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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - BACHARELADO MATHEUS SARAIVA

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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - BACHARELADO

MATHEUS SARAIVA

ASPECTOS DA ECOLOGIA DE PEQUENOS ROEDORES EM FRAGMENTO FLORESTAL PERTENCENTE AO DOMÍNIO MATA ATLÂNTICA, RIO GRANDE

DO SUL

CANOAS, 2007.

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MATHEUS SARAIVA

ASPECTOS DA ECOLOGIA DE PEQUENOS ROEDORES EM FRAGMENTO FLORESTAL PERTENCENTE AO DOMÍNIO MATA

ATLÂNTICA, RIO GRANDE DO SUL

Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle - Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas, sob a orientação da Profª. Dra. Cristina Vargas Cademartori.

CANOAS, 2007.

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TERMO DE APROVAÇÃO

MATHEUS SARAIVA

ASPECTOS DA ECOLOGIA DE PEQUENOS ROEDORES EM FRAGMENTO FLORESTAL PERTENCENTE AO DOMÍNIO MATA

ATLÂNTICA, RIO GRANDE DO SUL

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle - Unilasalle, pela avaliadora:

Profª. Dra. Cristina Vargas Cademartori Unilasalle

CANOAS, 2007.

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Agradecimentos

Primeiro de tudo quero agradecer ao meus pais, Camilo e marta, que me criaram, educaram e confiaram em mim, o que em muitas vezes eu não fiz por merecer, poderiam ter desistido de mim mas continuaram a acreditar. sem eles eu não seria porcaria nenhuma. Graças a eles tenho educação, a maior arma que uma pessoa pode ter. espero poder retornar à eles uma pequena parcela do esforço e preocupação que tiveram comigo até o presente momento. Bem como a admiração que tenho por eles, embora eu não demonstre. Também tenho a obrigação de mencionar aqui minha irmã e colega de formação, Camila, que ajuda quando pode e confunde quando possível! Hahaha! Ela tem me ajudado sempre que possível e a recíproca é verdadeira, espero que possamos continuar com essa relação futuramente.

Agradeço também ao Rafael Meira seniw, amigo, parceiro, vacilão e cara feio de doer! Nos conhecemos no “inferno”, hahaha! Sabe no que me refiro não é, Rafael? E desde então somos parceiraços.

uma das amizades que espero continuar a ter. Outro amigo é o Marcelo Fischer Barcellos dos santos, parceiro de bobagens, saídas a campo e afins, que deu grande contribuição para a realização deste trabalho. Me lembro até hoje que a primeira vez que vi ele pensei “ih, é boiola!” uhauhauha! Me enganei feio, ou pelo menos eu acho! Agradeço também a Roberta agostini rohr que só fui

“conhecer” na execução do trabalho, foi também importante para o desenvolver deste, desejo muita sorte para ela e em seu desenvolvimento profissional. Apesar de não acreditar em sorte. Foi muito bom também os momentos que passamos juntos, acreditem ou não essa última frase não contém malícias!

Outra amiga digna de nota é a elisandra Hugo. Baita amigona!

Conheci ela no inicio do curso e até então somos amigos, gosto muito dela e sei que ela certamente alcançará o máximo do potencial que possui. Também agradeço a um amigo de pouco tempo, o Álvaro, marido desta guria, hahauahua gosto dele também, gente finíssima, do tipo que não existe mais hoje em dia.

Meus agradecimentos vai também ao unilasalle pelo apoio dado através da obtenção do transporte. E dito isso, não posso me esquecer de mencionar o Volnei e sua irmã, amigos que tive pouco contato. mas o pouco que tive foram muito divertidos.

Não posso deixar de mencionar também todos do lar Nazaré, que além da amizade, ofereceram estadia e o mais importante, comida (hehehehe). Aos irmãos Rafael (mais conhecido como “o mala”), José, orlando, Joaquim, frei Simão e ao elton meu muito obrigado!

Claro! Não posso esquecer da profª dra. Cristina Vargas cademartori, essa excepcional pessoa que foi minha orientadora e, pelo menos eu a considero, uma amiga. Cara! O que falar de uma pessoa dedicada, humana, profissional, competente e contagiante? Eu sinceramente não tenho palavras para descrever a honra que foi conviver com ela durante esses últimos meses. Aprendi muito com ela durante o decorrer do curso e principalmente nessa última convivência. Há de se ressaltar também a paciência demonstrada comigo (e ela sabe muito bem que não é nada fácil) Esta é outra amizade que quero preservar futuramente. Espero algum dia voltar a trabalhar com ela e é claro, superá-la, por mais difícil que isso possa ser.

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Preciso da minha raiva para ficar saudável.

Preciso da minha raiva só para mim.

Preciso da minha raiva não para controlá-la.

Yeah! E eu preciso da minha raiva para ser eu.

Preciso libertar minha raiva.

LIBERTAR!!!

James Hetfield

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Resumo

Esta pesquisa teve como finalidade contribuir para o conhecimento acerca da ecologia de pequenos mamíferos em fragmento florestal do Domínio Mata Atlântica situado no município de Viamão, RS. A área de estudo, localizada entre as coordenadas 30°14’S e 51°02’W, apresenta considerável nível de perturbação. As amostragens foram realizadas de julho a outubro de 2006 e de março a junho de 2007, mensalmente, com a duração de quatro noites consecutivas, correspondendo a um esforço de 999 armadilhas-noite. Para a captura dos roedores foram utilizadas armadilhas do tipo Tomahawk dispostas em forma de transecto e grade. Akodon montensis, Oligoryzomys nigripes e Sooretamys angouya foram registradas na área de estudo. O nigripes apresentou-se como a espécie mais abundante, seguida de S.

angouya e A. montensis. A captura de machos foi superior a de fêmeas. O fragmento em questão, devido aos impactos sofridos, provavelmente não é mais capaz de sustentar populações viáveis de pequenos mamíferos.

Palavras-chave: Roedores sigmodontíneos. Remanescente de Mata Atlântica. Sul do Brasil.

Abstract

This search aims at to contribute for the knowledge concerning the ecology of small mammals in a forest fragment of Rain Forest Domain in the city of Viamão, southern Brazil. The study area, located between the coordinates 30°14’S e 51°02’W, presents considerable level of disturbance. The samplings were carried out monthly from July to October 2006 and from March to July 2007, each one during four consecutive nights, comprising a total trapping effort of 999 trap-nights. In order to capture rodents were used Tomahawk traps distributed in transect and grid forms. Akodon montensis, Oligoryzomys nigripes and Sooretamys angouya were registered in the study area. O. nigripes was the most abundant species, followed by S. angouya and A. montensis. The capture of males was higher than females. The referred fragment, as a result of anthropic impacts, probably is not able to stand viable small mammal populations.

Key words: Sigmodontine rodents. Remnant of Rain Forest. Southern Brazil.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...7

2 REVISÃO DE LITERATURA...9

3 MATERIAL E MÉTODOS...14

3.1 Área de Estudo...14

3.2 Procedimentos de Amostragem...15

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...17

4.1 Ordem Rodentia...17

4.2 Akodon montensis………...18

4.3 Sooretamys angouya………...19

4.4 Oligoryzomys nigripes………...21

4.5 Considerações quanto às capturas de roedores………...21

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...25

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...26

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1 INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica é a segunda maior floresta pluvial do continente americano.

Inicialmente estava presente ao longo da costa litorânea brasileira, formando uma vegetação contínua em dezessete estados, alcançando também o Paraguai e Argentina pelas porções leste e nordeste, respectivamente. Com o status de ameaçada e mais de 8.000 espécies endêmicas de plantas vasculares, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, a Mata Atlântica é considerada um dos 25 hotspots mundiais de biodiversidade. De sua cobertura original de 1,5 milhões de km², com 92% desta área em território nacional, atualmente este bioma está reduzido a menos de 100.000 km², representando cerca de 7% do que havia inicialmente. (TABARELLI et al., 2005).

A conservação da Mata Atlântica e seus ecossistemas associados impõem grandes desafios, uma vez que este bioma abriga 70% da população, além das maiores cidades e os mais importantes pólos industriais do Brasil. A economia das referidas regiões é muito diversificada, sendo predominantemente agropecuária no interior de São Paulo e nos estados da Região Sul. As zonas industriais, concentradas basicamente em torno das principais áreas metropolitanas e dos eixos de desenvolvimento, geram pressões sobre a biodiversidade à medida que necessitam de recursos naturais e energia para suprimento das atividades (CONSERVATION INTERNATIONAL DO BRASIL et al., 2000).

Pouquíssimos locais de floresta úmida neotropical foram adequadamente inventariados e listas locais de espécies são geralmente incompletas. Essa escassez de conhecimento dificulta iniciativas de conservação e manejo, assim como análises regionais (COSTA et al., 2005). Segundo Pardini, Umetsu (2006), os padrões de distribuição das espécies, de diversidade e da estrutura das comunidades de

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pequenos mamíferos não-voadores relacionados aos ambientes observados no bioma Mata Atlântica ainda são pouco conhecidos. Em face disso, este trabalho tem como principal finalidade contribuir para o conhecimento acerca da ecologia de pequenos mamíferos encontrados em uma área rural localizada no município de Viamão, caracterizada por ser um fragmento de mata nativa do Domínio Mata Atlântica, o qual sofreu ações antrópicas. Esta pesquisa poderá auxiliar a compreender alterações na diversidade de pequenos mamíferos ocorridas devido às atividades antrópicas, uma vez que, conforme Pardini et al. (2005), esta se modifica em fragmentos florestais pequenos e isolados, apresentando menor riqueza e maior variação na composição de espécies, em comparação a fragmentos maiores ou conectados por corredores.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

A diversidade de mamíferos no Brasil atinge números expressivos, constituindo-se numa das maiores do mundo. Até pouco tempo atrás, eram conhecidas 22 ordens de mamíferos no mundo, 11 das quais encontradas no Brasil, abrangendo um total de 524 espécies (FONSECA et al. 1996). A partir de 2006, o número de espécies nativas elevou-se para 652, representando um aumento de 24,61% (REIS et al., 2006). Embora a listagem de Fonseca et al. (1996) inclua apenas as espécies nativas, enquanto a investigação de Reis et al. (2006) tenha considerado também espécies exóticas que retornaram à condição selvagem, ainda assim o número de espécies nativas se elevou substancialmente. No entanto, inventários ainda são escassos e assim perdura o conhecimento insuficiente sobre a mastofauna brasileira. As ordens que geralmente constam nos levantamentos e, portanto, as mais conhecidas, são Rodentia, Chiroptera, Didelphimorphia e Primates.

Porém, ainda há desconhecimento quanto à distribuição de algumas de suas espécies e a taxonomia permanece mal definida nas três primeiras ordens citadas (REIS et al., 2006).

Devido à grande variação dos mamíferos neotropicais em peso, tamanho, hábitos alimentares e comportamentais, entre outros, estes exigem diferentes metodologias e aparelhagens para serem observados ou amostrados, o que constitui um fator para que inventariamentos sejam incompletos ou até mesmo se configura em empecilho para sua realização (VOSS; EMMONS, 1996).

Os roedores e marsupiais são grupos bem representativos: de um total de 209 espécies, 44 de marsupiais e 165 de roedores, cerca de 23 espécies de marsupiais e 79 de roedores ocorrem na Mata Atlântica, das quais 39% e 46%, respectivamente, são espécies endêmicas (FONSECA et al., 1996; PASSAMANI,

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2005). Esses números, todavia, devem ser ainda mais altos, pois várias espécies de mamíferos neotropicais foram descritas nos últimos anos, especialmente as pertencentes à ordem Rodentia (PATTERSON, 2000; GRELLE, 2002).

Apesar da alta diversidade e do marcado grau de endemismo dos roedores sul-americanos, a ecologia e o comportamento de muitas espécies permanecem como lacunas no conhecimento científico, principalmente no Brasil, cujas escassas informações, até a década de 80, resultavam de trabalhos voltados para a saúde pública. A partir de então, os estudos realizados sobre o tema em florestas úmidas tropicais intensificaram-se devido às altas taxas de degradação e fragmentação. Na região subtropical e, particularmente, no estado do Rio Grande do Sul, cuja cobertura florestal pertencente à área de Domínio Mata Atlântica encontra-se reduzida a uma porcentagem de 2,69% da área original, as pesquisas desenvolvidas, sobretudo no que se refere a avaliações quantitativas de longo prazo, são insuficientes (CADEMARTORI et al., 2003).

A maior ameaça aos pequenos mamíferos é, sem dúvida, a escassez de conhecimento científico básico, principalmente sobre taxonomia, sistemática, distribuição e história natural. Biólogos de campo deparam-se com a dificuldade de localizar populações de táxons específicos e de identificar espécimes em campo. A conservação efetiva da biodiversidade requer um mínimo de conhecimento sobre os alvos dessa proteção – o que é verdadeiro especialmente para roedores, marsupiais e morcegos, que perfazem dois terços da diversidade de mamíferos no país (COSTA et al., 2005).

Muitos dos estudos realizados com pequenos mamíferos contemplam a formulação de listas de espécies e atualizações taxonômicas, havendo uma disparidade entre trabalhos realizados em diferentes biomas, já que a grande maioria se refere ao Cerrado. Segundo Ribeiro; Marinho-Filho (2005), os estudos acerca de comunidades de pequenos mamíferos do Cerrado vêm se acumulando com o passar dos anos, pois estes compõem um grupo que apresenta facilidade de captura e abundância relativamente alta, podendo fornecer resultados confiáveis e mais robustos sobre seus padrões de distribuição, riqueza e abundância. O conhecimento dos aspectos da ecologia deste grupo, entretanto, conforme os autores, ainda permanece incógnito nos demais biomas e os poucos estudos existentes são insuficientes para a geração de um entendimento maior sobre o tema.

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A reprodução sazonal dos pequenos mamíferos nos trópicos está usualmente relacionada com os ciclos de chuvas, sugerindo uma relação com a disponibilidade de frutos e artrópodos, que geralmente é maior neste período (BERGALLO, 1995).

Essa particularidade dificulta a compreensão de qual ou quais fatores realmente influenciam na reprodução dos pequenos mamíferos (SADLEIR apud BERGALLO, 1995).

Pardini; Umetsu (2006) apresentaram lista de pequenos mamíferos não- voadores da Reserva Florestal do Morro Grande, incluindo um total de 23 espécies, sendo 15 roedores e oito marsupiais. O estudo ainda confirma o padrão de variação sazonal em populações de pequenos mamíferos com um pico de abundância no final da estação chuvosa ou início da estação seca, corroborando resultados já existentes na literatura. Apesar de não ser possível inferir sobre a generalidade deste padrão, já que outros trabalhos não analisaram variações sazonais de riqueza, é de se esperar que acréscimos na abundância favoreçam a capturabilidade das espécies, aumentando o número de espécies capturadas. Cademartori et al. (2004), estudando duas áreas de Floresta Ombrófila Mista, verificaram que a variação na abundância das espécies estudadas, aparentemente é influenciada pela disponibilidade de pinhões, e ressaltaram que os picos de maior abundância poderiam significar, também, um aumento no sucesso de captura em função da escassez deste importante recurso alimentar; nos momentos em que os pinhões tornam-se raros, as iscas funcionam como atrativos ainda mais eficientes.

Feliciano et al. (2002), estudando a dinâmica de populações de pequenos roedores no Rio de Janeiro, encontraram padrões opostos para as duas espécies mais abundantes no estudo, A. cursor e B. lasiurus. As dietas diferenciadas, afirmam, podem explicar os diferentes padrões. A. cursor tem sua dieta composta por insetos e invertebrados, enquanto que B. lasiurus, por sementes. Assim, as espécies, respectivamente, teriam maior disponibilidade de recursos alimentares no período de pluviosidade e período seco.

Altrichter et al. (2004), estudando comunidades de pequenos mamíferos na Argentina, verificam maior ocorrência nas áreas de vegetação alta com relação a bosques serranos. Este estudo verificou maior abundância de indivíduos nas referidas formações, principalmente no inverno, o que pode estar relacionado à disponibilidade de refúgios, locais para nidificação, proteção e obtenção de alimento.

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Resultados semelhantes já haviam sido obtidos anteriormente por Altrichter et al.

(2001).

Padrões altitudinais de variação no número de espécies de pequenos mamíferos em Mata Atlântica também já foram descritos (BONVICINO et al. 1997;

VIEIRA, 1999; GEISE et al., 2004). Vieira (1999) concluiu que florestas de baixadas normalmente abrigam maior número de espécies. No entanto, Pardini; Umetsu (2006) verificaram resposta contrária a este padrão, corroborando estudos mais recentes que têm demonstrado maior riqueza de mamíferos não voadores em altidudes médias (500 a 1500 m), no bioma Mata Atlântica (VIEIRA; MONTEIRO- FILHO, 2003; GEISE et al., 2004).

Graipel et al. (2005), estudando a dinâmica populacional de marsupiais e roedores no estado de Santa Catarina, verificaram maior ocorrência de machos em extensões florestais grandes, o que normalmente é atribuído aos maiores deslocamentos que eles realizam e considerado um padrão entre mamíferos na literatura, enquanto nos fragmentos isolados as fêmeas foram mais abundantes. O maior tempo de permanência das fêmeas da maioria das espécies no estudo corrobora a hipótese do maior deslocamento e/ou dispersão dos machos.

Estudando um pequeno fragmento com predomínio de Mata Atlântica localizado no Espírito Santo, Passamani et al. (2005) encontraram 20 espécies de mamíferos, sendo os pequenos roedores representados por apenas três espécies, enquanto que os marsupiais, por oito espécies. Este dado diferiu dos obtidos em outras áreas de Mata Atlântica, onde a riqueza de espécies de roedores, via de regra, é maior do que a de marsupiais.

Segundo Vivo (1998), o estudo da ecologia dos mamíferos sul-americanos e dos brasileiros tem sido intensificado nos últimos anos, após séculos de simples inexistência. Todavia, a grande maioria das pesquisas é realizada com primatas.

Não é a intenção do autor diminuir a importância da pesquisa primatológica, mas o mesmo enfatiza que a compreensão dos padrões de funcionamento dos ecossistemas, no que tange ao papel dos mamíferos, somente será esclarecido com mais informações sobre um maior número de espécies habitando diferentes estratos, não somente o arbóreo. Pardini; Umetsu (2006) afirmam que além de sua importância numérica, o conjunto das informações sobre a ecologia das espécies e das comunidades de pequenos mamíferos não-voadores indica que marsupiais e pequenos roedores exercem influência importante na dinâmica das florestas

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neotropicais, e são bons indicadores tanto de alterações locais do habitat como de alterações da paisagem.

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3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Área de Estudo

O estudo foi conduzido em um pequeno fragmento de Mata Atlântica, localizado no Lar Nazaré, instituição de cunho assistencial da Sociedade Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora. A propriedade situa-se na localidade do Lami, na RS 118, município de Viamão, Rio Grande do Sul, entre as coordenadas 30°14’S e 51°02’W. Conforme Sabedot, Cademartori (2005), reconhecem-se, na área, distintas formações fitofisionômicas. Tais formações expressam, segundo os autores, mudanças na cobertura e composição de espécies vegetais como resultado das distintas atividades antrópicas ali desenvolvidas (figura 1). Há um fragmento de mata nativa, arborescente ou alto, consideravelmente heterogêneo, de cerca de 3,8 ha, onde ainda se encontram figueiras de grande porte, cactos de dimensões arbóreas e relativa abundância de epífitos da família Bromeliaceae. Há também uma formação transitória, conhecida como “vassoural”, de porte arbustivo, a qual se mistura com uma formação aberta, de campo, entremeada de blocos de granito. Duas áreas de plantio de espécies exóticas são também observadas na propriedade, uma com o pinheiro americano, Pinnus ellioti, outra com Eucalyptus sp, com aproximadamente 2 e 3 hectares, respectivamente.

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Figura 1. Fotocomposição da área de estudo, demarcada pelo retângulo. Fonte:

Metroplan apud Sabedot, Cademartori (2005).

3.2 Procedimento de amostragem

Inicialmente, foram efetuadas amostragens ao longo de quatro noites consecutivas, no período de julho a outubro de 2006. Para tanto, foram utilizadas 35 armadilhas do tipo Tomahawk de dois tamanhos (9x9x22cm e 14x14x30cm), distribuídas a cada 10 m, ao longo de um transecto, percorrendo a extremidade do fragmento de mata nativa até o interior do plantio de eucalipto. No período de março a junho de 2007, foram realizadas mais quatro saídas a campo mensais, com duração de quatro noites consecutivas cada uma. No fragmento de mata nativa, foram dispostas 40 armadilhas, eqüidistantes 15 m, sob a forma de grade, distribuídas em 4 linhas com 10 estações de captura em cada uma. As armadilhas utilizadas foram do tipo Tomahawk de dois tamanhos (9x9x22cm e 14x14x30cm).

No segundo semestre de 2006, o esforço de captura correspondeu a 403 armadilhas-noite e no primeiro semestre de 2007, a 596 armadilhas-noite, totalizando um esforço de 999 armadilhas-noite.

Como isca, utilizou-se fatias de batata-doce cobertas com manteiga de amendoim (amendocrem). A exposição das armadilhas iniciava na manhã do primeiro dia de cada saída e estendia-se até a manhã do quinto dia subseqüente. As

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armadilhas eram revisadas a cada manhã para a verificação de capturas, troca de iscas ou correção de eventuais problemas ocorridos.

Mediante a captura de animais, procedia-se com a determinação da espécie, do sexo, observação de indicadores do estado reprodutivo (mamas aparentes, testículos escrotados e abertura do orifício vaginal), registro do ponto de captura, pesagem, medição do comprimento da cauda, comprimento total (cabeça-corpo), orelha direita e comprimento do pé direito. Posteriormente, fixava-se um brinco metálico numerado no pavilhão auditivo direito e liberava-se o espécime no ponto de captura.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De julho a outubro de 2006, foram efetuadas capturas tanto no fragmento de mata nativa quanto no plantio de eucalipto, enquanto que no período de março a junho de 2007 as capturas foram restritas ao fragmento de mata nativa. Apenas roedores da subfamília Sigmodontinae foram capturados em ambos os períodos de amostragem.

Na primeira etapa de amostragem, foram capturados 19 indivíduos pertencentes às espécies Akodon montensis, Oligoryzomys nigripes e Sooretamys angouya. Dois indivíduos foram recapturados durante esse mesmo período, totalizando 21 capturas. O percentual de recapturas e o sucesso de captura corresponderam, respectivamente, a 9,5% e 5,2%.

Na segunda etapa, foram capturados quatro indivíduos da espécie Sooretamys angouya, totalizando seis capturas, duas das quais consistiram em recapturas. O percentual de recapturas foi equivalente a 33,3% e o sucesso de captura, a 1%.

4.1 Ordem Rodentia

O amplo escopo de atividades e dietas fazem dos roedores a ordem mais diversa de mamíferos atualmente: há cerca de 2.050 espécies de roedores no mundo todo, quantidade próxima de todas as outras espécies de mamíferos combinadas, algo em torno de 2.550 e quase duas vezes mais que a segunda maior ordem, Chiroptera (EMMONS, FEER; 1997). De 4.629 espécies de mamíferos reconhecidas por Wilson e Reeder mundialmente, os roedores representam 43% da

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diversidade de espécies (HONEYCUTT, 2003), sendo listados para o Brasil, a ocorrência de 71 gêneros e 235 espécies (OLIVEIRA, BONVICINO; 2006).

Vivendo em ambientes muito diversificados, incluem formas cursoriais, escansoriais, fossoriais, semi-aquáticas, aquáticas e arborícolas, cada qual apresentando um conjunto de adaptações que permite explorar de forma eficiente os distintos ambientes. Em sua maioria, apresentam hábitos noturnos ou crepusculares.

(CADEMARTORI, 2005).

Muitas espécies de roedores são herbívoras e alimentam-se tanto de variedades diferentes de plantas quanto de seus derivados, como sementes e brotos. Alguns são insetívoros e outros comem insetos aquáticos, moluscos e peixes. Há ainda os que possuem uma dieta mais onívora, ingerindo uma variedade de insetos, vermes, ovos e frutos (HONEYCUTT, 2003).

A estrutura social em roedores é altamente variável. Algumas espécies são solitárias, enquanto outras são mais sociais. Muitas das espécies fossoriais tendem a ocupar sistemas de túneis que não são conectados com outros, exceto para machos e fêmeas em época de reprodução. Outras apresentam um determinado grau de sociabilidade, como a sobreposição de seus sistemas de túneis. Há ainda aquelas cuja ocupação da toca por múltiplos indivíduos geralmente é restrita apenas à mãe e suas crias. Outras espécies tendem a ser gregárias, vivendo em colônias com uma estrutura bem definida de fêmeas relacionadas que permanecem com seu grupo natal e machos que se dispersam para grupos vizinhos. O número e o tamanho de grupo em roedores são influenciados por muitos fatores relacionados à disponibilidade de recursos e o custo de dispersão (HONEYCUTT, 2003).

4.2 Akodon montensis Thomas, 1913

A. montensis teve o total de sete indivíduos capturados exclusivamente no plantio de eucalipto. Segundo registros encontrados na literatura, esta é uma espécie cosmopolita, comum e freqüentemente observada em ambientes secos.

A. montensis é uma espécie abundante, encontrada ao longo de todo o ano.

Possui hábito terrestre e é insetívora-granívora, sendo que artrópodes e sementes também fazem parte de sua dieta. O comprimento total varia de 175 a 230 mm. A pelagem dorsal apresenta uma coloração marrom-escura, mais clara nas laterais do

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corpo, e a pelagem ventral, um tom ocre-claro; a base de todos os pêlos apresenta um tom cinza-chumbo. A cauda, com comprimento menor do que a cabeça e corpo reunidos, é pouco pilosa e fracamente bicolor, sendo dorsalmente mais escura (CADEMARTORI et al., 2002; CADEMARTORI et al., 2003; FONSECA et al., 1996;

SOUZA et al., 2004).

O período de atividade desta espécie compreende principalmente o início ou o final da noite, caracterizando-se como uma espécie noturna com padrão bicrepuscular de atividade. Habita formações florestais, áreas abertas adjacentes e campos de altitude ao longo de toda a Mata Atlântica, Campos do Sul, áreas florestais da Caatinga, e formações vegetais abertas e fechadas do Cerrado.

Geralmente, este gênero se encontra como a espécie sobressalente perante outras ocorrentes em florestas úmidas e áreas abertas (GRAIPEL et al., 2003; EMMONS, FEER, 1997; 2003; OLIVEIRA, BONVICINO, 2006).

4.3 Sooretamys angouya [= Oryzomys angouya (G. Fischer, 1814)]

Musser et al. (1998) promoveram uma extensa revisão de 10 espécies pertencentes ao gênero Oryzomys, anteriormente consideradas parte do complexo O. capito, através de análises de exemplares coletados, materiais de museus, anotações de campo, revisão bibliográfica, cariotipagem, entre outros métodos. No referido estudo, os autores estabelecem a sinonímia entre O. ratticeps e O. angouya, definindo este último como sinônimo sênior. Posteriormente, Weksler et al. (2006) constataram que espécies referidas como pertencentes ao gênero Oryzomys não compunham um grupo monofilético. Em virtude disso, foram nomeados 10 novos gêneros para incluir essas espécies. A maioria dos clados apresentados havia sido reconhecida, de uma forma ou de outra, por muitos anos, normalmente contemplando “grupos” de espécies ou “complexos”. Entre os resultados, é proposta uma nova combinação para O. angouya, Sooretamys angouya.

Foram capturados sete indivíduos de S. angouya exclusivamente no fragmento de mata nativa. Feliciano et al. (2002) relatam que espécies da Mata Atlântica, tal como S. angouya neste estudo, não conseguem se dispersar para áreas mais abertas, onde geralmente são dominadas por espécies generalistas, o que viria a

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explicar o fato desta espécie ter sido constatada apenas no fragmento de Mata Atlântica em ambos os períodos de amostragem.

S. angouya possui pelagem dorsal que varia do castanho-escuro ao castanho-avermelhado ou ao amarelado, com pêlos mais claros na lateral e limite bem ou pouco definido com o ventre, cuja pelagem é abruptamente pálida, superficialmente esbranquiçada ou amarelada, mas com pêlos sempre com aparência acinzentada. As patas são longas e estreitas, geralmente com a superfície superior recoberta de pêlos claros, e a cauda é pouco pilosa, unicolorida, toda preta e muito maior que o comprimento da cabeça e corpo juntos. Possui um comprimento médio total de 393,5 mm (355-424mm). Esta espécie está presente na maioria das florestas úmidas tropicais e subtropicais do litoral do Brasil e no interior de florestas úmidas do oeste do Paraguai e norte da Argentina. Ocorre em vegetação alterada e preservada, podendo ser comum, mas não abundante (CADEMARTORI et al., 2003;

OLIVEIRA, BONVICINO, 2006; UMETSU, PARDINI, 2006; WEKSLER et al., 2006).

Devido à presença de cauda longa, patas traseiras bem desenvolvidas e sua capacidade de saltar, esta espécie foi associada ao hábito escalador por Bueno (2003). É considerada uma espécie com hábitos terrestres, dieta onívora, constituindo-se de frutos, brotos e sementes (BONVICINO 1997; FONSECA et al., 1996; OLIVEIRA, BONVICINO, 2006), sendo freqüentemente capturada em armadilhas ao nível do solo, embora haja estudos que citam sua ocorrência acima do solo (CADEMARTORI et al., 2002; CHEREM, PEREZ; 1996; GRAIPEL et al., 2006; UMETSU, PARDINI; 2006). Neste estudo, ao efetuar-se a soltura, foi observado que os espécimes escalavam árvores no momento da fuga, o que não há relato na literatura atual. A presença de registros de capturas acima do solo, abrangem em sua maioria de 1,0 a 2,5 metros de altura. Apesar destes registros possuírem alturas relativamente baixas ao comportamento observado em campo, estes dados poderiam estar correlacionados a um hábito ainda desconhecido para esta espécie.

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4.4 Oligoryzomys nigripes (Olfers, 1818)

Foram capturados nove indivíduos de O. nigripes em ambos os ambientes. O.

nigripes apresentou-se como a espécie mais abundante na área de estudo, compreendendo cerca de 39% dos indivíduos capturados.

As espécies deste gênero têm tamanho pequeno e cauda geralmente muito maior que o corpo. O comprimento total varia de 161 a 270 mm. A coloração do dorso varia de castanho-avermelhada a amarelada, com as laterais mais claras, com limite definido ou pouco definido com a coloração do ventre, que é esbranquiçada ou amarelada. Os olhos são relativamente grandes, as patas são longas e finas, cobertas de pequenos pêlos claros, e a cauda é fina e pouco pilosa. As orelhas são longas (> 14 mm) e esparsamente cobertas por pêlos. Os indivíduos de uma mesma população apresentam uma notável variação na coloração, o que pode ser atribuído a diferenças de idade, mas não ao sexo (CADEMARTORI et al., 2003; OLIVEIRA, BONVICINO, 2006).

O. nigripes possui hábito escansorial e uma dieta frugívora-granívora. Constrói ninhos a 1,5 m acima do solo ou mais, em ninhos abandonados de pássaros ou em ocos de árvores vivas ou mortas. Habita formações florestais e abertas da Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pantanal. Bueno (2003) associou a capacidade de salto, as patas traseiras bem desenvolvidas e a cauda longa com uma possível habilidade escaladora. Algumas espécies deste gênero têm ampla distribuição geográfica, ocorrem em vegetação alterada ou preservada, podendo ser comuns, mas não abundantes (FONSECA et al., 1996; OLIVEIRA, BONVICINO, 2006).

4.5 Considerações quanto às capturas de roedores

Comparativamente, houve maior número de capturas durante o primeiro período de amostragem, apesar do mais baixo esforço. Do total de 23 indivíduos capturados, 11 capturas foram efetuadas no plantio de eucalipto e oito na mata nativa, durante o segundo semestre de 2006, de acordo com a figura 2, enquanto que no segundo período de amostragem houve a captura de quatro indivíduos na mata nativa, conforme apresentado na figura 3.

(23)

22

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

jun/06 jul/06 ago/06 set/06 out/06

Número de capturas

Capturas Recapturas

Figura 2. Número de capturas obtidas de julho a outubro de 2006 no Lar Nazaré (30°14’S, 51°02’W).

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

mar/07 abr/07 mai/07 jun/07

Número de capturas

Capturas Recapturas

Figura 3. Número de capturas obtidas de março a junho de 2007 no Lar Nazaré (30°14’S, 51°02W).

O baixo número de capturas obtido no primeiro semestre de 2007 pode ser uma resposta dos roedores à estrutura do ambiente, uma vez que este apresenta sub-bosque e vegetação arbustiva escassos, os quais, em geral, promovem proteção contra predadores. No primeiro período de amostragem, ao realizar-se estudo comparativo entre o plantio de eucalipto e o fragmento de mata nativa, verificou-se maior abundância de roedores no plantio, onde os estratos anteriormente referidos são mais desenvolvidos. Conforme estudos realizados em áreas de Mata Atlântica, parece haver uma certa relação entre a complexidade vegetal e a abundância de pequenos mamíferos (PARDINI et al., 2005; PARDINI, UMETSU; 2006). A ação antrópica que esta área sofreu provavelmente modificou

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muito a complexidade original, podendo ter reduzido a riqueza de espécies na área e causado a diminuição do tamanho das populações remanescentes. E, ainda, tratando-se de um pequeno fragmento de Mata Atlântica, deve ser ressaltado que além de se encontrar em um nível de perturbação muito elevado, está relativamente isolado, sugerindo que o tamanho não comporte populações sustentáveis de pequenos mamíferos. Essas populações podem estar constituídas por baixo número de indivíduos, o que aumenta a probabilidade de endocruzamentos e, conseqüentemente, resulta em perda de variabilidade genética e maior risco de extinção local. Cabe também considerar um padrão de metapopulação, no qual este fragmento de mata nativa poderia desempenhar algum papel na dispersão de indivíduos. Entretanto, tal hipótese deve ser investigada com a aplicação de metodologia apropriada.

A espécie mais abundante durante o estudo foi O. nigripes, seguida por S.

angouya e A. montensis. Apesar do esforço amostral ter sido maior no fragmento de mata nativa do que no plantio de eucalipto, não houve grande diferença em relação ao número de capturas nos dois ambientes (tabela 1).

Tabela 1. Espécies capturadas por ambiente, de junho de 2006 a junho de 2007, no Lar Nazaré (30°14’S, 51°02W).

Captura Total Espécie

Plantio de Eucalipto Fragmento de Mata Nativa

Total

Akodon montensis Oligoryzomys nigripes Sooretamys angouya Total

7 4 - 11

- 5 7 12

7 9 7 23

Houve maior captura de machos do que de fêmeas, com 16 e seis indivíduos, respectivamente, excluindo-se um que escapou no momento da averiguação. Em nenhum espécime foi possível identificar alguma característica que indicasse atividade reprodutiva. O padrão observado difere daquele encontrado por Graipel et al. (2006) em fragmentos florestais isolados, em que fêmeas foram mais abundantes. No entanto, este fato corrobora os resultados obtidos pelos mesmos autores em extensões florestais maiores e segundo os quais a maior capturabilidade de machos normalmente é atribuída ao maior deslocamento apresentado por indivíduos do sexo masculino nas espécies de mamíferos.

(25)

24

Dos 23 indivíduos amostrados, quatro foram recapturados, dois durante o primeiro período do estudo e outros dois no segundo, correspondendo a cerca de 17,3% do total de capturas. Ocorreu maior número de recapturas de fêmeas, com um exemplar de cada uma das três espécies registradas, em relação a apenas um macho de S. angouya. Os espécimes recapturados no primeiro período apresentaram deslocamento linear, já os do segundo período foram recapturados na mesma estação de captura, como pode ser observado na tabela 2. O. nigripes apresentou o maior deslocamento em relação às demais espécies, seguido de A.

montensis. Este fato pode estar associado ao hábito locomotor de cada uma das espécies, conferindo maior capacidade de deslocamento a O. nigripes, cujo hábito é escansorial (FONSECA et al., 1996), enquanto A. montensis possui hábito essencialmente terrícola (CADEMARTORI et al., 2003). Outro fator a ser considerado refere-se ao ambiente em que os indivíduos foram recapturados.

Percebe-se que os deslocamentos ocorreram no plantio de eucalipto apenas. Isso provavelmente é explicado mais uma vez pela existência de estrato arbustivo e sub- bosque mais desenvolvidos no referido ambiente, fornecendo às espécies uma maior proteção para a realização de suas atividades.

Tabela 2. Recapturas obtidas, por ambiente, de junho de 2006 a junho de 2007, no Lar Nazaré (30°14’S, 51°02’W).

Espécie Área capturada Deslocamento

Akodon montensis

Oligoryzomys nigripes

Sooretamys angouya

Plantio de eucalipto Plantio de eucalipto Fragmento de mata nativa Fragmento de mata nativa

10 m 40 m nenhum nenhum

(26)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conservação da Mata Atlântica enfrenta grandes desafios devido a sua crescente destruição, ocasionada em parte pelos atuais modelos expansionistas urbanos. Apesar deste bioma provavelmente possuir o maior número de áreas de proteção integral na América do Sul, estas apresentam-se ineficazes quanto ao tamanho da área protegida para persistência de populações em longo prazo.

A Mata Atlântica apresenta uma grande diversidade de mamíferos e, apesar da progressiva e desenfreada destruição, ainda assim permanece como um dos ecossistemas mais ricos em espécies da mastofauna. Diversas espécies foram descobertas nos últimos anos e, segundo perspectivas na literatura, ainda há espécies a serem catalogadas, em especial roedores, marsupiais e morcegos.

Ainda há lacunas de conhecimento no que diz respeito à Mata Atlântica, o que contribui para a falta de preservação e conservação deste bioma e, por conseqüência, das espécies que nele ocorrem. Há poucas pesquisas e inventariamentos em desenvolvimento, bem como políticas governamentais e incentivos que visem a reverter esse quadro e subsidiar medidas e ações que promovam a conservação do ecossistema.

A área de estudo representa um fragmento do Domínio Mata Atlântica, o qual sofreu uma intensa degradação através da substituição de mata nativa por espécies exóticas de Pinnus ellioti e Eucaliptus sp. Tais alterações parecem ter influenciado a riqueza e abundância de espécies na área, de modo que o fragmento em questão provavelmente não sustente mais populações viáveis de pequenos mamíferos, levando a uma progressiva diminuição destas e sua conseqüente extinção local.

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26

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