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A IMPORTÂNCIA DAS COMUNIDADES LOCAIS DO PANTANAL MATO- GROSSENSE PARA A CONSERVAÇÃO DA AVIFAUNA LOCAL

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Academic year: 2021

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A IMPORTÂNCIA DAS COMUNIDADES LOCAIS DO PANTANAL

MATO-GROSSENSE PARA A CONSERVAÇÃO DA AVIFAUNA LOCAL

Samuel Borges de Oliveira Júnior¹ & Michèle Sato²

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Biólogo, Doutorando em Ecologia e Recursos Naturais/UFSCar, Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Instituto de Educação, Sala 66, UFMT, Cuiabá/MT, 78.060-900, samukajr@gmail.com;

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Profª. Drª. Instituto de Educação, UFMT, michele@cpd.ufmt.br

RESUMO

No Pantanal, as aves são as espécies mais facilmente observadas, seja pela sua quantidade, seja pelo colorido exuberante que chama a atenção de quem tem a oportunidade de conhecer tão fantástica área natural. Mas não são somente as aves e outras espécies animais ou vegetais que deveriam atrair a atenção da sociedade de um modo geral. As comunidades biorregionais presentes ao longo de todo o ambiente pantaneiro devem e precisam ser notadas pelos tomadores de decisão quando são discutidos os rumos da conservação do Pantanal. Tais comunidades são fundamentais na conservação pantaneira, porque são detentoras de um conhecimento específico aos ambientes nos quais estão inseridas e que podem ser utilizados como base para o desenvolvimento de políticas públicas que evidenciem a importância da conservação do ambiente biológico e também destas comunidades. Os moradores destas comunidades podem dar exemplos de como era o Pantanal há 50 anos e como está hoje e se, utilizando as mudanças climáticas como um dos fatores, houve alterações em sua composição, seja de espécies animais ou de espécies vegetais e como isso tem influenciado na dinâmica cultural desses habitantes. Dessa forma, tem-se desenvolvido um projeto, que visa demonstrar o conhecimento local dessas comunidades sobre a avifauna pantaneira e verificar se houve alguma alteração na composição dessa avifauna e quais foram os fatores que levaram a essa alteração, para que possamos ter idéia de quais atitudes tomarmos para evitarmos tais perdas, seja da diversidade biológica ou cultural, e que poderão propiciar a conservação do Pantanal.

ABSTRACT

In the Pantanal, the birds are the species more easily observed, either for its amount, either for the exuberant coloring that call the attention calls who has the chance to know so fantastic natural area. Nevertheless, not only animal or plants species would have to attract the attention by society in general, but many others. The biorregional communities gifts throughout all the pantanal’s environment must and need to be noticed by the policymakers when the routes of the conservation of the Pantanal are argued. Such communities are basic in the pantanal’s conservation, because they are owners of a specific knowledge to the environments in which they are inserted and that they can be used as base for the development of public politics that also evidence the importance of the conservation of the

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biological environment and of these communities. The inhabitants of these communities can give examples of as it was the Pantanal has 50 years ago and as it is today and also, considering if climate changes is one of the factor which can change the Pantanal biodiversity, its composition, either of animal or vegetal species and how this change (if some) can influence the cultural dynamics of these inhabitants. Therefore, a research project has been developed, that it aims to reveal the local knowledge of these communities on pantanal’s avifauna and to verify if avifauna had some alteration in the composition of this and which had been the factors that had led to this alteration, so that let us can have idea of which attitudes to take to prevent such losses, either of the biological or cultural diversity, and that they will be able to propitiate the Pantanal’s conservation.

INTRODUÇÃO

Desde os tempos mais remotos estamos constatando que a gravidade dos problemas ambientais no mundo está afetando o funcionamento do sistema como um todo. Entre esses fenômenos de desequilíbrio, as mudanças climáticas, decorrentes do aquecimento global, que vem ocorrendo no mundo, com certeza, são as mais preocupantes. É um tema atual que tem sido constantemente enfatizado pela mídia ao longo dos últimos anos, com uma série de matérias, séries e reportagens abrangendo os principais problemas que estão ocorrendo (AMBRIZZI, 2006). Esses impactos oriundos de tais mudanças afetam os ecossistemas mundiais e as espécies que estão inseridas nos mesmos, entre as quais, o próprio ser humano. De acordo com o 4º relatório do Intergovernamental Panel of Climate Change – IPCC (2007), aproximadamente de 20 a 30% das espécies estimadas de plantas e animais do mundo estarão, provavelmente, ameaçadas de extinção, caso a temperatura global média aumente entre 1,5 a 2,5º C.

Dessa forma, convém repensarmos nosso papel em relação aos nossos ecossistemas. Se a relação de vivência social for autoritária e vertical, ou seja, hierárquica, assim refletirá no modo do ser humano se situar no mundo. A natureza, neste contexto, está baseada no que concebemos sobre a sociedade. Se a história nos revela domínio, a biodiversidade estará ameaçada. Muitos programas são desenvolvidos para a proteção da biodiversidade, porém, há uma resistência à diversidade cultural. A perda da diversidade não está restrita apenas ao ambiente biológico, mas também ao ambiente social, o que nos leva a repensar nossas atitudes relacionadas à nossa diversidade. Esse repensar deve ser no sentido da elaboração de políticas públicas que tenham em seus princípios, a conservação da diversidade, seja biológica, seja social.

Assim, o objetivo desse trabalho é perceber o conhecimento local sobre as aves pantaneiras por meio do diálogo com o arcabouço do conhecimento universal (ciências), como proposta à formulação de políticas públicas mais participativas. O foco da pesquisa será um estudo comparativo sobre a percepção das comunidades biorregionais e científicas sobre o aquecimento global e seus efeitos na biodiversidade, assim como a consideração do elo inseparável entre cultura e natureza.

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MATERIAIS E MÉTODOS

A opção metodológica estará ancorada no hibridismo do Biorregionalismo e da Etnoecologia, ambos ancorados na Fenomenologia, que conforme André (1995, p. 18), “enfatiza os aspectos subjetivos do comportamento humano e preconiza que é preciso penetrar no universo conceitual dos sujeitos para entender como e que tipo de sentido eles dão aos acontecimentos e às interações sociais que ocorrem em sua vida diária”.

O Biorregionalismo pode ser considerado como a tentativa de restabelecer uma conexão entre as comunidades humanas de uma determinada região com seu ambiente natural. A visão biorregional nos permite contemplar o local, o que está próximo e não apenas uma noção abstrata de lugar, ou seja, as particularidades de determinadas áreas. Ao recuperarmos a história de um determinado lugar é possível desenvolver as relações entre a comunidade e o ambiente biofísico que ela habita. Além da proximidade com a terra, a visão biorregional apregoa o desenvolvimento de valores comunitários de cooperação, solidariedade e reciprocidade. De acordo com a visão biorregional se o indivíduo estiver vivendo mais próximo da terra, com certeza ele também desenvolverá uma relação mais próxima com a comunidade (GRÜN, 2002; SATO & PASSOS, 2002).

A etnoecologia enfatiza a expressão cultural de uma comunidade acerca de sua compreensão sobre o mundo biológico, ou seja, a interação que as populações biorregionais possuem com seu ambiente natural. Para Toledo (1991, p. 4-5), “a etnoecologia é a área encarregada de estudar a parte do conhecimento tradicional sobre a natureza” e ela “concentra-se no estudo dos saberes e habilidades tradicionais relativos ao manejo dos recursos naturais”.

O trabalho está sendo desenvolvido nas comunidades pantaneiras de Mimoso, pertencente ao município de Santo Antônio do Leverger e São Pedro de Joselândia pertencente ao município de Barão de Melgaço, ambas situadas no Estado de Mato Grosso, utilizando-se de observação participante e entrevistas semi-estruturadas com os moradores dessas comunidades.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas duas comunidades onde está sendo desenvolvida essa pesquisa, está sendo construída uma lista de espécies de aves locais de acordo com o conhecimento dos moradores de tais comunidades. A lista da comunidade de Mimoso já ultrapassa 130 espécies e a de São Pedro de Joselândia, 120 espécies. Tubelis e Tomas (2003) reconhecem um total de 463 espécies de aves existentes no Pantanal, decorrentes da análise de vários trabalhos desenvolvidos na planície. Se compararmos as listas construídas até o momento nas comunidades, teremos um total de aproximadamente 28% das espécies registradas para o Pantanal na lista da comunidade de Mimoso e 26% das espécies na lista construída na comunidade de São Pedro de Joselândia. Entretanto, o percentual dessas listas tende a aumentar, pois a cada ida no campo, mais espécies são citadas pelos moradores, o que corrobora ainda mais com a valorização do conhecimento local de tais comunidades.

Além dessa lista de espécies, as relações entre as comunidades e a avifauna local também estão sendo identificadas. Conhecer essa relação ser humano – avifauna partiu do

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postulado de que toda e qualquer sociedade humana mantém seis conexões fundamentais: cosmológica, meteorológica, geológica e hidrológica, botânica, zoológica, humana e sobrenatural. É com os astros, com o tempo, com a terra e com as águas, com as plantas, com os animais, com os congenéricos e com o imaginário, que a espécie Homo sapiens age e/ou interage (MARQUES, 2001), criando assim conceitos próprios sobre os mais diversos assuntos e que podem ser utilizados como meios para a criação de sistemas de manejos e uso sustentável do ambiente, como muitas comunidades fazem até hoje.

As principais conexões estabelecidas pelos moradores, até o momento, são: alimentares (espécies utilizadas como complemento alimentar, seja por necessidade, seja por gostar da “carne” da espécie); espécies utilizadas como animais de estimação (xerimbabos); espécies com alguma relação simbólica, normalmente vinculada ao canto das espécies, que “assustam”, “agouram”, “avisam”, “ensinam”, entre outros.

Independente de saber o que seja um conhecimento dito ecológico, muitas das falas das pessoas entrevistadas trazem uma informação ecológica riquíssima sobre as aves e o ambiente onde estão inseridas. A seguir, uma fala de um senhor que mora a mais de 40 anos às margens do Rio Cuiabá, demonstra isso:

“Agora, essa época (se referindo ao período da vazante), muito bicho aparece de volta por aqui: tabuiaiá, colherero, tuiuiú, garça. Na época da cheia eles somem tudo de novo”.

As espécies citadas no relato acima estão presentes na lista feita por Nunes e Tomas (2004) sobre as espécies migratórias do Pantanal, o que justifica o ato de “aparecer” e “desaparecer” da espécie, conforme relatado pelo morador.

CONCLUSÕES

Percebemos, assim, o potencial dessas comunidades, enquanto detentoras de um conhecimento local que pode e deve ser utilizado nas discussões sobre possíveis estratégias de conservação, tanto das aves, como do próprio Pantanal. O que falta é um comprometimento maior tanto das instâncias governamentais quanto acadêmicas no respeito dessas comunidades e das relações que as mesmas criaram com os ambientes ao qual estão inseridas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMBRIZZI, TÉRCIO. PREFÁCIO. IN: MARENGO, JOSÉ A. Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade: caracterização do clima atual e definição das

alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI. Brasília: MMA, 2006. p. 7

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GRÜN, MAURO

. Hermenêutica, biorregionalismo e educação ambiental. In: SAUVÉ, Lucie; ORELLANA, Isabel & SATO, Michèle. Textos escolhidos em Educação

Ambiental – de uma América à outra. Québec: Lês Publications ERE-UQAN, 2002.

Tomo I. p. 91-99.

IPCC. Intergovernamental Panel of Climate Change. Fourth Assessment Report.

Acessado em http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/syr/ar4_syr.pdf.

MARQUES, JOSÉ GERALDO W. Pescando pescadores: ciência e etnociência em uma

perspectiva ecológica. São Paulo: NUPAUB, 2001.

NUNES, ALESSANDRO PACHECO & TOMAS, WALFRIDO MORAES. Aves migratórias ocorrentes no Pantanal: caracterização e conservação. Corumbá: Embrapa Pantanal,

2004.

SATO, MICHÈLE; PASSOS, LUIZ AUGUSTO. Biorregionalismo: Identidade Histórica e

Caminhos para a Cidadania. In: SATO, Michèle (Coord.). Sentidos Pantaneiros:

Movimentos do Projeto Mimoso. KCM: Cuiabá, 2002. p. 10-33.

TOLEDO, VICTOR M. El juego de la supervivencia – un manual para la investigacion

etnoecologica en Latinoamerica. Califórnia: Berkeley, 1991.

TUBELIS, D. P. e TOMÁS, W. M. (2003) Bird species of the Pantanal wetland, Brasil. Ararajuba, 11(1): 5-37.

Referências

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