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Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul vol.28 número3

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Academic year: 2018

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Carta aos editores

Rev Psiquiatr RS set/dez 2006;28(3):357-8 * Pesquisa realizada no Instituto de Prevenção e Pesquisa em Álcool e

Outras Dependências (IPPAD) e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS (CEP 06/03028 em 13/03/06).

Trauma e sintomas de estresse

pós-traumático em dependentes

químicos*

Prezados Editores,

Estima-se que a prevalência de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) na população varie de 1 a 14%1, podendo alcançar

índices de 60 a 80% em populações traumatizadas2. As investigações com grupos

específicos de pessoas que procuram tratamento têm encontrado que 30 a 50% de usuários de substâncias psicoativas são portadores de TEPT3.

A exposição ao trauma é a condição sine qua non para o desenvolvimento do TEPT, e u m e s t u d o e p i d e m i o l ó g i c o a m e r i c a n o encontrou que cerca de 90% da população tinha sido exposta a algum evento traumático4.

P e l o s c o m p o r t a m e n t o s d e r i s c o , o s dependentes químicos configuram-se como um grupo de grande vulnerabilidade para traumas e TEPT.

A condição comórbida entre uso de substâncias psicoativas e TEPT tem sido, ainda, pouco estudada em nosso meio, e nos propomos a investigar a ocorrência de traumas psicossociais e presença de sintomas de TEPT em uma amostra de dependentes químicos. Foram avaliados, na primeira consulta, 23 pacientes, com, no mínimo, 1 mês de abstinência, que procuraram o Instituto de Prevenção e Pesquisa em Álcool e outras Dependências (IPPAD) para tratamento, no período de março a julho de 2006. Eles responderam à Specific Traumatic Events4, lista

de eventos, desenvolvida em acordo com os critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV) e Davidson Trauma Scale5 (DTS), que investiga freqüência

e severidade dos sintomas de TEPT.

Os pacientes são do sexo masculino, com idades entre 18 e 30 anos (39,1%), ensino fundamental incompleto (30,4%), e utilizam apenas álcool (13%). Todos apresentam dependência grave da substância psicoativa e internações hospitalares anteriores, sendo que 38,1% tiveram três ou mais hospitalizações.

Carta aos editores

Todos os pacientes (100%) estiveram expostos a algum evento traumático durante sua vida. O evento mais prevalente foi ter sido “assaltado ou ameaçado com arma”, r e l a t a d o p o r 5 6 , 5 % d o s d e p e n d e n t e s químicos. A “morte súbita e inesperada de a l g u m p a r e n t e o u a m i g o p r ó x i m o ” f o i vivenciada por 54,5% da amostra, tendo sido relatada como o “pior” evento por 28,6% dos respondentes. Estudos epidemiológicos têm mostrado a alta prevalência desse trauma na população, com um risco moderado para TEPT4.

Algum sintoma de TEPT foi relatado por todos os participantes do estudo, e 47,6% tiveram “imagens, memórias ou pensamentos dolorosos sobre o evento” na última semana, com 9,5% experimentando diariamente esse sintoma. Do total de pacientes, 24% sentiram-se perturbados de forma moderada a extrema. Mais da metade (57%) relatou “dificuldades para se sentir satisfeito com as coisas de sua vida”. Destes, 19% sentiram-se muito perturbados, e 14,3% classificaram sua perturbação como extrema.

Esse sintoma pode confundir-se com o de transtorno depressivo, que ocorre em altas prevalências, tanto em traumatizados que não desenvolveram TEPT como em portadores de TEPT e dependentes químicos. Daí a importância de uma investigação comórbida criteriosa e atenção aos traumas em dependentes químicos como prevenção para o desenvolvimento de TEPT.

REFERÊNCIAS

1. American Psychiatric Association. DSM-IV: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4.ed. Porto Alegre; Artmed; 1995.

2. Kapczinski F, Margis R. Transtorno de estresse pós-traumático: critérios diagnósticos. Rev Bras Psiquiatr. 2003;25(Supl 1):3-7.

3. Brady KT, Randall CL. Gender differences in substance use disorders. Psychiatr Clin North Am. 1999;22(2):241-52.

4. Breslau N, Kessler RC, Chilcoat HD, Schultz LR, Davis GC, Andreski P. Trauma and posttraumatic stress disorder in the community. Arch Gen Psychiatry. 1998;55(7):626-32.

5. Davidson JR, Book SW, Colket JT, Tupler LA, Roth S, David D, et al. Assessment of a new self-rating scale for p o s t - t r a u m a t i c s t r e s s d i s o r d e r . P s y c h o l M e d . 1997;27(1):153-60.

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Carta aos editores

Rev Psiquiatr RS set/dez 2006;28(3):357-8

Sibele Faller

Psicóloga, Instituto de Prevenção e Pesquisa em Álcool e Outras Dependências (IPPAD) e Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas (CEPAD), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS.

Gilda Pulcherio

Psiquiatra, IPPAD, Porto Alegre, RS. Mestre em Psicologia Social e da Personalidade, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS.

Marlene Strey

Psicóloga, IPPAD, Porto Alegre, RS. Professora, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, PUCRS, Porto Alegre, RS.

Correspondência: Gilda Pulcherio

Rua Dona Lida Monteiro, 450, Bairro São Caetano CEP 91720-300 – Porto Alegre, RS

E-mail: gilda@ippad.com.br

Referências

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