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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Academic year: 2022

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0074.16.007152-3/001

Número do Númeração 0071523-

Des.(a) Audebert Delage Relator:

Des.(a) Audebert Delage Relator do Acordão:

29/04/0020 Data do Julgamento:

13/05/2020 Data da Publicação:

E M E N T A : A P E L A Ç Ã O C Í V E L - D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O - RESPONSABILIDADE CIVIL - CEMITÉRIO - BENFEITORIAS REALIZADAS EM JAZIGO DIVERSO - ERRO DA MUNICIPALIDADE - DANOS MORAIS E MATERIAIS - NEXO CAUSAL - CONFIGURAÇÃO - INDENIZAÇÃO - C O R R E Ç Ã O M O N E T Á R I A E J U R O S D E M O R A - S E N T E N Ç A R E F O R M A D A .

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0074.16.007152-3/001 - COMARCA DE BOM DESPACHO - APELANTE(S): CHARLES ANDREE JOSEPH DE PADUA - APELADO(A)(S): MUNICÍPIO DE BOM DESPACHO

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em REJEITAR A PRELIMINAR E DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. AUDEBERT DELAGE RELATOR.

DES. AUDEBERT DELAGE (RELATOR)

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

V O T O

Trata-se de recurso de apelação interposto por Charles Andree Joseph de Pádua contra a sentença de fls. 82/84, que, nos autos da ação de indenização por danos morais ajuizada em face do Município de Bom Despacho, julgou improcedente o pedido inicial e condenou o autor ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em R$1.000,00 (mil reais).

Nas razões recursais acostadas à fls. 86/99, o autor suscita, inicialmente, preliminar de cerceamento de defesa, ao argumento de que "não foi dado a oportunidade de provar o alegado por todos os meios de prova, pois o i. juízo a quo ao julgar improcedente o pedido para que fosse feito a exumação do corpo depositado no jazigo nº120, ainda que fosse no de nº 121, impediu que fosse realizado a única prova que poderia por fim ao sofrimento do apelante, uma vez que as demais, quando nada, se encontram maculadas por vícios e erros materiais ou, ainda, foram indiscutivelmente negligenciadas pelo i. juízo a quo."

Na questão de fundo, aduz que ao prolatar a sentença o d. magistrado não levou em consideração o teor do "certificado de propriedade de terreno no cemitério" devidamente assinado pelo Prefeito Municipal e pelo Secretario do Meio Ambiente (fl.11). Afirma que "para uma decisão de tão melindrosa situação o i. juízo a quo se valeu apenas do documento de fl.28, para determinar onde esta suputada a genitora do apelante" e que "referido documento não possui qualquer assinatura que lhe confira credibilidade, não podendo ser reputado a ele condição similar a da fé pública, pois na verdade trata-se de documento que pode ser alterado a qualquer tempo e modo".

Reputa que os documentos trazidos pela municipalidade não comprovam que o jazigo nº 120 foi adquirido pelo Sr. Samarone Ney Amaral, já que não existe neles os números da sepultura, setor e gaveta que possam informar que ali se encontra sepultado o Sr. Rafael Felisbino Amaral. Alega, ainda, que o d. sentenciante não levou em

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consideração a prova testemunhal acostada aos autos.

No tocante aos danos materiais, reforça que está claro nos autos que foram realizadas benfeitoria no jazigo nº120, devidamente comprovadas às fls.13/16.

Ao final, requer seja reformada a sentença, para que o Município de Patos de Bom Despacho seja condenado a pagar-lhe indenização por danos morais e danos materiais.

Contrarrazões apresentadas às fls.102102/103.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, manifestou-se à fl.109 pela desnecessidade de intervenção ministerial no feito.

Conheço do recurso, eis que preenchidos seus pressupostos de admissibilidade.

A preliminar de cerceamento de defesa não merece prosperar.

O artigo 370 do Código de Processo Civil estabelece que cabe ao Juiz dirigir o processo, o que permite que, de ofício ou a requerimento da parte, possa ele determinar as provas necessárias à instrução do feito, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.

Conforme se extrai da supramencionada norma, a prova se destina ao convencimento do Magistrado. Dizer se é necessária ou não a realização de alguma prova compete ao Julgador.

Ensina Humberto Theodoro Júnior que "ela funciona como verdadeiro instrumento para suprir a carência do juízo, uma vez que, nem sempre, este dispõe do conhecimento técnico necessário para apurar os fatos apresentados." (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil - Teoria Gerai do Direito Processual Civil e do Processo de Conhecimento - Vol I. 47 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007).

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Assim, a exumação de cadáver conforme quer o apelante se insere na faculdade do Juiz da Causa, não havendo se falar em cerceamento de defesa neste caso.

Rejeito, portanto, a preliminar.

Na questão de fundo, inicialmente, cumpre observar que a responsabilidade civil do Estado, segundo norma do art. 37, § 6º da Constituição Federal, é, em regra, objetiva, bastando que se prove sua conduta e o nexo de causalidade entre ela e o dano sofrido pelo indivíduo, para que nasça o dever de indenizar, sendo desnecessária a ocorrência de culpa por parte do agente causador do dano para gerar o dever de reparação.

Pois bem.

A pretensão do demandante funda-se no fato de que, por um suposto erro de um dos funcionários do Cemitério Municipal, o jazigo que é proprietário e onde jazem os restos mortais de sua mãe, na verdade, também pertence a uma terceira pessoa, Sr. Samarone Ney Amaral.

Tal fato foi constatado após o Sr. Samarone Ney Amaral questionar as benfeitorias realizadas pelo autor no jazigo nº120, ao argumento de que ali estava sepultado os restos mortais do Sr. Rafael Felisbino Amaral.

Interrogada a municipalidade, esta apontou erro material no certificado emitido para o autor, afirmando, por conseguinte, que o jazigo onde a mãe dele encontra-se sepultada, na verdade, é o de nº 121 e não o nº 120.

Tal fato restou incontroverso nos autos, posto que reconhecido pelo Município de Patos de Bom Despacho, nos seguintes termos:

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"de fato, houve erro material no momento em que o certificado do Autor foi expedido, pois conforme os dados contidos no livro oficial do Cemitério Parque da Esperança a sua genitora esta enterrada no jazigo registrado sob o nº 121 e não 120." (fl. 25v)

Logo, restando comprovada que, em razão da má administração do cemitério local, ocorreu o desrespeito ao dever do qual ficou incumbido o ente público, nasce para o Poder Público, a quem compete administrar o cemitério municipal, o dever de indenizar o prejuízo moral/material causado.

Nesse sentido, cumpre ressaltar que o dever de reparar o dano moral sofrido decorre da dor e do abalo de ordem psíquica causado ao autor em virtude de acreditar que sua mãe estava sepultada no jazido de nº 120, o que levou a realizar benfeitorias no sepultamento errado.

Assim, tenho que a decisão de primeiro grau merece reparos para que o réu seja condenado a indenizar o autor.

No que tange ao valor da indenização por danos morais, permito-me transcrever citações, doutrinária e jurisprudencial, que nos elucidam nessa tormentosa questão:

"Ao fixar o valor da indenização, não procederá o juiz como um fantasiador, mas como um homem de responsabilidade e experiência, examinando as circunstâncias particulares do caso e decidindo com fundamento e moderação. Arbítrio prudente e moderado não é o mesmo que arbitrariedade". (Oliveira Deda, Enciclopédia Saraiva, vol. 22, p. 290).

"Se, à falta de critérios objetivos da lei, o Juiz tem de se valer da prudência para atender, em cada caso, às suas peculiaridades assim

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como a repercussão econômica da indenização pelo dano moral, o certo é que o valor da condenação, como princípio geral, não deve ser nem tão grande que se converta em fonte de enriquecimento, nem tão pequeno que se torne inexpressivo". (TJMG - Ap. 87.244-3 - Rel. Des. Bady Curi).

Nesse passo, mostra-se adequado o montante de R$5.000,00 (cinco mil reais), observando-se o caráter dúplice da condenação, na qual se inclui sua função educativa, a desestimular a reiteração da prática da conduta pelo seu causador, e o aporte econômico do réu, de forma a proporcionar ao indenizado uma reparação sem constituir, contudo, meio de enriquecimento sem causa.

Em relação aos danos materiais, o apelante trouxe aos autos os documentos de fls.13/16, que comprovam os custos dispendidos com as benfeitorias no jazido de nº 120. Assim, deve o apelado pagar ao autor o montante de R$2.728,00 (dois mil setecentos e oito reais).

Definido os valores, resta apreciar os consectários legais devidos sobre a indenização.

Em relação ao termo a quo de incidência dos consectários, os juros de mora, deverão incidir a partir do momento em que surgiu o dano, na forma da súmula 54 do STJ, senão vejamos:

"Súmula 54 - Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual."

Assim, no caso dos autos deve incidir desde a inscrição indevida do nome do autor nos órgãos restritivos de crédito.

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Quanto à correção monetária, esta deve incidir a contar da sua fixação, havendo também a esse respeito entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça:

"Súmula 362 - A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento."

No caso em exame, deverá incidir a partir do presente acórdão, quando então restou fixada.

Em relação aos índices a serem adotados, saliento que o Supremo Tribunal Federal, em 20/09/17, ao julgar o mérito da Repercussão Geral no RE nº 870.947/SE, definiu os critérios para a fixação de correção monetária e juros de mora nas condenações impostas à Fazenda Pública, nos termos do voto do em. Ministro Luiz Fux.

Quanto aos juros moratórios, concluiu-se que:

"O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09."

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Já em relação à correção monetária, ficou definido que:

"O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina."

Destarte, sob esses aspectos, a Corte Suprema manteve a aplicação do índice de remuneração da caderneta de poupança para as hipóteses de débito de natureza não tributária, relativamente aos juros de mora, porém, considerou inadequada a utilização da Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária dos débitos judiciais da Fazenda Pública, impondo, em substituição, o IPCA-E.

Ante tais considerações, REJEITO A PRELIMINAR e DOU PROVIMENTO AO RECURSO, para julgar parcialmente procedente os pedidos iniciais, condenando o Município de Bom Despacho a pagar ao autor o montante de R$2.728,00 a título de danos materiais e o montante de R$5.000,00 a título de danos morais, devidamente corrigidos nos termos do voto acima proferido. Ficam invertidos os ônus sucumbenciais.

Custas, ex lege.

DES. EDILSON OLÍMPIO FERNANDES - De acordo com o(a) Relator(a).

DESA. SANDRA FONSECA - De acordo com o(a) Relator(a).

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SÚMULA: "REJEITARAM A PRELIMINAR E DERAM PROVIMENTO AO RECURSO."

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