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Parecer da Ordem dos Advogados (Regime de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais) I Objectivo do anteprojecto de decreto-lei

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Parecer da Ordem dos Advogados

(Regime de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais)

I

Objectivo do anteprojecto de decreto-lei

O anteprojecto de decreto-lei, conforme se declara no respectivo preâmbulo, visa "proceder à regulamentação da Lei da Organização do Sistema Judiciário, na parte respeitante à organização e funcionamento dos tribunais judiciais". Na verdade, a Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto de 2013 – Lei de Organização do Sistema Judiciário serviu basicamente para consagrar e estabelecer um novo modelo de organização e funcionamento dos tribunais judiciais de 1ª instância.

Com efeito e no que respeita aos demais tribunais e às profissões judiciárias, limitou-se essencialmente a reproduzir normas constitucionais e de leis que regulam a sua organização e funcionamento ou que integram os estatutos daquelas e, mesmo no domínio dos tribunais judiciais, a organização dos respectivos tribunais superiores também não sofreu alteração, uma vez que a supressão dos distritos judiciais não corresponde a um novo modelo organizativo para os tribunais da relação, traduzindo tão só e apenas o abandono de uma expressão que, ao longo de muitos anos, tem servido para designar as áreas territoriais de competência dos tribunais judiciais de 2ª instância e que, passando agora a determinar-se por agrupamentos de comarcas, continua a corresponder, com pequenas alterações, às áreas territoriais dos extintos distritos judiciais.

Além disso, o modelo de gestão dos tribunais judiciais, que no essencial segue de perto o já estabelecido na Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto, aplica-se apenas aos tribunais judiciais de 1.º instância – cfr art.º 90.º e segs da Lei n.º 62/2013 e o art. 13.º e segs. do anteprojecto de decreto-lei. Isto significa que a Lei de Organização do Sistema Judiciário, ao regular apenas a "gestão dos tribunais (judiciais) de primeira instância", não teve o empenho necessário para estabelecer um modelo de gestão que abrangesse também os tribunais administrativos e fiscais e que, sem perder de vista as especificidades próprias das instâncias superiores, também fosse aplicável à gestão dos tribunais superiores, quer judiciais, quer administrativos e fiscais.

O modelo de organização e funcionamento dos tribunais judiciais de 1ª instância que veio a ser criado, pela Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto, doravante abreviadamente designada por LOSJ, e que o anteprojecto de decreto-lei visa regulamentar é, em traços gerais, o que se passa a descrever.

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O território nacional foi dividido em 23 comarcas, cujas áreas se faz coincidir, respectivamente, com a das regiões autónomas e dos distritos administrativos, com excepção dos distritos de Lisboa, no qual são criadas 3 comarcas, Lisboa, Lisboa Norte e Lisboa Oeste, e do distrito do Porto em que são criadas 2 comarcas, a do Porto e a do Porto Este – cfr. n.º 2 do art. 33.º da LOSJ e respectivo anexo II.

A estrutura de cada tribunal de comarca é desdobrada em instâncias centrais e em instâncias locais – cfr. n.º 1 do art. 81.º da LOSJ.

As instâncias centrais têm, em regra, competência para toda a área geográfica correspondente à da comarca e desdobram-se em Secções Cíveis, que tramitam e julgam, em regra, as questões cíveis de valor superior a € 50 000, em Secções Criminais, destinadas à preparação e julgamento das causas crime da competência do tribunal coletivo ou de júri, e em Secções de Competência Especializada sobre determinadas matérias, designadamente, secções de Comércio, de Execução, de Família e Menores, de Instrução Criminal e de Trabalho – cfr. n.º 2 do art. 81.º, n.º 1 do art. 117.º e n.º 1 do art. 118.º, todos da LOSJ. As instâncias locais, que tramitam e julgam as causas não atribuídas à instância central, integram secções de competência genérica e secções de proximidade, podendo as primeiras desdobrar-se ainda em secções cíveis, secções criminais e secções de pequena criminalidade – cfr. alínea b) do n.º 1 e n.º 3 do art. 81.º da LOSJ.

As secções de competência genérica tramitam e julgam as causas não atribuídas a outra secção da instância central ou a tribunal de competência territorial alargada e passam a deter competência para julgar acções declarativas cíveis de processo comum de valor igual ou inferior a €50.000 ou causas crime da competência do tribunal singular – cfr. n.º 1 do art. 130.º da LOSJ.

As secções de proximidade são serviços de secretaria, sedeados nas instalações físicas de alguns tribunais de comarca que se pretende extinguir e que se destinam a prestar informações de carácter geral ou sobre processos pendentes, bem como a receber peças processuais a eles destinadas, e nos quais também podem ter lugar diligências processuais, cuja realização aí seja determinada, designadamente a prestação de depoimentos através de teleconferência ou a realização de audiências de julgamento – cfr. n.º 4 do art. 130.º da LOSJ.

Ao nível da 1ª instância e fora do âmbito das áreas de jurisdição das novas comarcas, prevê-se ainda a existência dos chamados tribunais de competência territorial alargada – cfr. n.º 1 do art. 33.º da LOSJ – que são tribunais de competência especializada que conhecem de matérias determinadas, em todo o território nacional ou em território da área de jurisdição de mais do que uma comarca e que, para já, são os seguintes:

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a) Tribunal de propriedade intelectual;

b) Tribunal de concorrência, regulação e supervisão;

c) Tribunal marítimo;

d) Tribunal de execução das penas;

e) Tribunal central de instrução criminal – cfr. art. 83 da LOSJ.

II

A extinção de tribunais de comarca

O anteprojecto de decreto-lei determina, no respectivo art. 66.º, que 1- São extintos os atuais distritos judiciais.

2- São extintos os atuais círculos judiciais.

3- São extintas as atuais comarcas.

Quer isto dizer que os tribunais de comarca actualmente existentes e que não são "transformados", pelo anteprojecto de decreto-lei, em instâncias centrais ou em instâncias locais ficam extintos, pois as secções de proximidade que passam a funcionar em algumas das comarcas extintas não são tribunais. Assim e de acordo com o previsto no mencionado anteprojecto de decreto-lei deixam de existir tribunais, nos seguintes municípios:

- nos Açores -> Nordeste e Povoação que passam a Secções de Proximidade;

- no distrito de Aveiro -> Sever do Vouga;

- no distrito de Beja -> Mértola que passa a Secção de Proximidade;

- no distrinto de Bragança -> Carrazeda de Ansiães; e Alfândega da Fé, Miranda do Douro, Vimioso e Vinhais que passam a Secções de Proximidade;

- no distrito de Castelo Branco -> Penamacor que passa a Secção de proximidade;

- no distrito de Coimbra -> Penela; e Mira, Pampilhosa da Serra e Soure que que passam a Secções de Proximidade;

- no distrito de Évora -> Portel; e Arraiolos que passa a Secção de Proximidade;

- no distrito de Faro -> Monchique;

- no distrito da Guarda -> Fornos de Algodres e Meda; e Sabugal que passa a Secção de Proximidade;

- no distrito de Leiria -> Bombarral; e Alvaiázere e Ansião que passam a Secções de Proximidade;

- no distrito de Lisboa (Norte) -> Cadaval ( Não obstante a extinção, será instalada provisoriamente no Cadaval a 2ª secção do trabalho de Torres Vedras – cfr. Mapa III );

- na Madeira -> São Vicente que passa a Secção de Proximidade;

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- no distrito de Portalegre -> Castelo de Vide; e Avis e Nisa que passam a Secções de Proximidade;

- no distrito de Santarém -> Ferreira do Zêzere e Mação; e Alcanena e Golegã que passam a Secções de Proximidade;

- no distrito de Setúbal -> Sines; e Alcácer do Sal que passa a Secção de Proximidade ( Em Alcácer do Sal qual será instalada provisoriamente a Secção de Execução que abrange a área territorial dos municípios de Alcácer do Sal, Grândola, Palmela, Santiago do Cacém, Sesimbra, Setúbal e Sines – cfr. Mapa III );

- no distrito de Viana do Castelo -> Paredes de Coura; ( para as comarcas de Arcos de Valdevez e de Ponte da Barca é criada, como Instância Local, a Secção de Cometência Genérica de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, sedeando-se a Secção de Competência Cível, em Arcos de Valdevez e a Secção de Competência Criminal em Ponte da Barca );

- no distrito de Vila Real -> Boticas, Mesão Frio, Murça e Sabrosa; e Mondim de Basto que passa a Secção de Proximidade;

- no distrito de Viseu -> Armamar, Castro Daire, Resende e Tabuaço; e Oliveira de Frades, S. João da Pesqueira eVouzela que passam a Secções de Proximidade.

São assim extintos 47 tribunais de comarca, dos quais 25 passam a secções de proximidade.

Há, porém, que não esquecer que os tribunais que agora são mantidos, quer como instâncias centrais, quer como instâncias locais, podem ser extintos e vir desaparecer, em qualquer momento posterior.

Na verdade, no n.º 5 do art. 81.º da LOSJ, que prevê e determina o desdobramento dos tribunais de comarca, em instâncias centrais e em instâncias locais, é estabelecido o seguinte:

"5 — Podem ser alteradas, por decreto-lei, a estrutura e a organização dos tribunais de comarca definidos na presente lei e que importem a criação ou a extinção de secções.".

Isto quer dizer que, em qualquer momento posterior e sob a alegação de contenção de custos ou de baixo movimento processual, o Governo, através de decreto-lei, pode vir a suprimir tribunais nos municípios em que o anteprojecto os mantém agora, seja como instâncias centrais, seja como instâncias locais.

As secções de proximidade, que não estavam previstas nas primeiras versões do mapa judiciário, constituem o expediente de que o Governo se veio a socorrer, já no decurso da discussão sobre a reforma do mapa judiciário, para, perante a forte oposição à extinção de um grande número de tribunais de comarca, procurar

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escamotear e suavizar a extinção dos tribunais em alguns dos municípios abrangidos pela extinção dos respectivos tribunais de comarca.

Todavia, essas secções de proximidade nunca poderão ser consideradas e qualificadas, como tribunais, desde logo porque não é a realização de determinados actos processuais em determinado espaço físico que confere a esse mesmo espaço a natureza de tribunal, dado que a existência de tribunal em determinado parcela do território implica e pressupõe que, pelo menos, uma parte dos litígios que venham a ocorrer, nessa parcela de território, sejam julgados e decididos por entidade jurisdicional que aí se encontra sedeada e que, para o efeito, dispõe de competência própria sobre litígios que se suscitem nessa mesma parcela de território sobre determinadas matérias.

Por outro lado e tendo em consideração o novo modelo de tribunal de comarca que é introduzido pela LOSJ e que se baseia nas áreas das regiões autónomas e dos distritos administrativos, também não se percebe por que é que não se converteram todos os tribunais de comarca que se pretende extinguir em instâncias locais/secções de competência genérica, dado que tal "transformação", para além de não implicar um acréscimo de encargos, até conduziria, de facto, a uma diminuição de custos.

Na verdade, nos termos do disposto no art. 87º da Lei de Organização do Sistema Judiciário, cada juiz e cada magistrado do Ministério Público pode exercer funções em mais de uma secção da mesma comarca e tal apenas lhes confere direito a ajudas de custo e ao reembolso de despesas de transporte em função das necessidades de deslocação nos termos da lei geral – cfr. art. 87º, cujo teor se transcreve:

Artigo 87.º Exercício de funções

1 — Para além dos casos previstos na lei, o Conselho Superior da Magistratura pode, sob proposta do presidente do tribunal de comarca, determinar que um juiz exerça funções em mais de uma secção da mesma comarca, respeitado o princípio da especialização dos magistrados, ponderadas as necessidades do serviço e o volume processual existente.

2 — O exercício de funções a que alude o número anterior confere apenas direito a ajudas de custo e ao reembolso das despesas de transporte em função das necessidades de deslocação nos termos da lei geral.

3 — Os magistrados do Ministério Público podem exercer funções em mais do que uma secção da mesma comarca, nas condições previstas nos números anteriores, por determinação do Conselho Superior do Ministério Público.

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Sendo ainda certo que, nos termos do disposto no art. 40º do anteprojecto de decreto-lei sobre o Regime de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais, em cada comarca existe uma única secretaria que assegura o expediente das respectivas secções e cada secretaria organiza-se em unidades e, de acordo com o previsto no art. 50.º do mencionado anteprojecto, a afectação de funcionários a cada uma das secções do novo tribunal de comarca pode ser gerida, de forma flexível e em função das necessidades e do volume de processos de cada secção.

Afigura-se assim que o novo modelo de tribunal de comarca acolhido na LOSJ permite a manutenção, como instâncias locais/secções de competência genérica, de todos os tribunais que se pretende extinguir, sem haver necessidade de, em relação a alguns municípios, se recorrer à criação de secções de proximidade. Com efeito, a manutenção dos tribunais de comarca que se visa extinguir, além de não envolver um acréscimo de encargos, prossegue e assegura uma das finalidades essenciais e fundamentais de um Estado de direito democrático e que é a de a tantas vezes apregoada justiça de proximidade não ser retirada e suprimida dos municípios em que a mesma já existe há larguíssimos anos e que, por falsas e não demonstradas razões economicistas, se dificulte ou impeça o acesso aos tribunais e à tutela jurisdicional efectiva de populações de cidadãos que já suportam as consequências da interioridade dos locais em que habitam e que, com a preconizada extinção dos tribunais, nos municípios acima indicados, irão suportar maiores dificuldades e custos nas deslocações aos municípios em que passarão a funcionar os tribunais que irão substituir os que se lhes pretende retirar e suprimir.

E o anteprojecto de decreto-lei reconhece, no respectivo preâmbulo, o que se acabou de dizer, quando aí se declara que "... considerando a diminuta e desadequada oferta de transportes públicos que servem alguns dos municípios, a que se somam as dificuldades na respetivas acessibilidades viárias, que distam nalguns casos mais de50 quilómetros da instância local mais próxima, foi contemplada a obrigatoriedade de algumas destas seções de proximidade, prévia e devidamente identificadas, assegurarem as respetivas audiências de julgamento." (negrito e sublinhado nossos).

Em face desta constatação, o n.º 2 do art. 45.º do anteprojecto de decreto-lei vem determinar que:

2 – As secções de proximidade identificadas no mapa VI anexo ao presente diploma, do qual faz parte integrante, asseguram a realização das sessões de julgamento, de acordo com a regras processuais fixadas,como se de uma secção de competência genérica da instância local se tratasse e detivesse competência territorial para o respectivo município (negrito e sublinhado nossos).

De acordo com o mapa VI, os municípios em cujas secções de proximidade devem obrigatoriamente ser realizadas as sessões de julgamento e não apenas se e quando assim vier a ser determinado, são os seguintes:

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- Mértola;

- Miranda do Douro;

- Mondim de basto;

- Nordeste;

- Pampilhosa da Serra;

- e São João da Pesqueira.

Quer isto dizer que, apesar de em relação a estes municípios se continuar a falar de secções de proximidade, as mesmas devem ser consideradas como se de uma secção de competência genérica da instância local se tratasse e detivesse competência territorial para o respectivo município. Este n.º 2 do art. 45.º do anteprojecto esquece as audiências prévias, quando elas tenham lugar no âmbito de processos cíveis, como esquece também as audiências de debate instrutório em processos crime.

Mas independentemente de tal esquecimento, esta solução do anteprojecto de decreto-lei demonstra bem e confirma o que a Ordem dos Advogados tem acentuado e insistido, nos respectivos pareceres sobre o processo legislativo relativo à organização judiciária, isto é, que o novo modelo de tribunal de comarca permite a manutenção de todos os tribunais que se pretende extinguir, como instâncias locais/secções de competência genérica, sem haver, portanto, necessidade de, em relação a alguns municípios, se recorrer ao expediente das secções de proximidade.

Por isso, a Ordem dos Advogados reafirma aqui, de novo e mais uma vez, a sua veemente e frontal oposição à pretendida extinção de tribunais ou à criação de secções de proximidade para mascarar e suavizar tal extinção.

III

A escolha do juiz presidente, do magistrado do MP coordenador e do administrador judiciário

Nos termos do disposto n.º 2 do art. 92º da LOSJ, o presidente do tribunal de comarca é nomeado, por escolha, do Conselho Superior da Magistratura em comissão de serviço, pelo período de 3 anos, de entre juízes que cumpram os seguintes requisitos:

a) Exerçam funções efetivas como juízes desembargadores e possuam classificação de Muito Bom em anterior classificação de serviço; ou

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b) Exerçam funções efetivas como juízes de direito, possuam 15 anos de serviço nos tribunais e última classificação de serviço de Muito Bom.

Por seu lado, o n.º 2 do art. 99º da LOSJ estabelece que o magistrado do Ministério Público coordenador é nomeado pelo Conselho Superior do Ministério Público, em comissão de serviço por três anos, por escolha de entre magistrados do Ministério Público que cumpram os seguintes requisitos:

a) Exerçam funções efetivas como procurador-geral adjunto e possuam classificação de Muito Bom em anterior classificação de serviço; ou

b) Exerçam funções efetivas como procurador da República, possuam 15 anos de serviço nos tribunais e última classificação de serviço de Muito Bom.

Por último, o n.º 3 do art. 104º da LOSJ prevê que o administrador judiciário é nomeado em comissão de serviço pelo período de três anos, pelo juiz presidente do tribunal, ouvido o magistrado do Ministério Público coordenador e escolhido de entre cinco candidatos, previamente seleccionados pelo Ministério da Justiça. Depois, os arts. 97.º, 102.º e 107.º da LOSJ vêm estabelecer que o exercício de funções, respectivamente, de presidente do tribunal de comarca, de magistrado do Ministério Público coordenador e de administrador do tribunal de comarca "implica a aprovação em curso de formação específico".

O art. 13.º do anteprojecto de decreto-lei refere-se ao curso de formação específico para o exercício de funções de presidente de tribunal de comarca e de magistrado do Ministério Público coordenador, estabelecendo as matérias que o mesmo deve compreender, que tal curso é realizado pelo Centro de Estudos Judiciários com a colaboração de outras entidades formadoras, em termos a definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça, ao qual também cabe aprovar o regulamento desse mesmo curso, prevendo-se, no n.º 3 do referido art.

13.º, que os candidatos selecionados para a frequência do curso de formação podem ser parcialmente dispensados da realização do mesmo, quando demonstrarem possuir formação académica que o CEJ venha a considerar equivaler a módulos ministrados no referido curso, sob proposta das entidades responsáveis pela nomeação.

Se bem se entende tudo o que se acabou de referir, primeiro o Conselho Superior da Magistratura escolhe os juízes que irão exercer as funções de juiz presidente nos vários tribunais de comarca, o mesmo sucedendo com o Conselho Superior do Ministério Público em relação aos magistrados do MP que irão exercer as funções de coordenador da comarca.

Depois de terem sido feitas essas escolhas, os magistrados escolhidos vão frequentar o curso de formação específica.

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Ou seja, ainda antes de se saber se os magistrados escolhidos obtêm ou não aprovação no curso de formação específica, a qual é obrigatória nos termos do disposto, respectivamente, nos arts. 97.º e 102.º da LOSJ, já os magistrados que irão desempenhar as funções de presidente e de magistrado do MP coordenador se encontram escolhidos e nomeados, dado que, como resulta do disposto do n.º 3 do art. 13.º do anteprojecto, podem vir a ser ser parcialmente dispensados da realização desse mesmo curso de formação específica, sob proposta das entidades responsáveis pela nomeação, o que inculca que, quando vão a frequentar o dito curso de formação específica, já se encontram nomeados. Além disso, quem estabelece e aprova o regulamento desse curso de formação específica é o membro do Governo responsável pela área da justiça e não os Conselhos Superiores da Magistratura e do Ministério Público.

Já quanto aos adminstradores dos tribunais de comarca, o art. 16.º do anteprojecto remete todos os aspectos do curso de formação específica para portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça, através da qual são definidos o âmbito de recrutamento para esse curso, as regras relativas ao processo de selecção, a forma de graduação e as licenciaturas adequadas.

Tudo isto evidencia, objectivamente e salvo o devido respeito, falta de transparência, sobretudo no que respeita aos magistrados.

Pois, por um lado, na Lei de Organização do Sistema Judiciário estabelece-se que a aprovação no curso de formação específica é obrigatória, por outro, em decreto- lei destinado a regulamentar a referida lei, prevê-se a possibilidade de dispensa parcial desse mesmo curso , sob proposta das entidades responsáveis pela nomeação, e, por último, embora não se diga de forma expressa, mas tudo aponta nesse sentido, a escolha e a nomeação para o exercício das funções de presidente do tribunal de comarca e de magistrado do MP coordenador têm lugar ainda antes de ter sido obtida aprovação no dito curso de formação específica.

Por outro lado, o n.º 2 do art. 47º da Constituição estabelece que todos os cidadãos têm o direito de acesso à função pública, em condições de igualdade e de liberdade e que esse acesso se deve efectuar, em regra, por via de concurso.

E, embora o exercício das funções de presidente do tribunal, de magistado do Ministério Público coordenador e de administrador judiciário não constituam, em si mesmas, um acesso à função pública, os princípios constitucionais de transparência, de igualdade e de liberdade, através de concurso público, também se deverão aplicar ao exercício de tais funções, não se vendo razões bastantes e justificadas para que os magistrados que reúnam as condições estabelecidas, respectivamente, no n.º 2 do art.

92.º e no n.º 2 do art. 99.º, ambos da LOSJ, não acedam, através de concurso público, ao exercício, respectivamente, das funções de presidente do tribunal de comarca e de

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magistrado do MP coordenador, procedendo os Conselhos Superiores de cada uma das magistraturas à nomeação com base nos resultados dos correspondentes concursos.

É preciso passar dos discursos e da retórica sobre a transparência no exercício de funções e de cargos públicos, para a pôr em prática, de forma real e efectiva, nos vários domínios de funções que cabe ao Estado assegurar e realizar.

IV Conclusões

1- A Ordem dos Advogados reafirma, de novo, a sua veemente e frontal oposição à pretendida extinção de tribunais ou à criação de secções de proximidade, para mascarar e suavizar tal extinção.

2- Dado que, por alegadas e indemonstradas razões economicistas, se dificulta e impede o acesso aos tribunais e à tutela jurisdicional efectiva de populações de cidadãos que já suportam as consequências da interioridade dos locais em que habitam e que, com a preconizada extinção dos tribunais, irão suportar maiores dificuldades e custos nas deslocações aos municípios em que passarão a funcionar os tribunais que irão substituir os que se lhes pretende retirar e suprimir.

3- Tanto mais que o novo modelo de tribunal de comarca permite a manutenção, como instâncias locais/secções de competência genérica, de todos os tribunais que se pretende extinguir, sem haver necessidade de, em relação a alguns municípios, se recorrer à instalação das chamadas secções de proximidade.

4- Pois tal manutenção, além de não representar um acréscimo dos gastos actuais com tribunais que se pretende extinguir, constitui um meio de garantir o exercício do direito fundamental de acesso aos tribunais e à tutela jurisdicional efectiva, por parte de populações de cidadãos que se encontram mais isoladas e afastadas dos grandes centros, não se lhes retirando e suprimindo dos respectivos municípios a justiça de proximidade que neles já existe há larguíssimos anos.

5- Uma vez que, de acordo com o disposto no art. 87º da Lei de Organização do Sistema Judiciário, cada juiz e cada magistrado do Ministério Público pode

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exercer funções em mais de uma secção da mesma comarca e tal confere apenas direito a ajudas de custo e ao reembolso das despesas de transporte em função das necessidades de deslocação nos termos da lei geral.

6- E que a afectação de funcionários a cada uma das secções do novo tribunal de comarca também pode ser gerida, de forma flexível e em função das necessidades e do volume de processos de cada secção, pois, nos termos do disposto no art. 50.º do anteprojecto de decreto-lei sobre o Regime de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais, o administrador judiciário distribui pelas várias secções da comarca os oficiais de justiça, após audição dos próprios.

7- O que demonstra que a manutenção de todos os tribunais que se pretende extinguir até representará uma diminuição dos encargos que actualmente são suportados com o respectivo funcionamento.

8- Por último, a Ordem dos Advogados considera ainda que os princípios constitucionais de transparência, de igualdade e de liberdade, através de concurso público, também se deverão aplicar no acesso ao exercício de funções de juiz presidente e de magistrado do Ministério Público coordenador e de administrador judiciário.

9- Não se vislumbrando quaisquer razões válidas para que os magistrados que reúnam as condições estabelecidas, respectivamente, no n.º 2 do art. 92.º e no n.º 2 do art. 99.º, ambos da LOSJ, não possam aceder, em condições de igualdade e através de concurso público, ao exercício de funções de juiz presidente e de magistrado do Ministério Público coordenador.

Lisboa, 7 Novembro 2013

A Ordem dos Advogados

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