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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 697.105 - RS (2004/0117927-8) RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER RECORRENTE : ATHOS CARLOS PISONI

ADVOGADO : RONALDO FARINA

RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL EMENTA

PENAL. RECURSO ESPECIAL. DESCAMINHO. ART. 499, DO CPP.

ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO ANTES DE CUMPRIDA A CARTA PRECATÓRIA. ART. 222, DO CPP. DOSIMETRIA DA PENA. INQUÉRITOS E PROCESSOS EM ANDAMENTO. NÃO CONFIGURAM MAUS ANTECEDENTES.

DOCUMENTOS JUNTADOS NAS RAZÕES DA APELAÇÃO. MATÉRIA NÃO

APRECIADA PELO TRIBUNAL A QUO. AUSÊNCIA DE

PRÉ-QUESTIONAMENTO. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO PRETÓRIO EXCELSO. AUSÊNCIA DE PROVAS PARA A CONDENAÇÃO.

PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA Nº 7/STJ.

I - A expedição de carta precatória para a inquirição de testemunha não tem o condão de suspender a instrução criminal, podendo o feito, inclusive, ser sentenciado se findo o prazo marcado para seu cumprimento - art. 222, §§1º e 2º, do CPP (Precedentes).

II - Em respeito ao princípio da presunção da inocência, inquéritos e processos em andamento não podem ser considerados como maus antecedentes para exacerbação da pena-base (Precedentes do Pretório Excelso e do STJ).

III - Questões não apreciadas no v. acórdão increpado desmerecem exame por ausência do devido prequestionamento (Súmulas nº 282 e 356/STF).

IV - A alegação de ofensa direta a texto constitucional não pode ser analisada em recurso especial, sendo de competência do Pretório Excelso.

V- Não se conhece de recurso especial que, para o seu objetivo, exige o reexame da quaestio facti (Súmula nº 7 - STJ).

Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte, parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso e, nessa parte, dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Gilson Dipp, Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima e José Arnaldo da Fonseca votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 07 de junho de 2005 (Data do Julgamento).

MINISTRO FELIX FISCHER Relator

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 697.105 - RS (2004/0117927-8)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Trata-se de recurso especial interposto por Athos Carlos Pisoni, com fundamento no artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Lex Fundamentalis, em face de v. acórdão prolatado pelo e. Tribunal Regional Federal da 4ª Região que, por votação unânime, deu parcial provimento à apelação defensiva.

O retrospecto está bem delineado no parecer ministerial de fls. 1580/1586, verbis:

"Trata-se de recurso especial, fundado nas alíneas a e c do permissivo constitucional, interposto por Athos Carlos Pisoni contra acórdão da Sétima Turma do eg.

Tribunal Regional Federal da 4ª Região que, à unanimidade, deu parcial provimento à apelação da defesa apenas para reduzir a pena e substituir a reprimenda cominada por duas restritivas de direitos e, de oficio, declarar extinta a punibilidade do réu quanto a um dos fatos (internação ilegal de armas de fogo ocorrida em abril de 1995), deixando afastadas as alegações de nulidade do processo por cerceamento de defesa e de insuficiência de provas para a imputação. A ementa do julgado guarda o seguinte teor (fl.1625):

“PENAL. PROCESSO PENAL. INTRODUÇÃO IRREGULAR DE ARMAS. ARTIGO 334 DO CÓDIGO PENAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. AUTORIA. COMPROVAÇÃO.

CRIME TENTADO. HIPÓTESE NÃO-CARACTERIZADA. PENA.

CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. CONTINUIDADE DELITIVA. MAJORANTE DO § 3° DO ARTIGO 334. INAPLICABILIDADE. SUBSTITUIÇÃO POR RESTRITIVAS DE DIREITOS.

1. Regularmente aberto às partes o prazo do artigo 499 do Código de Processo Penal, não há falar em nulidade do processo por cerceamento de defesa. A expedição de carta precatória para a inquirição de testemunha não tem o condão de suspender a instrução criminal, podendo o feito ser inclusive sentenciado, findo o prazo marcado para o seu cumprimento.

2. Comprovada, pelos elementos constantes dos autos, a participação de todos os acusados na prática delituosa, imperiosa a manutenção do decreto condenatório.

3. Já tendo havido a liberação da mercadoria no momento da prisão em flagrante, não resta caracterizada a hipótese de delito tentado.

4. Penas privativas de liberdade fixadas em consonância com as circunstâncias do artigo 59 do Diploma Penal, mas redimensionadas no tocante ao aumento decorrente da continuidade delitiva, devido ao número de fatos comprovados.

5. Inaplicável a majorante prevista no § 3° do artigo 334 do Código Penal quando o transporte, apesar de efetuado por via aérea, se dá em vôo regular, em circunstâncias que não tornam mais difícil a atuação

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da autoridade fiscal. Precedente desta Corte.

6. Sendo a pena privativa de liberdade superior a um ano, correta a sua substituição por duas penas restritivas de direito, e não por apenas uma, conforme o disposto no artigo 44, § 2°, do CP.

7. Apelos parcialmente providos. Punibilidade declarada extinta em decorrência da prescrição em relação a um dos fatos.”

2. Em suas razões, alega o recorrente negativa de vigência ao art. 499 do Código de Processo Penal, aduzindo cerceamento de defesa por ter sido intimado para a fase de que trata o referido dispositivo legal malgrado ainda pendente a inquirição de testemunha na Comarca de Sapiranga e, portanto, não encerrada a instrução criminal.

3. Com relação à dosimetria da pena, aponta que o agravamento é mera decorrência de equivocada avaliação das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal. Assevera que não podem ser considerados como maus antecedentes inquéritos e ações penais já arquivados, alusivos a episódios de perturbação do sono, ameaça e denunciação caluniosa.

4. Sustenta a defesa, ainda, ofensa ao princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório (CF, art. 5º, LV). Relata que foram juntadas às razões de apelação, em virtude do prejuízo sofrido pela inobservância do art. 499 do Código de Processo Penal, documentos novos fornecidos pela fábrica Perazzi, sediada na Itália, com a indicação das pessoas que lá adquiriram as armas e as internaram no país, sem qualquer participação do recorrente. Todavia, prossegue, nenhuma linha a respeito do alegado se verifica no voto condutor do acórdão recorrido.

5. Em outra frente, salienta o defensor que os elementos de convicção extraídos dos testemunhos apontam não ter sido o recorrente um dos co-autores do crime descrito na inicial acusatória, sendo injusto condenar um indivíduo com base em meras suspeitas. Diz, também, não servir a delação, na hipótese, o depoimento prestado pelo co-réu Aírton Adolfo Haag, como prova incriminatória para lastrear o decreto condenatório.

6. Argúi, outrossim, dissenso jurisprudencial (fls. 1513/1529)"

(fls.1580/1582).

Contra-razões às fls. 1553/1561.

Admitido na origem, ascenderam os autos a esta Corte (fl. 1571).

A douta Subprocuradoria-Geral da República, às fls. 1580/1586, se manifestou pelo parcial conhecimento do recurso e, nesta parte, pelo seu desprovimento, em parecer assim ementado:

"PENAL. PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL.

INTERNAÇÃO ILEGAL DE ARMAS DE FOGO. CP, ART. 334.

CERCEAMENTO DE DEFESA (NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ART. 499 DO CPP). INEXISTÊNCIA. EXPEDIÇÃO DE CARTA PRECATÓRIA.

TRANSCURSO DO PRAZO MARCADO PARA O SEU CUMPRIMENTO.

PROLAÇÃO DE SENTENÇA. POSSIBILIDADE. CPP, ART. 222, § 2°.

DOSIMETRIA DA PENA. CONSIDERAÇÃO, PELAS INSTÂNCIAS

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ORDINÁRIAS, COMO MAUS ANTECEDENTES, DE INQUÉRITOS E AÇÕES PENAIS EM ANDAMENTO OU JÁ ARQUIVADAS. ENTENDIMENTO ALBERGADO PELO EXCELSO PRETÓRIO. PRECEDENTES. ALEGADA OFENSA AO POSTULADO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.

TEMA PRÓPRIO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. JUNTADA DE DOCUMENTOS NOVOS. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.

MATÉRIA NÃO APRECIADA. INSUFICIÊNCIA DOS ELEMENTOS DE CONVICÇÃO E IMPRESTABILIDADE DA DELAÇÃO DE CO-RÉU.

REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. ÓBICE DA SÚMULA N° 7 DO STJ. DISSENSO JURISPRUDENCIAL INDEMONSTRADO. PARECER PELO CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO E, NESSA EXTENSÃO, PELO SEU DESPROVIMENTO" (fl. 1580).

É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 697.105 - RS (2004/0117927-8)

EMENTA

PENAL. RECURSO ESPECIAL.

DESCAMINHO. ART. 499, DO CPP.

ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO ANTES DE CUMPRIDA A CARTA PRECATÓRIA. ART. 222, DO CPP. DOSIMETRIA DA PENA. INQUÉRITOS E

PROCESSOS EM ANDAMENTO. NÃO

CONFIGURAM MAUS ANTECEDENTES.

DOCUMENTOS JUNTADOS NAS RAZÕES DA APELAÇÃO. MATÉRIA NÃO APRECIADA PELO

TRIBUNAL A QUO. AUSÊNCIA DE

PRÉ-QUESTIONAMENTO. MATÉRIA

CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO

PRETÓRIO EXCELSO. AUSÊNCIA DE PROVAS

PARA A CONDENAÇÃO. PEDIDO DE

ABSOLVIÇÃO. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.

SÚMULA Nº 7/STJ.

I - A expedição de carta precatória para a inquirição de testemunha não tem o condão de suspender a instrução criminal, podendo o feito, inclusive, ser sentenciado se findo o prazo marcado para seu cumprimento - art. 222, §§1º e 2º, do CPP (Precedentes).

II - Em respeito ao princípio da presunção da inocência, inquéritos e processos em andamento não podem ser considerados como maus antecedentes para exacerbação da pena-base (Precedentes do Pretório Excelso e do STJ).

III - Questões não apreciadas no v. acórdão increpado desmerecem exame por ausência do devido prequestionamento (Súmulas nº 282 e 356/STF).

IV - A alegação de ofensa direta a texto constitucional não pode ser analisada em recurso especial, sendo de competência do Pretório Excelso.

V- Não se conhece de recurso especial que, para o seu objetivo, exige o reexame da quaestio facti (Súmula nº 7 - STJ).

Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte, parcialmente provido.

VOTO

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O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Inicialmente, não se verifica a violação ao art. 499, do Código de Processo Penal. Alega o recorrente que não teria sido observada a lei processual, pois teria havido a intimação para a fase de diligências (art. 499, do CPP) sem estar encerrada a inquirição das testemunhas. Ocorre que tal procedimento, no caso concreto, está de acordo com a lei processual penal, consoante se depreende do art. 222, §§1º e 2º, do CPP, verbis:

"Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes.

§1º A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.

§2º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos" (grifei).

Vale dizer, a expedição de carta precatória para a inquirição de testemunha não tem o condão de suspender a instrução criminal, podendo o feito, inclusive, ser sentenciado se findo o prazo marcado para seu cumprimento.

No caso, conforme consignado na r. sentença condenatória e no v. acórdão vergastado, a intimação para a fase do 499 só se deu após vencido o prazo para o cumprimento das precatórias expedidas; logo, de acordo com a lei.

Nesse sentido, os seguintes precedentes:

"RECURSOS ESPECIAIS. CARTA PRECATÓRIA.

APRESENTAÇÃO DE ALEGAÇÕES FINAIS ANTES DE SUA DEVOLUÇÃO.

NULIDADE. INEXISTÊNCIA. SENTENÇA DE PRONÚNCIA. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DA ACUSAÇÃO PERANTE O TRIBUNAL DO JÚRI.

EXCESSO NÃO EVIDENCIADO. IMPROVIMENTO.

1. À luz do disposto no artigo 222, parágrafos 1º e 2º, do Código de Processo Penal, e consoante entendimento jurisprudencial, a expedição de precatória para oitiva de testemunha não suspende a instrução criminal, não havendo falar em nulidade em face da abertura de prazo para apresentação das alegações finais.

2. A fundamentação das decisões do Poder Judiciário, tal como resulta da letra do inciso IX do artigo 93 da Constituição da República, é condição absoluta de sua validade e, portanto, pressuposto da sua eficácia, substanciando-se na definição suficiente dos fatos e do direito que a sustentam, de modo a certificar a realização da hipótese de incidência da norma e os efeitos dela resultantes.

3. Tal fundamentação, para mais, deve ser deduzida em relação necessária com as questões de direito e de fato postas na pretensão

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e na sua resistência, dentro dos limites do pedido, não se confundindo, de modo algum, com a simples reprodução de expressões ou termos legais, postos em relação não raramente com fatos e juízos abstratos, inidôneos à incidência da norma invocada.

4. A motivação da pronúncia é condição de sua validade e não vício que lhe suprima a eficácia, limitando-a, contudo, em intensão e extensão, a sua natureza específica de juízo de admissibilidade da acusação perante o Tribunal do Júri. É que, versando sobre o mesmo fato-crime e sobre o mesmo homem-autor, nos processos do júri, o judicium accusationis tem por objeto a admissibilidade da acusação perante o Tribunal Popular e o judicium causae o julgamento dessa acusação por esse Tribunal Popular, do que resulta caracterizar o excesso judicial na pronúncia, usurpação da competência do Tribunal do Júri, a quem compete, constitucionalmente, julgar os crimes dolosos contra a vida (Constituição da República, artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea "d").

5. A observância, portanto, dos limites da pronúncia pelo magistrado, enquanto juízo de admissibilidade da acusação perante o Tribunal do Júri, é elemento da condição de validade da pronúncia que se substancia na sua motivação.

6. Não há falar em excesso de motivação da decisão de pronúncia, limitando-se o magistrado a reconhecer a existência de indícios suficientes a autorizar a submissão dos réus ao julgamento do Tribunal Popular.

7. Recursos especiais improvidos"

(REsp 422719/AC, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJU de 02/02/2004).

"PROCESSUAL PENAL. HABEAS-CORPUS . EXCESSO DE PRAZO. RAZOABILIDADE. ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO. SÚMULA N. 52 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CARTA PRECATÓRIA.

FALTA DE DEVOLUÇÃO. ART. 222, §2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

- Embora a lei processual penal estabeleça prazos mínimos para a formação da culpa na hipótese de réu sob custódia preventiva, a jurisprudência pretoriana, à luz do princípio da razoabilidade, tem proclamado o entendimento de que não consubstancia constrangimento ilegal a ultrapassagem desse prazo nos casos em que a ação penal revela acentuada complexidade.

- Perde consistência a alegação de constrangimento ilegal por excesso de prazo na formação da culpa se da peça informativa consta que o sumário foi encerrado, incidindo o comando expresso na Súmula 52, do STJ.

- Conforme dispõe o art. 222, §2º, a expedição de carta precatória não sobresta a instrução processual, podendo até haver o julgamento da causa antes da devolução da precatória.

- Recurso ordinário desprovido"

(RHC 11886/SC, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente Leal, DJU de 04/02/2002).

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Por outro lado, quanto à violação ao art. 59, do CP, tenho que a insurgência procede, afinal, a jurisprudência dos Tribunais Superiores vem se consolidando no sentido de que a anotação de inquéritos e processos em andamento não pode ser considerada como maus antecedentes.

Nesse sentido, os seguintes precedentes do Pretório Excelso:

"O ato judicial de fixação da pena não poderá emprestar relevo jurídico-legal a circunstâncias que meramente evidenciem haver sido o réu submetido a procedimento penal-persecutório, sem que deste haja resultado, com definitivo trânsito em julgado, qualquer condenação de índole penal. A submissão de uma pessoa a meros inquéritos policiais ou, ainda, a persecuções criminais de que não haja derivado qualquer titulo penal condenatório, não se reveste de suficiente idoneidade jurídica para justificar ou legitimar a especial exacerbação da pena. Tolerar-se o contrário implicaria admitir grave lesão ao principio constitucional consagrador da presunção de não-culpabilidade dos réus ou dos indiciados (CF, art. 5., LVII). É inquestionável que somente a condenação penal transitada em julgado pode justificar a exacerbação da pena, pois, com ela, descaracteriza-se a presunção "juris tantum" de não-culpabilidade do réu, que passa, então - e a partir desse momento - a ostentar o "status"

jurídico-penal de condenado, com todas as conseqüências legais dai decorrentes. Não podem repercutir contra o réu situações jurídico-processuais ainda não definidas por decisão irrecorrível do poder judiciário, especialmente naquelas hipóteses de inexistência de titulo penal condenatório definitivamente constituído"

(STF – HC 68465/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJU 21.02.92).

"PENA-BASE EXACERBAÇÃO ANTECEDENTES CRIMINAIS. Provado que em ações anteriores o réu foi absolvido, bem como o arquivamento de um outro processo, ao que tudo indica concernente a inquérito, insubsistente exsurge provimento judicial baseado nos maus antecedentes criminais, cuja inexistência revela-se nas absolvições"

(STF – HC 72041//RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, DJU de 08.09.95).

E desta Corte:

"RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL.

MAUS ANTECEDENTES. INQUÉRITOS E PROCESSOS SEM O TRÂNSITO EM JULGADO. EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. IMPOSSIBILIDADE.

PRINCÍPIO DA NÃO-CULPABILIDADE. CONTRARIEDADE AO ART. 68 DO CP EVIDENCIADA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO.

1. Na fixação da pena-base e do regime prisional, inquéritos e processos em andamento não podem ser levados em

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consideração como maus antecedentes, em respeito ao princípio da não-culpabilidade.Precedentes do STJ e do STF.

2. Divergência jurisprudencial não demonstrada, diante da ausência do cotejo analítico necessário para evidenciar similitude fática entre o aresto vergastado e os acórdãos paradigmas entre o aresto vergastado e os acórdãos paradigmas.

4. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, parcialmente

provido"

(REsp 304521/SP, 5ª Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJU de 02/08/2004).

"PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 155, § 4º, I, II E IV, DO CÓDIGO PENAL. INQUÉRITO POLICIAL. CONSIDERAÇÃO COMO MAUS ANTECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE. CONVERSÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM RESTRITIVA DE DIREITOS. ART. 44 DO CP E LEI Nº 9.714/98.

I - Inquéritos e processos em andamento não podem ser considerados, como maus antecedentes, para fins de exacerbação da pena-base. (Precedentes desta Corte e do Pretório Excelso).

II - A atenuante do art. 65, I, do Código Penal não pode ser fundamento para fixar a resposta penal aquém do mínimo legal (Enunciado nº 231 da Súmula do STJ).

III - Encontrado-se, in casu, preenchidos os requisitos constantes do art. 44 do Código Penal, deve ser garantida ao paciente a substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos.

Writ concedido"

(HC 25122/SP, 5ª Turma, DJU de 19/12/2003).

"CRIMINAL. RESP. PORTE ILEGAL DE ARMA. PENA FIXADA NO MÍNIMO LEGAL. IMPROPRIAMENTE MAJORADA EM FACE DA EXISTÊNCIA DE INQUÉRITOS CRIMINAIS E OUTRO PROCESSO EM ANDAMENTO, CONSIDERADOS COMO MAUS ANTECEDENTES.

IMPOSSIBILIDADE. RECURSO COINHECIDO E PROVIDO.

O envolvimento em inquéritos diversos e em processo ainda em curso não pode servir como indicativo de maus antecedentes, para o aumento da pena-base. Precedentes.

Hipótese em que deve ser afastada a exacerbação pena, mantendo-a mínimo legal.

Recurso conhecido e provido, nos termos do voto do Relator"

(REsp 443779/SP, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, DJU de 09/06/2003).

"HABEAS CORPUS. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. POSSIBILIDADE DE EXAMINAR ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO EM HABEAS CORPUS. APLICAÇÃO DA PENA.

PROCESSOS EM CURSO QUE NÃO PODEM SER CONSIDERADOS COMO MAUS ANTECEDENTES. REINCIDÊNCIA COMO MAJORANTE DA PENA-BASE E AGRAVANTE GENÉRICA. OCORRÊNCIA DE BIS IN IDEM.

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Superior Tribunal de Justiça

1. Mostra-se possível, em habeas corpus, em determinadas situações, respeitados os limites do remédio constitucional, examinar alegação de constrangimento ilegal decorrente de sentença transitada em julgado.

2. Em respeito ao princípio constitucional da não-culpabilidade (artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal), processos criminais em curso não podem ser tidos como maus antecedentes, notadamente quando o sentenciado vem a ser absolvido das acusações.

3. Não deve a reincidência figurar, simultaneamente, como majorante da pena-base e agravante genérica, por infringir o sistema trifásico de aplicação da pena e o princípio do non bis in idem.

4. Ordem concedida"

(HC 20245/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJU de 07/10/2002).

"CRIMINAL. ESTELIONATO. MAJORAÇÃO DA PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO. CONSIDERAÇÃO DE INQUÉRITOS E PROCESSOS NÃO FINDOS COMO MAUS ANTECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE.

AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE AUTORIA. SÚMULA 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. FUNDAMENTOS NÃO IMPUGNADOS. SÚMULA 283 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

1. Afora casos excepcionais de caracterizada ilegalidade, fazem-se estranhos, ao âmbito do recurso especial, os pedidos de modificação ou de reexame do juízo de individualização da sanção penal, na sua quantidade e no estabelecimento do regime inicial do cumprimento da pena de prisão, enquanto requisitam análise do conjunto da prova dos autos, referentemente ao fato criminoso, às suas circunstâncias, às suas conseqüências, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade e aos motivos do agente, bem como ao comportamento da vítima, vedada pelo enunciado 7º da Súmula deste Superior Tribunal de Justiça.

2. O exame da ausência de comprovação da participação no delito, substanciando questão de prova, não pode ser perseguido na via especial.

3. É firme a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça referente à impossibilidade de, em respeito ao princípio da presunção da inocência (artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal), inquéritos e processos em andamento serem considerados como maus antecedentes para exacerbação da pena-base.

4. "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles." (Súmula do STF, Enunciado nº 283).

5. Recurso não conhecido"

(REsp 278187/TO, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJU de 27/08/2001).

"RESP - CONSTITUCIONAL - PROCESSUAL PENAL - PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA - ANTECEDENTES - INQUÉRITO POLICIAL - PROCESSO EM CURSO - O princípio da presunção de inocência significa que ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado da

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sentença penal condenatória. Vale dizer, nenhuma sanção criminal poderá ser imposta, ou extrair efeito jurídico próprio da condenação. Assim, logicamente, estar o réu indiciado, ou denunciado (em outro processo) não pode conduzir a conclusão de maus antecedentes. Constituiria, sem dúvida, condenação hipotética e antecipada.

(REsp 174578/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, DJU de 28/06/99).

Dessarte, a pena-base não poderia ter sido exacerbada em razão dos antecedentes do réu, tendo em vista não possuir, à época da sentença, condenação com trânsito em julgado.

Sustenta o recorrente, ainda, que os documentos juntados nas razões de apelação não foram objeto de apreciação por parte do e. Tribunal a quo, violando, portanto, o princípio do contraditório e da ampla defesa. Neste ponto, a súplica não merece sequer ser conhecida, tendo em vista não ter sido objeto de análise no v. acórdão reprochado, carecendo, assim, do devido prequestionamento (Súmulas nº 282 e 356/STF), bem como pelo fato de que a alegação de ofensa direta a texto constitucional não pode ser analisada em recurso especial, sendo de competência do Pretório Excelso. Nesse sentido foi a manifestação da douta Subprocuradoria-Geral da República, da qual colho o seguinte excerto, litteris:

"Constata-se, também, que o recurso especial não prospera no ponto em que se invoca violação ao postulado constitucional do contraditório e da ampla defesa- CF, art. 5º, LV. É matéria própria de recurso extraordinário. Ao egrégio Superior Tribunal de Justiça compete uniformizar o entendimento em torno da aplicação do direito federal, nos exatos termos do art. 105, III, da Carta Magna.

Não se verifica, ainda, no tópico, a observância do prequestionamento, tendo em vista que o acórdão impugnado, em nenhum momento, examinou, ao menos implicitamente, matéria concernente a supostos documentos novos fornecidos pela empresa italiana Perazzi, com a relação das pessoas que lá adquiriram as armas e as internaram ilegalmente no país.

Cabível era a oposição dos devidos embargos declaratórios a fim de prequestionar matéria não ventilada no acórdão e objeto do presente recurso especial.

Incidência, portanto, das Súmulas 282 e 356 do STF" (fls. 1584/1585).

Por fim, quanto ao último pleito, qual seja, que os elementos de convicção extraídos dos testemunhos não indicam o recorrente como um dos co-autores do crime de descaminho, sendo, portanto, injusto condená-lo com base em meras suposições e, também, que a delação feita pelo co-réu não encontra respaldo nos elementos probatórios, tenho que o recurso igualmente não merece ser conhecido, pois se percebe, sem maior esforço, que esbarra na Súmula nº 7 desta Corte, verbis: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial".

Ex positis, conheço parcialmente do recurso e, nesta parte, dou parcial

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provimento, a fim de que o e. Tribunal a quo refaça o cálculo da pena-base desconsiderando os inquéritos e processos em andamento existentes à época da prolação do édito condenatório.

É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA

Número Registro: 2004/0117927-8 REsp 697105 / RS

MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: 200104010572793 9600098050

PAUTA: 07/06/2005 JULGADO: 07/06/2005

Relator

Exmo. Sr. Ministro FELIX FISCHER Presidenta da Sessão

Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. ALCIDES MARTINS Secretário

Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO RECORRENTE : ATHOS CARLOS PISONI

ADVOGADO : RONALDO FARINA

RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

ASSUNTO: Penal - Crimes contra a Administração Pública ( art. 312 a 359 - H ) - Crime praticado por Particular contra a Administração em Geral - Contrabando ou Descaminho ( art. 334 )

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

"A Turma, por unanimidade, conheceu parcialmente do recurso e, nessa parte, deu-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator."

Os Srs. Ministros Gilson Dipp, Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima e José Arnaldo da Fonseca votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 07 de junho de 2005

LAURO ROCHA REIS Secretário

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