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Exercicios de Estilo de Raymond Queneau em Portugues

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Academic year: 2021

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I

T

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1

RAYMOND QUENEAU

~

,I

EXERCicIOS

DE ESTILO

Tradu<;ao, apresenta<;ao e posfacio:

LUlZ REZENDE

, I

1

(2)

GO/lyright © Editions Gallimard 1947 Titulo Original: Exercises de Style Capa: VICTOR BURTON Apow:

Embaixada da Frant;a no Brasil

CIP-Brasil. Catalogat;iio-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Queneau, Raymund, 1903-1976

Q51e Exercicios de estilo / Raymund Queneau; tradUl;iio, apresentat;iio e posfacio, Luiz Resende.

- Rio de Janeiro: Imago Ed., 1995. (Colet;iio Lazuli) Tradut;iio de: Exercises de style

Inclui anexos e bibliografia ISBN 85-312-0480-1

1. Literatura experimental. 1. Rezende, Luiz. II. Titulo. III. Sene

CDD - 848.07

95-1895 CDU - 840-8(07)

Reservados todos os direitos. Nenhuma parte desta obra podera ser reproduzida por fotoc6pia, microfi/me, processo (otomedinico 'ou eletr6nico

sem permissiio expressa da Editora.

1995 IMAGO EDITORA LTDA. Rua Santos Rodrigues, 201-A - F.stacio 20250-430 - Rio de Janeiro - RJ - Tel.: 293-1092

Impressa na Brasil

Printed in Brazil

SUMARIO

E

Eserevendo Que Se Vira Eserevedor, 11

- Luiz Rezende Anota<;:ao, 19 Em Duplieata, 20 Litotes, 21 Metaforicamente, 22 Retr6grado, 23 Surpresas, 24 Sonho, 25 Profecias, 26 Sinquises, 27 Areo-iris, 28 Gineana Verbal, 29 Hesita<;:oes, 30 Precisoes, 31

o

Lado Subjetivo, 32 Outra Subjetividade, 33 Relato, 34 Palavras-Valise, 3S Negatividades, 36 Animismo, 37 Anagramas, 38 Distin<;:oes Neeessarias, 39 Pareoteleutas, 40 Versao Ofidal, 41

(3)

'\

\ ,rJ. Gustativo, 84 Texticulo De Orelha, 43 . Tcitil, 85 Onomatopeias, 44

Analise L6gica, 45 Visual, 86

f,

Insist~ncia, 47 Auditivo, 87

Nao Sei De Nada, 49 Telegrafico, 88

Presente, 50 Ode, 89

Acontecendo, 51 Permutac,;6es de Grupos de 5 a 9 Letras, 90

Preterito, 52 Permutac,;6es de Grupos de 4 a 8 Palavras, 91

lmperfeito, 53 Helenismos, 92

Alexandrinos, 54 Conjuntos, 93

1'6s-Alexandrinos, 55 Reacionario, 94

Poliptotos, 56 Pai-dos-Burros, 96

Ap6copes, 57 Hai Ku" 98

Afereses, 58 Haikikai, 98

Sfncopes, 59

.

.) Versos Livres, 99

Quer Dizer, Ne, 60 Feminino, 100

Exclamac,;6es, 61 Ttanslac,;ao, 102 Entao, 62 Lipogramas, 103 Empolado, 63 Galicismos, 106 Povao, 64 Pr6teses, 107 Ocorrencia, 65 Epenteses, 108 Comedia, 67 Paragoges, 109 Apartes, 69 Metateses, 110

Parequese, 70 Gramatica Transformativa, 111

Fantasmatico, 71 Troca-Troca, 114

Filos6fico, 73 Nomes Pr6prios, 115

Ap6strofe, 75 Lingua do Pe, 116

(4)

Botanico, 123 Medicinal, 124 Gastronomico, 125 Zool6gico, Injurioso, 126

127

E

ESCREVENDO QUE SE VlRA ESCREVEDOR

Impotente, 128

P6s-Tudo, 129 Luiz Rezende

Probabilista, 130 Retrato, 131 Geometrico, 132 Sertanejo, 134 Interjei<;6es, 136 Precioso, 13 7 Inesperado, 139 I. J~

Ao ouvir as fugas de Bach em concerto, lei pelos anos 30, Raymond Queneau teve a ideia de criar urn equivalente litereirio, constitufdo por uma serie de varia<;6es em torno de urn tema bern simples. Durante'a guerra, para distrair-se urn pouco de seus projetos "serios" e de suas atividades editoriais, pos-se a escrever os primeiros exercicios, em torno de uma discussao entre dois passageiros a bordo de Agora que Voces Jei Leram,

- Luiz Rezende

142

I

':\

urn onibus. Ap6s ter composto urn "Dodecaedro", pensava em parar, mas acabou contagiado pela pr6pria ideia e con­ tinuou a serie ate chegar aos 99, "nem muito, nem pouco demais: 0 ideal grego". Em 1948, os Exercicios de Estilo foram

Anexos publicados pela primeira vez em forma de livro, e logo

Exercicios de Estilo Possfveis, Exercicios Brasileiros

Papo de Botequim, 167 Pisando na Jaca, 170 Brasileirinho, 172 Tupinacara, 175 Samba do Crioulo Doido,

161 177 I 1\

Ii

i

~-' ).

inspiraram uma pe<;a dos Irmaos Jacques, 0 que assentou

sua popularidade e refor<;ou a do autor. Raymond Queneau era, entao, com Sartre e Prevert, urn dos decanos da boemia circulando pelo Saint-Germain-des-Pres existencialista, "alto e forte contra 0 vento da besteira", segundo a elogiosa

f6rmula de Juliette Greco, que emplacou urn grande sucesso transformando em can<;ao seu poema "Si tu t'imagines".

Inspirado pelo convfvio encontrado na Grecia entre dois

Dei Samba, 179 registros de linguagem, com primazia do dem6tico sobre a

lfngua pura, Queneau vinha tentando a defesa e ilustra<;ao

Bibliografia, 181 f'>

do frances falado desde 0 come<;o dos anos 30, e chegou a

propugnar urn neo-frances: 11

(5)

Mezalor, mezalor keskon nobtyin! Sa dvyin incrouayab, pazordiner, ranversan, sa vouzaalor indse droldaspe dontonrvyin pa. On Irekone pudutou, Ifranse, amesa pudutou, sa vou pran toudinkou unalur ninversanbarbase stupefiant. Avredir, semem maran. Jerlu toudsuit Ie kat lign sidsu, jepapu

manpeche de mmare. 1

No comecinho dos anos 70, veio a reconhecer, nao sem uma pontinha de nostalgia, que a norma culta estava im­ pregnando a fala popular, e atribuiu 0 fenomeno

a

influen­ cia da televisao.

Em 1958, surgiu Zazi no metro, livro que ganhou urn premio de humor negro e virou filme de Louis Malle, alem de oferecer a Queneau seu primeiro e tinico real sucesso de estima popular.2 Para contar a hist6ria de Zazi, garota pro­ vincial e mais desbocada que chofer de caminhao, Queneau lan<;a moderadamente mao do seu neo-frances. 0 sucesso foi tanto que por pouco nao apaga a figura do criador; a partir dai, Queneau virou, antes de mais nada, 0 "pai de Zazi".

C;a se chante aussi, la chaussette: meia sUja tambem se canta. 0 problema e extrair do cotidiano "sua veia poetica, seu pequeno heroismo". Georges Perec, pr6ximo de Que­ neau, definia esse projeto como a busca do infra-ordinario:

"talvez possamos finalmente fundar nossa pr6pria antropo­ 1 Mais alors, mais alors, qll'est-ce qll'on n'obtient! (:a devient incroyabIe, pas

ordinaire, renversant, t;a, valis alors, lin de ces droies d'aspect dont on ne revient pas. On Ie reconnait pIlls dll tOllt, Ie frant;ais, ah, mais pIlls dll tOllt, t;a ValiS prend tOlit d'lIrl colip line allllre invraisembiabIe, c'est stllpefiant. A vrai dire, c'est mbne marranl. J'ai reill tOlit de sllite Ies qllatre /ignes ci-dessllS, Fai pas pll m'empecher de me marrer ("Ecrit en 1937", retomado em Batons, chiffres, Iettres, p. 22). Em

logia: a que falara de n6s, buscara em n6s 0 que tanto fomos pilhar nos outros. 0 end6tico, em vez do ex6tico" (apud

Souchier, 1991, p. 12 - ver a Bihliogra(ia, ao final deste volume). Trata-se de uma poetica estudadamente esponta­ nea, com mais rima do que razao, como assinala Jean-Yves Pouilloux (1991), mas nos melh6res casos, quando a rima concebe a razao, abre-se urn espa<;o de linguagem motivada onde se opera uma rela<;ao, digamos magica, entre fala e mundo. 0 laborioso plumitivo descasca chavoes, prover­ bios e lugares comuns, guarda a polpa para uso renovado e varre os escombros de urn golpe de pena que, for<;osamente, deixa tra<;os textuais.

Queneau e ainda capaz de escrever roteiro para docu­ mentario de encomenda, cantando as maravilhas do estire­ no em alexandrinos! Sua produ<;ao poetica, sob a aparencia par6dica, multiplica eXigencias e recursos formais, como no caso dos Cem mil hilhoes de poemas, 10 sonetos cujos 14 versos podem ser livremente associados, 0 que resulta, como 0 titulo indica, em 1014 sonetos - cada verso vern ' escrito numa lingueta recortada, de forma que a pagina se compoe de catorze linguetas independentes, que podem ser viradas uma a uma (como em certos livros infantis).

I

Em 1960, criou-se, sob sua inspira<;ao, 0 Ouvroir de

Litterature Potentielle, ou Oulipo. Nao sem humor, 0 nome se refere aos atelies (ouvroires) de corte e costura das freiri­ nhas. Quanto

a

literatura potencial, trata-se de pesquisar matrizes formais que possam em seguida encontrar aplica­ <;ao em obras literarias. I-Ching, Tan'), jogos ret6ricos do

(6)

ja publicou tres atlas para expor seus achados. Para Que­ neau, fade jogos, 0 "realismo matematico" e uma forma de

conjurar a desgrac;:a ou, ao menos, de torna-Ia suportavel, provisoriamente relegada a urn nicho da consciencia inati­ vo.

"E

escrevendo que se vira escrevedar": C'est en ecrivant

qu'on devient eeriv~ron. 0 homem adorava esta frase, a ponto de fazer dela urn lema, farjado por ele a partir do proverbio frances c'est en (orgeant qu'on devient (orgeron, "forjando se faz 0 farjeiro", derivado por sua vez do latim (abricando fit

(aber. Ela resume admiravelmente a etica do trabalho arte­ sanal que define as relac;:6es entre Queneau e a literatura.

Relendo Hegel, como tantos outros de sua gerac;:ao, Queneau via na Hist6ria "a ciencia da desgrac;:a humana". A tragedia e cotidiana e difusa; conta-Ia exige, nessas circuns­ tancias, urn que de humor, sob pena de uma insuportavel narrac;:ao reduzida a desfiar mazelas. "Quando 0 narrador

sarri e desdenha a morte, chamam seu relata urn 'romance c6mico', mas 0 'tom leve' empregado

e,

na verdade, urn

resquicio de grac;:a numa paisagem de catastrofe ..." Desen­ ganado como 0 anjo da Hist6ria. '''Gente feliz nao faz

hist6ria'; nao e s6 trocadilho. A(s) desgrac;:a(s) formam todo ocampo narrativo".

Matthieu Galley, falando da enormidade e da "indigen­ cia agressiva" dos trocadilhos de Queneau, ja os tinha assimilado a certo espirito de escola primaria. Se 0 ubuesco

Jarry tern urn que de adolescente, e 0 humor derivadode

Lautreamont aos surrealistas urn negrume para la de adulto, a peculiaridade de Queneau talvez esteja nessa ~alicia que, mesmo no auge da vulgaridade, guarda certa inocencia e candura. Seu primeiro critico, Jean Queval, aproveitou a homofonia quase perfeita entre reerear e reeriar - reereer e

14

reereer -, para estabelecer uma analogia entre espirito de escola e trabalho literario, ambos funcionando sob 0 impe­

rio de aparentes contrarios, disciplina e distrac;:ao. Mas que tal ludismo nao nos engane; como diz Queneau, num eco dantesco, "quem entra aqui deve aceitar todo e qualquer jogo de - e sobre - palavras". Enquanto se joga, 0 inferno

fica esquecido. E, pela etica queneliana do riso, tentemos, enquanto isso, matar a charada, para nao terminarmos arreganhando os dentes num esgar inenarravelmente ama­ relo.

,1

(7)
(8)

ANOTA(7AO

No 6nibus S, em hora de aperto. Urn cara de uns 26 anos, chapeu mole com cordao em vez de fita, pesco<;:o comprido demais, como se tivesse sido esticado. Sobe e desce gente. 0 cara discute com a vizinho. Acha que e espremido quando passam.

Tom choramingas; jeito de pirra<;:a. Mal v~ urn lugar vago, carre para se aboletar.

Duas horas depois, vejo a mesmo cara pela Pa<;:o de Roma, defronte it esta<;:ao Sao Lazaro. La vai com outro que diz: "Voc~ devia p6r mais urn batao no sobretudo". Mostra onde (no decote) e como (para fechar).

(9)

EM DUPLICATA

P

or volta do meio da jornada e em torno de meio-dia, pula e subo na plataforma

e

balcao traseiros de urn onibus e transparte para todos repleto e lotado da linha S, que vai da Contrescarpe e Contra-escarpa ao Campeta e Champer­ ret. Percebo e nota ali e nesse lugar urn jovem homem e adolescente passado, ridiculo assaz e grotesco a bastante: pesco<;o magro e gogo descarnado, fio e cordao em torno do chapeu e tapa-miolos. Apos e depois de urn bate-boca e empurra-empurra, ele diz e profere em tom e voz choramin­ gantes e lacrimejantes que seu vizinho e co-passageiro insis­ te e persiste em esprem€'-lo e importuna-Io sempre e a cada vez que desce e salta urn gaiato alguem. Isso e tal coisa dita e feita e pepois e assim que abriu e botou a boca e a trombone no onibus e no mundo, precipitou-se e dirigiu-se para e rumo a urn lugar e banco recem e no instantinho mesmo livrevago.

Duas horas e cento e vinte minutos mais tarde depois, eu a reencontro e minha pessoa v€' a mesmo novamente de novo na Cour de Rome e Pa<;o de Roma em face da gare Saint-Lazare e defronte

a

esta<;ao Sao Lazaro. Esta e encon­ tra-se com urn amigo e companheiro que a incita e aconse­ lha a par e botar mais urn batao e suplementar ossa no seu manto sobretudo.

LITOTES

"

Eramos poucos tantos a deslocar-nos em conserva, dos quais urn, ligeiramente aquem de maduro e com ar de rarefeita intelig€'ncia, sugeriu, alga veementemente e par urn lapso de instante ao, se ouso dizer com certo abuso, cavalheiro que se encontrava a mui discreta distancia de si, conjeturas sabre a comportamento, qUi<;a libado, deste ultimo; quase continente, absteve-se de verba e renunciou

a

posi<;ao ereta. Nao houve largo esperar antes de reaperce­ b€'-lo num repente.

Estava em singular companhia e discorriam sabre im­ plementos de moda.

(10)

,

\

\

METAFORICAMENTE

o

astro apolineo parecia ter imobilizado seu tao celere curso em zenital posic;ao e dardejava implacavel no meri­ diao escaldante como as dunas de Copacabana, exasperando a sufoco da massa compacta num cole6ptero de alva abd6­ men, tal sardinhas em lata, quando urn girafoso e glabro pinto lanc;ou-se

a

escamac;ao de uma delas, das menos saracoteantes, com repentina arenga que nos ares desfral­ dou-se umida de protesto. Em seguida, aspiradopor vacuo oportuno, subito e volatil partiu ao poleiro.

Revi-o todavia, cronometricas revoluc;oes passadas, pe­ ripateteando em m6dica comunhao e difuso sensa no ma­ linc6nico dedalo onde a urbe se traduz em metafora coletiva, reduzido entretanto a espirrar toda sua arrogancia por obra de somenos batao.

RETROGRADO

"A

a sobretudo bern poderia voc~ acrescentar urn

batao", disse-lhe a amigo. Foi em plena pac;o de Roma. Pouco antes ao aconselhado vira eu, avido sabre vago assento se precipitando mal expresso seu mau protesto contra a vizinho cujos gestos, alegava, extrema agrediam­ lhe as extremos ao sabor do fluxo de entrada e saida de passageiros. Trazia a descarnado jovem ridiculo chapeu. Na traseira plataforma: era.

No, ao meio-dia lotado, S, tudo comec;ara.

(11)

,

f

\

SURPRESAS

Que

aperto na traseira! E aquele fulaninho, iiihh que cara de bobo, e que arzhlho mais ridiculo! Sabe 0 que ele fez?! Nao e que deu de emburrar, s6 porque - atrevido 0 senhorito! - la muito de vez em quando, no lufa-Iufa, urn cidadao dos mais honestos dava umas encostadinhas! Caca­ rejou 0 quanta p6de e depois saiu escafedido para ir-se aboletar num lugar vago, ainda quentinho! Que displante! Em vez de deixa-Io para uma senhora!

Duas horas depois, adivinhem quem eu vejo defronte

a

esta~ao?! 0 pr6prio! 0 mocetao! Ouvindo dicas de roupa!

De urn amigo!

Nao da para acreditar! 0 amigo era urn gato, nem te conto! E entendido em moda como ninguem...

\

r

SONHO

T

udo era bruma nacarada, sombras multiplas onde avultava urn jovem, vejo nitidamente seu rosto encarapita­ do num conspicuo pesco~ao, que salientava seu carater mais para covarde que cabrao. No lugar da fita do chapeu, urn fio

tran~ado. P6s-se a discutir com urn individuo indistinto;

depois, como que amedrontado, sumiu num corredor escu­ roo

Em outra parte do sonho, esta andando sob 0 sol a prumo defronte

a

esta~ao Sao Lazaro, com urn companheiro que the diz: "Voce devia botar outro botao no sobretudo".

(12)

----PROFECIAS

Meio-dia Vira, e voce estara na plataforma traseira de urn 6nibus com passageiros saindo pelo ladrao, onde perce­ beni urn raparigo ridiculo, de pesco<;o esqueletico e cordao algum no feltro mole. Esse jovem ficara desassossegado, pois pensara que espreme-Io ha, de prop6sito, urn senhor, e tal ate repetir-se-a sempre que subira ou descera alguem do 6nibus.

Protestos havera, e serao proferidos em voz que se alteara, mas tao incondicional sera seu desdem que 0 ad­

moestado nao se rebaixara a responder. Em panico, 0 rapa­

rigo escafeder-se-a sob 0 nariz do algoz e escarrapachar-se-a

num lugar que vago ficara.

Voce de reve-Io ha, pouco mais tarde, no pa<;o de Roma, defronte

a

esta<;ao Sao Lazaro. Urn amigo estara com ele, e dir-Ihe-a palavras tais que seus ouvidos escutarao: "0 sobre­ tudo nao assentara direito como presente. Para 0 futuro,

pora outro botao".

SiNQUISES

Ridiculo raparigo, que eu me vendo lotado urn dia em 6nibus da linha S, por tra<;ao talvez 0 esticado pesco<;o, no

chapeu cordao eu urn percebi. Arrogante e em lacrimejante tom, que contra 0 senhor ele ao seu lade protesta, encontra

se. Encontr6es the pois dada este, vez gente cada que desce. Vago senta sobre e se se urn lugar dito precipita, isto. Pa<;o no de Roma, dou mais com ele ouvindo tarde, duas horas que no seu sobretudo outro botar, aconselha-o urn amigo botao.

(13)

ARco-iRIS

La

vai na

boh~ia

de urn anibus marrom de gente urn rapazelho escandalosamente borrado: pescoc;o indigo, bar­ bante rosa no chapeu malva. Vermelho de raiva, destrata num tom verde bilioso urn senhor que nao amarela e, ao ver a coisa preta, 0 almofadinha fica branco de susto e prefere azular para alvo assento.

Na hora em que todos os gatos sao pardos, eu 0 reen­ contro em frente a uma estac;ao furta-cor. Roxo de inveja, urn amigo diz que deve par urn botao turquesa para dar mais corpo a seu manto cereja.

GINCANA VERBAL

Usar: dote, baioneta, inimigo, capela, atmosfera, Bastilha, correspondencia.

Eu

estava urn dia na plataforma de urn onibus pequeno demais para transportar 0 dote de Mucuripe Rua, filha do ilustre EngQ Reinaldo Cons6rcio ]ardim, grac;as a quem a

Companhia Municipal de Transportes Coletivos (e.M.T.e.) tanto fez para aumentar 0 espirito gregario do usuario amigo, nao de sentar-se na baioneta de urn inimigo, apesar dos ditos populares malevolentes, mas de transportar-se em intima e sudoripara companhia, ainda que eu tenha visto por la, nesse dia, urn jovem assaz ridiculo, que levava jeito, mesmo nao sentando, e que de repente atacou, com voz a

capella, urn senhor instalado em suas costas e que nao era sacristao. Tendo assim feito pesar a atmosfeFa, deixou cair a Bastilha.

Duas horas mais tarde, reencontrei-o dando voltas por ai com urn companheiro que 0 aconselhava a par mais urn botao no sobretudo, conselho que podia muito bern ter sido dado por correspond€lncia..

(14)

HESITA(x5ES

Onde foi, nao sei muito bern... em uma igreja, uma lata de lixo, uma fossa comum? Urn 6nibus talvez ... Havia ali ... mas 0 que e mesmo que havia ali? Favas, lombrigas, goia­ bas? .. Vai ver que caras ... Com carne em volta, quer dizer, provavelmente vivas.

E,

mais ou menos isso ... Gente num 6nibus. Uma das caras ... ou melhor, urn cara e nao uma cara ... nem metade ... dava ... na vista?

A

vista? .. Nao sei mais como nem porque. Por sua redondeza? Sua grande grandeza? Sua megalomania? Ou melhor. .. mais exatamen­ te ... por sua pouca idade e muito ... queixo? Nariz? Dedao? Nao: pesco<;ao ... de todo tamanho, e urn chapeu mUito, muito estranho. Ai entao, ne ... qUis querela ... e, algo as­ sim ... com alguem por ali - Velho? Crian<;a? Homem? Mulher? A coisa acabou ... ela bern que deve ter acabado se acabando ... eu acho pelo menos ... de urn jeito ou de outro ... vai ver que urn dos dois fugiu, ou os dois, sei lao

Alias, pensando bern, acho ate que vi ele de novo, pode ser. .. mas onde? .. Quer dizer, 0 cara ... nao 0 outro, 0 querelento ... e, 0 de chapeu ... Ai ne ... ele andava por ali, quer dizer, sozinho nao, ne ... tinha muita gente ... nao, com ele nao ... 0 que e que era mesmo? Uma igreja? Uma fossa comum? Urn centro comercial? .. Eles iam pra la e pra ca ... mas acho que nao era coisa de grupo ... s6 que devia ter alguem, acho ate que ... e, amigo, conhecido, sei la, ne ... e se diziam qualquer coisa, mas 0 que? 0 que? 0 que?

30

PRECISOES

...

As 12:17 min, num 6nibus da linha Scorn 10 m de comprimento, 2,1 m de largura e 3,5 m de altura, evoluindo a 3,6 km do ponto de partida e lotado com 48 pessoas, urn individuo de 27 anos 3 meses e 8 dias, medindo 1,72 m e pesando 65 kg, de sexo insignificante, que portava sobre a cabe<;a urn chapeu de 17 em de altura com 0 cone de materia m6rbida circundado por urn cordao de 35 em de compri­ mento, interpelou urn homem de 48 anos 4 meses e 3 dias de idade, 1,68 m de altura e 77 kg de peso, atraves de 14 palavras cuja enuncia<;ao durou 5 s e que faziam alusao a deslocamentos invQluntarios de 15 a 20 milimetros. Em seguida foi sentar-se a 2,1 m do palco onde ocorrera 0 acontecimento relatado.

Ap6s urn lapso de 118 min, 0 primeiro individuo men­ cionado encontrava-se a 10 m da esta<;ao Sao Lazaro, sendo esta distancia considerada a partir da entrada para os trens de suburbio, e deslocava-se longitudinalmente em ambos os sentidos de urn vetor cujo raio era de 30 m, em sincronia harm6nica com individuo analogo, 28 anos de idade, 1,70 m de altura, 71 kg de peso, aplicado em emissao verbal constituindo 15 palavras, semanticamente referenciadas ao deslocamento projetado de 5 em, na dire<;ao zenital, de urn circulo perfurado com aplica<;6es vestimentares de 3 em de diametro.

(15)

o

LADO SUBJETIVO

Minha indumentaria, nos idos de hoje, punha-me pando de orgulho, posta que estava inaugurando urn cha­ peu inedito, muito jeitoso, que amoldara a meu gosto infalivel: urn complemento perfeito ao mantO de caxemira fulva que tenho em tao alta conta. Encontrei X na passarela da esta<;ao Sao Lazaro, no inicio achei 6timo t~-lo como testemunha enquanto brilhava no meio do vulgo, mas ele, s6 para estragar meu prazer, foi logo tentando me convencer de que meu sobretudo e fendido demais e que preciso acrescentar urn botao; e bern verdade que 0 maledicente, por mais que procurasse, nao encontrou nenhum reparo a fazer ao cobre-coco, 0 galao tran<;ado que apliquei e mesmo demais.

Pouco antes, eu pusera no devido lugar urn cafajeste que me brutalizava sem prop6sito, culpa desses imundos omnibi,

tao atulhados e populaceos justa nas horas em que me e azado utiliza-Ios.

OUTRA SUBJETIVIDADE

HOje, na plataforma traseira do 6nibus, ia ao meu lado urn desses ranhosos como ja nao se faz mais, gra<;as a Deus! Senao eu ainda matava urn! Esse af, urn moleque de uns vinte e seis, trinta e nove arros, me irritava especialmente, nao tanto por causa do pesco<;ao de peru desplumado, mais pela fitinha cor-de-beringela enrolada no chapeu mambem­ be. Ah, sacripanta de uma figa!

Bern, 0 6nibus ia lotado, e eu aproveitava 0 empurra-em­ purra do sobe-e-desce para entrar de cotovelo no lombo dele. Terminou se escafedendo, 0 covarde! Pena, mal tive tempo de dar uns pisoes nos seus arpeus, iam ficar roxos feito 0 chapeu ridfculo que ia levando. Faltou dizer tambem, para ensinar umas verdades ao almofadinha, que faltava urn botao no seu horrivel sobretudo decotado demais.

(16)

RELATO

Certa manha por volta do meio-dia, na plataforma traseira de urn onibus quase lotado da linha S - hoje em dia 84 - circulando nas imedia<;6es do parque Monceu! percebi urn personagem de pesco<;o comprido demais com urn chapeu de feltro mole circundado par urn galao de trancinhas no lugar da tira. 0 indivfduo interpelou de chofre seu vizinho, pretendendo que este ultimo espezinha­ va-o propositalmente sempre que subiam au desciam pas­ sageiros, ap6s a qu~ abandonou a discus sao para jogar-se num recem-vago lugar.

Duas horas mais tarde, revi-o defronte

a

esta<;ao Sao Lazaro conversando animadamente com urn amigo que a aconselhava a diminuir a fenda do sobretudo em algum alfaiate assaz competente para por mais alto, talvez, urn batao.

PALAVRAS-VALISE

Eu

platonibus formava co-multitudinariamente em es­ pa<;o-tempo lutecio-zenital avizinhando urn longipescocf­ neo serranhento e encordesmiolado. Talcujo apostrofava urn qualqueranonimo, "0 sr. me propespreme", a que jaculado, vagossentou-se vorazmente. Em aItera espa<;ocro­ nia, revi-o em peripateticomercio com X que the dizia:

"Voc~ precisa botambotar mais alto sobretudo". E porquex­

plicava-lhe como.

(17)

I "

NEGATIVIDADES

N

ao era navio nem aviao, mas urn meio de transparte terrestre. Nao era de manha nem denoite, mas ao meio-dia. Nao era caduco nem bebe, mas rapaz. Nao era fita nem barbante, mas urn galao tran~ado. Nao era procissao nem mutirao, mas empurra-empurra. Nao era mau nem amavel, mas ranzinza. Nao era verdade nem mentira, mas pretexto. Nem de pe nem de boca, mas querendossentar-se.

Nao era ontem nem amanha, mas para ja. Nem a Luz nem a Central, mas Sao Lazaro. Nem conhecido nem desco­ nhecido, mas camarada. Nao e piada nem mentira, mas dica de amigo: nunca acredite em con~elho traduzido.

ANIMISMO

Era uma vez urn chapeu marrom, de feltro mole e abas l'afdas, com uma trancinha em volta para enfeitar, urn chapeu entre outros, cujo destaque aleat6rio era mais devi­ do as desigualdades do solo e

a

sua repercussao pelas rodas do veiculo autom6vel que 0 transpartava, a ele 0 chapeu. A ('ada parada, as idas e vindas dos circunstantes causavam Ilde, 0 chapeu, movimentos laterais ocasionalmente assaz pronunciados, 0 que terminou par irrita-lo, ele 0 chapeu. F.xprimiu entao sua ira 16 dele chapeu par intermedio de lima voz nem urn pouco de feltro, e que se the articulava a ele, 0 chapeu, numa disposi~ao estrutural cuja ov6ide de ressonancia, 6ssea, irregularmente perfurada e recoberta com uma camada qualquer de materia animal situava-se sob si, si 0 chapeu. Depois foi sentar-se, se 0 chapeu, sem por nem tirar.

Umas duas horas mais tarde, a pouco mais de metro e meio do nive! do solo, em deslocamento continuo defronte

a

esta~ao Sao Lazaro, la estava ele, 0 chapeu. Urn desmiolado

dizia que devia por outro botao no sobretudo ... Outro botao ... e sobretudo ... dizer isto a ele!. ..

E

de se comer 0 chapeu! ...

(18)

ANAGRAMAS

Nos naum roah de soamas urn pito nuds setienveis sona qeu suspoia urn dengar copes<;:o e urn achupe ronado de drodio no gular da tifa, braviga moe urn trouo saposgreia que eel causava de elh espermer de porpisoto. Tendo assim congiranhado, se crepitipa serbo urn algur rilve.

Uma hoar mias dreta, co-neontro no <;:apo de Amor, fedentro Osa Arloaz. Vaseta moe urn picomeanho que hel zidia: "Ovec viade troba sima mu taobo no teu subredotolJ

DISTINC;OES NECESsARIAS

Num

onibus (nao confundir com ninho de obus), eu vi (e nao como veio) urn alto capiau (nao no capim alto) com urn chapeu no cocuruto (nao

e

urn pe ja no coco bruto) omado de urn fio tran<;:ado (nada de ofldio transado). Ele possuia (mas nao em p6 e osso ia) urn conspicuo pesco<;:o (nao com pico pesco ou co<;:0). Como 0 povo empurrava (distinto de polvo como-o, emburrava), urn novo passageiro (corte nu povo massageiro) deslocou 0 dito cujo (e nao descolou ja 0 dito cu). 0 distinto reclamou (nao clamou retinto disso), mas venda urn lugar vago (antes que lendo urn vulgar alvo), ali se aboletou (nao se Ali the botou).

Mais tarde, dou com ele (e nao vou com mel) defronte

a

esta<;:ao Sao Lazaro (distinto desta san<;:ao la azaro), falando com urn companheiro (nao falhando come urn cao bronhei­ ro) a respeito de urn botao do seu sobretudo (a nao confun­ dir com arres, peitudo em botando 0 seu sobre, tudo).

39 38

(19)

I

~II

\

,

I,

PAREOTELEUTAS VERS}iO OFICIAL

Urn diulo caniculo no veiculo em que circulo, urn

T

enho a honra de informar V.

S~

dos seguintes fatos, fanculo com minuscula bula gesticula, a sua mandibula em que pude testemunhar tao imparcial quanta horrorizada­ virgula e 0 capitulo ridiculo. Outro sonambulo 0 acula e mente.

anula, ele rutil articula, "crapula", mas seus escrupulos dissimula, recula, capitula e arrima la longe seu cu.

Em tardula hula, rumo

a

estacula Santula Lazula, eu 0 disculo; com urn amigulo, disculia de b6tulas e sobretulo.

Neste dia mesmo, por volta do meio-dia, encontrava-me eu na plataforma de urn onibus que subia a rua de Corcelhas em direc;:ao ao Campeto. 0 dito onibus estava lotado, e mesmo superlotado, e mister assinalar, pois 0 bilheteiro aceitara varios impetrantes em sobrecarga, exorbitando suas func;:oes, ignorando 0 regulamento e frisando a indulgencia. A cada parada, os passageiros, ocupados em tramites ascen­ dentes e descendentes tao somente privados, davam azo a irregular empurra-empurra, 0 que foi motivo de protesto, devo acrescentar que respeitoso, por parte de urn probo cidadao veiculado.

E

digno de nota que, tendo se revel ado urn lugar vago, 0 supracitado encetou ordeiramente a mar­ cha que leva-Io-ia a abandonar provisoriamente, segundo os dispositivos em vigor, 0 estado vertical.

Acrescentarei 0 seguinte adendo a este breve relato: tive novo registro ocular do referido cidadao,. nessa ocasiao posterior desinvestido de seu estatuto de passageiro e inves­ tindo a via publica em companhia de urn personagem nao identificado. Ambos procediam em contradit6ria direc;:ao e outrossim a uma conversa que, segundo os termos arrola­

(20)

~

(

/

I

se repitam, ou nao se repitam, de acordo com as normas gerais de gestao ficcional que orientam a fidedigna escritu­ ra<;ao de nossos servi<;:os.

YEXYiCULO DE ORELHA

o

celebre romancista X, a quem jii devemos tantas obras, e algumas primas, apresenta-nos desta vez, com 0 brio que sempre deu alento a suas cria<;:6es, a personagens ines­ queciveis agindo em ambiente conhecido e situa<;6es ao alcance de todos, jovens ou maduros, remediados ou irre­ mediaveis. 0 enredo transporta-nos num onibus onde 0 her6i topa acidentalmente com urn enigmatico personagem que tenta acua-lo em lancinante alterca<;ao, mas uma feliz casualidade evita 0 desenlace extremo. 0 livro apresenta urn fecho de ouro, onde 0 misterioso individuo, em conluio com urn mestre em dandismo, entrega-se a urn vertiginoso dialogo onde aflora toda sua devassidao vestimentar. X sabe como ninguem par-nos em guarda contra os riscos sempre atuais, e por isto mesmo sempre esquecidos, de abrir de­ mais: sejamos modestos, fechados e para todos como seu her6i. Uma grande li<;:ao moral! Urn enlevo de escrita buri­ lada como urn broche! E, estamos certos, mais urn triunfo de estima publica e critica de X, cuja obra de rara estatura tanto vern nos edificando.

(21)

1111 IIII II III' II II ! II I

I

:Iil ONOMA TOPEIAS

N

a plataforma, ro<;a ro<;a, de urn 6nibus, bi bi, da linha S que la ia, ssssssss, ja era meio-dia e bern, blem belem, blem belem, quando urn ridiculo efebo, tsc tsc, com urn desses tapa-miolos, ufa, virou-se e disse, hm hm, para 0 vizinho,

logo com raiva, rha rha: "Nao vai nem vern, nem no vaivem, tchitchitchira ope, titica, e sem tchitchitchi, senao viro bicho: au". Eo outro: mau. Crau e pimba. Nissa, ve urn lugar livre e bumba, ali poe a bunda.

No mesmo dia, pouco alem, vemvemvem, dou com a mesmo coco oco, toc toe, em companhia de outro efebo, tse tsc, as dais a tagarelarem, tchitchitchi tehatchatcha, sabre botoes de sobretudo (brrr, brrr, mas entao fazia urn friozi­ nho do bern born...).

E pimba.

)

ANALISE LOGICA A. Onibus. Plataforma.

Plataforma traseira de urn 6nibus. Lugar. Meio-dia.

Aproximadamente.

Meio-dia aproximadarnente. Hora. Passageiros.

Querela.

Urna querela de passageiros. Evento. Mo<;o.

Chapeu. Peseo<;o longo e rnagro.

Mo<;o pesco<;udo, traneinha no chapeu. Personagem principal.

Basbaque. Urn.

Urn basbaque. Personagern coadjuvante. Eu.

Eu.

Eu. Terceiro personagern. Narrador. Palavras.

Palavras.

Palavras.

a

que foi dito. Lugar livre.

(22)

~

Amigo. Botao.

Frase ouvida. Conclusao. L6gica. L6gico. 11'1 I I 'II 1'1· II ,I 1 'I I I 46 INSISTENCIA

Urn dia, em torno do meio-dia, tomei urn onibus quase lotado da linha 5. No onibus quase lotado da linha 5, jii havia urn jovem assaz ridiculo. 5ubiramos no mesmo onibus e 0 jovem, que tinha subido antes do que eu e jii vinha no onibus da linha 5, quase completo, por volta do meio-dia, ia levando na cabec;a urn chapeu que achei bastante ridiculo, eu que subira no mesmo onibus da linha 5 que 0 rapaz, mas urn pouco depois, urn dia, em torno do meio-dia.

o

chapeu tinha em volta uma especie de galao tranc;ado como urn libre, e 0 jovem que estava usando semelhantes chapeu e galao encontrava-se no mesmo onibus que eu, mas tinha subido antes, urn onibus quase lotado, pois era meio­ dia. 50b 0 chapeu, cujo galao imitava urn libre, espalhava-se uma cara acompanhada por urn pescoc;o muito, muito comprido demais. Ah! como era comprido 0 pescoC;o do jovem que portava urn chapeu com urn galao em volta, num onibus da linha 5, ao meio-dia daquele dia que podia ser urn dia ou 0 meio-dia de urn dia qualquer!

o

atropelo era grande no onibus que nos transportava rumo ao ponto final da linha $, urn dia perto do meio-dia, a'mim e ao jovem que Iii ia levando havia tempo urn pescoc;ao debaixo de urn chapeu ridiculo. Os choques que se produziam acabaram subito provocando urn protesto, protesto esse que emanou do jovem de pescoc;ao na plata­ forma de urn onibus da linha 5, urn dia qualquer quase ao meio-dia.

(23)

~ ~111"11

Houve uma acusa~ao formulada ern voz umida de dig­ nidade ofendida, na plataforma de urn onibus S, par urn jovem usando urn chapeu munido de galao ern toda a volta, e este - 0 jovem, nao 0 chapeu - quase levou urn pesco~ao

no pesco~ao, do ofendido que, de tao ofendido, poderia ter

esticado urn pouco mais 0 pesco~ao do jovem alem de dar-l he urn pesco~ao, mas houve tambem urn lugar vago assim de repente nesse onibus da linha S quase lotado porque era meio-dia ou quase, e 0 lugar foi logo ocupado pelo jovem de pesco~ao e chapeu ridiculo, que ja vinha de olho parque nao queria mais ser espremido na plataforma traseira do onibus S, urn dia qualquer quase ao meio-dia.

Duas haras mais tarde, eu 0 revi defronte

a

esta~ao Sao Lazaro, 0 tal jovem que j<i vira na plataforma do onibus S, ao meio-dia do mesmo dia, mas tanto fazia. Estava corn urn companheiro do seu estilo, que the dava urn conselho relativo a certo botao do seu sobretudo, e escutava atenta­ mente. Quem escutava atentamente, para ser mais claro, nao era outro senao 0 jovem que eu ja tinha avistado e que estava levando urn galao ern tomo do chapeu, na plataforma traseira de urn onibus da linha S quase lotado, urn dia qualquer ao meio-dia, ou quase.

NAG SEI DE NADA

N

ao vern nao, num to sabendo ... Ta bern, peguei 0 S ao ·meio-dia, sim. Se tinha gente? Ta na cara, que duvida, urn magote, tambem, numa hora dessas, po ... Uns nego ali - era mole? - urn arrastao, mas sem encosto tinha que ser na maciota... Urn cara de chapeu mole? Vai saber. Nao ta nos meus habito encarar barbado. Alias pra mim tanto faz.

Fio tran~ado? No chapeu?

E,

gozado pode ser, ta certo, la

pras nega dele, eu por mim nao leva goza~aopra casa ... e depois, nao tenho nada corn isso: trancinha no chapeu, nao falta mais nada pra inventarem... Entrou numas com 0 vizinho? E dai? Tern coisa muito piar acontecendo.

Se dei com ele de novo mais tarde? Sei la! Num to nem ai. Acontece de tudo nesta vida ... To me lembrando do velho, ele contava sempre que cum ele nao tinha papo ...

(24)

1

I"

PRESENTE

Ao

meio-dia, a canicula estatela os passageiros de oni­ bus e estes reagem: trocam mutuos pis6es. Vma pouca cabe<;;a encima urn pesco<;;o de marcada presen<;;a e orna-se com grotesco chapeu, se inflama e come 0 pau. Vivas bocas esquentam as orelhas presentes com injurias atuais, mas logo refresca a bronca, pois a gente se escarrapacha la dentro, em banco e sombra fresca.

Mais tarde acontece que conselhos vestimentares sao veiculados defronte a esta<;;6es com multiplos 3trios, eles concernem urn botao indistinto que dedos pegajosos de suor bolinam de modo ausente.

50

ACONTECENDO

Estou ficando por conta com 0 onibus do Campeto. Ele esta sempre passando lotado de b6is, de bois, velhos, milicos e mulheres. Vern ficando parecido com saida de jogo de futebol. S6 subindo na marra. Vou logo pagando a passagem para ficar

a

vontade, encarando os basbaques. Nada de interessante acontecendo, fico me divertindo com pouco, esses caras de pesco<;;ao que andam levando chapeu mole de trancinha. Volta-e-meia vern estourando urn em­ purra-empurra no meu-deus-que-isso dos sobes-e-desces. Ando ficando calado, na minha, mas os de cordao vern dando de estrilar com os vizinhos, ficam dizendo sei-la-o­ que uns para os outros, s6 estou sabendo que tern se enca­ rado fUribundos. Mas depois van logo ficando arreganhados, estao sempre com medo de urn pesco<;;ao nos pesco<;;6es. Ai, van saindo de fininho e se sentando onde e como vai dando.

Sempre que vou voltando do Campeto, ando passando defronte

a

esta<;;ao Sao Lazaro, onde vern acontecendo umas conversas estranhas entre esse tipo de tipinhos, que ficam apontando 0 indicador para 0 botao la de cima do sobretudo deles. Depois 0 onibus vai indo em frente e nao ando podendo ver mais nada, vou s6 ficando ali na boa, encaran­ do 0 teto sem estar pensando em pensar.

(25)

II

II

II

PRETERITO

Meio-dia passou. Os passageiros subiram no onibus. Ficamos apertados. Urn cavalheiro de pouca idade portou na cabe<;a urn chapeu envolto em tran<;a

a

guisa de tira. Ostentou alongado pesco<;o. Queixou-se junto ao vizinho dos golpesque este Ihe infligiu. Assim que percebeu urn lugar vago, precipitou-se sobre ele e ali desmilingiiiu.

Reapercebi-o mais tarde, em frente da esta<;ao Sao Laza­ ro. Vestiu-se com urn sobretudo, e urn amigo que se encon­ trou ali, passado, fez-lhe uma observa<;ao. Foi preciso supor urn botao suplementar.

. IMPERFEITO

Era

meio-dia. Os passageiros subiam no onibus. Esta­ vamos apertados. Urn mo<;o levava na cabe<;a urn chapeu que tinha em volta uma tran<;a em vez de tira. Seu pesco<;o era comprido demais. Queixava-se ao vizinho dos esprem6­ es que levava. Se percebia urn lugar vago, partia e se sentava.

Mais tarde eu 0 percebia defronte

a

esta<;ao Sao Lazaro,

quando se vestia com urn sobretudo e urn amigo que ia com ele estava comentando que assim nao dava, era preciso que pusesse mais urn botao.

(26)

i

i

:'1:

!

I

ALEXANDRINOS

Acalc;ada-se subito urn onibus S Sofrendo 0 sftio preste da turba; tal pes­ Te subindo, se desse, por onde se desce E, no sobe-e-desce, eu, sem que nada pudesse Vi-me acuado no fim da plataforma, esse Valhacouto de tipos de reles espede,

Dos quais fora conspicuo 0 horrendo espedme

A

cava despudorada e chapeu cafajeste, . Nao houvera tambem minimo mequetrefe

Pisando, mau, seus pes, se - e sempre que - desse Pe, ao sabor do sobe-e-desce, sem finesse,

Ate que 0 do chapeu esboc;ou verbal frege

Contra 0 vil catatau mas, antes que the pregue

o

tal boa bolacha, mal disse jei se escafede Ate ao primeiro banco e ali amolece. Voltando para casa, 0 que me acontece? Dou com 0 mesmo tipo em vivida quermesse

C'outro dandi da laia: "Caso Ihe interesse, Saiba que seu manto outro corozo padece!", Replicando lesto com lidimo pe

De olvido: "Assim e, pois que se the parece".

54

I'll'

POS-ALEXANDRINOS

Urn dia, lei no onibus que rola seu S, Eu vi urn sirigaito que sei da pior

es-Pede reclamando, se bern que seu turbante Levasse, em vez de tira, reles barbante. Tal moc;o insfpido, com seu heilito putrido E tamanho pescoc;ac;o, alegava turgido Que outro ddadao, de modo assim ligeiro Dava nos seus costados quando urn passageiro Alc;ava-se ofegante e premido na hora,

Esperando almoc;ar em sua casta demora.

o

triste esporreta caiufora da mutreta Indo sentar-se lei dentro com ar de pateta. Quando estava voltando pra minha casinha lei percebi de longe a feia figurinha

Com outro da sua laia, dandi imbedl dando Conselhos de moda: "Seu botao e nefando".

55

(27)

JI"""'~

t

POLIPTOTOS

Tomei urn anibus cheio de contribuintes que estica­ yam sua mfsera contribui<;:ao a outro contribuinte que es­ condia sua barriga de contribuinte atras de uma gavetinha que permitia aos demais contribuintes continuarern seu trajeto de contribuintes. Ali notei sobretudo urn contribuin­ te para cuja esquisitice contribuiam urn chapeu mole de contribuinte com tal trancinha ern volta como jamais con­ tribuinte algum contribuiu para envergar. De repente 0 dito

contribuinte interpelou 0 contribuinte vizinho reprovando­

lhe arnargamente 0 habito de contribuir para seu mal-estar

pisando de prop6sito nos seus pes de contribuinte sempre que outros contribuintes contribuiam para a confusao su­ bindo ou descendo do anibus para contribuintes. Depois 0

irritado contribuinte aproveitou a contribui<;:ao do acaso para sentar-se num lugar 'Para contribuintes que vinha de liberar urn contribuinte qualquer.

Algumas horas rnais contribuindo, percebi-o no Pa<;:o de Roma, entao coalhado de contribuintes, ern companhia de outro contribuinte que contribuia para sua eleg~ncia com peritos conselhos sem a menor retribui<;:ao.

;if

APOCOPES

Eu

to urn ani Iota. Repa num ra cu pesco e de gira, e que esta de cha com urn cor tran<;:a. E fi bra com ou fula, que acusa de the pi nos pes sem que su ou des al. De foi se sen pois urn lu va.

Volta, dei com e anda de urn la pa ou com urn ami que lhe da conse de elega, e que mostra pa e 0 primei bo do seu

(28)

-II

~._=.- - - . ­

AFERESES

Mei

nibus tado. Parei paz jo co<;o ra

rata,

tava peu dao <;ado. Le cou vo tra lano, cusava sar pre bia cia guem. Pois tar-se gar gou.

Tando, Ie dando do ra tra migo va selhos legancia, trava ra Ie meira tao bretudo.

SiNCOPES

P

guei uonbus cheo djntje. Vi 16gu rpaz de pesco<;om­ pridjrati xapeu cocornao tira. Eisi mteu arklama cuotra babakaprvetava trns<;ao prda ne!. Ensgda sijg6 nu luvago.

Na volprkaz, dei cuel no Pasram, uamigali dad u'a <;ao delgans abrutao.

(29)

II !Ii !II IIII III "I III III II II I 1 :,11 ! I I

I

1 I1

II

1

1 1 IIIII11 I

QUER DIZER,

NE

Quer dizer, ne, eu entendo, ne: urn sujeito que se mete a te pisotear, s6 da pra ficar com raiva, ne ... Mas, depois de tanta reclama<;ao, ir assim correndinho sessentar feito urn maricas, nao da pra entender, ne. Quer dizer, acho que foi bern 0 que eu vi, ne, outro dia na plataforma traseira do 5, ne: ca pra n6s, eu achava 0 pesco<;o dele meio comprido,

mas a trancinha no chapeu ate que era engra<;adinha. Quer dizer, ne, pro Marcio nao, ne, que eu jamais da minha vida saia com homem estiloso! ... Mas como eu ia dizendo, ne, depois de esgoelar que 0 vizinho estava pisando nele, enfiou a viola, ne, la dentro, ne, quer dizer, assim sem mais nem menos sessentou. Entao ne, nao da, ne, se fosse eu, a bolacha que eu pregava! Quer dizer, ne, na orelha do pesudo.

Ai ne, tern umas coisas engra<;adas na vida, quer dizer, ne, nem da pra contar, quando a gente menos espera, da de cara com 0 demo. Foi, ne, umas duas haras mais tarde e quem e que eu vejo, ne, na frente da esta<;ao?! 0 magricela, pois e, ne, 0 pr6prio! Eu s6 podia, ne, quer dizer, fiquei la

escutando os trique-triques que levavam, ele e outro sujei­ tinho da mesma laia, que ia dizendo: "Poe mais alto 0 botao". Ai eu olhei bern, ne, par pura curiosidade, quer dizer, ne, era 0 de cima.

EXCLAMAC;OES

Que coisa! meio-dia! hora de pegar 0 onibus! quanta

gente! quanta gente! que aperto! gozado! aquele ali! que focinho! e 0 pesco<;o entao! setenta e cinco centimetros!

brincando! e 0 galao! 0 galao! ainda naotinha reparado! que gozado! mais gozado ainda! gozadesimo! em volta do chapeu! E agara deu de ralhar! ele! 0 do galao no chapeu!

com 0 vizinho! dizendoque?! 0 outro? em cima dos pes dele?! iihhh, vai acabar em tabefe! vai simI como, que nada?! vai sim, garanto! e isso ail mete bronca! vai fundo! chupa0 olho! desce 0 paul firmer ue ... fugiu da rinha ... para se aboletar num cantol"depois de enfezar tanto!

Esta e a maiar! de novo?! e, e ele simI logo ali, olha! na frente da esta<;ao! e, andando para cima e para baixo! com outro fulaninho! no maiar fuchico! ai, vamos ver 0 que e

que eles tanto tern para se dizer. .. como?! essa nao! ... que precisa botar mais urn botao! no sobretudo! e!! no dele!!!

(30)

l!1

ENTAO

..

EMPOIADO

1"1.",1

Entao 0 onibus chegou. Entao eu peguei ele. Entao eu

...

A

hora em que ja se encarquilha a dedirr6sea Aurora, vi urn cidadao que me chamou a aten<;ao. Entao eu vi 0 galguei, talleste dardo, 0 estribo de urn coletivo transporte, pesco<;ao dele e a trancinha no chapeu. Entao ele come<;ou portento na estatura e fragil nos olhos doirados de neblina, a esbravejar com 0 vizinho que entao pisava nos pes dele. da linha S, de sinuoso trajeto. Agilimo e impavido como

1111\11, Entao foi correndo sentar.

Ai entao eu dei com ele de novo no Pa<;o de ROffia. Entao

Peri, preste reparei raparigo em invio pe de guerra. Seu pesco<;o era longalvo como 0 do cisne, e suportava urn elmo ele estava com urn colega. 0 colega dizia entao pra ele: de m6rbido feltro omado de fulva tran<;a, qUi<;a danic:a "VocE> devia entao botar mais botao no casacao". Entao. heran<;a de sE>niores exercicios de estilo. A funesta Disc6rdia de sulfureo ha.lito, estigma do vicio que em sua encapelada boca nao houveram extintoos mais fluoridicos mares de II

dentifricio, a Disc6rdia, la ia eu dizendo, veio insuflar sua

111111111

maligna procela no debil animo do cisnetran<;udo varao, que fero virou-se contra aItero passageiro de farinhoso viso, adere<;ando-Ihe adrede: "Dizei-me pois, homem mau, por que fortuna pisoteais meus artelhos ate que fiquem rubros como verso tinto de sangue?" Tendo assim falado e dito, eelere foi sentar-se em vago lenho.

Mais tarde, na Taba Grecolatina de majestaticas propor­

1,.1 <;6es, azo me foi dado de entrever redobrada vez 0 doce

barbaro, que plastico tal cervo por ali passeava em ludica

Iii

companhia, indito cacique de mordas que se pronunciava

em sua inten<;ao. Nada querendo perder da nomotetica fala, meus afiados auriculos colheram em preste espicho 0 dito alhures endere<;ado, e que de lidimo modo criticava a cons­

I picua tunica do Her6i: "VocE> lograria apreciavel efeito

:111 diminuindo 0 cavadao de sua tanga, mormente pela adi<;ao

ou alteamento de urn ebumeo botao de circular periferia" .

(31)

" Ii " :1 III Ii II '1 'II II II i'l I, 'I II II II ,I! 'IIIi 'I I

II

II 1\ 1'1 1\ POVAO

Eram meiudia passada quandu a genti pudemu pega ue<;:i. Ai a genti subimu, juntfrmus caramingua mais u men6

n~in num paga. AI dispois a genti vimuomi gozadu, cum

pescos<;:au dipiru i urn fiu nu tapamiolu. Eu oiei ne, pru causa qUi era gozadu quandai dispois u omi puxa briga cu otromi ladu ladu la deli. Ai entau elidi<;:i pru otro ~i voss~ ai 6ia meus pe aqui, tudu i<;:u xoramingando pru causa qui era di proprositu qui eli axava. Mais eli tinhumedau danadu di leva nu qengu. Dai intau eli foi sissenta, tudu orguuiozu. Dispois a genti fumo na estassau compras pa<;:agi pru tr~in

das onse mais tevum pobrema i n6is perdeu utr~in dai qui a genti vimuomi dinovu cuuamigu iu amigu disia a<;:im pra eli: "Bototru botau nu cazacau".

,t

~.

"

OCORRENCIA

- Nadia da

ocorr~ncia,

a que horas passou 0 anibus

till

Ilnha S das 12:23, dire<;:ao Campeto? - As 12:38.

- Havia muita gente no indigitado anibus? - As pencas.

- Algum elemento particular?

- Urn elemento particular de pesco<;:o comprido e tran­

~'il no chapeu.

- A atitude do elemento era tao suspeita quanta a Indumentaria e a anatomia?

- No come<;:o, nao: 0 elemento se comportava normal­ mente, mas depois se alterou e foi causa de uma alterca<;:ao que perturbou 0 desenrolar tranqiiilo da viagem.

- Vamos passar

a

descri<;:ao objetiva da ocorr~ncia.

- 0 elemento em questao teve urn acesso de folia, referido no manual como ciclotimico-paran6ico, talvez sob efeitl.> de estrupafeciente, esmalte de unha ou cheirinho-da­ 1016. Nao foi possivel proceder

a

verifica<;:ao.

- Seje mais objetivo.

- 0 elemento interpelou urn elemento vizinho com trejeitos de choro e disse que 0 interpelado estava aprovei­ tando para pisar proprositadamente nos seus pes sempre que subiam ou desciam outros elementos.

(32)

Ii'

'PS

llll,

I!II" !

il::\'\1 _ Com a fuga precipitada do menor, que foi ocupar urn

II[ assento vago.

- A alterca<;ao deixou sequelas? 1

- Menos de duas horas mais tarde. COMEDIA

11.\

11\1 - Em que consistiram?

!.!I - Na reapari<;ao do elemento.

,III - Onde e como se passou a ocorrencia?

Ato I

.1 1

! - Passando no Pa<;o de Roma.

I - Qual era a atitude do elemento?

Cena I _ Ia para cima e para baixo, tomando uma H<;ao de

elegancia. Na plataforma traseira de um 6nibus S, meio-dia de um dia

_ Escreve af: ocorrencia de somenas importancia. Deixa qualquer. eu assinar. Porra, ttl atrasado pro meu curso de ikebana.

TROCADOR - Passinho

a

frente, faisfav6.

Espreme-espreme de passageiros.

Cena II

o

6nibus para.

TROCADOR -Espacinho pra desce. Sobimais? Lotado!

, I Tocupau. I !I, AtoII I ' Cena I Mesmo cenario.

PRIMEIRO PASSAGEIRO (jovem, pesco(ao, trancinha no cha­

peu) - Quer me parecer, distinto, que 0 senhor pisa nos

meus pes de prop6sito quando passa alguem.

SEGUNDO PASSAGEIRO (da de ombros) - ...

67 66

(33)

1

1

-ill

Cena II

,II

Desce outro passageiro.

PRIMEIRO PASSAGEIRO (monoiogcmdo em voz alta) - Oba!

Urn lugar vago, ainda quentinho! Na faixa! (dirigindo-se ao publico) - Tal assento fica livre num momento critica, e urn convite ... O que fazer? Ficar no campo de homa,

a

custa dos meus pes? Subtrair-me as injurias deste cidadao? Sentar ou nao sentar, eis a questao! (hesita, varre 0 palco e a plateia com

um olhar agoniado, depois se precipita e toma posse do lugar.)

Ato III

Cena I

Pa(,;o de Roma.

UMJOVEMELEGANTE (ao primeiro passageiro, agora pedestre)

- Grande demais a fenda no seu. sobretudo, devia fechar urn pouco, poe mais alto 0 botao.

Cena II

A bordo de um onibus S passando em (rente ao Pa(,;o de Roma.

TERCEIRO PASSAGEIRO (para 0 quarto) - Olhala, e bern 0

sujeito que agorinha mesmo estava as rusgas no meu C'lnibus de ida. Tamanha caincidencia nao pode ser obra do acaso! Vou aproveitar pruma comedia em tres atos.

r~~

,

APARTES

o

C'lnibus chegou vomitando gente. Se eu peio menos conseguir par 0 pe no estribo ... acabo fazendo um cantinho pra

mim. Urn dos passageiros visa mais raro! um pesco(,;a(,;o e esta cara de bostiio estava com urn chapeu de feltro mole contor­ nado por uma especie de cordeleta em lugar da tira niio deixa de ser pretensioso e pC'ls-se de repente vixe! quequideu no gajo?

a vituperar urn vizinho 0 outro nao dd a minima pro papo dele que acusava de pisar propositalmente parece galinho de briga mas vai ver que e bola murcha nos seus pes. Como vagou urn lugar no C'lnibus quequeu disse?virou as costas e foi sentar-se. Aproximadamente duas horas mais tarde vai entender tanta coincidencia estava no Pa<;o de Roma com urn amigo

empoado com a mesma farinha que indicava urn botao do seu sobretudo pra que tanta peruagem se isto nao vale um tostiio?

(34)

,...

FANTASMATICO

N

6s, guarda-ca<;a da Planicie Monceu, hemos honra a Va. Sra. relatando por extenso a inexplicavel e maligna presen<;a, a data de hoje, dezasseis de maio do ana da gra<;a de mil setecentos e oitenta e tres, as redondezas da porta oriental do parque de S.A.R. Dao Filipe, sagrado e consagra­ do duque de Orleas, qUi<;a Bragan<;a, de urn chapeu mole cuja forma ins6lita vinha envolta em gaHio tran<;ado de muy pouco heraldica aparencia. Ulteriormente, houvemos cons­ tatado ainda a repentina apari<;ao de urn mo<;oilo, provido de longo pesco<;o e trajos nunca dantes avistados, ao gosto da China. 0 espantoso aspecto do precitado quidao gelou­ nos 0 sangue e obstou-nos a retirada, tao prudente tal fOra.

A apari<;ao quedou-se im6vel poucos instantes, ap6s 0 que

foi presa de slibito desassossego em cujo curso agitava-se resmungando como se repelira invisiveis incubos s6 a si sensiveis. Sua aten<;ao dirigiu-se entretanto a seu capote, e escutamo-lo murmurar 0 que segue: "Falta botao, falta

botao". Em havendo assim falado e dito, arrepiou caminho em demanda a Sementeira. Atraidos, malgrado os naturais receio e recato de vosso servidor, pelo muy extraordinario fen6meno, seguimo-lo para alem dos limites atribuidos

a

nossa guarda e alcan<;amos, todos os tres, servidor presente mais chapeu e quidao, brumosa e fria estufa assombrada por analogas apari<;6es e, com todo 0 respeito devido a Vossa

Alteza e

a

quinta que e vossa sanctificada propriedade, decerto em pacta com 0 demo pois que, longe de se desen­

corajarem, ambos outros dois, com 0 aspecto desolado de

71

PAREQUESE

I

1 '1:\11

Botaram uns bostas abondantes bobeando no onibos

1

1

I, 1

11 I que os transbordava na boa bota com os bonus dos bornais

1 '1

l'i"'1 aborrotados. Urn born bota-a-boca-no-trombone esbo<;ou­

se quando urn bo<;al de bob6 abominavel se aborreceu com urn probo bobo e botou 0 verba: "Bonito! meu bolo e sob

o seu! Bote alem a bota!" Quase acabou em esb6rnia, mas a vibora desbocada, mal deu 0 bote, borrou-se e escaboliu

de embocar umas bolachas no rabo, indo aboletar-se num

""'III

tamborete onde desabou como urn rebotalho.

Ao cabo de umas boas, esborrei com 0 bo<;al em bochi­

1

1'\1 cho com outro bobo: "Tobo! Bota 0

II' II1 1"111I ",II"I",!

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,,1,1,',1 111 il;',!,11 , botao no bolso!" 70

(35)

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~II

I' I' I' 'I'll 1'1 'II, i,ll \I:I!II III 1 I i

tal sitio, pareciam ali regozijar-se, como plantados pes de couve; para despiste de sua estancia inmunda, houveram inscrito "Fa<;o de Romal! num mura, em marcada blasfemia.

o

qUidao, recem-chegando, foi galvanizado por nova crise de desassossego, e lacrimejante lamentou-se a couve mais pr6xima: "Ele me espezinhoul!, 0 que dito desapareceram, avante ele, a seguir, 0 chapeu. Com 0 que,

e

emp6s de muy extenso e reflectido modo haver outrassim relatado, para Vossa ciencia, 0 fen6meno acontecido e sua nao menos extraordimiria liquida<;ao, vou-me deste passo a taverna do Faulistinha para esvaziar urn chopps.

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... ' . '·t>" , I ..'·.:."

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FILOSOFICO

A

cidade polifonica que se afirma hoje, expandindo para alem do eurocentrismo historista e redutor novos arcanos do inteiramente outra, oferece agenciamentos at6­ picos multivocais e multi-sensoriais onde, ja desinvestidos da pr6pria ilusao neurotizante de possessao formal do ser­ objeto como unica fonte do desejo, podemos enfim orques­ trar series infinitas de rela<;5es cuja fractalidade constitutiva deixa repercutirem, como numa imensa camara eletronica de ecos iconicos, as multipIas instancias do ser p6s-indus­ trial, para quem 0 aparente caos videoacustico reveste a forma lUdica da afetividade confluente e da sexualidade plastica como reatualiza<;ao cognitiva constante, muscular e neurolingiiistica, da hist6ria paradamica em sua espiral incessante, angico-Iuciferina, cintila<;5es fugazes onde re­ brilham contudo, fazendo estilha<;ar-se em miriades signi­ ficantes 0 silencio terrorista da fun<;ao forclusiva, tra<;os da aspira<;ao vocativamente multifacetaria que permite ser ao originario uno tangencialmente conjugado emespezinhan­ te atra<;ao pelo baixo dia-a-dia, no que falo comunga e fala, palavra cotidiana de si mesma olvidada, como resgate do alto em vortical avesso. 0 locus muscular privilegiado tor­ na-se feixe de enuncia<;5es conceito-afetivas voluntaria e voluntariosamente abertas na aleatoriedade vetorial cUja

(36)

If

processo formal de traslado meta(eu)forizante as mais po­ lissemicas arquiteturas de intra-engrenagem puisomocio­ nal, onde a descoberta se alia ao risco sempre presente de uma reciprocidade falha, expressa em proposi<;6es reclusas na 16gica agressiva remanente: estamos ai diante do obvio sintoma de angustia frente

a

devorante banalidade do sam­ bodrama da historia, que afeta os simulacros antropomorfos de forma tanto mais previsivel quanta mais se acentuam

I

j

suas puls6es estilistico-primarias, aqui sob a forma de mor­bido apendice cervical, acola de fina materia serpentina, como se uma inexoravel for<;a centripeta encerrasse 0 des­ ser numa estase modal-representativa, surda a quaisquer potencialidades da supernova catastrofe que nao seus cantos anarm6nicos; e pos-tragico, certo, parodia prenhe de paix6­

III

I, es patetico-plat6nicas, mas virtualmente condenado

a

am­ bivalencia signica uma vez superado 0 forceps totalitario da "I

1 supera<;ao: amor-odio, amor6dio, amodio esquizicamente

1',1

uns.

Na mesma teia epistemica, outro acontecer fortuito e

\1

ii,

iluminado pela coruscante brilh~ncia do efemero a ritmar 1

1,1 1

I' o caos urbico em provis6rios ordenamentos de virtuais

II' possiveis e de possiveis virtuais, emprestando urn eixo her­

IlliII meneutico privilegiado

a

desconstru<;ao de urn troca-troca "I proposicional entre dois simulacros da mesma farinha, se­

1',1'I

gundo 0 qual uma fissura estilistica pode, com probabilidade III

significativa, atingir uma solucionatica parcialmente resolu­

!II'I toria atraves da eleva<;ao topologica projetada de urn esfe­

1 "II

r6ide material; em poucas palavras: basta resolver para fechar,

,1 ,1 sobretudo. II ',I!I ;11 11 11 ) 1III 74 1 ',',\1 l 1 ilil I APOSTROFE

o

~

estilografo platinopenado, que teu agilimo curso trace ligeiro sobre 0 alvo dorso do papiro tais glifos alfabe­ ticos que transmitirao aos homens de lunetas faiscantes 0 relato empirico de funesto encontro sob auspicios onibusi­ listicos. Fero corcel de rec6nditos sonhos, fiel camelo de meus feitos poeticos, esbelta fonte de vocabulos contados, pesados, triados, descreve pois as curvas metaforicas e me­ tonimicas formando os tropos ideogr~micos desta narra<;ao futil e derris6ria onde desfilam fatos e espalhafatos prodi­ gados, urn dia no 5, por certo pubescente, oco e retorto, decerto inc6nscio que, pelas linhas tortas da fortuna, meta­ morfosear-se-ia ele no heroi que minha pluma anima, por meu labor ingente imortal .

Almofadinha cUjo pesco<;o desmesurado culmina em chapeu conspicuo e galonado, periquito birrento, irado, tu que fugiste

a

rinha e lesto foste depor teu medro fundo em lenho rijo - oprobrio enrubescendo tuas nadegas! - , hou­ veras deveras intuido 0 retorico fado a que prometias quan­ do, no ferreo logradouro que assaltava peripatetico publico, ouvias a orelhas desfraldadas tal conselho de costura que teu superior botao adrede inspirava?

(37)

DESA/EITADO

N

ao costumo escrever. Quer dizer, nao sei. Eu bern que gostaria de escrever uma tragedia ou urn soneto ou uma ode, mas tern regras. Elas me atrapalham. Nao e para amadores, nao. Tudo isto af ja esta bern ruinzinho. Enfim. Ainda hoje vi urn caso que eu queria por no papel por escrito. Por no papel par escrito nao e la muito born. Deve ser uma dessas express6es feitas que desagradam aos leitores que leem para os editares que estao procurando a ariginalidade que lhes parece necessaria nos manuscritos que eles publicam depois que eles faram lidos e que eles acharam desagradaveis express6es do genero {{por no papel par escrito", mas nao deixa de ser 0 que eu quero fazer com este caso que vi ainda

hoje, se bern que eu seja urn simples amador atrapalhado pelas regras da tragedia, da par6dia e da comectia porque nao costumo escrever. Merda, acabei voltando la para 0

come<;:o, nem sei como. Nao vai dar certo nunca. Azar. Vamos botar 0 preto no branco. Mais urn chavao. E depois o fulano nao tinha nada de preto, senao 0 chapeu maria­ rosa-mole. Ah, essa af foi boa. Inesperada. Se eu escrevesse agora: pegaram 0 gostosao pela trancinha e fizeram uma gola de feltro com recheio de pesco<;:ao, e bern capaz que fosse ariginal. Mas nao.

E

legal, mas incorreto. Eu digo: 0

jovem rapaz tinha uma trancinha, viu 0 anjo, esqueceu tudo

vedor. Essa af e do cacete. Mas sem perder a medida. 0 fulano da plataforma entao ja devia estar par aqui, quer dizer, nao comigo, agora, mas fora de si, e assim que se escreve, quer dizer, e meu personagem, e assim sem mais

'f.\

f,. nem menos deu de esbravejar com 0 vizinho por causa que, " ele dizia, 0 outro pisava nos pes dele sempre que tinham

II

"

.1-, »:

que fazer espa<;:o para 0 pessoal subir ou descer. Ainda mais

'!~' que, depois de tanta onda, partiu a jato para sentar-se assim

que viu urn lugar livre la dentro, como se tivesse medo de levar uns sopapos. Ah, acabei conseguinto contar, de urn jeito ou de outro, a metade da minha hist6ria. Me pergunto como. Escrever e gostoso. Mas falta 0 mais dificil. A transi­

<;:ao. Ainda por cima, nao tern transi<;:ao nenhuma. Chamo o anjo?

E

melhor ir parando par aqui.

(38)

DESENVOLTO

1

Subo no onibus. - Vai pro Campeto? - Nao sabe ler?

Ele m6i minhas passagens na maquininha que leva na barriga.

- Tal. - Falo. Olho em volta.

- Escute aqui, cavalheiro.

o

sujeito esta de chapeu com um fio tranfado. - 0 senhor nao pode prestar mais aten<;ao? Risco de pescofafo.

- Mas assim nao

e

possivel! La se vai aboletar num banco.

- Que coisa - digo com meus botoes.

2 Subo no onibus.

- Vai pra Contrescarpa? - Nao sabe ler?

- Til bern, nao precisa encrespar. 78

~

v;, I

Seu realejo sempre moendo as passagens que ele me devolve moidas com um arzinho superior.

- Tal. - Falo.

Passando pela estafiio Siio Lazaro.

- Olhala 0 sujeito de agora ha pouquinho.

Espicho a orelha.

- Voce devia por outro botao no sobretudo ... Mostra onde.

- ... decotado demais ... E como.

- Poize ­ digo com meus boWes.

(39)

I

PARCIAL

~I

Depois de uma espera desmesurada sob urn calor do cao, 0 6nibus apontou afinal na esquina e veio frear encos­ tadinho

a

cal<;ada. Algumas pessoas desceram, outras subi­ ram: eu com elas, todo mundo de montao na plataforma. 0 trocador espremeu veementemente uma buzina e 0 vefculo retomou a marcha. Enquanto eu destacava do carne as passagens que 0 homem da maquineta ia moer na barriga, pus-me a inspecionar os vizinhos. S6 barbado. De mulher, nem sombra. Que saco, nada de lasquinha. Em volta come­ <;ou uma fuzarca e logo descobri a causa: urn moleque de uns vinte ou quarenta anos, usando uma cabecinha em cima de urn pesco<;ao, urn chapelao em cima da cabecinha e uma trancinha das mais traquinas em torno do chapelao, fazia urn berreiro monstro.

Sujeitinho mais barato, disse comigo.

o

sujeitinho nao tinha a menor compostura. Resolveu

~~II

enfezar para cima de urn pobre cidadao que acusou de

esmigalhar seus pes a cada sobe-e-desce de passageiros. 0 outro encarou feroz seu focinho, procurando uma replica

a

altura no repert6rio que ja vinha sem duvida carregando atraves de todas as circunstancias da vida, mas ficou mudD de raiva, perdido no pr6prio arquivo. 0 jovem, temendo uns tapas como resposta, aproveitou 0 assento que a chance

horas mais tarde, eu no 6nibus, ele na cal<;ada, demos novamente de cara no Pa<;o de Roma, lamenteivel como sempre.

Caminhava para cima e para baixo em companhia de urn camarada que devia ser 0 professor de elegancia e que o aconselhava, com pedantismo dandesco, a diminuir a abertura do seu sobretudo com urn botao adjunto.

SUjeitinho mais barato, disse com meus bot6es.

Depois n6s dois, eu e 0 meu 6nibus, continuamos nosso caminho.

Referências

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