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ENSINAR A COMPREENSÃO: UM DOS SABERES INDISPENSÁVEIS À EDUCAÇÃO DO PRESENTE FACE ÀS VIOLÊNCIAS

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Academic year: 2021

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Saber: Compreensão Temática: Violência

ENSINAR A COMPREENSÃO: UM DOS SABERES INDISPENSÁVEIS À EDUCAÇÃO DO PRESENTE FACE ÀS VIOLÊNCIAS

LIRA, Adriana 1 – UCB adrianalira@ucb.br FRANÇA, Carla Cristie2 – UCB carlacf@ucb.br ARAÚJO, Lucicleide3 - UCB lucicleide@ucb.br

Financiamento: UCB e UNESCO

RESUMO

O presente artigo destaca a urgente necessidade de ensinar a compreensão como condição básica e medida mais acertada para a escola fazer diferença face às violências no contexto escolar e consequentemente fora dele, e, então, cumprir a sua missão no que se refere à efetivação plena do direito à educação e à preparação dos indivíduos para o convívio em sociedade.

Palavras-chave: Violência. Ensino. Compreensão. Convivência.

INTRODUÇÃO

Há três décadas, as violências tornaram-se um grande desafio para a sociedade brasileira, atingindo escolas públicas e privadas que demonstram quase sempre, despreparo e fragilidade. As violências tomam proporções cada vez maiores, fazendo vítimas os diferentes atores. Assim, pesquisadores que acreditam ser a educação a base para uma sociedade mais justa e sem violências, buscam identificar que ações podem e devem ser emergencialmente implementadas por gestores e educadores e, desta forma,

1

Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília (UCB), professora adjunta e pesquisadora da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da mesma Universidade.

2

e 3 Mestrandas em Educação pela Universidade Católica de Brasília, professoras adjuntas da mesma Universidade.

Nota: Artigo elaborado a partir da dissertação de Mestrado em Educação do Programa Stricto Sensu da Universidade Católica de Brasília desenvolvida sob a orientação do Prof. Doutor Candido Alberto da Costa Gomes como forma de aprofundamento dos dados de pesquisa realizada pela Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da UCB, coordenada pelo mesmo professor.

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contribuir para garantir uma educação de qualidade para todos, como enseja o presente artigo. Verifica-se, principalmente, ser o cotidiano das escolas públicas o mais atingido pelas violências. Todavia, as escolas aparecem não apenas como vítimas das violências de seu meio, mas também, como laboratórios de violências sejam por meio de atitudes contra os alunos (violência simbólica) ou pela banalização das ocorrências que fomentam ainda mais as ocorrências, agravadas pela priorização de um ensino sem aplicabilidade para os estudantes que acaba por favorecer os conflitos. Tendo em vista a necessidade de reversão deste paradoxo ocorrente cotidianamente nos espaços escolares e a urgente superação das violências, constata-se a emergência de uma educação para compreensão a qual envolva a escuta sensível na relação dialógica entre os sujeitos, no sentido de se perceberem como seres interdependentes para a preservação de si mesmo, da vida do outro e do planeta.

Em solicitação à UNESCO, Morin (2004) apresentou sete eixos para a educação do futuro no presente, como possibilidades de caminhos a todos aqueles que fazem educação e se preocupam com o futuro das crianças e adolescentes do planeta que habitamos. No entanto, no presente artigo discutiremos o sexto saber “Educar para

a compreensão humana” que, em outras palavras, traduz-se em colocar-se no lugar do

outro e não desejar para o outro o que não se desejaria para si mesmo. Ou seja, uma compreensão que parte do eu (de si mesmo) para o tu (o outro) legitimando-o, como Maturana e Varela (1999) e Moraes (2003) assim nos ensinam. Processo que se estabelece sempre de modo intersubjetivo, na relação dialógica com o outro, buscando identificar-se à medida que se projeta no lugar do outro pela comunicação interior e exterior, de aprofundamento e compreensão do sentido dos fatos, dentro de um contexto mais amplo que os envolvem.

É preciso considerar que no processo de interação entre os indivíduos em uma organização, a convivência não é plana. E, por não saber lidar com essa situação, que traz em si toda uma complexidade, os sujeitos perdem a compostura e o equilíbrio emocional (CASTRO SANTANDER, 2005) e, uma vez não mediados, tais conflitos resultam em práticas violentas com o aumento de atos infracionais, contravenções e crimes no interior das escolas.

Nesse sentido, urge, nos espaços escolares, ações que se voltem para a promoção de diálogos de conscientização sobre a solidariedade entre os sujeitos com a vida e a morte, “como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da

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humanidade” (MORIN, 2004, p. 93). Sendo esta uma das finalidades da educação do presente, requer, intersubjetividade e compreensão que pede abertura do coração, simpatia e generosidade para com o próximo. Um saber para se pensar e se colocar em prática nos contextos escolares do presente, como possibilidade de construção de um futuro com pessoas mais conscientes, humanas, emocionalmente saudáveis e que primam, principalmente, pela vida em plenitude (cf., p. ex., MORIN, 2004; MORAES, 2008).

É, pois, a dificuldade de conviver com o outro que se tem repercutido no Distrito Federal e em todo o Brasil a ideia de que as escolas têm se tornado territórios de violências.

METODOLOGIA

Realizada no primeiro semestre de 2008, em quatro cidades satélites da periferia de Brasília, a pesquisa de natureza descritiva e exploratória, caracteriza-se como um estudo de casos múltiplos, não representando, porém, a situação geral da Unidade Federativa. A partir de uma abordagem quanti-qualitativa, a amostra envolveu 1004 informantes entre gestores, professores, estudantes, policiais e servidores de cinco escolas do ensino fundamental (5º ao 9º ano e aceleração da aprendizagem) dos turnos matutino e vespertino.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Resultados da pesquisa corroboram em grande parte a literatura, já que esta evidenciou que sendo o conflito constante nas relações humanas, faz-se necessário aprender a tratá-lo, evitá-lo, se possível, e resolvê-lo tão logo aconteçam, para preservar o clima escolar (JARES, 2002). Essas são ações para construir um clima agradável, de autoridade e confiança, em que o estabelecimento educacional se torne um laboratório vivo para aprender a conviver tanto na homogeneidade quanto na diversidade, o que só é possível por meio da escuta sensível, isto é, do ensino à compreensão.

As falas dos vários atores são pertinentes e, se reunidas, poderiam indicar algumas alternativas relevantes aos gestores tomaram decisões. No entanto, adotavam-se medidas por ensaio e erro, tornando os atores ainda mais desacreditados. Ignorando a percepção dos envolvidos, gestores tomavam decisões pouco eficazes e até mesmo perigosas para a superação das violências. Por exemplo, atividades de convivência,

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sugeridas pelos estudantes, eram impedidas no afã de evitar conflitos entre eles, não permitindo, portanto, que eles aprendessem a conviver em grupos, isto é a tolerar, respeitar as diferenças e o outro.

Os informantes confirmaram viver sob constante clima de tensão e hostilidade, fugindo ao que se espera da escola. Contradições de informações revelam a falha na comunicação organizacional, quando se prefere insistir num jogo de culpabilização pela ocorrência de violências. Os estudantes quando indagados sobre as violências intraescolares reconheciam que eram as pessoas as responsáveis por tornar esse espaço violento: “Tipo assim, não é que a escola em si seja violenta, mas os alunos não sabem

resolver as coisas na conversa, entendeu? É só na base da porrada eu acho que isso poderia ser evitado, com o diálogo” (Aluna, Grupo focal, Escola 2).

A pesquisa revela em números e palavras a necessidade de reformulação dos currículos convencionais de modo a ensinar o aluno a compreender o outro, por meio de uma escuta sensível e o reconhecimento das relações de alteridade. Tais aspectos, amplamente discutidos e recomendados na literatura, são ignorados por boa parte das escolas que dizem lutar para superação das violências, quando ilusoriamente se insisti em um ensino conteudista e descontextualizado: “Os professores só dão dever e a nossa

missão é só copiar, copiar, copiar e só isso” (Aluna, Grupo focal, Escola 3). Além dos

estudantes, professores e servidores apontaram que a comunicação organizacional deveria ser melhor observada pelos gestores.

Além da promoção das atividades de convivência, necessárias para que os estudantes aprendam a resolver seus conflitos, é preciso acompanhar os alunos, conforme recomenda Gomes (2005), mediá-los e oferecer-lhes um ensino em que eles exerçam seu protagonismo e sejam capazes de refletir e dialogar sobre assuntos emergenciais tais como violências, drogas, racismo, sexo, desigualdades e tantos outros, despertando o senso crítico e a sensibilidade. Todavia, o ensino oferecido aos estudantes pouco tem permitido que eles exponham seus pensamentos, ou mesmo reflitam sobre esses temas. Ao se observar o nível de comunicação nessas organizações é possível compreender o insucesso das ações escolares frente às violências e na resolução de outros problemas como, por exemplo, o fracasso escolar, já que não estão organizadas de modo a favorecer o diálogo. Assim, aspectos como a ociosidade, a falta de motivação, envolvimento e compromisso do corpo discente, aparecem como fatores que promovem os desentendimentos. Relatos dos estudantes, nos grupos focais, revelaram

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que o diálogo pouco acontece na escola e muitos gostariam de ser ouvidos: “[A] gente

tem muito prá falar e pouca gente prá ouvir. A gente quer diálogo dos pais, do professores” (Aluna, Grupo focal, Escola 4). Não havendo boa comunicação entre eles

(estudantes) e os adultos, as relações eram altamente conflituosas.

Uma das escolas, também em situação de risco (Escola 4), apesar de não ser um modelo de sucesso, vivenciava problemas idênticos às demais instituições pesquisadas. Mas, por promover uma educação mais humana, sensível e formativa obteve melhores resultados. Enfatizando a convivência entre os atores, desenvolvendo a escuta sensível e propiciando a compreensão superava o clima de conflito. Todos tinham vez e voz no Conselho Segurança Escolar (CSE) para efetivação do Projeto Segurança Escolar do Ministério Público do Distrito Federal. “É nesses encontros

mensais do CSE que a gente determina quais os problemas e o que a gente pode fazer para melhorar” (Orientadora Educacional, Entrevista, Escola 4). Verificou-se que

sensibilização e compreensão entre os estudantes, por meio das atividades curriculares e os momentos de convivência, foram aspectos fundamentais para que a Escola 4 alcançasse resultados satisfatórios na superação das violências. Todavia, esses aspectos, na maioria das escolas pesquisadas (Escolas 1, 2, 3 e 5), passavam despercebidos pelos gestores e equipe.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o crescente número de violências ocorrentes no cotidiano das escolas e em nosso redor, não se pode mais continuar adotando medidas paliativas e experimentais. Como afirma Gomes (2005), a escola não pode tudo, e embora não seja ela a única responsável, pode um pouco mais. Ensinar a compreensão é, sem dúvida, uma das medidas mais acertadas no processo de superação das violências. Contudo, os conflitos, tidos comumente como problema, devem ser vistos como oportunidades de formação individual e social nesta minissociedade que é a escola. Para tanto, é preciso, conforme destaca Gomes (2005), educar não apenas por palavras, mas, sobretudo, por exemplos.

REFERÊNCIAS

CASTRO SANTANDER, Alejandro. Analfabetismo emocional. Buenos Aires: Bonum, 2005.

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GOMES, Candido Alberto. A educação em novas perspectivas sociológicas. 4. ed. São Paulo: E.P.U, 2005.

JARES, Xesús Rodrigues. Educação e conflito: guia de educação para a convivência. Porto: Asa, 2002.

MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 5. ed. São Paulo: Palas Athena, 2001.

MORAES. Maria Cândida. Educar na biologia do amor e da solidariedade. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 8. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2004.

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