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MULHERES TRANSEXUAIS TRABALHADORAS SEXUAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19

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EIXO TEMÁTICO 9 |

QUESTÕES DE GÊNERO, RAÇA/ETNIA E GERAÇÃO

MULHERES TRANSEXUAIS TRABALHADORAS SEXUAIS EM

TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19

Neily Fabiane da Silva Souza Lisboa 1

Ana Lole 2 RESUMO

O artigo busca analisar as políticas sociais implementadas na perspectiva de orientação e proteção dos direitos e da identidade das mulheres transexuais, durante a pandemia da COVID-19, fazendo uma análise crítica, sobretudo, diante do sistema capitalista contemporâneo. Considerando que as dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras e pelos trabalhadores autônomos heteronormativos são alarmantes e desastrosas em tempos de pandemia, nos questionamos como as trabalhadoras transexuais, as quais têm a prostituição como fonte de renda, estão vivenciando neste período.

Palavras-Chaves: Mulheres Transexuais; Pandemia; Capitalismo. ABSTRACT

The article seeks to analyze the social policies implemented in the perspective of guiding and protecting the rights and identity of transsexual women, during the COVID-19 pandemic, making a critical analysis, especially in the face of the contemporary capitalist system. Considering that the difficulties faced by heteronormative workers and autonomous workers are alarming and disastrous in pandemic times, we question how transsexual workers, who have prostitution as their source of income, are experiencing in this period.

Keywords: Transsexual Women; Pandemic; Capitalism.

INTRODUÇÃO

Diante da nova realidade vivenciada pela população brasileira, ocasionada pela pandemia do novo coronavírus, o artigo busca analisar as políticas sociais

1 Assistente Social e mestranda em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

E-mail: neilyfab@hotmail.com

2 Doutora em Serviço Social e professora do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio. E-mail:

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implementadas na perspectiva de orientação e proteção dos direitos e da identidade das mulheres transexuais, durante a pandemia da COVID-19, fazendo uma análise crítica, sobretudo, diante do sistema capitalista contemporâneo.

A principal orientação de prevenção feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelos cientistas e pelos pesquisadores é o isolamento social e a não aglomeração, já que estamos em contaminação comunitária e ainda não temos uma vacina para combater o novo coronavírus. Porém, o isolamento social traz uma grande problemática diante da vida das trabalhadoras e dos trabalhadores autônomos e impacta significativamente a sobrevivência das trabalhadoras sexuais.

Portanto, é importante problematizarmos: como fica a sobrevivência das mulheres trans e travesti, as quais tem como única fonte de renda o trabalho sexual? Onde estão essas mulheres em época de isolamento social? Como essas mulheres vão se isolar se já vivem num isolamento em seu cotidiano, tendo que conviver diariamente com o preconceito, a exclusão, a discriminação? Se essas mulheres são marginalizadas, solitárias e abandonadas pelas suas famílias, que isolamento elas ainda precisam fazer? Nesse sentido, a vida precária, a vulnerabilidade, a ignorância associada a estigmatização, o patriarcado, a heteronormatividade entre outras questões que perpassam a sociedade atrelada a lgbtfobia provoca a violência como a exclusão da população transexual, o que fica mais evidente com o distanciamento social neste contexto de pandemia. No entanto, a inexistência de política social voltada para as trabalhadoras sexuais provoca uma crise ainda maior na perspectiva da vida dessas mulheres que sobrevivem do trabalho sexual. É nesta direção que iremos construir este artigo.

2 DESENVOLVIMENTO

Vivemos um retrocesso imensurável nas políticas públicas para combate à violência de gênero, as conquistas que já existiam a passos lentos, estão declinando de forma voraz com um governo extremista, homofóbico, misógino, racista e perverso, portanto, ainda temos que lidar com a ministra das Mulheres, Família e Direitos Humanos com uma visão imensamente machista, conservadora, cruel e inaceitável atuando em desacordo com os dados existentes no que tange a violência da população LGBTQI+. Agravando a situação temos um Presidente da República que incentiva a

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violência, o autoritarismo, o machismo, estimulando a discriminação, o estigma, o preconceito e a barbárie contra a população LGBTQI+, afirmando em entrevistas que ter filho gay é falta de porrada.

Outro ponto importante a considerar é a crise econômica vivenciada no Brasil antes da pandemia da COVID-19, a qual vem causando consequências terríveis para a classe trabalhadora, agravadas com a reforma trabalhista de 20173, a qual flexibiliza as

relações contratuais de trabalho bem como novas formas de trabalho intensificando a precarização do trabalho. A falta de direitos trabalhistas, os trabalhos temporários, os trabalhos autônomos foram intensificados assim como um grande número de desempregados.

A pandemia da COVID-19 especificamente no Brasil potencializa a longa crise que estamos imersos, no entanto, para se enfrentar o novo coronavírus é necessário um grande investimento em saúde pública e ampliação do sistema de saúde. Porém, estamos num momento em que governo federal prioriza empresas capitalistas e tem a finalidade de salvar o CNPJ, desse modo os trabalhadores ficam extremamente mais expostos pela precarização do trabalho e pela desigualdade social. Questão que pode ser vista através da pressão do governo para a retomada da economia minimizando o risco humano e não garantindo nenhuma medida que assegurasse os empregos, deixando aberta a negociação entre patrão e empregado.

O isolamento social nos mostra o quanto gritante e perversa é a desigualdade social, pois o isolamento não é algo possível para milhares de trabalhadoras no que tange sua sobrevivência e condições de vida. Quando evidenciamos as trabalhadoras autônomas e, especificamente, as trabalhadoras sexuais, a precarização e a exploração se torna ainda mais acentuada, pois se concentra o machismo estrutural, o conservadorismo, o patriarcado, a recriminação religiosa e moralizante.

Contudo, se para as mulheres heteronormativas a prostituição já é envolvida por distintos tabus, compreendemos que para as mulheres transexuais trabalhadoras sexuais impacta significativamente o preconceito, a discriminação e a violência numa sociedade transfóbica, heteronormativa, que normatiza a violência desses corpos,

3 Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Ela altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e as Leis nos 6.019, de 3

de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.

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aterrorizados constantemente pela violência com expectativa de vida até 35 anos, negligencia seus direitos, num regime cruel de desigualdade, onde o Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais no mundo e também é o que mais consome pornografia transexual.

A invisibilização das pessoas transexuais no Brasil e a violação dos seus direitos é algo que perpassa por décadas, falta de políticas sociais estruturantes que possibilite dignidade e qualificação profissional a essa população. A não aceitação das famílias dessas mulheres transexuais e a falta de apoio, a violência familiar levam essas mulheres a buscarem sua sobrevivência no trabalho sexual estando ainda mais vulneráveis e descartáveis as marcas da criminalidade, perversão, assassinatos e inúmeras violências encontram seus corpos escondidos e silenciados numa falsa normalidade, onde se problematiza a crise do corona vírus as distintas categorias de trabalho e não se é pautado a sobrevivência das mulheres transexuais trabalhadoras do sexo.

Em geral, a população LGBTQI+ são inseridas em relações precárias de trabalho, sendo ainda mais agravadas no caso das pessoas transexuais, excluídas das escolas, da convivência familiar num contexto de discriminação e incompatibilidade com padrões impostos pelas normas estabelecidas socialmente burguesa, binária compulsória para gênero e sexualidade.

De acordo com dados disponibilizados, em 2018, pela Associação Nacional de Travesti e Transexuais (ANTRA) no mapa dos assassinatos de travestis e transexuais no Brasil, 90% da população transexual sobrevive da prostituição como fonte de renda, a exclusão social vivenciadas por essas mulheres e a falta de inserção no mercado profissional formal acabam pressionando pela necessidade de subsistência, supõe que 13 anos é a idade em que travestis e transexuais perdem seus vínculos familiares e são expulsas de casa devido a sua identidade de gênero e a não aceitação da família, relacionados a moral e conservadorismo religioso. Vivenciam as primeiras formas de exclusão, solidão e isolamento no contexto família e expostas a distintas formas de violência, divergindo do que se define a família onde deveria existir direito, proteção e afeto. A ANTRA também traz os dados que 70% dos assassinatos4 foram especificamente

as mulheres transexuais trabalhadoras do sexo e 55% deles aconteceram nas ruas.

4 Disponível em:

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A reflexão acerca dos terríveis dados e o inaceitável extermínio da população trans e especificamente as trabalhadoras sexuais perpetua a instauração de um projeto excludente e facínora imerso no fundamento religioso, conservador alienante e manipulador atrelado a ação capitalista de opressão a uma agenda neoliberal dirigida por homens brancos, cristãos e heterossexuais.

Portanto, as políticas neoliberais concretizadas no país, ampliaram o retrocesso e a falta de investimento nas políticas sociais, principalmente com a aprovação Emenda Constitucional nº 955 que congela investimentos na saúde, assistência social e educação

por 20 anos e a contrarreforma da previdência6. Medidas que trazem consequências

desastrosas para a classe trabalhadora, como a privatização, o subemprego, a informalidade e a precarização, as quais fragilizam e inviabilizam os direitos sociais. Já a regressão no financiamento das políticas sociais atinge diretamente o mundo do trabalho. O que agrava em meio as medidas de isolamento social por causa do novo coronavírus.

Considerando as particularidades da identidade de gênero e a transfobia que está enraizada em nossa sociedade burguesa se as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores autônomos heteronormativos já são alarmantes e desastrosas, nos questionamos como as trabalhadoras transexuais que tem a prostituição como fonte de renda estão vivenciando a pandemia da COVID-19.

A crise sanitária, política e econômica que está exposta ao “novo normal” na vida dos brasileiros e também mundial não é exclusivamente causada pela pandemia do COVID-19, a crise tem complexidade e profundidade estruturantes da produção e reprodução das relações sociais capitalistas que naturaliza as desigualdades sociais e culpabiliza o indivíduo, responsabilizando-o pela suas condições de vida e de precarização, não relacionando as desigualdades com a formação sócio-histórica do Brasil, não associando ao racismo, as desigualdades de gênero, a opressão, ao sexismo.

Para Harvey (2014), o Estado neoliberal é um projeto e uma disputa política com defesa a iniciativa privada e livre funcionamento do mercado que busca fortalecer os

5 Emenda Constitucional nº 95 de 15 de dezembro de 2016 (PEC 55/2016), também chamada de “PEC do fim do

mundo”, altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para instituir o novo regime fiscal que congela as despesas do governo federal, com cifras corrigidas pela inflação, por até 20 anos.

6 Emenda Constitucional nº 103 de 13 de novembro de 2019. Altera o sistema de previdência social e estabelece

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capitalistas, se colocando como uma forma de vida e de sociedade como algo natural. Nesse sentido, o neoliberalismo regula a ordem social, transforma as relações de classe, cultura, educação, ideologia, religião, liberdade individual, privatização, controle do trabalho, fortalecendo a classe dominante e enfraquecendo as políticas sociais, limitando a democracia e a ação do Estado, favorecendo o sistema econômico que em momentos de crise intervêm em benefício ao grande capital.

Para Harvey, o neoliberalismo é:

[...] uma teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos a propriedade privada, livres mercados e livre comércio (HARVEY, 2014, p. 12).

Na perspectiva histórica do processo da sociedade burguesa constituída pelo capitalismo, Netto (1992) discorre sobre como a monopolização determina a burocratização da vida social, onde o papel do Estado é conectado com a organização e função econômica. Desse modo, o Estado assume um novo papel no enfrentamento da questão social, através da política social, mas com um viés culpabilizante e moralizante, não compreendendo como uma demanda da sociedade e fruto do processo capitalista que constitui uma produção coletiva com apropriação privada que resulta em falta de moradia, alimentação, saúde, educação, assistência, cultura, lazer. O Estado vincula-se ao capitalismo e passa a manter formas conservadoras que legitima e valoriza o próprio capitalismo.

A organização do sistema de produção capitalista tem como premissa a ideia do Estado mínimo para os interesses da classe trabalhadora, cujas ações sempre foram assistencialmente restritas e destinadas aos segmentos pobres da população para garantia dos níveis mínimos de alimentação, saúde e educação necessários à reprodução eficaz da força de trabalho humana e tecnicamente necessária ao capital; assim como a ideia de Estado máximo para os interesses do capital, compreendendo até mesmo as experiências dos governos europeus socialdemocratas ou de bem-estar, cujos gastos na proteção social foram tradição (NETTO, 1992).

Para compreender de forma contundente e profunda as complexidades e as particularidades pertinentes a sociedade econômica, o economista Polanyi (2000) nos ajuda a repensar e refletir a sociedade e o sistema econômico na sua produção e

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reprodução social. Nos tempos atuais, o descumprimento com a condição humana foi muito além do que destacou Polanyi (2000) quando afirmou que é uma crença colocar o modelo econômico fora da sociedade, onde a desigualdade de classe é uma construção histórica e não natural. Nesse sentido, as motivações econômicas se originam no contexto da vida social, destacando que a transformação econômica e a transformação da sociedade refletem a situação da economia contemporânea, onde o progresso econômico traz a desarticulação social, exploração, desagregação humana, amplas consequências do movimento do progresso e liberalismo econômico.

Polanyi (2000) ao analisar a sociedade e a economia de mercado nos faz refletir se estamos de fato no modelo econômico ideal, pois de forma simultânea e abrangente ocorrem a desigualdade social e a ascensão econômica, a desarticulação, a competividade, a motivação econômica individual e a transformação consiste em mudanças significativas por parte da sociedade, fomentando o lucro passando a substituir o estímulo a sobrevivência. Portanto, a renda de cada indivíduo decorre da venda de alguma coisa, a origem justificada da renda de determinada pessoa é resultante de uma venda, confirmando o sistema de mercado.

Diante das contribuições apontadas acima através dos autores citados, constatamos o quanto o sistema capitalista é avassalador e provoca distintas desigualdades, má distribuição de renda, destruição ambiental, precarização social, instabilidade, desemprego, trabalho informal e sem proteção social. Desse modo, a precarização do trabalho atinge as mulheres transexuais trabalhadoras sexuais, é notório que a maioria das análises das condições de trabalho quando aborda sobre mercado de trabalho, divisão sexual, desigualdades sexuais e precarização é analisado a situação das trabalhadoras e dos trabalhadores heteronormativos, porém qual é o lugar das mulheres transexuais no mercado de trabalho?

Embora as trabalhadoras e os trabalhadores heterosnormativos sejam a maioria na contração formal e vem sofrendo duros ataques com o desmonte dos direitos trabalhistas, alguns grupos sociais foram e são essencialmente mais atingidos, como a população LGBTQ+. Para esses trabalhadores os direitos sociais são constantemente mais limitados ou inexistentes.

Entretanto, estamos em um processo avançado de precarização do trabalho em um contexto de crise do emprego, ocasionada por uma crise capitalista que transforma

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e reorganiza o trabalho de forma a desregular e causar constantes desempregos. A pandemia da COVID-19 apenas serve como um sustentáculo para justificar e legitimar o trabalho precário, as demissões, desregulamentar o trabalho e implementar novas tendências vinham sendo gradativamente implantadas como o home office7.

Ao trazer para o debate especificamente as trabalhadoras e os trabalhadores LGBT, a realidade da precarização e informalidade é, ainda, mais perversa. O Estado é omisso na formulação de políticas para inserção dessa população ao trabalho formal, como também se apresenta como produtor da transfobia institucionalizada, sacrificando legalmente vidas. Qual seria o comportamento aceitável?

O apagamento dessas vidas, a invisibilidade, a violência por não se comportarem de acordo com as expectativas sociais, provocam o não reconhecimento das diferenças, não conseguindo se inserir completamente na posição de humano, também não utilizam da condição de cidadão estabelecida por lei.

3 CONCLUSÃO

Diante das desigualdades sociais evidenciadas pela pandemia da COVID-19, nosso intuito foi mostrar que assim como milhares de trabalhadoras e trabalhadores autônomos estão com dificuldades para se sustentarem, pois dependem da venda de sua força de trabalho, as mulheres transexuais trabalhadoras sexuais também estão expostas a mesmas dificuldades.

De acordo com Marie Declercq, em reportagem para o site de notícias Uol8, “o

distanciamento social é uma das melhores medidas para que pessoas não entrem em contato com o coronavírus, reduzindo a velocidade do contágio”. Porém, destaca Declercq que em país onde milhões de pessoas trabalham em regime informal, “ficar em casa significa deixar de ganhar dinheiro para pagar as contas. Para as prostitutas, à falta de trabalho se somam ainda o preconceito e o abandono por parte do poder público em garantir direitos básicos para a categoria”.

7 CAVALLINI, Marta. Pandemia adiantou mudanças no mundo do trabalho. G1, 19/06/2020. Disponível em:

https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2020/06/19/pandemia-adiantou-mudancas-no-mundo-do-trabalho-veja-as-10-principais-tendencias.ghtml. Acesso em: 21 jun. 2020.

8 DECLERCQ, Marie. ‘Nós somos invisíveis’: trabalhadoras sexuais são afetadas pela pandemia. UOL, 28/03/2020.

Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/28/nos-somos-invisiveis-trabalhadoras-sexuais-afetadas-pelo-coronavirus.htm. Acesso em: 21 jun. 2020.

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A pandemia da COVID-19 tem provocado reflexões não só referente a economia e o social, mas também no que se refere a cultura, as relações de gênero entre outros temas. O que evidencia as desigualdades geradas pelo capitalismo e a fragilidade do Estado no enfrentamento das expressões da questão social.

A questão social no Brasil reflete as “disparidades econômicas, políticas e culturais e que envolve classes sociais, grupos raciais e formações regionais. A estruturação da sociedade brasileira está ligada a uma fábrica de desigualdades e antagonismos sociais” (IANNI, 1991, p. 3). O sistema de desigualdade brasileira vem aumentando sucessivamente, desde a década de 1990, mas agora com a pandemia da COVID-19 isso relevou-se um processo de subalternidade da população, ou seja, as alterações processadas no capitalismo contemporâneo atingem principalmente a população mais destituída de proteção social, como as mulheres transexuais trabalhadoras sexuais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro de 2016. Altera o Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal, e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc95.htm. Acesso em: 21 jun. 2020.

BRASIL. Emenda Constitucional nº 103, de 13 de novembro de 2019. Altera o sistema

de previdência social e estabelece regras de transição e disposições transitórias. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/emenda-constitucional-n-103-227649622. Acesso em: 21 jun. 2020.

BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do

Trabalho (CLT) e as Leis nos 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm. Acesso em: 21 jun. 2020.

HARVEY, D. O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Loyola, 2014.

IANNI, O. A questão social. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 2-10,

jan./mar. 1991.

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POLANYI, K. A grande transformação: as origens de nossa época. 2. ed. Rio de Janeiro:

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