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Formação Econômica do Brasil

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Academic year: 2021

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Formação Econômica do Brasil

Celso Furtado

­ Parte I Fundamentos Econômicos da Ocupação Territorial Cap. I Da expansão comercial à empresa agrícola

A expansão comercial da Europa estava em pleno crescimento do mercado interno no século        XI e atingiu o apogeu no século XV, mas com as invasões turcas o continente foi privado do        abastecimento de muitos itens. A expansão marítima e a descoberta da América foram formas de        superar esses obstáculos (mercado consumidor e reabastecimento do comércio).

O princípio inicial da colonização era encontrar ouro, neste quesito Espanha se saiu melhor que        Portugal, pois encontrou rapidamente os metais preciosos em seus territórios. Posteriormente, com a        crescente pressão política das nações européias sobre esses dois reinos, Espanha pode usar a riqueza        acumulada para armar sua defesa, mesmo assim não impediu que os invasores adentrassem suas terras.        Foi preferível, então, perder alguns territórios e concentrar a defesa nas zonas produtoras de metais        (México ­ Peru), a zona mais valiosa.

Portugal num primeiro momento não encontrou os desejados metais preciosos e não encontrou        uma forma de comércio aparente que fosse tão rentável quanto o ouro, somente o estabelecimento de        algumas feitorias para comércio de peles e madeira com os índios. As nações européias pressionavam        os reinos ibéricos com o princípio da utis possidetis, em que Portugal e Espanha só teriam direito as              terras a que teriam devidamente ocupado. Cabia a Portugal encontrar uma forma de utilização        econômica das terras, que servisse tanto para a ocupação permanente na colônia sul­americana quanto        para custear a organização da defesa dos territórios. A forma encontrada foi a exploração agrícola,        com a cana­de­açúcar, e por seu êxito a produção brasileira passou a ser incluída no comércio        europeu.

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Cap. II Fatores de êxito da empresa agrícola

O êxito da produção agrícola no Brasil deu­se por superar as dificuldades das técnicas de        produção, da criação de mercado consumidor para o açúcar, do financiamento da empreitada agrícola        e o suprimento de mão­de­obra.

No desenvolvimento das técnicas de produção e no suprimento da mão­de­obra, Portugal        contou com a situação favorável em que se encontrava com a dominação do continente africano. Lá já        haviam iniciado a produção de açúcar nas ilhas do Atlântico e puderam aprimorar as técnicas e        desenvolver equipamentos que melhorassem a produção. Além de já estarem familiarizados com o        tráfico da mão­de­obra escrava africana, que foi a solução encontrada para suprir a necessidade de        muita mão­de­obra para as fazendas agrícolas, já que a mão­de­obra portuguesa e indígena era        limitada e não apresentou sucesso nas colônias portuguesas.

O açúcar era um produto de demanda crescente na Europa do século XVI, então o mercado        estava em expansão. Os venezianos eram quem mais produziam, dominavam as melhores técnicas de        produção e refinação, por isso também possuíam o monopólio de venda do continente. O açúcar do        Brasil rompeu com esse monopólio e encontrou nos flamencos, especialmente os holandeses, o grande        mercado consumidor, e também, o grande financiador da empresa agrícola na colônia brasileira.

Os holandeses contribuíram fortemente para expansão do açúcar brasileiro, eram organizados        comercialmente e grandes financiadores do comércio intra­europeu. Foram capazes de financiar as        instalações para a produção de açúcar na colônia e ainda criar um mercado consumidor europeu para o        produto. A Holanda era o principal comprador da produção açucareira brasileira e tornou­se        especialista em refinação e redistribuição das manufaturas dentro da Europa ou de volta as colônias        ibéricas, com isso os grandes lucros da empreitada agrícola da colônia lusitana estava nas mãos dos        holandeses. Por essa boa margem de rendimentos, os holandeses ainda puderam financiar parte do        envio de mão­de­obra escrava oriundas da África.

Cap. III Razões do monopólio

O monopólio do açúcar português alcançou o sucesso em grande parte por conta da        decadência da economia espanhola, que não soube aproveitar as condições mais favoráveis para a       

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empreitada agrícola nas colônias espanholas, com terras mais produtivas, mão­de­obra indígena        abundante e mais barata, e acúmulo de riquezas preciosas encontradas logo no início da colonização        que poderia facilmente ter financiado a produção agrícola na parte espanhola do continente        sulamericano.

Ao contrário de Portugal, a Espanha continuou reforçando a proteção das áreas de extração de        metais preciosos e não houve incentivos ao intercâmbio entre metrópole e colônias, ou entre as        colônias. Com a acumulação de capital na forma dos metais preciosos o Estado espanhol aumentou sua        renda, mas também seus gastos, provocando inflação e constante deficit na balança comercial ­ com os        preços internos inflacionados, o caminho natural da economia foi aumentar as importações e diminuir as        exportações.

A decadência da metrópole espanhola que se acentuou no século XVII prejudicou o        desenvolvimento da colônia, que não pode por si só construir uma economia forte e autosuficiente, não        houve incentivos a produção agrícola ou de manufaturas internamente, esses itens eram importados da        metrópole que passava por dificuldades.

Cap. IV Desarticulação do sistema

O sistema de monopólio do açúcar português foi desarticulado quando Portugal foi submetido        ao Reino da Espanha durante a União Ibérica. Holanda dominava o comércio das rotas marítimas e        desempenhou papel importantissimo no financiamento e desenvolvimento da empresa agrícola        portuguesa no Brasil. Estando Portugal dominado por Espanha, os holandeses então travaram uma        disputa com os espanhóis para o domínio do comércio do açúcar que culminou na ocupação holandesa        em parte da região produtora no Brasil por 25 anos.

Esse quarto de século foi suficiente para os dominadores holandeses adquirirem familiaridade        com os meios de organização e as técnicas de produção da indústria açucareira brasileira, o que        culminou no desenvolvimento de uma indústria concorrente implantada no Caribe pelos holandeses no        século XVII. A concorrência baixou o preço do açúcar no mercado e o Brasil perdeu volume de        exportações e teve a renda real reduzida a 25% do que havia sido na época da alta rentabilidade.

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Cap. V As colônias de povoamento do hemísferio norte

No século XVII antes da implementação da empresa açucareira dos holandeses nas ilhas do        Caribe, França e Inglaterra disputavam as terras das Antilhas como estratégia militar para atacar os        domínios da Espanha e se apoderarem da área mineradora que enriqueceu o Estado espanhol.

Esta disputa entre as duas potências provocou um clima de instabilidade política e religiosa nas      1  ilhas e promoveu migrações para o interior do continente e para o exterior o que explica em parte a        expansão da ocupação inglesa pela América Central.

Cap. VI Consequências da penetração do açúcar nas Antilhas

A instalação dos franceses e ingleses nas Antilhas promoveram o êxito de produção de        produtos tropicais (fumo, anil, algodão e café) e os objetivos políticos da ocupação foram deixados de        lado por necessidade de ter uma produção econômica lucrativa para as Metrópoles. Paralelamente, no        Brasil predominava o monopólio do açúcar que foi fortemente afetado pela expulsão dos holandeses do        Nordeste brasileiro que encontraram nas ilhas do Caribe o cenário perfeito para o desenvolvimento da        empresa açucareira concorrente.

A instalação francesa e inglesa na América Central anteriormente preparou o terreno para a        Holanda iniciar a produção açucareira, fornecendo ajuda técnica e financiamentos para os colonos        comprarem equipamentos e escravos e desenvolverem a indústria. Além de contar com a posição        estratégica das ilhas, mais perto da Europa e com amplo acesso ao mar.

As grandes propriedades açucareiras desmantelaram as pequenas propriedades de        abastecimento que haviam nas ilhas provocando o êxodo dos pequenos proprietários para o norte da        América.

Nas colônias inglesas da América então passaram a predominar dois tipos de propriedades: as        grandes propriedades ao Sul e as pequenas propriedades ao Norte, cada uma com características        próprias.

As grandes propriedades do Sul se assemelhavam as propriedades brasileiras de açúcar:        mão­de­obra por servidão temporária e, posteriormente, escrava, concentração de renda nas mãos       

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dos proprietários das fazendas e a política dominada por grupos financeiros de comum acordo com os        interesses da metrópole. As pequenas propriedades do Norte eram auto­suficientes, apresentavam        menor concentração de renda já que a produção estava nas mãos de mais pessoas e a política era        dominada por grupos preocupados com a eficiência comercial, portanto, sem afinidade com os        interesses da metrópole inglesa.

Cap. VII Encerramento da etapa colonial

Mesmo com as desavenças com as colônias do Norte a Inglaterra se firmou como a grande        potência européia na segunda metade do século XVII, no auge do imperialismo, principalmente pela        situação vantajosa em que esteve com os muitos acordos feitos entre os ingleses e portugueses.

Com o final da União Ibérica (1640), Portugal se encontrava economicamente desorganizado e        militarmente enfraquecido, unir­se com a forte nação da Inglaterra era a oportunidade de se defender        de Espanha e Holanda ­ os espanhóis não reconheciam a independência do Reino de Portugal e os        holandeses recusaram os acordos de paz propostos pelo reino lusitano.

Os acordos firmados entre Portugal e Inglaterra deixaram os ingleses em melhor situação ­ com        vantagens econômicas e acesso direto ao comércio interno das colônias e em troca os ingleses        ofereciam ajuda militar na defesa da Metrópole ­ colocando Portugal numa relação de dependência        econômica e política da Inglaterra.

Mas os acordos políticos e militares firmados pela Metrópole não resolveu a decadência        econômica da produção açucareira na colônia, a solução só começou a despontar com a descoberta        de ouro na região das Minas no início do século XVIII.

O ouro brasileiro trouxe alguma vantagem para o Brasil, quase nenhuma para Portugal e o        triunfo econômico para a Inglaterra que por conta de um acordo garantia o envio da remessa de        riquezas portuguesas para os cofres ingleses e obrigou os lusitanos renunciarem qualquer produção        manufatureira dentro dos seus domínios. O que fez o reino inglês concentrar reservas, enriquecer        internamente e desenvolver a indústria de manufaturas. Para o Brasil houve a expansão territorial para        dentro do país à procura de ouro e para Portugal restou a riqueza aparente, assim como a Espanha no        início da colonização, em que era dona de riquezas, mas estava sufocada por problemas econômicos e       

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pela dominação inglesa em sua economia.

Uma das únicas vantagens que os acordos anglo­lusitanos do século XVII e início do século        XVIII ofereceu aos portugueses foi a Inglaterra ter garantido a participação de Portugal na Conferência        de Utrecht , que garantiu benefícios como a renúncia da França sobre a navegação e comércio do Rio  2        Amazonas e a cessão da Colônia de Sacramento por parte da Espanha que posteriormente se tornam        importantes na definição das fronteiras do Brasil .3

No final do século XVIII Portugal e Inglaterra estavam em situações diferentes. A Inglaterra já        havia iniciado a Revolução Industrial e por conta do desenvolvimento do capitalismo industrial, os        ingleses viram a necessidade de romper com qualquer acordo que impedisse a expansão da livre        concorrência e da eficiência de sua economia. Portugal foi grandemente afetado por essa decisão e teve        o subsídio que era cedido ao vinho português no território inglês revogado e o Brasil esbarra na        decadência da produção aurífera.

Em 1810 Inglaterra e Portugal firmam o Tratado de Comércio e Navegação . Inglaterra viu na      4      colônia portuguesa do Brasil uma situação mais favorável a aumentar a rentabilidade e para manter os        mesmos privilégios que tinham junto aos portugueses incentiva fortemente a independência da colônia.        Em 1827, o governo independente do Brasil promove a Inglaterra a nação privilegiada, rebaixando sua        soberania econômica. Esta relação de submissão com a Inglaterra só acaba quando expira, em 1844 ,      5

o contrato de 1827 entre as duas nações. O Brasil retoma a liberdade de tomar medidas econômicas a        seu favor, como elevar as tarifas e aumentar o excedente do governo.

Em grande medida esses acordos entre Portugal e Inglaterra, e posteriormente entre Inglaterra        e Brasil, que na pratica se mostraram quase unilaterais, prejudicaram o desenvolvimento do Brasil no        século XIX, juntamente com a permanência da estrutura escravocrata na economia, que não provoca        tensões internas, mesmo com uma economia dinâmica como a cafeeira e o início das relações        comerciais com os EUA.

O ponto derradeiro para o desenvolvimento brasileiro e o rompimento com a estrutura colonial       

2 Utrecht

3 Tratado de Madri

4 Tratado de Comércio e Navegação

5 O contrato acabaria em 1842, mas a Inglaterra conseguiu reverter a seu favor uma claúsula dúbia e estendeu o prazo por mais dois anos.

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foi o nascer das tensões internas quando a economia cafeeira entra em crise e o surgimento de uma        economia autonôma começa a despontar.

Referências

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