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Palavras - chave: Estupro, Vulnerável, Tipo Penal, Retroatividade da Lei.

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ESTUPRO E ESTUPRO DE VULNERÁVEL À LUZ DA LEI N. 12.015/2009, SEU

TIPO PENAL E A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA LEI N. 12.015/2009 AOS

CASOS OCORRIDOS E JULGADOS ANTES DE SUA VIGÊNCIA.

RAPE AND LAW OF LIGHT TO VULNERABLE TO RAPE N. 12,015 / 2009 , YOUR

TYPE AND CRIMINAL LAW ENFORCEMENT POSSIBILITY N. 12,015 / 2009 TO

OCCURRED CASES AND JUDGED BEFORE YOUR TERM.

MARIA LÍCIA ANDRADE SOUZA FERONATO

1

LUIZ FERNANDO CASSILHAS VOLPE

2

RESUMO

O presente artigo aborda os artigos 213 e 217-A ambos do Código Penal, com a finalidade de analisar as peculiaridades que cada um desses tipos penais possui, sendo dada maior ênfase no tocante à vulnerabilidade e presunção de violência do delito de estupro de vulnerável e, ainda, no que diz respeito ao embate doutrinário e jurisprudencial acerca do tipo penal dos crimes, analisados: se é tipo misto alternativo ou cumulativo. O objetivo deste estudo é expor e analisar as modificações introduzidas no ordenamento jurídico por meio da Lei n. 12.015/2009, bem como apontar as vantagens da aplicação da referida lei aos casos pretéritos. A fim de atingir tal objetivo, necessário é abordar o tema desde o período colonial até a culminação da reforma trazida na parte especial do Código Penal de 1940, por meio da Lei n. 12.015/2009. A metodologia utilizada para o levantamento de dados consiste no método qualitativo, utilizando-se, para tanto, da pesquisa bibliográfica. Para a fundamentação teórica, utilizam-se diversas obras doutrinárias de variados autores, dentre eles, Bitencourt (2015), Capez (2015), Jesus (2015), Füher (2011), Fayet (2011), Greco (2010), Greco Filho (2009), Noronha (1976), dentre outros, além de vasta pesquisa jurisprudencial. Neste trabalho, prevalecem as interpretações feitas a partir dos dados colhidos e, para isso, foi realizada uma pesquisa exploratória, com levantamento bibliográfico com base nos mencionados doutrinadores, além de outros, bem como em jurisprudências acerca do tema.

Palavras - chave: Estupro, Vulnerável, Tipo Penal, Retroatividade da Lei.

ABSTRACT

The present article addressed the articles 213 and 217-A both from the criminal code, aiming

to analyze the peculiarities that which of this penal types have, giving more attention to the

vulnerability and violence presumption in the rape of vulnerable crime, and in what concerns

1 Bacharel em Direito pela FADAF – Faculdade de Direito de Alta Floresta

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the doctrinal and jurisprudential discussion about the criminal type of the analyzed crimes: if

it is alternative mixed or cumulative. The goal of this study was to show and analyzed the

modifications introduced in the law by the Law number 12.015/2009, and also show the

advantages of this Law application in past cases. Trying to reach this goal, it was necessary to

pick this theme since the colonial period until the time that the Law in the special part of the

1940’s penal code was reformed, by the bibliographic research. To teoric grounding several

books writers were chose, among them is Bitencourt (2015), Capez (2015), Jesus (2015),

Fuher (2011), Fayet (2011), Greco (2010), Greco Filho (2009), Noronha (1976), and others,

besides this enormous jurisprudential research

Key – words: Raping, vulnerable, criminal time, retroactivity of the law.

INTRODUÇÃO

O Código Penal vigente no Brasil foi criado em 1940, pelo Decreto Lei n. 2.848 de 07 de Dezembro de 1940, portanto, há mais de meio século, sendo que, diferentemente do Direito Civil Brasileiro, não sofreu grandes alterações no decorrer do tempo, mormente no que concerne à parte especial, embora nesse período tenham ocorrido inúmeras e gritantes transformações no comportamento da sociedade em geral.

Contudo, observa-se um maior clamor da sociedade, no sentido de adequar o ordenamento jurídico pátrio à nova realidade, que ocorreu com a evolução do tempo. Esse clamor é peculiarmente direcionado à seara penal, pois, o Diploma Penal tornou-se incompatível com os novos tempos vividos e, concomitantemente, com a nova geração, tanto é que, não raro se verificam iniciativas populares no sentido de modificar, e até mesmo, agravar penas e incluir crimes horrendos como hediondos.

Em relação aos repugnantes crimes sexuais, objeto do presente trabalho, deve-se ponderar que tais delitos estão cada dia mais presentes no meio da sociedade, uma vez que qualquer um pode ser vítima de crimes dessa natureza, o que justifica a preocupação da sociedade como um todo, já que se tem percebido o significativo aumento no número desses crimes, sendo muito deles praticados contra menores dentro do próprio seio familiar.

Destarte, atendendo aos clamores sufragados pela sociedade, o legislador no ano de dois mil e nove (2009), aprovou a Lei n. 12.015/2009, que entrou em vigor em 10 de agosto de 2009, e alterou a parte especial do Código Penal, que trata dos crimes contra a dignidade sexual, a começar pelo título, que passou a ser “Dos Crimes contra a Dignidade Sexual”, denotando maior importância ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, e ainda, deu particular atenção ao desenvolvimento sexual do menor de 18 (anos), e com maior zelo, ainda, do menor de 14 (catorze) anos, tendo em vista que são pessoas incapazes de externar consentimento racional e seguro de forma plena, tendo em vista que tais pessoas ainda estão em desenvolvimento, razão pela qual gozam de proteção integral conforme previsto no Estatuto da Criança e Adolescente, e, ainda, aqueles enfermos, doentes mentais e que não podem oferecer resistência.

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--- Diante do grande número de abusos sexuais ocorrido neste país e no mundo, percebe-se a relevância do tema, pois se trata de uma questão polêmica e de interesse da sociedade, além de ser um assunto atual, que faz jus a um estudo aprofundado e específico.

Por essa razão, o presente trabalho se destina ao estudo de “Estupro e Estupro de Vulnerável à Luz da Lei n. 12.015/2009, Seu Tipo Penal e a Possibilidade de Aplicação da Lei n. 12.015/2009 aos Casos Ocorridos e Julgados Antes de Sua Vigência”, e, para que haja um maior entendimento do tema proposto, é essencial analisar de forma pontual e precisa o contexto da Lei 12.015/2009, enfatizando as principais inovações introduzidas no Código Penal Brasileiro no que diz respeito aos crimes contra a dignidade sexual.

Vale ressaltar que a Lei acima citada foi criada com intuito de acompanhar a realidade vivida pelas novas gerações, trazendo importantes mudanças, como, por exemplo, a introdução de uma nova figura típica no ordenamento jurídico brasileiro, denominada de estupro de vulnerável, como um tipo autônomo, que, juntamente com o crime de estupro, ganhou nova roupagem por meio da mencionada lei, o objeto central de estudo do presente trabalho.

Na primeira parte do presente trabalho, busca-se fazer uma abordagem sobre a evolução histórica do crime de estupro no Brasil, desde o seu surgimento no Código Imperial até os dias de hoje.

No segundo capítulo, o crime de estupro, previsto no artigo 213 do Código Penal, é o foco principal, e, neste capítulo, são vistas e explanadas, de modo sucinto, porém esclarecedor, as peculiaridades do referido delito dentro do contexto proposto pela Lei n. 12.015/2009, de modo especial no que concerne à sua nova redação e ainda à junção dos tipos penais previstos nos artigos 213 e revogado 214, ambos do Código Penal, em um mesmo tipo penal.

O crime de estupro de vulnerável previsto no artigo 217-A do Código Penal é tratado no terceiro capítulo, este capítulo é de suma importância no presente trabalho, pois aborda especificamente um novo tipo penal, introduzido pela Lei n.12.015/2009. Neste capítulo são estudadas as peculiaridades do delito de estupro de vulnerável, referido tipo penal e ainda suas elementares.

No quarto e último capítulo, é feita uma explanação acerca de tipo penal misto e concursos de crimes, a fim de embasar o objetivo principal do capítulo, que é a análise do tipo penal dos crimes previstos nos artigos 213 e 217-A, ambos do Código Penal, e a possibilidade de aplicação da Lei em comento aos casos ocorridos antes de 10 de agosto de 2009, já julgados e transitados em julgados.

E, por fim, demonstram-se os pontos conclusivos aferidos por meio do desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso.

2 CONCURSO DE CRIME NOS DELITOS DE ESTUPRO E ESTUPRO DE VULNERÁVEL E A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO ARTIGO 213 E 217-A AOS CASOS PRETÉRITOS

A antiga redação dos artigos 213 e 214, ambos do Código Penal, contemplavam dois crimes distintos, sendo eles: estupro e atentado violento ao pudor, respectivamente, de modo que existiam dois tipos penais autônomos, sendo que o primeiro se configurava com a conjunção carnal e o segundo, com qualquer ato libidinoso diverso da conjunção carnal.

Sobre isso, Masson (2014, p.14) ensina que:

Se alguém constrangesse a mesma vítima, mediante violência ou grave ameaça, a praticar conjunção carnal e outro ato libidinoso, a exemplo do sexo anal, a ele seriam imputados dois crimes: estupro e atentado violento ao pudor.

No caso de ocorrer a hipótese acima citada, sob a égide da antiga redação do artigo 213 e do revogado artigo 214 do Código Penal, haveria, sem sombra de dúvidas, a configuração de dois delitos distintos e, consequentemente, a aplicação da pena em concurso material, sendo inviável falar em continuidade delitiva, em razão da ausência dos requisitos previstos em lei.

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--- Contudo, atualmente, a Lei n. 12.015/2009 unificou os crimes de estupro e atentado violento ao pudor em um só tipo penal, o que está evidenciado na nova redação do artigo 213 como com a inserção do artigo 217-A ambos do Código Penal, contudo, essa inovação trouxe grande e calorosa discussão doutrinária no tocante ao concurso de crimes, e, a fim de melhor esclarecer sobre os possíveis concursos de crimes aplicáveis aos tipos penais acima mencionados, e, assim, proporcionar maior entendimento acerca do tema, se faz necessário fazer uma breve abordagem do que vem a ser tipo penal misto e concurso de crimes na seara penal.

2.1 Tipo Penal Misto

Tipo penal, segundo o nobre doutrinador Masson (2014, p. 268), “é o modelo sintético, genérico e abstrato da conduta definida em lei como crime ou contravenção penal”.

Os tipos penais podem ser simples ou misto. São simples aqueles tipos penais que possuem um único núcleo, ou seja, apenas um verbo. Ex. artigo 121 do Código Penal, que preceitua “matar alguém”.

Por outro lado o tipo penal misto consiste na descrição de determinada conduta criminosa onde há mais de um verbo núcleo.

Acerca do tipo penal misto, o doutrinador Masson (2014, p. 274) preleciona que é aquele que “tem na sua descrição típica dois ou mais núcleos, representando os crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado. Subdivide-se em duas espécies tipo misto alternativo e tipo misto cumulativo”.

Outrossim, o tipo penal descrito no artigo 213 do Código Penal, com redação dada pela Lei n. 12.015/2009, embora tenha apenas um verbo núcleo “constranger”, esse verbo se relaciona a dois atos distintos: “ter conjunção carnal” e “praticar ou permitir que com ele se pratica outro ato libidinoso”.

Da mesma forma, o tipo penal previsto no artigo 217-A do Código Penal contempla duas condutas distintas, quais sejam: ter conjunção carnal com menor de 14 anos e praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos.

Da análise dos tipos penais acima mencionados, verifica-se claramente que há duas figuras capazes de configurar os crimes de estupro e estupro de vulnerável, quais sejam: a conjunção carnal e o ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Assim, a prática de qualquer das condutas é capaz de caracterizar o delito, seja na forma consumada ou tentada, o que evidencia que trata-se de tipo penal misto.

Registre-se que o tipo penal misto pode ser classificado como sendo alternativo ou cumulativo. O Tipo misto alternativo pressupõe que, quando o sujeito pratica o delito mediante a prática de duas ou mais condutas, no mesmo contexto fático e contra a mesma vítima ou contra o mesmo objeto, restará configurado apenas um crime, de modo que ele responderá por um único crime, sem sequer falar em concurso de crimes.

Por outro lado, restará configurado o tipo misto cumulativo quando o agente incidir em mais de uma figura do tipo penal, com desígnios autônomos, ou seja, praticar duas ou mais condutas previstas no mesmo tipo penal, em diferentes contextos fáticos, e responder por cada uma delas em concurso de crimes.

2.2 Concurso de Crimes

Configura-se concurso de crimes quando houver a prática de mais de um crime, ou seja, quando houver pluralidade de crimes, e, uma vez reconhecido o concurso de crime, consequentemente, haverá influência quando da aplicação da pena, visto que o preceito secundário do tipo penal será aplicado em consonância com o tipo de concurso reconhecido no caso concreto.

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--- Há previsão legal de 03 (três) tipos de concursos de crime, sendo eles: concurso material, concurso formal e crime continuado, os quais estão previstos nos artigos 69, 70 e 71 do Código Penal, respectivamente.

O concurso material ocorre quando o agente, mediante duas ou mais condutas, pratica dois ou mais crimes, os quais podem gerar resultados idênticos (homogêneos) ou resultados diferentes (heterogêneo). Aqui verifica-se que há duas ou mais condutas, as quais são autônomas, ou seja, há duas vontades livres e conscientes do agente para praticar cada um dos crimes.

No caso de concurso material de crimes, deverá ser aplicado o sistema de cúmulo material, ou seja, somam-se as penas, independente da gravidade do delito e do quantum de pena prevista no preceito secundário.

Por outro lado, o concurso formal pressupõe a prática de uma única conduta do agente, seja ela positiva ou negativa, a qual produz dois ou mais resultados idênticos ou não, dolosos ou culposos. Nesse caso, haverá a exasperação da pena, ou seja, aplica-se a pena do delito mais grave ou qualquer delas, se as penas forem idênticas, aumentando de 1/6 (um sexto) até 1/2 (metade), de acordo com a gravidade dos crimes.

Entretanto, se houver concurso formal imperfeito, aquele em que há uma só ação com desígnios diversos, somam-se as penas, aplicando-se o cúmulo material.

Já o crime continuado ocorre quando o agente, mediante duas ou mais condutas, produz dois ou mais resultados da mesma espécie, nas mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução.

No entanto, para configurar crime continuado, se faz necessário que o agente preencha todos os requisitos objetivos e subjetivos previstos no artigo 71 do Código Penal, sem exceção.

E, uma vez reconhecido o crime continuado, será adotado o sistema de exasperação de pena, de modo que será aplicada a pena de um dos crimes, os quais deverão ser necessariamente idênticos, aumentando-a de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços).

Passado adiante, e após breve, porém, necessária abordagem acerca de tipo misto e dos institutos do concurso de crime, convém analisar se é possível, e, em quais casos, aplica-se algum tipo de concurso de crime quando se tratar da prática dos crimes de estupro e de estupro de vulnerável. 2.3 Artigos 213 e 217-A do Código Penal: Tipo Misto Alternativo ou Cumulativo?

Na sistemática anterior, o Código Penal contemplava dois crimes distintos, os quais estavam previstos em dois artigos autônomos, sendo eles o artigo 213, que tipificava o crime de estupro e o artigo 214, que tipificava o crime de atentado violento ao pudor, não restando nenhuma dúvida acerca da natureza jurídica das referidas infrações, pois tratava-se de crimes diversos, ou seja, crimes de espécies diferentes.

Naquele contexto, por se tratar de crimes autônomos, uma das consequências era a possibilidade da aplicação do concurso de crime material ou até mesmo formal, para os casos em que houvesse a violação dos artigos 213 e 214, ambos do Código Penal, no entanto, era impossível a aplicação da continuidade delitiva entre os dois crimes.

Acerca do assunto, o doutrinador Masson (2014, p. 14) preleciona que:

Destarte, se alguém constrangesse a vítima, mediante violência ou grave ameaça, a praticar conjunção carnal e outro ato libidinoso, a exemplo do sexo anal, a ele seriam imputados dois crimes: estupro e atentado violento ao pudor. Para o Supremo Tribunal Federal, em concurso material (CP, art. 69 caput), pois tais crimes, previstos em tipos penais diversos, não eram da mesma espécie, impedindo a continuidade delitiva, na forma do art. 71 caput do Código Penal).

É certo que antes da publicação da Lei n. 12.015/2009 não havia qualquer dúvida acerca da natureza jurídica dos crimes praticados com a prática de conjunção carnal e com a prática de outro ato libidinoso, pois tratava-se de crimes autônomos, sendo em regra imputado dois crimes ao agente.

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--- No entanto, após a vigência da Lei n. 12.015/2009, que unificou as duas condutas em um só tipo penal, passando a adotar as rubricas “estupro” e “estupro de vulnerável”, surgiu verdadeira divergência doutrinária em relação à natureza jurídica dos referidos crimes, pois tanto a doutrina como a jurisprudência se divide ao classificar o tipo penal dos referidos delitos, tendo em vista que uns defendem que é tipo misto alternativo e outros, que é tipo misto cumulativo.

A jurisprudência, para tanto, também não deixou bem claro o tipo admissível, tendo em vista que existem jurisprudências que se contrapõem.

2.3.1. Crimes de estupro e estupro de vulnerável como tipo misto Alternativo

Para os defensores dessa corrente, o crime de estupro e estupro de vulnerável trata-se de tipo misto alternativo.

Sobre o assunto, o ilustre doutrinador Masson (2014, p. 14) preleciona que “para os adeptos dessa linha de pensamento, o artigo 213 do Código Penal, ao unificar em um único delito as antigas condutas correspondentes ao estupro e ao atentado violento ao pudor, instituiu um tipo misto alternativo”.

Outrossim, ao analisar e interpretar de forma meramente gramatical e literal os artigos 213 e 217-A ambos do Código Penal, com redação dada pela Lei n. 12.015/2009, conclui-se que o legislador previu duas condutas distintas no preceito primário, ou seja, a conjunção carnal ou ato libidinoso diverso.

Desse modo, é de concluir que qualquer das duas condutas previstas nos artigos 213 e 217-A do Código Penal são capazes de configurar o delito, não sendo necessário, portanto, que se pratique a conjunção carnal e (mais) outro ato libidinoso, especialmente porque o próprio texto legal diz um ou outro.

Nessa toada, para esse corrente, em casos de estupro e estupro de vulnerável que sejam consumados com a prática de conjunção carnal e outro ato libidinoso, o julgador estará diante de um crime único, desde que os fatos sejam praticados no mesmo contexto fático, ou seja, praticado contra a mesma vítima, no mesma situação, mesmo local.

Corroborando com o exposto até aqui, recentemente, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Habeas Corpus n. 317372/SP, entendeu que quando houver a prática de conjunção carnal e de ato libidinoso contra a mesma vítima, restará configurado crime único, de modo que sustentou a teoria do tipo misto alternativo. Confira-se:

[...] LEI Nº 12.015/09. LEI PENAL MAIS BENÉFICA. RETROATIVIDADE. ILEGALIDADE MANIFESTA. (2) WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. A Sexta Turma desta Corte firmou entendimento no sentido de que, com o advento da Lei n.º 12.015/2009, a conduta do crime de

atentado violento ao pudor, anteriormente prevista no artigo 214 do Código Penal, foi inserida àquela do art. 213, constituindo, quando praticadas contra a mesma vítima e em um mesmo contexto fático, crime único de estupro. 2. A

norma em comento, por ser mais benéfica, deve retroagir para alcançar os fatos anteriores. [...]. (STJ - HC 317372 / SP, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE

ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 05/05/2015, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 13/05/2015). (Grifo nosso)

Ainda:

[...] ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. CRIME ÚNICO. EXECUÇÃO. NOVA DOSIMETRIA. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A atual

jurisprudência desta Corte Superior sedimentou-se no sentido de que, "como a Lei 12.015/2009 unificou os crimes de estupro e atentado violento ao pudor em um mesmo tipo penal, deve ser reconhecida a existência de crime único de estupro, caso as condutas tenham sido praticadas contra a mesma vítima e no

mesmo contexto fático." (AgRg no AREsp n. 233.559/BA, Rel. Ministra Assusete Magalhães, 6ª T., DJe 10/2/2014, destaquei.). 2. Se transitada em julgado a ação

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--- penal a que respondeu o acusado, deve o Juízo das execuções proceder à nova dosimetria da pena, nos termos do Enunciado Sumular n. 611 do STF. 3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no HC: 224827 RJ 2011/0270687-3, Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento: 16/06/2015, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 26/06/2015). (Grifo nosso)

No mesmo sentido, foi a recente decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar um Agravo Regimental, nos seguintes termos:

PENAL. CONDENAÇÃO POR ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR EM CONCURSO MATERIAL. SUPERVENIÊNCIA DA LEI N. 12.015/2009. NOVA TIPIFICAÇÃO. CRIMES DA MESMA ESPÉCIE. NOVATIO LEGIS IN MELLIUS. RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA.

1. Com as inovações trazidas pela Lei n. 12.015/2009, os crimes de estupro e atentado violento ao pudor são agora do mesmo gênero - crimes contra a dignidade sexual - e também da mesma espécie - estupro -, razão pela qual, desde que praticados contra a mesma vítima e no mesmo contexto, devem ser reconhecidos como crime único. 2. Na espécie, evidencia-se que as práticas de

conjunção carnal e ato libidinoso diverso ocorreram contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no AREsp: 498100 SP 2014/0075515-1, Relator: Ministro GURGEL DE FARIA, Data de Julgamento: 07/04/2015, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/04/2015). (Grifo nosso)

Registre-se, por conseguinte, que para essa corrente, para configurar crime único, a prática de estupro mediante a conduta da prática de conjunção carnal e outro ato libidinoso diverso deve ser praticada contra a mesma vítima, e, no mesmo contexto fático, pois do contrário restariam caracterizados diferentes crimes de estupro, podendo, inclusive, o agente responder por concurso de crimes.

Corroborando com o que foi mencionado acima, quando do julgamento do HC 167.517/SP, ainda em 2010, pouco tempo após a edição da lei 12.015/2009, o Ministro Haroldo Rodrigues, desembargador convocado do TJCE, em seu voto, afirmou que:

Colhe-se dos autos que o paciente foi condenado, por estupro e atentado violento ao pudor, em concurso material, à pena de16 anos de reclusão, tendo o Tribunal de origem dado parcial provimento ao apelo defensivo para, reconhecendo o concurso formal, reduzir a pena imposta a 12 anos dereclusão. Busca-se no presente writ a aplicação retroativa da Lei nº 12.015/2009 para excluir a condenação pelo crime de atentado violento ao pudor. A meu ver, a ordem deve ser deferida. Com efeito, a Sexta Turma desta Corte, [...], firmou compreensão no sentido de que, com a superveniência da Lei nº 12.015/2009, a conduta do crime de atentado violento ao pudor, anteriormente prevista no artigo 214 do Código Penal, foi inserida àquela do art. 213, constituindo, assim, quando praticadas contra a mesma vítima e num mesmo contexto fático, crime único de estupro. (http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/15941089/habeas-corpushc-167517 - sp-2010-0057558-8/inteiro-teor-16823981) .(Grifo nosso)

Assim, fazendo uma análise da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça acerca do assunto, verifica-se que, desde a vigência da lei n. 12.015/2009, até os dias de hoje, a Sexta Turma daquele Tribunal é unânime na defesa dessa posição, sendo que todos os julgados acerca do assunto são nesse sentido.

Também alguns Tribunais de Justiça têm decidido nesse sentido. Nessa esteira segue o Des. relator Nelson Missias de Morais do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, dizendo que se trata de crime único, quando afirma que:

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--- [...]PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE CONTINUIDADE DELITIVA ENTRE ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. [...] - Após a vigência da Lei 12.015/2009, tanto o constrangimento à prática de conjunção carnal quanto à de outro ato libidinoso foram previstos no artigo 213 do Código Penal que, assim, tornou-se um dos denominados "tipo misto alternativo". [...] - Se os atos

narrados na denúncia ocorreram num mesmo contexto fático, contra a mesma vítima e o bem jurídico tutelado - a liberdade sexual - foi lesado uma única vez, por meio do constrangimento ao qual a ofendida foi submetida, é imperioso o reconhecimento de crime único, ainda que tenha ocorrido a prática de conjunção carnal e também de outros atos libidinosos. (TJ-MG - AGEPN:

10231091520420001 MG, Relator: Nelson Missias de Morais, Data de Julgamento: 08/05/2014, Câmaras Criminais / 2ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 19/05/2014). (Grifo nosso)

Esse também foi o posicionamento do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso no ano de 2010, quando julgou os Habeas Corpus n. 24155/2010 e afirmou que o reconhecimento de crime único ou a aplicação da regra do crime continuado era admissível após a edição da Lei n. 12.015/2009, não obstante, fosse necessária a análise do caso concreto. Confira-se:

HABEAS CORPUS - [...]. A Lei nº 12.015/2009, ao conferir nova redação ao artigo 213 do Código Penal, instituiu a tipicidade mista alternativa, cuja aplicação repele a possibilidade de concurso de crimes entre o estupro e o atentado violento ao pudor, em suas redações pretéritas, quando praticados na mesma situação fática, de ordem a viabilizar a aplicação da regra do crime continuado, ou mesmo de crime único, se cometido em um mesmo contexto, contra a mesma vítima. [...]. O

reconhecimento de crime único ou a aplicação da regra do crime continuado, embora teoricamente admissível após a edição da Lei nº 12.015/2009, depende,

necessariamente, do exame das peculiaridades de cada caso concreto. (HC 24155/2010, DES. JOSÉ LUIZ DE CARVALHO, TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL, Julgado em 28/04/2010, Publicado no DJE 05/05/2010). (Grifo nosso) Verifica-se, com a farta jurisprudência disponível nos tribunais, que, no tipo misto alternativo, o autor do delito deve responder por estupro como crime único, quando praticar contra a mesma vítima conjunção carnal conjuntamente com qualquer outro ato libidinoso diverso.

Contudo, embora essa corrente defenda que a prática das duas condutas previstas nos

artigos 213 e 217-A, ambas do Código Penal, contra a mesma vítima e no mesmo contexto

fático constitui crime único, ela também sustenta que o agente não será responsabilizado por

dois crimes, no entanto, preceitua que a pluralidade de comportamento do agente deverá ser

considerada pelo julgador no momento da aplicação da dosimetria da pena base, como sendo

uma circunstância judicial desfavorável, o que vai impedir, por exemplo, que seja aplicado

como pena base o mínimo cominado no preceito secundário do tipo penal.

2.3.2 Tipo misto cumulativo

Por outro lado, há quem sustente que os delitos de estupro e estupro de vulnerável é um

tipo penal misto cumulativo, contendo figuras delitivas distintas.

Os defensores dessa corrente sustentam que, se o agente praticar as duas condutas

consistentes em conjunção carnal e outro ato libidinoso, ainda que contra a mesma vítima, na

mesma ocasião, responderá por dois delitos distintos, ou seja, responderá por dois crimes de

estupros.

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Acerca do assunto e sobre a possibilidade de reconhecimento de pluralidade de dolos e

condutas autônomas, o ilustre doutrinador Masson (2014, p. 15) sustenta que:

Não se pode confundir o constrangimento à conjunção carnal com o constrangimento a outros atos libidinosos. Há pluralidade de dolos e condutas autônomas, razão pela qual o reconhecimento de crime único representa violação aos princípios da proporcionalidade e da isonomia.

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça compartilhou por muito tempo desse

entendimento, nos seus julgados decidiam que tratava-se de tipo penal cumulativo, pois logo

após a edição da Lei n. 12.015/2009, essa turma, em divergência com a sexta turma do

referido Tribunal sempre decidiu que mesmo estando as duas condutas dentro do mesmo tipo

penal, estava configurado o tipo penal cumulativo.

Nesse sentido foi o julgamento do Habeas Corpus n. 139.334/DF, que teve como relator

o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, confira-se:

HABEAS CORPUS. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. [...] 2.

O art. 213 do CPB, após a alteração introduzida pela Lei 12.015/09, deve ser classificado como um tipo misto cumulativo, porquanto a prática de mais de uma conduta ali prevista, quando não representar ato libidinoso em progressão à prática de conjunção carnal, sem dúvida agrega maior desvalor ao fato. 3. A cópula anal ou a felação, realizadas no mesmo contexto fático que a conjunção carnal, não podem ser consideradas como um desdobramento de um só crime, pois constituem atos libidinosos autônomos e independentes da conjunção carnal, havendo, na verdade, violação a preceitos primários diversos. 4. [...].

(HC 139.334/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 03/05/2011, DJe 20/05/2011). (Grifo nosso)

T

ambém:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. [...] TIPO MISTO ACUMULADO. CONJUNÇÃO CARNAL. DEMAIS ATOS DE PENETRAÇÃO. DISTINÇÃO. CRIMES AUTÔNOMOS. [...]. IV - A reforma introduzida pela Lei nº 12.015/2009 unificou, em um só tipo penal, as figuras delitivas antes previstas nos tipos autônomos de estupro e atentado violento ao pudor. Contudo, o novel tipo de injusto é misto acumulado e não misto alternativo. V - Desse modo, a realização de

diversos atos de penetração distintos da conjunção carnal implica o reconhecimento de diversas condutas delitivas, não havendo que se falar na existência de crime único, haja vista que cada ato - seja conjunção carnal ou outra forma de penetração - esgota, de per se, a forma mais reprovável da incriminação. [...]. VII – [...]. (STJ, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de

Julgamento: 22/06/2010, T5 - QUINTA TURMA). (Grifo nosso)

E, decidiu, ainda, que:

[...] NOVA REDAÇÃO DO ART. 213 DO CÓDIGO PENAL. LEI Nº 12.015/09. APLICAÇÃO RETROATIVA. AUSÊNCIA DE COMANDO CAPAZ DE INFIRMAR A CONCLUSÃO EXARADA PELO TRIBUNAL A QUO. [...]. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. [...] 2. Alicerçada a tese relacionada à alínea a do permissivo constitucional na violação do art. 213 do Código Penal, alterado pela Lei n.º 12.015/09, por se tratar de hipótese de tipo misto

cumulativo, ao considerar distintamente os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, verifica-se que esse dispositivo legal não contém comando

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--- normativo capaz de alterar a conclusão alcançada pelo Tribunal de origem, que entendeu ser adequada a aplicação retroativa do art. 213 do Código Penal, na nova redação inserta pela Lei n.º 12.015/09, por se tratar de norma penal mais benéfica ao Condenado, o que atrai a aplicação da Súmula n.º 284 do Pretório Excelso. [...]. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1313444/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 14/08/2012, DJe 22/08/2012). (Grifo nosso)

Para essa corrente, a Lei n. 12.015/2009, ao unificar as duas condutas em um só artigo,

o legislador fez previsão de tipo penal cumulativo, sendo que a prática de cada uma delas

exige desígnios autônomos, de modo que caracteriza crimes diferentes.

Esse também é o entendimento do ilustre doutrinador Filho, “segundo o qual somente haverá unidade de infração se os atos libidinosos diversos da conjunção carnal forem preparatórios ao coito vaginal; mostrando aquela autonomia, dar-se-á o concursos delictorum” (Filho apud Estefam, 2011, p. 156).

Desse modo, se os atos libidinosos não passarem de simples atos preparatórios para a cópula, serão absorvidos, tornando-se crime único.

Sobre o assunto, Masson (2014, p. 16) preleciona que “é de observar, contudo, que esse raciocínio não exclui a absorção dos atos libidinosos que despontam como preparação da conjunção carnal”.

Entretanto, se, além da conjunção carnal, o agente ainda praticar outros atos libidinosos que não sejam simples prelúdios da cópula, responderá por mais de um crime. É nesse contexto que se solidifica a tese de tipo misto cumulativo.

O Ministro Felix Fischer do Superior Tribunal de Justiça, corroborando com esse entendimento, afirmou, em seu voto, ao julgar o Habeas Corpus n. 104.724, que:

[...] IV - A reforma introduzida pela Lei nº 12.015/2009 unificou, em um só tipo penal, as figuras delitivas antes previstas nos tipos autônomos de estupro e atentado violento ao pudor. Contudo, o novel tipo de injusto é misto acumulado e não misto

alternativo. V - Desse modo, a realização de diversos atos de penetração distintos da

conjunção carnal implica o reconhecimento de diversas condutas delitivas, não

havendo que se falar na existência de crime único, haja vista que cada ato - seja

conjunção carnal ou outra forma de penetração - esgota, de per se, a forma mais reprovável da incriminação. VI - Sem embargo, remanesce o entendimento de que os atos classificados como praeludia coiti são absorvidos pelas condutas mais graves alcançadas no tipo. VII - Em razão da impossibilidade de homogeneidade na

forma de execução entre a prática de conjunção carnal e atos diversos de penetração, não há como reconhecer a continuidade delitiva entre referidas figuras

(HC 104.724 – MS, 5.ª T., rel. Felix Fischer, 22.06.2010).

Consoante interpretação da 5.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, quando houver a prática do crime de estupro consistente na conjunção carnal e outro ato libidinoso, antigo atentado violento ao pudor praticado contra a mesma vítima, ainda que no mesmo contexto fático, deverá predominar o tipo misto cumulativo, o que emana grande divergência com a Sexta Turma daquele egrégio tribunal.

Nessa mesma toada, vêm decidindo, recentemente, alguns Tribunais de Justiça. O Tribunal de Justiça de São Paulo tem decido recente e reiteradamente que os crimes de estupro e estupro de vulnerável consistem em tipo penal misto cumulativo, senão veja-se:

PENAL. AGRAVO EM EXECUÇÃO. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. LEI 12.015/09 QUE UNIFICOU AS DUAS CONDUTAS EM UMA ÚNICA FIGURA PENAL (ARTIGO 213 DO CÓDIGO PENAL). TIPO MISTO CUMULATIVO QUE ADMITE CONCURSO DE CRIMES. A Lei 12.015/2009, ao unificar as duas condutas em uma única figura típica, prevê um tipo penal cumulativo, onde se verifica a primeira conduta como a de constranger alguém à conjunção carnal, e a segunda como a de constranger alguém à prática de outro ato

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--- libidinoso. Assim, se o agente desenvolver as duas condutas, ainda que contra a

mesma vítima, deve responder pelos dois delitos, em concurso material. (TJ-SP -

EP: 00752201920148260000 SP 0075220-19.2014.8.26.0000, Relator: Alcides Malossi Junior, Data de Julgamento: 03/09/2015, 8ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 09/09/2015) (grifo nosso)

A Terceira Câmara Criminal Extraordinária do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo decidiu no mesmo sentido:

APELAÇÃO CRIMINAL – Estupro– Artigos 213, caput, c.c. artigos 226, I e 71, todos do Código Penal – Recurso defensivo - Absolvição – Impossibilidade - Insuficiência probatória – Palavras da vítima - Relevância – Declarações corroboradas por prova oral e pericial - Precedentes - Provas suficientes para trazer a certeza quanto à autoria delitiva - Condenação mantida – Recurso ministerial – Reconhecimento de tipo penal cumulativo entre cópula vagínica e demais atos libidinosos diversos – Afastamento de crime único -Vítima constrangida a

conjunção carnal e coito anal– Tipo penal cumulativo e não alternativo –

Condutas distintas – Coautoria bem reconhecida – Exasperação das penas - RECURSOS DEFENSIVOS NÃO PROVIDOS E RECURSO MINISTERIAL PARCIALMENTE PROVIDO, para majorar as penas.(TJ-SP, Relator: Silmar Fernandes, Data de Julgamento: 11/09/2015, 3ª Câmara Criminal Extraordinária). (grifo nosso)

Também esse é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, confira-se:

AGRAVO EM EXECUÇÃO. ESTUPRO (2X). CONTINUIDADE DELITIVA. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR (2X). CONTINUIDADE DELITIVA. CONCURSO MATERIAL. TIPO MISTO CUMULATIVO. A figura típica trazida

pela nova redação do art. 213 consiste num tipo misto cumulativo, e não

alternativo, reunindo dois tipos independentes e que não se confundem, diferindo o constranger alguém à conjunção carnal (coito vagínico), do constranger alguém a outro ato de penetração diverso - sexo oral ou anal, por exemplo. [...]. (TJ-RS - AGV: 70044352821 RS, Relator: Fabianne Breton Baisch, Data de Julgamento: 23/11/2011, Oitava Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 17/01/2012). (grifo nosso)

E ainda:

AGRAVO EM EXECUÇÃO. CRIMES CONTRA OS COSTUMES. CONDENAÇÕES POR ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR E ESTUPRO. CONCURSO MATERIAL. EDIÇÃO DA LEI 12.015/2009. ALEGAÇÃO DE CRIME ÚNICO. NÃO ACOLHIMENTO. UNIFICAÇÃO DAS CONDUTAS NUM ÚNICO TIPO LEGAL. TIPO MISTO CUMULATIVO. CONDUTAS AUTONOMAS. Agravo improvido. (Agravo Nº 70047243837, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Março Antônio Ribeiro de Oliveira, Julgado em 25/04/2012). (TJ-RS - AGV: 70047243837 RS, Relator: Marco Antônio Ribeiro de Oliveira, Data de Julgamento: 25/04/2012, Primeira Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 18/05/2012).

A defesa de que os crimes previstos nos artigos 213 e 217-A ambos do Código Penal consistem em tipo penal misto cumulativo é plausível à medida que não seria justo que o agente que pratica ou praticou os delitos de estupro ou estupro de vulnerável mediante a prática de conjunção carnal tenha a imposição da mesma pena que aquele que pratica o mesmo crime mediante a prática de conjunção carnal e outro ato libidinoso, como, por exemplo, sexo oral ou anal.

Partindo desse pressuposto, o reconhecimento do tipo penal misto cumulativo se faz mais coerente, em razão da possibilidade de maior punição àquele que praticou o crime de forma mais prejudicial à vítima, indo ao encontro com o verdadeiro objetivo da lei penal, que é de punir severamente os autores de crimes de estupro e estupro de vulnerável, a fim de proteger a dignidade e a liberdade sexual.

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---

--- Também se faz possível além da aplicação do concurso material o reconhecimento do crime continuado quando houver diversas conjunções carnais ou diversos atos libidinosos, desde que preenchidos os requisitos do artigo 71 do Código Penal.

No entanto, já é esperado que quando ocorre qualquer alteração legislativa surjam controvérsias doutrinárias e jurisprudências acerca de certo ponto da nova lei, e, com a legislação que protege a dignidade sexual não foi diferente, visto que se tem essa discussão a respeito de qual tipo deve ser aplicado quando ocorre o estupro e outro ato libidinoso diverso à conjunção carnal, não havendo sequer consenso da jurisprudência.

Porém, após consulta detalhadas nas jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça, acerca do tipo penal ora em debate, constata-se que, até meados de 2014, a Quinta Turma tinha grande inclinação para considerar que o estupro e estupro de vulnerável eram tipos penais mistos cumulativos. Contudo, observa-se nas decisões mais recentes que esta Turma tem decidido em acatar o que já era sustentado pela Sexta Turma daquele Egrégio Tribunal, de modo que, em alguns julgados, a Quinta Turma, inclusive, tem feito a observação de que o entendimento acerca do tipo penal misto alternativo já é entendimento sedimentado daquele Tribunal, nos seguintes termos:

RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR MEDIANTE VIOLÊNCIA PRESUMIDA. CONTROVÉRSIA [...]. CONTINUIDADE DELITIVA. ART. 71 DO CP. REQUISITO SUBJETIVO. EXISTÊNCIA. CRIME ÚNICO ENTRE OS DELITOS. [...]. 6. Por ocasião do julgamento dos REsp n. 1.225.387/RS, ocorrido em 28/8/2013, a Terceira Seção deste Superior Tribunal pacificou o entendimento acerca do caráter hediondo dos delitos de estupro e de atentado violento ao pudor, ainda que praticados com violência presumida, cometidos antes da vigência da Lei n. 12.015/2009. [...]. (REsp 1021684/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 14/04/2015, DJe 22/04/2015).

No entanto, o entendimento ainda não é pacífico e essa é uma questão ainda a ser decidida pelos Tribunais e Instâncias Superiores, pois até então não há uma posição majoritária, e sim uma briga doutrinária e jurisprudencial.

2.4 Concursos de Crime Aplicáveis aos Crimes Previstos nos Artigo 213 e 217-A do Código Penal Para saber qual concurso de crime deve ser aplicado no caso concreto, primeiro, o julgador deve se filiar a uma das correntes acerca do tipo misto do estupro e estupro de vulnerável, de modo que, ao se posicionar acerca do tipo penal, restará evidenciado em qual tipo de concurso de crime que se encaixa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não é de hoje a luta incessante em proteger a liberdade sexual da pessoa humana, que consiste, em síntese, na livre escolha de parceiros e consequentemente no livre consentimento para a prática do ato sexual, tendo em vista que, desde o Código Criminal do Império, datado de 1830, até a entrada em vigor do Código Penal de 1940, percebe-se que os legisladores buscavam impor penalidades para reprimir as condutas que atingem a dignidade sexual.

Constantemente, a sociedade sofre transformações, quer por seus preceitos ou quer por seus próprios costumes, que, através do tempo, vão se modificando e modernizando. Nesse sentido, quando o Direito não acompanha essas mudanças, torna-se incompatível com a realidade atual vivida pelos povos, assim, o Direito deve sempre acompanhar a evolução da sociedade sob pena de não ser observado por ela.

Sob esse prisma, o Direito Penal, indo ao encontro dos reclamos sufragados pela sociedade, estabelece normas coercitivas que impõe sanções àqueles que violam as normas impostas pelo

(13)

---

--- legislador, a fim de evitar que ocorram crimes, bem como para salvaguardar o convívio harmônico entre os cidadãos, fazendo com que sejam respeitados os direitos de todos.

No afã de atender à expectativa pretendida por parte da sociedade, o legislador reformou a parte especial do Código Penal, mais precisamente em seu Título VI, que prescrevia sobre os crimes denominados “Contra os Costumes”, introduzindo no ordenamento jurídico a Lei n. 12.015/2009, que deu ao referido título nova denominação, sendo agora chamados de “Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual”. Tal alteração é um dos pontos positivos da referida lei, tendo em vista que a expressão “dignidade” decorre do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana e que, de modo geral, implica em respeito e honra, o que demonstra que o legislador procurou tutelar além da liberdade sexual.

Verificou-se no decorrer deste trabalho monográfico, que a recente reforma trazida pela mencionada Lei resultou em novo conceito do crime de estupro, tendo em vista que a nova redação do artigo 213 do Código Penal fez a junção do atentado violento ao pudor e estupro, além de ter inserido um tipo autônomo, denominado de estupro de vulnerável, em seu artigo 217-A, visando à proteção de forma mais rigorosa das vítimas menores de 14 (catorze) anos, dos enfermos, deficientes mentais, que não têm o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não possam oferecer resistência.

Verificou-se, ainda, que a Lei n. 12.015/2009 veio amoldar o direito à realidade atual, visto que o Código Penal, embora tivesse uma ou outra atualização legislativa, deixava muito a desejar no que diz respeito aos crimes de ordem sexual.

Contudo, percebe-se que o legislador, no intuito de adequar a previsão legal dos crimes contra a dignidade sexual perante a realidade vivida na sociedade, ainda não conseguiu pôr fim às discussões doutrinárias acerca referentes a certos pontos preponderantes e peculiares dos crimes previstos no art. 213 e 217-A do Código Penal, como, por exemplo, qual tipo penal aplicar quando ocorrer um estupro no dia do aniversário de catorze anos da vítima e, ainda, qual o tipo penal dos referidos crimes.

A lei 12.015/2009 adotou o critério etário para definição de vulneráveis, bem como para prever a qualificadora no artigo 213, §1º in fine do Código Penal, de modo que não há qualquer possibilidade de discussão a fim de afastar determinadas pessoas em razão de educação, estilo de vida, ou qualquer outro atributo, basta a comprovação da idade. Ocorre que a referida lei fez previsão no sentido de que se o estupro ocorrer contra vítima menor de catorze anos, incidirá a previsão legal do artigo 217-A do Código Penal; se ocorrer contra vítima maior de catorze anos e menor de dezoito, está caracterizada a qualificadora do artigo 213, §1º in fine do referido diploma legal, no entanto, deixou de fazer previsão acerca do tipo penal a ser aplicado quando a vítima for estuprada exatamente no dia do seu décimo quarto aniversário, o que, sem dúvida, configura falha grotesca do legislador cabendo, portanto, à doutrina e a jurisprudência, mais uma vez, se posicionarem acerca do tema.

Quanto ao tipo penal dos crimes de estupro e estupro de vulnerável, há intensa discussão no âmbito da jurisprudência e da doutrina sobre do tema, sendo certo que, atualmente, há duas correntes acerca do tipo penal dos crimes de estupro e estupro de vulnerável, uma defende que se trata de tipo penal misto alternativo, enquanto a outra sustenta que é tipo penal misto cumulativo.

Esse impasse traz reflexos importantes para o agente que praticar os crimes previstos nos artigos 213 e 217-A, ambos do Código Penal, visto que o posicionamento adotado pelo julgador vai influenciar diretamente na aplicação da pena e, ainda, no reconhecimento da continuidade delitiva e concurso material, de modo que se faz necessário um posicionamento dos Tribunais Superiores acerca do tema, por meio de Súmula, a fim de pôr uma pá de cal sobre o tema.

Ademais, em razão da ausência de súmula dos Tribunais Superiores, ainda cabe ao julgador se aliar a uma das correntes existentes acerca do tipo penal dos crimes de estupro e estupro de vulnerável, de modo que somente aqueles que defendem que trata-se de tipo penal misto alternativo irão aplicar os ditames da Lei n. 12.015/2009 aos crimes ocorridos antes de 10 de agosto de 2009, em observância ao princípio da retroatividade da lei mais benéfica.

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--- Deveras, aqueles que defendem tratar de tipo penal misto cumulativo não aplicam a nova lei, visto que entendem e defendem que, quando praticadas as condutas de conjunção carnal e prática de outro ato libidinoso, ainda que contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático, encontram-se caracterizados dois crimes de estupro, de modo que a aplicação retroativa da Lei n. 12.015/2009 não se torna mais benéfica, em razão do quantum de pena prevista no dispositivo legal.

Porém, é certo que aqueles julgadores que entendem se tratar de tipo penal misto alternativo deverão aplicar a Lei n. 12.015/2009 aos casos pretéritos, quando se tratar de casos onde o reeducando foi condenado pelos crimes de estupro e atentado violento ao pudor, em concurso material, visto que, para esses casos, sob a égide da referida lei, houve crime único, e, assim, será ela de fato mais benéfica, o mesmo não pode se dizer em relação aos julgadores que entendem que os crimes em estudo constituem tipo penal misto cumulativo, pois, nesse caso, a lei nova seria prejudicial ao reeducando.

Por fim, conclui-se que a reforma feita no ordenamento jurídico Penal pátrio não resolveu todos os problemas e dúvidas acerca dos crimes contra a dignidade sexual, como já mencionado antes, no entanto, colaborou em grande monta, uma vez que modernizou incontestavelmente a redação dos tipos penais referentes aos crimes sexuais, pois, antes, estes se encontravam previstos de maneira ultrapassada, divorciada da realidade vivida pela sociedade, de modo que é forçoso reconhecer que já foi um grande avanço.

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