ASPECTOS RELEVANTES DA
LEI DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA
“De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra, de tanto
agigantarem-se os poderes nas mãos dos
maus, o homem chega a desanimar-se da
virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
de ser honesto.”
O QUE SERÁ TRATADO SOBRE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA?
Contexto histórico do ano de edição da Lei
de Improbidade Administrativa;
Atos de improbidade: definição,
modalidades e condutas implicadas;
Sanções cabíveis;
Peculiaridades sobre a ação de
improbidade;
QUANDO E POR QUEM FOI EDITADA A LEI
DE IMPROBIDADE?
O art. 37, §4º da CF/88 prevê sanções
civis para os atos de improbidade na
forma e gradação previstas em lei.
Esta lei foi decretada e sancionada em
02/06/1992,
por
Fernando
Collor,
presidente que exerceu o mandato
apenas de 1990 a 1992 (Lei 8.429/92);
QUEM (OU O QUE) FOI COLLOR PARA
O BRASIL?
Collor foi eleito em 1989, após apertada
margem de votos sobre Luiz Inácio Lula
da Silva. Ele se autodenominava “caçador
de marajás”, mas, em menos de 02 anos
de governo, foi descoberto enorme
esquema de corrupção e tráfico de
influência, denunciado pelo próprio irmão
do presidente, Pedro Collor, que veio a
falecer meses depois vítima de 04 tumores
malignos no cérebro.
A REPERCUSSÃO DO ESQUEMA PC NA
IMPRENSA EM 1992
19/02 – Revista Veja publica dossiê do irmão do presidente: as contas de Collor e de PC não entraram no confisco dos 15 primeiros dias do mandato de Collor;
13/05 – PC Farias tem participação em pelo menos 09 empresas no exterior;
09/07 – Os jardins nababescos da Dinda bancados pelos cofres públicos;
A REPERCUSSÃO DO ESQUEMA PC NA
IMPRENSA EM 1992
10/08 – População vai às ruas para pedir
o impeachement de Collor (jovens
caras-pintadas com dois “L” um verde e um
amarelo clamam Fora-Collor);
30/09 – Presidente renuncia, após voto da
maioria do Congresso pela abertura de
AINDA RELEMBRANDO COLLOR...
Vale destacar que Collor acreditou em sua impunidade até o último momento, só renunciando ao cargo após a derrota no Congresso (441 deputados foram a favor da abertura de processo de impeachement, contra 38 votos, tendo havido 23 ausências e 01 abstenção.
Atenção: como o processo foi instaurado, malgrado ele tenha renunciado, as sanções da LIA foram aplicadas e ele teve seus direitos políticos cassados por 08 anos, quando tirou férias em Miami e atualmente é Senador da República!
ENTÃO...
Os
acontecimentos
narrados,
que
marcaram o ano de 1992, indicam a
importância e a oportunidade da Lei de
Improbidade Administrativa ou Lei do
Colarinho Branco para o momento
histórico brasileiro e em prol da punição
contra a corrupção.
VAMOS CONHECER UM POUCO
SOBRE ESTA LEI?
Ato improbo é crime? NÃO.
O art. 37, §4º in fine, da CF, + art. 12 da LIA + decisão do STF na ADI 2797 indicam isso, pois foram julgados inconstitucionais os parágrafos 1º e 2º do Código de Processo Penal, introduzidos pela Lei 10.628/02, que equiparavam a ação de improbidade administrativa à ação penal contra altas autoridades federais, como o presidente da República, o vice-presidente, ministros de Estado e congressistas, entre outros, cujo julgamento é de competência do STF. Portanto a natureza jurídica da improbidade administrativa é civil e não penal.
Quantas e quais sanções a LIA estabelece? (art. 12 da LIA + art. 37 §4º da CF)
VAMOS CONHECER UM POUCO
SOBRE ESTA LEI?
Quais as modalidades de atos de improbidade?
Atos que importam enriquecimento ilícito (art. 9º
da Lei 8.429/92);
Atos que importam dano ao Erário (art. 10 da
Lei 8.429/92);
Atos que importam violação de princípios (art.
11 da Lei 8.429/92).
Que condutas cada modalidade de improbidade
QUEM PODE SER VÍTIMA DE
IMPROBIDADE?
SUJEITOS PASSIVOS
O art. 1º da Lei estabelece que podem ser vítimas: a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as Autarquias, as empresas públicas, sociedades de economia mista, empresas incorporadas ou entidades para cuja criação ou custeio o Poder Público tenha concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual;
Além disso, as entidades que recebam subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgãos ou empresas públicas.
QUEM PODE CAUSAR
IMPROBIDADE?
SUJEITOS ATIVOS
O art. 3º da LIA estabelece que o agente público e o particular podem vir a cometer ato de improbidade repreendido por esta lei.
O art. 8º dispõe que os sucessores dos sujeitos ativos devem suportar as condenações patrimoniais advindas do ato de improbidade até o limite da herança, posto que se trata de sanção de natureza civil.
QUEM A LIA CONSIDERA COMO AGENTE
PÚBLICO?
Pessoa que está vinculada ou foi investida no Poder Público por concurso público, nomeação, designação, eleição ou contratação;
Assim, a caracterização de agente público independe do caráter do vínculo que este tiver com o Estado: podendo ser cargo permanente ou temporário, remunerado ou não.
QUEM A LIA CONSIDERA COMO
PARTICULAR?
Aquela pessoa maior de idade, capaz, que, não sendo agente público, induziu ou concorreu para prática do ato de improbidade, ou ainda dele se beneficiou direta ou indiretamente.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ATO DE
IMPROBIDADE PRÓPRIO E ATO
IMPRÓPRIO?
Ato Próprio – cometido por agente público;
SANÇÕES PREVISTAS NA CF/88
art. 37 §4º Suspensão de direitos políticos;
Perda da função pública;
Indisponibilidade de bens;
SANÇÕES PREVISTAS NA LIA
art. 12
Perda de bens;
Proibição
de
contratar
com
a
Administração Pública;
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DA AÇÃO
DE IMPROBIDADE?
A ação possui rito ordinário e pode ser proposta pelo Ministério Público ou por pessoa jurídica interessada – art. 17;
É vedada a transação ou acordo - art. 17, §1º;
O Ministério Público se não for o autor da ação intervirá sempre como fiscal da lei, sob pena de nulidade do processo - art. 17, §4º;
Pode resultar em 07 tipos de sanções;
A condenação em dinheiro reverte para a pessoa jurídica lesada – art. 18.
SANÇÕES (ART. 12):
Perda de bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;
Multa civil;
Proibição de contratar com o Poder Publico, ou receber benefícios, incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente;
Suspensão dos direitos políticos;
Perda da função publica;
Ressarcimento ao erário;
COMO SE OPERA A PRESCRIÇÃO DO ATO
DE IMPROBIDADE?
O ato de improbidade está sujeito à prescrição (perda do direito de ação), mas o dano ao Erário é imprescritível!
Prescreve o direito de entrar com ação de improbidade em 05 anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança - art. 23, I, da LIA.
AÇÃO JUDICIAL
COMPETENCIA – juiz de 1ª instancia
competente para ente federativo envolvido;
Incompetência dos juízes de primeira
instância para processar e julgar, com base
na Lei nº 8.429/92, autoridades que
estejam submetidas, em matéria penal, à
competência originária dos Tribunais,
inclusive do STF e do STJ. (102, I, C e
105, I , a da CF).
AÇÃO JUDICIAL
LEGITMIDADE ATIVA –
MP ou pessoa jurídica interessada
Se proposta pelo MP a PJ integrará a lide
como litisconsorte
AÇÃO JUDICIAL
O artigo 16 da Lei nº 8.429/92 prevê a
possibilidade de propositura de ação de
seqüestro dos bens do agente ou terceiro
que
tenha
enriquecido
ilicitamente,
remetendo o procedimento para os artigos
822 e 825 do Código de Processo Civil.
Embora a lei mencione o seqüestro, o
tecnicamente correto seria o arresto.
AÇÃO JUDICIAL
Distribuída a ação cautelar ou ordinária, ficará prevento o juízo para todas as demais ações que venham a ser propostas com o mesmo objeto ou causa de pedir, como reza o § 5º do artigo 17, introduzido pelo artigo 7º da Medida Provisória nº 2.180-35, de 24.08.2001.20
Se a ação principal for precedida da cautelar,
deverá ser proposta em trinta dias da efetivação daquela (caput do artigo 17).
É vedada expressamente a transação na ação principal (artigo 17, § 1º), por tratar-se a moralidade administrativa de princípio constitucional de direito público, e portanto indisponível.
O Superior Tribunal de Justiça, tanto na 1ª
quanto na 2ª Turmas, tem jurisprudência
firme na questão do alcance da medida que
decreta a indisponibilidade de bens em
matéria de improbidade administrativa.
Não se admite a retroatividade da lei para
alcançar bens adquiridos antes de sua
vigência,
e
tampouco
se
poderá
indisponibilizar bens adquiridos antes do ato
tido como de improbidade.21
A indisponibilidade, portanto, deve se ater
aos bens adquiridos após o ilícito, como
seu fruto, e desde que posteriormente à
vigência da própria Lei nº 8.429/92.
Por outro lado, o artigo 8º da Lei nº
8.429/92 determina que o sucessor
daquele que se enriquecer ilicitamente está
sujeito às cominações da lei, até o limite da
herança. Em primeiro lugar, esta extensão
de responsabilidade só pode se aplicar à
parte patrimonial, pois o direito brasileiro
não admite a comunicação da culpa.
O sucessor não poderá perder direitos
políticos, cargos públicos ou ter restringido
o direito de contratar com a administração.
Tais penalidades são personalíssimas e
intransmissíveis.
AÇÃO JUDICIAL
O § 7º do artigo 17 criou uma fase de
defesa prévia dos réus, com a
possibilidade de juntada de razões
escritas e documentos, após o que o juiz
poderá rejeitar a ação de plano, na forma
do § 8º.
Somente após a defesa prévia é que o juiz
receberá a ação e mandará efetivamente
citar o réu (§ 9º), decisão esta impugnável
por agravo de instrumento (§ 10).
Por ultimo importa lembrar que a norma
do artigo 20 da Lei de Improbidade
determina que a perda da função publica
ou suspensão dos direitos políticos só se
efetiva com o trânsito em julgado da
sentença condenatória.
As demais sanções podem ser objeto de
PERGUNTA-SE:
É possível aplicar todas as normas da Lei
de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) nas
ações de improbidade administrativa?
RESPOSTA:
Todas não, as normas processuais da Lei
de Improbidade prevalecem sobre as da
Lei da Ação Civil Pública em nome da
aplicação do princípio da especialidade –
art. 17.
POR FIM DESTACA-SE:
Que a LIA ampliou o rol das sanções previsto na
CF/88 e previu que a gravidade das penas deve observar a conformidade com a gravidade do ato perpetrado - art. 12, §único;
Que as sanções mais graves dizem respeito à
modalidade que envolve enriquecimento ilícito;
Que a imposição de sanções independe de
decisão do Tribunal de Contas ou da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público – art. 21.
CONCLUINDO...
De fato, a Lei de Improbidade “veio a calhar”, mas é preciso muito mais do que a edição de leis ou estatutos para que se efetivem direitos e princípios, e que se combata a corrupção. É preciso que cada um nós orgulhe-se de ser honesto, comprometa-se com a ética, com a moralidade e não perca a capacidade de se indignar com a impunidade!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Princípio da Probidade Administrativa
Autor: Francisco Chaves dos Anjos Neto Editora: Del Rey
Improbidade Administrativa: 10 anos da Lei 8.429/92
Organizadores: José Adércio Lima Sampaio, Nicolau Dino de Castro, Nívio de Freitas Silva Filho, Robério Nunes dos Anjos Filho
Editora: Del Rey
O Limite da improbidade Administrativa
Autor: Mauro Roberto Gomes de Mattos Editora: América Jurídica
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Lei de Improbidade Administrativa Comentada
Autor: Pazzaglini Filho Editora: Atlas
Improbidade Administrativa em Defesa do
Patrimônio Público
Autores: Pazzaglini Filho, Márcio Fernando Elias Rosa,Waldo Fazzio Júnior
Editora: Atlas
Improbidade Administrativa
Coordenadores: Cássio Scarpinella Bueno e Pedro Paulo Porto Filho