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Academic year: 2021

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TÍTULO: MATERIALISMO E MORAL EM HOLBACH: OS FUNDAMENTOS DA CONCEPÇÃO DE FELICIDADE NO SISTEMA DA NATUREZA

TÍTULO:

CATEGORIA: CONCLUÍDO CATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ÁREA:

SUBÁREA: FILOSOFIA SUBÁREA:

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU INSTITUIÇÃO:

AUTOR(ES): WILLIAM ROMUALDO AUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): PAULO JONAS DE LIMA PIVA ORIENTADOR(ES):

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1. RESUMO

O objetivo desta pesquisa é estudar os conceitos principais do materialismo de Holbach e as consequências destes na sua reflexão moral, sobretudo, na sua concepção de felicidade, desenvolvida no seu livro Sistema da Natureza (ou Das leis do mundo físico e do mundo moral), de 1770.

2. INTRODUÇÃO

No Sistema da Natureza, Holbach entende que a infelicidade do homem está ligada, sobretudo, à ignorância sobre a natureza, a qual inclui a ignorância sobre si mesmo. Assim, por meio de uma recondução aos estudos da natureza e pelo intermédio da experiência que guia a razão, é possível que o homem alcance a felicidade. Desse modo, Holbach acredita que o homem que tiver racionalidade e virtude, terá felicidade, além de também proporcioná-la aos outros. E assim, será feliz em sociedade, sem que se deixe ser influenciado e dominado pelos devaneios consagrados, sobretudo, à religião e à metafísica dominante de sua época.

3. OBJETIVOS

Entender o materialismo ateu de Holbach e a possibilidade de ética laica. 4. METODOLOGIA

Análise e interpretação de texto. 5. DESENVOLVIMENTO

Logo no início do prefácio do Sistema da Natureza, Holbach afirma que “o homem só é infeliz porque desconhece a natureza” (HOLBACH, 2010, p.25). Ele considera que o homem desprezou o estudo da natureza e escolheu criar, por meio da imaginação, seres sobrenaturais e ininteligíveis, tornando-se amedrontado e desnorteado por essas quimeras, e assim, não pode mais seguir no caminho da verdade que o levaria à felicidade:

Em poucas palavras, o homem desdenhou o estudo da natureza para correr atrás de fantasmas que, semelhantes a esses fogos-fátuos que o viajante encontra durante a noite, o assustaram, ofuscaram-no e fizeram que ele deixasse o caminho simples do verdadeiro, sem o qual não é possível alcançar a felicidade. (HOLBACH, 2010, p.25-26).

Aos olhos do barão, a razão não foi devidamente valorizada em conjunto com os conhecimentos adquiridos por meio das experiências do mundo. Entretanto, será a razão, guiada pela experiência, sua principal arma de ataque às fontes de preconceitos e repressões, das quais o gênero humano tem sido vítima, e assim, deixará de favorecer as mentiras e os delírios. É mediante uma volta ao estudo da

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natureza que Holbach expõe as importâncias que justificam que o homem deve ser racional e dotado de virtudes para viver em sociedade.

O barão acredita que “a ignorância e a incerteza que o homem tem acerca dos seus deveres mais evidentes, dos seus direitos mais claros, das verdades mais demonstradas” (HOLBACH, 2010, p.27) se devem aos erros advindos e sacralizados da religião. E desenvolvendo uma negação absoluta da existência de Deus, é possível fazer uma afirmação do que é permitido e assegurado pela natureza e pela razão. Entretanto, quando se trata de crítica à religião, Holbach não se contenta em combater apenas as concepções dos cristãos, mas também todas as outras formas de conceber a existência de divindade. Esta forma de ateísmo militante não somente contesta as possibilidades de existência divina, mas também expõe e denuncia a prepotência e os abusos que a Igreja e os poderosos do Antigo Regime faziam aos indivíduos e à sociedade de sua época.

Holbach resume o possível caminho a ser traçado e o trabalho a ser feito pelos homens em busca de felicidade:

Tratemos, portanto, de afastar as nuvens que impedem o homem de caminhar com um passo seguro no caminho da vida. Inspiremo-lhe a coragem e o respeito pela razão; que ele aprenda a conhecer sua essência e seus legítimos direitos; que consulte a experiência, e não uma imaginação desvirtuada pela autoridade. Que ele renuncie aos preconceitos de sua infância; que fundamente a sua moral sobre a sua natureza, sobre as suas necessidades, sobre as vantagens reais que a sociedade lhe proporciona. Que ele ouse amar a si próprio; que trabalhe pela sua felicidade fazendo a dos outros. Em poucas palavras, que ele seja racional e virtuoso, para ser feliz aqui embaixo, e que não se ocupe mais com divagações perigosas ou inúteis. (HOLBACH, 2010, p.27).

A Natureza, a Matéria e o Homem

Holbach elabora e desenvolve uma concepção materialista sobre a natureza e o universo; ele entende que não existe nada além da natureza, ou seja, qualquer ideia que ultrapasse ou se mostre distinta de sua materialidade são sempre consideradas quimeras, e assim, não é possível construir ideias verdadeiras sobre essas imaginações que estão além da matéria: “Não existe e não pode existir nada fora do círculo que contém todos os seres.” (HOLBACH, 2010, p.31).

O universo, para Holbach, é composto de matéria e movimento, com isso, ele exprime o seu entendimento da complexidade do universo por meio de uma rede de causalidades que não param de ocorrer.

O universo, essa vasta reunião de tudo aquilo que existe, não nos oferece em toda parte senão a matéria e o movimento: seu conjunto não nos mostra senão uma cadeia imensa e ininterrupta de causas e efeitos. Algumas dessas causas nos são conhecidas, porque elas impressionam diretamente os nossos sentidos; outras nos são desconhecidas, porque elas atuam

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sobre nós apenas por intermédio de efeitos quase sempre muito afastados das suas primeiras causas. (HOLBACH, 2010, p.40)

Holbach define natureza como sendo “o grande todo que resulta da reunião das diferentes matérias, de suas diferentes combinações e dos diferentes movimentos que nós vemos no universo” (HOLBACH, 2010, p.40). Essa definição tem um caráter mais amplo, pois faz referência à totalidade da natureza propriamente dita. Entretanto, Holbach faz, em seguida, mais uma definição de natureza, mas sob o aspecto menos amplo, ou seja, aquele que remete e considera cada indivíduo humano: “é o todo que resulta da essência, ou seja, das propriedades, das combinações ou das maneiras de agir que distinguem um ser de outros” (HOLBACH, 2010, p.41). Assim, toda e qualquer coisa que esteja em conformidade e harmonia com as leis da natureza e a essência das coisas exerce caráter “natural” (HOLBACH, 2010, p.42). Portanto, é possível considerar que, tanto o universo quanto a natureza, são tal como palcos que apresentam constituição material e a relação fundamental entre causas e efeitos, sendo assim, a totalidade em que tudo ocorre de maneira determinada, tendo causa e razão para acontecer.

Uma vez definido o conceito de universo e natureza em Holbach, podemos afirmar uma espécie de rompimento com dualismo ontológico vigente na época de Holbach, tal como demonstra a professora Maria das Graças de Souza:

A natureza, objeto da experiência, é, segundo Holbach, o grande todo que contém em si todos os seres, e para além do qual nada existe. (...) A superação de uma metafísica dualista deve passar por uma reviravolta no conceito de natureza. Se concebermos o mundo natural como matéria inerte e passiva, teremos que buscar fora dela a gênese do seu movimento, visto que a observação nos mostra que tudo na natureza está em movimento contínuo. Mas se concebermos o mundo natural como um todo ativo, cujas partes estão em ação e reação perpétuos, não precisaremos recorrer a explicações sobrenaturais. Este postulado é o ponto de partida do materialismo de Holbach. (NASCIMENTO, M. G., 1983, p. 75).

Para Holbach, o homem não é separável da grande totalidade que é a natureza, pois é produto inerente dela e está sempre sujeito às leis que ela própria determina.

Os homens se enganarão sempre que abandonarem a experiência por sistemas criados pela imaginação. O homem é obra da natureza, existe na natureza, está submetido às suas leis; ele não pode livrar-se dela, não pode, nem mesmo pelo pensamento, sair dela. (HOLBACH, 2010, p.31).

Holbach propõe que o homem não procure fora ou além da natureza o que é necessário para ser feliz, pois aquilo que é descoberto por meio do conhecimento da natureza deve se voltar à sua própria felicidade. Para isso, Holbach espera que o homem estude a natureza para poder aprender as suas leis, que a observe atentamente e que aproveite seus recursos. Essa atitude do homem perante a

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natureza lhe proporcionaria um possível caminho em direção à sua autonomia e bem estar, ou em último caso, à sua felicidade.

Todas as modificações ou transformações que o homem experimenta ao longo da vida estão de acordo com as leis de sua organização particular e diversidade de matéria que a própria natureza fez:

Todas as nossas ideias, nossas vontades, nossas ações são efeitos necessários da essência e das qualidades que essa natureza pôs em nós e das circunstâncias pelas quais ela nos obriga a passar e a ser modificados. Em poucas palavras, a arte nada mais é que a natureza atuando com a ajuda dos instrumentos que ela produziu. (HOLBACH, 2010, p.33).

Tal como todos os outros seres, o homem tenta de diversas maneiras conservar sua existência o máximo que pode. E, por mais ocultas ou complexas que sejam ou pareçam ser essas diversas maneiras de se conservar sendo visíveis ou não visíveis, o homem tem suas mudanças de estado ou de movimentos constantemente reguladas pelas mesmas leis que são preestabelecidas pela natureza. A natureza é determinante para o nascimento, o desenvolvimento, o enriquecimento de suas faculdades, o seu crescimento, a sua conservação durante um período e a sua destruição ou decomposição quando é determinada alguma mudança na forma material dos corpos.

Para Holbach, “o homem é um todo organizado, composto de diferentes matérias” (HOLBACH, 2010, p.114), tal como todas as outras produções da natureza. O homem é um ser material que está organizado de tal maneira que sente, pensa e é modificado. E acrescenta:

Assim, embora os homens tenham entre si uma semelhança geral, eles diferem essencialmente, tanto pelo tecido e pelo arranjo das fibras e dos nervos como pela natureza, a qualidade, a quantidade das matérias que colocam essas fibras em funcionamento e lhes imprimem os movimentos. (HOLBACH, 2010, p.161).

Com isso, homens que já se diferem fisicamente, tornam-se mais diferentes, por exemplo, quando uns fazem uma alimentação saudável e praticam exercícios enquanto outros não têm uma alimentação regular e nutritiva vivendo apáticos e ociosos. Holbach conclui dizendo que “todas essas causas influem necessariamente sobre o espírito, as paixões, sobre as vontades” (HOLBACH, 2010, p.161), resumidamente, sobre tudo aquilo que pode ser chamado de faculdades intelectuais. Holbach faz uma distinção entre homem físico e homem moral, e define que o homem é um ser puramente físico e que o homem moral é apenas um aspecto possível de se entender esse mesmo homem físico por meio de suas maneiras de ser e de agir. Portanto, se forem examinadas todas as atividades que são atribuídas

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à alma do indivíduo, será possível ver que essas atividades, tanto quanto as que são atribuídas ao corpo, ocorrem por conta das causas físicas. Já que, tudo o que acontece com alma é exatamente o que acontece com o corpo, e o que se considera como alma depende diretamente do corpo:

Assim, a alma é o homem considerado relativamente à faculdade que ele tem de sentir, de pensar e de agir de uma maneira resultante da sua própria natureza, ou seja, das suas propriedades, da sua organização particular e das modificações duráveis ou transitórias que sua máquina sofre da parte dos seres que agem sobre ela. (HOLBACH, 2010, p.136).

É o que Michel Onfray denomina de “monismo materialista”, ou seja, “uma única matéria diversamente modificada”. (ONFRAY, 2012, p.241). E acrescenta:

A alma existe, é claro, mas não como os platônicos e os cristãos acreditam, como substância imaterial, imortal, incorpórea, eterna. (...) o autor do

Système de la nature chama de “alma” uma parte do corpo. A prova disso é

que todas as afecções da carne afetam a alma, como a embriaguez, a febre, a doença. (ONFRAY, 2012, p.241).

O temperamento “é o estado habitual em que se encontram os fluídos e os sólidos pelos quais seu corpo é composto” (HOLBACH, 2010, p.160), ou seja, um produto organizado de substancias físicas. E os temperamentos variam de acordo com os elementos e matéria que são predominantes em cada indivíduo, dependendo das combinações e modificações que são sujeitas no corpo de cada um. Mesmo que os homens possam apresentar uma semelhança geral, eles apresentam diferenças essências, ou seja, relacionadas ao temperamento de cada um. Todos os hábitos e costumes dos homens influem de maneira necessária sobre os seus pensamentos, as suas paixões, as vontades, e de maneira geral, sobre as faculdades intelectuais.

A Razão, a Moral e a Felicidade

Há, entre os homens, uma diversidade muito grande no que se refere aos raciocínios, às faculdades, às paixões, às energias, aos gostos, às imaginações, às ideias e às opiniões. “Essa diversidade é tão grande quanto à das suas forças físicas e depende como elas dos seus temperamentos, tão variados quanto as suas fisionomias: a diversidade resulta a ação e a reação contínua que constitui a vida no mundo moral.” (HOLBACH, 2010, p.158). Pois, é possível afirmar que o resultado dessa discordância é “a harmonia que mantém e conserva a raça humana.” (HOLBACH, 2010, p.158). E o que sustenta a sociedade, ou a “sociabilidade” entre os homens, para Holbach é a diversidade que é encontrada entre eles e que impõe

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a eles a desigualdade, já que dessa maneira se faz a necessidade de um indivíduo depender do outro em sociedade:

Se todos os homens fossem os mesmos pelas forças do corpo e pelos talentos do espírito, eles não teriam nenhuma necessidade uns dos outros: é a diversidade de suas faculdades e a desigualdade que se impõem entre eles que tornam os mortais necessários uns aos outros. Sem isso eles viveriam isolados. (HOLBACH, 2010, p. 158-159).

No modo de pensar de Holbach, a desigualdade e a incapacidade que o homem tem de viver e de certa maneira de sobreviver impõem-no o reconhecimento da “feliz necessidade de nos associar, de depender dos nossos semelhantes de merecer o seu auxílio, de torná-los favoráveis aos nossos desígnios, de atraí-los para nós para afastar, através de esforços comuns, aquilo que poderia perturbar a ordem em nossa máquina.” (HOLBACH, 2010, p.159). Com isso, o homem torna-se sociável e prova a si mesmo o quanto se faz evidente a necessidade da moral. Para Michel Onfray, vai além da necessidade de se associar e de trocar favores, considera que o homem tenha dois princípios advindos das leis da natureza: desejo de usufruir e necessidade de se conservar. Primeiro: “todo homem quer o prazer e busca fugir do desprazer; o que o conduz? A satisfação de suas vontades, o interesse. Segundo: “tudo o que é, portanto os homens também, tende a se perseverar em seu ser; o único movimento consiste em prorrogar seu ser e em durar.” (ONFRAY, 2012, p.242).

Faz parte da filosofia de Holbach a constante atenção e credibilidade que ele dá ao conhecimento empírico, pois acredita que o homem deve consultar a experiência em vez dos dogmas religiosos, que não passariam de conjecturas vãs. Com isso, o barão supõe até que seria possível a medicina fornecer à moral possibilidades reais para descobrir muito sobre os sentimentos e as paixões do corpo, e assim, poderia igualmente descobrir muito sobre as supostas doenças do espírito. Holbach acredita que o homem será sempre um mistério aos que são obstinados pelos conhecimentos teológicos, visto que esses consideram o dogma da espiritualidade da alma e isso faz com que a moral seja um conjunto de conhecimentos hipotéticos e não faz de nenhuma maneira o homem conhecer o que se deve realmente ser empregado para o seu agir em busca de felicidade e conservação. Tal como afirma Paul Hazard, em seu livro O Pensamento Europeu no Século XVIII, Holbach tinha uma “vocação imperiosa”, a de “diminuir, aniquilar se possível, toda e qualquer religião” (HAZARD, 1974, p.169), e com isso, é possível entender que esse combate

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também tinha a intenção de derrubar os sistemas filosóficos que de algum modo estavam apoiados nos dogmas religiosos e que eram vigentes na época.

Então, é por meio da ajuda da experiência e da razão que pode ser possível adquirir o conhecimento dos elementos constituintes do temperamento do homem, ou até mesmo, da maioria dos indivíduos de um povo, e assim, saber aquilo que está de acordo com suas vontades, as leis que são necessárias ou as instituições que podem ser úteis. E com isso, o homem pode mudar seu temperamento, para melhor, corrigindo vícios que o impedia de ser virtuoso, por exemplo. Holbach afirma que “a moral e a política poderiam tirar do materialismo algumas vantagens que o dogma da espiritualidade jamais lhes fornecerá e com as quais ele as impede até mesmo de sonhar.” (HOLBACH, 2010, p.162-163). E conclui dizendo:

Quando quisermos conhecer o homem, tratemos portanto de descobrir as matérias que entram em sua combinação e que constituem o seu temperamento. Essas descobertas servirão para nos fazer adivinhar a natureza e a qualidade de suas paixões e de suas tendências e para pressentir a sua conduta em dadas ocasiões: elas nos indicarão os remédios que poderemos utilizar com sucesso para corrigir os defeitos de uma organização viciosa ou de um temperamento tão nocivo à sociedade quanto a quem o possui. (HOLBACH, 2010, p.163).

Holbach também acredita que a razão seja a faculdade capaz de fazer experiências e de memorizá-las, prever os efeitos e reconhecer as causas, afastar aquele ou aquilo que pode nos causar danos e aproximar os que nos são úteis a nossa conservação e felicidade (como o único objeto das ações mentais ou corporais dos homens). A razão é a natureza do homem que foi modificada pela experiência, já que, para Holbach, a sensibilidade, a natureza e o temperamento podem desviar e enganar os homens, porém, a experiência e a reflexão reconduzem o homem ao caminho seguro e ensina aquilo que realmente pode conduzi-lo à felicidade.

A experiência e a razão mostram ao homem se os homens com os quais ele se relaciona são necessários ou não, se contribuem ou não para sua felicidade, para os seus prazeres, e se o ajudam em suas atividades e desenvolvimento de suas faculdades. Assim, para Holbach, o homem aprende que:

Todas essas experiências lhe dão a ideia da virtude e do vício, do justo e do injusto, da bondade e da maldade, da decência e da indecência, da probidade e da velhacaria etc.; em poucas palavras, ele aprende a julgar os homens e suas ações, a distinguir as sensações necessárias que são despertadas neles de acordo com a diversidade dos efeitos que lhes fizeram experimentar. (HOLBACH, 2010, p.173).

A virtude é tudo aquilo que é verdadeiro e continuamente útil aos homens que vivem em sociedade; e o vício, tudo aquilo que é nocivo a eles. As maiores virtudes

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são aquelas que proporcionam as vantagens maiores e que duram mais; já os maiores vícios são os que mais atrapalham a tendência do homem à felicidade e a ordem necessária que a sociedade deve ter. Holbach define o homem virtuoso como “aquele cujas ações tendem constantemente ao bem-estar dos seus semelhantes”; e o homem vicioso como “aquele cuja conduta tende à infelicidade daqueles com quem ele vive, de onde a sua própria infelicidade deve comumente resultar.” (HOLBACH, 2010, p.173-174).

Ainda pensando nesse tipo de sociabilidade virtuosa de Holbach, Roland Desné relata:

Esquece-se, frequentemente, que para os pensadores deste século a virtude é fundamentalmente manifestação da sociabilidade. Por definição, a acção virtuosa serve o interesse da colectividade. Sendo o homem naturalmente sociável, a moral natural deve cultivar nele a aptidão para viver de harmonia com seus semelhantes. (DESNÉ, 1969, p.38).

Não é somente do temperamento e da organização material que a noção de felicidade é criada pelos homens. Mas, muito da noção de felicidade que se cria está associada e surge a partir dos hábitos que os homens adquirem e pratica. No homem, o hábito é “uma maneira de ser, de pensar e de agir que os nossos órgãos – tanto externos como internos – adquirem pela frequência dos mesmos movimentos, de onde resulta o poder de fazer esses movimentos com presteza e facilidade.” (HOLBACH, 2010, p.176).

Holbach diz que é ao hábito que se deve a maioria das nossas tendências, desejos, opiniões, preconceitos e falsas ideias de bem-estar e felicidade, ou seja, à prática das nossas condutas e costumes morais. E conclui dizendo que, “é o hábito que nos liga tanto ao vício quanto à virtude” (HOLBACH, 2010, p.176).

Para Holbach, “a virtude é a sua própria recompensa”, pois ele acredita que em uma sociedade que tem os objetivos guiados pela verdade, pela experiência e pela razão, cada indivíduo faria por onde reconhecer seus interesses e perceber o valor de se associar uns com os outros, com isso, encontraria as vantagens ou as motivações verdadeiras para cumprir os seus deveres em sociedade. Em suma, seria a oportunidade de o homem se convencer de que deve “se ocupar do bem-estar dos seus semelhantes e merecer a sua estima, o seu carinho e seus auxílios” (HOLBACH, 2010, p.374) para poder tornar-se feliz de maneira eficaz e sólida. O governo, a educação, as leis, o exemplo e a instrução, para o barão, deveriam ter o interesse comum de provar a cada cidadão que a nação da qual faz parte é um

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conjunto que não poderá ser feliz e nem subsistir sem que haja virtudes entre os seus.

Os homens têm “deveres”, que seriam os meios para que se possa alcançar a maior finalidade do homem: homens que desejam igualmente a sua felicidade e a sua conservação. E esses deveres “nos obrigam”, pois sem eles não seria possível atingir esse fim maior. Com isso, Holbach defende a ideia de uma “obrigação moral”:

É a necessidade de se empregar os meios apropriados para tornar felizes os seres com quem nós vivemos, a fim de determiná-los a nos tornar felizes. Nossas obrigações para com nós mesmos são a necessidade de adotar os meios sem os quais não poderíamos nos conservar nem tornar nossa existência solidamente feliz. A moral está, como o universo, fundada na necessidade ou nas relações eternas entre as coisas. (HOLBACH, 2010, p.174).

O Barão de Holbach considera a felicidade como uma maneira de ser da qual desejamos a duração, ou na qual queremos preservar, e pode ser medida pela sua intensidade e duração, sendo a maior felicidade aquela que tem maior duração e a felicidade passageira aquela de pouca duração, ou, o que se pode considerar como prazer. Quanto mais intenso for o prazer, mais rápido ele pode acabar, e assim, se transforma em dor ou se torna um modo doloroso e penoso de existir. Então, Holbach conclui que o prazer imoderado provoca tristezas e mágoas; e que a felicidade passageira torna-se uma infelicidade durável; com isso, é sensato ao homem dever buscar de modo necessário felicidade, poupando de maneira consciente os prazeres que lhe tragam benefícios à sua felicidade mais permanente e recusando aqueles que podem se transformar em sofrimentos e decepções.

Portanto, pode-se dizer que, para o Barão de Holbach, virtude e felicidade estão diretamente relacionadas, tal como a razão e a experiência. E assim, é possível diagnosticar que a felicidade holbachiana tem por finalidade ser a mais longa e sólida possível e ter princípios que alcancem os interesses de outrem, ou seja, não é uma felicidade exclusiva, mas sim uma felicidade que visa as outras pessoas como sua parte constituinte:

Lembremo-nos sempre de que a nossa felicidade sólida deve se fundamentar na estima de nós mesmos e nas vantagens que proporcionamos aos outros, e que, de todos os projetos, o mais impraticável para um ser que vive em sociedade é o de querer se tornar feliz exclusivamente. (HOLBACH, 2010, p.386-387).

Dessa maneira, é possível entender porque Holbach afirma que a utilidade é tal como um paradigma para os julgamentos dos homens, pois “ser útil é contribuir para a felicidade dos outros” (HOLBACH, 2010, p.363), sem que se deixe de gerar felicidade a si próprio.

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6. RESULTADOS

Um Projeto de Mestrado. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Holbach convence por meio de argumentos bastante claros e rigorosos de que é possível ser virtuoso e feliz sem temer ou crer numa divindade.

8. FONTES CONSULTADAS Barão de Holbach:

HOLBACH, Barão de. Sistema da Natureza ou Das leis do mundo físico e do mundo moral, Martins Editora, 2010.

_________. Système de la Nature ou des Lois du monde physique & du monde moral, Paris: Coda, 2008.

_________. Teologia Portátil ou Dicionário Abreviado da Religião Cristã, Martins Editora, 2012.

_________. Éthocratie ou Le Gouvernement fondé sur la morale, Paris: Coda, 2008.

Crítica:

BLOCH, O. O Materialismo, Publicações Europa-América, 1987.

BOURDIN, J-C. Les Matérialistes au XVIIIe siècle, Paris: Éditions Payot & Rivages, 1996.

CASSIRER, E. A Filosofia do Iluminismo, Editora da Unicamp, 1994.

DESNÉ, R. Os Materialistas Franceses De 1750 a 1800, Ed. Seara Nova, 1969. HAZARD, P. O Pensamento Europeu no Século XVIII, Editorial Presença e Livraria Martins Fontes, 1974.

NASCIMENTO, Mª das G. S. do. “A tentação materialista de Voltaire”, In: Discurso 17 – Usp, Ed. Polis, 1988.

_____________. “Materialismo e história: o caso do Barão d’Holbach”, In: Dois Pontos, vol. 8, nº1, 2011.

_____________. Voltaire e o Materialismo do Século XVIII. Dissertação de mestrado, São Paulo, USP, 1983.

ONFRAY, M. Os Ultras das Luzes – Contra-história da Filosofia 4, Ed. WMF Martins Fontes, 2012.

Referências

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