SOCIAMBIENTALISMO, MUDANÇAS CLIMÁTICAS E DIREITOS HUMANOS ALGUNS MECANISMOS JURÍDICOS A PARTIR DA PERPECTIVA DA
VULNERABILIDADE E RESILIÊNCIA DOS POVOS TRADICIONAIS
SANDRA AKEMI SHIMADA KISHI
skishi@prr3.mpf.gov.br sask22@gmail.com
Populações tradicionais no Brasil e mudanças climáticas
a) relação das populações tradicionais brasileiras com o meio ambiente, catástrofes ambientais;
b) Vulnerabilidade;
c) populações tradicionais enquanto deslocados ambientais;
d) Projetos de desenvolvimento sustentado tradicionais, adaptação e mitigação;
e) novos mecanismos de proteção de direitos humanos;
f) Conclusões.
Populações tradicionais no Brasil e mudanças climáticas
Populações tradicionais são o conjunto de povos indígenas e das comunidades quilombolas e locais.
ESTA NOÇÃO ESTÁ CORRETA DIANTE DO NOSSO ATUAL ARBACOUÇO JURÍDICO?
PODEMOS INCLUIR AS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS E LOCAIS NO AMPLO CAMPO DOS POVOS TRADICIONAIS?
Povos tradicionais = povos indígenas e quilombolas?
DECRETO Nº 6.040, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2007.
Institui a Política Nacional de Desenvolvimento
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais:
Povos tradicionais = povos indígenas e quilombolas?
MP 2186-16/2001 – Apenas cita comunidade
local e comunidade indígena.
Populações tradicionais no Brasil e mudanças climáticas
Arapemã, Santarém/PARÁ: ACP do MPF tutela de população quilombola vulnerável, Rio Amazonas.
Sentença julgou ACP procedente.
Mas, representantes da comunidade
recorreram para permanecerem nas terras
em que vivem com intrínseca ligação de
ordem espiritual e cultural.
ARAPEMÁ/Pará-MA
Fenômeno Terras caídas
Populações tradicionais no Brasil e mudanças climáticas
Em tempos de mudanças climáticas, precisamos resolver novos desafios e novas necessidades de proteção.
Idéia de mínimo existencial humano e ecológico, orientada pela noção de dignidade da pessoa
humana intrinsecamente relacionada à qualidade ambiental.
E a dignidade está vinculada a um conjunto
complexo de necessidades de proteção: social, econômica, cultural e ecológica.
Ética e precaução
Dignidade de vida supõe um mínimo de realidades existenciais que por si exige
iniciativas de proteção. É a noção de mínimo existencial ecológico, que por sua vez invoca a noção de ética ambiental e do não-
retrocesso. O Estado Ecológico e ético de Direito exige justiça social, em que os riscos e as vulnerabilidades existentes em tempos de mudanças climáticas sustentam medidas imediatas de proteção, mesmo sem estudos.
Ex: na queimada de cana de açúcar,
precisamos de EIA-RIMA para proibi-la?
a) Relação das populações tradicionais brasileiras com o meio ambiente, catástrofes ambientais
-
Naquele caso, qual seria o mínimo de existência digna?
-
Os modos de vida e cultura tradicionais tem relevante papel que é esquecido nos debates internacionais sobre mudanças climáticas.
São justamente esses povos os mais
vulneráveis no que tange às alterações
climáticas, numa evidente ausência de
Justiça Ambiental.
Populações tradicionais no Brasil e mudanças climáticas
- exclusão desses povos dos cenários e processos de discussão
- mais vulneráveis
- Mas, tem alto grau de resiliência.
Mudanças climáticas: desastres ambientais e vulnerabilidade
Desastres seriam evitados se as
vulnerabilidades fossem minimizadas
Vulnerabilidade intensifica o perigo e os
riscos.
RELAÇÃO DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS BRASILEIRAS COM O MEIO AMBIENTE, CATÁSTROFES AMBIENTAIS A VULNERABILIDADE
- Instituto de Pesquisas da Amazônia – IPAM = desmatamento em T.I. = 1,1%
- em reservas extrativistas = 3%
- Estoque de carbono = 15,2 bilhões de toneladas (relatório 2009, p. 49).
- Modos de vida das populações tradicionais, dotadas de sustentabilidade e redução de emissões = MDL
- São indicadores determinantes para um avanço para o REED (política de redução de emissões de
desmatamento e degradação e florestas),
Aquele baixo índice de desmatamento em território indígena (1,1%, segundo relatório do IPAM de 2009, p. 49), gerando um estoque de carbono de 15,2 bilhões de toneladas, colide
totalmente com o enorme nível de desmatamento em territórios indígenas ainda não
regularizados formalmente, na posse de detentores não índios que promovem níveis incríveis de desmatamento, como demonstrado na foto da montanha de pó de madeira serrada pelas madeireiras em terras de povos tradicionais ainda não regularizadas.
RELAÇÃO DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS BRASILEIRAS COM O MEIO AMBIENTE,
CATÁSTROFES AMBIENTAIS A VULNERABILIDADE
Vulnerabilidade dos povos tradicionais é evidente, mesmo fora de uma situação de riscos de catástrofes ambientais.
hipervulnerabilidade.
mais vulneráveis, mais catastróficos os efeitos danosos ao ambiente.
Ex: separação forçada de comunidades
tradicionais do seu território poderá resultar
na perda de identidade cultural.
Rastreando os riscos de desastres ambientais
Conferência Mundial para a Redução dos
Desastres, (Japão, 2005), “Hyogo Framework for Action 2005-2015: os riscos de desastre surgem quando o perigo interage com
vulnerabilidades físicas, sociais, econômicas
e ambientais.
Riscos + vulnerabilidades = desastres
Exemplos de INJUSTIÇA AMBIENTAL dadas no workshop Improving Environmental Justice in Central and Eastern Europe, operam quando minorias ou outros grupos sofrem
desproporcionalmente riscos ou perigos ambientais,
sofrem violações de direitos humanos como resultado de fatores ambientais, ou é negado o acesso a investimentos ambientais, a benefícios, e/ou recursos naturais,
ou lhes é negado o acesso à informação e à
participação nos processos decisórios ou o acesso à justiça em matéria ambiental.
POPULAÇÕES TRADICIONAIS ENQUANTO DESLOCADOS AMBIENTAIS
governança internacional, especialmente no tocante às Nações Unidas, como p. ex, a criação de
agências (como a OIT, UNESCO, FAO) ou, no mínimo, programas específicos.
Nos desastres ambientais são necessários esforços que ultrapassem os limites da assistência
humanitária.
Mudanças Climáticas ligado a direitos fundamentais de segunda geração
O STJ, no REsp n. 1.000.731/RO, manteve multa por queimada, imposta pelo IBAMA,
tendo em seu voto o Ministro Relator Herman Benjamin, considerado as mudanças
climáticas como um dos problemas
ambientais considerados como de segunda geração (DJ de 08.09.09), ou de liberdades positivas (direitos fundamentais sociais,
culturais e econômicos) que acentuam o
princípio da igualdade.
POPULAÇÕES TRADICIONAIS ENQUANTO DESLOCADOS AMBIENTAIS
A normatividade internacional não admite que tais povos tradicionais sejam despojados de participação e de consulta prévia. Adam Smith- justiça social, é necessário ética global na luta contra a globalização (in Teory of moral sentiments).
Por tais razões há a necessidade de um novo
Estatuto Internacional de Refugiados Ambientais que proteja os direitos dos povos tradicionais, integrando o sistema de proteção de direitos humanos.
POPULAÇÕES TRADICIONAIS ENQUANTO DESLOCADOS AMBIENTAIS
Assim, há que se proteger os povos
tradicionais sob a perspectiva de deslocados ambientais, com trocas de informações sobre metodologias de prevenção e adaptação,
antes e depois de algum desastre ambiental, considerando a proteção de direitos
humanos, diante da vulnerabilidade desses povos e com efetividade na realização de consulta prévia diante de atividades
potencialmente degradadoras do meio
ambiente.
e) Novos mecanismos de proteção de direitos humanos
A Declaração da ONU dos Direitos dos Povos Indígenas = consentimento prévio e livre
Já a Convenção 169 da OIT – consulta prévia: direito de serem os povos tradicionais ouvidos.
Esse ato não pode ser meramente formal!
e) Novos mecanismos de proteção de direitos humanos
É preciso interagir com o outro
verdadeiramente e ouvi-lo nas suas
necessidades e essa proteção de direitos humanos deve ser observada previamente, nas situações prováveis de desastres
ambientais.
e) Novos mecanismos de proteção de direitos humanos
É emblemática a decisão da Corte de Justiça Colombiana que decidiu caso a favor de
comunidades tradicionais, que VETARAM um grande empreendimento em seu país.
Neste precedente houve a ausência total de
consulta a várias comunidades
e) Novos mecanismos de proteção de direitos humanos
O direito de ser ouvido e de dizer não a projetos e empreendimentos decorre da efetividade da justiça ambiental, da
necessidade da proteção do mínimo
existencial socioambiental, da necessidade de acesso à informação e à participação, ao incremento da resiliência e, em razão da
vulnerabilidade desses povos tradicionais
frente aos riscos em tempos de mudanças
climáticas.
Propostas e conclusões
1) reconhecimento amplo do papel dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais na
defesa e na conservação de suas florestas e na redução das emissões de gases de efeito estufa associadas ao desmatamento
2) Trocas de informações para um
entendimento e consenso prévio à adaptação frente às alterações climáticas, à
vulnerabilidade e às medidas de mitigação
com relação aos povos tradicionais.
Propostas e conclusões
3) Compilação e mapeamento dos dados regionais e locais relevantes para a avaliação de impactos das mudanças climáticas, adaptação e mitigação
envolvendo detentores de conhecimento locais e indígenas, populações marginalizadas, envolvendo pesquisadores de áreas interdisciplinares.
4) Ampliação e respeito pleno dos Direitos dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais
Propostas e conclusões
5) Inclusão dos povos tradicionais em
diálogos e debates internacionais sobre a mudança do clima.
6) novo regime de controle das emissões
pós-Quioto, no âmbito da Convenção Quadro da Organização das Nações Unidas sobre
Mudança Climática (UNFCCC)
Propostas e conclusões
7) Divulgar aos governantes dados e informações sobre as vulnerabilidades,
conhecimentos e capacidade de adaptação dos povos tradicionais.