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Nós que Abraçam, Mulheres que Criam: desafios e enfrentamentos dos encontros coletivos na pandemia

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Academic year: 2021

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Trabalho Inscrito na Categoria de Resumo Expandido ISBN 978-65-86753-30-1

EIXO TEMÁTICO:

( ) Cidade e Pandemia: Desafios do Planejamento e da Gestão Urbana ( x ) Desafios Sociais e Econômicos da Pós-pandemia

( ) Gestão do Território durante e a Pós-pandemia ( ) Meio Ambiente e a Crise Sanitária do Covid-19

( ) Os Caminhos para Educação Pós-pandemia: Desafios e Potencialidades ( ) Pandemia: Segurança e Saúde do Trabalhador

( ) Política Públicas, Saúde e Ambiente

Nós que Abraçam, Mulheres que Criam: desafios e enfrentamentos dos

encontros coletivos na pandemia

Nós que Abraçam, women who create: challenges and confrontations of collective

meetings in the pandemic

.

Nós que Abraçam, mujeres que creamos: desafíos y enfrentamientos de reuniones

colectivas en la pandemia

Marta Vick Postai Neta

Mestre em Ciências Naturais, UERN, Brasil martavick@hotmail.com

Gutianna Michelle de Oliveira Dias

Graduada, UNP, Brasil. gutianna@hotmail.com

Maria Betânia Ribeiro Torres

Doutora em Ciências Sociais, UFRN, Brasil Professora do Departamento de Gestão Ambiental/FACEM/UERN betaniatorres@uern.br

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1 Introdução

No Brasil, as reflexões sobre mulheres e gênero em contextos rurais alcançaram uma

maior visibilidade a partir da década de 1980. Aqui conseguimos citar três pontos onde esses momentos se encontram, que contribuíram para o delineamento dessa área: I) a produção das pesquisadoras feministas sobre o trabalho feminino e, particularmente, sobre o trabalho das mulheres na área rural; II) os discursos das mulheres trabalhadoras rurais organizadas em grupos e movimentos; III) as pesquisas etnográficas sobre campe sinato, ribeirinhos/as, populações indígenas, comunidades de coletores/as e pescadores/as etc. (CORDEIRO, 2018)

A ação coletiva das mulheres em áreas rurais foi, sem dúvida, uma das grandes novidades do cenário político da época. Percebeu-se em vários locais do País, no início dos anos de 1980, pequenos grupos de mulheres passaram a se reunir para conversar sobre as suas vidas e o trabalho. Também construíram, ao longo do tempo, complexas teias e redes de movimentos que incluem, além das pessoas do lugar, feministas, militantes de diferentes movimentos rurais, participantes de ONG's, estudiosas e gestores públicos nos planos municipal, estadual e nacional. (CORDEIRO, 2018)

A participação das mulheres do campo nas lutas por direitos demonstra a vontade de

alteração no seu estado de invisibilidade para sujeitos de trabalho e direitos sociais, luta silenciada pela história oficial (Munarini, Cinelli, Cordeiro, 2020), que foi se ampliando ao longo dos anos, de modo que se observa a presença delas nos sindicatos e associações rurais. Nesse processo social e político, a independência financeira das mulheres ainda não foi conquistada e vislumbramos situações precárias e abusivas, por não conseguirem ser donas do seu próprio sustento e pela ausência de reconhecimento social do seu protagonismo na agricultura familiar. Políticas públicas voltadas para o reconhecimento das mulheres agricultoras familiares na economia rural sofreu um recuo do governo federal nos últimos anos. Desse modo, os grupos produtivos de mulheres do campo ainda são poucos, o que dificulta a equidade de gênero na

economia e sua inserção no mercado de trabalho. No caso em tela, de produção e

comercialização dos seus produtos e de busca por autonomia financeira.

Sabe-se que as mulheres do campo atuam com protagonismo na agricultura familiar; entretanto, a condição feminina impõe o exercício da dupla jornada, contribuindo para a invisibilidade do trabalho da mulher do campo (SILIPRANDI, 2005; ARAÚJO, 2008; BUTTO et al, 2011; OLIVEIRA, 2016). Oliveira (2016) e Siliprandi (2005) afirmam que as mulheres do campo sempre atuaram na agricultura com seus familiares, mas não tinham o reconhecimento do seu trabalho, visto normalmente como uma extensão do trabalho doméstico. As poucas oportunidades existentes para as mulheres nos espaços públicos e a baixa inserção delas em programas do governo demonstram a gravidade da situação vivenciada por elas.

Por identificarmos a invisibilidade e dificuldade em alcançar a autonomia financeira de mulheres agricultoras familiares, resolvemos trabalhar com grupos de mulheres para que elas pudessem ser protagonistas de suas vidas em todos os âmbitos. Foi aí que surgiu o “Nós que abraçam, mulheres que criam”, um projeto criado com o objetivo de promover a autonomia financeira e protagonismo das mulheres do assentamento Rita de Cassia, localizado na comunidade rural do Jucuri, Mossoró/RN, buscando realizar capacitações sobre

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empreendedorismo feminino e moda, incentivando essas mulheres que por residirem em áreas rurais se identifica uma maior dificuldade de acesso às políticas públicas, sociais e econômicas.

O projeto foi desenvolvido no assentamento Rita de Cassia na comunidade do Jucuri, no município de Mossoró no Rio Grande do Norte, junto a um grupo formado por 10 mulheres. A opção pela comunidade se justifica: (a) existência de relação anterior com a comunidade do Jucuri, em razão de participação em projetos sociais, educativos e de desenvolvimento sustentável, via ONGs; b) haver um grupo formado por mulheres no assentamento; (c) e, por apresentarem, inicialmente, um estreito contato com as questões sociais.

Durante a fase de reconhecimento da comunidade, foram realizadas conversas informais com uma representante da comunidade do Jucuri. Na ocasião, foi realizada uma visita ao assentamento Rita de Cássia, informando do objetivo para conhecer a comunidade e o grupo de mulheres, com a intenção de se desenvolver um projeto de capacitação de mulheres no intuito de fortalecer as habilidades manuais aliadas ao empreendedorismo, além de trabalhar o coletivo, considerando a criação das peças de acessórios de moda, valorizando quem cria, através da economia criativa e auxiliando no processo de independência financeira d as mulheres.

Com relação as atividades desenvolvidas foram realizadas 15 (quinze) oficinas na comunidade, além de outros encontros para produção (período anterior a pandemia). Estas tiveram por objetivo contribuir para a formação do Grupo Mulheres, para que despertasse nelas a necessidade de multiplicar os conhecimentos adquiridos acerca da importância de se ter uma renda extra através da aprendizagem de novas técnicas de habilidades manuais, além de contribuir para uma mudança de atitudes com vistas à independência financeira.

Buscou-se discutir práticas de designer diferenciado e apresentação de diversos canais de comercialização, visando práticas de atualizações e o fortalecimento do grupo por meio de uma atividade voltada para ocupação e geração de renda (Figura 1).

Figura 1 – Encontro de produção com o grupo de mulheres do Assentamento Rita de Cássia

Fonte: Arquivo Pessoal, 2019

Com a declaração da pandemia pela OMS no dia 18 de março de 2020, as reuniões com o grupo passaram a ser on-line. Nessas reuniões eram abordadas estratégias de enfrentamento à pandemia e seus desafios. Houve também a realização de oficinas sobre marketing digital

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(redes sociais, fotografia e técnicas de vendas) visando a migração para o on-line nesse período (Figura 2).

Figura 2 – Encontro com o grupo online

Fonte: Arquivo pessoal, 2020

3 Resultados

Para uma melhor compreensão dividimos os resultados em dois momentos. Primeiro momento, antes da pandemia; e, um segundo momento, pós-pandemia e seus desafios.

Inicialmente, como nosso objetivo principal foi a geração de renda extra para o grupo de mulheres, auxiliando-as no processo de autonomia financeira, no decorrer das oficinas já conseguimos identificar em conversas entre o grupo, que elas externalizavam que queriam utilizar as técnicas ensinadas nas oficinas em suas próprias criações para a venda. Algumas desenvolveram produtos e comercializavam por conta própria.

Outra forma que está contribuindo para a geração de renda, é que elas estão fornecendo mão de obra a empresas especializadas em artesanato, por um preço justo, estão ganhando por peça produzida e um percentual em cima da peça vendida. Com essas ações de empresas em facilitar vários meios de comercialização dos produtos do grupo, podemos ver um aumento ainda inicial mais que com a continuidade poderá levar a um aumento expressivo na geração de renda para este grupo. Houve uma ação em que elas tiveram a primeira oportunidade de expor seus produtos numa feira de artesanato. Foram vendidas algumas peças e isso foi importante para perceberem que conseguem comercializar seus produtos, o que motivou a participação em feiras (Figura 3).

Figura 3 – Exposição e Vendas nas feiras, Mossoró e Natal, RN

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Outro momento que tivemos foi o de estimular nova qualificação profissional para estas mulheres por meio da criação, produção e designer de acessórios de moda feminina para que adquirissem um novo ofício e assim pudessem estar replicando em seus produtos. Nas oficinas realizadas foram ensinadas técnicas de trabalhos manuais com corda, matéria-prima principal escolhida para as oficinas. Hoje, elas têm a capacidade de fazer pontos de macramê para confecção de cortinas e porta-vasos e que mais sua imaginação permitir. Aprenderam, também, pontos de crochê com corda e a fazer bolsas, porta-objetos, porta-copos e muitos outros acessórios; e, também, a fabricar acessórios femininos à base de corda com design diferenciado, tornando-se competitivas no mercado de artesanato, sem deixar de destacar a individualidade e as tradições de cada uma e da comunidade (Figura 4).

Figura 4 – Porta-vasos e objetos; sousplats, bolsa

Fonte: Arquivo pessoal, 2019

Para que houvesse transparência e os consumidores pudessem conhecer a origem dos produtos adquiridos, o real caminho que as peças percorriam e qual era a artesã da peça adquirida, foi criada uma etiqueta com QRCOLD que passa um vídeo onde elas contam um pouco da sua história e a qual comunidade pertence, além de um documentário disponível no Youtube com o nome: “Nós que abraçam, mulheres que criam”, aberto a visualização pública, em que todos podem ter acesso à história dessas mulheres.

Aqui, entra o segundo momento, iniciado em março de 2020, que foi quando a pandemia nos alcançou. Foi um momento em que essas mulheres tiveram que se reinventar mais uma vez. Os desafios não estão sendo poucos e aqui cabe pontuar alguns que vem dificultando o objetivo principal que é o de que essas mulheres conquistem autonomia financeira.

O primeiro desafio que tiveram que enfrentar, foi o de não poderem mais realizar os encontros presenciais para a produção de suas peças. Grupos produtivos prezam muito por encontros coletivos, pois esse momento é de suma importância tanto para suas vidas, pela questão do vínculo, como para o bom andamento da produção das peças. A partir desse momento, adveio outro desafio que era o de migrar para o online, quando não tinham muita familiaridade com equipamentos eletrônicos e não sabiam muito como fazer essa migração. Foi então, que houve a necessidade de reuniões online , com o objetivo de repassar encaminhamentos para as oficinas on-line. No caso, foram escolhidas três oficinas principais para auxiliá-las nesse desafio: redes sociais, fotografia e técnicas de vendas. A primeira oficina, a de redes sociais, foi para ensinar como utilizar a ferramenta do Instagram, para exposição e comercialização dos seus produtos, via essa ferramenta, em razão de que a venda porta a porta

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e nas feiras não estavam permitidas, em decorrência do isolamento social e pela necessidade de segurança sanitária individual e coletiva.

A oficina de fotografia foi realizada para que pudessem expor seus produtos de maneira mais atrativa para os consumidores das redes sociais. Os produtos de artesanato são costumeiramente apresentados em feiras livres, o toque e a percepção visual das peças são uma das etapas para a compra dos produtos; agora, com o mercado digital precisava-se que fosse algo atrativo e com o máximo de detalhes do produto para alcançar o consumidor final.

Na oficina de técnicas de vendas, elas aprenderam como vender no online e a utilizarem estratégias de marketing para alcançar o máximo de consumidores de seus produtos e como alcançar novos clientes. Em paralelo a essas oficinas, tiveram outras para facilitar essa transição.

Além dos desafios acima citados, as mulheres do “Nós que abraçam, mulheres que

criam” estão tendo que lidar com a falta de material, pois os fornecedores já não estavam acessíveis, o medo de contaminação, a perda de pessoas, a dificuldade de venda onde atualmente os consumidores estão dando prioridade aos produtos essenciais e o isolamento vêm dificultando a produção e o escoamento das vendas.

4 Conclusão

Podemos concluir com o que vimos até aqui, que os desafios do grupo de mulheres se multiplicaram em razão da pandemia. Antes desse período, elas se encontravam numa dinâmica de aprendizagem de produtos e vendas coletiva e presencial. Com a pandemia, tiveram que parar tudo e replanejar suas atividades enquanto grupo presencial. Isso significou se reinventar no mundo digital, e se reinventar é algo que as mulheres sabem fazer muito bem. Os desafios estão aí, elas têm ciência e os enfrentam, desistir nunca foi uma opção para nenhuma delas.

Percebermos que quando se tem um grupo bem consolidado e com objetivos afinados, quaisquer obstáculos ou desafios são enfrentados com disposição, assim como acontecem em suas vidas. Opções como criação de site, plataformas digitais, Instagram, grupos de WhatsApp foram criados e abraçados como alternativas para adaptação aos impactos do cenário de pandemia pelo projeto “Nós que abraçam, mulheres que criam”.

Espera-se que o quadro atual mude e que elas possam agora já com essa junção de conhecimentos adquiridos fazer voos muito mais altos. O “Nós que abraçam, mulheres que criam” é um abraço para enfrentamento aos desafios atuais, para que elas adquiram a autonomia financeira, porque quando as mulheres estão engajadas em grupos produtivos e ao conquistarem independência financeira, há uma elevação da autoestima e diminuição do estresse, pois não estão restritas apenas ao âmbito privado e não dependem exclusivamente de seu companheiro. Além do mais, a existência desses grupos é importante, pois coletivamente as mulheres possuem melhores condições de reivindicarem reconhecimento e participação no mercado de trabalho, alcançando o acesso às políticas e programas sociais, resultado de uma agenda de reivindicações dos movimentos de mulheres.

5 Referências Bibliográficas

ARAUJO. Cédina Maria de. A invisibilidade do trabalho das mulheres na produção em assentamentos rurais de Baraúna/RN. In: Mulheres e Desigualdade de gênero. (Org) CARVALHO, Marília; PINTO, Regina. – São Paulo: Contexto, 2008. p. 63-79.

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BUTTO, Andrea; DANTAS, Isolda (Org). Autonomia e cidadania: Políticas de organização produtiva para as mulheres no meio rural. 1º ed, MDA. Brasília, 2011.

CORDEIRO,Rosineide de L. M. Mulheres em áreas rurais nas regiões Norte e Nordeste do Brasil . Rev. Estud. Fem. vol.15 no.2 Florianópolis May/Aug. 2018. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2007000200008.

MUNARI, Ana Elsa; CINELLI, Catiane; CORDEIRO, Rosangela Piovizani. A luta das mulheres camponesas: da invisibilidade para sujeitos de direitos. IN: FEMINISMO CAMPONÊS POPULAR.

OLIVEIRA, Vanderleia Alves. Mulheres rurais: grupos produtivos e equidade de gênero. Anais dos Seminários de Iniciação Científica. n. 20 2016. Disponivel em :http://periodicos.uefs.br/index.php/semic/article/view/3225

SILIPRANDI, Emma. Mulheres e agroecologia: transformando o campo, as florestas e as pessoas. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2015.

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