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Um índice climático obtido da TSM do oceano pacífico e a variabilidade da precipitação em Alagoas

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Um índice climático obtido da TSM do oceano pacífico e a variabilidade da

precipitação em Alagoas

Eliane Barbosa SANTOS1, Luiz Carlos Baldicero MOLION2

1 Universidade Federal de Pelotas, Pelotas – RS, Mestranda em Meteorologia, elianbs@gmail.com 2 Universidade Federal de Alagoas, Maceió – AL, PhD Professor Adjunto, molion@radar.ufal.br

Resumo

Foi determinado um índice climático obtido da TSM do Pacífico, denominado Índice de Oscilação Interdecadal do Pacífico (IDP), com o objetivo de estudar a inter-relação entre o fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) e a Oscilação Decadal do Pacífico (ODP), nas suas respectivas fases, e sua influência na variabilidade da precipitação no Estado de Alagoas. Para esse fim, foram utilizados dados da precipitação das estações meteorológicas de Alagoas, obtidas no site da Hidroweb. A série temporal do IDP foi correlacionada com a da ODP e do Índice de Oscilação Sul (IOS), mostrando relação direta entre IDP e ODP, e inversa entre IDP e IOS. A precipitação também foi empregada nas análises de correlação com IDP, ODP e IOS, mostrando que esses índices foram mais representativos na fase quente da ODP, e o IDP foi o que apresentou os maiores coeficientes de correlação nas duas fases da ODP.

Palavras-Chave: TSM Pacífico, Precipitação e Alagoas.

Abstract

A simple index of the Pacific oscillation was created, named Interdecadal Pacific Oscillation Index (IDP), in order to study the interrelationship between the El Niño-Southern Oscillation (ENSO) and Pacific Decadal Oscillation (PDO), in their respective phases, and its influence on the variability of rainfall the state of Alagoas. For this purpose, was used rainfall data of the meteorological stations in Alagoas obtained from the Web site Hidroweb. The time series of IDP was correlated with the PDO and the Southern Oscillation Index (SOI), showing a direct relationship between IDP and PDO, and an inverse one between IDP and IOS. The rainfall was also used in the analysis of correlation between the IDP, PDO and IOS. Higher degree of association was found with IDP in the warm phase, but with PDO in the cold phase, and IDP was presented the highest correlation coefficients in both phases of the PDO.

Keywords: SST Pacífico, rainfall e Alagoas.

Introdução

O Nordeste Brasileiro (NEB) está submetido a adversidades climáticas que afetam a precipitação sobre a região, com uma alta variabilidade espacial e temporal dos totais pluviométricos. Segundo Molion e Bernardo (2002), tal variabilidade pode ser descrita em três regiões básicas: o norte do NEB com precipitação que varia de 400mm/ano (interior) a mais de 2000mm/ano (litoral), com os meses mais chuvosos de fevereiro a maio (FMAM); a região sul do NEB com precipitação variando entre 600mm/ano a 3000mm/ano, com seu período mais chuvoso compreendido entre os meses de novembro a fevereiro (NDJF); o leste do NEB, que tem sua precipitação variando entre 600 a 2500mm/ano, e o seu período mais chuvoso vai de abril a julho (AMJJ). Essa variação no regime de chuvas na região é conseqüência da atuação de diversos sistemas sinóticos, tais como Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), Zona de Convergência da América do Sul (ZCAS), Perturbações Ondulatórias nos Alísios (POAs), Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCANs), Sistemas Frontais e Brisas Marinha e Terrestre. Dentre os vários fatores que condicionam o regime pluviométrico no semi-árido nordestino, tem-se a presença de sistemas sinóticos de escalas temporal e espacial distintas, que por sua vez, têm um papel fundamental na qualidade da estação chuvosa local. Por conseguinte, nas escalas interanual e interdecadal, a interação dos sistemas de escala global com os de escalas menores, promove totais pluviométricos acima e/ou abaixo da média climatológica.

Um fator que pode atuar significativamente na climatologia e hidrologia, tanto aos níveis regionais quanto globais, é a Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Essa oscilação apresenta comportamento semelhante ao fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que é um fenômeno interanual e

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afeta o tempo e o clima em diversos locais do planeta, incluindo o Brasil, envolvendo interações oceânicas e atmosféricas associadas a alterações na circulação de Walker no Pacífico (PHILANDER, 1990; NEELIN et

al., 1998). A ODP se caracteriza por apresentar um período de repetição de aproximadamente 50 a 60

anos, com suas fases fria e quente, tendo a duração de 20 a 30 anos cada. A última fase fria (FF) ocorreu entre os anos de 1947-1976 e a fase quente (FQ) se estendeu de 1977-1998 (MANTUA et al., 1997).

Não se sabe ainda qual é a causa da ODP, tampouco seus impactos sobre o clima, e nem o tempo de atraso dessa resposta. Porém, como o Oceano Pacífico ocupa um terço da superfície terrestre e a atmosfera é aquecida por baixo, a ODP deve ter uma influencia preponderante e, portanto, detectável no clima global (MOLION, 2005). A motivação deste trabalho foi determinar um índice, com base na variabilidade da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) do Oceano Pacífico. Analisar a inter-relação entre o fenômeno ENOS e a ODP, e a sua influencia na variabilidade da precipitação, em particular os impactos sobre a precipitação no Estado de Alagoas e seus efeitos sobre a sociedade.

Material e métodos Dados

Para a realização deste estudo, foram utilizados: dados de TSMs, com a finalidade de determinar um índice de Oscilação Interdecadal do Pacífico, e a série temporal do índice de ODP, obtidos no ESRL/PSD/NOAA, e a série temporal do IOS, obtido no site do Australian Bureau of Meteorology (http://www.bom.gov.au/climate/current/soihtm1.shtml), para o período de 1900 a 2006.

Além dos dados descritos acima, foram obtidos dados observados, para o período de 1948 a 1998, do conjunto de dados de precipitação para o Estado de Alagoas, disponíveis no site da Hidroweb (http://hidroweb.ana.gov.br/), que comporta informações hidrológicas da Agência Nacional de Águas (ANA), do Diretório de Hidrometeorologia (DHM) e da Secretaria Executiva de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e Naturais (SEMARHN).

Utilizou-se como critério para a escolha das estações, a disponibilidade e à uniformidade de dados com séries temporais longas, no período correspondente de 1948 a 1998. Com isso, foram selecionadas 25 estações, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1: Estações meteorológicas do Estado de Alagoas, coordenadas geográficas, altitude e instituições a que pertence.

Estação Latitude Longitude Altitude (m) Fonte

Água Branca 9°17’S 37°56’W 510 DNOCS

Anadia 9°38’S 36°20’W 100 DNOCS

Junqueiro 9°56’S 36°29’W 120 DNOCS

Viçosa 9°23’S 36°15’W 300 DNOCS

Limoeiro de Anadia 9°45’S 36°30’W 150 DNOCS

Santana do Ipanema 9°22’S 37°15’W 250 DNOCS

Major Isidoro 9°32’S 36°59’W 217 DNOCS

Maceió 9°34’S 35°47’W 5 DNOCS

Palmeira dos Indios 9°24’S 36°39’W 342 SUDENE

Atalaia 9°31’S 36°10’W 54 DNOCS

Quebrangulo 9°20’S 36°29’W 411 DNOCS

Porto Real do Colégio 10°11’S 36°50’W 30 DNOCS

Piranhas 9°37’S 37°46’W 110 DNOCS

Penedo 10°17’S 36°35’W 28 DNOCS

Traipu 9°58’S 36°59’W 40 DNOCS

União dos Palmares 9°10’S 36°30’W 155 DNOCS

Piacabuçu 10°24’S 36°25’W 10 ANA

Delmiro Gouvéia 9°23’S 37°59’W 256 ANA

Pão de Açucar 9°45’S 37°26’W 45 ANA

Capia da Igrejinha (Canapi) 9°11’S 37°26’W 280 DNOCS

Mata Grande 9°80’S 37°44’W 633 DNOCS

Lagoa da Canoa 9°50’S 36°44’W 235 DNOCS

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Porto Calvo 9°40’S 35°24’W 54 DNOCS

Poço das Trincheiras 9°13’S 37°17’W 255 DNOCS

Tratamento dos dados

Séries temporais longas e confiáveis são raras ou muito difíceis de serem obtidas no Brasil, ou por não estarem disponíveis digitalmente, ou pelas falhas que apresentam. Algumas estações pluviométricas do Estado de Alagoas, de fato apresentaram falhas em seus registros, e como há necessidade de trabalhar com séries contínuas, houve a necessidade de se fazer o devido preenchimento para completar as séries. Os preenchimentos das falhas foram feitos com os dados da UDEL, disponíveis no ESRL/PSD/NOAA.

O domínio temporal utilizado para as análises do Estado de Alagoas foi de abril a julho (AMJJ) que, segundo Molion e Bernardo (2002), é o período mais chuvoso do leste do NEB, com sua precipitação variando entre 600 a 2500mm/ano.

Elaboração do Índice Interdecadal do Pacífico (IDP)

Foi elaborado um índice de Oscilação Interdecadal do Pacífico (IDP), para o período de 1900 a 2006. Para determinar esse índice, foram feitos testes para verificar as regiões com maior variabilidade, e as regiões utilizadas para o calculo do IDP, exibida na Figura 1, ODP (147, 5W-152,5W, 35N-40N) e NIÑO 3.4 (120W-125W, 2,5S-2,5N), foram selecionadas por apresentarem maximização do sinal interanual e decadal, verificados através da aplicação de transformadas em ondeletas nas series temporais das referidas regiões. Então, foram calculados a média e desvio-padrão da diferença simultânea das séries de TSMs entre o Pacífico Equatorial e Pacífico Norte. Esses desvios foram padronizados e constituiu uma série temporal do índice denominado IDP.

Figura 1: Domínio espacial dos dados utilizados. As regiões tracejadas indicam localização das áreas com representação dos índices do Niño 3.4 e ODP e os quadrados dentro dessas regiões são os domínios em que se utilizaram as series temporais de TSMs para o cálculo do IDP.

Transformada de Ondeletas (TO)

A TO é uma técnica espectral efetivamente útil e eficiente na detecção objetiva da estrutura temporal das variações multi-escalas presentes em uma dada série finita de dados não-estacionária (LAU e WENG, 1995). Consiste, basicamente, em transformar uma série temporal unidimensional em outra série bidimensional no domínio tempo-freqüência, com a qual é possível identificar objetivamente os modos dominantes da variabilidade e como esses modos variam no tempo. Assim sendo, a TO pode ser utilizada nas mais diversas áreas da Meteorologia (SOUZA, 2003).

No presente trabalho, utilizou-se a TO com o objetivo de identificar a existência da variabilidade interanual e decadal, e detectar os períodos mais significativos de 1900 a 2006, nas séries temporais do IDP, ODP e IOS. A formulação matemática e o teste de significância empregados no presente trabalho seguem basicamente a metodologia proposta por Torrence e Compo (1998).

A TO contínua aplicada a uma série pode ser apresentada em um mapa ondeleta, que é um gráfico em código de cores ou escala de cinza dos coeficientes ondeleta computados sobre o intervalo de tempo e

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escala. O mapa ondeleta descreve a relação temporal existente em vários eventos de diferentes tamanhos e quantifica sua magnitude. O eixo temporal é como uma série de dados, e constitui a abscissa do gráfico. A ordenada corresponde à escala, no caso de uma série temporal aos períodos, é geralmente, logarítmica. Curtas durações ou altas freqüências são plotadas no topo do mapa e longas durações ou baixas freqüências na base do mapa. Os coeficientes ondeleta são linhas de contorno em código de cores. A TO complexa de Morlet é utilizada neste estudo por ser adequada para detectar variações nas periodicidades de sinais interanuais e decadais de uma maneira contínua ao longo de escalas de tempo. A ondeleta de Morlet é uma função complexa e possui características tais como simetria ou assimetria, e variação temporal brusca ou suave (TORRENCE e COMPO, 1998).

Correlação entre a precipitação pluviométrica e os índices

A serie temporal dos valores do IDP, foi utilizada para estabelecer correlações seriais, com a ODP e o IOS, e espaciais com a configuração da precipitação no Estado de Alagoas. Também foram feitas correlações entre a precipitação e os índices ODP e IOS.

Para ajudar na interpretação, foi utilizado um teste de hipótese para qualificar os valores das correlações e determinar a significância estatística dos resultados obtidos, isto é, o nível de significância dos coeficientes de correlação. Essa técnica determina o quanto significativo são os resultados, e está disponível na página do ESRL/PSD/NOAA (http://www.cdc.noaa.gov/Correlation/significance.html).

As análises foram feitas para os períodos que correspondem a FF (1948 a 1976) e FQ (1977 a 1998) da ODP, visando determinar os impactos, variabilidade e intensidade durante cada fase da ODP.

Resultados e discussões

Índice interdecadal do pacífico (IDP)

Na Figura 2 está representada a série temporal do IDP, mostrando o padrão de variabilidade, para o período de 1900 a 2006, com uma média móvel de 11 meses, para filtrar o ciclo anual. Observa-se que essa série apresentou grande similaridade com a série temporal do índice de ODP, em geral, com a maior freqüência de valores negativos (positivos) durante a FF (FQ) da ODP.

Figura 2: Média mensal do IDP para o período de 1900 a 2006, com a média móvel de 11 meses (linha preta).

Análise da Transformada em Ondeletas

Na Figura 3a mostra-se o espectro de potência de ondeletas (EPO), onde o período (escala logarítmica), dado em anos, está no eixo vertical, indicando os respectivos períodos em que o EPO ocorre e, no eixo horizontal, é mostrado o comprimento temporal da série (1900-2006). As escalas de cores do

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gráfico representam o módulo da amplitude do sinal em cada escala de freqüência, ou seja, representam a energia associada a cada freqüência existente no sistema. As periodicidades estaticamente significativas com 95% de confiança são delimitadas por linhas de contornos contínuos pretos. A linha preta tracejada no periodograma representa o cone de influência, no qual a região externa dessa curva representa os efeitos de bordas da série temporal. Assim, somente a região dentro do cone de influência deve ser considerada. A análise do Espectro de Potência Global (EPG), que excede o nível de significância (Figura 3b), também é importante para verificar a contribuição média dos picos espectrais considerando todo o domínio temporal do índice (TORRENCE e COMPO, 1998).

(a) (b)

Figura 3: (a) Valores do espectro de potência de ondeletas (EPO) calculados para IDP; (b) espectro de potência global (EPG). A linha preta tracejada em (a) representa o cone de influência. Os contornos contínuos pretos mostram os valores da ondeleta estatisticamente significantes ao nível de 95%.

Analisando o gráfico do EPO (Figura 3a), nota-se, ao longo de todos os anos, a ocorrência de picos significativos nas escalas interanual e decadal. Os picos espectrais significativos na escala interanual oscilaram entre os períodos de 2 a 8 anos, mostrando no EPG (Figura 3b) um pico com maior contribuição energética, entre o período médio de 4 a 7 anos. Esse pico deve estar associado ao ENOS. Na escala decadal, o pico refletiu a variância significativa apresentada entre 10 a 32 anos, e o EPG (Figura 3b) mostrou dois picos, um significativo entre o período de 10 a 16 anos e o outro entre 16 a 32 anos, um pouco abaixo da linha de significância estatística. O pico do período entre 10 a 16 anos pode estar relacionado ao Ciclo de Manchas Solares, aproximadamente 11 anos, e o pico entre 16 a 32 anos possivelmente associado à ODP. Notou-se que os períodos que possuem maiores energias (Figura 3a) são os períodos que ocorreram maiores amplitudes da série temporal do IDP (Figura 2).

Com a série temporal do índice da ODP, foi gerado o gráfico de EPO (Figura 4a). A partir das análises no periodograma, referente à ODP (Figura 4a), e com o auxílio do EPG (Figura 4b), pode se identificar um sinal persistente em escalas decadais e interdecadais, ou seja, os picos de baixa freqüência mostraram maior significância estatística. Os picos espectrais significativos na escala decadal oscilaram entre os períodos de 16 a 32 anos, durante os anos em torno de 1935 a 1987. Os picos interdecadais estiveram presentes praticamente ao longo de toda série (Figura 4a), apresentando pico entre 32 a 64 anos. Os referidos picos interdecadais encontram-se fora do cone de influência, devido à série ser limitada em cerca de 100 anos. A série dos índices da ODP apresentou vários picos significativos, em escala intersazonal, os quais ocorrem sistematicamente entre os períodos de 0.25 (4 meses) a 1 ano, e interanual, com um pico entre 4 e 7 anos, provavelmente associado ao fenômeno ENOS, sinal que pode interferir, construtiva ou destrutivamente, com a ODP, fenômeno de freqüência mais baixa.

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(a) (b)

Figura 4: Idem a Figura 3, porém para a ODP.

Notou-se, na Figura 5a, que em praticamente toda a série temporal do IOS, existe um sinal interanual persistente. O gráfico do EPG do IOS (Figura 5b) mostrou pico dominante interanual, nas escalas de 2-4 e 4-8 anos, e decadal na escala de 10-16 anos, um pouco abaixo da linha de significância estatística, observadas durante o intervalo de aproximadamente 1967 a 2001. Aparece, também, um pico entre 32 a 64 anos que não apresenta significância estatística.

(a) (b)

Figura 5: Idem a Figura 3, porém para o IOS.

O IDP mostrou coerência tanto com o índice de ODP como com o de IOS, representando, de forma significativa, as variações interanuais contidas no IOS bem como as variações interdecadais e decadais contidas na ODP, não apenas estatisticamente, mas também representativo da física do sistema climático.

Relação entre o IDP e os índices de ODP e IOS

A série temporal do IDP (Figura 2) foi empregada na análise de correlação com o índice de ODP e o IOS. As correlações anuais das séries do IDP com a ODP e o IOS, mostraram variância (R2) de 0,45 e 0,53, e coeficientes em módulo de 0,67 e 0,73 respectivamente, sugerindo uma relação direta com a ODP

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e inversa com o IOS. Os valores do R2 representam a variância, mostrando que a variação do IDP é explicada em 45% pela relação com a ODP e 53% com o IOS, para a média anual.

A correlação negativa com o IOS indica que valores positivos (negativos) do IDP correspondem valores negativos (positivos) do IOS, ou seja, uma relação inversa. As relações inversas entre o IOS e IDP mostram que, nos eventos de El Niño (La Niña), o IDP é positivo (negativo), como era de se esperar, pois o IDP foi construído com a diferença das TSMs entre o Pacífico Tropical e o Pacífico Extratropical. A correlação positiva com a ODP significa que o IDP é bem representativo nos eventos de El Niño na FQ e nos eventos de La Niña na FF, assim como nas mudanças de fase do sistema.

Para mostrar a relação entre o IDP com ODP e o IOS, foram elaborados gráficos de dispersão, conforme a Figura 6, com IDP como variável dependente (ordenadas).

(a) (b)

Figura 6: Diagrama de dispersão anual entre (a) IDP e a ODP e (b) IDP e o IOS.

Análises com a precipitação observada em Alagoas

Na Figura 7, mostraram-se, a distribuição espacial da diferença da média pluviométrica da quadra chuvosa de Alagoas (AMJJ), FF menos FQ. Observa-se que o extremo leste de Alagoas apresentou desvios negativos da FF para FQ da ODP e que a maior diferença encontrada foi em Porto Calvo (Costa), com valores de -337mm/4meses, ou seja, aproximadamente -84mm/mês, indicando que choveu mais na FQ e menos na FF, nessas regiões, e uma vez que a ODP entrou em uma nova FF a partir de 1999, espera-se menores valores pluviométricos para essas regiões. No entanto, muitas regiões de Alagoas apresentaram desvios positivos, particularmente no Agreste. Por exemplo, Quebrangulo, apresentou um desvio de 504mm, ou seja, 126mm/mês em média, e no Sertão Alagoano, Água Branca, por exemplo, um desvio de, em torno de 73mm/mês em média, indicando que choveu mais na FF, então espera-se maiores valores pluviométricos para essas regiões.

Na Figura 8, mostraram-se os desvios percentuais dos totais médios da quadra chuvosa (AMJJ) com relação à média do período estudado. Observa-se que percentuais negativos expressivos ocorreram no nordeste e sudoeste do Estado, enquanto percentuais positivos ocorreram no Agreste do Estado e no sudoeste do Sertão Alagoano.

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Figura 7: Diferença entre os totais pluviométricos médios da quadra chuvosa de Alagoas (AMJJ), FF menos FQ.

Figura 8: Variação percentual da diferença dos totais pluviométricos médios (%) com relação à quadra chuvosa de Alagoas (AMJJ) para o período de 1948 a 1998.

Relação entre a precipitação observada em Alagoas e o IDP

Na Figura 9, mostrou-se a distribuição espacial dos coeficientes de correlação entre o IDP e a precipitação na estação chuvosa de Alagoas (AMJJ), apresentando uma relação inversa em ambas as fases da ODP. Os maiores valores, em módulo, ocorreram na FQ em todo Estado, particularmente na região do Baixo São Francisco, com até 0,42 (Pão de Açúcar), e com significância estatística superior a 95%. As menores correlações na FQ foram encontradas no Leste Alagoano, nas regiões de Penedo e União dos Palmares, com valores inferiores a 0,1. A relação inversa entre o IDP e a precipitação em ambas as fases, sugere que choveu mais (menos) na FF (FQ). Esse resultado é coerente, pois foi observado que a

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freqüência de La Ninas (El Niños) foi maior na FF (FQ) (MOLION, 2005). Porem, os baixos coeficientes de correlação na FF, sugerem uma relação fraca entre o IDP e os totais pluviométricos, com nível de significância estatisticamente baixo. Isso indica que outros mecanismos de grande escala sejam mais importantes que a variação das TSMs na região selecionada para a elaboração do IDP.

Figura 9: Correlação entre a precipitação e o IDP para as fases (a) fria e (b) quente da ODP.

Relação entre a precipitação observada em Alagoas e a ODP

A correlação da precipitação com a ODP apresentou, na FF (Figura 10a), coeficientes negativos e positivos, com significância estatística baixa. Seu maior coeficiente positivo foi de 0,12, encontrado no Sertão Alagoano (Delmiro Gouvéia). As demais regiões, que apresentaram correlação positiva, mostraram valores inferiores a 0,1. A maior correlação negativa encontrada na FF, foi no Agreste, (Palmeira dos Índios) com -0,18. Na FQ, a correlação foi maior que na FF, com coeficientes negativos de até 0,3, por exemplo, em Lagoa da Canoa (Agreste). Comparando as Figuras 9b e 10b, percebe-se que o desempenho do IDP foi melhor que a ODP, fato expresso pelos coeficientes de correlação mais elevados.

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Figura 10: Correlação entre a precipitação e a ODP para as fases (a) fria e (b) quente da ODP.

Relação entre a precipitação observada em Alagoas e o IOS

Durante a FF da ODP, a correlação da precipitação com IOS na região de Alagoas, apresentou valores com baixa significância estatística. O maior coeficiente, de 0,24 foi no Sertão Alagoano (Pão de Açucar) e na maior parte do Estado os valores das correlações foram inferiores a 0,1 ou -0,1. Na FQ (Figura 11b), notou-se que a precipitação esteve mais relacionada com o IOS, com valores de correlação maiores que na FF. O maior valor de correlação encontrado foi no Agreste (Traipu) correspondente a 0,29. A correlação positiva indica uma relação direta, ou seja, as anomalias de precipitação foram positivas (negativas) quando os valores do IOS foram positivos (negativos).

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Figura 11: Correlação entre a precipitação e o IOS para as fases (a) fria e (b) quente da ODP.

Conclusões

Por meio das análises dos resultados obtidos, pode se notar que o IDP mostrou coerência tanto com o IOS, representando, as variações interanuais expressas nessa série temporal de forma significativa, como com o índice de ODP e suas variações interdecadais.

Os coeficientes de correlação dos índices médios anuais do IDP e da ODP apresentaram valores positivos e superiores a 0,6, uma relação direta com a ODP. Porém, com o IOS, os coeficientes de correlação foram negativos e acima de 0,6 em módulo, ou seja, uma relação inversa entre o IDP e IOS.

As correlações feitas com os dados das estações para o Estado de Alagoas com os índices IDP, ODP e IOS mostraram que esses índices foram mais representativos na FQ, ou seja, a precipitação em Alagoas parece ter um grau maior de associação na FQ, e o IDP foi o que apresentou os maiores coeficientes de correlação nas duas fases da ODP.

Os resultados obtidos indicam que o IDP pode substituir o índice da ODP. Pois, o índice da ODP é complexo e trabalhoso, envolvem a aplicação de Análise de Componentes Principais aos campos de anomalias mensais de TSM e sua correlação com os de anomalias de pressão atmosférica ao nível médio do mar, para uma imensa área do Pacífico ao norte de 20°N. O índice de Oscilação Interdecadal do Pacífico (IDP), aqui desenvolvido, é muito mais simples de ser elaborado e mostrou, por meio dos

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coeficientes de correlação que é mais representativo que o índice da OPD com relação à precipitação de Alagoas.

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