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RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO. Título do Projeto de Pesquisa: A Trajetória da Imprensa no Pará: do impresso à internet

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC : CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PRODOUTOR, INTERDISCIPLINAR, ACERVO, PIBIT, EBTT E

FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: 01/08/2016 a 31/01/2017

(x) PARCIAL ( ) FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa: A Trajetória da Imprensa no Pará: do impresso à internet

Nome do Orientador: Netília Silva dos Anjos Seixas Titulação do Orientador: Doutora

Departamento: Faculdade de Comunicação e Programa de Pós-Graduação

Comunicação, Cultura e Amazônia

Instituto/Núcleo: Instituto de Letras e Comunicação.

Título do Plano de Trabalho: A Trajetória da Publicidade na Imprensa do Pará: incursões pelos meios impressos e na internet.

Nome do Bolsista: Ruth Harriet Santos da Rocha Sepaul Tipo de Bolsa: ( ) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/CNPq – AF

( ) PIBIC/CNPq- Cota do pesquisador ( x ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA – AF ( ) PIBIC/INTERIOR ( ) PIBIC/PRODOUTOR ( ) PIBIC/PRODOUTOR RENOVAÇÃO ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ACERVO ( ) PIBIC/PE-INTERDISCIPLINAR ( ) PIBIC/VOLUNTÁRIO ( ) PIBIC/PIBIT

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INTRODUÇÃO

Com vistas a observar a trajetória da imprensa paraense, este plano de trabalho também se debruça sobre a publicidade, presente nas páginas dos periódicos locais. Durante o período do atual relatório, deu-se continuidade à pesquisa e observação da configuração e conteúdo da publicidade nos jornais de Belém, acreditando que a publicidade constitui uma importante fonte histórica, pois, conforme afirma Santos (2010),

através das imagens e dos textos produzidos pela publicidade, somos capazes de descortinar seu discurso construtor da realidade de uma época, de um lugar, de um povo, sem esquecer todas as especificidades históricas inerentes à publicidade e sua ligação ao mercado, bem como as questões no bojo do sistema capitalista da sociedade de consumo. (SANTOS, 2010, p. 17).

No atual relatório, encontram-se alguns dados resultantes da pesquisa da publicidade em dois jornais da década de 1880. Aqui serão comentados aspectos de sua configuração gráfica, produtos e serviços anunciados, estratégias textuais utilizadas, entre outros aspectos, tudo com vistas a dar um panorama do material pesquisado no período.

JUSTIFICATIVA

A pesquisadora Marialva Carlos Barbosa (2007), considera a relação comunicação e história um universo de possíveis, ou seja, “há múltiplas maneiras de fazer história, de considerar a história, de visualizar a relação história e comunicação” (BARBOSA, 2007, p. 16). Dentre as diversas maneiras de se fazer história, estão os estudos relativos a história da mídia, que buscam, a partir de vestígios que nos chegam, traçar reflexões e imergir minimamente nas sociedades passadas, pois:

A imprensa é fonte de singular interpretação. Deixando traços significativos da sociedade cujos passos e acontecimentos mais representativos pretendeu retratar, a imprensa também é pródiga em autorreferenciação. Produz textos que falam de seu cotidiano e outros que deixam pistas sobre as suas relações com as instâncias de poder. (BARBOSA, 2010, p. 11)

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3 A pesquisa feita pelo projeto A Trajetória da Imprensa no Pará: do impresso à

internet busca somar-se aos estudos desenvolvidos a nível nacional sobre a história

da mídia. “Em nível nacional, os estudos relativos à história dos meios de comunicação têm aumentado consideravelmente e a proposta deste projeto e dos que o antecederam se enquadra nesse esforço de pesquisa” (SEIXAS, 2017, p.1). Além disso,

o número de trabalhos realizados já começa a se fazer notar, inclusive no cenário nacional. Mesmo assim, as lacunas ainda são muitas, assim como se amplia também a missão de estudo sobre a configuração da mídia na região, que pode incluir, por exemplo, o mapa atual das publicações jornalísticas nos municípios do Pará e da Amazônia, sejam elas impressas ou no ambiente da internet. (SEIXAS, 2017, p. 1)

Esta pesquisa é de fundamental importância para os estudos de história da mídia impressa em Belém, principalmente no que tange a publicidade, que se desenvolveu paralelamente aos jornais impressos. Dessa forma, o principal interesse do projeto e, consequentemente, da pesquisa que vem sendo desenvolvida, é “contribuir para o entendimento do processo de configuração da imprensa, do jornalismo e da publicidade em Belém e cidades do interior paraense, que ainda precisa ser mais conhecido” (SEIXAS, 2017, p.3).

OBJETIVOS:

Objetivo geral do projeto: Estudar a imprensa paraense e a publicidade, em perspectiva histórica, quanto a aspectos de sua configuração e aos conteúdos publicados, no meio impresso e no ambiente da internet.

Objetivos específicos:

 Acompanhar a produção cotidiana da imprensa, em diferentes tempos históricos e veículos, a propósito dos temas definidos para a pesquisa.

 Realizar coleta de dados a partir de diferentes meios, como jornais, revistas, documentos históricos e entrevistas com sujeitos históricos relacionados com a imprensa e a publicidade no Estado.

 Discutir a configuração da imprensa, incluindo sua interface com a publicidade, que participa da estruturação da mídia impressa na região.

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 Introduzir estudantes de graduação na pesquisa científica e contribuir para a sua formação acadêmica.

 Contribuir para o crescimento da produção e publicação de estudos sobre a história da imprensa e da publicidade regional, inclusive no cenário nacional.  Contribuir para o fortalecimento da pesquisa na Faculdade de Comunicação e

no Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia e, portanto, também para o desenvolvimento da pesquisa na UFPA e na região.

Com os objetivos definidos no plano de trabalho (2016-2017), a bolsista atualdeu prosseguimento pesquisando os jornais de maior relevância das décadas de 1880, observando a configuração da publicidade. A pesquisa da década de 1880 inclui cinco jornais: Diário de Belém, O Liberal do Pará, A Província do Pará, Diário do Gram Pará e Diário de Notícias. Dessa relação, a bolsista coletou dados de dois jornais, até o período do atual relatório: O Liberal do Pará e Diário de Belém.

No Setor de Microfilmes da Biblioteca Pública Arthur Viana, havia apenas cinco anos da década de 1880, disponíveis para o jornal Diário de Belém (1880, 1881, 1882, 1886 e 1888). O jornal O Liberal do Pará possuía todos os anos da década disponível em microfilme (1880-1889).

MATERIAIS E MÉTODOS:

O plano atual diz respeito à continuidade do levantamento de dados sobre a publicidade nos periódicos paraenses da década de 1880. Para isso, foi realizada pesquisa documental nos jornais disponíveis em microfilmes na Biblioteca Pública Arthur Vianna. Além dessa busca, a bolsista realizou pesquisas na Hemeroteca Digital Brasileira, da Fundação Biblioteca Nacional, e fez pesquisa bibliográfica e leituras sobre a história da região, história da publicidade, entre outras temáticas paralelas.

Outra atividade essencial do projeto é o grupo de estudos, no qual os bolsistas e a orientadora reúnem-se semanalmente para a leitura e discussão de textos que interessam ao grupo. Segue abaixo a lista de leituras realizadas no grupo de estudo no período do relatório atual:

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5 ATEM, Guilherme Nery. Persuadere: uma história social da propaganda. In: MACHADO, Berenice (org.). Publicidade & Propaganda: 200 anos de história no Brasil. Novo Hamburgo, RS: Feevale,. 2009.

AVANCINI, Atílio. A imagem fotográfica do cotidiano: significado e informação no jornalismo. In: Brazilian Journalism Research (BJR). Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), v. 7, n. 1, 2011, p. 50 - 68. Disponível em: < https://bjr.sbpjor.org.br/bjr/article/view/285/267>. Acesso em: 16 fev. 2017.

BACELLAR, Carlos. Usos e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008, p. 23 - 71.

BARBOSA, Marialva. Meios de comunicação e história: elos visíveis e invisíveis. Trabalho apresentado ao GT de Jornalismo da Alcar. In: V CONGRESSO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA, 31 mai – 02 jun, 2007, São Paulo. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/5o-encontr o-2007-1/Meios%20de%20Comunicacao%20e%20Historia%20elos%20visiveis%20e %20invisiveis.pdf >. Acesso em: 16 fev. 2017.

______. Mídias e usos do passado: o esquecimento e o futuro. In: Revista Galáxia. São Paulo, n. 12, dez, 2006, p.13-26.

______. O presente e o passado como processo comunicacional. In:______. MATRIZES/Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo. São Paulo: ECA/USP n. 2, jan/jun., 2012, 144-155. BAUER, Martin W. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, Martin W.; HASKELL, George (Org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 189-217.

BENETTI, Marcia. Análise do discurso em jornalismo: estudo de vozes e sentidos. In: LAGO, Cláudio; BENETTI, Marcia (Org). Metodologia de pesquisa em jornalismo. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 23-47.

BÉRRIDA, François. Tempo presente e presença da história. In: In: AMADO, Janaina; FERREIRA, Marieta de Moraes (Org.). Usos & abusos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2006, p. 219 - 229.

CHARTIER, Roger. A visão do historiador modernista. In: AMADO, Janaina; FERREIRA, Marieta de Moraes (Org.). Usos & abusos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p. 215 - 218.

CRUZ, Heoisa de Faria; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Na oficina do historiador: conversas sobre história e imprensa. In: Projeto História/Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, São Paulo, n.35, p. 253-270, dez.

2007. Disponível em:

<http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/2221/1322>. Acesso em: 16 fev. 2017.

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HERSCOVITZ, Heloisa Goldspan. Análise de conteúdo em jornalismo. In: LAGO, Cláudio; BENETTI, Marcia (Org.). Metodologia de pesquisa em jornalismo. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 123-142.

OROZCO, Guillermo y GONZÁLEZ, RodrigO. Una coartada metodológica: abordajes cualitativos en la investigación en comunicación. México: Tintable, 2012.

ATIVIDADES EXTRAS E COMPLEMENTARES:

Participação como ouvinte da palestra Audiovisual: oportunidades e novos modelos de produção, promovida pela Facom (Projeto de Pesquisa Consumo, Identidade e Amazônia), realizada no dia 19 de agosto de 2016. Roda de diálogo Muvuquinha #2 – “A Evolução da Cultura de Moda no

Pará”, no dia 31 de agosto de 2016. Muvuquinha (Pré – Semana de Comunicação da UFPA).

Participação como voluntária do evento Caldeirada: Comunicação e Cultura, promovido pela Facom (Projeto de Pesquisa Facom 4.0), realizado nos dias 12, 13, 14 e 15 de setembro de 2016.

Participação como ouvinte no evento Caldeirada: Comunicação e Cultura, promovido pela Facom (Projeto de Pesquisa Facom 4.0), realizado nos dias 12, 13, 14 e 15 de setembro de 2016.

 Participação como ouvinte no Ciclo de Pensamento: “Da estética da beleza à estética da percepção” no evento Caldeirada: Comunicação e Cultura, promovido pela Facom (Projeto de Pesquisa Facom 4.0), realizado nos dias 12, 13, 14 e 15 de setembro de 2016.

Palestra Midiatização e Processos de Comunicação: trajetória, limites e perspectivas contemporâneas, ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Duarte Gomes da Silva, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e ofertada pelo Grupo de Pesquisa em Processos de Comunicação (Pespcom), no auditório da Assessoria de Educação a Distância (AEDI) da Universidade Federal do Pará (UFPA), no dia 25 de outubro de 2016.

Seminário “Jovem e Consumo Midiático em Tempo de Convergência: ampliando olhares de pesquisa”, realizado no dia 26 de outubro de 2016, na Assessoria de Educação a Distância da Universidade Federal do Pará

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7 (AEDI-UFPA). O Seminário integrou as atividades do projeto Jovem e

Consumo Midiático em Tempo de Convergência, contemplado pelo Edital nº

071/2013 do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e desenvolvido em cooperação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal de Sergipe (UFS) e de cuja equipe a orientadora participa.

Curso Jornalismo e sociedade: leituras críticas, ministrado pela Profa. Dra. Christa Berger, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), nos dias 17 e 18 de novembro de 2016, no Hotel Regente. O curso foi uma realização dos grupos de pesquisa em Processos de Comunicação (Pespcom) e História da Mídia na Amazônia (Midiam). Contou com apoio da Assessoria de Educação à Distância (AEDI UFPA) e do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCom UFPA).

RESULTADOS:

No período do atual relatório, a bolsista deu prosseguimento à pesquisa, coletando dados de 1880. Para essa década (1880), foram estipulados cinco jornais para serem pesquisados: A Província do Pará, Diário de Belém, Diário do Gram-Pará, Diário de Notícias e O Liberal do Pará. Desse total, foram feitos levantamentos de apenas dois: Diário de Belém e O Liberal do Pará.

Ambos os jornais são de circulação diária, de cunho comercial e político. O jornal O Liberal do Pará (1869-1889) foi órgão do Partido Liberal, e o Diário de Belém (1868-1892) virou órgão especial do comércio. O primeiro número do Diário de Belém circulou no dia 7 de setembro de 1868 e de O Liberal do Pará, em 10 de janeiro de 1869 (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

É válido lembrar que a década analisada está dentro do período conhecido como Belle Époque amazônica (1870-1910). No livro A Belle Époque Amazônica (2000), Ana Maria Daou afirma:

A “bela época” é expressão da euforia e do triunfo da sociedade burguesa no momento em que se notabilizavam as conquistas materiais e tecnológicas, se ampliaram as redes de comercialização

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e foram incorporadas à dinâmica da economia internacional vastas áreas do globo antes isoladas. (DAOU, 2000, p. 7).

Dentre as áreas antes isoladas das quais Daou (2000) fala, estavam a região amazônica e especificamente os atuais estados do Pará e Amazonas. Daou aponta a introdução da navegação a vapor na bacia amazônica como fator de extrema importância para a sociedade da época. Segundo a autora, “foram a navegação a vapor e a rapidez das comunicações daí advinda que facilitaram a chegada de gêneros e bens de consumo aos portos amazônicos” (DAOU, 2000, p. 14).

As publicidades que circularam nos jornais do período da belle époque, na atual cidade de Belém, são testemunhas da variedade de artigos de consumo ofertados aos consumidores da época. O grande fluxo de navios de países estrangeiros facilitou a fixação de “um tipo de gosto de consumo que valorizava o que vinha de fora e enfatizava todos os sinais que promovessem uma aproximação com as capitais europeias, paradigmáticas do progresso e da civilização” (DAOU, 2000, p. 16).

Essa aproximação com valores e tendências ditadas por estrangeiros (principalmente franceses, ingleses e americanos), é fortemente evidenciada nos anúncios encontrados nos levantamentos do plano de trabalho deste projeto de pesquisa. A referência ao estrangeiro aparece em anúncios de colégios que ensinavam a língua francesa e alemã e nos anúncios de fazendas e roupas, cafés entre outros.

Nos jornais pesquisados durante a vigência do atual relatório, a publicidade apareceu na seção denominada “annuncios”. Ambos os jornais apresentavam quatro páginas. A publicidade era publicada geralmente nas últimas páginas, com pequenas diferenças entre os dois jornais. Os formatos variavam desde textos longos (apresentando todos os atributos do produto ou estabelecimento comercial anunciado e listagens das mercadorias ofertadas) a textos mais curtos, de 6 ou 10 linhas com tipografia em tamanho bem reduzido. As ilustrações passaram a ser mais frequentes.

As ilustrações, segundo Santos (2010), são comumente utilizadas “como artifício visual para explicar, acrescentar, sintetizar informações ou apenas decorar graficamente um texto” (SANTOS, 2010, p. 124). Observa-se que, além do fator decorativo, explicativo e demonstrativo de algum produto, a publicidade aliada à

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9 ilustração, é também uma forma de registro e validação de patentes. Segundo Santos (2010, p. 63), “só depois de publicada no Diário Oficial ou em qualquer grande jornal de circulação, a marca que foi depositada na Junta Comercial passava realmente a ser propriedade do seu fabricante, então dono da marca”.

O jornal Diário de Belém tinha suas páginas divididas em cinco colunas, sendo comum a seção de anúncios iniciar na segunda página e algumas vezes na primeira, com dois ou três anúncios, voltando a reaparecer na terceira página, com a seção “annuncios”, devidamente identificada. As publicidades apresentadas eram de serviços e produtos variados. Eram comuns os avisos de sociedades sobre início, fim, admissão de novos sócios, mudanças de nome, entre outros assuntos pertinentes às sociedades comerciais. Anúncios de medicamentos, armarinhos, lojas de fazendas, roupas, chapéus, colégios, aulas particulares e venda de imóveis predominavam.

Apareceram anúncios de leilões; compra, venda, aluguel e fuga de negros escravizados; anúncios procurando por caixeiros, costureiras, cozinheiro, jardineiro, serventes, compositores; cafeterias; gêneros alimentícios (café, cevada, manteiga em lata, chouriço, feijão preto, sal, arroz, massa de tomate, conservas etc.); exportadores de vinho; loterias; venda de ações de bancos e sociedades e “títulos da dívida provincial ou geral”; informes de escritórios de cobrança (exibindo longas listagens com nome e respectivo valor de cada dívida e devedor); anúncios de escritórios de advocacia e consultórios odontológicos, cuja maioria apresenta o nome do “Dr” responsável, endereço do escritório ou consultório e às vezes o trabalho no qual são especializados; máquinas de costura; peças teatrais e exposições de quadros etc.

No Diário de Belém, os anúncios com ilustrações ora são simples - com quadros decorativos delimitando o anúncio ou de mãos apontando para alguma frase de destaque no texto do anúncio, tal como no recorte da Imagem 1 - ora são mais elaborados, com detalhadas ilustrações, como no anúncio do Grande Circo

Pavilhão, publicado na quarta-feira, 16 de junho de 1880 (Imagem 2). Na mesma

página que foi feito o recorte da ilustração de mãos, há um anúncio de uma fábrica de chapéus, cuja ilustração decorativa são três guarda-chuvas/sombrinhas cruzados. Em nenhum momento o texto menciona a venda de tal objeto ilustrado (Imagem 3).

Imagem 1 - Diário de Belém. Domingo, 25 de janeiro de 1880, n. 20, p.4.

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Imagem 3 - Diário de Belém. Domingo, 25 de janeiro de 1880, n. 20, p.4.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Imagem 2 - Diário de Belém.

Quarta, 16 de junho de 1880, n. 135, p.3.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

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11 Imagem 5 - O Liberal do Pará. Terça-feira, 31 de julho de 1888, p.4.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Imagem 4 - O Liberal do Pará. Terça-feira, 31 de julho de 1888, p.4.

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Viana

Em O Liberal do Pará, as quatro páginas eram divididas em seis colunas. A seção de anúncios geralmente estava localizada a partir da segunda ou terceira página. Mas também era possível observar anúncios na primeira página (Imagem 4), fora da seção “annuncios”, onde costumava ser vista. Os produtos e serviços apresentados nessas publicidades eram variados, assim como os encontrados no Diário de Belém.

Nesse jornal (O Liberal do Pará), frequentemente encontramos ilustrações mais elaboradas, como as de (principalmente) remédios e bebidas, por exemplo. Nas imagens a seguir (Imagem 5 e 6), temos exemplos dessas ilustrações.

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De forma geral, os textos dos anúncios de ambos os jornais pesquisados apelam à questão do moderno e da novidade, bem como reforçam a qualidade usando o argumento do tempo de existência e a tradição de determinado produto/estabelecimento comercial e apelam também ao quesito preço (“preços módicos, “grande queimação” e “pechinchas”).

Expressões como: “Novidade!”, “Só aqui!”, “Grande queimação”, entre outras, são utilizadas para chamar a atenção do leitor para o conteúdo anunciado. Em anúncio publicado no sábado, 28 de janeiro de 1886 (Imagem 7), o grande chamariz para o recebimento de cinco mil óculos na loja Pendula Americana, é a frase “Não ha mais cegos!”.

Na mesma página, um anúncio (Imagem 8) tenta

“fisgar” as

consumidoras locais: “Ouvi, graciosas filhas de Belém!...”. Convidando-as para comparecer a loja, pois “só assim ostentarão toilettes

esplendidos no arraia delicioso de tradicional festividade de Nazareth”. Aqui, embora, sejam anunciados enfeites de procedência europeia, o apelo é feito com base no local. O que fica evidenciado do início (com o título “graciosas filhas de Belém”) ao fim (com a menção à festividade

Imagem 9- O Liberal do Pará. Sábado, 15 de julho de 1882, n. 156, p.1. Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Imagem 7 - O Liberal do Pará. Sábado, 28 de janeiro de 1886, n. 16, p.4.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Imagem 6 - O Liberal do Pará. Sexta-feira, 18 de janeiro de 1889, n.15 p.4.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

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13 religiosa local, como motivo para as mulheres adornarem-se).

Em anúncio publicado no jornal Diário de Belém (Imagem 9), no sábado, 15 de julho de 1882, observa-se o uso de frases em rima. Segundo Santos (2010), a utilização desse recurso na linguagem dos anúncios, além de facilitar a memorização, “têm uma forte relação com a tradição oral, desde os trovadores e os pregões da Idade Média aos vendedores ambulantes e camelôs dos tempos modernos” (SANTOS, 2010, p. 114).

O título do anúncio é alarmante: “Fogo! Fogo! Fogo!”, fazendo uso do duplo sentido da palavra fogo. No caso, não se trata de incêndio, mas sim de uma queimação de preços. Tal anúncio da queimação é feito todo em versos.

De modo geral, durante a pesquisa que sustenta o atual relatório, pode-se perceber como a publicidade ganhou mais espaço, as ilustrações eram mais frequentes e elaboradas nesse período. Os textos dos anúncios apelavam à questão do moderno e da novidade, bem como reforçavam a qualidade usando o argumento do tempo de existência e a tradição de determinado produto/estabelecimento comercial e se referiam também

ao quesito preço (“preços módicos”, “grande queimação” e “pechinchas”).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Imagem 9- O Liberal do Pará. Sábado, 15 de julho de 1882, n. 156, p.1. Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Imagem 8 - O Liberal do Pará. Sábado, 28 de janeiro de 1886, n. 16, p.4.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

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BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ. Jornais Paraoaras: catálogo. Belém: Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, 1985.

SANTOS, Luiz Cezar Silva dos. publiCIDADE belle époque: a mídia impressa nos periódicos da cidade de Belém entre 1870-1912. 2010. 269 f. Tese (Doutorado em história) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.

SEIXAS, Netília Silva dos Anjos. A trajetória da imprensa no Pará: do impresso à internet. Projeto de pesquisa em andamento. Belém: UFPA, 2017.

BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa: Brasil, 1800-1900. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.

______. Meios de comunicação e história: um universo de possíveis. In: RIBEIRO, Ana Paula Goulart; FERREIRA, Maria Alves (Org.). Mídia e memória: a produção de sentidos nos meios de comunicação. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

PUBLICAÇÕES:

 Artigo em fase de últimos ajustes para envio ao Intercom Norte 2017.

CONCLUSÃO:

A pesquisa feita durante o período do atual relatório possibilitou novas observações sobre a configuração da publicidade nos periódicos de Belém da década de 1880. Observou-se principalmente a expansão do espaço em que a publicidade estava presente, estratégias do texto publicitário e maior número de anúncios com ilustrações.

DIFICULDADES

 Conciliar as pesquisas no âmbito do projeto com as atividades da graduação.  Rigor da pesquisa científica.

 Cumprir com os prazos definidos para o plano de trabalho.  Problemas pessoais, principalmente relativos à saúde.

PARECER DO ORIENTADOR:

A discente chegou ao projeto em janeiro de 2016 para cumprir a segunda metade do plano de trabalho de outro bolsista do curso de Publicidade e Propaganda. Em agosto de 2016 iniciou novo plano de trabalho, que está em andamento e substancia este relatório parcial. Neste período de seis meses (agosto/2016 a janeiro/2017), participou das leituras do grupo de estudo do projeto e

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15 continuou as atividades de levantamento de dados sobre a configuração da publicidade em jornais de Belém ainda no século XIX. A discente evidencia conhecimento do assunto, mas necessita de mais determinação quanto à finalização de atividades. Nesse momento, está finalizando artigo para envio ao Congresso da Intercom Norte, que ocorrerá em maio, em Manaus. O artigo está em fase de ajustes e a aluna já está se organizando para a participação no evento. O parecer ao relatório da bolsista é favorável.

DATA: 06 / 03 / 2017

Netília Silva dos Anjos Seixas

_________________________________________ ASSINATURA DO ORIENTADOR

Ruth Harriet Santos da Rocha Sepaul

____________________________________________ ASSINATURA DO ALUNO

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Anexo 1 – Artigo em finalização para ser submetido ao Intercom Norte 2017.

Singer – o alinhavar de estratégias mercadológicas em anúncios do século XIX Ruth Harriet Santos da Rocha SEPAUL1

Netília Silva dos Anjos SEIXAS2 Universidade Federal do Pará, Belém, PA

Resumo

Quando observamos empresas de sucesso mundial em suas categorias, tal como a Companhia Singer de máquinas de costura, nem sempre imaginamos ou temos conhecimento de sua trajetória até o sucesso. Quais estratégias mercadológicas possibilitaram sua ascenção, se fizeram anúncios desde sua fundação e, se sim, como era a sua configuração, como gerenciavam a imagem de marca até que se tornasse uma empresa de sucesso e uma marca, de fato, memorável. Este estudo teve como intuito observar as estratégias mercadológicas/publicitárias da Singer, e perceber como elas se aproximavam de algumas técnicas de marketing e branding conhecidas atualmente. Buscamos perceber nos anúncios publicados na imprensa local, a forma a empresa trabalhava a imagem de marca, o produto, pontos e condições de venda, fidelização de clientes e a promoção do produto como um todo. Embora as teorias de marketing e branding tenham sido desenvolvidas ao longo do século XX, olhamos os anúncios publicitários da Singer, publicados nos periódicos de Belém-PA, nas décadas 1850 e 1870, como uma possibilidade de explicação das atividades que a empresa desenvolveu na época.

Palavras-chave: estratégias publicitárias; imprensa paraense; estratégias de marketing; branding; Singer.

Introdução

Este artigo3 é resultado da observação de jornais diários de Belém-PA, das décadas de 1850 a 1870, nos quais foram encontrados anúncios da máquina de costura Singer. O objetivo é observar as estratégias mercadológicas e publicitárias da Singer, uma empresa reconhecida e estabilizada no mercado atual e perceber como iniciou suas atividades na imprensa cotidiana local. A pesquisa foi feita observando os seguintes jornais: Diário do Gram-Pará (1858, 1860-1868), A Epocha (1859), Diário de Belém (1868-1879) O Liberal do Pará (1869-1879) e A Província do Pará (1876-1877).

Desses jornais, analisamos os meses de janeiro e julho, com um intervalo de seis meses entre as edições pesquisadas, a fim de melhor observar as alterações do período. Houve casos de edições danificadas ou que não estavam disponíveis; nesses casos, o procedimento adotado foi de analisar um mês à frente e/ou atrás (o que estivesse acessível, nessa ordem).

1

Estudante de Graduação do 5º semestre do Curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Pará (UFPA). Bolsista PIBIC-CNPq do projeto de pesquisa “A Trajetória da Imprensa no Pará: do impresso à

internet”. E-mail: ruthsepaul@gmail.com

2

Professora da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará, líder do Grupo de Pesquisa História da Mídia na Amazônia (Midiam). E-mail:

netilia@uol.com.br.

3 Este artigo é resultado de estudo realizado no projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará: do impresso à

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17 Dos jornais analisados, houve ocorrência de anúncios da máquina Singer em A Província do Pará em 1876 e 1877; Diário de Belém, em 1870, 1871, 1872; no Diário do Gram-Pará, em 1868; O Liberal do Pará, em 1872, 1877, 1878 e 1879. Os jornais listados estão disponíveis para consulta na Biblioteca Pública Arthur Vianna, no setor de Periódicos e de Microfilmagem.

Tempos de mudança: a Família Real Portuguesa e o nascimento da imprensa e da publicidade

O início de nossa história por meio da imprensa remonta aos tempos monárquicos, onde uma série de desdobramentos ocasionou a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil. Em 13 de maio de 1808, o príncipe regente Dom João VI criou a Impressão Régia. Dos prelos trazidos na bagagem da Família Real, saíram em 10 de setembro de 1808 as páginas do primeiro jornal impresso no país, a Gazeta do Rio de Janeiro. Segundo Armitage (1914 apud SODRÉ, 2011), a gazeta recém-criada não tinha como objetivo retratar os contratempos da sociedade do nosso país.

O surgimento da publicidade nos impressos também data desse período (1808). “A publicidade revela-se integrada com o sistema econômico e – como o jornalismo, só que de outro modo – cria e transforma as nossas pautas culturais, nossos hábitos, nossas modas, nossas formas de consumo” (MACHADO, 2009, p. 19). Além disso, a publicidade constitui um importante recurso (assim como o jornalismo), para narrar os acontecimentos e características (econômicas e sociais) de determinada época e meio social ao qual estão inseridas as publicações.

É válido salientar que o decreto de abertura dos portos assinado por Dom João VI, em 29 de janeiro de 1808, foi essencial no contexto de gênese da publicidade, “liberando a importação de qualquer mercadoria transportada por navios portugueses ou estrangeiros em paz com a Coroa, favorecendo, principalmente, a importação de produtos ingleses” (GRAF, 2003, p. 17).

Décadas adiante, mais especificamente em 1870, é possível observar em anúncios encontrados no periódico paraense O Liberal do Pará um retrato característico dessa abertura dos portos brasileiros para mercadorias estrangeiras. É comum observarmos nos textos de anúncios publicados em periódicos paraenses do período (1870) a menção a relógios ingleses, tecidos, joias, entre outros produtos recém-chegados da Europa ou do “paquete inglez”, dentre vários outros anúncios que fazem menção à origem europeia e/ou americana dos produtos.

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Segundo Graf (2003, p. 17), “social e culturalmente, o Império molda um comportamento, baseado no europeu, que é seguido por todo o país, durante o século XIX e parte do XX”.

Imprensa paraense e jornais analisados

Em Belém, a produção impressa foi bastante diversificada no século XIX, com a publicação de periódicos e revistas. Segundo o historiador Aldrin Figueiredo, com base nos dados do catálogo de jornais paraenses de Remijio de Bellido, “entre 1822 e 1908, portanto em menos de um século, circularam no Pará cerca de 730 jornais, dos quais 722 foram impressos em português, 4 em espanhol, 3 em italiano e apenas 1 em francês” (FIGUEIREDO, 2005, p. 248). Silva, Paula e Seixas (2012) também observaram a diversidade de periódicos no Pará no século XIX.

A publicidade aparecia nesses jornais nas seções chamadas de “avizos” ou “annuncios”, localizadas geralmente nas últimas páginas. O texto desses anúncios tinha tamanhos variados, ora mais longos e drescritivos (tecendo elogios à qualidade dos produtos e estabelecimentos, listando os produtos); ora mais curtos e objetivos. Entre os produtos e serviços anunciados, figuram gêneros alimentícios, início e término de sociedades, medicamentos (em grande quantidade), roupas, acessórios e tecidos, além de anúncios de venda e aluguel de imóveis, jóias, e também de compra/venda/aluguel/fuga de negros escravizados. Aparecem anúncios de serviços de dentistas, fotógrafos e advogados. Quanto à configuração gráfica dos jornais desse período, é válido observar:

Os jornais que inicialmente apresentavam quatro páginas, com duas colunas em média, passam a ter mais páginas e mais colunas, mais assuntos, como Notícias Diversas, Avisos, Variedades, Coluna Social, imagens, trechos de outros jornais, etc. E o conteúdo inicialmente político diversificou-se, abrangendo assuntos mais gerais. (SILVA, PAULA, SEIXAS, 2012, p. 160) Os jornais onde foram encontrados os anúncios analisados foram A Província do Pará, Diário de Belém, Diário do Gram-Pará e O Liberal do Pará, todos eram de circulação diária. O primeiro jornal mencionado, A Província do Pará (1876-?), era um jornal de cunho político, “inicialmente foi órgão do Partido Liberal, passando a ser uma empresa comercial” (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985, p. 72) e teve seu primeiro número publicado no dia 25 de março de 1876. O Diário de Belém (1868-1892) era uma “folha política, noticiosa e comercial, depois virou órgão especial do Comércio”; seu primeiro número circulou no dia 7 de setembro de 1868 (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985, p. 55).

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19 conteúdo encontravam-se “crônicas diárias, humorísticas e políticas” (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985, p. 43). Por último, O Liberal do Pará (1869-1889), cujo primeiro número circulou em 10 de janeiro de 1869, era um “jornal de circulação diária, político, comercial e noticioso, órgão do Partido Liberal do Pará” (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985, p. 56).

Costurando a história: a máquina de costura e seus inventores

A história da máquina de costura traz reviravoltas, diferentes inventores/colaboradores e brigas por patentes. Segundo Abreu (2006), “o invento, que tanta rapidez, qualidade e diversidade trouxe para o guarda-roupa da humanidade, não contou, infelizmente, com um único inventor” (ABREU, 2006, p. 29). Ainda segundo a autora, “tantos foram os passos na direção da obra final que, pode-se dizer, a máquina de costura como a conhecemos é quase uma criação coletiva de gênios diversos” (ABREU, 2006, p. 29), haja vista que só se tornou o que é graças aos diversos aperfeiçoamentos ao longo dos anos.

A trajetória do invento, segundo Abreu, teve início em 1790, com o inglês Thomas Saint, que desenvolveu a primeira máquina para costurar calçados. Em 1829, o alfaiate francês Barthélemy Thimmonier (1793-1857) desenvolveu um modelo para produção em larga escala. Porém, dois anos mais tarde (1831), Thimmonier tem sua oficina invadida e suas máquinas destruídas, numa revolta de operários franceses (RIVAL, 2009, p. 176). Nesse período de transição da manufatura para o sistema industrial, os “alfaiates de Paris viram naquelas máquinas uma ameaça ao ganha-pão e incentivaram uma multidão a destruí-las” (ABREU, 2006, p. 29).

A trajetória do invento segue com outros nomes que deram significativas contribuições, a exemplo de M. Magnin que em 1845, sugeriu a utilização do modelo de Thimmonier na fabricação em série, com o diferencial de ser totalmente de metal, conforme afirma Abreu (2006); o engenheiro mecânico norte americano, Elias Howe (1819-1867) cuja contribuição foi a criação da agulha para máquina com buraco na ponta (ABREU, 2006, p. 29-30). No entanto, tal melhoria teria sido desenvolvida antes por Walter Hunt (1796-1860), mas “apesar das inovações do modelo, Hunt jamais obteve registro e Elias Howe passou à história como inventor da máquina de costura de uso prático” (BARSA, 2001, p. 272).

Isaac Merrit Singer (1811-1875), fundador da companhia Singer, surge em 1851, quando aperfeiçoou, fabricou e registrou uma máquina de costura em série em seu nome. Houve uma disputa judicial em que Howe saiu vitorioso e obteve o direito ao recebimento de pagamento sobre cada máquina fabricada nos Estados Unidos. “Embora a máquina de Elias

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Howe fosse superior na época, a de Singer tinha a vantagem de fazer costura contínua. O sucesso o levou, com o apoio de sócios, a fundar uma empresa” (ABREU, 2006, p. 30).

Breve histórico da Singer

Conforme podemos observar, a história da companhia Singer está inscrita na própria história de invenção da máquina de costura. A trajetória da Singer, segundo informações do

site brasileiro4 da empresa, começa a ser contada em 1851, quando obtém a patente da primeira máquina de costura “realmente prática”(SINGER BRASIL)5

. O site espanhol6 da companhia afirma que no mesmo ano em que obteve a patente, Isaac Singer fundou a I.M. Singer & Company com Edward Clark, um advogado nova iorquino. Ainda segundo informações do site espanhol da companhia, em 1853 “la I.M. Singer & Co. abre una filial y una planta de producción en la ciudad de Nueva York. La sociedad cambia de nombre, tomando el de Singer Manufacturing Company”(SINGER ESPANHA)7

.

O marco da expansão internacional da marca foi em território francês, no ano de 1855 na cidade de Paris. Lá, segundo o informações do site espanhol da empresa, “Singer se convierte en la primera empresa mundial en el campo de la costura a máquina” (SINGER ESPANHA). No Brasil, em 1858 apareceu o primeiro ponto de vendas, situado na famosa Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. Consta ainda no site brasileiro da empresa que em 1876 o Imperador D. Pedro II comprou pelo menos duas máquinas de costura na Feira Internacional (Exposição Universal8) da Filadélfia, e trouxe para o Brasil. A autorização para funcionamento da companhia em solo brasileiro só ocorreu em 1888, mediante assinatura de decreto pela princesa Isabel. Sobre o momento em que a empresa consegue a autorização, a doutora em história econômica Milena Fernandes Oliveira afirma que “ a data é significativa, porque corresponde ao mesmo ano que a escravatura foi abolida, o que, provavelmente, geraria problemas no setor da produção artesanal, particularmente têxtil” (OLIVEIRA, 2014, p.189).

4 < http://www.singer.com.br/nossa-historia/> 5

Singer, disponível no endereço: < http://www.singer.com.br/nossa-historia/>, sem indicação de autoria.

6 <http://www.singer.es/historia/1811-...-1899.html>

7 Singer Espanha, disponível no endereço: <http://www.singer.es/historia/1811-...-1899.html>, sem indicação de

autoria.

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Realizadas desde 1851, as exposições universais eram grandes feiras que mostravam o que de mais moderno o homem havia produzido até então. Essas exposições “tiveram como propósito educar e entreter as grandes massas, estimulando sua crença no progresso científico e tecnológico e na promessa de melhoria de condições de vida representada pelos avanços industriais. Além do papel de vitrines do progresso e da modernidade, as exposições universais também ganharam importância como eventos de afirmação no plano internacional dos países e das cidades que sediavam, contribuindo para promover sua imagem no exterior” (GOLDMAN, 2016, p.

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21 A partir da autorização de funcionamento, a trajetória da empresa seguiu em escala ascendente. O ano é 1905, e segundo o site brasileiro da Singer, “o escritório central continuou no Rio de Janeiro e foram abertas filiais por todo o Brasil. Em lugares mais distantes havia representantes comerciais autônomos e as máquinas chegavam até de barco” (SINGER BRASIL). As novas filiais foram implantadas em “Niterói, Campos, São Paulo, Salvador, Pelotas e no Recife” (OLIVEIRA, 2014, p.189). Na linha do tempo no site brasileiro, 1950 é o ano no qual a cidade de Campinas, localizada no interior do estado de São Paulo, foi escolhida para receber a primeira fábrica de máquinas de costura Singer, que também viria a ser a primeira fábrica de máquinas de costura da América do Sul. A fábrica foi inaugurada cinco anos mais tarde, em 14 de maio de 1955 pelo então presidente republicano, João Café Filho (SINGER BRASIL). Muitas outras conquistas e aperfeiçoamento de produtos se sucederam e fazem da Singer a marca reconhecida que é hoje.

Marketing internacional

Uma das características marcantes de nosso tempo é o marketing internacional. Kotler afirma que “ao estabelecer-se além-fronteiras, as empresas realmente diversificam seus riscos por deixar de depender exclusivamente do mercado de um país” (KOTLER, 2003, p. 138). Percebe-se que essa foi uma das estratégias adotadas pela Singer, que tinha todo um contexto favorável à expansão de seus produtos, principalmente no Brasil. Ainda segundo Kotler (2003, p. 138), as empresas que decidem investir em marketing internacional “contarão com maiores incentivos para melhorar seus produtos, ao passar a competir em novas situações, contra novos concorrentes”.

Dos cinco estágios (exportação passiva, exportação ativa, abertura de escritórios de vendas no exterior, construção de fábricas no exterior, constituição de sedes regionais no exterior) mencionados por (KOTLER, 2003, p. 139) para que uma empresa se torne global, observamos por meio de alguns anúncios dos jornais paraenses e informações coletadas, que a Singer atendeu principalmente a quatro, no que se refere ao Brasil e/ou Pará: primeiro, realizando exportação ativa por meio de distribuidores; segundo, inaugurando escritórios de vendas no exterior; terceiro, construindo fábricas, e quarto, criando sedes, tal como fez em solo brasileiro.

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Quando pensamos em marketing, propaganda e publicidade, é comum situarmos o pensamento nas campanhas publicitárias desenvolvidas atualmente, mas a preocupação e o interesse em construir uma boa imagem para uma empresa é algo bem mais antigo.

É certo que a ideia de estrategicamente pensar a gestão de marcas é fruto de discursos mais atuais, quando “popularizou-se entre nós o termo inglês branding, cujo conceito original é o de um processo de desenvolver e manter marcas, táticas e, estrategicamente, com o objetivo de criar uma imagem única – e positiva – para um produto ou serviço” (GRACIOSO, 2006, p. 20-21). A marca, por sua vez, “tem por finalidade mercadológica identificar as mercadorias (produtos) e os serviços oferecidos por determinada empresa ao mercado consumidor, para diferenciar uma marca (produto, serviço) de outra concorrente” (SANTOS, 2010, p. 65). Observamos já em anúncios publicados em periódicos paraenses do século XIX, (tanto os da Singer, como de outros produtos e serviços) essa preocupação, em que, de maneira simples, e até mesmo fazendo uso da linguagem cotidiana, são demonstradas as vantagens de um produto ou serviço, estratégias de diferenciação e a preocupação com os clientes.

O professor Francisco Gracioso aponta para o fato de a propaganda possibilitar uma rápida difusão da imagem de marca, fazendo com que tal imagem não dependa apenas do compartilhamento de experiências entre consumidores (GRACIOSO, 2006, p. 20). Por isso, propagar e publicizar informações relativas a produtos e serviços, e assim reforçar positivamente a impressão comum, é algo essencial e “os comerciantes logo perceberam que ao fazer propaganda de sua marca estariam alargando a sua penetração, levando a sua fama até pessoas que nunca tinham usado aquele produto ou serviço” (GRACIOSO, 2006, p. 20).

No caso da Singer, observamos, no material analisado, que a empresa buscou construir em seus anúncios a imagem de uma companhia conhecida, em constante desenvolvimento e expansão, fabricante de produtos de qualidade e, principalmente, preocupada com o consumidor. Construir uma boa imagem por intermédio da publicidade e da propaganda é essencial, mas Gracioso é categórico ao afirmar que “a propaganda por si só não cria a imagem de marca. Esta depende basicamente da qualidade do produto e de sua adequação às necessidades do comprador” (GRACIOSO, 2006, p. 20).

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23 O primeiro anúncio (Imagem 1) encontrado na nossa pesquisa é do Diario do Gram-Pará, numa sexta-feira, dia 17 de janeiro de

1868, dez anos depois da implantação do primeiro ponto de vendas no Brasil e vinte anos antes da autorização de funcionamento em nosso país assinada pela princesa Isabel. É um anúncio de um estabelecimento local (Loja das Amazonas), trazendo a novidade do recebimento das máquinas Singer em sua loja. Com uma borda ilustrada, esse anúncio por si só, já representa um diferencial em relação

aos outros do mesmo período, não só pela borda ilustrada, mas pela ilustração presente. No texto, é mencionado o nome de um dos representantes da empresa (como é informado em vários outros anúncios): “José Maria do Amaral & Cª acabão de receber directamente de New-York, pelo navio Belém, machinas de costura dos autores americanos Singer & C. ª Grover & Baker, tanto para famílias como para alfaiates e sapateiros...” [sic].

No domingo do dia 1º.de janeiro de 1871, há no jornal Diário de Belém outro anúncio (Imagem 2) onde consta José Maria do Amaral & C.ª como representante. Nesse anúncio, além da ilustração no topo, de uma jovem mulher utilizando a máquina Singer, apresenta o título “As machinas de costura de Singer”, seguido do texto onde avisa as pessoas que fizeram encomendas e outras que pretendam comprar uma “boa machina”, que “acabam de receber pelo navio americano ‘Frank Howard’ mais de quarenta qualidades destas celebres machinas, adaptadas ao serviço das famillias, costureiras, alfaiates e sapateiros”.

No mesmo anúncio, também são mencionados materiais para a máquina, entre outros acessórios de costura, como agulhas, linhas, bordados, fitas e óleo. O texto é finalizado de modo imperativo:

Qualquer pessoa que deseje possuir uma boa machina não a deve comprar senão depois de visitar o nosso estabelecimento. Uma longa e constante pratica que temos destas machinas, e a boa vontade com que desejamos sempre servir aos nossos freguezes nos autorisam a tanto. (DIÁRIO DE BELÉM, 1871, p.3).

Em 4 de janeiro de 1872, uma quinta-feira, encontramos no jornal O Liberal do Pará um anúncio da Singer, grande, ocupando pouco mais de um quarto da página (Imagem 3). No anúncio há o nome de um agente da companhia, J. Q. HAYES, e a “marca official da Imagem 1 - Diário do Gram-Pará, 17 jan. 1868, p.3.

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companhia” bem ao centro. O texto alerta sobre imitações que comprometem a companhia e os seus negociantes:

Pessoas pouco conscienciosas nas praças da Europa e America do Norte tem offerecido secretamente imitações das machinas de costuras de Singer comprometendo a companhia e os respectivos negociantes que as tem comprado e causado bastante prejuízo ás familias e artistas com suas inferiores imitações (O LIBERAL DO PARÁ, 1872, p. 4.).

Por isso, a companhia resolveu facilitar a venda, oferecendo “machinas de costuras por preços tão rasoaveis que não oferecem atração aos falsificadores”. Há ainda uma tabela indicando os preços já reduzidos e local de venda dos produtos. Como forma de verificar a autenticidade, é dito: “Todas as machinas vendidas nesta agencia são plenamente garantidas e levão no braço de cada machina a marca acima.”. Informa, ainda, que a agência tem um “perito machinista” para fazer consertos nas máquinas.

Imagem 3 – O Liberal do Pará, 4 jan. 1872, p. 4.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Imagem 2 - Diário de Belém, 1 jan. 1871, n. 1, p.3.

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25 Seria um ancestral da assistência técnica? Nota-se na última frase do anúncio (“Precisa-se contractar agencias em todas as cidades do interior.”), o desejo de ampliação dos pontos de venda (PDV) além de centros urbanos principais, como Belém e Manaus.

Outro anúncio grande, com aproximadamente o mesmo tamanho que o anterior e diagramação similar, é o da terça-feira, 5 de outubro de 1872 (Imagem 4), publicado no jornal Diário de Belém. Novamente a marca da companhia é usada como identificação. De início, observamos que o enunciado “As unicas que merecem a confiança das familias e artistas” remete a aspectos intangíveis, como confiança, que trabalham a questão da imagem de marca. O texto fala ainda em uma “Grande reducção de preços por ordem expressa da companhia” e anuncia: “90:000 RS. É o preço da melhor machina de

costura do mundo.”.

A segunda parte do anúncio, onde há um texto mais denso visualmente, faz um protesto contra “o comercio ilicito que ainda continua, em machinas de costuras, agulhas, retrozes e linhas etc.”, os quais , segundo o texto no anúncio, imitam somente em aparência os produtos da Singer. Os imitadores são acusados de até utilizarem a “marca official da Singer Manufacturing Comapany”. O texto é variado nas temáticas abordadas, trazendo ainda um “aviso especial” informando a mudança de endereço de uma das suas agências e convidando o público para examinar os produtos. O anúncio é finalizado

falando sobre as formas de compra/venda: “Vendas á praso ou a dinheiro”, e informando que todas as máquinas e pertences têm garantia de consertos por dois anos.

O quinto anúncio analisado (Imagem 5) foi publicado no sábado, dia 26 de outubro de 1872, no jornal Diário de Belém. Nesse pequeno anúncio, é informada a chegada de um “grande sortimento d’estas muito conhecidas e accreditadas machinas” para o “canto do

Imagem 5 – Diário de Belém, 26 out. 1872, p.2.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Imagem 4 – Diário de Belém, 5 out. 1872, p. 4.

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

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Salgado Barateiro” além de acessórios para as mesmas. Nota-se a ênfase na qualidade por se tratarem das máquinas Singer, facilidade de compra e garantia, em caso de algum problema com as mesmas.

Outro anúncio de destaque (Imagem 6) foi publicado no sábado, 25 de março de 1876, em A Província do Pará. O anúncio ocupava cerca de um quarto de página, e trazia muitas informações importantes para os clientes, atraindo o leitor pelo uso de “títulos” com tipografia em diferentes tamanhos, dando destaque para elementos chaves do texto, a exemplo dos números, origem, garantia e público alvo. A grande novidade informada no texto era o início de vendas a prazo, já observada em um anúncio analisado anteriormente, em anúncio publicado no jornal Diário de Belém, em 5 de outubro de 1872.

Vale evidenciar que tal sistema de vendas, segundo o site brasileiro da companhia, só teria sido introduzido no Brasil em 18899, porém nesses anúncios de mais de uma década antes, já há registros apontando sua existência. A introdução do sistema de vendas a prazo responde ao desejo da “Companhia Singer pôr as suas acreditadas machinas ao alcance de todas as classes da sociedade”, equiparando o (hoje estado do) Pará e o Brasil a países desenvolvidos no quesito da modernização das práticas comerciais, pois conforme o texto do anúncio, tal prática comercial já havia sido adotada há um bom tempo nos “Estados Unidos, Inglaterra, França e outros países da Europa e da America”.

É curioso observar a quem se destinam as máquinas (conforme texto desse anúncio e o do segundo anúncio de nossa análise): “familia e artistas”. O primeiro grupo é de fácil compreensão ante a sociedade da época e mesmo a atual, onde há a predominância da mulher no manuseio de tais máquinas e na arte de coser, seja para pequenos reparos e confecção de roupas para a família, como para obtenção de lucro e independência. Quanto ao segundo, inferimos que possa ser menção a Imagem 6 – A Província do Pará, 25 mar. 1876, p.

Fo nte: Biblioteca Pública Arthur Vianna .

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27 Imagem 7 – O Liberal do Pará, 3 jan. 1877, p. 4.

Fonte: Hemeroteca Digital da Bilioteca Nacional.

alfaiates, sapateiros (como mencionado no anúncio do dia 1 de janeiro de 1871, publicado no Diário de Belém), entre outros artíficies, que possam vir a desfrutarem das máquinas de costura em seu ofício.

A companhia ressalta que com uma pequena mensalidade é possível adquirir um das maquinas sem muito sacrifício, e que o trabalho que poderá ser produzido com ela será mais recompensatório. O anúncio segue destacando os feitos da companhia, afirmando que por meio do sistema de prestação, 300 mil pessoas já adquiriram suas máquinas e que não teriam acesso a “machinas tão superiores” por outra forma, e que acabariam comprando máquinas que “... sob a convidativa apparencia de BARATAS - se tornam caras, pela sua manifesta inferioridade.”. Nota-se aqui, além da tentativa de auto-promoção, o ataque às concorrentes, desqualificando-as. Observa-se também, que a companhia Singer aparece como uma benfeitora, que além de alertar sobre falsificações e produtos de qualidade inferior, ainda oferece facilidades de compra das suas máquinas – ditas de qualidade superior -, como evidenciado em outros anúncios.

O texto continua o reforço à companhia, que desde sua fundação, vinte cinco anos antes, vinha se dedicando a fabricação de máquinas de

qualidade comprovada pela venda. Há, aqui, o uso do tempo para evidenciar qualidade e longevidade da Singer. O anúncio também traz dados do número de venda de máquinas nos últimos anos, 700 mil maquinas, e “a circunstancia d’esta Companhia poder fornecer o publico com machinas tão superiores, e debaixo de condições tão vantajosas, é unicamente devida ao imenso capital de que esta COMPANHIA póde dispor.” [sic]. Novamente a questão da benfeitoria é evidenciada, ao passo que ao mesmo tempo vangloria-se de ter capital para propiciar tais condições de venda. Por fim, menciona que há agentes da companhia na Província do Grão- Pará e no Amazonas e informa o nome da agência e/ou agentes e o endereço.

No ano seguinte, na quarta-feira de 3 janeiro

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de 1877, no jornal O Liberal do Pará encontramos outro anúncio mencionando os agentes José Maria do Amaral & C.ª (Imagem 7). O anúncio, de um pouco menos de um quarto de página, promove os serviços dos agentes como importadores de mercadorias estrangeiras, especificamente as americanas, inglesas, francesas e alemãs.

No mesmo anúncio, há três ilustrações de máquinas de costura e a marca da empresa, além disso, há um aviso especial, novamente alertando os compradores e falando sobre falsificadores, os quais são referidos como “futricadores do trabalho e reputação alheia”, que fazem imitações baratas sob o discurso de serem versões aperfeiçoadas das máquinas Singer. No corpus analisado, encontramos um anúncio de 1879 no mesmo jornal O Liberal do Pará, em que outro fabricante (Henrique Pollack) anunciava “machinas do systema Singer... ainda mais aperfeiçoadas” e silenciosas, o que parece corresponder ao que se apontava nos anúncios da Singer sobre concorrentes que a empresa visava desqualificar.

Em casos de grandes e também pequenas empresas, é importante estar atento ao mercado e saber contornar questões que influem diretamente na imagem de marca. Martins (2005) destaca:

Qualquer tentativa de uma empresa em construir uma marca de valor deve começar pela busca da satisfação das necessidades e expectativas dos consumidores, fato que exige o maior conhecimento possível do mercado em que se atua, incluindo os procedimentos das marcas concorrentes. (MARTINS, 2005 p. 134)

No jornal A Província do Pará, encontramos no dia 9 de janeiro de 1877 um anúncio de tamanho superior a um quarto de página, com ilustração de uma máquina de costura (Imagem 8). Ao falar das máquinas de costura Singer, Santos (2010) afirma que a companhia foi “uma das primeiras grandes marcas estrangeiras a se tornar um dos maiores anunciantes dos jornais da cidade” de Belém e comenta o fato de os anúncios já evidenciarem o que, nos tempos atuais, consideramos “o velho discurso publicitário ao se autoproclamarem ser as únicas verdadeiras” (SANTOS, 2010, p. 65). No topo do anúncio lê-se: “MACHINAS DE COSTURA DA COMPANHIA SINGER DE NEW-YORK AS Imagem 8 – A Província do Pará, 9 jan. 1877, p. 3.

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29 UNICAS VERDADEIRAS”. De ambos os lados da ilustração lê-se: “UNICOS AGENTES PARA AS PROVINCIAS DO PARÁ E AMAZONAS JOSÉ MARIA DO AMARAL & COMP.”. Tais enunciados evidenciam a origem das máquinas, fator que atribui valor e qualidade ao produto, além de avisar sobre os revendedores locais como sendo os únicos habilitados em comercializá-la. O anúncio informa que há um “grande deposito” de máquinas (para familia, alfaiate, costureiras, sapateiros e chapeleiros) entre outras mercadorias relativas ao trabalho de costurar. Novamente, há uma mensagem de reforço e atenção para formas de identificar as máquinas originais da companhia: “Cada machina vendida em nossa agencia, única autorizada pela Companhia Singer, será acompanhada de uma estampa em formato natural, representando uma GENTIL AMAZON, trabalhando na sua favorita machina Singer”. A tal “gentil amazon” a qual se referia o texto era a imagem de uma mulher sentada, utilizando uma máquina Singer, como observamos no segundo anúncio (Imagem 2) deste artigo.

Por último, no mesmo anúncio (Imagem 8) é anunciado o conserto de máquinas de costuras. Algo intrigante, pois nos anúncios que observamos, o texto sempre reforça a ótima qualidade das máquinas Singer. Qual seria a necessidade de falar sobre consertos logo em seguida? Ou oferecer um tempo de garantia tão longo? Dois ou seis anos, como observamos anteriormente. As máquinas teriam de fato, qualidade tão superior? Seria o fato de mesmo passado tantos anos e constantes aperfeiçoamentos, as máquinas ainda apresentarem muitas falhas? Essas são questões que não podemos responder neste momento, porém, poderia ser apenas mais um artifício para ganhar a confiança dos consumidores, oferecendo longas garantias e consertos, para que se sentissem seguros em adquirir tal mercadoria, tendo em vista que em vários anúncios Singer, eles falam de máquinas concorrentes como inferiores, mal acabadas e que causavam prejuizo.

O último anúncio analisado (Imagem 9) é de terça, 1 de janeiro de 1878, publicado no jornal O Liberal do Pará. Ocupando toda a últma página do jornal, é rico em detalhes nas bordas, texto e ilustrações e fala sobre “O grande Centennial Pavilhão da COMPANHIA SINGER Na Exposição de Philadelphia em 1876.” A imagem que consta no centro, bem no topo do anúncio, é do referido pavilhão da exposição. Tal exposição constitui um marco histórico inclusive para o Brasil:

A Exposição Universal da Filadélfia de 1876 celebrou o centenário da Independência dos Estados Unidos da América e foi a primeira exposição norte-americana em que convidaram abertamente os demais países, inclusive com a presença do Imperador Dom Pedro II no momento da inauguração. (CAPILÉ; VERGARA, 2012, p. 5)

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O texto do anúncio ataca os fabricantes concorrentes que segundo o própio texto do anúncio, tais concorrentes (o texto não diz quais) haviam dito ter ganho prêmios na exposição mencionada, mas segundo este anúncio da Singer, os rivais haviam falsificados relatórios da comissão avaliadora “A companhia Singer

tendo esperado até hoje pela publicação dos relatorios officiaes tem agora a satisfação de submeter á apreciação do respeitavel publico completas e verdadeiras copias dos mesmos e que dizem respeito a machina Singer”(O LIBERAL DO PARÁ, 1878, p.3). Destaca-se que na exposição em questão, a empresa ganhou prêmios por sua “machina de costura para familia” e sua “machina de casear”. No mesmo anúncio, novamente é feito um alerta contra falsificações, indicando que devem ser compradas apenas as máquinas que tivessem a marca da comapnhia. São informadas, também, as condições de venda (“a dinheiro, a praso fixo e em prestações com bom fiador”) e endereço.

Nas bordas do anúncio, em cima e embaixo, repete-se a unicidade e legitimidade de representação da Singer na região amazônica: “Agentes da companhia Singer, nesta província e na do Amazonas.” E nos lados direito e esquerdo lê-se o endereço da loja em Belém, mas cujo nome da cidade não aparece, substituído por um espaço geográfico mais amplo, o Pará: “José Maria do Amaral e Comp., Rua do Dr. Malcher, antiga dos Cavalleiros, canto da travessa da Rosa.—Pará,”. As bordas do anúncio, impressas, lembram a moldura de um quadro, como se fosse uma versão mais simples.

Há também a marca da companhia no topo, em ambas as extremidades, para que os consumidores só comprem produtos ditos Singer, que tiverem tal marca. Logo abaixo das ilustrações das marcas, há duas máquinas, uma em cada lado. Nota-se que são modelos diferentes, provavelmente os que foram premiados na exposição.

Mix de marketing

Imagem 9 – O Liberal do Pará, 1 jan. 1878, p. 4.

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31 Faz parte dos estudos de marketing os chamados Quatro Ps ou mix de marketing, que consistem em um “conjunto de ferramentas de marketing que são organizadas em quatro grupos”: produto, preço, praça e promoção (SANT’ANNA, 2013, p. 73). De acordo com Sant’Anna, uma boa compreensão das ferramentas que compõem esses grupos, aliada ao conhecimento dos anseios do público-alvo, permitem o desenvolvimento de uma posição de destaque na mente do consumidor (SANT’ANNA, 2013, p. 73).

O produto, segundo Kotler (2000, p. 416), é “algo que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou desejo” e Sant’Anna reforça (2013,p. 74) que “quando se fala de necessidades, também se destacam os desejos, sensações, valores e percepções”. Nesse sentido, acreditamos que a Singer soube criar uma boa percepção de seus produtos, colocando-os sempre como de qualidade superior que seria comprovada pelas vendas, prêmios obtidos e constantes falsificações, de acordo com o texto dos anúncios.

Kotler (2000) fala sobre gerência de produtos e estabelece classificações para eles. Quanto a durabilidade e tangibilidade, as máquinas Sínger se encaixam como bens duráveis, que são “bens tangíveis normalmente usados durante um período de tempo, como geladeiras, ferramentas e vestuário. Os produtos duráveis normalmente exigem venda pessoal e serviços, trabalham com uma margem mais alta e requerem mais garantias por parte do fabricante ” (KOTLER, 2000, p. 418). Daí a necessidade de os anúncios do período analisado oferecerem vantagens como consertos e garantias de longo prazo (por mais exagerados que possam parecer os prazos mencionados).

Quanto ao preço, Sant’Anna nos fala que além de uma ferramenta de marketing, o preço também é uma ferramenta importante para o planejamento de comunicação, e “deve-se entender o preço como algo que lida também com o fator psicológico do consumidor, e a maior preocupação deve ser adequar o preço ao valor percebido do produto” (SANT’ANNA, 2013, p. 74). Portanto, um produto poderá ou não ser entendido como caro ou barato conforme a qualidade percebida. Ao adquirir uma máquina de costura não é diferente. Analisam-se as opções e seu custo benefício.

Certamente, os anunciantes da época tinham conhecimento da relação custo-benefício que influi na qualidade percebida, pois nos anúncios era comum a utilização de expressões como “acreditadas machinas”, “machinas de primeira qualidade”. Embora a utilização de tais expressões possa parecer óbvia, haja vista que se trata da venda de um produto, quando são observadas do ponto de vista mercadológico, trata-se de um reforço à qualidade percebida pelo consumidor e que influi no preço a ser cobrado.

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