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A tradução comentada de um texto técnico-científico: a course in phonetics de Peter Ladefoged & Keith Johnson 7th ediition

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Academic year: 2021

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA TRADUÇÃO

ANTONIO SERGIO DA COSTA PINTO

A TRADUÇÃO COMENTADA DE UM TEXTO TÉCNICO-CIENTÍFICO: A

COURSE IN PHONETICS DE PETER LADEFOGED & KEITH JOHNSON

7th EDITION

FLORIANÓPOLIS

2020

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2

ANTONIO SERGIO DA COSTA PINTO

A TRADUÇÃO COMENTADA DE UM TEXTO TÉCNICO-CIENTÍFICO: A

COURSE IN PHONETICS DE PETER LADEFOGED & KEITH JOHNSON

7th EDITION

Tese submetida ao programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Título de Doutor em Estudos da Tradução. Orientador: Prof. Lincoln Paulo Fernandes Dr.

FLORIANÓPOLIS

2020

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Ficha de identificação da obra

Por meio do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,

através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Pinto, Antonio Sergio da costa

A TRADUÇÃO COMENTADA DE UM TEXTO TÉCNICO-CIENTÍFICO: A COURSE IN PHONETICS DE PETER LADEFOGED & KEITH JOHNSON 7th EDITION / Antonio Sergio da costa Pinto ; orientador, Lincoln Paulo Fernandes, 2020.

182 p.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós Graduação em Estudos da Tradução, Florianópolis, 2020.

Inclui referências.

1. Estudos da Tradução. 2. Tradução Comentada, Glossário Lexicográfico e Fonética. I. Fernandes, Lincoln Paulo. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós Graduação em Estudos da Tradução. III. Título.

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Antonio Sergio da Costa Pinto

A TRADUÇÃO COMENTADA DE UM TEXTO TÉCNICO-CIENTÍFICO: A COURSE IN

PHONETICS DE PETER LADEFOGED & KEITH JOHNSON 7th EDITION O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca examinadora

composta pelos seguintes membros:

Prof. Lincoln Paulo Fernandes, Dr. Universidade Federal de Santa Catarina

Orientador e Presidente

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Prof. José Guilherme dos Santos Fernandes, Dr.

Universidade Federal do Pará Professor convidado

_______________________________________ Profa. Viviane M., Heberle, Dra.

Universidade Federal de Santa Catarina _______________________________________

Profa. Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão, Dra. Universidade Federal de Santa Catarina

______________________________________

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de doutor em Estudos da Tradução.

____________________________________ Coordenação do Programa de Pós-Graduação

___________________________________ Prof.(a) Lincoln Paulo Fernandes, Dr.

Orientador(a)

Florianópolis 2020

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Para Rita, Natália e Nicole E também para Joaca e Eurica (in memoriam)

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6 AGRADECIMENTOS

Esta tese é resultado de levantamentos bibliográficos e pesquisas realizadas no período de 2016 a 2019, durante minhas atividades de pós-graduação no curso de Doutorado em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina, em convênio com a Universidade Federal do Pará (PPGET/DINTER). Ao longo desse período, muitos foram os que, de diferentes maneiras, contribuíram para que este projeto se concretizasse. A eles, passo a expressar a minha gratidão.

Agradeço, primeiramente, a Deus, o Grande Arquiteto do Universo.

À CAPES, pela bolsa de estudo, que muito contribuiu para minha experiência em Florianópolis em meu estágio obrigatório.

Também é fundamental enfatizar que, em minha caminhada, tive a orientação sempre atenta do Professor Doutor Lincoln Paulo Fernandes, com quem aprendi a construir uma tese que me desse prazer. A ele muito agradeço a gentileza e atenção recebidas nas sessões de estudos.

Agradeço também as indispensáveis observações críticas das professoras Dras. Viviane Heberle e Adja Barbieri Durão, por ocasião do exame de qualificação.

Quero agradecer, também, aos colegas da Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas do Instituto de Letras e Comunicação da UFPA pela liberação de minhas atividades docentes por dois anos, pelo apoio e confiança.

Aos professores do DINTER, Prof. Dr. Walter Carlos Costa, Profa. Dra. Evelyn Schuler Zea, Prof. Dr. Lincoln Paulo Fernandes, Profa. Dra. Adja Barbieri Durão, Profa. Dra. Viviane Heberle, Prof.ª Dra. Luana Ferreira de Freitas, Prof.ª Dra. Marie-Hélène C. Torres, pela valiosa contribuição. Não posso esquecer de agradecer às professoras Rosa Helena, Ciléia Meneses e Cristina Caldas, do Campus de Bragança-PA, além do Prof. Dr. José Guilherme, que tanto se empenharam para tornar esse DINTER uma realidade.

Expresso também minha gratidão à Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, e ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PPGET).

Aos colegas do DINTER, pela amizade e apoio em minha busca pelo crescimento pessoal e profissional, com especial menção ao meu colega, ex-aluno e amigo Joaquim Cancela Jr.

É necessário ainda dizer quão grato eu sou à UFPA por mais uma grande oportunidade de crescimento acadêmico e pessoal.

Gostaria, também, de agradecer à minha queridíssima colega, amiga e revisora da tese, Sônia Célia Oliveira, pela cuidadosa revisão do texto final.

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7 À minha mãe, Eurica Serrão Pinto (in memoriam), pelo seu amor e dedicação incondicionais, minha eterna gratidão.

Às minhas filhas, Natália e Nicole, pelo amor e carinho e por terem me ensinado a tradução perfeita do amor verdadeiro

À minha esposa Rita Caramês, detentora da arte de me fazer ficar com saudade mesmo quando estamos sob o mesmo teto, você tem sido muito importante na minha vida.

Aos meus compadres Jurandir/Ana, Henrique/Edmara, Naza/Zé que, na minha ausência de Belém, resolveram minhas pendências.

Por fim, a todos os que me ajudaram na realização deste trabalho, um agradecimento especial: vocês moram no meu coração.

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O tradutor não é o emissor da mensagem do texto-alvo, mas sim um produtor do texto na cultura alvo, que se apropria da intenção do emissor ou do iniciador para produzir um instrumento comunicativo para a cultura alvo, ou um documento para a cultura alvo a partir de uma comunicação da cultura- fonte.

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RESUMO

Trata esta tese da tradução comentada do inglês para o português do Brasil de um texto técnico e científico, o livro “A course in Phonetics”, de Peter Ladefoged e Keith Johnson que se encontra em sua 7ª edição. Esta pesquisa objetiva explorar a área da tradução comentada em um âmbito específico, ainda pouco pesquisado, e propor uma tradução com foco em algumas categorias de análise, a saber, Terminologia e Normatização. A tradução tem como base a teoria funcionalista de Reiss (1971) Reiss e Vermeer (2014) e (Nord, 1997) e traz um panorama sobre Ladefoged e sua obra. Em seguida, apresento a tradução de sete unidades do livro e os respectivos comentários da tradução. O trabalho está dividido em Introdução e seis Capítulos, contendo o aparato teórico, o método, os comentários da tradução, seguidos pelo sexto capítulo composto por um glossário terminográfico de termos fonéticos. A tradução do referido texto encontra-se no apêndice da tese. Um desdobramento natural do tipo de estudo aqui proposto é disponibilizar material em tradução confiável, com base nas teorias dos Estudos da Tradução, objetivando atender a uma demanda importante de leitores lusófonos que precisam de um clássico sobre fonética em língua portuguesa. Como resultado, verificou-se uma tendência de se manter os termos fonéticos-fonológicos utilizados desde a década de 1940 nas pesquisas atuais com base em uma lista de termos catalogada de acordo com o eixo temporal adotado e a frequência de uso desses termos.

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ABSTRACT

This PhD dissertation deals with the Brazilian Portuguese translation of a technical and scientific text book "A course in Phonetics" by Peter Ladefoged and Keith Johnson, which is in its 7th edition, it aims at exploring the commented translation area in a specific and not often studied research field and proposes a translation focusing on some categories of analysis, namely Terminology and Normatization. The translation is based on the study of the functionalist approach of Reiss (1971) Reiss & Vermeer (2014) and (Nord, 1997) and provides the author's overview and research. Then I present the translation of seven units of the book followed by the comments. This research is divided into 6 Chapters, introduction, the theoretical apparatus, the method, the comments of the translation, articulatory phonetics followed by a glossary of phonetic terms that compose the sixth chapter. The translation of the text is found in the appendix of the dissertation. A natural development of the type of study proposed here is to provide material reliably translated, based on the theories of Translation Studies, aiming at meeting an important necessity of Portuguese-speaking readers who need a classic on phonetics written in Portuguese. As a result, there was a tendency to maintain the phonetic-phonological terms used since the 1940s in current research based on a list of terms cataloged according to the adopted time axis and the frequency of use of these terms.

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11 FICHA DE IDENTIFICACÃO...3 TERMO DE APROVAÇÃO ………...……….……...4 DEDICATÓRIA ………..……...……….…...5 AGRADECIMENTOS………...………...…..6-7 EPÍGRAFE………..………...……….…..…...8 RESUMO ………..…………..…...….…...9 ABSTRACT……….…….….…………...10 LISTA DE FIGURAS ….……….………...………...11 LISTA DE QUADROS...13 LISTA DE TABELAS ……….…...……..…...14 LISTA DE ABREVIATURAS ……….…...…………...14 SUMÁRIO ……….….…...………...15 VOLUME 2 APÊNDICE - TRADUÇÃO DO LIVRO………...…..….……… 197

ANEXOS………...……….522

LISTA DE FIGURAS Figura I Sistema respiratório, fonatório e o articulatório...132

Figura II: Ranking dos autores mais citados nas dissertações brasileiras...141

Figura III: Boxplot...147

FIGURAS DO GLOSSÁRIO TERMINIGRÁFICO 1. Cartilagem aritenoide...158 2. Epiglote...163 3. Fricativa interdental...166 4. Vista médiossagital...168 5. Esôfago...170 6. Palatografia...171 7. Retroflexa...174 8. Cartilagem tireóide...177

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9. Traquéia...179

10. Sistema vocálico triangular...179

11. Úvula...180

12. Cordas vocais...181

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LISTA DE QUADROS

Quadro I – As três funções da linguagem...29

Quadro II –– Campo, Relações e Modo...51

Quadro III – Relação entre as variáveis de contexto, as metafunções e as realizações linguísticas...51

Quadro IV: A Estrutura de um Translation Brief ...75

Quadro V Panorama da biografia de Ladefoged. De A a L...91 A 97 Quadro VI: Perguntas para orientar decisões durante a revisão...110

Quadro VII: Questões para a decisão sobre o grau de revisão...111

Quadro VIII: As consoantes surdas e sonoras da língua inglesa...137

Quadro IX: As vogais da Língua Portuguesa segundo Câmara Jr, (1999, p. 39) ...138

Quadro X Lista tipológica de repertórios lexicográficos e terminológicos de Faulstich...152

Quadro XI: Diacríticos...162

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LISTA DE TABELAS

Tabela I: Ranking dos autores mais citados nas dissertações...141

Tabela II: Orgãos da fala ...142

Tabela IIb Pontos/modos de articulação e processos fonológicos...142

Tabela III :Proporção dos termos mais usados pelos autores no ranking...143

Tabela IV :Ranking dos termos mais usados pelos autores...144

Tabela V :Representação temporal dos termos usados pelos autores em estudo em função do ano de referência (Parâmetro)...146

ABREVIATURAS

ACIP A Course in Phonetics p. página

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 17

1. TESE E OBJETIVO GERAL ... 20

1.1 As perguntas de pesquisa ... 21

1.2 Panorama metodológico ... 22

1.3 Justificativa e relevância da pesquisa ... 22

1.4 Organização da tese... 24

2. APARATO TEÓRICO... 26

2.1 O Funcionalismo... 26

2.2 A teoria de Skopos e a noção de ação translacional e equivalência... 35

2.3 O Funcionalismo na perspectiva de Nord... 44

2.4 A Linguística Sistêmico-Funcional... 50

2.5 Tradução comentada (de um texto técnico e científico)... 53

2.6 A teoria da invisibilidade do tradutor... 59

2.7 Desenvolvendo “instruções de tradução”: Translation Brief... 70

2.8 O “Brief” desta tese... 75

2.9 Tradução técnica vs. tradução científica... 77

2.10 O ato tradutório: abordagem prospectiva e retrospectiva... 87

3. MÉTODO... 90

3.1 Panorama sobre o autor e obra... 90

3.2 O objeto de estudo... 98

3.3 O contexto da pesquisa... 99

3.4 Procedimentos metodológicos da tradução comentada... 100

3.5 Categorias de análise a serem comentadas... 102

3.6 Revisão e autorrevisão... 102 4 COMENTÁRIOS À TRADUÇÃO... 113 5 A FONÉTICA ARTICULATÓRIA... 130 5. 1 Os articuladores... 132 5. 2 As consoantes... 133 5. 2. 1 Modo de articulação... 133 5. 2. 2 Ponto de articulação... 133

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5. 2. 3 Articulações secundárias... 135

5. 2. 4 Papel das cordas vocais... 136

5. 3 As vogais... 137

5.3.1 A Classificação dos sons vocálicos ... 138

5. 3. 2 Tipos de transcrição... 138 5.3.3 O contexto brasileiro... 139 6 GLOSSÁRIO TERMINOGRÁFICO... 155 CONCLUSÕES... 184 REFERÊNCIAS... 189

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17 INTRODUÇÃO

Esta tese está inserida na área de Estudos da Tradução, mais particularmente na área de tradução comentada. Como texto-fonte1 desta pesquisa, utiliza-se o livro “A Course in Phonetics”,

de Peter Ladefoged (doravante ACIP). Foi inicialmente publicado em 1975, e decorridos quarenta e quatro anos da publicação, o livro se encontra em sua sétima edição, tendo alcançado o status de clássico da teoria fonética.

O ACIP é de um curso completo de fonética direcionado a professores, profissionais que trabalham com a articulação da fala (fonoaudiólogos, atores, locutores, entre outros) e estudantes que se interessam pelo tema. São introduzidos conceitos de produção da fala, a atuação dos articuladores ativos e passivos2 e explicados os gestos articulatórios utilizados na produção dos

diferentes fonemas. Aborda-se ainda a descrição da fala em termos acústicos e são ensinadas habilidades fonéticas práticas, incluindo transcrições com base no IPA (Alfabeto Fonético Internacional), o que oferece auxílio precioso aos patologistas da fala para o diagnóstico de desordens na articulação de sons e o planejamento de tratamento adequado aos clientes, ou ainda, que pode ajudar engenheiros no desenvolvimento de instrumentos laboratoriais de reconhecimento ou síntese de fala para utilização na fonética forense. Trata-se, pois, de material útil para atores, cantores e outros profissionais que se utilizam de suas vozes como instrumento de trabalho. É preciso notar, contudo, que, intencionalmente, o autor utiliza, sempre que possível, uma linguagem razoavelmente acessível para facilitar a compreensão por parte do leitor. Ladefoged criou uma obra-prima que continua a despertar o interesse de pesquisadores e outros interessados nos estudos fonéticos de abrangência internacional.

1 Texto Fonte (ou Texto da Língua-Fonte) (TF) é o texto (escrito ou falado) que fornece o ponto de partida para uma tradução. Exceto no caso de traduções intersemióticas e intralinguais, o texto-fonte será em uma língua diferente (língua de origem) da tradução (ou texto-alvo) que o tradutor produz a partir dele. O texto-fonte será tipicamente um texto original escrito na língua-fonte; no entanto, no caso da tradução indireta 1, ele pode ser uma tradução de outro texto em outra língua. É claro que o texto-fonte não é simplesmente uma entidade linguística, pois entra em redes de relações de natureza não apenas linguística, mas também textual e cultural. Além disso, a informação que transmite aos seus destinatários será implícita e explícita (SHUTTLEWORTH, 1997, p.158).

2 De acordo com Cristófaro-Silva, “os articuladores ativos têm a propriedade de movimentar-se [em direção ao articulador passivo] modificando a configuração do trato vocal” (1999, p. 29). Sendo assim, na produção dos sons [p] e [b], o articulador ativo é o lábio inferior e o articulador passivo é o lábio superior. Temos, portanto, oclusivas chamadas de bilabiais. Na produção dos sons [t] e [d], o articulador ativo é o ápice ou a lâmina da língua e o articulador passivo são os alvéolos. Temos, portanto, oclusivas alveolares. Finalmente, para os sons [k] e [g], o articulador ativo é a parte posterior da língua e o articulador passivo é o palato mole. Temos, assim, oclusivas chamadas de velares.

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18 Esta tese apresenta o produto da realização de um projeto-sonho: a minha tradução para o português do Brasil de ACIP. O texto, que é fruto da tradução mencionada, é seguido por reflexões a respeito do processo tradutório, dando destaque a dificuldades, incertezas e dúvidas encontradas no momento de tomadas de decisão no contexto do referido processo, apresentando propostas de solução adequadas e equilibradas, de forma que o leitor possa ter acesso a um texto fluente e livre de ambiguidades ou embaraços que tornem a leitura enfadonha ou desinteressante. É importante mencionar que o presente trabalho toma a teoria funcionalista de Nord (1997) como referência teórica e, ainda, que tem caráter inédito no Brasil: trata-se da tradução comentada de um texto técnico-científico ainda não traduzido no país, o que, de certa forma, está de acordo com o rigor do caráter científico que exige o ineditismo em teses de doutoramento.

No âmbito dos Estudos da Tradução, os trabalhos a respeito de Tradução Comentada ou

Anotada (WILLIAMS e CHESTERMAN, 2014, p.7) envolvem, em sua grande maioria, textos

trabalhados em teses e dissertações que pertencem ao gênero literário e/ou sagrado. Pouco ou quase nada tem sido feito no campo técnico-científico. Esta pesquisa propõe justamente a tradução comentada de um texto técnico-científico, qual seja, o livro de Ladefoged, ACIP. Trata-se, portanto de uma pesquisa que se ocupa de uma categoria de texto ainda pouco explorada.

Esta tradução comentada do “ACIP”, de Ladefoged, leva em consideração que todas as edições anteriores disponíveis no mercado foram escritas em inglês. Assim, o público-alvo deste trabalho inclui leitores monolíngues ou com pouca proficiência em leitura na língua inglesa. Esta pesquisa se iniciou com a escolha de uma obra consagrada pelas décadas de menções a ela. Devo esclarecer, entretanto, que esta tradução se limitará ao plano segmental (objeto de estudo da fonética articulatória), levando-se em consideração que esta categoria fonética é tradicionalmente estudada por alunos de graduação em Letras, portanto alunos em formação, público-alvo da tradução aqui proposta. Em outras palavras, o estudo da fonética acústica e das unidades que se referem a sílabas, além dos elementos suprassegmentais (a entoação, a duração, os acentos e os tons são elementos suprassegmentais) e fonética linguística serão suprimidos, já que a inclusão dessas categorias que extrapolam o nível segmental não contemplaria uma das implicações dessa tese, qual seja a de atender à necessidade mais imediata dos estudantes, já que, tradicionalmente, os estudos da fonética acústica e dos elementos suprassegmentais são trabalhados em cursos de pós-graduação. A respeito dos suprassegmentos, esclarece Ladefoged:

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As vogais e as consoantes podem ser entendidas como os segmentos dos quais a fala é composta. Juntas, elas formam as sílabas que compõem enunciados. Sobrepostos às sílabas estão outros traços conhecidos como suprassegmentos. Estes incluem variações no acento e no pitch. As variações no comprimento também são geralmente consideradas como traços suprassegmentais, embora possam afetar alguns segmentos, afetam também sílabas inteiras3 (LADEFOGED,

2014, p. 24, tradução4 e grifo nossos).

Cabe esclarecer que os professores dos cursos de graduação em Letras preferem o sistema tradicional de ensinar apenas fonética articulatória, especialmente na parte introdutória dos cursos, o que tem sido uma realidade na faculdade onde atuo: eles percebem que é possível fazê-lo simplesmente ignorando as seções de acústica dos manuais. As unidades que não serão contempladas nesta tese poderão fazer parte de futuros estudos. Priorizo sete dos onze capítulos que o autor publicou, de modo que todos os capítulos relacionados ao plano segmental sejam contemplados.

Ao disponibilizar a leitura em língua portuguesa de um clássico da fonética, a presente tese também visa à uniformização terminológica, de forma a tentar direcionar futuras traduções na área da fonética para a adoção dos termos mais utilizados em português. Para isso, o presente trabalho incluirá um glossário de termos fonéticos cujas entradas serão organizadas por ordem alfabética e as definições serão seguidas, na medida do possível, por exemplos de fenômenos fonéticos das línguas inglesa e portuguesa.

É necessário esclarecer que problemas de tradução em um texto técnico-científico são comuns, mas devem ser evitados para que o produto final não seja prejudicado. É importante que se faça uma revisão cuidadosa, com leitura minuciosa por parte do tradutor antes de sua publicação. Para Garcia (1992), esses problemas normalmente se situam em três categorias gerais: lexical (tradução de palavras isoladas, falsos cognatos, palavras compostas e de expressões), gramatical (artigos, preposições, tempos verbais, estrutura de sintagmas nominais, estrutura frasal e pontuação) e estilística (problemas que se relacionam com a atitude do tradutor, requerem profundo

3 A tradução das citações é de responsabilidade do autor desta tese.

4 No original*: (*idem para todos os trechos em língua estrangeira ilustrados em nota de rodapé) “Vowels and

consonants can be thought of as the segments of which speech is composed. Together they form the syllables that make up utterances. Super-imposed on the syllables are other features known as suprasegmentals. These include variations in stress and pitch. Variations in length are also usually considered to be suprasegmental features, although they can affect single segments as well as whole syllables”.

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20 conhecimento da língua-fonte e dependem, acima de tudo, de sensibilidade para fatores psico e sociolinguísticos.). Ainda segundo Garcia (ibid.), os problemas relacionados ao léxico abrangem a maior parte das dificuldades de um tradutor. Dentro dessa categoria, há que se redobrar a atenção.

Baker (2011, p. 10) nos alerta para a nossa compreensão da unidade “palavra” que tendemos a assumi-la como elemento básico dotado de significado, no entanto o significado pode ocorrer em unidades menores do que palavras ou, mais comumente em unidades linguísticas muito mais complexas do que palavras isoladas.

Ao considerarmos, por exemplo palavras do tipo rebuild, pode-se perceber que se trata de dois elementos distintos de significado, -re e build cuja ideia é: construir novamente. O mesmo se aplica à immortality que consegue congregar quatro morfemas para fornecer uma ideia onde i- (não) (prefixo de negação) +mort(e) (raís da palavra) +al (marca de adjetivo) como em global, dental ou natural + dade (morfema marcador de substantivo). Elementos de significado representados por várias palavras ortográficas em um idioma, como o inglês, podem ser representados por uma palavra ortográfica em outro e vice-versa. Por exemplo, tennis player é escrito na forma de uma palavra em turco: tenisçi; we love pode ser enunciado com apenas uma palavra em português (amamos); e a palavra inglesa pet é traduzida por três palavras em português: animal de estimação. Estas ocorrências sugerem que não há correspondências de um-para-um entre palavras ortográficas e elementos de significado dentro de um mesmo idioma ou em idiomas diferentes. (BAKER, 2011, p. 10). Devido a isso, redobro minha atenção nos momentos das escolhas tradutórias para que não haja discrepâncias no produto principal desta pesquisa.

1 Tese e objetivo geral

Com base em minhas leituras na área da fonética e fonologia ao longo de meu percurso acadêmico, na condição de estudante e em meus longos anos na docência, observei que não há consenso no uso de alguns termos fonéticos nos trabalhos de autores brasileiros, mais especificamente de termos que descrevem os principais articuladores da fala e alguns processos que os envolvem. Na tradição terminológica dos estudos fonético-fonológicos no Brasil verifica-se que alguns termos mais frequentes são apresentados de diferentes formas, como por exemplo, “soft

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21 palato macio ou palato mole, (como referentes à porção mais posterior da região palatal). Nesse sentido, a tese do presente estudo é que duas variáveis principais podem ter contribuído de forma mais assertiva para a falta de consistência terminológica, a saber, tempo e frequência de uso.

Assim, o objetivo geral desta pesquisa é fazer uma tradução comentada de um texto técnico e científico com vistas a tentar normatizar aspectos da consistência terminológica, sobretudo, dos termos fonéticos referentes aos principais articuladores da fala com base na frequência de uso dos autores brasileiros.

Todas as sete edições do ACIP são escritas em inglês, e seu público alvo inclui leitores que, ou não leem em inglês, ou têm pouca proficiência leitora na língua inglesa. Pretendo, portanto, 1) traduzir este texto técnico e científico; 2) comentar minhas eventuais opções de tradução com foco na terminologia; 3) discutir as dificuldades encontradas ao longo do processo tradutório; 4) disponibilizar um glossário terminográfico de termos fonéticos; e 5) formular uma base lexical como proposta de uniformização terminológica que servirá de apoio didático para os estudos de tradutores desta subárea da linguística, com base na teoria funcionalista de Nord (1997).

1.1 As perguntas de pesquisa

O presente estudo é orientado pelas seguintes perguntas de pesquisa:

 quais são os termos mais frequentemente utilizados por autores e tradutores brasileiros em fonética articulatória? De que maneira os termos mais frequentemente utilizados nesse âmbito foram traduzidos sob uma perspectiva do eixo temporal? Atualmente, quais são os termos mais utilizados?

 De que forma se pode uniformizar o uso desses termos em traduções futuras?

 Em termos de estratégias e modalidades de tradução, que dificuldades predominaram na tradução comentada?

Estas perguntas de pesquisa têm um caráter descritivo, pois tentam mostrar o que acontece na prática terminológica com vistas a entender e, também, oferecer hipóteses explanatórias que ajudem a melhor compreender o fenômeno tradutório aqui apresentado.

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1.2 Panorama metodológico

Nesta seção, apresento uma breve revisão teórica, centrada no que realmente considero importante para os objetivos e focalizando o público-alvo dessa tese: os estudantes do ensino de graduação em Letras-inglês. Em um primeiro momento, decidiu-se fazer um levantamento de referências que deram apoio teórico a pesquisas acadêmicas selecionando 27 dissertações de mestrado e 27 teses de doutorado cujos temas pertençam à subárea de fonética e fonologia, sendo duas amostras de cada unidade federativa do Brasil (uma dissertação e uma tese por estado), objetivando selecionar os linguistas/autores mais citados na área para, a partir de seus trabalhos, fazer uma lista das opções terminológicas mais utilizadas. A seguir, com base no eixo temporal e na preferência de autores brasileiros, pretende-se encontrar resposta para a pergunta: por quais motivos determinadas terminologias são adotadas em detrimento de outras (já que elas concorrem entre si)? A pesquisa situa-se no campo da Tradução Comentada e um de seus objetivos é comentar a categoria de análise, qual seja a Terminologia, e nos comentários e glossário, eventuais usos de fraseologias (sintagmas), a fim de formular uma base lexical como proposta de uniformização terminológica, discutindo a escolha de um termo em relação a outros, por exemplo "surdo" em detrimento de “desvozeado” com base nas opções cristalizadas por autores brasileiros.

1.3 Justificativa e relevância da pesquisa

Nos últimos trinta e cinco anos, a área dos Estudos da tradução tem tido um forte desenvolvimento de teorias, aprimorando conceitos e métodos de pesquisa próprios, o que tem promovido a parceria com outras áreas afins, possibilitando a criação de interfaces de pesquisas. A parceria que este trabalho propõe, além de oferecer novas perspectivas de estudo, reforça o caráter interdisciplinar dos estudos da tradução e, sobretudo, buscando solidificar seu próprio escopo: a interface tradução-fonética.

Meu interesse pelos estudos dessa produtiva área da linguística surgiu a partir de um primeiro contato com a disciplina "Fonética e Fonologia do Inglês", no quinto semestre de meus estudos de

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23 graduação em Letras–Inglês na Universidade Federal do Pará. Já atuava como professor de Inglês em cursos livres da capital paraense e, por conhecer de forma bastante razoável uma língua estrangeira (inglês), notei que havia uma demanda reprimida e crescente pelo serviço de tradução. Comecei, então, a traduzir meus primeiros trabalhos. Quer fossem remuneradas ou não, essas traduções eram ainda focadas, à época, no procedimento de tradução literal, com uma obediência importante ao texto-fonte, já que a tradução das ideias, ou seja, a “domesticação”, (pedindo permissão para me utilizar de um termo de um dos principais teóricos contemporâneos dos Estudos da Tradução, Lawrence Venuti), parecia-me um tanto intrusiva. Nas horas vagas, eu atuava em pequenas tarefas, como traduções de cartas para pessoas que tinham necessidade de se comunicar com estrangeiros anglófonos, traduções de abstracts e de letras de músicas, e, além disso, em práticas tradutórias em aulas de Inglês Instrumental, em que a pronúncia, por solicitação dos discentes, era trabalhada. A fonética e a tradução, portanto, sempre desempenharam um papel importante e caminharam de mãos dadas em meu percurso acadêmico.

Minha dissertação de mestrado, por exemplo, foi uma pesquisa sobre substituição na pronúncia de dois fonemas potencialmente produtivos da língua inglesa: substituição na pronúncia das fricativas interdentais /θ/ e /ð/ realizadas por falantes do português brasileiro (Pinto A.S.C, 2013). Dois anos mais tarde, o doutorado oferecido em uma área pela qual eu já tinha algum interesse, mesmo que empírico, deu-me a oportunidade de associar um flerte antigo com a tradução aos estudos de fonética. Na condição de tradutor em formação, alegro-me por estabelecer um casamento entre duas áreas que são aparentemente distintas, mas que, a rigor, se revelam promotoras do que se tornou um grande desafio, isto é, produzir um texto que poderá ser útil para os praticantes dos estudos da fonética, fonologia e da tradução.

Assim, esta pesquisa justifica-se também pela importância que o estudo da fonética pode ter na aquisição da segunda língua, de maneira direta, pela demanda de graduandos não proficientes em inglês, que carecem de um livro-referência dos estudos teóricos na área, traduzido para o português. Defendo a necessidade de uma versão traduzida para o português brasileiro do livro em questão justamente por considerar que se trata de um campo de estudos cuja linguagem é tradicionalmente técnico-científica, mas Ladefoged, o autor do ACIP, utiliza uma linguagem fluente, “student

friendly”, como ele mesmo a intitulou, isto é, de fácil leitura, embora permaneça sendo um texto

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24 O que se busca com esse material é oferecer ao leitor lusófono uma opção a mais de tradução especializada, que o esclareça sobre os principais aspectos envolvidos na aquisição de conhecimentos fonéticos e apresentando-lhes meios e estratégias para o aprimoramento de seu eventual fazer tradutório de um texto técnico e científico. Pretendo que o resultado deste trabalho seja útil e proveitoso, sobretudo para os estudantes de graduação dos cursos de licenciatura em língua inglesa e vernácula, mas também para os alunos do Programa de Estudos da Tradução interessados no tema em questão.

1.4 Organização da tese

Esta tese está dividida em cinco capítulos, a saber: Introdução, Aparato teórico, Método, Comentários à tradução com foco na terminologia, finalizando, com um capítulo dedicado à Fonética Articulatória e um glossário terminográficoespecífico sobre fonética articulatória.

Na Introdução, apresento o contexto de investigação, a tese e objetivo geral, as perguntas de pesquisa, o panorama metodológico, a justificativa, a relevância da pesquisa e a organização da tese. As perguntas de pesquisa serão respondidas na conclusão, depois da análise.

No capítulo 2, discuto o aparato teórico, o Funcionalismo, a Teoria de Skopos e a noção de ação translacional e equivalência, um panorama da linguística sistêmico-funcional, a tradução comentada (de um texto técnico e científico), a teoria da invisibilidade do tradutor; o desenvolvimento das "instruções de tradução”, o translation brief; o brief desta tese, a tradução técnica versus tradução científica e, finalmente, a abordagem prospectiva e retrospectiva no ato tradutório.

Dou início ao capítulo 3 com a seção que trata do método da pesquisa, o panorama sobre o autor e obra; descrevo com detalhes o objeto de estudo, o contexto da pesquisa, os procedimentos metodológicos da tradução comentada, as categorias de análise a serem comentadas e a revisão e autorrevisão.

No capítulo 4 são apresentados os comentários à tradução.

Do quinto e último capítulo fazem parte uma seção sobre a fonética articulatória e um glossário terminográfico específico que poderá, eventualmente, servir de referência para futuras traduções no que concerne à uniformização terminológica, seguido das conclusões e referências

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25 Durante o processo tradutório sempre podem surgir dúvidas, questionamentos e indecisões na busca por equivalência de termos e/ou ideias e fraseologias; para que esses eventos não permaneçam sem respostas, será realizada uma análise mais detalhada e criteriosa com base na busca de dados e termos já utilizados por teóricos da fonética e fonologia do português, com o objetivo de fundamentar e definir as escolhas a serem estabelecidas na tradução final. A seguir, pretendo apresentar os desafios apresentados pela tradução do texto ACIP, questionamentos, reflexões e soluções, na perspectiva de contribuir para futuros trabalhos que contemplem a interface Fonética/Fonologia e Estudos da Tradução.

Por fim, apresento as conclusões do estudo, onde tentarei dar respostas às perguntas de pesquisa, realizarei um levantamento das limitações e implicações do estudo, discutindo algumas conclusões surgidas durante a experiência de traduzir o ACIP. O apêndice será composto pela tradução das sete primeiras unidades do livro, as que lidam apenas com o segmento. Após as conclusões, o trabalho se encerra com as referências, apêndice e anexos.

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26

2 APARATO TEÓRICO 2.1 O Funcionalismo

Este estudo tem como pressuposto teórico as ideias preconizadas pelo funcionalismo, descrever as principais características desta corrente teórica, cujos principais representantes são Katharina Reiss e seu trabalho intitulado functionalist translation criticismo, Hans J. Vermeer e sua teoria de skopos Skopostheorie e suas extensões, a teoria da ação translacional de Justa Holz-Mänttäri theory of translational action, e porúltimo, mas não menos importante Christiane Nord, professora de tradução e tradutora juramentada, que combina a prática com um extenso trabalho acadêmico, mundialmente reconhecido, em teoria e metodologia da tradução, didática da tradução, estilística comparativa e análise do discurso Espanhol-Alemão .

Segundo Nord (1997), o Funcionalismo é um termo amplo para várias teorias que abordam a tradução dessa maneira, embora a teoria de skopos “Skopostheorie” tenha desempenhado um papel importante no desenvolvimento do funcionalismo; vários estudiosos apostaram no funcionalismo e se inspiram na teoria de skopos sem se chamarem de "skopistas". O funcionalismo é considerado, portanto, como uma abordagem ampla, tentando distinguir suas partes sempre que possível e necessário (NORD, 2018, p. 1).

No prefácio do livro Translation Theories Explored, Nord (1997) Georges Bastin apresenta o funcionalismo com o seguinte argumento:

“Os primeiros anos dos estudos de tradução foram caracterizados por uma abordagem linguística de transferência interlingual usando equivalência no critério, a década de 1970 trouxe a análise do discurso e a consideração dos tipos de texto. Tudo isso abriu o caminho para o surgimento do funcionalismo5”. (BASTIN in:NORD, 1997)

5If the early years of translation studies were marked by a linguistic approach of interlingual transfer using

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27 Definindo-se como uma “hardcore functionalist” (funcionalista radical), Nord publicou seu primeiro livro em alemão em 1988, traduzindo-o depois para o inglês em 1991 sob o título Text

Analysis in Translation, versão citada no presente estudo. É importante registrar que Nord teve como

referência, ao aprofundar seus estudos sobre o Funcionalismo, as ideias precursoras de Reiss e depois Vermeer.

Pretendo aqui fazer um compêndio histórico das diferentes correntes funcionalistas existentes, sem a intenção de apresentar longas reflexões. Assim, decidi disponibilizar, de forma breve, os conceitos do termo função, especialmente no que diz respeito aos Estudos da Tradução.

Deve-se, contudo, conceituar o funcionalismo de maneira cuidadosa, pois existem muitas significações atribuídas ao termo função que são associadas a diferentes áreas do conhecimento, como na antropologia, etnografia, sociologia, matemática, entre outras. Por exemplo, para os estudos da matemática, a função é uma regra que relaciona elementos de conjuntos. A arquitetura se refere à ideia de “funcional” como a utilidade de um objeto ou móvel no aproveitamento inteligente dos espaços em um projeto arquitetônico. Para a linguística, a “função” relaciona-se a uma compreensão sociocultural da língua (por exemplo, função semântica). Weininger (2000) consegue delinear um breve esclarecimento sobre a concepção do termo ao dizer que “teorias funcionalistas partem da prioridade da função comunicativa que determinadas estruturas linguísticas exercem para servir à intenção pragmática do usuário da língua e da análise de estruturas que contribuem para esta função” (p. 35, grifos nossos). Como é possível verificar, há diferentes critérios e diferentes níveis de argumentação nas várias classificações oferecidas em diferentes áreas do conhecimento no que concerne ao termo “função”. Por isso, buscarei definir neste estudo o que for relacionado ao Funcionalismo de acordo com a concepção das funções da linguagem que servem de parâmetro para o trabalho de Christiane Nord (1997).

Considerando a evolução dos estudos linguísticos, o Funcionalismo teve seu início na década de 1970 e atingiu seu ápice nos anos 1980-90, e como todo movimento novo, opunha-se às abordagens formalistas vigentes à época, como a gramática gerativa e a linguística estrutural, que

concern about the effect of translation on the reader. All of this paved the way for the emergence of functionalism(Bastin in: Nord,1997).

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28 tinham como foco a transparência nos seguintes itens: na forma, nos vocábulos da oração e suas relações, nos enunciados e no sistema de sons e signos. O Funcionalismo preconizou as situações comunicativas, como conversas telefônicas, cartas, palestras, aulas, dentre outras. Desta forma, um dos focos principais foi compreender a “competência comunicativa” dos usuários da língua (NEVES, 2004, p. 44).

É fundamental que reflitamos sobre as noções teóricas da escola funcionalista, destacando seus principais representantes. Além disso, vamos examinar o propósito comunicativo da tradução sob o ponto de vista funcionalista: a tradução deixa de ser vista como um fenômeno linguístico estático, e passa a ser considerada um ato de comunicação intercultural.

O trabalho de Reiss na década de 1970 busca construir o conceito de equivalência. No entanto, considera o texto, e não a palavra ou a sentença, como o nível no qual a comunicação é alcançada e onde a equivalência deve ser buscada. Sua abordagem funcional busca inicialmente sistematizar a avaliação de traduções. Ela toma emprestada a categorização trilateral de Karl Biihler das funções da linguagem.

Neves (2004) acrescenta que as funções da linguagem postuladas por Biihler estão hierarquicamente organizadas nos enunciados, quais sejam: a função representativa, a de exteriorização psíquica e a de apelo, havendo, assim, três elementos que protagonizam o evento comunicativo: o falante (emissor), o “algo dito” (aquilo que se fala a alguém) e o ouvinte (que é o receptor e decodificador da mensagem). Nessa atividade, acham-se as três funções, que não se excluem mutuamente; ao contrário, coexistem no mesmo evento comunicativo (NEVES, 2004, p. 27). Reiss relaciona as três funções às suas correspondentes dimensões da linguagem e aos tipos de texto ou situações comunicativas nas quais são utilizadas. Essas relações podem ser vistas na tabela abaixo (CHESTERMAN, 1989, p.189).

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29 Quadro I- Funções da linguagem

Tipo de texto Informativo Expressivo Operativo

Função da linguagem Informativa (representando objetos e fatos) Expressiva (expressando a atitude do remetente) Apelativa (fazendo um apelo ao receptor do texto Dimensão da linguagem Lógica Estética Apelativa dialógica

Foco do texto Focado no conteúdo Focado na forma Focado no apelo Texto-alvo deveria transmitir conteúdo

referencial

transmitir forma estética provocar resposta desejada

Método de tradução Prosa plana, explicitação como requerida Identificando o método adotar a perspectiva do autor do TF Adaptativa, efeito equivalente

Fonte: adaptada de Chesterman (1989), apud Munday (2001, p. 74).

Reiss (1977) sintetizou as principais características de cada tipo de texto da seguinte maneira: “1. ‘Comunicação simples de fatos’: informação, conhecimento, opiniões, etc. A dimensão da linguagem usada para transmitir a informação é lógica ou referencial, o foco principal da comunicação é o conteúdo ou 'tópico', e o tipo de texto é informativo.

2. ‘Composição criativa’: o autor usa a dimensão estética da linguagem. O autor ou ‘remetente’ está em primeiro plano, assim como a forma da mensagem, e o tipo de texto é expressivo. 3. ‘Elicitando respostas comportamentais’: o objetivo da função apelativa é apelar ou persuadir o leitor ou ‘receptor’ do texto a agir de determinada maneira. A forma da linguagem é dialógica, o foco é apelativo e Reiss se refere a esse tipo de texto como operacional.

4 textos audiomediais, estes pertencem à categoria de filmes e anúncios visuais e falados que complementam as outras três funções com imagens, música, etc” (REISS, 1977, p. 189).

Os textos audiomediais constituem o quarto tipo da classificação de Reiss, não representado na Tabela 1.

O trabalho vanguardista de Reiss é importante porque conduziu a teoria da tradução de uma visão simplista, de meras palavras na página ou de seus efeitos, para uma visão do propósito comunicativo da tradução. Seu trabalho, no entanto, já recebeu várias críticas. Uma delas deve-se ao fato de haver apenas três tipos de função da linguagem em sua abordagem. Nord, embora seja da mesma tradição funcionalista de Reiss, demonstra aceitar essa crítica por ter sentido a necessidade de acrescentar uma quarta função (função fática), que abrange a linguagem que estabelece contato

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30 entre as partes envolvidas na comunicação (NORD, 1997, p. 40). Um exemplo simples seria uma saudação como “Senhoras e senhores”, que é usada para sinalizar o início de um discurso formal.

Há questionamentos e dúvidas sobre como os métodos de tradução propostos por Reiss devem ser aplicados a textos específicos. Textos comerciais e financeiros em inglês, por exemplo, contêm um grande número de metáforas simples e complexas, algumas delas podem ter uma tradução fixa e razoavelmente correspondente em outras línguas, outras mais complexas, não. Da mesma forma, a tradução de textos de negócios para o inglês exige mais do que apenas atenção ao valor informativo do texto-fonte, pois esse método poderia criar um texto-alvo em inglês que carece da função expressiva da linguagem (MUNDAY, 2001) p. 76)

Munday (2001) relata que no exemplo citado podemos perceber que há uma crítica importante envolvendo a teoria de Reiss: os tipos de texto podem ser de fato diferenciados? Afinal, um relatório de negócios, classificado por Reiss como um texto informativo, também pode mostrar um lado expressivo. Esse mesmo tipo de texto também pode ter várias funções na cultura de origem, como a de texto informativo, para os diretores de uma empresa, e a de ser um texto operacional, para persuadir os acionistas dessa mesma empresa. Um anúncio, embora normalmente apelativo, pode ter uma função artística, expressiva ou informativa. A coexistência de funções dentro do mesmo texto-fonte e o uso desse mesmo texto-fonte para uma variedade de propósitos são evidência da imprecisão que se encaixa desconfortavelmente nas claras divisões de Reiss. Embora haja uma função que predomine, vários tipos de linguagem podem estar presentes num mesmo texto. Pode-se concluir que o método de tradução empregado depende não somente do tipo de texto, mas também do próprio papel e propósito do tradutor, além das pressões socioculturais, que afetam o tipo de estratégia da tradução adotada (MUNDAY, 2001, p. 76).

Em The Translation Studies Reader, editado por Venuti (2012), Reiss aborda a distinção entre mudanças “intencionais” e “não-intencionais” que afetam a tradução. As mudanças não intencionais podem surgir das diferentes estruturas das línguas assim como das diferenças na competência de tradução. As mudanças intencionais frequentemente ocorrem na tradução se as metas da tradução forem diferentes daquelas do texto original.

Para Reiss (2004) o uso de duas línguas naturais, assim como a aplicação da mediação do tradutor, necessariamente e naturalmente resulta em uma mudança de mensagem durante o processo comunicativo(REISS, 2004, p. 160).

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31 Passemos agora a uma breve reflexão sobre o Funcionalismo na perspectiva de Vermeer. Como o título do livro Towards a General Theory of Translational Action (Skopos Theory

Explained) (Reiss e Vermeer, 2014) sugere, os autores visam uma teoria geral da tradução para todos

os textos. No prefácio à tradução da obra de Reiss e Vermeer (2014), Nord afirma que a primeira parte do livro apresenta uma explicação detalhada dos fundamentos e princípios básicos da teoria de

skopos como uma teoria geral de tradução e interpretação. A segunda parte, escrita por Reiss, busca

integrar sua abordagem tipológica-textual, apresentada pela primeira vez em 1971, como uma “teoria específica” dentro da estrutura geral da teoria do skopos.

A teoria de Skopos parecia ser um modelo ideal e, embora houvesse uma consciência de que deveria haver uma relação entre os textos-fonte e alvo, o que realmente prevalecia era o propósito da tradução para o qual os procedimentos se ajustavam. A Teoria de Skopos (Skopostheorie), nasceu e cresceu em solo fértil pois explica diferentes estratégias em diferentes situações de tradução, nas quais os textos-fonte não são o único fator envolvido. A Skopostheorie parecia ser exatamente o modelo translacional necessário. Tratava-se de um modelo que era, ao mesmo tempo, pragmático, orientado para a cultura, consistente, prático, normativo, compreensivel e especialista, como argumenta Nord (1997).

A Skopostheorie alega ser um modelo geral ou universal de tradução e embora Vermeer permita uma relação de “coerência intertextual” ou fidelidade entre os textos fonte e alvo, a demanda por fidelidade é subordinada à regra de Skopos. A ideia principal da Skoposorie poderia ser parafraseada como “o propósito da tradução justifica os procedimentos de tradução”. Com justiça, isso parece aceitável sempre que o propósito da tradução estiver de acordo com as intenções comunicativas do autor original. Mas o que acontece se o resumo da tradução exigir uma tradução cujos objetivos comunicativos sejam contrários ou incompatíveis com a opinião ou intenção do autor? Neste caso, a regra de Skopos poderia ser facilmente interpretada como “o fim justifica os meios”, e não haveria nenhuma restrição à gama de possíveis fins6 (NORD, 1997, p. 124).

6 “Skopostheorie claims to be a general or universal model of translation (see the title of Reiss and Vermeer 1984).

Although Vermeer allows for a relationship of ‘intertextual coherence’ or fidelity to hold between the source and target texts, the demand for fidelity is subordinate to the Skopos rule. As we have seen, the main idea of Skopostheorie could be paraphrased as ‘the translation purpose justifies the translation procedures. Now, this seems acceptable whenever the translation purpose is in line with the communicative intentions of the original author. But what happens if the translation brief requires a translation whose communicative aims are contrary to or incompatible with the author’s opinion or intention? In this case, the Skopos rule could easily be interpreted as ‘the end justifies the means’, and there would be no restrictio n to the range of possible ends” (NORD, 1997, p. 124).

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32 Havia a necessidade de se preencher a lacuna entre teoria e prática e com esse propósito Vermeer especializou-se em linguística geral e, depois, em Estudos da Tradução, onde foi treinado como intérprete por Katharina Reiss. Sua posição contrária aos pressupostos da tradução linguística desenvolveu-se a partir do trabalho publicado em 1976 e tornou-se muito clara em seu “Framework

for a General Translation Theory”, de 1978. Vermeer assim afirma sua posição geral:

A linguística por si só não nos ajuda. Primeiro, porque a tradução não é meramente e nem mesmo primariamente um processo linguístico. Em segundo lugar, porque a linguística ainda não formulou as perguntas certas para enfrentar nossos problemas. Então vamos procurar outro lugar7. (NORD, 1997, p. 10).

Vermeer considera a tradução e a interpretação como um tipo de transferência em que sinais comunicativos verbais e não verbais são transferidos de uma língua para outra (outros tipos incluem a transferência de imagens para música ou de uma planta para um edifício). “A tradução é, portanto, também um tipo de ação humana” Nord, (1997). Vermeer define a ação humana como um comportamento intencional que ocorre em uma dada situação; faz parte da situação ao mesmo tempo em que a modifica. Além disso, como as situações são incorporadas nas culturas, qualquer avaliação de uma situação particular de seus elementos verbalizados e não verbalizados depende do status que ela tem em um determinado sistema de cultura (NORD, 1997, p. 11). Isso fica claro em uma ilustração dada pelo próprio Vermeer:

Suponhamos que fôssemos observar um índio ao acordar de manhã. Nós o vemos sair da cama, tomar um banho, escovar seus dentes e enxaguar a boca, vestir roupas limpas, rezar, tomar uma xícara de chá e assim por diante. Se pedíssemos a ele que descrevesse seu comportamento, ele mencionaria seu banho (que ele chamaria de “bath”, se ele falasse inglês) e talvez esquecesse o chá. Suponha agora que também observássemos um alemão durante o ritual matinal. Veríamos muito do mesmo procedimento, embora com certas diferenças no modo como ele tomaria banho e vestiria suas roupas; ele também tomaria seu café da manhã (e talvez escovasse os dentes depois). Questionado sobre seu comportamento, ele certamente não esqueceria de mencionar seu “café e pão com manteiga” e certamente esqueceria de escovar os dentes. As descrições dos dois indivíduos de duas culturas diferentes difeririam em maior ou menor extensão, mas seriam culturalmente equivalentes,

7Linguistics alone won’t help us. First, because translating is not merely and not even primarily a linguistic process.

Secondly, because linguistics has not yet formulated the right questions to tackle our problems. So let’s look somewhere else”.

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33

sendo ambos consideradas atos comportamentais naturais com a mesma “função” em suas respectivas configurações específicas de cultura8 (NORD, 1997, p.11).

Considerando essa linha de raciocínio, a tradução não pode ser considerada uma mera transferência um-pra-um entre línguas. Tendo em vista que a tradução faz parte de uma estrutura teórica tão abrangente da comunicação humana, “uma teoria da tradução não pode se basear apenas numa teoria linguística,por mais complexa que seja”. Faz-se necessária uma teoria da cultura que explique a idiossincrasia das situações comunicativas e a relação entre elementos situacionais verbalizados e não verbalizados. Para Vermeer, a tradução é uma forma de ação translacional com base em um texto-fonte e que pode consistir em elementos verbais e/ou não verbais (ilustrações, planos, tabelas, etc.)(NORD, 1997, p. 11).

Esse cenário geral é explicado como segue: qualquer forma de ação translacional, incluindo, por consequência, a própria tradução, pode ser concebida como uma ação, como o próprio nome sugere.

Qualquer ação tem um objetivo, um propósito. […]. Pode-se concluir que a palavra skopos, é, então, um termo técnico para o objetivo ou propósito de uma tradução. [...] Além disso: uma ação leva a um resultado, uma nova situação ou evento e possivelmente a um ‘novo’ objeto (VERMEER, 1989, apud Nord, 1997, p. 12).

Vermeer chama sua teoria de Skopostheorie, por considerá-la uma teoria da ação intencional. A teoria afirma que um dos fatores mais importantes para o propósito de uma tradução é o destinatário (addressee), que é o receptor pretendido ou a audiência do texto-alvo, com seu conhecimento de mundo, da cultura específica, suas expectativas e suas necessidades comunicativas. Toda tradução tem como foco um público-alvo, pois, para o autor, traduzir significa “produzir um

8 “Suppose we were to observe an Indian getting up in the morning. We see him get out of bed, take a shower, brush his teeth and cleanse his mouth, put on clean clothes, pray, take a cup of tea and so on. If we asked him to describe his behaviour he would mention his shower (which he’d call a ‘bath’, if he speaks English) and perhaps fo rget about the tea. Suppose now, we would also observe a German during his morning ritual. We would see much the same procedure, although with certain differences in the way he would take his shower and put on his clothes; he, too, would have his breakfast (and perhaps brush his teeth afterwards). Asked about his behaviour he would certainly not forget to mention his ‘buttered bread and coffee’ and just as cer- tainly would forget about his brushing his teeth. The descriptions of the two individuals from two different cultures would differ to a greater or lesser extent, but they would be culturally equivalent, both being considered natural behavioural acts with the same ‘function’ in their respective culture specific settings”.

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34 texto em uma configuração-alvo para um propósito-alvo a destinatários-alvo em circunstâncias-alvo” (VERMEER, 1987, apud Nord, 1997, p. 12).

É importante perceber que a frase de Vermeer, citada anteriormente, não faz referência ao texto-fonte. O status da fonte é menos relevante na Skopostheorie comparado ao das teorias com base em equivalência. Apenas para efeito de comparação, Reiss considera que o texto-fonte é “a medida de todas as coisas na tradução” (REISS, 1988, p.70, apud Nord, 1997, p. 12). No entanto, para Vermeer o texto-fonte é apenas uma “oferta de informação” que é parcial ou totalmente transformada em uma “oferta de informação” para o público-alvo (NORD, 1997, p. 12).

Seguem-se as “regras” básicas subjacentes à teoria.

“1- um translatum (ou texto-alvo) é determinado por seu skopos.

2 - um texto-alvo é uma oferta de informações (Informutionsungebot) em uma cultura alvo e língua-alvo referente a uma oferta de informações em uma cultura de origem e língua-fonte.

3 - um texto-alvo não inicia uma oferta de informação de maneira claramente reversível. 4 - um texto-alvo deve ser internamente coerente.

5 - um texto-alvo deve ser coerente com o texto-fonte.

6 - as cinco regras acima estão em ordem hierárquica, com a regra do skopos predominando” (REISS e VERMEER, 2014, p. 119).

Conforme Vermeer (1978), qualquer forma de ação translacional, incluindo a própria tradução, pode ser concebida como uma ação. Qualquer ação tem um objetivo, um propósito. A palavra skopos é um termo técnico para o objetivo ou propósito de uma tradução (discutido com mais detalhes em 2.4). Além disso, uma ação leva a um resultado, uma nova situação ou evento e, possivelmente, a um “novo” objeto. A ação translacional leva a um “texto-alvo” que pode ser verbal ou não verbal; a tradução leva a um translatum (ou seja, o texto traduzido, o produto), como uma variedade particular de texto-alvo. O objetivo de qualquer ação translacional e o modo pelo qual ela será realizada são negociados com o cliente que encomenda a ação. Quanto mais precisa for a especificação do objetivo e do modo, melhor e mais fácil será o trabalho do tradutor (VERMEER 1978, in VENUTI, 2012, p.191).

A teoria de skopos não foi unanimidade entre os estudiosos dos Estudos da Tradução. Nord (1997) discute algumas das críticas feitas à teoria do skopos por outros estudiosos. Dentre elas destacam-se as seguintes:

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35 1. O que pretende ser uma teoria “geral” é, na verdade, válido apenas para textos não literários. Isto se explica devido ao fato de os textos literários serem rotulados de duas maneiras: ou por não terem propósito específico e/ou por serem muito mais complexos estilisticamente.

2. A abordagem do tipo de texto de Reiss e a teoria de Skopos de Vermeer, de fato, consideram diferentes fenômenos funcionais e exatamente por essa razão não podem ser atrelados à mesma categoria.

3. A teoria de skopos não dá atenção suficiente a características linguísticas do texto-fonte nem à reprodução de traços de micronível no texto-alvo. Ainda que o skopos seja cumprido, pode ser inadequado nos níveis estilísticos ou semânticos de segmentos individuais.

Uma outra crítica possível é que a consideração de questões e diferenças culturais deve ser essencial ao decidir como o skopos pode ser alcançado (MUNDAY, 2001).

Para responder ao primeiro ponto acima citado, Vermeer (1989) enfatiza que objetivos, propósitos, funções e intenções são “atribuídos a ações”. Assim, o autor de um poema pode ter como objetivo seu produto (poema) publicado e registrado, de modo a obter lucro com sua reprodução. Mas o escritor também pode ter a intenção de criar algo que exista apenas por si (“arte pela arte”) (VERMEER, 1989, In: VENUTI, 2012, p. 224).

Dois pontos estão em questão na segunda crítica: até que ponto o tipo do texto-fonte determina o método de tradução e qual é a lógica da ligação entre o tipo do texto-fonte e o skopos da tradução. A terceira crítica em particular é abordada por outra funcionalista, Nord, com seu modelo de análise do texto orientado para a tradução (MUNDAY, 2001).

2.2 A teoria de Skopos e a noção de ação translacional e equivalência

A Teoria de Skopos (“Skopostheorie” em alemão, proveniente do grego “skopós”, propósito, meta) é uma abordagem à tradução proposta entre os anos de 1978 e 1984 e foi desenvolvida por Hans J. Vermeer, com a contribuição de Katharina Reiss (REISS e VERMEER, 2014). A teoria de Skopos enfatiza os aspectos pragmáticos e interacionais da tradução, argumentando que a forma do texto-alvo deve ser, acima de tudo, determinada pela função ou “skopos” (propósito) que se pretende alcançar no contexto-alvo. “O princípio fundamental que determina qualquer processo tradutório é

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36 o propósito (skopos) de toda a ação translacional. Isso se encaixa com a intencionalidade, sendo parte da própria definição de qualquer ação”. (NORD, 2018, p. 25).

Vermmer utilizou o termo skopos para definir o que chamou de ‘teoria da ação proposital’ propósito da tradução que determina os métodos e estratégias a serem empregados para se produzir um resultado funcionalmente adequado (MUNDAY, 2001, p. 79).

A teoria de Skopos está ligada à abordagem funcionalista da tradução, mas distingue-se de outras na medida em que abordagens funcionalistas, como as de Reiss (1971), sustentam que a função do texto-alvo deve ser a mesma que a do texto original. A teoria de Skopos reconhece que isso nem sempre é prático ou desejável. Munday (2001) ratifica que

A teoria de skopos focaliza, fundamentalmente, no propósito da tradução, que determina os métodos e estratégias de tradução que serão empregados para produzir um resultado funcionalmente adequado. Este resultado é o texto de destino, que a Vermeer chama de translato. Portanto, na teoria skopos, saber por que um texto fonte deve ser traduzido e qual será a função do texto alvo é crucial para o tradutor9 (MUNDAY, 2001, p. 79).

Reiss e Vermeer formularam este princípio em duas regras de skopos: “uma interação é determinada por seu propósito”, e “pode-se dizer que o skopos varia de acordo com o destinatário”. A partir desses princípios, entende-se que o tradutor deve usar as estratégias de tradução mais apropriadas para alcançar o propósito para o qual o texto-alvo é pretendido, independentemente de serem consideradas a maneira “padrão” de proceder em um contexto particular de tradução. Em suma, ao produzir um texto-alvo, “o fim justifica os meios” (REISS e VERMEER, 2014, p. 101).

Ter consciência das exigências do skopos “expande, assim, as possibilidades de tradução, aumenta o alcance de possíveis estratégias de tradução e libera o tradutor da prisão de uma literalidade reforçada - e, portanto, muitas vezes sem sentido”.Isso é certamente preciso, pois uma abordagem baseada no skopos representa um ‘destronamento’ do texto-fonte”. Essa crítica deve-se

9kopos theory focuses above all on the purpose of the translation, which determines the translation methods

and strategies that are to be employed in order to produce a functionally adequate result. This result is the target text, which Vermeer calls the translatum. Therefore, in skopos theory, knowing why a source text is to be translated and what the function of the target text will be are crucial for the translatotor. (MUNDAY, 2001, p. 79).

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37 à uma afirmação de Vermeer de "destronar" o texto de origem. Mas destronar não implica assassinar o texto-fonte; significa simplesmente que suas características linguísticas e estilísticas, não sejam mais consideradas como o único parâmetro para uma tradução. (NORD, 1997, p. 110).

Nord identifica três diferentes componentes na teoria de skopos, quais sejam: intenção, função e efeito.

A ‘Intenção’ é o propósito que o remetente deseja alcançar. A ‘Função’ é uma propriedade da tradução em si e é atribuída a ela pelo destinatário. ‘Efeito’ refere-se ao que acontece na mente ou no comportamento do destinatário ao ler a tradução. Em casos ideais, os três componentes coincidem (1997, p. 92-93)

Entendemos que o skopos é o fator essencial que fundamenta as escolhas e decisões tomadas durante o processo de tradução, é uma espécie de guia o qual o tradutor deve consultar sempre que tiver dúvida nas suas decisões tradutórias. A tradução é vista por Vermeer (1982) como uma “oferta de informação”, ou Informationsangebot, na língua-alvo, que imita uma oferta de informação na língua-fonte10 (cf. Vermeer 1982, apud Nord, 1997).

Em vez de apresentar ao tradutor um corpo fixo de “fato” que ele ou ela deve passar adiante para o público alvo, o texto-fonte é visto como uma oferta de informação, que o tradutor deve interpretar selecionando as características que melhor correspondem às exigências da situação-alvo. “Vermeer considera isso uma "oferta de informações" que é parcial ou totalmente transformada em uma "oferta de informações" para o público-alvo” (cf. Vermeer 1982, apud Nord, 2018, p.12)

Em termos mais concretos, “o ato de traduzir de acordo com o skopos de um texto-alvo poderia implicar literalmente um texto científico, adaptar Dom Quixote para uma edição infantil, remover dos ditos de Buda a interminável repetição que seria inaceitável para a maioria dos leitores modernos, ou acrescentar fórmulas de polidez extra para cartas comerciais americanas sendo traduzidas para o alemão” (REISS e VERMEER, 2014, p. 77).

10 Vermeer regards it as an ‘offer of information’ that is partly or wholly turned into an ‘offer of information’

Referências

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