velhos, ao inserir a figura do preceptor de Muidinga, o velho Tuahir, bem como na presença dos contadores de histórias, os sábios, dos cadernos de Kindzu, que na história de África, como conselheiros dos reis, […] conservavam as Constituições dos reinos exclusivamente graças ao trabalho de sua memória (NIANE, 1982, p.6). Ademais histórias e mitos moçambicanos enredam profusamente as narrativas em abismo, definindo inclusive seus desfechos. Em Introdução à literatura fantástica, Todorov afirma: “Há um fenômeno estranho que pode ser explicado de duas maneiras, por tipos de causas naturais e sobrenaturais. A possibilidade de vacilar entre ambas crias o efeito fantástico.” (1981, p. 23).

A presença do fantástico nas narrativas de Mia Couto, e especificamente em Terra Sonâmbula, remete-nos, por outro lado, ao potencial libertário e de resistência presente na literatura. Não por acaso, o realismo mágico na América Latina teve um papel de

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literatura de resistência, nas décadas de 60 e de 70, visando a driblar, e a alegorizar criticamente, a realidade ditatorial. Tanto que, ao final de sua obra sobre o tema, Todorov refere-se ao papel social da literatura fantástica e, citando Peter Penzoldt, escreve: “Para muitos autores, o sobrenatural não era mais que um pretexto para descrever coisas que jamais se atreveram a mencionar em termos realistas”

(PENZOLDT apud TODOROV, 1981, p. 118).

Assim é que os cadernos constituem outra maneira de repensar a dura realidade vivida por Kindzu, que, como tudo indica, foi assassinado durante a guerra. Através de seus escritos, pois continua a existir, como indica o seguinte trecho: “Acendo a estória, me apago em mim (COUTO, 1995, p.17). No que lhe concerne, ao serem lidos por Muidinga e Tuahir, esses relatos propiciam a vivência de outra realidade, que não a da destruição e do caos onde os dois vivem, de um ônibus incendiado cercado de corpos por todos os lados, como se pode evidenciar através do seguinte fragmento: “As estórias dele (Kindzu) faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo”

(COUTO, 1995, p.17).

Na história dentro da história há, portanto, a possibilidade de se recriar a vida apesar da morte, com o que colabora o fantástico que se embute em cada caso relatado, isto é, nas histórias – não unicamente dos personagens centrais – que proliferam em personagens e cenários que esse texto, por uma questão espacial, não deu conta de abarcar. Moçambique, desse modo, é traduzida ficcionalmente uma terra cujos habitantes, por ocasião de uma guerra profundamente desumana, vivem num estado de sonambulismo, isto é, entre o sono e a vigília para fugir à dura realidade.

2.4 A PRESENÇA DA ANCESTRALIDADE

No romance, a ancestralidade é mostrada como um meio de manter a memória da comunidade ao longo dos tempos. Dessa maneira, por meio de rituais de iniciação, os mais velhos ensinam aos mais novos como preservar a cultura e as tradições, como o respeito à natureza e às crenças ancestrais. Simultaneamente, Kindzu e Muidinga representam a renovação da cultura, pois ambos encontram sua identidade de forma particular e única. De modo que, Kindzu descobre o amor e Muidinga encontra sua força para resistir e lutar. Dessa forma, Kindzu e Muidinga são um símbolo de

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transformação, eles representam a renovação da cultura, pois são os portadores de novos valores e de novas formas de se relacionar com a terra e com o outro.

“Aquele grupo de idosos, de repente, me pareceu estar perdido também. Já não eram sábios, mas crianças desorientadas. Mais que ninguém, eles sofriam a visão da terra em agonia. Cada casa destruída tombava em ruínas dentro de seus corações” (COUTO, 2007, p. 30).

Assim, o personagem Kindzu, enquanto visa entender as tradições, também se depara com o conflito entre os idosos, os quais são profundamente afetados pelas destruições causadas pela guerra. Estes conflitos internos, que envolvem o personagem e o processo de compreensão que ele busca, levam a desenvolver um olhar mais crítico para a realidade que o cerca, sendo esta visão é o motor para sua busca de viver em harmonia consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.

Ao final da narrativa Kindzu tem a percepção de que a vida é uma jornada e que para encontrar a felicidade é preciso caminhar e entender a si mesmo, além de aceitar e valorizar o que não pode ser mudado. É nesse momento que ele compreende a grandeza de viver, acreditar e seguir, independentemente de todas as adversidades.

A ancestralidade é um tema recorrente na obra de Mia Couto, pois é uma representação da história de um povo, de suas tradições e crenças. O que está em jogo é a manutenção de vínculos, de um conhecimento e uma memória coletiva que, em sua maioria, são transmitidos oralmente. Além disso, o uso da ancestralidade como tema retrata a cultura africana e a preservação de suas tradições apresentadas como signos simbólicos e culturais. Ainda é possível perceber que a ancestralidade é utilizada como um recurso narrativo para unir as questões sociais e históricas, simultaneamente, em contribuir para a construção de um imaginário coletivo.

“Ao contrário daquilo que os autores da modernidade quiseram fazer crer, as representações não são neutras, mas têm uma relação com o poder: produzem- no, expressam-no e contestam-no” (Chartier, 1999, p. 15).

Portanto, as representações não são apenas o único meio que conhece o real, mas também seus principais agentes na construção de conhecimento, uma vez que representam as lutas e as disputas de um grupo pela manutenção de seus valores e

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interesses, e essa construção contínua de significados é parte essencial da realidade.

Ademais, são fundamentais para a compreensão da realidade, pois são os mecanismos sociais que constroem e reelaboram seu imaginário social.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, percebemos que a história dentro da história possibilita na obra recriar a vida apesar da morte, entretanto, se embute em cada caso relatado, isto é, nas histórias.–

não unicamente dos personagens centrais – que proliferam em personagens e cenários que esse texto, por uma questão espacial, não deu conta de abarcar.

Mia Couto traduziu Moçambique de uma forma ficcional enquanto uma terra onde os habitantes, devido a uma guerra extremamente cruel, vivem num estado de sonambulismo, ou seja, entre o sono e a vigília, para escapar da dura realidade.

A ancestralidade é um tema que volta e meia aparece nas obras de Mia Couto. Ela é uma metáfora da história de um povo, de suas tradições e crenças. O que está em risco é a manutenção de laços, de um saber e de uma memória coletiva que, na maioria das vezes, são transmitidos oralmente. Além disso, o foco na herança retrata a cultura africana e a manutenção de suas tradições, apresentadas como símbolos e elementos culturais. Nessa perspectiva, é possível também que a ancestralidade seja usada como uma técnica narrativa para ligar a história às questões sociais, ao criar um imaginário coletivo. Além da beleza poética presente, que torna a trama mais triste, também é possível notar a linguagem característica daqueles que habitam aquele lugar.

Assim, é possível concluir que a obra Terra Sonâmbula, de Mia Couto é rica em conteúdo, que retrata de forma poética, realista e cotidiana de um lugar como Moçambique. Ademais, o autor consegue destacar as questões históricas e culturais do país, oferecendo ao leitor uma viagem ao passado e ao presente, por meio dos olhos da mise-em-abyme. A partir desta análise da obra, foi possível entender como Mia Couto consegue abordar de forma sutil os fatos históricos e culturais de sua terra, além de destacar o protagonismo da mise-em-abyme na obra, que se tornou o elo entre o passado e presente, tornando a obra muito mais rica em sua literalidade.

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REFERÊNCIAS

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VISENTINI, Paulo Fagundes; RIBEIRO, Luiz Dario Teixeira; PEREIRA, Ana Lúcia Danilevics. História da África e dos africanos. Rio de Janeiro: Vozes, 2014

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atual. SÃO PAULO: Atual, 1994. 99. P

CHAVES, R. A Ilha de Moçambique: entre as palavras e o silêncio Metamorfoses. Revista da Cátedra Jorge de Sena da Faculdade de Letras da UFRJ, v. 1, p. 93 - 101, 2002. ISSN: 0875019X.

CHAVES, Rita; MACÊDO, Tania. (Org.). Marcas da diferença: as literaturas africanas de língua portuguesa. São Paulo: Alameda, 2006.

CHAVES, R.; MACÊDO, Tania. Entrevista com Mia Couto Veredas. Revista da Associação Internacional de Lusitanizas, v. 1, p. 25 - 32, 2006. ISSN:

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Referências

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