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TEOREMAS EM AÇÃO MOBILIZADOS POR ALUNOS DO 8º ANO NA COMPARAÇÃO DE ÁREAS

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TEOREMAS EM AÇÃO MOBILIZADOS POR ALUNOS

DO 8º ANO NA COMPARAÇÃO DE ÁREAS

Jailson Cavalcante de Araújo

Valéria Aguiar dos Santos; Anderson Douglas Pereira

Rodrigues da Silva; Thiago Cavalcanti Azevedo; Maria

Manuela Figuerêdo Silva

Theorems in Action Mobilized by Students of the 8th Year in the

Comparison of Areas

Resumo

Este artigo tem por objetivo analisar como alunos do 8º ano do Ensino Fundamental lidam com

a comparação de áreas de paralelogramos (quadrados, retângulos, losangos e paralelogramos

não retângulos e não losangos). A fundamentação teórica apoia-se na Teoria dos Campos

Conceituais de Vergnaud (1990) e seus colaboradores. Adota-se o modelo de área como

grandeza autônoma, proposto por Douady e Perrin-Glorian (1989) e as situações que dão

sentido ao conceito de área, desenvolvidas por Baltar (1996), mais especificamente a situação

de comparação de áreas. Nos procedimentos metodológicos, realizou-se a aplicação de uma

questão a alunos do 8º ano de uma escola pública municipal. Como resultados, percebeu-se

uma predominância do quadro numérico quanto à utilização de materiais disponíveis e

concepções geométricas e numéricas mobilizadas isoladamente. Foram identificados teoremas

em ação verdadeiros, tais como figuras diferentes podem ter mesma área e figuras em

posições diferentes podem ter mesma área; e falsos como, por exemplo: a área é

independente do tamanho da figura, figuras diferentes têm áreas diferentes, se os lados são diferentes, a área também é diferente.

Palavras-chave:Paralelogramos. Comparação de áreas. Teoremas em ação.

Abstract

This article aims to analyze how students from the 8th year of Elementary School deal with the

comparison of areas of parallelograms (squares, rectangles, lozenges and parallelograms not

rectangles and not lozenges). The theoretical foundation is based on the Theory of Conceptual

Fields of Vergnaud (1990) and his collaborators. It adopts the area model as autonomous

magnitude, proposed by Douady and Perrin-Glorian (1989) and the situations that give meaning

to the concept of area, developed by Baltar (1996), more specifically the situation of comparison

of areas. In the methodological procedures, an issue was applied to students of the 8th year of

a municipal public school. As results, it was noticed a predominance of the numerical framework

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Educação e Tecnologia em Tempos de Mudança | 2

isolation. True theorems have been identified in action, such as different figures may have same

area and figures in different positions may have same area; and fake, such as: the area is

independent of the size of the figure, different figures have different areas, if the sides are

different, the area is also different.

Keywords:​ Parallelograms. Comparison of areas. Theorems in action. Introdução

Discutimos neste artigo aspectos relacionados a teoremas em ação mobilizados por alunos

brasileiros ao responder atividades de comparação de área de paralelogramos (quadrados,

retângulos, losangos e paralelogramos não retângulos e não losangos). Utilizamos a Teoria dos

Campos Conceituais elaborada por Vergnaud (1990) e seus colaboradores, bem como nos

apoiamos no modelo de área enquanto grandeza autônoma, proposto por Douady e

Perrin-Glorian (1989).

Douady e Perrin-Glorian (1989) apontam que no estudo da noção de área como uma

grandeza autônoma é preciso articular e distinguir três quadros: o geométrico, o numérico e o

das grandezas. Essas autoras consideram que um quadro é constituído por objetos de um

ramo matemática, de suas formulações eventualmente diversas, das relações entre esses

objetos, e das imagens mentais que o sujeito associa a um momento dado aos objetos e suas

relações.

Ressaltamos também a importância do estudo da noção de área, conforme os Parâmetros

na sala de aula (PERNAMBUCO, 2013, p. 138) que “é importante que o estudante diferencie

objeto, grandeza e medida dessa grandeza”.

Baltar (1996) categorizou um conjunto de situações que dão sentido ao conceito de área e

contribuem para a construção dele como uma grandeza. São elas: comparação de áreas,

medida de áreas e produção de superfícies. Neste trabalho, daremos ênfase a situação de

comparação de áreas. Segundo Bellemain (2000, p. 7), as situações de comparação estão

situadas em torno do quadro das grandezas, pois “quando comparamos duas superfícies

somos conduzidos a decidir se elas pertencem ou não a uma mesma classe de equivalência”.

E será esse tipo de situação que discutiremos nesse texto.

Adotamos a Teoria dos Campos Conceituais como marco teórico neste estudo e que

discutiremos o que vem a ser situações que dão sentido ao conceito de área na sessão

seguinte.

Enquanto escolha metodológica, optamos por trabalhar com alunos do 8º ano do Ensino

Fundamental por, muito possivelmente, já terem vivenciado diversas situações relativas ao

conteúdo escolar área de figuras planas. Nos Parâmetros para a Educação Básica do Estado

de Pernambuco – (PERNAMBUCO, 2012), esse conteúdo deve ser trabalhado a partir do 3º

ano do Ensino Fundamental. Mesmo sendo iniciado os estudos nos primeiros anos de

escolaridade, é comum surgirem dificuldades e dúvidas dos alunos ao chegarem na segunda

etapa da educação básica, os anos finais, quando se diz respeito ao trabalho com situações

envolvendo o cálculo de área de determinada figura plana, à unidade de medida mais

apropriada para expressar as áreas, às fórmulas que se deve usar, entre outras.

Diante do exposto, temos a seguinte questão de pesquisa: quais teoremas em ação são

mobilizados por alunos do 8º ano do Ensino Fundamental quando lidam com atividades de

comparação de áreas de paralelogramos? Buscando atender a questão proposta, elencamos

como objetivo geral analisar como alunos do 8º ano do Ensino Fundamental lidam com a

comparação de áreas de paralelogramos (quadrados, retângulos, losangos e paralelogramos

não retângulos e não losangos). Mais especificamente, identificar teoremas em ação

mobilizados por estudantes do 8º ano ao responderem uma situação de comparação de área

que possuem diferentes paralelogramos.

Este artigo está estruturado da seguinte forma: inicialmente temos a introdução, ora

apresentada. Depois a parte teórica, que se inicia pela Teoria dos Campos Conceituais seguida

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Educação e Tecnologia em Tempos de Mudança | 3

aos aspectos metodológicos da pesquisa. Logo após, apresentamos a análise e discussão dos

resultados, algumas considerações finais seguidas das referências.

Referencial Teórico

Alguns elementos da Teoria dos Campos Conceituais

A Teoria dos Campos Conceituais, doravante TCC, construída por Gérard Vergnaud (1990) e

seus colaboradores tem por objetivo discutir o comportamento cognitivo do sujeito diante de

situações de aprendizagem. Em nosso caso específico, essas situações se voltam para a

comparação de áreas de diferentes paralelogramos.

Segundo a TCC, o conceito ​(C) é visto por um tripé indissociável: ​C = (S, IO, R)​, no qual ​(S)

é o conjunto das Situações que dão sentido ao conceito; ( ​IO) o conjunto dos Invariantes

Operatórios (teoremas em ação e conceitos em ação); e ​(R) o conjunto das Representações

Simbólicas. Procuraremos exemplificar brevemente com o conceito de área, ou seja, não basta

apenas definir: área de uma figura plana é..., faz-se preciso considerar um conjunto: de

situações que deem sentido à noção de área (conforme mencionado: comparação, medida,

produção); de invariantes operatórios, que são os teoremas em ação (alguns desses serão

exemplificados mais adiante) e conceitos em ação mobilizados nas tarefas sobre área e, por

último e não menos importante, de representações simbólicas utilizadas no tratamento das

situações que envolvem esse conceito.

É nos invariantes operatórios, mais especificamente nos teoremas em ação, que concentraremos nossos estudos. Podem ser entendidos como uma proposição considerada

verdadeira pelo sujeito, porém pode ser falsa para o domínio da matemática, cuja solução de

um problema depende da sua ativação. De acordo com Vergnaud (1986, p. 81) “[...] um

invariante é uma propriedade ou uma relação que é conservada sobre um certo conjunto de

transformação”. Esse autor considera que há três tipos de invariantes operatórios: proposições

(teoremas em ação) que são suscetíveis de serem verdadeiros ou falsos; função proposicional

(conceitos em ação) os quais não são suscetíveis de serem verdadeiros ou falsos, podem ser

apenas pertinentes ou não; e argumento que, em matemática, pode ser números, relações,

etc., o qual se refere ao uso dos dois tipos anteriores, e ele aponta que quem diz função

proposicional e proposição, diz argumento.

Segundo Vergnaud (1998) a escolha da informação na qual iremos operar e a sequência de

cálculos a serem realizadas se baseiam em teoremas em ação. Ele enfatiza que os conceitos

em ação são relevantes, ou não relevantes, ou mais ou menos relevantes, ao identificar e

selecionar uma informação, porém isso é diferente de verdade e falsidade. Para ele não faz

sentido dizer que os conceitos matemáticos de triângulo, número, simetria, ou outros são, neles

mesmos, verdadeiros ou falsos, e ainda assim esses conceitos são relevantes para caracterizar

representação e ação em tarefas matemáticas. Já os teoremas em ação podem ser

verdadeiros ou falsos.

Os teoremas em ação falsos ajudam a compreender os erros cometidos pelos alunos. Por

exemplo, quando notamos que o aluno mobiliza que “dois paralelogramos que possuem

mesma área, possuem o mesmo perímetro”, ele está usando um teorema em ação falso para

determinada situação posta. Esse é um exemplo de um invariante operatório do tipo

proposição, para justificar as operações realizadas para resolver uma determinada atividade. É

nesse cenário que se torna importante o trabalho do professor, pois é por meio da explicitação

do conhecimento implícito que ele entra como mediador, para tornar progressivamente esses

teoremas e conceitos em ação em teoremas e conceitos científicos que serão verdadeiros para

quaisquer situações propostas.

De acordo com a TCC, existe uma relação dialética entre conceitos em ação e teoremas em

ação, já que conceitos são ingredientes dos teoremas, e teoremas são propriedades que dão

conteúdo aos conceitos. Vergnaud (1994) aponta que as ideias de teoremas em ação e

conceitos em ação são desenvolvidas para enfatizar que nós precisamos de conceitos e

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Educação e Tecnologia em Tempos de Mudança | 4

Área como grandeza autônoma

O trabalho de Douady e Perrin-Glorian (1989) propõe um modelo epistemológico para a

construção do conceito de área enquanto grandeza autônoma. Ele apresenta alguns erros e

dificuldades encontrados nos alunos franceses e propõe uma intervenção. Um fato observado

por essas pesquisadoras diz respeito aos alunos terem dificuldade em expressar a área de

uma superfície (​Σ​), quando uma superfície unitária (U) possui um formato que não permite

ladrilhar efetivamente a superfície ( ​Σ​), usando uma quantidade finita inteira de superfícies

unitárias (U), por exemplo: os alunos apresentam dificuldades em admitir que a área de um

triângulo seja apresentada tomando como unidade de medida o quadrado, pelo fato de não

podermos ladrilhar completamente um triângulo em uma quantidade de quadradinhos inteiros.

Assim, com o propósito de descrever erros e dificuldades detectados, Douady e

Perrin-Glorian (1989) indicam que são provocados pelos modos como os alunos associam área

e perímetro, quando resolvem problemas relacionados a esses conteúdos. Essa associação,

ora apenas a números ora a superfícies, as autoras denominam de “concepções”, sendo,

então, apresentadas como um modelo explicativo desses erros e dificuldades dos alunos. Além

disso, as pesquisadoras propõem uma classificação das concepções de área em dois polos:

concepção forma, também chamada concepção geométrica; e concepção número ou, também

intitulada, concepção numérica.

Ao mobilizar uma concepção geométrica o aluno entende que se mudar a superfície de uma

figura então sua área também se altera. Como consequência, em uma determinada situação,

ao decompor uma figura e recompor em outra diferente, sem perda nem sobreposição, o aluno

compreende que esta nova figura possui área diferente da anterior. De acordo com a TCC,

interpretamos a proposição: superfícies diferentes devem necessariamente ter áreas diferentes,

como um teorema em ação falso.

Nas situações em que se constatam a concepção numérica, os alunos consideram apenas

os aspectos pertinentes ao número, levando-os a fazer extensões incorretas de fórmulas,

omissão e/ou utilização inadequada das unidades de medida.

Embora não tenham como marco teórico a TCC, notamos sob a ótica desta teoria, que

Régine Douady e Marie-Jeanne Perrin-Glorian (1989) perceberam alguns teoremas em ação

errôneos comuns nos alunos ao trabalharem com o conceito de área, tais como:

● a variação da área e do perímetro no mesmo sentido, ou seja, se a área de certa

figura aumenta ou diminui, seu perímetro também se altera ou vice-versa;

● superfícies de mesma área têm mesmo perímetro;

● calcular a área de um paralelogramo a partir do produto das dimensões dos seus

lados;

● multiplicar as três dimensões dos lados de um triângulo para calcular a sua área, entre

outros.

A abordagem elaborada por Douady e Perrin-Glorian (1989) corresponde a distinguir e

articular três quadros: o quadro geométrico, o quadro numérico e o das grandezas. Mais

especificamente, temos:

● Quadro Geométrico: constituído por superfícies planas.

Exemplos: as figuras planas, triângulos, quadriláteros, dentre outros.

● Quadro Numérico: consistindo nas medidas da área das

superfícies, que pertencem ao conjunto dos números reais não negativos. Exemplos: 2; 4; 7,5; dentre outros.

● Quadro das grandezas: contexto próprio da noção de área,

que integra os dois primeiros e é caracterizado formalmente como

classes de equivalência de superfícies de mesma área. Exemplos:

expressões compostas de um número e de uma unidade de medida

como 2m2​, dentre outros (BELLEMAIN; LIMA, 2002, p. 28 e 29).

A proposta apresentada por Douady e Perrin-Glorian (1989) traz como exigência a

diferenciação nítida dos conceitos de área e superfície, da mesma forma que entre área e

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Educação e Tecnologia em Tempos de Mudança | 5

Figura 1 – ​Superfícies diferentes com áreas iguais Fonte:​ elaborada pelos autores

Como percebemos, as figuras são diferentes e as áreas são iguais a 9 cm 2​. De forma

análoga, poderíamos pensar em dois paralelogramos, losangos por exemplo, que podem

apresentar medidas de área diferentes. A medida de área, isto é, o número associado a ela,

mudaria se quiséssemos escrevê-la, por exemplo, em milímetros quadrados, 900 mm2​, ou

qualquer outra unidade de área, porém a área das figuras permaneceria a mesma. Ou seja,

poderíamos representar de maneiras diferentes, porém equivalentes, o par (número, unidade

de medida) e, mesmo assim, designariam a mesma área.

Nesse sentido, podemos considerar a área de uma figura como sendo um atributo dessa

figura, que independe da superfície, pois superfícies diferentes podem ter mesma área, bem

como do número associado a ela, pois diferentes números podem se referir a mesma área,

basta termos as unidades de medidas adequadas.

Vejamos agora um exemplo de uma situação de comparação de áreas, a qual é foco do

nosso estudo:

Figura 2 – ​Situação de comparação de áreas Fonte:​ Santos (2005, p. 92, adaptado)

Temos na figura acima um exemplo de uma situação de comparação de áreas sem dados

numéricos. Esse tipo de situação contribui para a construção do conceito de área como uma

grandeza autônoma, pois, além de evidenciar que figuras diferentes podem ter mesma área,

favorece a utilização de diversos procedimentos para compará-las, tais como decomposição e

recomposição, sobreposição, entre outros, diminuindo a força do campo numérico que

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Educação e Tecnologia em Tempos de Mudança | 6

Metodologia

Essa pesquisa apresenta uma análise de abordagem qualitativa, pela qual se trata de priorizar

a qualidade do processo abordado nos teoremas em ação mobilizados por alunos do 8º ano do

Ensino Fundamental na comparação de áreas, em uma escola pública municipal situada no Recife/PE, escolhida por conveniência. Os participantes foram 21 alunos dessa escola, com

idades de 11 a 17 anos, para os quais espera-se que já tenham vivenciado diversas situações

relativas ao conceito de área, conforme vimos nos documentos de orientação curricular

apresentados na introdução deste trabalho. Eles tiveram duas aulas, ou seja, cem minutos para

realizar a atividade proposta. Buscando preservar a identidade de cada sujeito pesquisado, os

alunos serão representados por uma letra e um número, ou seja, A1 à A21.

O instrumento de coleta de dados foi um teste contendo uma questão de comparação de área de paralelogramos em diferentes malhas quadriculadas, no qual as figuras não contemplavam dados numéricos explícitos, conforme veremos logo abaixo. Vale salientar que na questão aplicada aos alunos, todas as figuras estavam em verdadeira grandeza, ou seja,

em tamanho real, e que foram disponibilizados papel quadriculado cujos quadradinhos

possuíam um centímetro de lado, e pontilhado com a distância entre um ponto e seu sucessor

medindo também um centímetro, e régua graduada. Vejamos detalhadamente a questão aplicada:

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( ) As figuras A e B possuem mesma área.

Explicação:___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________

(8)

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( ) As figuras A e G possuem mesma área.

Explicação:___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ( ) As figuras A e C possuem mesma área.

Explicação:___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ( ) As figuras E e F possuem mesma área.

Explicação:___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ( ) As figuras F e H possuem mesma área.

Explicação:___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ( ) As figuras A e D possuem mesma área.

Explicação:___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________

Figura 3 -​ Questão aplicada aos alunos do 8º ano do Ensino Fundamental

Fonte:​ elaborada pelos autores

Esta é uma situação de comparação em que as medidas das áreas não são fornecidas,

portanto a ênfase está na relação de equivalência: ter mesma área. Optamos pela utilização de

figuras em malhas diferentes pela possível diversidade de respostas ao se levar em conta o

aspecto numérico e o geométrico. Nesse sentido, o aluno deverá responder seis afirmações

sobre comparação das áreas dessas figuras, sendo três comparações entre figuras dispostas

em malha de mesma dimensão (A e G), (A e C) e (F e H). Outras três com figuras dispostas em

malhas de tamanhos diferentes (A e B), (E e F) e (A e D). As comparações (A e G) e (A e C)

são na malha de um centímetro de lado de quadradinho. Enquanto que a comparação (F e H),

por exemplo, é entre figuras dispostas na malha de meio centímetro de lado de quadradinho. As figuras que estão na malha quadriculada de um centímetro de lado possuem as

seguintes áreas, cada uma: A e G possuem 8 cm ​2​; C e E têm 4 cm 2​. Em relação às que estão

na malha de meio centímetro de lado, temos: a figura B possui área 2 cm 2​; D tem 8 cm 2​; F e H

com 4 cm2 ​cada.

As respostas corretas esperadas seriam aquelas em que o aluno assinala (V) verdadeiro

nas afirmações que apontam as figuras: A e G; E e F; F e H; A e D como figuras que possuem

mesma área. Nas demais sentenças deve assinalar (F) falso, ou seja, as figuras: A e B; A e C

não possuem mesma área.

As explicações dadas nas respostas dos alunos podem fornecer elementos importantes para identificarmos os invariantes operatórios mobilizados ao realizar as comparações.

No seguinte procedimento para comparação das áreas entre as figuras A e B, caso o aluno

responda que elas possuem mesma área, justificando pelo fato delas terem a mesma

quantidade de quadradinhos, isso pode revelar a prevalência do aspecto numérico e a não

consideração das unidades de medida diferentes. Por outro lado, caso o aluno responda que

elas possuem mesma área pelo fato de serem retângulos semelhantes, isso revela prevalência

do aspecto geométrico. Tomemos outra comparação entre as áreas das figuras F e H, o aluno

terá sucesso ao contar os quadradinhos, ao usar a fórmula, ao fazer decomposição e

recomposição e, mesmo diante dessa variedade de procedimentos que conduzem à resposta

correta, poderá cometer erros considerando a mais “comprida” ou a mais “larga” como tendo

maior área.

O fato de a comparação consistir na sentença: ter mesma área, sendo levado em

consideração o aspecto geométrico, pode emergir teoremas em ação, tais como superfícies

diferentes devem necessariamente ter áreas diferentes, como apresentado em nossa fundamentação teórica. Por outro lado, sendo evidenciadas justificativas relacionadas ao

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aspecto numérico, que podem ser por extensão indevida ou uso incorreto de fórmulas, bem como a não consideração do espaço ocupado.

Resultados

Em relação às respostas, todos os alunos tiveram acertos parciais, considerando como acerto

parcial a resolução correta de parte da questão e/ou alguns dos seus itens, ou seja, nenhum

deles errou ou acertou completamente a atividade. Dos materiais disponibilizados, a régua foi a

mais solicita, um total de nove alunos a solicitaram, enquanto que apenas um pediu papel

branco e outro pontilhado.

A partir de agora, focaremos nos invariantes operatórios mencionados e que pelo fato do

aluno ter feito menção, considera-se que ele o mobilizou, porém ele talvez não tenha sido o

único mobilizado para aquela resposta. Enfatizaremos os teoremas em ação, embora os conceitos em ação estão presentes neles.

A seguir listaremos os teoremas em ação e a quantidade de alunos que mobilizaram tal

teorema e, posteriormente, alguns protocolos para exemplificação.

Teoremas em ação Alunos

Verdadeiros

Figuras diferentes podem ter mesma área A7

Figuras em posições diferentes podem ter mesma área A8

Falsos

A área é independente do tamanho da figura A1, A7

Se os lados são diferentes, a área também é diferente A1

Figuras diferentes têm áreas diferentes A19

Figuras de mesma forma possuem mesma área, independentemente do tamanho

A3

A ampliação e/ou redução conserva a área

A13, A14, A15, A18, A19

Figuras de ângulos diferentes possuem áreas diferentes A15, A21

Para que figuras tenham mesma área é preciso ter “algo a ver” uma com a outra

A16

Quadro 1 – ​Resumo dos teoremas em ação identificados

Fonte:​ Dados da pesquisa

De acordo com o quadro acima, percebemos que um mesmo aluno mobilizou teoremas em

ação diferentes, verdadeiros e falsos, como é o caso do aluno A7, ou todos falsos, aluno A15,

por exemplo.

Vejamos os protocolos dos teoremas em ação verdadeiros.

Figura 4 –​ Exemplo de um teorema em ação verdadeiro: figuras diferentes podem ter mesma

área

Fonte:​ Protocolo A7

Notamos que o aluno acerta a comparação e mobiliza um teorema em ação verdadeiro.

Embora ele use a palavra desenho, acreditamos que esteja se referindo à figura. No modelo

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representação gráfica de uma ideia, que se diferencia do objeto geométrico por poder possuir imperfeições.

Figura 5 –​ Exemplo de um teorema em ação verdadeiro: figuras em posições diferentes podem

ter mesma área

Fonte:​ Protocolo A8

Notamos, a partir da explicação, que o aluno compreende que a área de uma figura

independe da sua posição, o que o leva a mobilizar um teorema em ação verdadeiro (figuras

em posições diferentes podem ter mesma área) e a acertar a comparação.

Vejamos alguns protocolos de teoremas em ação falsos mobilizados pelos alunos. Iniciamos

pelo de maior frequência, ou seja, aproximadamente 24% mobilizaram este teorema.

Figura 6 –​ Exemplo de um teorema em ação falso: a ampliação e/ou redução conserva a área Fonte:​ Protocolo A18

Percebemos que o aluno entende que elas possuem tamanhos diferentes, pois se refere a

maior e menor, mas pelo fato de as figuras envolvidas na comparação serem semelhantes, ele

acredita que reduzindo, no caso da figura B, ou aumentando-a, no caso da A, a área

permanece invariante, o que o leva ao erro na comparação e a mobilização desse teorema em

ação falso.

Figura 7 –​ Exemplo de um teorema em ação falso: figuras diferentes têm áreas diferentes

Fonte:​ Protocolo A19

Este fato é também observado na pesquisa de Silva (2016) e é um teorema em ação que

nos leva a pensar na sua recíproca que também é falsa, ou seja, figuras iguais possuem

mesma área. Conforme vimos na nossa fundamentação, podem possuir ou não, por isso ocorreu o erro ao comparar tais figuras.

Figura 8 –​ Exemplo de um teorema em ação falso: para que figuras tenham mesma área é

preciso ter “algo a ver” uma com a outra

Fonte:​ Protocolo A16

Além dos teoremas em ação acima apresentados, os alunos levaram em consideração

outros aspectos para comparar as figuras, tais como o numérico (contagem de quadradinhos)

alunos A2, A6, A9, A11, A12, A15, A16, A20 e o geométrico (figura “mais comprida”, “mais

larga”, formato triangular, quadrangular) alunos A3, A5, A10, A12, A13, A14, A17.

Considerações Finais

Inicialmente tínhamos o objetivo de analisar como alunos do 8º ano do Ensino Fundamental

lidam com a comparação de áreas de paralelogramos. Mais especificamente, identificar

teoremas em ação mobilizados por estudantes do 8º ano ao responderem uma situação de

comparação de área que possuem diferentes paralelogramos.

A partir da aplicação da questão e análise dos resultados percebemos concepções

geométricas e numéricas mobilizadas isoladamente, conforme apontado por Douady e

Perrin-Glorian (1989).

Sob a ótica Teoria dos Campos Conceituais foi possível identificar teoremas em ação

verdadeiros, tais como figuras diferentes podem ter mesma área e figuras em posições

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tamanho da figura, a ampliação e/ou redução conserva a área, figuras diferentes têm áreas

diferentes, entre outros.

Em alguns casos seria necessária a realização de uma entrevista para poder compreender

o raciocínio e validar ou refutar nossa interpretação sobre a possível mobilização de um

teorema em ação. Um exemplo seria entrevistar o aluno A16 para entender esse “nada a ver”

que ele se refere.

Por fim, sugerimos que sejam efetivamente realizadas intervenções que contribuam para o

processo de ensino e aprendizagem do conceito de área, no sentido de contribuir para melhor

compreensão e utilização desse conceito, e transformar progressivamente esses teoremas em

ação falsos em verdadeiros teoremas científicos.

Referências

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Referências

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