• Nenhum resultado encontrado

INTERESSADA: CÂMARA MUNICIPAL DE IRACEMÁPOLIS SP At.: Departamento Jurídico

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "INTERESSADA: CÂMARA MUNICIPAL DE IRACEMÁPOLIS SP At.: Departamento Jurídico"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

CONSULTA/1231/2016/AG

INTERESSADA: CÂMARA MUNICIPAL DE IRACEMÁPOLIS – SP At.: Departamento Jurídico

Câmara Municipal – Projeto de lei, de autoria de vereador, que "Dispõe sobre a obrigatoriedade de informar o percentual da diferença entre os preços da gasolina e do etanol e dá outras providências" – Competência concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal – Competência da União, por meio da Agência Nacional do Petróleo (ANP) – Observância do art. 177, § 2º, inc. I, da Constituição Federal de 1988 e do art. 8º, inc. I, da Lei nº 9.487/97 – Ausência de interesse local – Vício de constitucionalidade material – Posicionamentos doutrinários – Considerações gerais.

CONSULTA:

“Objetivo: Parecer Jurídico quanto a Legalidade e Constitucionalidade do Projeto de Lei Anexo. PROJETO DE LEI Nº. 00, DE 14 DE ABRIL DE 2016. Ementa: Dispõe sobre a obrigatoriedade de informar o percentual da diferença entre os preços da gasolina e do etanol e dá outras providências. Autor: Vereador William Ricardo Mantz. VALMIR GONÇALVES DE ALMEIDA, Prefeito Municipal de Iracemápolis, Estado de São Paulo, usando das atribuições que lhe são conferidas por Lei, em especial a Lei Orgânica do Município; Faço saber que a Câmara Municipal de Iracemápolis aprova e eu sanciono e promulgo a seguinte Lei: Art. 1º É obrigatória a informação nos postos revendedores de combustíveis no município de Iracemápolis em local visível para o consumidor, do valor em percentual do preço etanol hidratado em relação ao preço da gasolina. §1º A informação de que trata o caput do artigo deverá ser afixada ou colada com letras e números em tamanho visível ao consumidor, logo abaixo e no mesmo local

(2)

onde é informado o preço de cada produto fornecido pelo estabelecimento. §2º A informação deverá conter o seguinte texto: “Percentual entre o preço do etanol e da gasolina (n%). Hoje é mais vantajoso abastecer com (etanol/gasolina)”. §3º Para efeito do cumprimento deste artigo, considera-se o índice que for maior que 70% ser mais vantajoso abastecer com gasolina e menor que 70% mais vantajoso abastecer com etanol, chegando-se ao índice dividindo o valor do etanol pelo valor da gasolina. Art. 2º A fiscalização do disposto nesta lei será realizada pelo órgão público PROCON, no respectivo âmbito de atribuição, o qual será responsável pela aplicação das sanções decorrentes de infrações às normas nela contidas, mediante procedimento administrativo, assegurada ampla defesa. Art. 3º Esta Lei entra em vigor em 30 dias a partir da data de sua publicação. Plenário Vereador Benedito Alves de Oliveira, 14 de abril de 2016. WILLIAM RICARDO MANTZ Vereador JUSTIFICATIVA Este projeto de Lei visa tornar obrigatório aos postos de revendedores de combustíveis a exibição do valor percentual do litro de álcool/etanol em relação ao valor do litro da gasolina, através de placas ou cartazes informativos. Tal informação se faz necessária visto que a utilização e o comércio dos veículos bicombustíveis (flex) é cada vez maior, conforme números que as montadoras do setor automobilístico fornecem anualmente, demonstrando um crescimento acentuado. Conforme estudos, o uso do etanol é vantajoso se o litro custar até 70% do valor do litro da gasolina. Isso ocorre porque motores abastecimentos com álcool consomem 30% a mais, em média do que os abastecidos com gasolina, visto que é necessário que seja injetado mais álcool no motor do automóvel para produzir a mesma quantidade de energia que a gasolina produz. Essa é a razão para o carro fazer menos quilômetros por litro com etanol. Ocorre que, muitos consumidores no momento de abastecer seus veículos ficam em dúvida quanto à melhor opção de abastecimento, ou seja, se etanol ou gasolina. A presente propositura tem por objetivo obrigar que os postos revendedores de combustíveis exibam através de placa, informações do valor percentual do litro de etanol do litro de gasolina. Assim pretendemos auxiliar ao consumidor na hora de bastecer seu veículo, já que os especialistas afirmam que só vale a pena abastecer com etanol se o preço for inferior a 70% do valor da

(3)

gasolina. Para se chegar a esse número basta dividir o valor do litro do etanol pelo valor do litro da gasolina. O acesso à informação adequada, clara e precisa sobre o produto colocado no mercado ou do serviço oferecido, suas características, qualidades e riscos, dentre outros, constitui direito básico e princípio fundamental do consumidor. Certo que a aprovação deste projeto contribuirá significativamente para o consumidor escolher o combustível mais economicamente viável no momento de abastecer o seu veículo nos postos de combustíveis da cidade, conclamo os nobres pares o apoio na propositura em tela. Plenário Vereador Benedito Alves de Oliveira, 14 de abril de 2016. WILLIAM RICARDO MANTZ Vereador Direta de Inconstitucionalidade nº. 2211244-83.2015.8.26.0000 Apelação nº 0027584-52.2011.8.26.0068 - SINDICATO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE DERIVADOS DE PETRÓLEO DO ESTADO DE SÃO PAULO SINCOPETRO -PRFEITURA MUNICIPAL DE BARUERI”

ANÁLISE JURÍDICA:

Inicialmente, cumpre ressaltar que eventual projeto de lei que disponha sobre a obrigatoriedade de os postos de combustível exibir o valor porcentual da diferença entre os preços da gasolina e do etanol, em princípio, e a nosso ver, padece de vício de constitucionalidade material, haja vista a incompetência do Município em legislar sobre a presente matéria.

Com efeito, registre-se que este tipo de projeto de lei envolve questões afetas ao Direito do Consumidor, sendo certo que não foi outorgada competência aos Municípios para legislar sobre a proteção e defesa do consumidor, matéria esta cuja competência para legislar, a nosso ver, é concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, nos termos do art. 24, inc. V, da CF/88.

Ademais, saliente-se que o art. 177, § 2º, inc. I, da Constituição Federal de 1988 dispõe que compete à União legislar sobre a matéria que envolva, lato sensu, a distribuição de combustíveis. Com fulcro nessa competência, a União editou a Lei nº 9.478/97, que “dispõe sobre a política energética nacional, as

(4)

atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras providências.”

Anote-se que, nos termos do art. 8º, inc. I, da Lei nº 9.478/97, cabe à Agência Nacional do Petróleo – ANP “promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis, cabendo-lhe”, em especial, “implementar, em sua esfera de atribuições, a política nacional de petróleo, gás natural e biocombustíveis, contida na política energética nacional, nos termos do Capítulo I desta Lei, com ênfase na garantia do suprimento de derivados de petróleo, gás natural e seus derivados, e de biocombustíveis, em todo o Território Nacional, e, em especial, regulamentar a matéria sob o enfoque da proteção dos interesses dos consumidores quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos.”

Outrossim, vale mencionar que tal matéria não está dentre aquelas em que o Município possa legislar, ou seja, aquelas chamadas de interesse local, nos termos do art. 30, inc. I, de nossa Carta Magna.

A expressão interesse local, prevista no Texto Maior, tem noção precisa como definidora da competência do Município.

Em análise ao dispositivo constitucional, “(...) Michel Temer observa que a expressão interesse local, doutrinariamente, assume o mesmo significado da expressão peculiar interesse, expressa na Constituição de 1967. E completa: ‘Peculiar interesse significa interesse predominante’ ” (cf. Pedro Lenza, in Direito Constitucional Esquematizado, 4ª ed., LTr, São Paulo, 2002, p. 187).

Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Junior anotam que:

“A doutrina tem entendido que ‘interesse local’ é sinônimo da expressão utilizada na Constituição anterior, ‘peculiar interesse’. Todo interesse municipal é, reflexamente, estadual e, ao mesmo tempo, federal. Portanto, o interesse do Município deve ser o preponderantemente local” (cf. in Curso de Direito Constitucional, 2ª ed., Saraiva, São Paulo, 1999, p. 210) (grifo nosso).

Uadi Lammêgo Bulos, por sua vez, leciona que “(...) cairá na esfera de atribuições do município tudo aquilo que for ‘predominante’ ao

(5)

gerenciamento de seus negócios próprios nos limites das atribuições que as normas constitucionais e ordinárias lhe irrogam” (cf. in Constituição Federal Anotada, 7ª ed., Saraiva, São Paulo, 2007, p. 606).

Alexandre de Moraes destaca que:

“Apesar de difícil conceituação, interesse local refere-se aos interesses que disserem respeito mais diretamente às necessidades imediatas do Município” (cf. in Constituição do Brasil Interpretada, 5ª ed., Atlas, São Paulo, 2005, p. 764).

No mesmo sentido, temos a lição de Hely Lopes Meirelles: “O que define e caracteriza o ‘interesse local’, inscrito como dogma constitucional, é a predominância do interesse do Município sobre o do Estado ou da União. (...) o peculiar interesse é o que se pode isolar, individualizar, diferençar do de outras localidades (...) é o que não afeta os negócios da Administração central e regional” (cf. in Direito Municipal Brasileiro, 13ª ed., Malheiros, São Paulo, 2003, p. 110).

Acrescente-se, ainda, que, a nosso ver, o conteúdo do presente projeto também não nos parece que tem o condão de suplementar a legislação federal ora citada, nos termos do art. 30, inc. II, da Constituição Federal de 1988.

Deste modo, verifica-se que não compete ao Município, seja por meio do Chefe do Executivo, seja por intermédio de Vereador, editar regras neste sentido, sendo a matéria de competência concorrente entre a União, Estados e o Distrito Federal, assim como da ANP.

Portanto, em face de todo o exposto, entende-se que o projeto de lei em apreço não deve prosperar pelos motivos supramencionados.

(6)

Essas são, por fim, as considerações a serem feitas a respeito da presente consulta, sem embargo de outros entendimentos em sentido contrário, para com os quais manifestamos, desde já, o nosso respeito.

São Paulo, 18 de abril de 2016.

Elaboração: Adriane Maria Gonçalves

OAB/PR 41.243 Aprovação da Diretoria NDJ Angelo Iadocico Diretor

Referências

Documentos relacionados

No entanto, esta hipótese logo é abandonada em favor de uma nostalgia reflexiva, visto que “ao invés de tentar restaurar as cópias de nitrato de algum estado

(2019) Pretendemos continuar a estudar esses dados com a coordenação de área de matemática da Secretaria Municipal de Educação e, estender a pesquisa aos estudantes do Ensino Médio

Muitos desses fungos podem ser encontrados nos grãos de café durante todo o ciclo produtivo, porém sob algumas condições especificas podem causar perda de

Raichelis 1997 apresenta cinco categorias que na sua concepção devem orientar a análise de uma esfera pública tal como são os conselhos: a visibilidade social, na qual, as ações e

4.2 Matriz de Confusão da arquitetura FC1024 para o caso de classificação de cinco

Determinar o perfil fitoquímico dos extratos aquosos das folhas de Physalis angulata L., silvestres e cultivadas, e avaliá-los quanto à influência do método de extração e

dois gestores, pelo fato deles serem os mais indicados para avaliarem administrativamente a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, bem como a estruturação

A contratação da presente Cobertura Adicional tem por objetivo garantir ao Segurado, desde que o requeira, o pagamento antecipado de até cem por cento do