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Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

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Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 32.025-7/213 (200703610516)

Comarca de Campinorte

Apelante : Ministério Público

Apelado : Adonias Machado Braga

Parecerista : Dr. Edison Miguel da Silva Jr.

Relator : Juiz FÁBIO CRISTÓVÃO DE CAMPOS FARIA

R E L A T Ó R I O

O Ministério Público do Estado de Goiás, através de seu Promotor de Justiça com atribuições perante a Comarca de Campinorte, ofereceu denúncia em desfavor de Adonias Machado Braga, imputando-lhe a prática do crime previsto no art. 14 da Lei nº 10.826/03.

Extrai-se da peça acusatória que no dia 10 de março de 2004, por volta das 9h40m, na GO-428, Km 0, cidade e comarca de Campinorte, o denunciado trazia em seu veículo uma espingarda Flaubert, calibre 22, LR, modelo 122, nº 131918, com dois cartuchos deflagrados, conforme laudo de fls. 36/39.

Segundo consta, na ocasião mencionada, o denunciado conduzia uma camioneta D-20 pela GO-428, saída da cidade de Campinorte, quando foi abordado por policiais militares e encontrado no interior do citado veículo uma espingarda Flaubert, calibre 22. Por não possuir registro ou autorização para o porte ou transporte de arma de fogo, o acusado foi preso em flagrante.

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A denúncia foi recebida (fl. 28). O acusado, citado pessoalmente (fls. 40/41), compareceu ao interrogatório (fls. 42/45), na presença de defensor regularmente constituído, seguindo-se oferta de defesa prévia (fls 46 e 46-v).

Na fase instrutória do feito foi ouvida uma testemunha, dispensadas as demais a requerimento das partes (fl. 65). Superados os incidentes e apresentadas as alegações derradeiras, propugnou o Ministério Público pela condenação do réu nas sanções do art. 14 da Lei nº 10.826/03 (fls. 67/74). A defesa, por sua vez, postulou a absolvição sob o argumento de ser atípica a conduta do acusado (fls. 75/83), vez que praticada durante a vacatio legis estabelecida pelo Estatuto do Desarmamento.

Sobreveio, então, a sentença que julgou improcedente o pedido veiculado na denúncia, para absolver o acusado Adonias Machado Braga da imputação feita na peça acusatória, por não constituir o fato infração penal (art. 386, inc. III do CPP).

Inconformado com a sentença prolatada, a nobre Promotora de Justiça interpôs apelação, sustentado ser típico, sim, o porte ilegal de arma de fogo, não havendo nenhuma interrupção temporal com o advento da Lei nº 10.826/03 (fls. 99/105).

Contra-arrazoado o recurso (fls. 108/113), pleiteou a defesa a manutenção do decisum, diante da atipicidade da conduta, vez que a arma encontrava-se desmuniciada no momento da apreensão e sem qualquer meio de se carregá-la (fls. 108/113).

Sequencialmente, em judicioso parecer de fls. 118/123, da lavra de seu ilustre representante, Dr. Edison Miguel da Silva Jr., manifestou-se a Procuradoria de Justiça pelo conhecimento e improvimento do apelo, à razão do que, no caso

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concreto, não houve ameaça de lesão à incolumidade pública, sendo, portanto, fato atípico.

É, em síntese, o essencial. À douta revisão.

Goiânia, 31 de outubro de 2007.

Juiz FÁBIO CRISTÓVÃO DE CAMPOS FARIA

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Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 32.025-7/213 (200703610516)

Comarca de Campinorte

Apelante : Ministério Público

Apelado : Adonias Machado Braga

Parecerista : Dr. Edison Miguel da Silva Jr.

Relator : Juiz FÁBIO CRISTÓVÃO DE CAMPOS FARIA

V O T O

Cuida-se de apelação interposta pelo Ministério Público da Comarca de Campinorte por inconformado com a sentença que absolveu Adonias Machado Braga pela acusação da prática do crime de porte ilegal de arma de fogo.

O inconformismo é pela modificação do decreto absolutório a fim de que seja o réu condenado nas penas do art. 14, caput, da Lei nº 10.826/03, sob o argumento de resultar configurada a materialidade e a autoria do delito, bem assim por sustentar que o porte ilegal de arma de fogo continuou, mesmo à época da ação criminosa – 10.03.2004 – sendo crime, sem nenhuma interrupção temporal à luz da Lei nº 10.826/03. Somente o novo tipo criado, o crime de posse ilegal de arma de fogo, estava abrangido pelo prazo dos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento.

Como antes relatado, o recorrido foi preso em flagrante porque transportava, aos 10 de março de 2003, em sua camionete D-20 uma espingarda Flaubert, calibre 22, LR, modelo 122, nº 131918, com dois cartuchos deflagrados, conforme laudo de fls. 36/39, sem a devida autorização legal.

Sob a minha ótica, o porte ilegal de arma de fogo não se tornou atípico entre 22.12.2003 a 23.10.2005 com a superveniência do Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03). Com efeito, o prazo estabelecido pelos artigos 30 e 32 do

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Estatuto do Desarmamento cinge-se tão-somente à regularização da posse de arma de fogo de uso permitido, insuscetível de se estender a abolitio criminis ao crime de porte ilegal (TJGO, 1ª CCrim., Ac. nº 29.262-5/213, de minha relatoria, DJ de 24.11.06).

Por esse único motivo, o apelo ministerial mereceria ser provido. Porém, subjacente à sentença absolutória está um princípio que a faz manter incólume: o princípio da lesividade.

Invoco a práxis hermenêutica da teoria constitucional do Direito Penal: crime não é mera subsunção formal ao tipo abstrato da lei. Além da necessidade de prévia definição, a conduta delituosa necessita ter conteúdo de crime, já que o Estado Democrático de Direito não pode admitir que alguém seja punido por ter praticado uma conduta inofensiva. Sem lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico, a aplicação do Direito Penal se aproximaria das eras pretéritas em que a definição de Justiça ficava a cargo de ilações concebidas por déspotas!

No caso, o recorrido Adonias, açougueiro por profissão, pessoa sem antecedentes criminais (fls. 26), transportava em sua camionete uma espingarda de baixo calibre, descarregada e sem qualquer possibilidade de se conseguir pronta munição, com a qual fazia uso para abater vacas na zona rural.

Destaca-se do interrogatório judicial do acusado:

“Que o depoente era açougueiro na ocasião dos fatos e utilizava a arma para abater os animais nos quais iria vender a carne; que o depoente estava com a arma mais ou menos quatro meses; que não veio à sua cabeça a necessidade de buscar o registro e o porte de arma; que a arma foi apreendida em sua camioneta no caminho de ir abater uma vaca; que o depoente deixou a profissão de açougueiro” (Adonias Machado Braga, fls. 44).

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Em juízo, declarou a testemunha Edilson Bispo Souza às fls. 66:

“Que naquele momento da abordagem o acusado não informou que a arma era utilizada para abater gado, cuja carne seria vendida em açougue; que depois soube que realmente o acusado era

açougueiro”. (grifei)

Ora, diante dos fatos narrados, houve efetiva ameaça de lesão à incolumidade pública? A conduta do recorrido lesou ou representou ameaça de lesão a algum bem jurídico? Creio que não. O fato é um indiferente penal, porém, diga-se de passagem, não destituído de efeitos jurídicos, vez que repercute na seara administrativa, pois o Estatuto do Desarmamento estabelece sejam destruídas as armas de fogo apreendidas, como sanção indireta àqueles que as transportam sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Mesmo em vista do potencial intimidador representado pela arma, naquela situação específica não poderia o recorrido dela se valer, ante à falta do elemento essencial para a sua utilização, qual seja, a munição.

Malgrado entendimento em sentido contrário, abraço a tese de que não basta estar a conduta do agente adequada aos requisitos estruturais do tipo penal. De acordo com a concretude do caso, se não for possível identificar no objeto material da conduta uma efetiva potencialidade lesiva, a definição do crime fica divorciada dos princípios constitucionais mais elementares, entre eles, o da proporcionalidade e o da razoabilidade, que estão implícitos no núcleo do devido processo legal.

Insisto: no caso sob exame, a justificativa da atipicidade da conduta não se revelou somente pelo estado da arma estar desmuniciada. Deu-se também pela total impossibilidade de se conseguir acesso à pronta munição para tornar o artefato lesivo à incolumidade pública.

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A propósito, eis o entendimento do Supremo Tribunal Federal:

“No porte de arma de fogo desmuniciada, é preciso distinguir duas situações, à luz do princípio da disponibilidade: (1) se o agente traz consigo a arma desmuniciada, mas tem a munição adequada à mão, de modo a viabilizar sem demora significativa o municiamento e, em conseqüência, o eventual disparo, tem-se arma disponível e o fato realiza o tipo; (2) ao contrário, se a munição não existe ou

está em lugar inacessível de imediato, não há a imprescindível disponibilidade de arma de fogo, como tal – isto é, como artefato idôneo a produzir disparo – e, por isso, não se realiza a figura típica”. (RHC 81.057/SP, Relª. Minª. Ellen Gracie, DJU de

29.4.2005). (grifei).

No âmbito deste Tribunal, eis a posição sufragada:

“EMENTA: APELAÇÃO. PORTE ILEGAL DE ARMA. LEI Nº 10.826/03. ARMA DE FOGO DESMUNICIADA É INAPTA PARA CAUSAR DANOS. AUSÊNCIA DE LESIVIDADE. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ABSOLVIÇÃO. 1) Seguindo precedentes desta Corte, não se configura crime portar arma de fogo desmuniciada e inapta a ser utilizada para causar danos ou expor a perigo o bem jurídico protegido pela norma. 2) No caso, inexiste lesão efetiva ou potencial a bem tutelado pela lei penal. 3) Mantida a absolvição do acusado nos termos do art. 386, inc. VI, do CPP. 4) Apelo improvido. (2ª CCrim., Ac. nº 30.381-0/213, Rel. Des. Paulo Teles, DJ de 20.6.07).

Em igual sentido: 1ª CCrim., Ac nº 27.183-6/213, Rel.ª Des.ª Juraci Costa.

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Ao teor de tais considerações, acolhido o parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça, conheço do recurso, porém nego-lhe provimento, mantendo inalterada a sentença.

É como voto.

Goiânia, 06 de dezembro de 2007.

Juiz FÁBIO CRISTÓVÃO DE CAMPOS FARIA

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº 32.025-7/213 (200703610516)

Comarca de Campinorte

Apelante : Ministério Público

Apelado : Adonias Machado Braga

Parecerista : Dr. Edison Miguel da Silva Jr.

Relator : Juiz FÁBIO CRISTÓVÃO DE CAMPOS FARIA

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. ESTATUTO DO DESARMAMENTO. ARMA DE FOGO DESMUNICIADA. AUSÊNCIA DE MUNIÇÃO OU DE IMEDIATA ACESSIBILIDADE A ELA. PRINCÍPIOS DA LESIVIDADE, DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. FATO ATÍPICO. ABSOLVIÇÃO MANTIDA.

I. Segundo a teoria constitucional do Direito Penal e precedentes desta Corte, crime não é mera subsunção formal ao tipo abstrato da lei. Além da necessidade de prévia definição, a conduta delitiva pressupõe lesão ou efetiva ameaça de lesão ao bem jurídico que, conforme a concretude do caso sob exame, não se configurou.

II. À luz dos princípios da lesividade, da proporcionalidade e da razoabilidade, é atípica a conduta do agente que transporta arma de fogo desmuniciada e sem qualquer possibilidade de se conseguir imediato acesso à munição, vez que inexiste lesão efetiva ou potencial a bem jurídico tutelado pela lei penal.

APELAÇÃO CONHECIDA E IMPROVIDA.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDA o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, pela Primeira Turma Julgadora de sua Primeira Câmara Criminal, à unanimidade, em acolher o parecer da Procuradoria Geral de Justiça, conhecer do Apelo e negar-lhe provimento, nos termos do voto do Relator e da Ata de Julgamento.

Votaram além do Relator, os Desembargadores Elcy Santos de Melo e Huygens Bandeira de Melo.

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Presidiu a sessão de julgamento a Desembargadora Juraci Costa. Fez-se presente à sessão, a Procuradora de Justiça, Dra. Lenir Pedrosa Soares Correia.

Goiânia, 06 de dezembro de 2007.

Desª. JURACI COSTA

Presidente

Juiz FÁBIO CRISTÓVÃO DE CAMPOS FARIA

Relator em substituição

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