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A crise econômico-financeira mundial de 2007/08 e alguns impactos na economia brasileira

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

GUILHERME GADONSKI DE LIMA

A CRISE ECONÔMICO-FINANCEIRA MUNDIAL DE 2007/08 E ALGUNS IMPACTOS NA ECONOMIA BRASILEIRA

Ijuí (RS) 2014

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GUILHERME GADONSKI DE LIMA

A CRISE ECONÔMICO-FINANCEIRA MUNDIAL DE 2007/08 E ALGUNS IMPACTOS NA ECONOMIA BRASILEIRA

Projeto de Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Ciências Econômicas objetivando a aprovação no componente curricular Monografia I.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação - DACEC.

Orientador: Professor Dr. Argemiro Luís Brum

Ijuí (RS) 2014

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A banca examinadora abaixo assinada aprova a Monografia

A CRISE ECONÔMICO-FINANCEIRA MUNDIAL DE 2007/08 E ALGUNS IMPACTOS NA ECONOMIA BRASILEIRA

Elaborada por

Guilherme Gadonski de Lima

Como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas

Ijuí (RS), de 2014

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof. Doutor Argemiro Luís Brum

Orientador

___________________________________________________ Prof.

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AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho a toda a minha família, que sempre me apoiou em meus sonhos e conquistas intelectuais, em especial a minha mãe, meu pai e meu irmão. De outra parte, destino os meus agradecimentos aos meus mestres, que são os grandes responsáveis pelo acadêmico e o profissional que me tornei. Sem mais, encerro esta etapa com a certeza de que minha caminhada acadêmica e profissional está apenas começando. A educação é a maior riqueza que um ser humano poderá adquirir durante a sua vida.

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RESUMO

Uma crise econômica pode atingir determinados setores ou então a economia como um todo. Sendo possível ainda que ela se origine em um setor da economia e atinja mais bruscamente outro. Casos mais graves são aqueles em que a crise econômica tem sua origem no setor financeiro, facilitando e intensificando a forma como os demais setores da economia e países são abarcados por ela. Este é o caso da crise econômica de 2007/08, iniciada no sistema financeiro dos Estados Unidos. Este país, que apresenta a maior economia do mundo, possui comércio e negócios com diversos países do globo, além de seu sistema financeiro ser bastante globalizado e seu governo desfrutar de grande credibilidade internacional, especialmente verificada quando da venda de seus títulos da dívida pública. Desta forma, uma crise que se inicia em um país com tamanha envergadura acaba atingindo o mundo todo. Nesse contexto, se verificou pertinente uma análise quanto aos impactos desta crise na economia brasileira, com ênfase no tempo e nas formas de reação apresentadas pelo governo do Brasil para a ela fazer frente. Assim, se concluiu que serão necessárias profundas mudanças na condução da economia brasileira, para que o país retome o caminho do crescimento sustentável.

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ABSTRACT

An economic crisis can achieve certain sectors or else the economy as a whole. Is still possible that it originates in a sector of the economy and achieve shorter another. More serious cases are those in which the economic crisis has its origin in the financial sector, facilitating and enhancing the way other industries and countries are covered by it. This is the case of the economic crisis of 2007/08, which started in the US financial system. This country, which has the world's largest economy, has trade and business with various countries of the globe, and its financial system is very globalized and his government enjoy great international credibility, especially when seen from the sale of its public debt. Thus, a crisis that began in a country with such magnitude just reaching around the world. In this context, it was found appropriate analysis regarding the impact of this crisis on the Brazilian economy, with emphasis on time and in reaction patterns presented by the government of Brazil to make it ahead. Thus, we concluded that major changes in the conduct of the Brazilian economy will be needed for the country to resume the path of sustainable growth.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1 - CRISE ECONÔMICA: O QUE É E COMO FUNCIONA

2 – A CRISE ECONÔMICA DE 2007/08 E SEUS REFLEXOS NO MUNDO 2.1 – Aspectos da gênese e do desenvolvimento da crise

2.2 – Os reflexos da crise no mundo

3 – OS REFLEXOS DA CRISE ECONÔMICA 2007/08 NO BRASIL

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho se concentra em destacar alguns impactos que a crise econômico-financeira mundial de 2007/08 causou no Brasil. Tal crise é considerada tão relevante quanto a grande depressão ocorrida em 1929/30. Para tanto, metodologicamente realizou-se uma revisão da tradicional literatura econômica, além de artigos científicos a partir das bases de dados SciELO, Google Acadêmico e livros em geral. Além disso, buscou-se analisar dados agregados a partir de sites oficiais de órgãos como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, Banco Central do Brasil – BACEN e da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e Caribe - CEPAL. A prioridade foi para publicações recentes que contemplam o objetivo proposto. Realizar uma análise dos impactos da crise econômico-financeira mundial de 2007/08 na economia brasileira, utilizando dados agregados de variáveis nacionais, para a melhor compreensão da configuração da economia brasileira atual (2014). Os sintomas de fragilidade atual da economia brasileira, tais como crescentes déficits no balanço de pagamentos, pressão inflacionária, altas taxas de juros, real desvalorizado frente ao dólar, entre outros indicadores econômicos desfavoráveis ao crescimento e desenvolvimento do país podem ser considerados como fatores oriundos da crise econômico-financeira de 2007/08. Mesmo que os impactos de tal crise tenham sido um tanto diferentes conforme a realidade de cada país ou região do mundo, o fato é que diante de uma economia mundial cada vez mais globalizada, as relações econômico-financeiras e comerciais tornam os países mais interdependentes. A relevância da atual crise mundial, comparada à ocorrida em 1929/35, não deixou nenhum país indiferente.

Este estudo resultou ainda de uma pesquisa do tipo exploratório quanto aos seus objetivos gerais, utilizando no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Na sua realização recorreu-se ao método de abordagem hipotético-dedutivo, observando a seleção de bibliografias e documentos afins à temática, em meios físicos e na Internet, interdisciplinares, capazes e suficientes para ser construído um desenvolvimento teórico coerente sobre o tema em estudo. E ainda a leitura e fichamento do material selecionado, a reflexão crítica sobre o material selecionado e a exposição dos resultados obtidos.

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Este trabalho está estruturado em quatro capítulos, além das considerações finais e o referencial bibliográfico. Contendo também alguns dados quantitativos para auxiliar na melhor compreensão do tema abordado.

No primeiro capítulo, sem ser exaustivo, resgata-se a literatura tradicional, para melhor compreender o que os diversos autores definem como sendo uma crise econômica, suas divergências e congruências acerca deste assunto. Para tanto são citados autores clássicos, neoclássicos e contemporâneos como Adam Smith, David Ricardo, John Maynard Keynes, Karl Marx, Joseph Schumpeter, Ludwig Von Mises, Friedrich Hayek, Nikolai Kondratiev e Paul Krugman.

No segundo capítulo é relatado o surgimento e o desenvolvimento da crise econômica de 2007/08. A ideia é resgatar as origens da crise, nos Estados Unidos, além de fatores externos a este país que possam ter contribuído para o surgimento ou mesmo o agravamento desta crise.

No terceiro capítulo destaca-se como esta passou a atingir os países mundo afora, como a mesma chega até eles, além de suas reações econômicas diante de tal situação. Nesta análise procurou-se distinguir a reação dos países desenvolvidos e dos emergentes, com destaque para o modelo keynesiano adotado pela quase totalidade dos países no enfrentamento da crise. Assim como alguns impactos da crise na economia brasileira e como o governo local reagiu à mesma. Igualmente serão destacados alguns reflexos que as políticas locais de reação à crise trouxeram para a economia brasileira.

Destaca-se, enfim, que o presente trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto e, muito menos, oferecer respostas definitivas ao problema abordado.

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1 - CRISE ECONÔMICA: O QUE É E COMO FUNCIONA

Quando a economia política se tornou efetivamente uma ciência, no século 18 e começos do 19, seus pais fundadores, os fisiocratas franceses capitaneados pelo Dr. Quesnay, e os economistas liberais britânicos Adam Smith e David Ricardo, não se preocuparam com o estudo das crises econômicas. O motivo é que estavam mais interessados em fixar quais eram as leis da economia. Além disso, viviam num momento de grande otimismo, de ascensão econômica e social da burguesia europeia provocada pela expansão da Revolução Industrial do século 18, quando o sistema fabril começou a mostrar sua imensa capacidade de mudar a sociedade, trazendo a prosperidade para uma boa parte dela. Antes, quando as crises ocorriam, muitos as atribuíam a fatores estranhos à economia. Até à má influência da Lua foi, por vezes, mencionada. As desgraças materiais na Antiguidade ou na Idade Média, por darem-se em sociedades agrárias, eram relativamente fáceis de serem explicadas. Quase sempre era uma má colheita, uma estiagem prolongada, uma guerra dinástica ou um descalabro qualquer da natureza, que motivavam a fome e a miséria em uma comunidade. E o povo em geral a atribuía a uma danação divina, uma punição de Deus.Na história das crises contemporâneas a situação é totalmente diferente. A depressão ataca sem nenhuma causa visível. Nem Deus nem a guerra se responsabilizam. As sociedades industriais muitas vezes encontram-se num clima de plena euforia quando tudo, num instante, como um castelo de cartas, desaba. Parecem exercer uma espécie de inexplicável maldição segundo a qual, obrigatoriamente, depois de um período de exuberância e de progresso, fatalmente mergulha-se no pessimismo e na desesperança. Como se no amplo mar da vida uma onda de otimismo deve ser sempre seguida pela maré baixa do desânimo (TERRA, 2014).

Nos primórdios do pensamento econômico, o tema ciclos e crises econômicas pouco ou nada foi debatido, pois se partia do pressuposto de que os mercados são perfeitos e se auto- ajustam. Assim segue-se o pensamento dos mercantilistas, perpassando pelos fisiocratas até os neoclássicos, onde então ocorrem algumas rupturas do pensamento econômico.

O pensamento econômico mais organizado se inicia por volta do século XVI, com as ideias mercantilistas, as quais se configuram na primeira escola do pensamento econômico. Suas ideias fundamentais se baseavam no acúmulo de metais preciosos pelo Estado, ou seja, tanto mais rica era uma nação quanto mais

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metais preciosos ela tivesse em seu poder. Este movimento se dava através de uma política de comércio exterior protecionista, onde se importava preferencialmente apenas o necessário, ou seja, o que não era possível produzir localmente. Por sua vez, pelo lado das exportações, buscava-se ao máximo para que assim se cristalizasse o acúmulo de metais preciosos (Hunt, 2005).

Posteriormente, surge a escola de pensamento fisiocrata, a qual é a primeira a formar um sistema científico, fugindo do empirismo dos mercantilistas. Fisiocracia significa “governo da natureza”. Seus defensores acreditavam que o universo é regido por leis naturais, absolutas, imutáveis e universais. Representava ainda o individualismo econômico, gerador do liberalismo. Traduzindo esta doutrina nas clássicas palavras de seus defensores, poder-se-ia dizer que “toda a riqueza provém da natureza, principalmente da terra (agricultura)”.

Em contraponto aos mercantilistas e fisiocratas surgem os pensadores da Escola do Pensamento Clássico, tendo como seus três principais expoentes os britânicos Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx. Os clássicos afirmavam que as pessoas trocam mercadorias porque é vantajoso para ambas as partes e promovem-se a especialização, a divisão do trabalho e o aumento da riqueza. Logo, a regulamentação ou as políticas protecionistas (incentivo à exportação) estatais atrapalhava este processo, pois restringia o comércio, fazendo com que a riqueza real diminuísse. Asseguravam ainda, que o progresso provinha dos interesses egoístas dos indivíduos, do desejo de levar uma vida fácil, e não da propensão natural a trabalhar, ou seja, não havia uma seleção natural. Posto assim, Smith afirmava que o Estado não deveria intervir na economia, e deveria ocorrer o mais elevado nível de liberalismo econômico o qual fosse possível (Fusfeld, 2001).

O desenvolvimento só seria possível se houvesse competitividade. Em outras palavras, quanto maior fosse o incentivo ao trabalho, maior seria a produção de riquezas e mais rapidamente avançaria a humanidade. A produção de riqueza não dependia da fertilidade do solo, como afirmavam os fisiocratas, tão pouco da balança comercial favorável, como defendiam os mercantilistas, mas sim dos incentivos individuais às pessoas comuns, para que assim houvesse maior geração de riquezas, as quais deveriam ser empregadas na melhoria das condições de vida das pessoas para que se configurasse o desenvolvimento.

Marx, sem negar a afirmação de que o livre comércio é um instrumento melhor do que os sistemas protecionistas anteriores, ressalta que mesmo os países

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ganhando com tal prática, aquele país que se especializar na produção de um bem que use o fator de produção mais caro irá naturalmente acumular mais ganhos do que outro país que produzir bens com fatores de produção baratos. Ou seja, no livre-comércio todos ganham, porém, alguns irão ganhar bem mais do que outros (BRUM, 1997).

Na abordagem neoclássica de desenvolvimento, analisa-se a economia como sendo de concorrência perfeita, além de tomar como base que os consumidores individuais sempre buscam maximizar a sua satisfação. Ou seja, em um sistema de livre mercado, o consumidor individual é o principal determinante da atividade e do progresso econômico. Dito isso, os pensadores neoclássicos, apesar de defenderem o livre mercado, aceitam, com base no utilitarismo, intervenções do Estado na economia, desde que haja certeza dos benefícios sociais resultantes, aceitando então a intervenção estatal somente em casos específicos. Ainda refutaram a teoria marxista do valor-trabalho. Em essência os neoclássicos discordam de Marx, ao afirmarem que, o valor de uma mercadoria, não decorre da quantidade de trabalho dispendido nela, mas sim da utilidade da última unidade adquirida, compondo assim o cerne do princípio da utilidade marginal (Galbraith, 1976).

Foram três os pensadores de maior contribuição para as teorias neoclássicas: o austríaco Karl Menger, o inglês William Stanley Jevons e o francês Léon Walras. O primeiro, parte do pressuposto de que, ao escolher aonde dispender sua renda, o consumidor vai sempre buscar maximizar a sua satisfação. Fato que será alcançado quando o último montante (valor marginal), gasto em um bem ou serviço, não lhe gere nem mais nem menos satisfação (bem estar, ou utilidade), do que o montante anteriormente gasto. Estas é a contribuição de Menger para a Teoria da Utilidade Marginal. Quanto a Jevons, sua contribuição é de que a utilidade, na margem, diminui. Ou melhor, quanto mais uma pessoa possuir de uma mercadoria, menor será sua satisfação ao adquirir mais uma unidade desta, além de menor ser a sua disposição de pagar por ela (princípio da utilidade marginal decrescente). Logo, mercadorias escassas serão caras e mercadorias abundantes serão baratas. Já o francês Walras explica o princípio em um sistema. A qualquer mudança na alocação dos gastos do consumidor, todo o sistema será sensibilizado, na forma de pequenos ajustes de produção e preços. Ainda mais em uma economia competitiva, onde todo o sistema ajusta-se automaticamente, adequando a produção à demanda. Caracteriza-se então o princípio do equilíbrio geral, onde a produção adequa-se as

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preferências do consumidor, e o maior nível possível de satisfação do consumidor será atingido, dados os recursos e a tecnologia existentes (Fusfeld, 2001).

Este equilíbrio, defendido matematicamente por Walras, poderia ser atingido em um sistema de concorrência perfeita, desde que os indivíduos, consumidores ou ofertantes, maximizassem a sua satisfação. Além de haver a completa flexibilidade de mobilizar recursos de um uso para o outro, cristalizando assim o princípio equimarginal.

Já John Maynard Keynes, na primeira metade do século 20, fala sobre a importância do mercado financeiro e do gasto público sobre a demanda efetiva. O pensamento keynesiano cita as flutuações econômicas relacionando-as com as oscilações no patamar da demanda efetiva da economia. Também enfatiza a importância da sobre acumulação e do subinvestimento sobre a determinação do nível garantido da demanda efetiva.

Em meados da década de 1930 a lógica da Lei de Say, portanto, será derrubada por Keynes. Enquanto Jean Baptiste Say dizia que a oferta criava sua própria demanda, Keynes introduziu a teoria inversa, de que é a demanda que cria sua própria oferta. A teoria cristalizou-se neste momento da história, visto que com a crise de 1929 o mundo passa a perceber que para a produção se manter em níveis altos é necessário manter elevados os gastos dos consumidores. Assim surge o conceito de fluxo circular de dispêndios. Em outras palavras, se os produtores elevassem cada vez mais suas rendas, logo não restaria esta para que os consumidores pudessem gastá-la. Assim, é preciso que haja um fluxo de renda destes para aqueles e vice-versa (Fusfeld, 2001).

Em sua grande obra-prima, Teoria Geral do Juro, Emprego e da Moeda, Keynes salienta fatores determinantes para o crescimento e desenvolvimento econômico em uma abordagem até então não destacada. Afirma que a propensão a consumir, o incentivo ao investimento, a eficiência marginal do capital, a preferência pela liquidez e o multiplicador, a jusante com a oferta de moeda, determinam o nível de produto e de desemprego, para além de influenciar no nível de preços. Destaca também a possibilidade de haver equilíbrio abaixo do nível de pleno emprego, o que não era aceito pelos clássicos. Assim, a hipótese de Keynes, onde a taxa de juros e a taxa de retorno esperada dos investimentos determinavam estes, leva-o a afirmar que, em se elevando os investimentos, o efeito multiplicador entraria em cena, aumentando por consequência o emprego e então a renda e a demanda agregada.

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Ao definir como funcionava o mecanismo para manter a demanda agregada elevada e, por consequência, elevar a produção, buscou conhecer o mecanismo determinante da taxa de juro. É então que Keynes introduz a teoria da preferência pela liquidez, onde ele acrescenta mais um fator para que os agentes retenham moeda. Ou seja, além dos elementos transação e parcimônia, ainda há para ele o fator especulação. Logo a taxa de juros é determinada no mercado de títulos e de moeda, a partir da relação existente entre estes elementos. Não obstante defendia que altos níveis de demanda agregada podiam ser mais necessários do que a poupança numa economia avançada e desenvolvida. Para tanto deveria ocorrer uma melhor distribuição de renda, fazendo com que a economia pudesse se expandir. A antiga teoria por sua vez colocava a taxa de juros como determinante da igualdade entre a poupança e o investimento, e ainda que reduções de salários levariam ao pleno emprego. Já Keynes responde colocando que salários baixos fariam reduzir ainda mais a demanda por bens e, por consequência, haveria superprodução, pois não haveria renda suficiente para os consumidores continuarem comprando (Keynes, 1996).

Posto assim tem-se uma ruptura de Keynes com as ideias clássicas do laissez-faire. Enquanto estes eram a favor do livre mercado, aquele é pró-intervencionismo estatal, afirmando que apenas assim os mercados seriam regulados de tal forma que possibilitasse a expansão e o desenvolvimento da economia e, por conseguinte, evitando as crises econômicas. Para controlar estas variáveis surgem as políticas macroeconômicas discricionárias, monetária, fiscal e cambial, tanto expansionistas quanto restritivas.

Ainda antes de Keynes publicar sua obra, um economista polonês, Michael Kalecki, realizou as mesmas análises, no entanto em uma abordagem de cunho marxista. Defendia basicamente os postulados pelos quais Keynes ficou conhecido, porém, com outro linguajar e outra ótica, além de ter realizado seus escritos em polonês, o que dificultou a sua proeminência no mundo econômico. Este autor discorria sobre as flutuações econômicas, relacionando a demanda efetiva com a variação no nível de estoque do capital e do investimento na determinação do nível de produto. Enquanto Keynes pondera sobre a preferência pela liquidez, Kalecki destaca as lutas de classes como fator importante na determinação da distribuição de renda e, por consequência, dos investimentos (Hunt, 2005).

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Os marxistas defendem que as flutuações econômicas no capitalismo seriam em gerais cíclicos, próprias da dialética do sistema capitalista, onde os fatores que geram o boom semeiam também o declínio. O ciclo econômico refere-se então às flutuações recorrentes e periódicas da atividade econômica em longo prazo, determinadas pela variação do nível de lucro dos empresários e de investimento na expansão ou reposição do estoque de capital.

As análises marxistas sempre tiveram como base os esquemas de reprodução, desenvolvidos por Karl Marx nos volumes de O Capital(1996) para explicar o funcionamento da acumulação e circulação do capital entre setores de uma economia capitalista. Os ciclos resultavam nas possibilidades de desequilíbrios intersetoriais no sistema capitalista, de crise de realização da produção e de manifestação da tendência de longo prazo à queda da taxa de lucro.

Sendo assim, Marx faz distinção entre Produto Necessário e o Produto Excedente, fator que para ele é determinante na distribuição de renda em uma sociedade. Sendo o primeiro, a parte do produto total, a qual é apropriada pelos trabalhadores, o necessário para sua sobrevivência. Enquanto que o produto excedente se configura na mais-valia, ou seja, a apropriação por parte do capitalista do excedente produzido pelos trabalhadores. Sendo o excedente econômico sinônimo de mais-valia, percebe-se que ela se deve primeiramente pela acumulação, que pode ser intensiva, mais tecnologia, ou então extensiva, mais mão de obra. Tais processos funcionam sequencialmente, sendo que, toda economia dispõe de um exército industrial de reserva, ou seja, trabalhadores desempregados, que paulatinamente vão sendo empregados, de acordo com o avanço da acumulação de capital, até o ponto em que este exército se esgota. Portanto, os trabalhadores podem barganhar os salários fazendo com que a acumulação pare, logo gerando crise e, por conseguinte, levando ao aprimoramento da tecnologia, ou seja, da acumulação intensiva (Marx, 1996).

Após a acumulação, surge a concentração do capital como consequência daquela. Esta cristaliza-se em um processo de concentração de certa quantidade de meios de produção e de força de trabalho. Este processo de concentração se deve, cada vez mais, ao incremento da maquinaria nos processos produtivos. Na sequência, surge o processo de centralização de capital, onde um capitalista expropria o outro, ou seja, as forças de mercado agem, deixando vigorar apenas os mais fortes. Este último processo é bastante característico da associação de capitais

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produtivos com capitais bancários, muito comum nas bolsas de valores, através de incorporações e fusões.

Posto assim, os três processos se dão de forma sequencial. Ocorrendo primeiramente a acumulação de capital através da elevação da capacidade técnica-produtiva das firmas. Logo após vem a concentração destes capitais acumulados nas mãos dos capitalistas que foram capazes de realizar a acumulação. Por último, e não menos importante, a centralização do capital conduz a economia ao monopólio ou oligopólio.

Descrito o processo capitalista, Marx busca compreender onde o proletariado se encaixa nesta realidade. O primeiro estágio seria sua exploração durante a acumulação, onde deve competir com a maquinaria, o que força cada vez mais a elevação de sua capacidade produtiva, ao mesmo tempo em que os seus salários declinam. Ao ocorrer à concentração, o capitalista se vê com maior poder sobre o proletário, visto que já possui tanto capital quanto tecnologia suficiente para reduzir seus trabalhadores, colocando-se então em posição de não dependência destes. Situação que aumenta conforme também aumenta a concentração do capital nas mãos do empresário. Quando vem a centralização, então o trabalhador já não tem alternativa a não ser sujeitar-se ao nível de salário determinado pelo capitalista, visto que ele precisa sustentar-se, enquanto o capitalista não necessita de toda a mão de obra disponibilizada pelo exército industrial de reserva (Fusfeld, 2001).

Nesse movimento, o capitalismo se desenvolve, levando ao surgimento de novos produtos e tecnologias. Há maior crescimento, em detrimento da crescente depreciação do bem-estar do proletariado, que em sua maioria não alcança estes benefícios trazidos pelo capitalismo. Nos primórdios do desenvolvimento capitalista, ocorreria à luta das pessoas contra a natureza, que cessaria quando atingíssemos níveis de abundância para que todos vivessem bem, podendo exercer igualdade e liberdade. No entanto, o capitalismo vive de progresso, logo não pararia neste estágio, pois os avanços seriam inviáveis. Então após ocorrer à luta dos homens com a natureza, se daria a luta entre os homens, o que se configura nas lutas de classes, segundo Marx.

Enquanto isso o pensamento schumpeteriano estuda a relação entre ciclos econômicos com os ciclos de inovação institucional e tecnológica realizado pelas empresas e sua difusão pela economia. Nesse sentido, tem-se que o desenvolvimento econômico é o processo pelo qual o sistema econômico passa por

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mudanças na sua estrutura produtiva, deslocando-se de um estado de equilíbrio para outro, caracterizando-se um ciclo econômico. Para explicar este fenômeno Schumpeter elenca três fatores determinantes no processo: as inovações, o crédito e a ação do agente inovador (as atitudes do empresário). Desta forma, ele define que é impossível explicar mudanças econômicas apenas a partir de elementos econômicos prévios, pois estas mudanças derivam ainda de elementos fundamentais e não econômicos. Sendo assim, o autor definiu quatro fases para um ciclo econômico: “boom”, recessão, depressão e a recuperação (Schumpeter, 1982).

Nesse contexto, Schumpeter chama o agente inovador de “empresário”, fazendo distinção ao capitalista, onde o primeiro é necessariamente capitalista e o segundo não necessariamente um empresário. Na visão schumpeteriana, o empresário busca mais do que o simples e puro lucro. Ele é motivado por fatores não econômicos, como a formação do seu próprio império. Desejando provar para si mesmo o que é capaz de fazer, busca o sucesso apenas pelo sucesso. Instiga e exercita a sua engenhosidade, tendo uma satisfação pessoal em criar e realizar feitos. Assim, o “empresário” rompe com o “fluxo circular”, ou seja, há uma destruição criadora, acabando por promover o avanço no processo de desenvolvimento.

No que tange a inovação, o autor referencia ser esta o que faz as coisas tornarem-se diferentes no campo da vida econômica. Para tal processo, o agente inovador se faz fundamental para que a mesma se viabilize.

Por último, e não menos importante, tem-se o capital, ou o também denominado crédito. Este é configurado em uma reserva monetária que permite ao “empresário” alocar recursos de uma área para outra, com o fim de viabilizar as inovações, não sendo necessariamente seu próprio capital, mas sim de terceiros que por distintos motivos decidiram poupar. Capital este que, através de um agente financeiro, chegará às mãos dos agentes inovadores.

Posto assim, quando os agentes inovadores percebem possibilidades de inovar, dirigem-se aos agentes financeiros, ou bancos, solicitando crédito para assim realizarem suas inovações. Não tarda para os demais empresários seguirem no mesmo sentido destes primeiros inovadores, rompendo então o fluxo circular da economia, ou como Schumpeter define, ocorre uma “destruição criadora”, quando os empresários que não inovaram têm de se adaptar às novas imposições do mercado, ou então retirar-se deste. Assim se inicia o movimento de novas combinações dos

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meios produtivos, educando ou estimulando os consumidores a provar novos produtos ou mercados, gerando um processo de desenvolvimento econômico proveniente não apenas de fatores estritamente econômicos (Schumpeter, 1982).

Em uma lógica de mercado, a teoria de Schumpeter encaixa-se de forma direta com o crescimento e a evolução, tanto do mercado propriamente dito quanto na ótica do produto. Ao passo que certo mercado possui um agente inovador, ele irá conduzir o mercado para uma mudança de perspectiva, ou melhor, ele irá inovar, elevando então o nível de competitividade mercadológica e/ou dos produtos. Assim, Schumpeter se torna um dos autores mais relevantes acerca dos ciclos econômicos, relatando de forma bastante clara e concisa como estes se cristalizam.

Enfim, no estudo mais específico sobre os ciclos econômicos, divididos por períodos, encontramos os Ciclos de Kitchin, direcionados aos EUA, identificando um ciclo de estoques de 3 a 5 anos, considerado de curto prazo; seguido por Ciclos de Julgar, analisado no Reino Unido, com duração de 7 à 10 anos; e o Ciclo de Kuznets, também conhecido como ciclo de construção e transporte, tendo seu período de análise entre 15 e 20 anos. Mas nessa área a fundamental contribuição veio do economista russo Nikolai Kondratiev, que passa a discorrer sobre ideias de ondas longas de conjuntura, lançando a hipótese da existência de ciclos longos (40 a 60 anos) na dinâmica do capitalismo mundial, com base na análise de séries cronológicas de preços no atacado, de 1790 a 1920, nos Estados Unidos e no Reino Unido. Seu estudo é relacionado a mudanças tecnológicas. A duração e o tempo de maturação dos equipamentos de capital é que explicariam a duração dos ciclos econômicos, visto que os investimentos vêm em ondas. Assim, Kondratiev buscou computar os ciclos de longo prazo, destacando suas características cíclicas. A teoria apresenta duas fases distintas: uma fase ascendente e uma fase descendente, sendo que essas flutuações de longo prazo seriam características da economia capitalista (Pereira, 1986).

Por sua vez, para se compreender melhor a visão da Escola Austríaca com relação ao problema dos ciclos de negócios, deve-se inicialmente contrastá-la com as posições dos keynesianos e dos monetaristas. Inicialmente, tanto uns quanto outros admitem implicitamente que o setor real da economia está permanentemente em algum tipo de equilíbrio de longo prazo, em que a política monetária afeta apenas o "nível geral de preços" e o produto nominal (ou o produto real), sem

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qualquer efeito sobre a estrutura de produção e a composição do produto real (IORIO, 1997).

A ideia central é que o dinheiro novo entra em um ponto específico do sistema econômico e, sendo assim, ele é gasto em certos bens e serviços específicos, até que, gradualmente, vai-se espalhando por todo o sistema, assim como um objeto qualquer, ao ser atirado na superfície de um lago, forma círculos concêntricos com diâmetros progressivamente maiores (Mises, 1989). Ou como quando se derrama mel no centro de um pires e ele vai se espalhando a partir do montículo que se forma no ponto em que está sendo derramado (Hayek, 1986). Por isso, alguns gastos e preços mudam antes e outros mudam depois e, enquanto a mudança monetária — uma expansão do crédito, por exemplo — for mantida, essa sincronia de gastos e preços persiste em movimento.

Assim, as alterações provocadas nos preços relativos produzem mudanças na alocação de recursos. Quando ocorre uma expansão do crédito bancário, supondo que as expectativas quanto à inflação futura não existam, as taxas de juros, inicialmente, caem, mantendo-se abaixo dos níveis que alcançariam se o crédito não tivesse aumentado. O efeito disso é que, necessariamente, os padrões de gastos sofrerão alterações: os gastos de investimentos subirão relativamente aos gastos de consumo corrente e às poupanças. Portanto, a expansão monetária, necessariamente, provoca uma descoordenação entre os planos de poupança e de investimento do setor privado. Esse impacto descoordenador da política monetária é essencial na visão hayekiana.

Hayek, porém, vai mais longe. Ele estabelece em pormenores as alterações que a expansão creditícia provoca nos padrões de gastos e de produção. Na abordagem hayekiana, a produção é vista como uma série de "estágios", que começam na produção de bens exclusivamente de consumo final (ou de "primeira ordem") e vão até estágios de "ordens" mais elevadas, isto é, sistemática e sucessivamente afastados da produção de bens de consumo. Isto significa que a produção consiste em uma série de processos interligados, em que bens de capital caracterizados pela heterogeneidade são combinados em diversas proporções, juntamente com a terra e o trabalho.

Tanto os bens de capital quanto o trabalho (e, de certa forma, a terra), são específicos a determinados estágios de produção e possuem as características de heterogeneidade e complementaridade. Adicionalmente, os

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investimentos devem realizar-se em uma estrutura de produção integrada, isto é, em uma série dependente e interligada de investimentos complementares.

A política monetária, ao alterar os preços relativos, modifica os sinais emitidos pelos preços. No caso de uma expansão monetária, estes sinais apontam para a redução dos lucros das empresas que produzem para consumo corrente e para o aumento dos lucros da produção de bens para consumo futuro. Alteram-se, portanto, as taxas de retorno sobre as várias combinações de capital. Os retornos nos estágios de produção mais próximos do consumo caem, enquanto crescem os retornos nos estágios de produção mais afastados do consumo; recursos não específicos deslocam-se dos primeiros para os segundos; vai diminuindo a produção de bens de consumo, ao mesmo tempo em que os padrões de produção de bens de capital vão sofrendo alterações, passando-se a produzir bens que se adaptem a estruturas de produção que abarquem mais estágios do que anteriormente. Observemos que, para que esses investimentos se completem até o estágio dos bens de consumo final, mais recursos deverão ser subtraídos do consumo, o que significa que a produção de bens de ordens mais baixas deverá manter-se em queda, até que a nova estrutura de produção se complete (IORIO, 1997).

O processo descrito é auto-reversível: na medida em que as rendas dos titulares dos fatores de produção aumentam (em decorrência da expansão monetária), cresce a demanda por bens de consumo, o que faz com que os preços desses bens, relativamente aos preços dos bens mais afastados do consumo, aumentem. Reverte-se, desta forma, o processo: caem os retornos nos estágios mais afastados do consumo final, enquanto sobem os retornos nos estágios mais próximos do consumo final; recursos não específicos fazem o caminho de volta; os bens de capital, que haviam sido dimensionados para a estrutura de produção anterior, têm agora que ser redimensionados para uma estrutura menos intensiva em capital; surgirão perdas e desemprego, que serão mais fortes nos setores que anteriormente haviam se expandido mais e que, agora, se defrontam com superproduções (IORIO, 1997).

As perdas e o desemprego gerados nada mais são do que a contrapartida das alocações perversas de recursos geradas pela expansão monetária. Em linguagem direta, expansão monetária e recessão seriam inseparáveis.

A economia capitalista é cíclica, ou seja, é formada por períodos de expansão e contração. Estes dois momentos são marcados por variações no emprego, na

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renda e na produção de bens e serviços, logo estas flutuações sucessivas são conhecidas como ciclos econômicos. Durante o ciclo econômico há as fases de depressão, recessão, recuperação e estagnação, sendo que a crise econômica ocorre em algum momento da depressão, podendo surgir a partir de algum setor da economia que acaba por afetar os demais, ou ainda poderá ser uma crise setorial. Já no caso de uma crise financeira, onde o primeiro setor a acusar o golpe é o financeiro, todos os campos da economia serão gradativamente atingidos, visto que estão ligados à origem da crise, em grande parte dos casos sendo financiados por este primeiro. Neste sentido pode-se caracterizar a crise iniciada em 2007/08 como uma crise financeira, que acabou por atingir setores da economia real que vinham sendo largamente financiados pelo setor financeiro, onde a crise manifestou-se primeiro. Na verdade há controvérsias sobre a origem da crise. Alguns analistas consideram que a mesma está no setor imobiliário, posteriormente atingindo o financeiro. Outros defendem que ocorreu o inverso. Entretanto, parece ser consenso de que a mesma foi alimentada pela exagerada desregulamentação do mercado financeiro.

Desta forma, realizou-se uma análise com uma perspectiva neoliberal, utilizando-se de critérios como o emprego e a renda. Salientando que a teoria que melhor explica as crises econômicas é a relatada por Kondratiev, no entanto é frisado que esta não é uma teoria capaz de apresentar uma explicação completa totalmente explicativa acerca deste assunto.

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2 – A CRISE ECONÔMICA DE 2007/08 E SEUS REFLEXOS NO MUNDO

A partir da forte desregulamentação do mercado financeiro, ocorre uma profunda crise de confiança nos EUA decorrente de uma cadeia de empréstimos, originalmente imobiliários, apoiada pelo governo local. A mesma acabou baseada em devedores insolventes que levou bancos e outras empresas financeiras à situação de falência mesmo sendo elas inicialmente solventes. Entretanto, dada à reação pronta e geralmente competente dos governos de todos os países, que compreenderam a gravidade do problema e pouco hesitaram em tomar medidas para aumentar a solvência e garantir a liquidez dos mercados, a crise, apesar de aguda, passou a ser administrada (PEREIRA, 2009).

2.1 – Aspectos da gênese e do desenvolvimento da crise

Sabe-se que é uma crise bancária que ocorre no centro do capitalismo. Não é uma crise de balanço de pagamentos, comum entre os países em desenvolvimento, que tentaram até os anos 1990 crescer com poupança externa, ou seja, com déficit em conta corrente e endividamento externo. Os grandes déficits em conta corrente que marcaram a economia estadunidense naquela década, combinados com grandes déficits públicos, não são, porém, estranhos à crise bancária. A falta de confiança não é apenas nos bancos e no mercado, é também na economia dos EUA como um todo, gravemente enfraquecida por essas políticas (PEREIRA, 2009). Além disso, a crise poderia ter sido evitada não fosse à pesada desregulamentação dos empréstimos, para tomadores que não possuíam condições de pagar, ou não teriam a partir do momento em que as taxas de juros passassem a se elevar. Não obstante os títulos hipotecários passaram a ser securitizados, através das cestas formadas com estes e revendidas no mercado financeiro, com o “aval” das agências de risco que lhes atribuíam a nota máxima (AAA). Quanto à desregulamentação dos mercados, há uma vasta discussão de escolas do pensamento, onde a pauta é se foram os mercados desregulados que acabaram por causar as circunstâncias da crise, ou a causa foi a errônea intervenção estatal.

Por trás da crise sistêmica iniciada em 2007/08, e que persiste no final de 2014, há dois conjuntos de fatores explicativos. O primeiro, de natureza conjuntural, envolve a política monetária estadunidense, que elevou a taxa básica de juros de 1,00% para 5,25% a.a. entre o segundo trimestre de 2004 e o segundo de 2007.

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Embora isto não tenha gerado uma forte recessão nos EUA – o crescimento real do PIB caiu apenas de 4,2% nos 12 meses anteriores (terceiro trimestre de 2003 ao segundo de 2004) para a média anual de 3,5% no período de juros crescentes – certamente dificultou o refinanciamento de dívidas longas (caso típico do crédito imobiliário). Contribuiu também para a crise a demora do governo em reconhecer a gravidade do problema, por falha de interpretação ou da supervisão bancária. O fato é que, durante boa parte da crise, o Banco Central dos EUA (FED)mostrou-se mais preocupado com a inflação (que requer juros mais altos) que com a deflação de ativos (que exigia um corte rápido nos juros). Mas a política monetária foi mais um elemento propagador do que, propriamente, causador da crise, já que no crédito

subprime (às famílias de renda baixa e sem comprovação e garantias), pivô da crise,

os contratos já previam aumentos dos juros após alguns anos. Outro fator conjuntural que atuou decisivamente na formação da crise foi o excesso de “otimismo espontâneo”, que levou a flagrantes erros de avaliação de riscos por parte dos bancos credores, dos devedores e dos que compraram derivativos destes créditos (HERMANN, 2009).

Posto desta forma, a análise se inicia pela construção de uma política monetária discricionária expansionista, o movimento de elevação da base monetária, ou então o aumento da oferta de saldos monetários reais, que implica em uma menor demanda de moeda por parte dos agentes econômicos, que se refugiam em títulos. Logo, se a demanda por títulos se eleva, o preço destes também se eleva. No entanto, a taxa de juros paga na aquisição destes irá se reduzir, visto que há maior demanda por eles, reduzindo a remuneração (BACHA; LIMA; 2006). Refazendo então a lógica do FED durante a década de 1990, pode-se perceber que há uma expansão da base monetária dos EUA na média de 10% ao ano, buscando um elevado crescimento econômico, que de fato se concretizou até meados de 1999 (FERRAZ, 2009). É quando o então presidente do FED, Alan Greenspan, toma a decisão de elevar a taxa de juros dos EUA, com o intuito de desaquecer a atividade produtiva, outrora impulsionada pela expansão da base monetária. Ou seja, embora haja moeda em abundância na economia, o FED procurou reduzir a sua circulação através do aumento nas taxas de juros. Em outras palavras, impedir os agentes de consumir. Neste caso há uma defasagem de tempo e medida para o efeito da taxa de juros sobre a quantidade de moeda. Logo, os efeitos não foram os aguardados pelo FED (FERRAZ, 2009).

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Com tanto dinheiro disponível na economia, dois setores em especial foram estimulados: o imobiliário e o de tecnologia. Paralelamente, por volta de 2001, ocorre um fato novo que iria expor a fragilidade das políticas adotadas pelo FED, a bolha das empresas “pontocom”, onde cerca de 600 empresas faliram. Diante de um cenário com elevação nas taxas de juros, somado a crise das empresas da Nasdaq (bolsa de tecnologia de Nova York), o estado de retração econômica é refletido nos demais setores produtivos (GALL, 2009).

Diante deste cenário, para fomentar um novo momento de crescimento da economia dos Estados Unidos, o Banco Central deste país opta por reduzir a taxa de juros, através de novas injeções de dólares em sua economia, aliada a uma forte política voltada para o setor imobiliário. Com crédito de baixo custo e de fácil acesso, a jusante um mercado imobiliário pujante, os bancos deste país concedem créditos hipotecários em uma proporção jamais vista (ROQUE, 2013). No entanto, com as políticas de reservas bancárias estas instituições deveriam possuir um limitador do multiplicador de moeda, não fosse à desregulamentada e relaxada política de concessão de empréstimos imobiliários, fortalecendo o mercado imobiliário como um espaço especulativo, visto que o custo do crédito era inferior à valorização dos imóveis. Porém, este fenômeno não dura eternamente. Por volta de 2006 o FED para de realizar as injeções de dólares na economia, que por consequência vê as taxas de juros se elevarem.

Ao passo que a liquidez de uma economia se eleva, mais saldos monetários reais são destinados às vias especulativas, visto que há mais dinheiro para tal. Este processo acaba por gerar uma dinâmica inflacionária, pois a grande soma e concentração de capital se dão nas instituições financeiras, que por sua vez destinam estas riquezas aos setores que julgarem mais rentáveis.

É inevitável, porém, reconhecer a presença de um fator estrutural na raiz dos eventos recentes: o novo modelo de regulamentação financeira (ou a falta dela), que já havia mostrado seus efeitos devastadores para as economias emergentes, no episódio da crise asiática, e agora mostra sua cara também aos mercados norte-americanos e europeus, que o venderam para o resto do mundo como panaceia. Até a crise asiática, os defensores do modelo – cujo maior entusiasta era o FMI – atribuíam o problema ao que consideravam ser limitações típicas dos países em desenvolvimento: a fragilidade dos fundamentos macroeconômicos e da supervisão bancária. A crise teria sido, então, detonada por um surto de sabedoria dos

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investidores estrangeiros que, percebendo o perigo, desencadearam um “corretivo” movimento de fuga de capital, forçando os emergentes a ajustarem suas políticas macroeconômicas, de modo a reduzir o crescimento, acumular reservas internacionais e manter equilíbrio fiscal e baixa inflação (HERMANN, 2009).

Além da exclusão do balanço dos bancos, a camuflagem de ativos de risco foi ampliada por novos instrumentos financeiros não contemplados pela regulação, como a securitização. Este instrumento nada mais é do que uma prática que agrupa/empacota vários ativos financeiros, em sua maioria de crédito e financiamento, para negociá-los no mercado financeiro. Por meio da securitização, títulos de risco são empacotados com títulos seguros e vendidos, o que dificulta ou impossibilita a mensuração do risco destes papéis para outras instituições financeiras. Estes instrumentos permitiram, em um primeiro momento, que gestores e investidores tivessem um maior retorno com maior risco (PELLEGRINI, 2011).

Há ainda um forte agravante para a construção da bolha imobiliária nos Estados Unidos (EUA). Duas empresas, Fannie Mae e Freddie Mac, usufruíam de privilégios governamentais para que fomentasse o mercado imobiliário. Em outras palavras, elas não concediam empréstimos hipotecários, mas sim compravam estes empréstimos dos bancos concessores, dando então liquidez a este mercado. Ao passo que os bancos vendiam estes títulos de dívida, automaticamente possuíam um crédito a receber. Além disso, poderiam elevar o número de concessão de empréstimos já que não mais possuíam em suas carteiras os empréstimos que repassaram a Fannie e a Freddie (FERRAZ, 2009).

Outra explicação para a crise é dada por Pellegrini (2001). Para ele a crise foi produto de uma tentativa fracassada de regulação do mercado financeiro internacional, conhecida como Acordo de Basileia. Criada em 1988, para impor regras aos mercados financeiros de forma homogênea e global, a norma focou seus esforços sobre o risco de crédito e submeteu os bancos às suas diretrizes. Em outras palavras, a Basileia serviu para medir o nível de risco dos bancos, numa tentativa de controlar suas atividades, para que eles não emitissem muita moeda por intermédio do crédito, o que poderia gerar uma crise, caso houvesse inadimplência. Em consequência, criou-se a tendência de os bancos manterem no balanço (demonstração da situação financeira que a empresa se encontra) apenas os ativos (bens que podem trazer benefícios futuros) que a classificação interna de risco das instituições financeiras considerava pouco arriscados em relação ao que

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a Basileia definiu. Os títulos e ativos bancários considerados muito arriscados eram deslocados para fora do balanço das instituições.

Pelo sim ou pelo não, o fato é que, da forma como se desenhava, o processo deixava claro que não era algo sustentável. No entanto, a situação agravou-se quando a Fannie Mae e a Freddie Mac perceberam que poderiam lucrar ainda mais se montassem uma cesta de ativos de créditos hipotecários (os quais haviam sido comprados dos bancos), ou então títulos lastreados em hipoteca e os revendessem no mercado financeiro. Porém, os compradores foram justamente os bancos concessores destes créditos hipotecários, criando então uma “bola de neve”. Estaria tudo bem se os devedores destas hipotecas fossem bons pagadores (prime). No entanto, muitos não o eram. Na verdade, eram sim especuladores de alto risco ou indivíduos com mau histórico de pagadores (subprime) que, beneficiados pela alta liquidez da economia dos EUA, puderam acessar esta via. Lembrando que em economias de alta liquidez, a inflação desenvolve-se nos setores especulativos, pois se busca ganhos sem produção através do capital excedente (FILHO, 2013).

Até então estes ativos vendidos pela Fannie e pela Freddie eram bem aceitos no mundo todo, visto que as três grandes agências de classificação de risco, Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s classificavam estes papéis com a nota máxima (AAA).Assim, garantiam ao mercado financeiro a idoneidade e segurança destes papéis (ROQUE, 2013). Lembrando que estas agências são fiscalizadas pelo mesmo órgão que concedeu as benesses ao Fannie e ao Freddie.

Com a elevação das taxas de juros e a crescente oferta de imóveis, estes começam a se desvalorizar já em final de 2006. Quando as taxas de juros passaram a superar a valorização dos imóveis, os agentes passaram a perceber que não mais poderiam especular neste mercado, culminando então com os primeiros calotes. Com este cenário, os empréstimos não auferiam lucros, logo os títulos lastreados nestes não valiam mais nem um dólar. Como os bancos sofreram o calote e ainda não recebiam o que investiram em “papéis podres”, para que não houvesse corrida do público aos bancos, o Governo dos EUA passou a intermediar a incorporação de um banco por outro, para além de fornecer enormes pacotes de ajuda financeira às instituições, em especial a Fannie e o Freddie (GALL, 2009).

Os Estados Unidos são a maior economia do mundo, além de sua moeda, o dólar, ser considerada uma moeda internacional, ou seja, a grande maioria das transações financeiras mundiais é realizada através desta divisa. Sendo assim, com

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a fragilização da economia deste país, os demais serão afetados, em especial aqueles países que se tornaram credores da dívida dos EUA quando o FED passou a emitir títulos para captar dinheiro com a finalidade de injetá-lo em sua economia doméstica. Juntamente com a desconfiança no que concerne a segurança da moeda estadunidense, há a recessão interna, que acaba por afetar as empresas americanas, muitas das quais com negócios em outros países, como é o caso do Brasil, grande receptor de multinacionais dos EUA. Com este arrocho interno, o governo dos EUA se vê obrigado a reduzir as taxas de juros para tornar sua economia mais dinâmica, buscando expandir a atividade produtiva, que estava retraindo-se diante da situação (FERRAZ, 2009).

Sendo assim, a forte desregulamentação dos mercados, iniciada por motivações políticas, onde o governo estadunidense concedia benesses a determinadas companhias hipotecárias e bancos, com a finalidade de impulsionar setores da economia por ele elegidos, tais como o imobiliário, também esteve na origem da crise. Isso porque a mesma possibilitou que os bancos concedessem empréstimos para maus pagadores, em função das baixas taxas de juros do mercado, sustentadas com a alta liquidez da economia estadunidense. Não obstante, os bancos possuíam ainda a possibilidade de revender as hipotecas por eles concedidas, tudo com o aval e o subsídio do governo dos Estados Unidos. Isso que se cristalizou nos títulos podres, sendo estes avalizados pelas agências de risco, as quais são supervisionadas pelo mesmo órgão governamental que concedeu tal afrouxamento regulatório a estes bancos e companhias hipotecárias.

Os reflexos de uma crise financeira mundial tardam, mas acabam por alcançar todos os países do globo, alguns em maior outros em menor proporção, mas todos serão atingidos por ela. Afinal de contas, em uma economia globalizada como é a atual não há como isolar-se do mundo. Desta forma, a crise econômica de 2007/08 atingiu tanto países desenvolvidos quanto os emergentes, diferindo estes entre si apenas na reação de cada um à crise, bem como nos reflexos desta nos mesmos.

A forma como a crise econômica se desenvolve e propagou pelo mundo foi através do comércio, das taxas de câmbio e do mercado financeiro. Sendo este último desdobrado entre o crédito, mercado de capitais, remessas e o setor bancário como fontes transmissoras dos impactos de uma economia a outra. Ainda havendo os impactos diretos e os indiretos gerados pelo setor bancário, conforme a figura a

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seguir. Dentre os impactos diretos é possível citar o resgate das instituições financeiras por parte dos governos, já nos indiretos pode-se trazer o recuo de setores da economia real, que eram até então financiados pelo setor financeiro.

Figura 1 – Organograma da forma de transmissão da crise.

Fonte: FMI.

Conforme citado acima a crise econômica inicia-se no setor financeiro dos estados unidos, alastrando-se pelo mundo ao passo que os grandes bancos deste país são afetados. Então o governo norte-americano apresenta pacotes financeiros para socorrer os bancos afetados, visto que a quebra de um grande banco atingiria toda a economia do país, para tal são emitidos títulos da dívida pública americana.

Canais de

transmissão

Mercados

financeiros

Crédito

Mercados

de capital

Remessas

Setor

bancário

Impacto

direto

Impacto

indireto

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Desta forma, além dos bancos, o governo entra na reação em cadeia gerada por esta crise, que por consequência abarcou os investidores externos, tanto dos bancos, quanto da dívida pública, atingindo então os demais países. Estes apresentaram formas de impacto e reações distintas entre si, devido ao grau de proximidade com a economia estadunidense, a solidez das economias locais e a atenção dada ao problema desde o inicio deste. Fato bastante marcante, quando o então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, compara a crise que devastava países a uma “marolinha”.

2.2 – Os reflexos da crise no mundo

Após os anos de 1990 a abertura comercial intensificou-se no mundo, sob coordenação inicial do GATT (Acordo Geral de Comércio e Tarifas), posteriormente (1995) denominado Organização Mundial do Comércio (OMC). Assim, os países do globo passaram a abrir suas fronteiras, tanto para o comércio quanto para a internacionalização do capital, com instalação de parques industriais de multinacionais dentro dos seus territórios. Aliado a este fator, blocos econômicos passaram a ser criados, ou então fortalecidos, o que fez elevar a relação entre os países do globo, não deixando nenhum completamente isolado dos efeitos ocorridos nos demais, em especial o que ocorria nas grandes economias mundiais, tais como os Estados Unidos, China e União Europeia (BRUM, 1997).

A integração comercial e financeira global fortaleceu a classe capitalista em relação ao proletariado em cada país ao permitir às transnacionais deslocar suas empresas para países em que o custo da mão de obra é menor. A crise atingiu os emergentes pela fuga das divisas fortes, extinção do crédito externo e queda das exportações, das inversões estrangeiras e das remessas dos emigrados. A crise se generaliza com as demissões em massa, a difusão do pânico que faz o crédito encolher, derrubando as vendas de bens de maior valor e os investimentos. Os governos do Primeiro Mundo trataram de resgatar os seus bancos falidos, comprando parte do seu capital ou sua totalidade com recursos do Tesouro (SINGER, 2009).

Conforme já visto anteriormente, a crise econômica se inicia nos Estados Unidos. Desta forma os países mais atingidos pelo mundo foram os que apresentavam relações comerciais e financeiras mais estreitas com esse país. Não

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esquecendo que grandes bancos e conglomerados financeiros europeus possuíam participação em instituições financeiras americanas, detinham ativos destes, ou mesmo do próprio governo dos Estados Unidos. Sendo assim, ao passo que os governos dos estados europeus e as instituições participantes destes sistemas financeiros foram afetados, atingindo os demais países que possuíam boas relações econômicas com os países europeus afetados, gerando um efeito cascata.

Conforme descrito acima, a crise econômica mundial proliferou-se pelo mundo através do sistema financeiro e bancário mundial. Assim, muitos resgates de bancos e instituições financeiras foram realizados por todo o globo terrestre. Além de alguns países necessitarem elevar suas dívidas para sustentar a atividade produtiva interna, visto que a economia mundial dava sinais de fraqueza e mesmo recessão. Não esquecendo que, em momentos de crise, a liquidez torna-se menor, fazendo com que as taxas de juros se elevem e, por consequência, encarecendo os empréstimos, públicos e privados. Desta maneira, muitos países pelo mundo ainda hoje pagam a conta deste alto custo de financiamento, fazendo, portanto, crescer suas dívidas públicas. Dentre os mais endividados encontram-se países pobres e ricos, desenvolvidos e emergentes.

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Figura 2 - Dívida pública por país, em percentual do PIB, em 2013.

Fonte: FMI.

A crise na Zona do Euro remonta à crise financeira mundial iniciada por volta de 2007-2008. Decorrente de movimento especulativo nos Estados Unidos da América, essa crise mundial se espalhou para as demais partes do mundo. Na Europa, ela se somou aos problemas estruturais do modelo de união monetária adotado, o que determinou o atual cenário de crise e ameaças de colapso do euro. Como afirmado anteriormente, a continuidade, e até agravamento da crise mundial na Europa se deu porque a crise financeira se somou a outras questões ligadas aos fatores estruturais da própria Zona do Euro que vinham se desenvolvendo desde a criação da união monetária em 1999 (LIMA, ESTRELA, GOMES, ETAL, 2012). A crise financeira mundial de 2007-2008 potencializou e detonou uma série de problemas estruturais existentes nas economias dos países europeus, pois, de repente, a Europa se viu diante do enorme choque assimétrico que não esperava que um dia viesse a acontecer. Para tentar restaurar confiança em seus mercados, os Estados europeus tiveram que injetar enormes quantias para garantir a liquidez, além de se verem obrigados a garantir ativos privados. A partir de 2009, as dificuldades enfrentadas pelas economias dos países periféricos altamente endividados chamou a atenção dos investidores, que não quiseram mais emprestar a juros baixos. Como o financiamento externo era a principal fonte de recursos que os países periféricos tinham para enfrentar a crise, a situação se agravou enormemente (KRUGMAN, 2009). 0 50 100 150 200 250 Áu stria Bé lgic a B ras il Can ad á Egito Zo n a Eu ro Fr an ça Al e m an h a G ré cia Ín d ia Irla n d a It ália Jap ão Mé xico H o lan d a Po lôn ia Po rtu gal Áf ric a d o Su l Es p an h a Re in o U n id o Es ta d o s U n id o s

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A atual crise da Zona do Euro é resultado da combinação de uma série de complexos fatores, acarretados pela crise econômica de 2007/08, no contexto da globalização financeira. Em primeiro lugar, o fato de que os mercados financeiros de todo o mundo – incluindo bancos, fundos de pensão, fundos soberanos, seguradoras, investidores etc. - estão amplamente interligados, de modo que um abalo em uma parte do mundo tem consequências diretas sobre todos os demais, o que encorajou a prática de concessão e tomada de empréstimos de alto risco. Em segundo lugar, a crise financeira iniciada nos EUA estourou mundialmente a partir de 2007-2008, gerando uma crise mundial de liquidez e a desaceleração da economia “real” (ou seja, da produção de bens e serviços, com a consequente geração de empregos). Em terceiro lugar, a existência de bolhas imobiliárias na própria Europa que estouraram com a crise mundial, acompanhada da existência de enormes disparidades comerciais e de competitividade entre os países da Europa que leva a enormes déficits comerciais. Tem-se ainda os problemas relacionados às políticas fiscais e à receita e gastos dos governos. Por fim, tem-se a questão da política adotada pelas nações em crise que consiste em socorrer em grande número bancos e investidores, assumindo mais dívidas ou socializando as perdas (LIMA, ESTRELA, GOMES, ETAL, 2012). Além dos fatores já citados, cabe ressaltar que, no caso dos países da União Europeia, não foi possível realizar políticas monetária, fiscal e cambial em função da moeda única utilizada pelos países pertencentes à Zona do Euro.

A crise econômica de 2007/08 acabou acarretando a denominada crise da zona do euro, onde muitos países europeus necessitaram de financiamento externo, em um momento de baixa liquidez mundial. Esta se iniciou com a bolha de especulação imobiliária, a qual transferiu para a dívida pública dos países o seu ônus, em função do resgate do sistema bancário. Desta maneira muitos países da zona do euro tiveram suas dívidas elevadas espantosamente. Não se esquecendo da ausência da utilização das políticas macroeconômicas discricionárias por parte destes países, pois estas são ministradas pelo Banco Central Europeu. Logo, muitos países precisaram recorrer a órgãos internacionais, bancos e outros governos no intuito de adquirir empréstimos capazes de sustentar as suas economias, evitando então o calote da dívida pública. Para adquirir tais empréstimos, houve duras exigências no saneamento das contas públicas, fazendo alguns países decidirem

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sair da zona do euro (ação nunca concretizada), enquanto outros apresentaram grande desemprego, conflitos entre civis e governo.

Após seis anos do inicio da crise econômica mundial de 2007/08, a zona do euro ainda trabalha para superar esta herança, tendo ainda em 2013 países com elevadas dívidas, muitas acima de 100% do PIB nacional.

Figura 3 - Dívida pública dos países europeus (em percentual do PIB, em 2013).

Fonte: FMI.

O efeito contágio da crise sobre as regiões emergentes ocorreu mediante vários canais de transmissão, que derivam das múltiplas relações de interdependência entre as economias emergentes e avançadas, envolvendo seja a conta corrente (queda dos preços das commodities e da demanda mundial e aumento das remessas de lucros pelas empresas e bancos), seja a conta financeira (menor ingresso de investimento direto, saída dos investimentos de portfólio, interrupção das linhas de crédito comercial e forte contração dos empréstimos bancários). Os defensores da hipótese do descolamento desconsideraram não somente a existência desses vários canais, mas também uma característica comum a todas as economias emergentes, que explica o efeito contágio praticamente generalizado da crise sobre suas respectivas taxas de câmbio: a pior qualidade de suas moedas relativamente às moedas dos países desenvolvidos, que as torna mais vulneráveis aos movimentos de fuga provocados pelos investidores globais.

20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Áu stria Bé lgi ca C roá cia Chip re Finlâ n d ia Fran ça Ale m an h a G ré cia H u n gria Is lân d ia Irla n d a Itá lia Ma lta H o lan d a Po lôn ia Portu gal Sé rv ia Es lov áq u ia Es lov en ia Es p an h a Re in o U n id o

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Enquanto a inserção diferenciada das quatro principais regiões emergentes no boom do comércio e das finanças internacionais, no período 2003-07, contribui para a compreensão desses canais e, assim, dos impactos heterogêneos da crise financeira sobre suas respectivas moedas (e economias), essa característica elucida porque países com bons fundamentos macroeconômicos (incluindo elevadas reservas internacionais) não ficaram imunes a esse efeito (PRATES, BICHARA, CUNHA, 2009). Inclusive países do Leste Europeu e da Ásia apresentaram desvalorização de suas moedas neste período. Tendo como principal explicação para tal fenômeno a grande dependência de financiamento externo destas economias, muitos dos quais provenientes dos Estados Unidos e países parceiros, já atingidos neste momento. Este fator, que para determinados países se cristalizou no transmissor da crise financeira, para a China se mostrou pouco relevante.

De fato, nesse contexto de análise vale destacar o papel dos BRICs. Na prática, o mesmo representa um agrupamento de países importantes no cenário econômico e na geopolítica atual. É importante lembrar o que este significa para a economia global como um todo. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul juntos constituem aproximadamente 25% de toda a extensão de terra do planeta e acomodam 40% da população mundial. Mais de um quinto do PIB mundial vêm desses cinco países e essa proporção só tende a aumentar nos próximos anos. Na verdade, o BRICs chamou atenção do mundo não pelo que era, mas pelo claro potencial que tem para as próximas décadas. Hoje, acredita-se amplamente que a China irá passar os Estados Unidos na condição de maior economia do mundo até 2030, que o BRICs ficará tão grande quanto o G-7 até 2032 e que a Índia se tornará a segunda maior economia do mundo, depois da China, até a metade deste século (Banerjee, Vashisth, 2010).

Quanto a América Latina, a crise internacional vem atingindo a região de forma diversa em razão das grandes diferenças entre os seus países. Nações de dimensões médias e grandes e já bastante industrializadas e urbanizadas, como México, Argentina, Colômbia, Peru, Venezuela e Chile, foram alcançados pela crise de modo semelhante ao Brasil: fuga de divisas, queda das exportações e do crédito externo, contaminação pelo pânico dos bancos privados nacionais, que também cortaram o crédito e aumentaram os juros cobrados. Em consequência o mercado interno se contraiu, acarretando a baixa da produção e o aumento do desemprego (SINGER, 2009). O elevado número de pequenos países da região, sobretudo no

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