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Tecnologia e humanismo: avaliação crítica dos objetivos do sistema educacional brasileiro

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Academic year: 2021

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Tecnologia e humanismo: avaliação crítica dos

objetivos do sistema educacional brasileiro

P alestra proferida no X I Cotígresso de Professores Evan­ gélicos de 2.° G rau, a 6 de ju n h o de 1975, em Panam bi, RS W alter A ltm ann

Quando abordam os o tem a “tecnologia e hum anism o”, trata-se a rigor de an alisar a p artícu la “e”. Quais seriam as possibilidades de relacionam ento dessas duas grandezas, “tecnologia” e “h u m a­ nism o”? Q ual a sua respectiva dose de acerto e erro? F undam ental­ m ente poderíamos distinguir q u atro posições. A prim eira d á ênfase n a tecnologia, postulando-a como u m a necessidade e pressupondo sua utilidade p a ra o homem. A segunda acen tu a o valor e a digni­ dade do homem, pressupondo inversam ente o perigo, se não o m ale­ fício, d a tecnologia e postulando a possibilidade de o hom em dela se libertar. A terceira visa a coordenar positivam ente o hom em e a técnica, no empenho de cap acitar o hom em à utilização d a técnica e de colocar a técnica a serviço do homem. Finalm ente, a q u a rta posição vê hom em e técnica n u m condicionam ento m útuo e n u m a relação de tensão perm anente. Abordaremos as qu atro posições, tendo em m ente, a princípio m ais im plícita, ao fim m ais explicitam ente, a relevância do assunto p a ra o sistem a escolar e 0 modelo educacional brasileiro.

— I —

A técnica é produto d a inventibilidade do homem, é o “esforço p a ra poupar esforço” (1). Ela caracteriza aquelè estágio do desen­ volvimento do homem, em que ele se apropria da n a tu re za e a dom ina (2). Reside aí o fascínio que exerce sobre nós cada nova conquista d a técnica, cujo símbolo p a ra nós é aquele “pequeno passo p a ra u m hom em ” e “grande passo p a ra a hum anidade”, ocorrido quando o prim eiro ser hum ano pisou o solo lu n a r (3). Dela esperamos tam bém , ansiosam ente m as com convicção, a vitó­ ria sobre a s am eaças que ain d a nos atingem , como o câncer. A técnica previne doenças, nos prolonga a vida, cria instrum entos de produção cada vez maior, proporciona conforto.

Pressupõe-se que a técnica seja benéfica p a ra o homem. J á os poucos exemplos acim a parecem comprová-lo. E, de fato, n ão

1 — José O rtega y Gaaset, Meditaç&o d a téc n ica (Rio de Jan eiro , 1963), p ig . 27. O ori­ g in al espanhol d a ta d e 1939.

2 — O filósofo d as religiões ru sso Berdlaev d istin g u iu trê s fases n o desenvolvim ento d a h u m an id a d e: a época org&nlca, em q u e o h om em est& envolvido pela n a tu r e ­ za; a época c u ltu ra l, em q u e o esp irito do hom em se sep ara d a n a tu re z a ; fin a l­ m en te a época técn ica, em q u e o h om em se ap o d era d e la e a dom ina. Cf. H an s- R u d o lf M üller-Schw efe, T ec h n lk a is B e stü n m u n e u n d V eisu ch u n g (G ã ttln g en , 1965), p&g. 3-11.

3 — Essas foram , se n&o m e fa lh a a m em ória, as palavras do a s tro n a u ta N elll A rm -s tro n g ao -se to m a r o p rim eiro hom em n a L ua.

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h á quem quisesse renu n ciar a todas as conquistas d a técnica: a roupa que vestimos, o livro que lemos, a condução que tomamos, o rádio que ouvimos — quando em nossa vida n ão estam os fazendo uso de algo que a técnica nos proporciona? E u disse: pressupõe-se u m valor positivo d a técnica. Os países desenvolvidos têm m u ita técnica, os subdesenvolvidos têm pouca. E a técnica poderia resol­ vei os nossos problemas, pensa-se. O assim cham ado “modelo brasileiro” de desenvolvimento, concebido pelo M inistro d a F a ­ zenda do governo Médici, Delfim Netto, tin h a como pan o de fundo exatam ente esssa pressuposição otim ista. “No seu sentido m ais alto ela (a tecnologia) é know how — a transposição d a situação- problem a p a ra a solução” (4). Onde estão os lim ites d a técnica? A rigor não os há, supõe-se. Todas as utopias passam a ser pos­ sibilidades conversíveis em realidade. “O lu g a r dos sonhos é tom ado pela realidade” (5). G raças à tecnologia, começa a se concretizar a substituição do trab alh o pelo lazer (6). A m áq uin a fa rá o tr a ­ balho, o homem poderá fazer aquilo em que tem prazer, desenvol­ vendo su a criatividade, em vez de lu ta r por seu sustento. E se um país como o nosso ain d a está m uito longe desse estágio, ta n to m ais indispensável — assim parece e se estabelece — a utilização decidida, n e u tra , dos recursos técnicos. Toda ênfase n a profissiona­ lização dada n a reform a educacional tem , a m eu ver, como pre­ m issa esse otimismo, segundo o qual o hom em pode se confiar ao mecanismo e ao sistem a tecnológico.

Onde estão os limites? Penetram os já decididam ente n a era dos computadores, n a cibernética. “A ‘cibernética’ apresenta-se ao técnico . . . como a técnica dos aparelhos que se controlam e se regulam a si mesmos.” “É a ciência dos autom atism os, simples­ m ente” (7). “A utôm atos calculam e tom am decisões, transfere-se assim à m áq u in a o que an tes era trab alh o consciente, e tem os de convir em que a m áquina, criação do nosso espírito, é, sob m uitos aspectos, m ais eficiente que o hom em ” (8).

— II —

O m ais ta rd a r aí, surge tam bém o nosso m al-estar. Oonistruindo um a m áq u in a m ais inteligente e eficiente do que nós, capaz de decisões próprias, n ão estaríam os assinando nossa própria sen­ ten ça de condenação? Como poderíamos nos precaver d a pos­ sibilidade de que ta l m áq u in a se voltasse co n tra nós, subjugando- nos a ela? Como poderíamos im pedir que ela concretizasse em relação a nós aquele sonho que os hom ens alentam os em relação a Deus: destroná-lo? (9) Teríamos m ediante a técnica vencido a am eaça d a natureza, p a ra ficarm os im potentes diante da am eaça da própria técnica?

4 — R u b em Alves, “T ecnologia e h u m an iz aç ão ", em : P az e T erra, n ú m . 8, 1970, pág. 10. 5 — M üller-Schw efe, o. c., pág. 23.

6 — Cf. H arvey Cox, A cidade do h om em (Rio d e Jan eiro , 1968), pág. 185-210; ta m ­ bém O rtega y G asset, o. c., pág. 31-33.

7 — Egm ond H iller, H um anism o e téc n ica (SSo PaulQ, 1968), pág. 24. 8 — Ib id .

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Creio que nesse ponto sentim os u m a dimensão inerente a todo empenho tecnológico, a qual, n o entanto, preferimos não perceber, porque nos é m ais cômodo viver n a ilusão do benefício irrestrito do que n a realidade do risco. Não suportam os a am eaça. J á O rtega y G asset indicava que o “esforço p a ra poupar esforço é esforço” (10). E o sociólogo H erbert M arcuse form ulou assim: “A força libertadora d a tecnologia — a instrum entalização das coisas — se inverte n u m a algem a d a libertação, to m a-se a in s tru ­ m entalização do hom em ” (11).

Trata-se aqui de que todo em preendim ento do hom em p ara ser significativo tem que possuir u m a logicidade, isto é, ele consti­ tu i um sistema. Como tal, contém leis inerentes ao próprio empre­ endimento, que devem assegurar sua funcionalidade, perduração e desenvolvimento (12). A rigor se tr a ta de algo facilm ente verifi­ cável. Tendo o veículo a m otor substituído o carro a tração anim al, já não se pode m ais u tilizar o último, pois fica paradoxalm ente anti-econômico. O novo sistem a torn ou obsoleto o anterior. (Se alguém tivesse querido vir de carroça a esta reunião, provavelmente não te ria tido o tem po necessário; caso tom asse o tempo, lhe sairia m uito mais caro.) Com o tran sp o rte aéreo de passageiros, o tra n s ­ porte m arítim o fica condenado. Uma fábrica adquire u m a m oder­ n a m áquina, sua rival deverá fazer o mesmo, p a ra n ão sucum bir sob a concorrência, mesmo que essa m áquina acarrete, em vez do lazer, o desemprego, como costum a acontecer em países subde­ senvolvidos. A possibilidade técnica to m a d a realidade passa a ser u m a necessidade.

Observa-se assim que a tecnologia n ão é m ais instrum ento p a ra um fim, m as “os fins são o funcionam ento” (13) do próprio sistem a tecnológico. Aí não h á lu g ar p a ra se p e rg u n ta r pelo ho­ mem. Por exemplo, o comércio depende da venda; não pode p er­ g u n ta r pelo homem que dem anda suas ofertas, p a ra averiguar se de fato correspondem às suas necessidades e alcance; ao contrário, faz propaganda p a ra convencê-lo d a compra. A in d ú stria ao em ­ pregar novos operários não averígua quais os que m ais necessitam do trabalho, m as os que m ais podem produzir. Se, por exemplo, a in d ú stria autom obilística começa a sofrer sob a retração <Jo m er­ cado, como agora acontece, nem por isso se pode dentro do sistem a funcional lev an tar a tese de que n ão são necessários automóveis, que,o tran sp o rte coletivo seria m uito m ais eficaz e menos oneroso. Ao contrário, sendo um a peça básica do sistema, é preciso d ila ta r prazos de financiam ento, reduzir a tributação, etc., p a ra g a ra n tir a funcionalidade. Que o sistem a se to m a independente do homem posso exemplificar n a m áquina com que escrevo esta palestra. Ela é u m modelo m ais recente de u m a m áquina anterior, que vendi quando fui estudar n a Alemanha. O modelo novo é evidentem ente

10 — O. c., pág. 27.

11 — C itado em : Jü rg e n H aberm as, T ech n ik u n d W lssenschaft a is Ideologie (F ra n k fu rt, 1970), pág. 7.

12 — Cf. o conceito d e “E lgengesetzllchkeit" n a Theologlsche E th ik d e H elm u t T hle-llcke, p o r exem plo to m o n / 2 (T ü b ln g ea, 1958), pág. 164-172.

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m ais fraco. A fragilidade foi program ada, porque o sistem a de fa­ bricação, p a ra co n tin u ar subsistindo e se expandindo, necessita d a reposição de seus produtos em prazos cada vez m ais curtos.

Conseqüentemente, o homem é enquadrado nesse sistem a coma u m a peça. Se a técnioa, de meio passou p a ra fim, o homem, de fim passou p a ra meio (14). “Portanto, o hom em deve funcionar, de preferência como u m a m áquina. Desagradável é, apenas, que ele é u m a m áq uin a que funciona m ediocrem ente” (15). O homem passa a ser en tão tam bém um objeto en tre outros p a ra a pesquisa tecnológica. Experim enta-se a té onde vão as capacidades, resistên­ cias e funcionalidade do ser hum ano. O u tra vez a astro náu tica nos d á o m elhor exemplo concreto. Aí o ser hum ano é submetido às condições m ais extrem as e adversas, a fim de testá-lo. Mas ta m ­ bém os tran sp lan tes cardíacos, iniciados h á alguns anos, foram um ta l teste. Se posteriorm ente os tran sp lan tes foram suspensos, não o foi porque a ciência e a técnica tivessem fracassado, m as porque o homem n ão foi aprovado no teste de experimentação. A ciência e a técnica procuram agora novos meios que possam fazer com que o homem resista futuram ente. Assim se experim enta agora a im plantação de um segundo coração.

É evidente que o experim ento com o hom em n ão tem a finali­ dade ú n ica d a própria experimentação. Prolongam ento d a vida, descoberta de novos recursos, etc. acom panham . Mesmo assim, perm anece o fato d a experim entação. E nos dois exemplos apon­ tados (astro n áu tica e tra n sp lan te cardíaco) pode-se perfeitam ente perguntar, se se tr a ta de necessidades do homem que estão em jogo, ou se não são necessidades de desenvolvimento do próprio mecanismo tecnológico os fatores decisivos (16). Os meios de comunicação — jornal, rádio, televisão — n ão sim plesm ente infor­ m am e en tretém o homem, m as igualm ente o subm etem às m ais diversas influências e condicionamentos através da propaganda psicologicamente estudada e dos valores explícitos ou, m ais fre­ qüentem ente, implícitos n a program ação. “Talvez nos horrorize­ mos com este pensam ento de que se pode m an ip u lar assim o homem. Isso, porém, é simples conseqüência. Lidamos com a n atu reza como m aterial, e lidam os com o homem d a m esm a form a”

(17).

Entende-se então o protesto, em nom e do homem, c o n tra a tecnologia. O otimismo tecnológico cede lu g ar ao ceticismo, à

crí-14 — Idem , p&g. 16: “P o rq u e O fu n c io n a m e n to do sistem a se tran sfo rm o u em fim , são a s necessidades q u e se tran sfo rm a m em m eios.” Pág. 17: “As exigências d a eficá­ cia fu n c io n a l in te g ram o h om em d e n tro d e s u a lógica."

15 — M üller-Schw efe, o. c., p&g. 15.

16 — A experlm entaçSo chega a extrem os como a seguinte, d en u n ciad a pela Comlss&o R ockefeller, in s titu íd a pelo governo am ericano, p a ra a p u ra r as irreg u larid ad es co­ m etid as pela A gência C en tral d e In telig ên c ia (CIA). A referid a agência desen­ volveu de 1953 a 1903 u m p ro g ram a p a ra “ ex p erim en tar a in flu ê n c ia dos n a rcó ­ ticos sobre os seres h u m an o s. Os n arcó tico s eram ingeridos p o r pessoas u tiliz a ­ d as com o 'cobaias* sem q u e estas tivessem q u a lq u e r co n h ecim en to do caso” (Cor­ reio do Povo, 11-6-75, pág. 2). £ sabido tam b ém q u e g u erras locais s&o freq ü e n ­ te m e n te u tiliz a d a s o u a te m esm o in stig ad as p o r necessidades tecnológicas d e d e­ senvolvim ento e experim entaçfto d e arm as.

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tica, quando não ao pessimismo. Isso ta n to m ais q u anto mais claro fica que a técnica de fato não apenas experim enta com o hom em e o m anipula, m as concretam ente se to m a u m a am eaça p a ra su a existência e a té mesmo sobrevivência. Â destruição am biental passou a ser discutida não por am or e respeito à n a tu ­ reza, m as porque o próprio homem vê aniquiladas as fontes de su a subsistência.

O protesto ocorre em nom e do homem. O ser hum ano tem u m a dignidade, um valor. Fere a dignidade do homem quando ele é m anipulado. O valor do operário é desconsiderado quando é submetido u m a vida in te ira a um trab alh o mecânico. O homem como sujeito é deslocado quando se tran sfo rm a em consumidor. A autonom ia é perdida, quando nações in teiras são subm etidas ao poder de empresas m ultinacionais. Poder-se-iam m ultiplicar os exemplos. Mas b asta co n statar a esta a ltu ra que “é preciso . . . pen­ sar u m a sociedade em que a participação e a criatividade do homem sejam as mãos que desm antelam a tecnologia como sistem a p a ra im ediatam ente depois em punhá-la como ferram en ta” (18). Surge daí tam bém o apelo no sentido de que os técnicos não devam ser apenas técnicos, pois o problem a d a técnica “nos faz to p a r dentro dela, como com o caroço n u m fruto, com o ra ro m istério do ser do homem” (19). Por isso tam bém é freqüentem ente externada a preocupação com a reform a educacional brasileira; teme-se a perda do valor h u m an ista com a acen tu da redução d a educação geral.

A crescente preocupação pelo homem é então tom ada em conta, pelo menos exteriorm ente, pelos program as políticos, como por exemplo n a nova adm inistração de Porto Alegre, que lançou o program a Porto Alegre Ur-Gente, cu ja finalidade seria to rn a r a metrópole m ais hum ana. In teressante tam bém é observarmos como o próprio sistem a tecnológico, c o n tra o qual o protesto se levanta, te n ta capitalizar p a ra si a preocupação externada. Sem­ pre m ais propagandas utilizam o argum ento do benefício p a ra o homem daquilo que se quer vender. Por exemplo, em Visão de 12-5-1975, encontram os n a contra-capa significativo anúncio. Um pequeno m ap a dos arredores industriais de São Paulo, u m a pe­ quena foto de u m a alegre criança brincando e um a foto m aior de cirurgiões e enferm eiras em plena atividade. A m anchete é: “C ristina foi atropelada. Como salvá-la?” O texto então diz que “C ristina sem pre gostou de b rin car fora de casa”. “N a sem ana passada C ristina foi atropelada . . . quando brincava n a ru a .” Ela possuía “um dos m ais raros tipos de sangue” e só u m a transfusão poderia salvá-la. “Hoje C ristina já está fora de perigo. E não vê a ho ra de sair d a cama. P ra b rin car n a m a .” A quem se deve esse verdadeiro m ilagre? Pasmem: “Tudo isso graças ao Plano Nacional de Telecomunicações que está sendo desenvolvido e im plantado pela EMBRATEL, com equipam entos fornecidos e instalados pela

18 — Alves, o. c., pág. 24s.

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NEC do Brasil, nos setores de comutação, transm issão e outros.” Pois “n a m esm a h o ra ” u m telefonem a p a ra outro município, “única solução possível”, tin h a resolvido o assunto. E o anúncio conclui: “A NEC é isto: gente buscando novas soluções p a ra to rn a r a vida m ais fácil e m ais h u m a n a ” (20). Q uer dizer, o anúncio n ão só sugere que a NEC não é um a gigantesca firm a anônim a, m as “gente”, como tam bém que to rn a r a vida de C ristina “m ais fácil e m ais h u m a n a ” não é proporcionar-lhe um lu g a r seguro p a ra brincar, m as que ela a cada novo atropelam ento possa ser salva, graças à NEC. . .

Voltemos ao protesto h u m an ista co n tra o sistem a tecnológico. Ele n a tu ra lm e n te não visa à supressão p u ra e simples d a técnica, pois não existe homem sem técnica. “O homem, queira ou não, tem que fazer-se a si mesmo, autofabricar-se” (21). E isso é técnica. Mas, protestos e apelos pressupõem que, colocando o homem no centro, hum anizando as relações en tre os homens, a técnica como fim será desm antelada, e recuperada como instrum ento. Quer dizer, o otimismo tecnológico é substituído pelo otimismo h u m a­ n ista. O hum anism o caracteriza-se precisam ente po r destacar a capacidade do homem de decidir, de se auto-reger (22). M as esse otimismo fundam ental quanto ao homem te ria sua razão de ser? B astaria destacar os valores do homem, p a ra cu ra r os malefícios da técnica? Qual seria, a rigor, a chance de êxito nesse em preendi­ mento, se o próprio hom em está afastado de seu verdadeiro ser, encontra-se em estado de radical alienação? De fato, o otimismo em relação ao hom em n ão é menos um postulado apriorístico do que o otimismo tecnológico. Movimentamo-nos como se nossa a lte r­ n ativa fosse ou otimismo tecnológico e pessimismo hum anístico ou então pessimismo tecnológico e otimismo hum anístico. Em ver­ dade, cada u m dos membros dessa altern ativ a é u m a contradição em si. Se recorremos ao otimismo q u an to à técnica, é porque estam os desiludidos com o próprio hom em e queremos paradoxal­ m ente vencer a desilusão através do produto das m ãos hum anas, a técnica, concedendo-lhe a autonom ia, p a ra a qual nos reconhe­ cemos incapazes. A te n ta tiv a não dá certo, não pode d a r certo. A tecnologia se to m a tão desum ana quanto o homem,, do qual se quis fugir. Se, inversam ente, queremos nos socorrer com o otimismo hum anístico co n tra a tecnologia, que é obra das mãos hum anas, acabamos nos dando conta de que nosso in ten to é irreal

(23) e m ero fru to d a projeção de nosso desejo.

20 — D estaque dad o p o r m im . 21 — O rtega y G asset, o. c., pág. 44.

22 — F oi p recisam en te esse asp ecto q u e E rasm o, em s u a D iatribe, d estacou c o n tra L u -tero e q u e o im p ed iu d e se in co rp o rar n a R eform a. O aspecto teológico d a lib e r­ dade o u escravld&o do h om em d ia n te d e D eus tem tam b ém os seu s reflexos n a vida e n tre os hom ens, em se u relacio n am en to p a ra com a n a tu re z a e p a ra com a técnica. Cf. a esse respeito, H ans Jo ach lm Iw and, “ S tu d ien zu m Problem des u n - frelen W illens”, em : U m d e n re c h te n G lauben (M ünchen, 1965), pág. 53-61, onde o a u to r corrige o m ale n te n d id o de q u e L u tero seria dejterm lnista m as tam b ém a p o n ta p a ra os reflexos co rrespondentes n a esfera h u m a n a d a servldfio d a v o n ta ­ de em relagfio a Deus.

23 — Alves, o. c., pág. 25: “Este pode p arecer u m id eal u tó p ic o im possível. M as som en­ te p en san d o o Impossível, o d lsfunclonal, serem os capazes d e n os lib e rta r d o fim d a h istó ria. Náo podem os n os esquecer de q u e as u to p ia s am lu d e nfto passam de verdades p re m a tu ra s' (L axnartlne).”

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A essa contradição foge o modelo d a coordenação positiva de hum anism o e tecnologia. Seu program a é simples e pode ser redu­ zido a dois elementos: tecnologia a serviço do homem; e, inver­ sam ente, o homem — senhor d a tecnologia. Parece ser essa, sob os incentivos — quando não aplausos — d a Oposição, a m eta declarada do a tu a l governo brasileiro, seja em pronunciam entos do presidente Geisel, seja nas prioridades do n Plano Nacional de Desenvolvimento. A diferença en tre Governo e Oposição, neste particular, parece residir no fato de que o Governo te n ta alcançar esse objetivo organicam ente, a p a rtir do program a tecnológico de desenvolvimento, caracterizado n a posição 1, “corrigindo suas dis­ torções” (24) através de “instrum entos reguladores”, enquanto que a Oposição questiona a possibilidade dessa evolução orgânica, a p a r­ tir das premissas hum anistas, esboçadas n a posição 2.

De qualquer modo, h á o em penho por tecnologia própria. O Brasil precisa dela por um a questão de soberania, p a ra não ficar sujeito àqueles países ou àquelas em presas m ultinacionais que dispõem de tais recursos e know how. Quer dizer, a posse d a tecno­ logia aca rre ta poder, de modo que somos levados à pergunta: quem detém o poder? E a m esm a p erg u n ta que vale p a ra a s relações internacionais, vale tam bém p a ra as relações den tro do país. Quem detém o poder tecnológico? Ou, aplicado ao problem a educacional: a profissionalização im p lan tad a pela reform a visa a am pliar, demo­ cratizar o exercício do poder sobre a tecnologia ou a en q u ad rar elem entos qualificados dentro de u m sistem a tecnológico já estru ­ tu rad o e em expansão? A Lei de D iretrizes e Bases d a Educação Nacional (lei 4.024, de 20-12-1961) d á ênfase n a prim eira hipótese, ao fixar em u m de seus artigos ain d a em vigor, como um a de suas finalidades: “O preparo do indivíduo e da sociedade p a ra o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes perm itam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio” (25). Em con­ trap artid a, a Lei de Diretrizes e Bases p a ra o Ensino de 1.° e 2.° graus (lei 5.692, de 11-8-1971) parece colocar a ênfase n a segunda hipótese, ao estabelecer o program a de habilitação profissional “conforme as necessidades e possibilidades concretas” (26), “em consonância com as necessidades do m ercado de trab alh o local ou regional” (27), podendo haver “regime de cooperação com as em­ presas” (28).

E n tretan to , aí já estamos antecipando observações que serão feitas m ais adiante. Im p o rta agora c o n statar que, ao que tudo

24 — Nesse s e n tid o o p re sid en te E m esto Geisel, em seu discu rso d e 30-12-74 (Jo rn a l do Brasil, de 31-12-74, pág. 5). Ig u a lm en te nesse discurso, c ita n d o m anlfestaçfio do ln lclo de seu governo: “O hom em brasileiro, sem dlstinçfto de classe, ra ç a ou re ­ gião onde viva e tra b a lh e é o o b jeto su p rem o d e to d o o p la n e ja m e n to n acio n al." S ignificativa é a escolha d o te rm o “ o b jeto ”, excluindo “su je ito ” .

25 — A rt. l.o, le tra e, em : H abilitações Profissionais n o E nsino d o 2.° G rau, publlcaç&o do MEC (B rasília, 1972), pág. 31.

26 — A rt. 4.o, ibid., pág. 14.

27 — A rt. 5.0, § 2», le tr a b, lbld., pág. 15. 28 — Art. 6.o, lbld., pág. 15.

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indica, sempre pulam os d a posição 1 p a ra a posição 2, e vice-versa, no in ten to de alcançarm os a posição 3: a coordenação positiva de homem — técnica. Vemo-nos n a necessidade de a cen tu ar i o ra a for­ m ação técnica, o ra a preservação dos valores hum anos. A síntese que queremos, n ão a atingimos. Por que não?

Ocorre que a prem issa do otimismo, que se encontra n a base de todas as trê s posições, não confere com a realidade e por isso somos forçados sempre de novo a novos reajustes. Nosso otimismo réflete a intenção de Deus com a criação do homem e dos recursos

(29), m as n ão faz ju s à situação real presente do hom em e do m undo radicalm ente alienados do propósito de Deus. Se n a criação o m undo é dado ao hom em como instru m en to p a ra seu benefício

(30), com a queda do homem ocorre u m rom pim ento en tre homem e técnica. O homem não utiliza m ais a técnica simplesm ente como instrum ento de domínio d a natureza, visando à utilização de seus recursos p a ra o bem comum, m as como in stru m en to de seu pro­ pósito absolutista. O hom em n ão quer que Deus seja Deus, m as quer ele mesmo ser Deus (31). Nesse propósito o sem elhante se to m a u m rival p a ra o homem, de modo que ele em prega agora a técnica con tra seu sem elhante. A técnica p assa a ser instrum ento cobiçado e disputado de poder. Nessa disputa é subvertida a ordem d a criação, a lu ta com petitiva passa a ser um a questão de sobre­ vivência de u n s às custas dos outros, de modo que n o conflito extrem o a utilização d a técnica não é refreada nem mesmo quando ela passa a d estru ir o espaço vital do próprio homem, ou seja, a natureza. O que no propósito divino e ra o exercício de liberdade e possibilidade hu m an as passou a ser a m aldição do homem: ficar dependente d a sua técnica e por ela escravizado (32).

— IV —

Por isso o relacionam ento en tre o hom em e a técnica n ão pode simplesmente ser coordenado positivamente. Ele se en co n tra em tensão. Podemos, é bem verdade, estabelecer a tese d a prim azia do homem sobre a técnica que ele utiliza. Mas o simples estabe­ lecim ento d a tese n ão a ca rre ta su a concretização. Na realidade

29 — M üller-Schw eíe, o. c., p&g. 6, observa q u e n&o casu alm en te a técn ica se desenvol­ veu n o m u n d o ocid en tal, sob In flu ên cia d a m ensagem b lb llca a resp eito do C ria­ dor, que se d istin g u e d a c ria tu ra , m as lh e co n lere m áxim o valor. D eus delega à Uberdade do h om em a tran sfo rm a çã o c o n stan te do m u n d o .

30 — Cf. o elem ento de desmitologlzaç&o n o re la to sacerdotal d a crlaç&o (O n 1, 1-2, 4a), exposto p o r O erh ard von R ad em seu co m en tário D as e rste B uch Mose, NTD 2 (G oet- tln g en , 1961), p&g. 50-53.

31 — E sta é u m a d as teses c e n tra is d e L u tero : “N on p o tes t hom o n a tu r a llte r velle deum esse deum , lm m o vellet se esse d eu m e t d eu m n o n esse d e u m ” (WA 1, 225; D lsp u tatlo c o n tra scholasticam theologlam , 1517, tese 17).

32 — A e sta a ltu r a n&o ía z m ais m u lto sen tid o a rra z o ar sobre quem é o c u lp ad o e q uem é a v ítim a. B asicam ente vale o q u e escreve H . Thlellcke, o. c., n / 2 , p&g. 213: "O po d er com o ta l n&o é n em m a u n em bom ; ele n&o o é, tam pouco, como o In s tin to sexual (Ubldo) e a téc n ica s&o m au s o u bons, dem oníacos o u divinos. Ê o erro do hom em , q u e n&o d ivisa m ais o h o rizo n te d e si m esm o — esse h o ri­ z o n te d eterm in ad o p o r )u lzo e graça, q u e d a n o pecado e redenç&o —, to m a r o bem e o m al em propriedades de coisas, espaços d e vida e leis m ateriais, o u se­ la, de esferas e x tra hom inem , fa la n d o d e processos trág ico s em vez d e dedsOes culposas.” (Cf. a critica a essa poslç&o, a trav és d a ridlcularlza$&o, p o r M cLuhan, em Alves, o. c., p&g. 15s.) C ontudo, efetiv am en te n a ordem d o m u n d o caldo esta­ belece-se u m circulo vicioso, de m odo q u e o hom em tam b ém se to m a v itim a de s u a p ró p ria o b ra culposa.

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pode ocorrer — e sempre de novo ocorre — a inversão: o hom em se tran sfo rm a n u m a função d a técnica. Homem e técnica, ambos, estão alienados da realidade intencionada por Deus. O homem pode almejá-la. Mas n ão está em seu poder realizá-la.

For isso não b a sta fortalecer o hum anism o. Sabemos que o hum anism o, ao destacar valores, dignidade e capacidades do ho­ mem, liberou enormes potencialidades até en tão desaproveitadas no homem, tam bém no campo da técnica (33). M as o hum anism o tam bém tem, por isso mesmo, fom entado um processo de elitização (34). Elitização tem significado am iúde tam bém — e em nosso meio em especial — m arginalização das m assas d a cultura.

D estarte, o próprio hum anism o tem fornecido tam bém os instrum entos, p a ra que a elite por ele form ada se aproprie da técnica, racionalize seu emprego e te n te subjugar a m aioria, profis­ sionalizando-a apenas p a ra servir de um bom in stru m en to não- contestatário e funcional como engrenagem n u m a m áq u in a bem m ontada. Significativo, neste ponto, é o emprego que faz o Con­ selho Federal de Educação do term o hum anism o, em seu Parecer 853/71 (35). Aí o hum anism o é restringido ao conteúdo d a educa­ ção geral que visa à continuidade dos estudos. A p a rte de formação especial, por seu turno, não está subm etida aos valores hum anistas, m as visa a “aptidões e iniciação p a ra o trab alh o ” e “habilitação profissional” (36), caracterizando a term inalidade, isto é, a pas­ sagem p a ra o processo produtivo. Acrescente-se que, segundo a lei (37), a p a rte de form ação especial deve predom inar no 2.° grau sobre a p a rte de form ação geral, podendo ser esse o caso já no 1.° grau, quando “fatores sócio-econômicos e psicológicos” o indi­ carem (38). Desse modo a esfera de alcance do hum anism o é paulatin am ente restring id a com o avanço dos anos de estudo, atingindo u m círculo cada vez m ais restrito d a população, sendo de alcance praticam en te nulo quando se passa p a ra a atividade profissional. Parece-me que precisam ente isso foi visto agora pelas autoridades competentes. A Política Nacional In te g ra d a de Educa­ ção, documento divulgado pela MEC, a 28 de maio do corrente, observa: “Não seria desejável, a esta altu ra , propor m ais u m a re­ forma, quando as duas em im plantação ainda estão longe de pro­ duzir todos os seus efeitos. É indispensável, todavia, u m amplo esforço de acom panham ento, p a ra que os princípios da educação hum anística não sejam engolfados pela m aré m o n tan te do profis­ sionalismo tecnificante, a fim de que a educação geral n ão seja m arginalizada pela especial” (39).

33 — Nào é casualidade q u e a R enascença, com se u Ideal h u m a n ista , tam b ém te n h a a carretad o n o táv el avanço tecnológico. L eonardo d a Vlncl, p o r exemplo, a lio u em su a p ró p ria pessoa am bos os elem entos. Cf. M üller-Schw efe, o. c., pág. Ss.

34 — Nesse sen tid o , u m expoente é, se o vejo bem , G u ilh erm e von H um bold (1767-1835), com seu ideal pessoal e ed ucacional do v alo r h u m a n o (H u m a n itä t).

35 — E m : H a b ilita ç õ e s ..., pág. 50.

36 — R eferência fe ita ao A rt. 5.°, § 2.°, le tra a, d a lei 5.692. 37 — A rt. 5.0, S 1,°, le tra b, em : H a b ilitaç õ es .. . , ' pág. 15.

38 — P arecer 853/71 d o Conselho F ed eral de Educação, ibid., pág. 50. 39 — Correio do Povo, 30-5-75, pág. 8.

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Em verdade o problem a não se resolve com dosagens de h u m a­ nismo e profissionalização. Deve tra ta r-se de duas perspectivas que determ inem o todo do processo educacional. O hum anism o em si é tão problemático quan to a profissionalização em si. Seria por demais simples, portanto, apenas destacar o papel h u m an ista de nossas escolas evangélicas (ou particulares em g eral). Esse papel, ju stam en te pela elitização fom entada, tem sido problem ático nó passado e só tem aparência de relevante dentro do quadro educa­

cional e econômico a tu a l n o Brasil.

O que se pode fazer então? O que pode o Estado fazer e deter­ m in ar p a ra o processo educacional? O que podem fazer nossas escolas evangélicas?

Se o homem está profundam ente alienado em seu ser, ele de fato n ão poderá fazer m ais do que sucessivamente p u lar d a posição 1 p a ra a 2 e vice-versa, tentando a tin g ir o equilíbrio d a 3 (40). O hom em é então condenado ao otimismo, seja tecnológico, seja h um anista. Caso contrário, só lhe restariam a fru stração e o deses­

pero. (Conhecemos esses fenômenos, tam bém em nosso tempo, m as o hom em te n ta superá-los com o recurso à esperança e ao otimismo. Em bora não seja essa a realidade ú ltim a do homem, ela é su a realidade presente. Por isso, o cristão, bem como as escolas evangélicas deverão e sta r atentas, p a ra destacar a neces­ sidade m aior o ra de um, ora de outro elemento. A reform a educa­ cional enfatizou a profissionalização. Neste p articu lar, pelo menos até o mom ento, ela tem deixado de atin g ir os seus objetivos. E é duvidoso que ela o consiga dentro d a presente configuração social m aior do país. Pois a causa de suas limitações n ão se deve apenas — nem p rim ordialm ente— a deficiências e stru tu rais (falta de recursos m ateriais e h u m an o s), m as sobretudo ao fato de que os próprios alunos e pais não desejam a profissionalização. E não a desejam com razão, por um sentim ento irrefletido de que estariam sendo degradados a engrenagens n u m sistema. Pretendem en tão ingres­ sar n a faculdade. Almejam subir a profissões m ais valorizadas social e pecuniariam ente. Almejam u su fru ir d a tecnologia e não ser seus servidores. Por isso tam bém a profissionalização se to m a m ais problem ática n a s escolas particulares do que n as .públicas, embora por vezes os recursos sejam melhores n as prim eiras. Obser­ vamos assim que a inclusão de u m elemento form alm ente demo­ crático — ampliação das possibilidades e do alcance educacional —

40 — O hom em n&o ap en as n ã o quererá, ab d ic ar dessa te n ta tiv a , como n e m se q u e r po­ d erá q u erê-lo (of. cltaçâo de L u tero n a anotaç&o 29), t&o ra d ic al e a b so lu ta é su a allenaç&o. R esidem aí os lim ites do artigo, várias vezes indicado, d e R ubem Al­ ves. Com os negros dos E stados U nidos ele crê ser possível c ria r u m a sociedade livre e ju s ta a p a r tir dos h o m en s (o. c., p&g. 22s.), como tam b ém crê se r possível a p a rtir do hom em m a n te r a consciência d e relativ id ad e do p ro d u to e p o rta n to u m p en sam en to crítico a ele (pág. 23s.). Essa é a s u a prem issa, a d a D iatrib e d e E ras­ m o. De n ossa p a rte n&o se t r a t a de co n tra p o r a se u o tim ism o desesperado — as­ sim poderíam os c ara cte riz ar su a co n fian ça n o h om em — u m pessim ism o confor­ m ado, pois am bos teriam com o p a n o de fu n d o o n â o -c o n ta r com a existência de Deus. Cremos n a realid ad e e eficácia de u m o tim ism o teo cên trlco , p a ra o hom em , a p a rtir do que, con tu d o , fica d e antem&o — e n&o só a p o sterio ri — relatlv izad a to ­ d a obra do hom em . Esse otim ism o teo cên trlco q u e relatlv lza a o b ra do hom em , ju s ta m e n te ao llb e rtá -lo p a ra obras re lativ as e d e antem&o n& o-absolutas, pro­ vém do evento d e J e su s C risto, de su a m o rte e ressurreiç&o. D esenvolver esse as­ pecto, porém , u ltra p assa os lim ites do p re sen te trab a lh o .

(11)

dentro de u m a ordem social e econômica problem ática, n ão leva à correção desta, m as à absorção daquele. Inversam ente, tam bém de pouco a d ia n ta rá sim plesmente a cen tu ar os valores hum anistas dentro d a m esm a ordem problem ática de valores sociais e econô­ micos. Não se pode isolar a escola d a sociedade que a rodeia, como não se pode isolar o problem a educacional do sistem a social e econômico.

O papel da escola será, pois, preservar a visão global, ab erta e crítica, da e stru tu ra social e, dentro dela, destacar ora a técnica, o ra o homem, visando a um a coordenação positiva aproxim ativa, relativa e provisória. Se o homem está radicalm ente alienado em seu ser, vai viver sem pre de novo n a ilusão de que é capaz de coordenar positivam ente tecnologia e hum anism o, não só aproxi­ m ativa, relativa e provisoriamente, m as de modo pleno, absoluto e perm anente. E é ju stam en te aí que surge a ideologia, a competição, o emprego d a força, o uso d a técnica como arm a em vez de in stru ­ mento, a desumanização.

O cristão, a p a rtir da visão realista d a fé, cen trad a n a digni­ dade e n a responsabilidade da c ria tu ra d ia n te do Criador, m as tam bém no conhecimento da ru p tu ra do relacionam ento do homem p a ra com Deus, irá m a n te r a consciência crítica e transm iti-la adiante. Irá desm ascarar o absoluto de ideologias e program as educacionais, reduzindo-os ao seu papel relativo, provisório e sem­ pre questionável. Nossas escolas evangélicas, n a medida em que forem frutos dessa fé, poderão en co n trar aí razão ú ltim a de ser, o que em verdade u ltrap assa as possibilidades do homem radical­ m ente alienado e por isso mesmo em estado de ilusão. Não u ltra ­ passa, porém, o que o Criador revela à fé. Ao contrário, a fé é essa possibilidade.

Referências

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