Macroeconomia
1 Objetivos de política macroeconômica
Dependendo do enfoque a ser adotado, pode-se encontrar vários objetivos de política macroeconômica. Entretanto, para facilitar a discussão e até mesmo destacar apenas aqueles que são fundamentais para entender a realidade brasileira, pode-se selecionar os seguintes:
a) Crescimento econômico: aumento do produto nacional por meio de políticas econômicas que estimulem a atividade produtiva. Aumentar o produto além do limite de quantidade exigirá:
• ou um aumento nos recursos disponíveis; • ou um avanço tecnológico.
b) Estabilidade de preços (Controle da Inflação): inflação é o aumento contínuo e generalizado do nível geral dos preços.
1 Objetivos de política macroeconômica
c) Alto nível de emprego: preocupação com o fator surge após a Grande Depressão, com o teórico Keynes.
d) Distribuição equitativa de renda: disparidade acentuada no nível de renda brasileiro, tanto entre diferentes grupos socioeconômicos como entre regiões do país.
e) Dilemas de política econômica: inter-relações e conflitos de objetivos
Conflitos: metas de crescimento e equidade distributiva devido ao fator educacional, com maioria da mão-de-obra de baixa qualificação e baixos rendimentos.
1.1 Crescimento econômico
O crescimento econômico é a meta mais importante a ser perseguida pelos formuladores da política económica. Vale observar que crescimento econômico refere-se à expansão da produção do país, ou seja, uma quantidade crescente de mercadorias e serviços para serem adquiridos pela sociedade. Quando a produção do país está crescendo mais
rapidamente que a população, diz-se que a produção por pessoa (ou a renda per capita) está aumentando. E é importante destacar que nenhum país conseguirá melhorar o nível de renda de sua sociedade se não aumentar a produção. Considerando-se que há uma estreita correlação entre produção e emprego, nota-se que ao se perseguir o objetivo de crescimento da produção, automaticamente está-se procurando ampliar o nível de emprego da economia. Na realidade, busca-se atingir o pleno emprego dos fatores de produção na economia.
1.2 Estabilidade de preços (Controle da Inflação)
A inflação acarreta distorções sobre a distribuição de renda, expectativas empresariais, mercado de capitais e no Balanço de pagamentos.
Costuma-se aceitar que um pouco de inflação é inerente aos ajustes de uma sociedade dinâmica, em crescimento. Mesmo em países desenvolvidos, mostra-se que , quanto maior o nível de atividade econômica, mais os recursos tendem a ficar no limite de sua utilização, o que gera tensões inflacionárias.
1.2 Estabilidade de preços (Controle da Inflação)
A preocupação em controlar a inflação justifica-se, uma vez que taxas elevadas de inflação acarretam uma série de distorções na economia: afetam negativamente a distribuição de renda, à medida que os mais pobres não conseguem se proteger da inflação (porque não conseguem aplicar seus recursos no mercado financeiro); reduzem os prazos das aplicações financeiras, fazendo desaparecer os recursos para financiar os investimentos, a aquisição de moradias etc.; dificultam, ou até mesmo impossibilitam, qualquer planejamento empresarial que não seja de curtíssimo prazo; e, finalmente, podem levar a uma total destruição do parque produtivo, quando se chega à hiperinflação.
A experiência mundial demonstra que países que não obtiveram um razoável controle sobre as taxas de inflação não conseguiram promover, de forma sustentada, o crescimento da produção de bens e serviços.
Isso faz com que o controle da inflação seja um dos objetivos primordiais da política macroeconômica.
1.3 Alto nível de emprego
A questão do desemprego eclodiu a partir dos anos 30.
O produto nacional dos EUA caiu 30% entre 1929 e 1933, e a taxa de desemprego ficou em 25% da força de trabalho.
Surgiu então a Teoria Geral do emprego, do juro e da moeda(1936)-J. Keynes.
1.4 Distribuição equitativa de renda
Embora seja difícil argumentar que a sociedade deva remunerar igualmente todos, não se pode deixar de atribuir à melhoria da distribuição de renda como um objetivo de política econômica. No caso brasileiro, isso fica claro, uma vez que uma das características mais marcantes dessa economia é a péssima distribuição da renda gerada no país. Essa situação, inclusive, tem ultrapassado os limites da área econômica, dadas suas repercussões na área social, para tornar-se uma questão política.
É importante observar, porém, que, ao contrário dos outros objetivos de política econômica, mudanças fortes na distribuição de renda, a não ser por reduções bruscas da taxa de inflação, não ocorrem em curto espaço de tempo, fato esse, inclusive, que explica porque esse objetivo não tem sido considerado um elemento determinante das oscilações da política econômica, apesar de sua importância.
1.5 Dilemas de política econômica
Os objetivos não são independentes uns dos outros, podendo inclusive ser conflitantes.
Atingir uma meta de crescimento “pode” (mas não necessariamente) abrandar as diferenças sociais.
Outro conflito verifica-se entre as metas de crescimento da produção e do emprego e a estabilidade de preços.
A combinação de política econômica afeta diferentes grupos na sociedade de diferentes maneiras.
O administrador público (policy-marker) tem que fazer uma escolha quanto à ênfase a ser dada a diferentes objetivos.
1.5 Dilemas de política econômica
O conflito entre os objetivos de política econômica leva, muitas vezes, a avaliações econômicas diferenciadas acerca da política econômica adotada em determinado período. Assim, um programa de estabilização que consegue reduzir a taxa de inflação, mas gera simultaneamente uma recessão, pode ter uma avaliação positiva para aqueles que veem no controle da inflação o principal objetivo da política económica. Por outro lado, para aqueles que entendem que o principal objetivo deveria ser o crescimento da produção, a avaliação certamente será negativa.
Na realidade, o desafio da política econômica é manter todos os objetivos sob controle, isto é, obter a maior taxa de crescimento da produção, desde que mantida a estabilidade dos preços e o equilíbrio das contas externas.
2 Instrumentos de política macroeconômica
A política macroeconômica envolve a atuação do governo sobre a
capacidade produtiva (produção agregada) e despesas planejadas (demanda agregada), com o objetivo de permitir à economia operar a pleno emprego, com baixas taxas de inflação e distribuição justa de renda.
Para atingir aos objetivos de política econômica, o governo dispõe de um conjunto de instrumentos, os quais serão apresentados a seguir:
a) Política fiscal: instrumentos que o governo usa para arrecadar tributos e controlar suas despesas, por meio da manipulação da estrutura e alíquotas de impostos, para estimular os gastos de consumo do setor privado.
Princípio de anterioridade: implementação de uma medida só pode ocorrer a partir do ano seguinte ao de sua aprovação pelo Congresso Nacional.
2 Instrumentos de política macroeconômica
b) Política monetária: atuação do governo sobre a quantidade de moeda e títulos públicos na economia.
• emissões;
• reservas compulsórias; • open market;
• redescontos;
• regulamentação sobre crédito e taxas de juros. c) Políticas cambial e comercial:
• Cambial: atuação do governo sobre a taxa de câmbio;
• Comercial: instrumentos de incentivos às exportações e/ou estímulo/desestímulo às importações.
e) Política de rendas: intervenção direta do governo na formação de renda com o controle e congelamento de preços.
2.1 Política Fiscal
É a ação do Estado no que se refere às receitas e despesas do governo.
Receitas: tudo o que o governo arrecada num determinado período de tempo. As principais fontes de receita são: arrecadação de tributos e venda/concessão de serviços públicos.
Despesas: tudo o que o governo gasta num determinado período de tempo. Principais despesas do governo: pagamento dos funcionários, manutenção da máquina administrativa e investimentos públicos
Superávit = Receita superior a Despesa Déficit = Receita inferior a Despesa
2.1 Política Fiscal
A Política Fiscal pode ser Restritiva ou Expansiva.
Uma política restritiva reduz a quantidade de moeda
em circulação,
enquanto a política expansiva aumenta a liquidez da
Economia.
A política
fiscal
será
Restritiva
ou
Expansionista
dependendo do que o governo está pretendendo atingir
com a política de gastos.
2.1 Política Fiscal
Para praticar a política fiscal , o governo conta com
instrumentos:
alíquotas de impostos
gastos públicos
concessão de subsídios
transferências financeira
Exemplo: quanto maior a carga tributária, menos recursos
terão os contribuintes para poupar e/ou consumir.
2.1 Política Fiscal
2.1.1 Gastos do Governo:
Os gastos do governo podem ser divididos em dois grandes
grupos:
as despesas correntes e as de investimento.
2.1.1.1 Despesas Correntes:
As despesas correntes dizem respeito aos gastos realizados
com
o
objetivo
de
manter
a
máquina
governamental
funcionando,
bem
como
às
despesas
impostas
pela
legislação.
As despesa correntes, por sua vez, podem ser divididas em
quatro outros grupos:
2.1 Política Fiscal
2.1.1.1 Despesas Correntes:
a)
consumo do governo:
corresponde ao pagamento dos
funcionários públicos, e outras despesas necessárias à
manutenção do aparato público (energia elétrica, materiais
etc.);
b)
transferências:
refere-se às despesas que são efetuadas
pelo setor público e destinadas ao setor privado, sem a
contraprestação de serviços ou fornecimento de bens, como é
o caso da Assistência e Previdência Social;
c)
juros:
incluem tanto pagamento de juros da dívida interna
como externa; vale observar, porém, que, embora se faça
referência à "dívida externa brasileira", grande parte dessa
dívida refere-se ao setor privado; os juros de responsabilidade
do
governo
referem-se
apenas
àqueles
devidos
pelo
endividamento do setor público;
2.1 Política Fiscal
2.1.1.1 Despesas Correntes:
d)
subsídios:
correspondem aos gastos do governo com o
objetivo de garantir ao consumidor preços inferiores ao custo
de produção; na realidade, o produtor recebe o valor integral,
sendo uma parcela desse valor paga pelo governo e o
restante, pelo consumidor; um subsídio muito importante no
passado foi dirigido ao trigo, para que alguns bens essenciais
(como pão, macarrão e outros derivados do trigo) não
pressionassem os orçamentos das classes de menor renda,
embora todos os consumidores (independentemente da
classe de renda) fossem beneficiados.
2.1 Política Fiscal
2.1.1.2 Despesas de Investimento:
As despesas de investimento, por sua vez, referem-se às
despesas que o governo efetua para aumentar a capacidade
de produção de bens e serviços no país (construção de
hidrelétricas, rodovias, hospitais, escolas etc.).
O gasto público constituiu um importante instrumento à
disposição
dos
governos
para
controlar
a
atividade
econômica. É comum, em vários países, observar-se
períodos de expansão e contração dos gastos públicos, em
face das necessidades da política econômica, fato esse
não muito adotado no Brasil.
2.2 Política Monetária
Política Monetária:
Estabelecimento da oferta de moeda pelos formuladores
de políticas do Banco Central
O objetivo de estabilizar o valor (ou poder aquisitivo) da
moeda nacional é perseguido pelo governo através da
política monetária
2.2 Política Monetária
2.2.1 Principais Instrumentos da Política Monetária:
a)
emissões:
seu volume e limites são definidos pelo CMN e
sua execução está a cargo do Banco Central. O governo
deve emitir moeda para acompanhar o crescimento dos
negócios.
Quando se observa excesso de moeda e o governo
tenciona reduzir seu volume ou aumentá-lo sem novas
emissões, os demais instrumentos entram em ação;
2.2 Política Monetária
2.2.1 Principais Instrumentos da Política Monetária:
b)
compulsório/reservas exigidas:
regulamentação que diz
respeito ao montante mínimo de reservas que os bancos
devem manter sobre seus depósitos
– são depósitos
obrigatórios dos bancos comerciais junto ao Banco Central,
de um percentual dos depósitos à vista de seus correntistas.
O objetivo é evitar que os bancos utilizem o dinheiro desses
depósitos no crédito, ampliando os meios de pagamento
. O
governo
varia
a
porcentagem
dos
depósitos
cujo
recolhimento é obrigatório e com isso amplia ou reduz o
crédito privado ao consumo e ao investimento (o compulsório
rende juros abaixo do mercado);
2.2 Política Monetária
2.2.1 Principais Instrumentos da Política Monetária:
c)
taxa de redesconto:
taxa de juros sobre os empréstimos
que o BaCen concede aos bancos
– redesconto: é um
empréstimo de última instância do Banco Central aos bancos
comerciais que se encontram descobertos ao final de suas
operações diárias.
Aumentando ou reduzindo a taxa desse
empréstimo, o BaCen estimula ou desestimula a ousadia dos
bancos comerciais na concessão de crédito (maior ousadia
implica em maior risco de terminar descoberto e ter de
recorrer ao redesconto);
2.2 Política Monetária
2.2.1 Principais Instrumentos da Política Monetária:
d)
taxa de juros:
ao fixar os juros que pagará pelos seus
próprios títulos, o governo (através do Banco Central)
estabelece um piso no mercado de crédito. Ninguém lançará
títulos a taxas mais baixas que as dos títulos públicos, pois
estes são muito mais garantidos e os aplicadores recusarão
taxas mais baixas. Como os empréstimos em geral são
garantidos por títulos lançados pelas instituições financeiras
(depósitos a prazo, etc), estas precisam competir com o
governo na captação de recursos de aplicadores para
obterem os fundos que utilizarão no crédito, na outra ponta.
Juros altos desestimulam os tomadores de crédito e esfriam
os negócios, dificultando a prática de aumentos de preços
;
2.2 Política Monetária
2.2.1 Principais Instrumentos da Política Monetária:
e)
operações de mercado aberto (open market):
o governo
negocia seus títulos com objetivos ligados à política
monetária.
Se desejar reduzir os meios de pagamento, vende títulos
ao mercado e
esteriliza os recursos obtidos (não os utiliza
em despesas ou em crédito, impedindo-os de voltar ao
fluxo monetário);
Se desejar aumentar os meios de pagamento, recomprará
seus próprios títulos.
2.2 Política Monetária
Em geral, o combate à inflação é feito com elevação da taxa
de juros, aumento das porcentagens e prazos de recolhimento
dos
compulsórios,
aumento
da
taxa
de
redesconto
e
operações de enxugamento de moeda via open market.
O combate à recessão utiliza os instrumentos opostos (baixa
dos juros, redução do compulsório e do redesconto, ampliação
dos meios de pagamento através do open market).
As doses de cada instrumento e a combinação final de todos
eles dependem dos objetivos mais específicos do governo,
além do estudo de seus impactos sobre outras variáveis
(déficit público, dívida pública, câmbio, etc).
2.3 Política Cambial e Comercial
É a administração da taxa de câmbio para garantir o
funcionamento regular do mercado.
O gestor da política
cambial é o BaCen que atua nas transações entre o Brasil
e o exterior.
A taxa de câmbio é a relação entre duas moedas
(quantos
reais
são
necessários
para
adquirir
um
dólar,
por
exemplo), e pode estimular ou desestimular as trocas
internacionais, ou seja, movimentos de mercadorias,
serviços e capitais entre os países.
2.3 Política Cambial e Comercial
Percebe-se que o resultado da Balança Comercial pode
ser bastante influenciado pela taxa de câmbio, uma vez
que um câmbio favorável pode contribuir para aumentar a
competitividade do produto nacional do exterior.
Resultado da Balança Comercial:
Superávit = Exportação superior a Importação
Déficit = Exportação inferior a Importação
2.4 Política de Rendas
São diferentes formas de intervenção do governo sobre o
sistema de preços:
• Via fixação e controle de preços mínimos:
objetivos de
proteção e de crescimento;
• Via fixação de tabelas de preços:
objetivos
de
estabilização de preços.
2.4 Política de Rendas
2.4.1 Preços Mínimos:
Geralmente ao setor agrícola, com três fins básicos:
• Proteção de renda ao setor
• Aumento da produção
• Eliminação de riscos de preços enfrentados pelos produtores
rurais
Justificativas:
• De natureza conjuntural:
safras e entressafras; eventos
climáticos
• De natureza estrutural:
• em países industrializados: evolução tecnológica e
científica
– leva à redução de preços;
• em países menos desenvolvidos – necessidade de
expandir fronteira agrícola e melhorar índices produtividade
2.4 Política de Rendas
2.4.2 Preços Máximos:
Finalidades:
• Para amortecer pressões inflacionárias
• Para controlar situações de fixação de preços que podem
contrariar interesse público:
• Em monopólios ou oligopólios
• Em casos de bens essenciais; ou
• Em casos que desequilibrem as forças de oferta e
procura e conduzam à formação do chamado mercado
vendedor!
• Via tabelamento
• Aplicação de controles diretos e indiscriminados; outros,
permitem seletividade
2.4 Política de Rendas
2.4.3 Regulação da remuneração dos fatores:
Sobre salários: relevância na composição de custos de
produção e na formação da renda nacional
• Depende das instituições responsáveis e dos objetivos de
Políticas Econômicas: diferentes formas de regulação
2.4 Política de Rendas
2.4.4 Objetivos para uso do instrumento:
2.4.4.1 Objetivos de estabilização de preços e empregos:
• imposição de restrições à expansão real dos salários
2.4 Política de Rendas
2.4.4.2 Objetivos de melhoria da estrutura de repartição da
renda:
• fixação de salários mínimos;
• incorporação aos salários do aumento da produtividade e
• aplicação de taxas de reajustamento diferenciadas
2.4 Política de Rendas
2.4.4.2 Objetivos de melhoria da estrutura de repartição da
renda:
• Instrumentos e usos sobre outros componentes da renda:
a)
Fixação de normas para distribuir dividendos e a reaplicação
de lucros:
objetivos de repartição ou de crescimento
b)
Fixação de taxas mínimas para distribuir dividendos:
pode
estimular mercado acionário, favorecer taxas de poupança e
investimento ou promover objetivos ligados à melhoria da
distribuição da renda e riqueza
c)
Controle
dos
aluguéis:
promover
crescimento
ou
estabilização; liberando aluguéis estimula construção civil,
expansão de emprego;
d)
Fixação de limites para corrigir aluguéis:
objetivos de
estabilização ou de proteção de certos grupos sociais.
Bibliografia
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Campus, 1999
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de. Economia: Micro e Macro. São Paulo: Atlas, 2004.
BACHA, C.J.C.; LIMA, R.A.S. Macroeconomia: Teorias e Aplicações à Economia Brasileira. Campinas: Alínea, 2006