EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: ANÁLISE DO PROJETO RONDON MINAS
SILVA, Tiago Praxedes;1, 2 ELIAS, Débora Alves; 1,3
1 — Coordenadores da Equipe Itinga — Projeto Rondon Minas 2 — Biólogo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Núcleo Universitário Betim. 3 — Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Resumo:
0 trabalho tem por finalidade fazer uma análise a partir da visão da coordenação de equipe do projeto Rondon Minas no município de Itinga, para avaliação da metodologia utilizada (diagnóstico rápido participativo) e resultados alcançados após duas intervenções com equipes multidisciplinares de alunos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Palavras-chaves:
Análise; Metodologia; Resultados.
Introdução
As atividades de extensão Universitária são muito importantes como formação de caráter sócio-profissional dos graduandos. Como preconiza a política nacional de extensão universitária,
“... a produção do conhecimento via extensão, se faria na troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, tendo como conseqüência a democratização do conhecimento, a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade e uma produção resultante do confronto com a realidade.”
0 Ministério da Educação define a atividade de extensão, como
“... o processo educativo, cultural e cientifico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade. A Extensão é uma via de mão dupla, com livre trânsito assegurado a comunidade acadêmica, que encontrará na Sociedade a oportunidade da elaboração da prática de um conhecimento acadêmico. No retorno a Universidade, professores e estudantes trarão um aprendizado que, submetido a reflexão teórica, fará ampliar e elevar o nível do conhecimento anterior”.(MEC, 2008).
Mas a extensão universitária não deve ser um pilar isolado dentro da estrutura das universidades atuais. Para isso, é necessária uma discussão para articulação entre pesquisa, ensino e extensão. Estas discussões devem ser fomentadas nas diversas esferas acadêmicas
A Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), através de sua política de extensão, nos diz que:
“... A Extensão Universitária, como atividade-fim integrada ao Ensino e a Pesquisa, é um dos lugares de exercício da função social da PUC Minas. Ao possibilitar a articulação da academia com a sociedade, trabalha em prol da promoção da cidadania, da inclusão e do desenvolvimento social. Isso se reflete na formação cidadã e humanista discente e docente, na perspectiva de desenvolvimento integral do ser humano, missão primeira da Universidade.”
Fernandes (2004) também afirma que a extensão universitária na PUC Minas tem trabalhado a partir dos interesses e necessidades dos grupos sociais como um processo de aprendizado e crescimento, envolvendo os profissionais enquanto educadores e educandos e a população como educanda e também educadora. Mesmo se tratando de uma universidade particular, o fomento as atividades extensionistas vem sendo feito e divulgado os resultados destas ações dentro do possível.
Dessa maneira, o projeto Rondon Minas, coordenado pela Associação dos Rondonistas de Minas Gerais em parceria com a PUC Minas e outras universidades conveniadas, faz intervenções de diagnóstico e ações sobre as demandas de diversos municípios dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas, a fim de promover a emancipação social das comunidades visitadas. Ao total, em geral são realizadas quatro viagens no município atendido (uma diagnóstico e três de intervenção sobre as demandas). 0 Rondon Minas se diferencia do Rondon Nacional por sua característica de continuidade do trabalho nas comunidades visitadas, trata-se de uma intervenção de caráter critico, não se definindo por ações técnicas e assistencialistas.
As equipes são multidisciplinares, compostas pelos diversos alunos dos cursos da universidade e em média são compostas pelo coordenador e quatorze alunos. 0correm capacitações gerais a partir de informações como o que é o Rondon Minas, orientações de segurança durante a intervenção, etc. A capacitação in foco, ou seja, especifica para a cidade que o aluno irá viajar, se dá entre o coordenador e sua equipe.
0 município de Itinga recebeu duas intervenções do projeto sobre a coordenação dos autores do artigo. As intervenções ocorreram em julho de 2008 (intervenção diagnóstica) e dezembro de 2008 (intervenção sobre as demandas). Para melhor contextualização do objeto de trabalho, a seguir faremos uma pequena caracterização do município, embasados no relatório diagnóstico.
Inicialmente o povoado de Itinga ficava situado entre o Rio Jequitinhonha e os córregos da Água Branca e Itinguinha, o qual deu nome à cidade (Itinga, nome indígena que significa Água Branca). Esta região fica atualmente a 6 Km do atual local onde está a cidade. Esta transposição se deu, devido a região em que se iniciou o povoado, ocorrer muitas enchentes, daí um novo povoado começou a ser criado, já um pouco distante dali.
0 município de Itinga localiza-se no Médio Vale do Jequitinhonha, na bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha. Com uma população total de aproximadamente 14.587 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE, 2007), o município detém um dos menores IDH’s do médio vale do Jequitinhonha, tendo o valor de 0,624. A densidade populacional é de 8,6hab/km2. 0 PIB municipal total no ano de 2005 foi de R$36.999 (IBGE, 2005) e a renda per capita de R$1.923,74 (WIKIPEDIA, 2003).
Com estes dados, e baseados nas intervenções, nossa proposta de trabalho é discutir as atividades e ações do projeto sobre a ótica da coordenação de equipe, baseada nos resultados obtidos a partir do diagnóstico rápido participativo realizado pela equipe.
Desenvolvimento
A metodologia utilizada para a coleta de dados e intervenções no município foi a de Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) e trabalho comunitário, que são as metodologias de trabalhos adotadas pelo núcleo comunitário da Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas.
Como já citado, as intervenções aconteceram no município de Itinga, em MG em duas intervenções, sendo a primeira diagnóstica e a segunda de ações focadas a partir do diagnóstico realizado.
As vivências rondonistas são marcadas por intensidades e desafios únicos. São experiências singulares em que se criam, a todo o momento, oportunidades de crescimentos e questionamentos, tanto pessoais quanto profissionais. São vivências que nos territorializam e desterritorializam, que promovem encontros e desencontros. Dessa forma o papel dos coordenadores é de extrema importância, pois eles devem colaborar e mediar essas aprendizagens. A coordenação também tem a função de orientar e supervisionar os trabalhos realizados, dando suporte para a elaboração e execução das oficinas, que por sua vez, são montadas pela leitura dos rondonistas da realidade local e pelas informações coletadas no DRP.
Na segunda intervenção, após o DRP, algumas atividades se destacaram pela sua repercussão e cuidado de elaboração, como as capacitações dos professores, a oficina com
os ACS e o trabalho conjunto com os conselheiros municipais. 0 público masculino conseguiu ser atingido através da oficina de Noções Básicas sobre Construção Civil.
O Grupo de referência, criado a partir de algumas pessoas da comunidade que se demonstraram interessadas e dispostas a ser uma extensão do projeto além do período de intervenção, é fundamental para a qualidade do trabalho. 0 dialogo mantido com as lideranças locais, após a primeira intervenção, permite o projeto ter visibilidade para além de quinze dias, pois, fortalece o compromisso e proporciona o protagonismo social.
Uma especificidade dessas intervenções é a parceria do projeto R0ND0N com a Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDESE). Essa parceria visa realizar um diagnóstico mais aprofundado no campo da assistência social e articular os municípios visitados ao Programa Travessia, que promove ações em diversas esferas no município (saúde, educação, meio ambiente, etc.). No inicio, ocorreu um receio por parte dos rondonistas e da coordenação de equipe quanto as finalidades desta parceira, entretanto, observa-se que esta veio corroborar com uma possível visibilidade de investimentos financeiros na região. 0 instrumento realizado para coleta de dados no âmbito da assistência foi o questionário do programa Travessias, aplicados em todos os municípios visitados em julho de 2008. Através do DRP e do questionário aplicado em torno de 10% da população, foi possível proporcionar a SEDESE, uma leitura e conhecimento qualitativo e quantitativo da realidade local.
Além disso, podemos avaliar que são vários os atravessamentos e adversidades vividos durante essas viagens. Tais situações acreditamos colaborar com o desenvolvimento sócio-educativo dos alunos participantes, uma vez que os coloca em contato com incidentes ricos e que exigem uma tomada de decisão momentânea, obrigando-o a aplicar o conhecimento cientifico e transpor aos diversos públicos atendidos.
0s coordenadores precisam trabalhar sempre o relacionamento inter-pessoal dos rondonistas. Para isso, são realizadas reuniões todos os dias, para discussão das atividades realizadas no dia e eventuais pontos a serem discutidos. Nesta reunião, acontece uma dinâmica que se chama “Rei e Rainha”. Essa dinâmica consiste em cada dia ser o dia de uma pessoa em especial, e a mesma recebe uma série de privilégios e uma carta de homenagem de todos os outros rondonistas. Sempre alguém do grupo é homenageado e estas cartas servem de recordação e fomento a melhoria das relações e vínculos interpessoais.
Após a viagem, o grupo de trabalho se organiza para a construção dos relatórios das atividades e intervenções. Dentro dessa construção, uma parte do relatório se constitui de
avaliações pessoais dos rondonistas e dos coordenadores quanto à intervenção, organização e coordenação. Majoritariamente, no caso das intervenções que ocorreram no município de Itinga e em grande parte dos demais municípios, observa-se nesses relatos a narração de crescimento pessoal e profissional.
Isso, enquanto aspecto de coordenação é muito satisfatório, p o i s acompanhamos o amadurecimento dos alunos durante e pós intervenções e o quanto isso influencia na postura acadêmica e visão de mundo dos mesmos. Claro que isto é um processo de troca e que nós também desenvolvemos uma série de competências e habilidades que vão sendo transformadas a cada intervenção.
Considerações Finais
Podemos concluir a partir dessa análise de ações e resultados obtidos a partir do diagnóstico realizado que o diagnóstico rápido participativo é uma metodologia que atende aos padrões de dados utilizados para construção dos relatórios do projeto.
Quanto ao cunho de formação acadêmico e pessoal dos alunos participantes, acreditamos que este seja um aspecto imensurável, pois mesmo a partir das avaliações pessoais, não se consegue tabular ou calcular as transformações que ocorrem.
Desta maneira, pode-se inferir que a participação do sujeito em projetos de extensão coloca o individuo em conflito com uma série de situações e dilemas que o fazem refletir acerca de seu conhecimento técnico e o faz transpor para uma linguagem palatável ao público extra-academia. Estas habilidades e competências tornarão esta pessoa um individuo mais sensibilizado e com posturas voltadas para a humanização de suas profissões.
No aspecto de coordenação, esta parceria de co-coordenação foi válida pelo sentido de fazer duas áreas diferentes do conhecimento dialogarem em conjunto e produzirem um material diagnóstico de qualidade. Particularmente a equipe de trabalho foi decisiva neste processo de alcance de metas e sucesso nas atividades desenvolvidas nas duas intervenções. Além disto, o convívio com a comunidade, e o diálogo estabelecido entre poder público local, sociedade civil organizada e comunidade de maneira geral, traz a reflexão e planejamentos específicos a partir das demandas reais do município de Itinga, caracterizando assim a metodologia de DRP.
Agradecimentos:
Hélia Leomara. Os coordenadores dedicam este artigo as equipes de julho e dezembro que realizaram intervenção em nossa amada Itinga.
Referências Bibliográficas.
ELIAS, Débora Alves; et a!: Relatório Fase I do Projeto Rondon Minas: Diagnóstico Situacional de Itinga - Oficinas e capacitacöes. Relatório interno — Projeto Rondon
FERNANDES, Monica Abranches. PUC Solidária: Experiência de Intervencào Sócio comunitária para o Desenvolvimento Integrado e Sustentável de Comunidades Mineiras. DisponIvel em: <http://www.ufmg.br/congrext/Desen/Desen27.pdf>, acesso em 02 de marco de 2009.
BRASIL, MINISTERIO DA EDuCAçAO. PROEXT Apresentacão: O que é a extensào universitária. DisponIvel em:
<http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=view&id=442&Itemid=30 3>, acesso em 02 de marco de 2009.
PONTIFICIA uNIVERSIDADE CATOLICA DE MINAS GERAIS. A PROEX. DisponIvel em: <http://www.pucminas.br/proex/site/>, acesso em 15 de marco de 2008.