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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA BRUNA TEREZINHA BATTISTELLO DE OLIVEIRA A SAÍDA DO REINO UNIDO DA UNIÃO EUROPEIA E SUA INFLUÊNCIA NO MOVIMENTO SEPARATISTA DA ESCÓCIA (2010-2022) Santana do Livramento 2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA

BRUNA TEREZINHA BATTISTELLO DE OLIVEIRA

A SAÍDA DO REINO UNIDO DA UNIÃO EUROPEIA E SUA INFLUÊNCIA NO MOVIMENTO SEPARATISTA DA ESCÓCIA (2010-2022)

Santana do Livramento 2022

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BRUNA TEREZINHA BATTISTELLO DE OLIVEIRA

A SAÍDA DO REINO UNIDO DA UNIÃO EUROPEIA E SUA INFLUÊNCIA NO MOVIMENTO SEPARATISTA DA ESCÓCIA (2010-2022)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pampa, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Pedro Meinero.

Santana do Livramento 2022

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BRUNA TEREZINHA BATTISTELLO DE OLIVEIRA

A SAÍDA DO REINO UNIDO DA UNIÃO EUROPEIA E SUA INFLUÊNCIA NO MOVIMENTO SEPARATISTA DA ESCÓCIA (2010-2022)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pampa, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Relações Internacionais

Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em: 19/01/2023.

Banca examinadora:

______________________________________________________

Prof. Dr. Fernando Pedro Meinero Orientador

UNIPAMPA

______________________________________________________

Prof. Dra. Carmela Marcuzzo do Canto Cavalheiro UNIPAMPA

______________________________________________________

Prof. Dr. Rafael Vitória Schmidt UNIPAMPA

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Dedico este trabalho à minha mãe (in memoriam) e ao meu pai, que foram essenciais em todo o meu processo de aprendizagem.

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AGRADECIMENTO

É difícil colocar em palavras o misto de emoções que sinto ao concluir esta etapa da minha vida. Foram quatro anos de muita aprendizagem, experiências e vivências.

Primeiramente, quero agradecer à Deus, por me abençoar com saúde e determinação, para guiar-me durante a produção deste trabalho.

Esta etapa não seria concluída sem a Universidade Federal do Pampa - Campus Sant’Ana do Livramento, que se tornou a minha segunda casa por este tempo. O pátio torna-se um local de confraternização, onde encontrava todos os meus amigos e conversávamos por horas, como também as salas dos diretórios e atléticas. Estudar em uma universidade federal é estar constantemente lutando e defendendo-a contra cortes e ataques, enquanto mostramos a importância da mesma. Obrigada, UNIPAMPA, pelo seu ensino de qualidade e gratuito, que proporciona que muitos alunos tenham a oportunidade de obter um diploma e principalmente ter uma visão crítica do mundo.

Quero agradecer ao meu orientador, Prof. Dr. Fernando Pedro Meinero, por aceitar me orientar, confiar e pela grande ajuda no processo de construção deste trabalho. Seus conselhos foram valiosos, como também os momentos de trocas. É um professor que tem toda a minha admiração, com grande sabedoria e que levarei como exemplo na minha vida profissional e acadêmica.

Meu pai foi, e sempre será, essencial neste processo. Desde criança sempre me motivou a estudar. Durante a construção da sua monografia, eu, criança, juntava-me a ele, posicionando duas cadeiras e deitando sobre elas, enquanto meu pai ia madrugada à dentro escrevendo.

Agora, no meu processo de TCC, mesmo distantes, meu pai fez-se presente, ajudando-me, dando seus apontamentos e motivando-me a continuar. Todas as vezes que eu me sentia perdida, ele pegava minha mão e guiava-me para o caminho certo. Este trabalho é dedicado para ele, que fez do possível e impossível para me manter e que sempre acreditou no meu potencial. Meu pai, meu companheiro, meu melhor amigo e meu “pakanazinho”. Sou eternamente grata e serei para sempre sua fã número um, obrigada por me ensinar tanto todos os dias.

Minha mãezinha, de qualquer plano espiritual que esteja, este TCC é para você, que sempre me auxiliou nos estudos; sentava-se comigo e ajudava-me nas atividades escolares até o seu último dia de vida. Por mais que tenhamos compartilhado apenas uma década juntas, seus conselhos para sempre estarão gravados em meu peito. Muito obrigada por ser a maior incentivadora dos meus estudos e por me ensinar tanto sobre força, garra, feminismo e por

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ultrapassar as adversidades sempre com um sorriso no rosto. Suas gargalhadas ainda ecoam dentro de mim e são minha maior motivação para viver. Ser sua filha foi uma honra e qualquer um que tenha convivido com você foi um sortudo!

Agradeço à minha amiga de infância, Carol, pela nossa amizade e por acompanhar minhas vitórias e me ajudar nas dificuldades. Temos histórias para uma vida inteira e com certeza criaremos muitas mais! Agradeço também aos meus amigos de Alegrete, Victor e Sofia, pelo nosso convívio e amizade, fruto do SENAC. Nossos panchos com uma coca bem gelada e risadas estão para sempre guardados dentro de mim. Também sou grata pelas minhas amigas Rayssa e Nath, que mesmo com a distância foram essenciais na minha vida.

Este processo não foi fácil, mas se eu não tivesse os meus amigos comigo, seria muito mais difícil. Quando se mora longe da família, nossos amigos ocupam esse posto e graças a eles, a vivência em Sant’Ana do Livramento, quando a saudade apertava, era mais tranquila. Cassiano e Teodora, obrigada por me fazer sentir tão acolhida! Nossos kikikis no pátio geravam muitas risadas! Vou sentir muitas saudades de vocês. Antônio e Esther, obrigada por nossos comes e bebes, cheios de fofocas, risadas e descontração; vocês fizeram com que meus dias tornassem mais leves e calmos. Agradeço o Rodolfo, meu amigo político, por tantas risadas, conselhos e camaradagem; você tem um futuro lindo pela frente. Todos foram essenciais demais para mim e cada um tem um lugar muito especial no meu coração.

A UNIPAMPA torna-se única pelos seus incríveis projetos de extensão que tive a honra de participar. Graças a eles, nós alunos temos a oportunidade de aperfeiçoar nossas skills para o mercado de trabalho. Agradeço a oportunidade de trabalhar como Diretora de Marketing para a Associação Atlética Desportiva Unipampa Livramento, a atlética que representa o campus.

Agradeço ao Prof. Dr. Rafael Balardim, que me proporcionou a oportunidade de assumi r a diretoria do Projeto Pampeano, um cursinho gratuito preparatório para o ENEM, voltado para a comunidade de Sant’Ana do Livramento. O projeto Pampeno é de suma importância e auxilia muitos alunos do ensino médio e adultos a adentrarem à faculdade. Agradeço à Prof. Dra.

Nathaly Schutz, pela oportunidade de trabalhar como Apoio ao Marketing no PAMPASUL, o projeto do Curso de Relações Internacionais de simulações, que nos auxiliam em adotar uma postura crítica e de soluções de problemas. Agradeço ao professor Renatho Costa e Kamilla Rizzi pelas aulas impecáveis, ricas e que instigavam a nossa vontade de aprender mais.

Obrigada por sempre nos incentivarem a estudar. Por suma, agradeço todos os professores que impactaram na nossa vida e que, mesmo diante de tantas diversidades, nos deram a melhor educação e conhecimento.

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Agradeço aqueles que são responsáveis por fazerem a UNIPAMPA funcionar: os porteiros, seguranças, pessoal da limpeza e de reparos. Obrigada por me receberem tão bem, pelos seus sorrisos calorosos e por fazerem a UNIPAMPA ser o que ela é hoje. Me lembrarei sempre de vocês.

Por fim, agradeço a todos os meus familiares e amigos que fizeram parte deste processo e por acreditarem em mim, como também auxiliarem-me nas dificuldades.

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“Adoro o meu reflexo, mas não me engane, moça, amo mais a Escócia, e daria tudo… Tudo o que tenho ou tudo o que vou ter, incluindo minha vida, para ver um Stuart de volta ao trono.”

Dougal MacKenzie

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar como a saída do Reino Unido da União Europeia criou condições para o fortalecimento do movimento separatista da Escócia, durante o período de 2010 até 2022. Fomentada pelo anseio de tornar-se independente pelo partido Scottish National Party, a Escócia passou por um referendo em 2014, questionando a população escocesa se a nação deveria ser independente ou não. Todavia, a porcentagem foi de que deveria continuar sendo parte do Reino Unido, principalmente por causa da União Europeia; bloco que beneficiava a Escócia economicamente. Em 2016, ocorreu o referendo questionando o Reino Unido deveria continuar ou não sendo membro da União Europeia, dando como resultado o desejo da população em sair. Com a saída do Reino Unido da União Europeia oficialmente em 2020, o movimento separatista da Escócia começou a tomar força. O trabalho utiliza-se do princípio de autodeterminação dos povos, do Direito Internacional, para fomentar o direito que a nação escocesa deve ter para garantir a sua democracia e o direito de escolha, para se autogovernar. Mostra-se que a saída do Reino Unido da União Europeia criou condições para o fortalecimento do movimento separatista escocês por meio da possibilidade de criação de um novo referendo, para que a população decida se quer continuar sendo parte ou não do país.

Apesar das tentativas de fazer acontecer, o Reino Unido atua como um obstáculo para que o referendo aconteça novamente. A pesquisa foi feita por meio do método qualitativo, buscando analisar um fenômeno ocorrido durante o período determinado, hipotético-dedutivo, buscando testar a hipótese levantada e tendo como nível de pesquisa uma investigação histórica, colhetando informações ocorridas no passado para uma maior compreensão no presente.

Palavras-Chave: Movimento Separatista; princípio de autodeterminação dos povos; Escócia;

Reino Unido; Brexit.

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ABSTRACT

The present work aims to analyze how the departure of the United Kingdom from the European Union created conditions for the strengthening of the separatist movement in Scotland, during the period from 2010 to 2022. Fostered by the desire to become independent by the Scottish National Party, Scotland went through a referendum in 2014, questioning the Scottish people whether the nation should be independent or not. However, the percentage was that they should remain part of the UK, mainly because of the European Union; bloc that benefited the Scottish economy. In 2016, there was a referendum questioning whether or not the United Kingdom should continue to be a member of the European Union, resulting in the desire of the population to leave. With the UK leaving the European Union officially in 2020, the separatist movement in Scotland began to gain strength. The work uses the principle of self-determination of peoples, of International Law, to promote the right that the Scottish nation must have to guarantee its democracy and the right to choose, to self-govern. It is shown that the departure of the United Kingdom from the European Union created conditions for the strengthening of the Scottish separatist movement through the possibility of creating a new referendum, for the population to decide whether or not it wants to remain part of the country. Despite attempts to make it happen, the United Kingdom acts as an obstacle for the referent to occur again. The research was carried out using the qualitative method, seeking to analyze a phenomenon that occurred during the given period, hypothetical-deductive, seeking to test the proposed hypothesis and having as a research level a historical investigation, collecting information that occurred in the past for a greater understanding in the present.

Keywords: Separatist Movement; principle of self-determination; Scotland; United Kingdom;

Brexit.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – It’s Scotland’s Oil ...

49

Figura 2 – It’s Scotland’s Oil ...

49

Figura 3 – It’s Scotland’s Oil ...

50

Figura 4 – Campanha Yes Scotland ... 60

Figura 5 – Campanha Yes Scotland ... 60

Figura 6 – Campanha Yes Scotland ... 61

Figura 7 – Campanha Better Together ... 63

Figura 8 – Campanha Betther Together ... 64

Figura 9 – Campanha Better Together ... 64

Figura 10 - O suporte total das duas campanhas ‘Yes Scotland’ e ‘Better Together’ de agosto de 2013 até setembro de 2014, no Facebook e Twitter ... 66

Figura 11 - Pesquisa de campo ‘A Escócia deveria ser um país independente?’ ... 67

Figura 12 - ‘A Escócia deve ser um país independente?’ ... 67

Figura 13 - Votos por regiões do Referendo da saída do Reino Unido na União Europeia ... 85

Figura 14 - Twitter da Nicole Sturgeon fazendo campanha para parar o Brexit ... 89

Figura 15 – Twitter da Nicola Sturgeon fazendo campanha para parar o Brexit... 90

Figura 16 - Tweet da Primeira-Ministra da Escócia, fortalecendo o movimento separatista da Escócia devido ao Brexit ... 90

Figura 17 - Tweet da primeira-ministra da Escócia após a oficialização da saída do Reino Unido da União Europeia ... 93

Figura 18 - Pesquisa de campo sobre a independência da Escócia em 2021 ... 94

Figura 19 – Pesquisa de campo sobre a independência da Escócia em 2021 ... 96

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Perguntas e número de respostas da construção do referendo “Your Scotland, Your referendum” ... 54

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LISTA DE SIGLAS

CECA – Comunidade Europeia de Carvão e Aço CEE – Comunidade Econômica Europeia

CEEA – Comunidade Europeia de Energia Atômica EFTA – European Free Trade Association

SNP – Scottish National Party UE – União Europeia

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 17

2 DIREITO INTERNACIONAL E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: O CONCEITO DE ESTADO E O PRINCÍPIO DE AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS APLICADO AO CASO DA ESCÓCIA ... 22

2.1 Direito Internacional e Relações Internacionais ... 22

2.2 A criação dos Estados Soberanos ... 25

2.3 O princípio de autodeterminação dos povos ... 30

2.3.1 Aplicação do princípio de autodeterminação dos povos aplicado ao caso da Escócia ... 36

3 O MOVIMENTO SEPARATISTA DA ESCÓCIA ... 39

3.1 Nação, Nacionalismo e Separatismo ... 39

3.2 Movimentos separatistas europeus ... 45

3.3 Movimento separatista Escocês e a criação do Scottish National Party ... 47

3.4 A formulação do plebiscito à independência e a votação da população escocesa .. 52

3.4.1 O processo de construção de propostas para a formulação do referendo da independência da Escócia: “Your Scotland, Your Referendum” de 2012 e as campanhas “Better Together” e “Yes Scotland” ... 52

3.4.2 O referendo de independência da Escócia e a votação de 2014 ... 65

4 UNIÃO EUROPEIA: A ENTRADA E SAÍDA DO REINO UNIDO E SUA IMPORTANCIA PARA O FORTALECIMENTO DO MOVIMENTO SEPARATISTA DA ESCÓCIA ... 70

4.1 A criação da União Europeia e o processo da entrada do Reino Unido no bloco (1973) ... 70

4.1.1 A postura da Escócia mediante à adesão da União Europeia ... 77

4.2 Brexit: O processo da saída do Reino Unido da União Europeia ... 81

4.2.1 Antecedentes ao Brexit ... 82

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4.2.2 O referendo da saída do Reino Unido da União Europeia ... 84

4.2.3 A oposição da Escócia pelo Brexit ... 87

4.3 O fortalecimento do movimento separatista da Escócia ... 94

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 103

REFERÊNCIAS... 107

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1 INTRODUÇÃO

A Guerra de 30 anos deu por consequência a Paz de Vestfália, que foi responsável por selar a paz, como também ganhos políticos e territoriais para os países da Europa. É possível perceber que por meio do Tratado de Vestfália, como aponta Chagas (2018), a Europa foi construída por meio de remendos, anexações, tornando-se um continente com muitas nações e poucos Estados. Não é surpreendente ver que no continente, após dados levantados pelo European Free Alliance, Aliança Livre Europeia, existem mais de 40 movimentos nacionalistas e/ou separatistas, sendo os mais conhecidos os de bascos, flamengos, escoceses, russos na Ucrânia e dos catalães. Estas nações buscam poder se autogovernar, por não acreditar que suas necessidades são atendidas, enquanto pertencentes a outro país. Muitas vezes eles estão conectados por meio de Atos de Uniões, como o caso da Escócia, objeto de estudo deste trabalho.

O ano de 1707 ficou marcado para o território escocês como o ano que perderia a sua capacidade de se autogovernar e se tornaria subordinado ao Reino Unido. O Ato foi assinado após duas tentativas da Escócia de independência, sendo elas as duas Guerras de Independência, a primeira correndo durante o período de 1296-1328 e a segunda durante 1332-1357. Todavia, estas guerras não sucederam, dando início ao período de negociações entre Escócia e Reino Unido. A assinatura do Ato de União de 1707, como aponta Maertens (1997), representou uma falha na tentativa da nação escocesa de se expandir. Adriano (2014) complementa, destacando que esta união, na época, representou para o Reino Unido uma oportunidade de ter um maior sistema de defesa e, para a Escócia, uma segurança econômica; apesar de não ser o que os escoceses almejavam, essa união trouxe um aumento para a sua economia e, no século XIX, trouxe um grande avanço econômico, devido ao mercado único.

A existência da Escócia como um estado independente acabou em 1707, quando o seu parlamento escocês entrou no tratado de União com a Inglaterra. Seu parlamentarismo lamentou no dia em que o Tratado foi votado, apontando que aquele seria o “último dia da Escócia sendo a Escócia”. Mas a Escócia “entrou no Reino Unido com uma trajetória institucional distinta” e seguindo a união manteve uma robusta sociedade civil, incluindo seu próprio sistema legal e sistema de educação, como também seu próprio sistema de bem-estar e uma igreja estabilizada (presbiteriano) (CONNOLLY, 2013, p. 60).

Todavia, é importante destacar que após cem anos da assinatura do Ato de União, por volta do ano de 1850, o movimento separatista começou a nascer na nação. O início do movimento eclodiu devido à descoberta da exploração de gás natural e petróleo em seu território

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(BBC, 2014). Sendo assim, mostra-se que desde muito cedo a Escócia tinha a ambição de voltar a ser uma nação independente e se separar do Reino Unido.

Ao longo dos anos, a Escócia impulsionava seu movimento separatista e teve avanços, como o sucesso da criação do Scottish National Party (SNP) em 1934, que tinha sido fundado principalmente em consequência da insatisfação que o povo escocês detinha com o governo britânico (CORRÊA, 2017). Essa insatisfação continuou fortemente quando o Reino Unido ingressou na Comunidade Europeia. É importante destacar que a entrada do Reino Unido na União Europeia foi complicada, principalmente pelo fato de Charles de Gaulle, presidente da França na época, não querer que os britânicos fizessem parte da Comunidade Europeia, por acreditar que as relações Londres-Washington eram amis fortes do que com a Europa Continental. Já a Escócia foi contra a entrada por acreditar que sua soberania estaria ameaçada, porém, sua opinião foi mudada quando passaram a acreditar que a União Europeia (UE) traria forças para o seu movimento separatista, pois contaria com o apoio dos outros países que fazem parte da União Europeia (JERVE, 2015). Ao acreditar nesta oportunidade e perceber que o bloco proporcionava muitos instrumentos que ajudaram o país economicamente, quando ocorreu a votação em 2016 sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, 62% dos escoceses foram contra (EL PAÍS, 2016). Apesar disto, o Reino Unido saiu do bloco econômico e político, fazendo com que as relações entre Escócia e Reino Unido ficassem mais uma vez fragilizadas.

A partir disto, o trabalho busca responder a seguinte problemática: “Como a saída do Reino Unido da União Europeia criou condições para o fortalecimento do movimento separatista da Escócia?” Partindo da hipótese de que a saída do Reino Unido da União Europeia criou um ambiente que possibilitou um maior fortalecimento do movimento separatista da Escócia e a possibilidade da criação de um novo plebiscito, devido à posição contrária da nação perante a saída do país da UE e as discordâncias fortes que a nação tem com o Reino Unido.

Pode-se perceber que a Escócia vê essa saída como mais uma oportunidade de tornar -se independente, buscando organizar mais um plebiscito e, principalmente, a aceitação do povo escocês no movimento separatista.

O trabalho terá como recorte temporal o período de 2010 até 2022, visto que o período de 2010 foi marcado pelo início do processo de criação do referendo de independência da Escócia, que entrou em votação em 2014. Desde então, o movimento separatista foi criando força, principalmente após o Brexit, denominado como o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, que ocorreu oficialmente no ano de 2020. O Brexit foi o estopim para o povo escocês, que viu que suas vontades não estavam sendo atendidas e respeitadas, sendo assim, a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, também presidente do partido Scottish National

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Party, começou a fomentar a criação de um mais plebiscito de independência da Escócia, para o ano de 2023. O ano de 2022 foi escolhido como o período final do recorte temporal devido ao fato de que, em 2022, Nicola Sturgeon deu início à tentativa de realizar um novo plebiscito.

Buscando responder a problemática e testar a hipótese, o trabalho tem como objetivo geral analisar como a saída do Reino Unido da União Europeia criou condições para o fortalecimento do movimento separatista da Escócia e, como específico, i) apontar as tentativas separatistas da Escócia, ii) especificar os impasses da separação da Escócia e, iii) pontuar como a saída do Reino Unido da União Europeia criou condições para o fortalecimento do movimento separatista escocês.

O trabalho surge da justificativa de que esta temática tem uma grande relevância para o cenário internacional e debate acadêmico, visto que se trata de um caso que pode trazer consequências para a Escócia, pois é extremamente subordinada ao Reino Unido, tanto no âmbito comercial, como no político e social. Na questão comercial, os britânicos são os responsáveis por receber 60% dos produtos da Escócia, enquanto no político e social, os escoceses dependem das fronteiras abertas e das relações que ele possui com os países à sua volta (ANDRINO, 2014). Isto representou um fator decisório quando ocorreu às tentativas de separação, a formulação de uma legislação para o novo referendo e a votação, onde a população escocesa frisou que a separação traria perdas econômicas para a nação e por isso votou contra a separação em 2014.

A União Europeia é o principal bloco de integração econômica atualmente, com um padrão de organização e dinâmicas econômicas e comerciais altíssimas. Devido à importância dela, torna-se imprescindível analisar as atitudes e ideologias da Escócia perante a saída do Reino Unido e, principalmente, discursos, onde, ao propagarem o movimento separatista, Nicola Ferguson Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, declarou a pretensão de voltar à União Europeia, porém como nação independente.

Ademais, com o processo de formação de um novo referendo, mostra-se que a Escócia passará por mais uma votação, sendo essa a que possui mais chances de trazer o resultado que o governo escocês mais quer: a aceitação de fato do povo escocês de se separar do Reino Unido.

Se positivo, a saída do Reino Unido da União Europeia representará um grande fator dominante para o resultado, visto que trouxe grande revolta para os escoceses. Portanto, com a possível separação, torna-se importante estudar o processo do movimento separatista da Escócia, os entraves que foram impostos e a possível separação, sendo de extrema importância, visto que pode acarretar em grandes mudanças no sistema internacional.

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O presente trabalho terá como referencial teórico a teoria de autodeterminação dos povos, um princípio do direito internacional que, de acordo com Collins (1980), vem sendo cogitado dentro da comunidade internacional, sendo utilizado como uma última alternativa das pessoas oprimidas em buscar controlar o seu próprio destino. Também, Tosati (2012) aponta que o princípio de autodeterminação dos povos tem como sua tradução “o direito que um certo povo e nação tem de se autogovernar, tanto por meio da independência, como também pelo fato de ter uma maior autonomia dentro do território que está localizado”, sendo assim, torna-se importante a utilização desta teoria para a análise do caso da Escócia, visto que a Escócia possui sua própria língua, cultura, tradições e busca alcançar o seu objetivo de uma autonomia total, elaborando suas próprias leis e de se autogovernar.

O presente trabalho terá como metodologia o método qualitativo que, como apontado por Creswell (2014), tenta entender um fenômeno em seu contexto natural e que pressupõe que o fenômeno é mais importante que sua qualificação. A pesquisa qualitativa é destinada a buscar analisar um fenômeno ou contexto durante o período que a pesquisa foi determinada. A pesquisa também terá como método hipotético-dedutivo, que busca testar a hipótese levantada e, basicamente, irá

Tentar explicar a dificuldade expressa no problema, são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa tentar tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. (GIL, 2008, p. 12)

Sendo assim, o trabalho irá testar a hipótese de que a saída do Reino Unido da União Europeia criou um ambiente que possibilitou um maior fortalecimento do movimento separatista da Escócia, devido à posição contrária da nação perante a saída do país da UE e as discordâncias fortes que a nação tem com o Reino Unido. Sobre o nível de pesquisa, será utilizado uma investigação histórica, no qual buscará informações ocorridas no passado e as utilizará para uma maior compreensão e entendimento dos eventos ocorridos no presente.

Buscando testar a hipótese, este trabalho está dividido em 3 capítulos de desenvolvimento, sendo eles: primeiro, “Direito Internacional e Relações Internacionais: o conceito de estado e o princípio de autodeterminação dos povos aplicado ao caso da Escócia”, segundo, “O movimento separatista da Escócia” e, por último, “União Europeia: a entrada e saída do Reino Unido e sua importância para o fortalecimento do movimento separatista da Escócia”.

O primeiro capítulo de desenvolvimento terá como objetivo pontuar o Direito Internacional e a importância do mesmo para as Relações Internacionais, conceituar o Estado e

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o que o constitui, como sua soberania e, também explicar o princípio de autodeterminação dos povos e como ele pode ser relacionado ao movimento separatista da Escócia. O segundo, irá tratar o conceito de nação, nacionalismo e movimento separatista, principalmente na Europa, para, depois, fazer um estudo de caso sobre o movimento separatista da Escócia, trazendo em destaque o surgimento do Scottish National Party (SNP), conhecido como Partido Nacional Escocês, que tem como o seu objetivo a separação da Escócia, do Reino Unido. Também tratará da primeira tentativa de separação, o plebiscito realizado em 2014, trazendo a construção do mesmo as campanhas feitas durante o período de votação, sendo elas Yes Scotland “Sim, Escócia” e Better Together, “Melhor Juntos”. Será tratado também o resultado da votação e o que isso representou para o governo escocês.

O último será pontuado o contexto pelo qual a União Europeia foi criada, depois a adesão do Reino Unido ao bloco e a saída do mesmo. Durante estes dois momentos será feita uma análise de como a Escócia reagiu perante os momentos. Depois, para concluir, será tratado do fortalecimento do movimento separatista da Escócia, analisando os conceitos apresentados ao longo do trabalho.

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2 DIREITO INTERNACIONAL E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: O CONCEITO DE ESTADO E O PRINCÍPIO DE AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS APLICADO AO CASO DA ESCÓCIA

Para compreender o princípio de autodeterminação, que guiará este trabalho, é necessário, primeiramente, pontuar o Direito Internacional e a sua importância para as Relações Internacionais. Depois, iremos conceituar o Estado, como também a sua soberania e, finalmente, chegar na conceituação do princípio de autodeterminação dos povos e como ele pode ser ligado ao caso do movimento separatista da Escócia.

2.1 DIREITO INTERNACIONAL E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

De acordo com Accioly, Silva e Casella (2012), o direito pode ser considerado a partir de distintas facetas, visando organizar o seu estudo. A partir disto, há uma diferença entre o direito interno e o direito internacional, no qual:

O direito interno trataria de reger as relações jurídicas no interior do sistema jurídico nacional e o direito internacional trataria das relações internacionais entre os diferentes sistemas nacionais, enfatizando o estado, as organizações internacionais e os demais atores internacionais (direito internacional público) ou a relação entre particulares, revestidas de elementos de estraneidade (direito internacional privado) (Accioly, Silva e Casella, 2012, p. 35).

Como aponta Accioly, Silva e Casella (2012), a definição do Direito Internacional varia com a fundamentação teórica, como também por seu fundamento, fontes e evolução histórica.

Para Politis (1927), o Direito Internacional é “o conjunto de regras que governam as relações dos homens pertencentes aos vários grupos nacionais”. A partir disto, Accioly, Silva e Casella (2012) definem o Direito Internacional como:

O conjunto de normas jurídicas que rege a comunidade internacional, determina direitos e obrigações dos sujeitos, especialmente nas relações mútuas dos estados e, subsidiariamente, das demais pessoas internacionais, como determinadas organizações bem como dos indivíduos (Accioly, Silva e Casella, 2012, p. 38).

O Direito Internacional, que foi desenvolvido a partir das relações dos impérios persas e romanos, é o que, dentro do ramo jurídico, tem se evoluído cada vez mais, influenciando todos os aspectos da vida humana. Como aponta Trindade (2002), “o direito internacional, ao longo dos anos, tem se transformado sob o impacto dos ideais, e o reconhecimento de que não depende da vontade dos estados: se fosse produto exclusivo de tal vontade, não poderia obrigá-los e se obriga, não é mero produto de sua vontade”.

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Como prova de sua evolução, até o início do século XX o Direito Internacional era bidimensional, ou seja, ele apenas tinha regimento sobre a terra e o mar e, com Santos Dumont, começa a ser tridimensional, alcançando o céu e, após a Segunda Guerra Mundial, começou a embarcar o espaço ultraterrestre e os fundos marinhos. Para Trindade (2002), outro fato que marca a evolução do Direito Internacional no século XX, é o fato de que “o direito internacional se soltou das amarras do positivismo voluntarista, o que bloqueia a sua evolução e buscou a realização de valores comuns superiores, premido pelas necessidades da comunidade internacional”.

Partindo destes princípios de definição do Direito Internacional, se faz necessário ligá- lo às Relações Internacionais. Junior (2020) aponta que, ao considerar a história das rel ações internacionais, mostra que Direito Internacional e Relações Internacionais possuem um objeto que os liga: o poder. Nas Relações Internacionais, como aponta Nye em seu livro “Soft Power:

The Means to Success in World Politics (2004)”, o poder é ligado à coerção, podendo ser a forma de impor sua vontade sobre outra pessoa, através do hard power e soft power. O hard power ocorre pelo uso da força, dominação e guerras, agindo de uma forma mais dura, enquanto o soft power pode ser a dominação de forma mais leve, por meio de cultura ou influência. Já o Direito Internacional, de acordo com Junior (2020), atua como uma restrição ao poder, materializada por meio de normas, regras e princípios, que “são utilizadas, ainda que sob a forma de um ideal de justiça, como balizas para o exercício do poder”.

Junior (2020) faz uma análise mais ampla da correlação entre Direito Internacional e Relações Internacionais, trazendo como o Direito Internacional se comporta em cada uma das teorias. Começando com o Liberalismo, que tem Kant como seu ator principal, que traz essa teoria em seu livro “À paz perpétua (1795)”. O liberalismo tem como seus pilares o livre comércio, no qual acredita que as relações de comércio levariam uma interdependência entre os países; também as instituições, no qual as instituições internacionais atuariam para manter a paz entre os países e, por último; a democracia, no qual acredita-se em estados democráticos são mais pacifistas. Sendo assim, a partir deste pensamento, Júnior (2020) aponta que o Direito Internacional seria mais um requisito para cumprir a paz perpétua entre os povos, como também busca promover o bem comum de todas as coletividades e agir como uma medida de regras legais.

Já no realismo, que conta com Carr sendo seu pioneiro, que desenvolveu a teoria em seu livro “20 anos de Crise (1939)”, tem em seus pilares a centralidade do Estado, sendo o Estado o ator central nas relações internacionais; a sobrevivência, no qual o Estado tem como seu objetivo a sua sobrevivência e a sua permanência como ator e, por último; a autoajuda, na

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qual, no sistema anárquico, os Estados devem usar de todos os meios para garantir a sua sobrevivência e podem apenas confiar em si mesmos. É separado por três correntes, sendo elas o realismo clássico, moderno e estrutural.

O clássico, apontado por Carr em seu livro, crítica a “harmonia de interesses” que os liberais defendem, além de também desconsideram o poder como um fator determinante, considerando a defesa dos interesses nacionais como qual. Já o realismo moderno de Morgenthau, explicado em seu livro “A Política entre as Nações (2003)”, considera que o objetivo principal dos Estados é o poder, como também a política é governada por leis objetivas que refletem a natureza do homem, sendo uma esfera autônoma da nação.

Já o estrutural, sendo Kenneth Waltz seu criador, com o livro “Theory of International Politics (1979)” tem seu enfoque maior no desenvolvimento de leis sobre as relações internacionais e busca entender o caráter e estrutura do sistema internacional. Além disso, acredita que a cooperação internacional é muito difícil, como também que as instituições internacionais não são capazes de auxiliar na cooperação e na diminuição de guerras. Partido da visão desta teoria, Junior (2020) aponta que o próprio Estado constitui força moral, já que ele garante a existência de comunidade política e ética doméstica, sendo assim, os Estados não possui obrigações morais ou legais para respeitarem o direito internacional, todavia, possui a obrigação moral de preservar a sua segurança, mesmo que resulte em normas legais internacionais.

Partindo para o institucionalismo que, em conjunto com Joseph Nye, Robert Keohane buscou analisar os múltiplos atores da economia para as Relações Internacionais. Critica o realismo, falando que, de acordo com Adriano (2012) “o Estado não é o Estado, e sim um conjunto de atores com interesses próprios que cooperavam ou disputavam para manobrar a máquina estatal de acordo com a política externa que consideravam conveniente aos seus objetivos.” Com o livro “Power and Interdependence: World Politics in Transition (1977)”, Keohane e Nye exploraram o transnacionalismo e como os Estados são sensíveis e vulneráveis.

A partir desse livro, os autores introduziram o conceito de “política mundial”, no qual os atores sub estatais, como empresas, criaram um mundo que não possui fronteiras e fizeram com que o Estado tivesse sua importância diminuída (KEOHANE; NYE, 2011). Basicamente a interdependência tenta fazer uma ligação de economia para Relações Internacionais, que busca colaborar na explicação do comércio e da economia política internacional. Essa teoria faz uso de regimes, no qual atua como:

Um conjunto de normas e regras formais ou informais que permitem a convergência de expectativas ou a padronização do comportamento de seus participantes em uma

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determinada área de interesses com o objetivo de resolver problemas de coordenação que tenderiam a resultados não pareto-eficientes (Carvalho, 2010).

Além disso, diferente do realismo estrutural, acredita que os Estados cooperam entre si, visando a diminuição dos custos de transação e isso produz resultados positivos recíprocos.

Sendo assim, Junior (2020) aponta que o Direito Internacional nessa teoria é importantíssimo, pois é utilizado como um instrumento de governança, já que as instituições dependem de normas legais, fazendo com que tenha uma relação profunda entre o Direito Internacional e as relações internacionais.

Por último, há o construtivismo. O construtivismo, de acordo com Adler (2010) “é a perspectiva segundo o modo pelo qual o mundo material forma, do que ele é formado, e que a ação e interação humana depende de interpretações normativas e epistêmicas dinâmicas do mundo material”. Mostra que, mesmo com a existência das instituições que visam o entendimento coletivo, elas “são estruturas reificadas que foram um dia consideradas ex nihilo pela consciência humana; e que esses entendimentos foram subsequentemente difundidos e consolidados até que fossem tidos como inevitáveis” (Adler, 2010). Destaca que não há neutralidade no discurso político, nem nas instituições e na criação de normas legais. Junior (2020) aponta que nessa teoria, o Direito Internacional é importante na questão da linguagem jurídica nos aspectos das relações internacionais, visto que as medidas políticas e econômicas mais relevantes são adotadas pelos autores por meio da linguagem legal. Sendo assim, como aponta o autor, “o direito internacional, é a forma mais importante para justificar e criar legitimidade aos atos internacionais”.

Percebemos então nesse tópico que o Direito Internacional e Relações Internacionais estão correlatados, principalmente quando trazemos as teorias fundamentais dentro do campo das Relações Internacionais. Dentro do liberalismo, percebemos que o Direito Internacional atua como mais um requisito para cumprir a paz perpetua e, no realismo, atua buscando preservar a segurança dos Estados. No institucionalíssimo, percebemos que é utilizado como um instrumento de governança e no construtivismo tem como atuação na questão da linguagem jurídica. No próximo tópico, apontaremos a criação dos estados soberanos dentro do Direto Internacional.

2.2 A CRIAÇÃO DOS ESTADOS SOBERANOS

De acordo com Portela (2013), o surgimento dos Estados deu-se a partir de acontecimentos históricos, sendo eles conflitos armados, de movimentos de independência ou

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de unificação nacional, da divisão de estados maiores, negociações políticas, voto popular e entre outros. Além disso, o Direito Internacional pode influenciar o surgimento de um Estado, como por exemplo através do princípio de autodeterminação dos povos, que contribuiu para a descolonização da África e da Ásia na segunda metade do século XX (PORTELA, 2013, p.

183). O princípio de autodeterminação dos povos também se fez presente na questão do Saara Ocidental, como aponta Accioly, Silva e Casella (2012), no qual a Corte Internacional de Justiça foi a favor da descolonização do território e da aplicação do princípio de autodeterminação dos povos.

Sobre o caso da África, a Conferência de Berlim, realizada entre 15 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885, foi responsável pela repartição do territór io da África, a aprovação da navegação de forma livre no rio Níger e Benue e a elaboração de normas para a ocupação territorial por parte dos europeus (Uzoigwe, 2010, p. 33). O processo de descolonização começou na década de 30, entretanto, apenas em 1950 a África começou a formar seus partidos políticos, como também movimentos e luta contra o domínio europeu em seu território. Percebe-se que neste período os novos Estados começaram a existir devido ao processo de descolonização, ao mesmo tempo que um princípio do Direito Internacional começava a ganhar importância: uti possidetis iuris, no qual diz que “os que de fato ocupam um território possuem direito sobre este” (GONÇALVES, 2017, p.45).

A partir da década de 60, foi verificado que este princípio tinha sido incorporado no ordenamento jurídico visando viabilizar “a descolonização do território africano e proporcionar a efetividade do princípio da autodeterminação no seio da comunidade internacional”

(GONÇALVES, 2017, p.45). Diante disto, os pedidos e clamores dos africanos pela autodeterminação foram atendidos pela Organização das Nações Unidas, que através de resoluções, teve o reconhecimento e foi proclamado o princípio da autodeterminação dos povos.

Já a colonização na Ásia:

Ocorreu de maneira mais amena, tendo em vista que os europeus dividiram certos países por áreas de influência, muitos deles sob a forma de protetorados. Excetuando o traumático caso da dominação francesa, na região da Indochina, a conquista da Ásia mostrou-se menos incisiva que a africana, não necessitando, em seu processo de descolonização, invocar de forma veemente o direito de os povos se auto determinarem (ARY, 2019, p. 12)

Outra forma na qual pode surgir um novo estado, é por meio de separação no seu território, podendo ser por meio de desmembramento ou de cessão. O desmembramento, como aponta Portela (2013), acontece por meio da descolonização, entre os entes estatais que eram colônias e a cessão, como explica Accioly, Silva e Casella (2012), ocorre por meio de uma

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transferência da soberania de um estado para outro, podendo ceder parte de seu território ou até a sua totalidade. Também há a possibilidade de formar um novo estado por meio da ocupação de território, basicamente é a apropriação de um território que não pertence a nenhum outro estado (ACCIOLY; SILVA; CASELLA, 2012, p. 565)

Ademais, pode ocorrer por meio de conquistas militares de áreas que pertencem a outros estados, na qual, com a vedação, nas relações internacionais, do uso da força, da guerra de conquista e de ações militares, pode haver a cessão de uma parcela da área geográfica de um estado a outro (PORTELA, 2013, p. 197). Além disso, o território pode ser obtido por adjudicação, ou seja, como explica o autor, pode ocorrer por meio de uma decisão tomada por mecanismo internacional de solução de controvérsias, como também a partir de decisão de organização internacional. Outra forma é a partir de Atos de Unificação, como ocorrido com a Escócia em 1707, no qual foi unificado os reinos da Inglaterra e da Escócia em um estado Unitário e também em 1800, que uniu o Reino da Irlanda com o Reino da Grã-Bretanha, criando assim o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda (ANDRINO, 2014, p. 36).

Ao analisar o processo de criação de um estado, agora se faz necessário conceituar o que é um Estado. Há uma diferença entre estado e Estado; estado é as unidades de divisão do território de um país e Estado refere-se a um país soberano, que tem a sua própria estrutura e tem a sua política organizada, além de que possui um conjunto de instituições que controlam o Estado. Para um Estado ser considerado um Estado, é preciso, primeiro, trazer uma conceituação de alguns autores para chegarmos na nossa conclusão.

Para Max Weber, sociólogo, jurista e economista alemão, a partir do conceito da sociologia, um Estado é aquele com um monopólio do uso legítimo da força, ou seja, dentro do seu limite territorial, nenhum outro grupo tem o poder de fazer o uso da força em seu território.

De acordo com Martinez (2013), Estado é aquele que tem um povo em um determinado território, podendo ter um governo democrático ou autocrático. Há também o Direito Internacional, no qual os requisitos são elencados no artigo 1º da Convenção de Montevidéu, em 1933, sobre Direitos e Deveres dos Estados:

Art. 1º O Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir os seguintes requisitos:

I – População permanente;

II – Território determinado;

III – Governo;

IV – Capacidade de entrar em relações com os demais Estados.

Partindo disso, temos a conceituação de um Estado soberano, no qual o governo soberano, também conhecido como poder soberano, é a autoridade máxima que exerce o poder

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político no Estado. Orihuela (2015) explica que a soberania é o atributo do poder estatal que confere a este poder o caráter de superioridade frente a outros núcleos de poder que atuam dentro do Estado, como famílias e empresas. De acordo com Portela (2013), a soberania abrange dois aspectos: interno e internacional, no qual no âmbito interno refere-se a um poder que tem supremacia sobre pessoas, bens e relações jurídicas dentro de um determinado território. Já no internacional, alude a igualdade entre os poderes dos Estados e à independência do ente estatal em relação a outros Estados, tendo como corolários princípios como o da igualdade jurídica entre os entes estatais soberanos e a não intervenção nos assuntos internos de outros Estados (PORTELA, 2013, p. 166).

De acordo com Rezek (2014), em doutrina, os elementos constitutivos do Estado são:

território, população, governo, soberania e reconhecimento por parte dos demais estados. O autor complementa, especificando que o reconhecimento é um ato unilateral, no qual um Estado, que faz uso da sua prerrogativa soberana, entende a soberania de outro Estado; sendo assim, a personalidade jurídica de direito internacional do mesmo. O reconhecimento implica que um Estado reconhece e aceita a personalidade do outro, reconhecendo assim os seus Direitos e Deveres determinados no artigo 1º da Convenção de Montevidéu, em 1933.

Entretanto, Rezek (2014) aponta que:

A soberania não é elemento distinto: ela é atributo da ordem jurídica, do sistema de autoridade, ou mais simplesmente do terceiro elemento, o governo, visto este como síntese do segundo — a dimensão pessoal do Estado —, e projetando-se sobre seu suporte físico, o território. O reconhecimento dos demais Estados, por seu turno, não é constitutivo, mas meramente declaratório da qualidade estatal. Ele é importante, sem dúvida, na medida em que indispensável a que o Estado se relacione com seus pares, e integre, em sentido próprio, a comunidade internacional. Mas seria uma proposição teórica viciosa — e possivelmente contaminada pela ideologia colonialista

— a de que o Estado depende do reconhecimento de outros Estados para existir (REZEK, 2014, p 225).

No campo das Relações Internacionais, apesar do Estado ser considerado o ator principal no sistema internacional, como aponta Menger (2019), o conceito de Estado dentro das correntes teóricas é vaga, incompleta e indefinida.

Apesar de divergirem quanto à centralidade que este ocupa na análise do Sistema Internacional, tanto a perspectiva liberal quanto a realista compartilham uma mesma acepção do Estado – entendido como um conjunto de instituições que se situam ao mesmo tempo fora e acima da sociedade, e que garantem uma igualdade jurídico- institucional estendida a todos os indivíduos. Em ambas as teorias, o Estado opera como a entidade que garante o bem comum e que defende em suas ações externas o

“interesse nacional” (MENGER, 2019).

Ademais, temos Fred Halliday, que é um crítico da perspectiva teórica dos estudos das Relações Internacionais, problematizando a insuficiência de debates sobre o conceito de Estado

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na área das Relações Internacionais (MENGER, 2019). Sendo assim, ele cria um debate, no qual afirma que “os eventos e processos internacionais são, tanto quanto os da política e sociedade doméstica, passíveis de uma análise racional e comparativa e que este conhecimento pode desempenhar um papel em torná-los mais sujeitos aos controles democráticos” (Halliday, 2007, p. 9). Ele defende que os fatores domésticos e internacionais possuem uma ligação intrínseca e que os processos internacionais criaram o Estado, visto que “os Estados e a sua organização interna desenvolveram-se em um contexto mundial-histórico, isto é, em interação, e imitando outros Estados” (MENGER, 2019). Também, há outro debate, feito por Caio Bugiato (2018), que aponta as três funcionalidades do Estado, que seriam:

o nível da economia, no qual a função do sistema jurídico seria, em geral, organizar o processo de produção, regulamentar contratos de compra e venda da força de trabalho e regular as trocas capitalistas; o nível ideológico, no qual o Estado estabelece normas para os sistemas de educação, de comunicação e de informação no âmbito nacional; e o nível político, no qual a função do Estado consiste na manutenção da ordem política no conflito entre as classes (Bugiato, 2018).

A partir disto, Caio Bugiato (2018) conclui que “o papel político global do Estado seria a manutenção da unidade de uma formação social no interior da qual se dá a dominação de uma classe sobre a outra”. Entretanto, apesar dos debates e tentativas de conceituação, o Estado não possui uma definição 100% absoluta no campo das Relações Internacionais.

Sendo assim, com este tópico, conclui-se que os estados foram surgindo conforme os conflitos armados, movimentos de independência, Direito Internacional e princípio de autodeterminação dos povos entre outros, começaram a aparecer. Também ocorre por separação, por meio de desmembramento e por secessão. Outras formas são por meio de aquisição, adjudicação e por atos de unificação, no qual anexou a Escócia ao Reino Unido em 1707. Há também a conceituação de um estado no Direito Internacional que, no artigo 1º da Convenção de Montevidéu, em 1933, sobre Direitos e Deveres dos Estados, aponta que para um estado ser considerado estado, deve ter uma população permanente, território determinado, governo e capacidade de se relacionar com outros estados.

Já um Estado soberano é a autoridade máxima que exerce o poder político no Estado e, para alguns autores, deve ter o reconhecimento de outros Estados para poder considerar -se um.

Nas Relações Internacionais, mesmo o Estado sendo um ator de suma importância, há pouca conceituação do mesmo na área. Teóricos como Fred Halliday e Caio Bugiato tentam fazer a conceituação, sendo, para Halliday, a formação de Estados se deu a partir de um contexto mundial-histórico, no qual Estados iam imitando outros Estados para poder formar-se. Já para Bugiato, o Estado possui apenas três funcionalidades, sendo elas cuidar do nível da economia,

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do nível ideológico e do nível político. Mostra-se então o pouco debate e interesse de uma conceituação completa sobre o Estado no campo de Relações Internacionais.

2.3 O PRINCÍPIO DE AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS

De acordo com Ary (2019), o princípio de autodeterminação dos povos não tem seu surgimento especificado, pois há vários fatores históricos que contribuíram para que o princípio nascesse. Juntando os apontamentos de Ary (2009) e Ramina (2010), pode-se considerar como fatores históricos que contribuíram para o surgimento o contexto dos antecedentes das Revoluções americana e francesa, que ocorreram no final do século XVIII, que fizeram com que este princípio viesse à tona. Para Ramina (2010), além dos contextos históricos, o direito de autodeterminação dos povos teve origem a partir do “princípio das nacionalidades”, que foi criado na França no século XIX, baseado no princípio de que uma nação tinha o direito de tornar-se um Estado independente. Outro fator que também contribuiu, foi o nacionalismo, principalmente com o aparecimento do Estado-Nação Westfaliano, pois surgiu “a concepção de que cada entidade estatal deve possuir um território determinado, um governo soberano, o qual não dependa de nenhuma outra entidade estatal, exercendo sua soberania relativamente a uma população determinada” (ARY, 2009, p. 13).

Mesmo que o princípio tenha iniciado a partir dos antecedentes das revoluções americana e francesa, foi Vladimir Ilitch Ulianov Lênin e Friedrich Engels que o inseriram no contexto internacional. Com os congressos internacionais que Friedrich Engels promoveu, em 1896, o Congresso Internacional de Londres, influenciado pelo pensamento marxista e reformista, tomou uma decisão sobre o direito à autodeterminação, declarando que “é pelo pleno direito à autodeterminação de todas as nações e exprime as suas simpatias aos operários de todos os países que sofrem atualmente sob o jugo do absolutismo militar, nacional ou outro”

(GONÇALVES, 2017, p. 11).

Lênin, em sua obra “Sobre o direito das nações à autodeterminação”, buscou maneiras para uma maior compreensão do princípio, sendo assim, ele aponta dois caminhos, sendo o primeiro apontar uma noção geral do direito e depois apontar um estudo mais detalhado dos movimentos nacionais, com um enfoque na questão histórico-econômica (LENIN, 1914 apud GONÇALVES, 2017, p. 11).

O direito de autodeterminação já recebeu várias nomenclaturas e com o passar dos tempos foi se moldando até chegar aos nossos dias, reivindicado como parte do rol dos Direitos Humanos. Lênin foi um dos primeiros pensadores socialistas a afirmar

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categoricamente que o “direito de autodeterminação” comporta o direito à secessão (RAMINA, 2010, p. 3698).

Ramina (2010) destaca que a base ideológica que repousava na realização da autodeterminação seria um meio para realizar o socialismo, “já que a libertação dos povos oprimidos contribuiria para a revolução socialista no mundo”. E devido a isto, Lenin apontou que existe nações exploradoras e nações exploradas e, para ele, as “nações oprimidas chamariam os proletários para apoiar e servir de base na luta pela separação”, para que houvesse uma aceleração no “processo de desestabilização dos Estados e transformando-os em regimes socialistas” (RAMINA, 2010, p.3698). Para ele, essa decisão deve ser tomada pelos socialistas, pois:

O mais prático é dizer abertamente sim à separação de tal ou tal nação. O proletariado reconhece a igualdade de direitos e o direito igual ao Estado nacional, ele valoriza e coloca acima de tudo a aliança dos proletários de todas as nações, valorizando do ângulo da luta de classe dos operários toda reivindicação nacional, toda separação nacional (DEUCHER, 2009).

De acordo com Cassese (1995), Lenin declarou que o princípio de autodeterminação dos povos possui três elementos que são essenciais para a sua desenvoltura, sendo eles: direito dos grupos étnico/nacionais para decidirem o seu destino livremente; o princípio de autodeterminação dos povos deve ser aplicado após os conflitos militares efetuados pelos Estados soberanos; e, por último, independência de todos os territórios colonizados.

Lenin, enquanto escrevia sua obra e defendia o princípio de autodeterminação dos povos, recebeu críticas por defender a secessão; críticas estas, feitas por Rosa Luxembur go.

Lenin se defendeu falando que:

“Ao apoiar o direito à secessão, não apoiamos o nacionalismo burguês das nações oprimidas. Na medida em que a burguesia de uma nação oprimida luta contra a opressora, nessa medida nós somos sempre e em todos os casos e mais decididamente que ninguém, a favor, pois somos os inimigos mais audazes e consequentes da opressão. [...] Se não nos apresentarmos e não defendermos na agitação a palavra de ordem, o direito à secessão, faremos o jogo não só da burguesia, mas também dos feudais e do absolutismo da nação opressora. [...] Os socialistas contrários à tese de autodeterminação, ajudam de fato o conformismo oportunista com os privilégios (e com coisas piores que os privilégios) dos exploradores da nação opressora. [...] Em todo nacionalismo de uma nação oprimida há um conteúdo democrático geral contra a opressão e é exatamente este conteúdo que apoiamos incondicionalmente, e que esta é a única política prática e de princípios, que ajuda efetivamente a democracia, a liberdade e a união proletária na questão nacional” (RAMINA, 2010, p. 3698).

Durante este período, principalmente no decorrer da Primeira Guerra Mundial, o princípio de autodeterminação dos povos teve uma grande importância como elemento no cenário internacional, sendo apontado as duas versões: a radical de Lênin e a moderada de Woodrow Wilson. Wilson e conhecido pela formulação do plano “Quatorze Pontos”, que tem

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uma grande importância, visto que, ao fundar o idealismo, buscou uma outra aplicabilidade para o princípio da autodeterminação dos povos. De acordo com Gonçalves (2017), os quatorze pontos trouxeram especificações pontuais sobre os assentamentos territoriais, já que foi incluído a criação de estados independentes, além de falar também sobre que houvesse a livre disposição ou ao território, já que os estados não deviam ser trocados de soberania para soberania. Para Wilson, como aponta Gonçalves (2017), o princípio de autodeterminação dos povos origina-se da teoria democrática ocidental, na qual:

Os governantes devem basear suas decisões de acordo com o consentimento dos governados. Sendo assim, a autodeterminação basicamente consiste no direito de os povos escolherem livremente os seus governantes. [...] Dessa forma, a autodeterminação passa a incorporar um critério de auto governança. [...] A ideia de autodeterminação, a partir da concepção wilsoniana, passou a ter um caráter valorativo voltado a um ideal político, por grupos minoritários que viviam opressão e exploração pelos colonizadores europeus. (GONÇALVES, 2017, p. 14)

Cassesse (1995) complementa falando que, no pós Primeira Guerra Mundial, o

“Quatorze Pontos” prevaleceu, principalmente quando o império da Europa central foi desmantelado e redesenhado. Entretanto, é importante destacar a importância do Lênin durante todo este processo, visto que ele trouxe uma grande inspiração para os movimentos nacionalistas que vão começar a surgir após a Segunda Guerra Mundial (ARY, 2019, p. 14).

Além disso, Ary (2019) aponta que essa versão do Wilson foi “escolhida para que o princípio iniciasse o seu caminho até se tornar um corolário do Direito Internacional”.

No período voltado ao fim da Primeira Guerra Mundial, o princípio de autodeterminação dos povos era concebido apenas como um ideal político. A concepção wilsoniana tinha, portanto, como critério principal recuperar o princípio das nacionalidades aplicado durante o Século XIX, pois utilizou-se de um ideal democrático advindo da livre escolha do governo pelo povo. Verifica-se, nesse primeiro momento, que o princípio da autodeterminação não possuía nenhum artigo no Pacto da Sociedade das Nações que o transformasse em um direito essencial para a prática de resolução de conflitos. Sendo assim, entende-se pela “falta de juridicidade do princípio na época considerada” (GONÇALVES, 2017, p. 15).

Outro momento que o princípio de autodeterminação dos povos se fez importante foi no pós Segunda Guerra Mundial, durante o processo de produção da Carta das Nações Unidas e durante a sua caminhada para se consagrar um princípio do Direito Internacional. Enquanto era feito a formalidade da Carta das Nações Unidas, na Conferência de São Francisco, em abril de 1945, o embate dos ideais leninista e wilsoniana voltaram. A União Soviética baseava-se na ideologia leninista, buscando apontar que a ordem colonial deveria ser questionada, enquanto as potências europeias baseavam-se na ideologia wilsoniana, na qual defendiam a não interferência nas colônias e na escolha de mantê-las à força, caso fosse necessário (ARY, 2019,

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p. 15). A União Soviética era contra a política imperialista europeia. Ruth B. Russel, junto com outros autores soviéticos, propuseram a inclusão do artigo 1º, § 2º, apontando que:

“Os propósitos das Nações Unidas são:

2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direito e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal”

A inclusão foi aceita por maioria, porém, teve fortes críticas de Henry Rolin, representante da Bélgica, que considerava perigoso propor que os povos tivessem direito à autodeterminação baseando-se nas relações amistosas entre as nações; acreditava que ao consagrar isso, “abriria a possibilidade para a existência de intervenções inadmissíveis, sem a análise concreta das relações entre os povos envolvidos, tomando por base apenas a ação direta da ONU” (CASSESE, 1995, p. 39). Outros países mostravam a sua preocupação ao acreditarem que o princípio iria ser utilizado de forma indevida, principalmente por agentes políticos, que utilizariam para justificar invasões militares e anexações indevidas em territórios não autônomos (GONÇALVES, 2017, p. 17). Colômbia, representada por sua delegação, declarou que:

“Se o princípio da autodeterminação significa o direito de um povo de atribuir-se um governo, é claro que queremos que seja incluído; mas se, ao contrário, o mesmo deve ser interpretado no sentido de comportar o direito à secessão, nós o consideramos como idêntico à anarquia internacional e não queremos que seja incluído no texto da Carta”.

Os Estados então buscaram entrar em um consenso para a elaboração, elaborando quatro ideais para o princípio da autodeterminação dos povos. Sendo eles: vontade e desejo de qualquer povo deve ser disposto no Capítulo da Carta das Nações Unidas; a autodeterminação deveria ser analisada sob o direito à auto governança; o princípio se estenderia para uma concepção de possível união de nacionalidades e, a livre expressão e a vontade popular (CASSESE, 1995. p. 40). Sendo assim, ficou desta forma:

Artigo 1. Os propósitos das Nações Unidas são:

2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;

[...]

Artigo 55. Com o fim de criar condições de estabilidade e bem estar, necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão:

a) níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvimento econômico e social;

b) a solução dos problemas internacionais econômicos, sociais, sanitários e conexos;

a cooperação internacional, de caráter cultural e educacional; e

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