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ANÁLISE ACÚSTICA DA PRODUÇÃO DE CONSOANTES OCLUSIVAS INICIAIS POR FALANTES NATIVOS DE PB

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Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751

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ANÁLISE ACÚSTICA DA PRODUÇÃO DE CONSOANTES OCLUSIVAS INICIAIS POR FALANTES NATIVOS DE PB

Susana Pinheiro da Cruz PRESTES1

RESUMO: O presente estudo versa sobre a produção de consoantes oclusivas surdas e sonoras do inglês em posição inicial. É traçada uma comparação entre a produção de aprendizes brasileiros de inglês e falantes nativos estadunidenses. Para tanto, lançamos mão da análise acústica da duração de VOT (Voice Onset Time). Observamos que as produções dos dois grupos diferem tanto em relação às oclusivas surdas quanto às sonoras. Para as surdas, os níveis de aspiração são consideravelmente inferiores nos dados dos aprendizes e, nos dois grupos, o ponto de articulação tem influência direta sobre esses níveis. Para as sonoras, foram observados índices de sonoridade superiores nos dados dos aprendizes, ao passo que não fica completamente nítida a influência do ponto de articulação para a sonoridade, especialmente nos dados dos aprendizes. A opção por descrever os dados por meio dos índices de VOT implica uma perspectiva dinâmica de aquisição de língua estrangeira, uma vez que o que está em jogo no presente trabalho não é a oposição entre sistemas fonético-fonológicos que apresentem ou não uma dada característica, mas o que aproxima a produção do aprendiz da produção do nativo.

PALAVRAS-CHAVE: Consoantes oclusivas; Produção; Análise acústica.

ABSTRACT: The present study deals with the production of both voiced and voiceless stops of English in word-beginning position. A comparison will be carried out between the production of Brazilian EFL speakers and North American native speakers of English. In order to do so, we use the acoustic analysis of VOT (Voice Onset Time). It was noted that the productions for the two groups differ in relation to both voiceless and voiced stops. Concerning the voiceless stops, the levels of aspiration are considerably lower in the learners’ data. Besides, the place of articulation has direct influence on these levels. Regarding the voiced stops, we found higher levels of sonority in the learners’ data, whereas the influence of place of articulation was not completely clear, particularly in the learners’ data. The choice for describing the data through VOT levels involves a dynamic perspective of foreign language acquisition, since what is at stake here is not the opposition between two phonetic/phonological systems in terms of the presence or not of a certain characteristic, but what approximates the productions of an EFL speaker and a native speaker.

KEY WORDS: Stop consonants; Production; Acoustic analysis.

1 Introdução

Este estudo visa investigar a produção das consoantes oclusivas surdas e sonoras na língua inglesa por falantes nativos de português brasileiro (PB). Mais especificamente, será traçada uma comparação entre a produção de aprendizes brasileiros de inglês e falantes nativos. Os níveis de aspiração, no que tange às oclusivas surdas, e os índices de sonoridade, no caso das sonoras, serão mensurados em dados obtidos de sujeitos brasileiros e

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Mestranda do Programa de Pós Graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná, e-mail: susanaprestes@yahoo.com.br.

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estadunidenses por meio da análise acústica da duração de VOT (Voice Onset Time), que consiste no intervalo existente entre a soltura dos articuladores na consoante oclusiva e o início do vozeamento do segmento seguinte.

A escolha por analisar o dado fonético por meio da mensuração dos índices de VOT pressupõe uma perspectiva dinâmica de aquisição de língua estrangeira. Em outras palavras, buscou-se olhar para os fenômenos de aspiração e sonorização das oclusivas em termos de gradiência, ao invés de tratá-los relativamente a sua ausência ou presença nos sistemas fonético-fonológicos. O que passa a ter centralidade aqui é o que aproxima a produção do aprendiz da produção do nativo, ou seja, parte-se da hipótese de que os aprendizes realizam a aspiração, porém mais brevemente que os nativos. Não se trata, portanto, de conceber que os aprendizes devam aprender a produzir um aspecto sonoro novo, mas de fazê-los produzir tal aspecto com maior duração.

2 Hipótese e objetivos

Sabe-se que, em início de sílaba tônica, as consoantes oclusivas surdas do inglês, a saber: [p], [t] e [k], apresentam um ruído aspirado de duração considerável após a soltura dos articuladores, exceto quando precedidas de [s] na mesma sílaba.

É sabido ainda que tal fenômeno aparentemente não ocorre no PB, ou pelo menos, não nos mesmos níveis encontrados na língua inglesa. Dessa forma, é esperado que falantes de PB aprendizes de inglês apresentem certa dificuldade na realização de segmentos aspirados e que, portanto, através de uma análise acústica, ostentem índices de VOT consideravelmente mais baixos na L2 do que aqueles apresentados por falantes nativos.

Além disso, as consoantes oclusivas sonoras do inglês caracterizam-se por um baixo índice de sonoridade quando comparadas àquelas presentes no PB. Espera-se, dessa forma, que os aprendizes brasileiros apresentem índices mais altos de sonoridade na produção da L2, o que deverá ser comprovado por uma análise acústica que venha a medir os valores de VOT exibidos por falantes nativos e aprendizes.

A partir da análise acústica da produção de aprendizes brasileiros de língua inglesa e falantes nativos de inglês americano, será possível traçar uma comparação mais acurada entre L2 e língua-alvo, uma vez que os dados terão sido coletados sob as mesmas condições. Assim sendo, este trabalho visa verificar como as consoantes oclusivas são realizadas por aprendizes brasileiros de inglês e seus falantes nativos, especialmente com relação à duração de VOT. Além disso, objetiva-se comparar a produção nos dois grupos e identificar o quanto falta para que se equiparem.

3 Caracterização das consoantes oclusivas

As consoantes oclusivas, também chamadas plosivas, têm como característica primordial um bloqueio momentâneo total do trato vocal, ou seja, uma oclusão articulatória em algum ponto do trato. Na língua inglesa, bem como no português, tal oclusão localiza-se essencialmente nos pontos bilabial, alveolar e velar. Embora a língua inglesa conte ainda com a oclusiva glotal [ʔ], sua realização se dá em contextos muito específicos. Ela aparece, por exemplo, na expressão de negação normalmente transcrita ortograficamente como uh-uh e foneticamente transcrita como [ʔʌʔʌ]. Surge ainda como alofone do [t] em palavras como

beaten, kitten e fatten, ou diante de oclusivas surdas em palavras como rap, rat e rack

(LADEFOGED, 2001). Por essa razão, tomamos a decisão de não contemplar a oclusiva glotal nesta pesquisa.

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As oclusivas com as quais trabalharemos localizam-se em posição prévocalica e podem ser identificadas por meio de três eventos acústicos: a obstrução, a soltura e a transição. Durante a fase de obstrução, que dura entre 50ms e 100ms, há pouca ou nenhuma energia acústica, uma vez que há bloqueio total dos articuladores. Na fase de soltura, é identificado o chamado burst, ou explosão, que dura entre 5ms e 40ms e que pode ou não ser seguido de aspiração. Por fim, a transição entre uma oclusiva e a vogal seguinte nos dá pistas sobre o ponto de articulação da consoante já que este causa mudanças características nos formantes2 da vogal (KENT &READ, 1992).

A aspiração, por sua vez, é um evento acústico no qual o ar passa pelas pregas vocais e através da faringe gerando um som sussurrado semelhante à fricativa glotal [h] presente na palavra hat. Não é à toa que se marca foneticamente a aspiração por meio de um h sobrescrito, como na transcrição da palavra peak [pʰik]. Na língua inglesa, as oclusivas surdas prevocálicas são aspiradas em posição tônica, exceto quando antecedidas de [s] na mesma sílaba, ao passo que as oclusivas sonoras são normalmente não-aspiradas. Portanto, além do vozeamento em si, a aspiração constitui uma pista para a distinção surda/sonora nas consoantes oclusivas prevocálicas.

É possível ainda caracterizar as oclusivas por meio de um parâmetro acústico chamado VOT (Voice Onset Time), que é o intervalo existente entre a soltura dos articuladores e o início do vozeamento proveniente do segmento seguinte. Tal conceito foi primeiramente utilizado em um trabalho de Lisker e Abramson (1964) no qual os autores buscavam identificar um parâmetro único para distinguir oclusivas surdas e sonoras. Assim surgiu o foco na relação de tempo entre o início do vozeamento e a soltura dos articuladores da consoante oclusiva. Para fins de medição do VOT, o momento da soltura é determinado como ponto zero, e todo vozeamento que começar antes da soltura terá, portanto, valor negativo.

Valores médios para o VOT de oclusivas sonoras em inglês ficam entre -20ms e +20ms. Por outro lado, as consoantes oclusivas surdas assumem sempre valores positivos de VOT entre 25 e 100ms (KENT &READ, 1992). De acordo com Ladefoged (1999), no inglês norte-americano, há pouco ou nenhum vozeamento das consoantes oclusivas sonoras durante a oclusão, exceto no caso em que ocorrem entre sons vozeados. Portanto, é de se esperar que aprendizes anglófonos de português apresentem desvozeamento das oclusivas vozeadas.

4 Revisão bibliográfica

Um experimento conduzido por Stein (2011) confirma a existência do desvozeamento entre sujeitos anglofalantes aprendizes de português. Ao estudar tal fenômeno, o pesquisador confirma que os dados por ele coletados junto aos aprendizes anglofalantes demonstram que o desvozeamento se projetou de forma recorrente quando os sujeitos pronunciaram as oclusivas vozeadas do PB, inclusive no nível avançado de aprendizagem. Os dados foram obtidos de dois informantes americanos em níveis básico e pré-intermediário e duas informantes inglesas em níveis intermediário e avançado. O pesquisador não recorreu a sentenças-veículo, mas a textos e frases. A análise acústica foi feita através do programa computacional Praat, o mesmo utilizado na presente pesquisa.

No que diz respeito às oclusivas surdas, os valores de VOT no PB tendem a ser consideravelmente mais baixos, o que explica o fato de os brasileiros serem considerados falantes de uma língua em que não há aspiração. Logo, aprendizes brasileiros de inglês podem vir a transferir essa característica de sua língua materna para a língua estrangeira, o que fará

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Formantes são picos de energia em uma região do espectro sonoro. São realçados em função do formato que o trato vocal assume na produção de determinado som vocálico.

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com que as oclusivas surdas em início de sílaba na L2 acabem por apresentar VOT de duração consideravelmente mais curta do que o de um nativo. Zimmer (2004) refere-se a essa transferência como desaspiração das oclusivas surdas iniciais e, segundo a pesquisadora, o fator que leva falantes de PB à desaspiração envolve a ativação do conhecimento fonético-fonológico de sua língua materna. Em sua pesquisa, ela trabalhou com a leitura de palavras e não-palavras e analisou dados de 156 estudantes em quatro estágios diferentes de aprendizagem: 50 no nível básico, 57 no intermediário, 34 no intermediário-avançado e 15 no avançado. Seu trabalho revela que o processo de desaspiração diminui significativamente conforme aumenta o nível de proficiência dos sujeitos. Ela conclui que a formação categórica de contrastes fonéticos da L2 é dificultada para adultos em razão da experiência linguística do falante e não necessariamente na perda da plasticidade resultante da maturação neuronal.

França (2011) trabalha com a aquisição da aspiração das plosivas surdas do inglês por falantes de PB em sua dissertação de mestrado. A pesquisadora analisa os dados de 22 sujeitos com diferentes níveis de proficiência e faz uso da gravação de sentenças-veículo em língua portuguesa e inglesa. França (2011) levanta os seguintes valores de VOT para o PB: 19,56ms para [p], 21,66ms para [t] e 47,20ms e para [k]. Ela aponta, no entanto, que a literatura sobre VOT no Brasil é escassa e as médias encontradas foram consideravelmente maiores do que as relatadas por Istre (1983, apud França 2011), que equivalem a 12ms para [p], 18ms para [t] e 38ms para [k]. A autora nos remete ainda ao trabalho de Cho & Ladefoged (1999), para os quais é preciso que os segmentos apresentem valores de 55ms para [p], 70ms para [t] e 80ms para [k] a fim de que possam ser considerados aspirados.

Por outro lado, quando se trata de dados da língua inglesa obtidos de aprendizes falantes de PB, França (2011) encontra índices de VOT que correspondem a 27,43 para [p], 45,83 para [t] e 58,61 para [k], ou seja, maiores do que aqueles apresentados na L1, o que a leva a concluir que os aprendizes encontram-se em uma etapa de desenvolvimento em direção à língua-alvo. Tal conclusão corrobora pesquisas anteriores que mostram que, conforme os aprendizes adquirem maior proficiência na língua, maiores tendem a ser os índices de VOT na realização de oclusivas surdas (ZIMMER, 2004).

5 Metodologia

Os dados utilizados nesta pesquisa foram coletados em novembro de 2011 junto a dois brasileiros aprendizes de inglês como L2 e dois falantes nativos estadunidenses. Os brasileiros são ambos paranaenses, sendo uma informante de Curitiba, com idade de 31 anos e um informante de Ibaiti, com 24 anos. Na ocasião da coleta, ambos estudavam inglês no Centro de Línguas da Universidade Federal do Paraná, em nível pré-intermediário. Como ambos relataram ter estudado inglês nesta instituição desde o nível inicial, é possível precisar que os dois informantes contavam com aproximadamente 300 horas de instrução da língua-alvo, o que acaba por ser um dado mais confiável do que a flutuante noção de nível pré-intermediário.

Os informantes estadunidenses são ambos do sexo masculino, sendo o primeiro um estudante de 32 anos, originário de Tallahassee, Flórida e o segundo natural de Bar Harbor, Maine. Ambos estavam no Brasil há menos de um ano e, na ocasião da coleta, estudavam português no Centro de Línguas da Universidade Federal do Paraná.

O corpus utilizado contou com monossílabos nos quais as oclusivas surdas [p], [t] e [k] e as sonoras [b], [d] e [g] estavam em posição inicial inseridos na sentença-veículo “Say

______ to me”. Foram feitas 5 repetições da leitura das sentenças e, a cada repetição, a

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Laboratório de Estudos Fônicos da UFPR (LEFON), que dispõe de cabine com tratamento acústico.

Por uma questão de tempo, fez-se necessário selecionar apenas parte dos dados do

corpus, o que, entretanto, foi feito com o cuidado de incluir os três diferentes pontos de

articulação das oclusivas em inglês de maneira igualitária: três palavras com oclusivas surdas bilabiais: peach, pack e poot; três alveolares: teed, tap e took; e três velares: keek, cap e cook. O mesmo se deu com a escolha das sonoras, havendo três exemplares de bilabiais: beach,

back e boot; três alveolares: deed, dap e dook; e três velares: geek, gap e gook. As vogais

seguintes também foram selecionadas de modo a sempre incluir uma vogal anterior alta, uma central baixa e uma posterior alta.

A análise dos dados foi feita por intermédio do software Praat (Boersma e Weenink, 2012). Após recortarmos todas as sentenças através do programa mencionado, foi medida a duração absoluta do VOT de cada consoante oclusiva inicial, bem como a duração da sentença-veículo. Em seguida, calculou-se a duração relativa do VOT, ou seja, a porcentagem de duração do VOT em relação à sentença-veículo. Será essa, inclusive, nossa opção para a apresentação dos dados, uma vez que acreditamos ser a duração relativa mais acurada em relação à duração absoluta, pois corrige quaisquer desvios que venham a existir por conta da taxa de elocução dos informantes.

6 Resultados

Primeiramente, o foco são as consoantes oclusivas surdas. O que diferencia a produção de nativos daquela encontrada em aprendizes brasileiros são os níveis de aspiração exibidos nos dois grupos. Para mensurar tais níveis, foi feita uma análise acústica da duração de VOT presente nos dados, que coincide com a duração do evento da aspiração nas oclusivas surdas. As Figuras 1 e 2 mostram os dados do nativo N1 e da aprendiz A2, respectivamente. Ambas as figuras (1 e 2) exibem a primeira repetição da palavra tap. Destacadas entre linhas pontilhadas estão as durações absolutas do VOT produzido por ambos os informantes na consoante inicial de tap. O VOT é medido após a ocorrência do burst até o primeiro pulso da vogal seguinte. O burst é um evento típico da produção de oclusivas cuja visualização no espectrograma se dá por uma barra vertical de cor cinza escura. A duração absoluta de VOT para o dado do falante nativo (Fig. 1) é de 82 milissegundos, ao passo que para a aprendiz brasileira (Fig. 2) a duração é bem menor, ou seja, 9 ms. Esse é um padrão típico para os dois grupos representados pelos informantes aqui selecionados.

FIGURA 1: Oscilograma e espectrograma da primeira repetição da palavra tap pelo informante estadunidense N1. Entre as linhas pontilhadas, destaca-se a duração absoluta de VOT da consoante inicial [t].

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FIGURA 2: Oscilograma e espectrograma da primeira repetição da palavra tap pela informante brasileira A2. Entre as linhas pontilhadas, destaca-se a duração absoluta de VOT da consoante inicial [t].

Embora as Figuras 1 e 2 apresentem as durações absolutas de VOT, todos os dados neste trabalho serão apresentados em termos de duração relativa, o que quer dizer que tomaremos a duração absoluta do VOT com relação à duração da sentença-veículo.

Quanto à análise dos dados, é possível notar que eles corroboram pesquisas anteriores que atestam a influência do ponto de articulação sobre a duração da aspiração. Sabe-se que, quanto mais posterior o ponto de articulação, mais longa será a aspiração e, consequentemente, a duração de VOT exibida (Cho e Ladefoged, 1999; Yavas, 2007; Alves, 2011; Stein, 2011; França, 2011).

É exatamente isso que pode ser observado nos dados aqui analisados. A bilabial [p] exibiu os menores índices de VOT, a alveolar [t] exibiu níveis intermediários e a velar [k] exibiu os maiores índices de VOT. Esse fato se repetiu para cada um dos informantes, tanto nativos (N1 e N2) quanto aprendizes (A1 e A2), embora em graus distintos, como mostra o Gráfico 1.

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GRÁFICO 1: Percentual de aspiração representado pela duração relativa de VOT por informante para os três diferentes pontos de articulação das consoantes oclusivas surdas.

O Gráfico 1 deixa claro que, de forma geral, observa-se o aumento da duração da aspiração conforme a consoante se torna mais posterior. Nos dados dos falantes nativos, há uma diferença acentuada entre a bilabial e os dois outros pontos de articulação, que contam com um nível de aspiração maior. Quanto aos aprendizes, entretanto, a diferença mais acentuada se dá para a velar [k], que possui nível de aspiração consideravelmente maior em relação aos dois pontos anteriores.

Se fizermos uma média da produção dos dois nativos e outra da produção dos dois aprendizes, confirmaremos esse fato. Para a bilabial [p] os nativos exibem um valor de duração relativa de VOT igual a 4,69% contra 0,74% dos aprendizes. Assim sendo, o índice de VOT e, consequentemente, a aspiração na produção dos aprendizes precisa aumentar em 84,23% para se equiparar à dos nativos. Com relação à alveolar [t] essa diferença diminui um pouco, já que produção dos nativos exibe um valor de 6,31%, ao passo que os aprendizes contam com VOT médio de 1,85%, ou seja, 70,68% menor. Finalmente, a produção da oclusiva velar [k] por aprendizes apresenta valores consideravelmente mais robustos que nos dois primeiros pontos de articulação. Aqui, observa-se que o valor médio de duração relativa de VOT para os nativos é de 6,62%, enquanto que para os aprendizes é de 3,75%. Em outras palavras, o VOT na produção dos não-nativos deve aumentar em apenas 43,35% a fim de que possa ser percebida como típica de nativos. Os dados seguem expressos na Tabela 1.

TABELA 1: Média da duração relativa de VOT em consoantes oclusivas surdas para nativos e aprendizes, seguida da diferença percentual entre elas.

Oclusiva Nativos Aprendizes Diferença em %

[p] 4,69 0,74 84,23

[t] 6,31 1,85 70,68

[k] 6,62 3,75 43,35

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Portanto, a despeito da classificação do PB como uma língua desprovida de aspiração, é possível observar que os aprendizes brasileiros estão certamente aspirando as consoantes oclusivas surdas quando da sua produção em língua inglesa. Isso pode ser interpretado como um esforço em direção ao refinamento da pronúncia dos aprendizes brasileiros visando a adequá-la às características do sistema fonético-fonológico da L2.

O passo seguinte é observar como se dá a produção das oclusivas sonoras para os dois grupos. Como anteriormente mencionado, a língua inglesa caracteriza-se por possuir um VOT entre -20 ms até +20 ms, o que coincide com as taxas de vozeamento. Valores negativos ocorrem quando o vozeamento precede o burst em alguns milissegundos (KENT &READ, 1992).

Em uma análise acústica, a duração do VOT será calculada, portanto, com base na observação da presença da barra de sonoridade no espectrograma. Quanto menores os valores absolutos de VOT, maior é a sonoridade da consoante, uma vez que ela é medida acusticamente do burst para trás.

O primeiro dos informantes nativos (N1) causou certa surpresa, pois em boa parte de seus dados observaram-se valores negativos bem abaixo dos -20 ms (Figura 3), o que aproximaria sua produção daquela apresentada pelos aprendizes brasileiros. Entretanto, é preciso notar que, em várias ocasiões, o VOT possuía valor zero, o que não ocorreu no grupo dos aprendizes.

FIGURA 3: Oscilograma e espectrograma da segunda repetição da palavra deed pelo informante estadunidense N1. Entre as linhas pontilhadas, destaca-se a presença da barra de sonoridade no espaço imediatamente anterior ao burst da consoante inicial [d].

A Figura 3 mostra o oscilograma e espectrograma da segunda repetição da palavra

deed pelo primeiro informante estadunidense. A barra de sonoridade corresponde ao sinal

cinza escuro na parte inferior da janela espectrográfica entre as linhas pontilhadas. É possível notar que o informante N1 apresentou vozeamento durante toda a oclusão, inclusive no momento imediatamente anterior à soltura, o que caracteriza um VOT de -108 ms. Esse valor não é normalmente descrito pela literatura como típico para falantes nativos, mas pode se dever ao fato de que a consoante oclusiva alveolar está entre dois sons vozeados. Ressalta-se, porém, que apesar de os aprendizes apresentarem índices de VOT muito semelhantes a este, a diferença fica por conta de que o informante N1 também possui certo número de dados cujo

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VOT é zero. Logo, notar-se-á que na comparação final dos dados, os níveis de vozeamento do informante N1 figurarão como consideravelmente inferiores.

Por outro lado, o segundo informante nativo manteve sua produção dentro do esperado, apresentando VOT de valor zero na maior parte dos dados. (Figura 4)

FIGURA 4: Oscilograma e espectrograma da segunda repetição da palavra deed pelo informante estadunidense N2. Entre as linhas pontilhadas, destaca-se a ausência da barra de sonoridade no espaço imediatamente anterior ao burst da consoante inicial [d].

A Figura 4 apresenta um dado típico do informante N2. A palavra escolhida também foi a segunda repetição de deed e a parte em destaque nos mostra o momento da oclusão. Nota-se que barra de sonoridade está presente em boa parte da oclusão, mas se desfaz antes de ocorrer o burst. Isso quer dizer que o VOT nesse dado corresponde a zero. É possível ainda acompanhar no oscilograma que o sinal se desfaz antes do burst, prova de que o vozeamento que observamos na oclusão não faz parte do VOT, mas da vogal precedente.

Quanto aos aprendizes (A1 e A2), não houve grandes surpresas. Ambos apresentam VOT absoluto de valor negativo de maneira consistente através dos dados. Isso garantirá maiores níveis de vozeamento quando da comparação com os dados dos nativos, pois apesar de termos produções aparentemente atípicas do informante N1 que, por vezes, equiparam-se às produções dos aprendizes, estes apresentaram valores absolutos de VOT ainda mais baixos em boa parte dos dados e, além disso, não contaram com VOT zero ou próximo de zero. A figura 5 mostra a terceira repetição de deed pelo informante A2.

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FIGURA 5: Oscilograma e espectrograma da terceira repetição da palavra deed pelo aprendiz brasileiro A2. Entre as linhas pontilhadas, destaca-se a barra de sonoridade no espaço imediatamente anterior ao burst da consoante inicial [d].

A Figura 5 mostra um dado típico do informante A2. A barra de sonoridade aparece nitidamente no espectrograma entre as linhas pontilhadas e sinaliza um VOT de -201ms, o que demonstra uma tendência ao vozeamento muito mais robusta para os aprendizes, mesmo em relação à produção atípica do informante estadunidense N1, cujo valor de VOT foi de -102ms no mesmo dado.

Passemos agora à comparação da produção de cada um dos informantes no Gráfico 2. Vale lembrar que os valores aqui não são negativos, pois estamos lidando com a porcentagem do valor absoluto com relação à sentença-veículo.

GRÁFICO 2: Percentual de vozeamento representado pela duração relativa de VOT por informante para os três diferentes pontos de articulação das consoantes oclusivas sonoras.

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Diferentemente do que ocorreu com as oclusivas surdas, não foi possível observar um padrão geral de comportamento no que se refere ao ponto de articulação das consoantes. Ambos os nativos apresentaram duração relativa de VOT em níveis consideráveis (6,5% e 3,95%) para a bilabial [b]. Quanto aos demais pontos de articulação, o informante N1 exibiu duração relativa de VOT em níveis que seriam considerados altos para um nativo (6,91% para [d] e 4,43% para [g]), ao passo que o informante N2 exibiu valores bem mais baixos (1,38% para [d] e 0,27% para [g]). No que tange aos aprendizes, os valores não diferiram muito de um informante para outro, assim como não diferiram de maneira considerável quanto ao ponto de articulação.

O passo seguinte é, como fizemos com as consoantes surdas, encontrarmos a média da produção dos dois nativos e a dos dois aprendizes. Nota-se que para a bilabial [b] os nativos exibiram um valor de duração relativa de VOT igual a 5,23% contra 11,38% dos aprendizes. Como neste caso a referência são as sonoras, a duração relativa de VOT dos aprendizes precisaria diminuir ao invés de aumentar para que se equipare a duração exibida pelos nativos. O valor de VOT relativo ou, em outras palavras, o índice de sonoridade na produção dos aprendizes, precisaria diminuir em 53,76%.

Com relação à alveolar [d] e à velar [g], o esforço precisaria ser progressivamente maior, já que na produção dos aprendizes a duração relativa de VOT deveria ser 58,2% menor para [d] e 74,87% menor para [g]. Temos os dados completos na Tabela 2.

TABELA 2: Média da duração relativa de VOT em consoantes oclusivas sonoras para nativos e aprendizes, seguida da diferença percentual entre elas.

Oclusiva Nativos Aprendizes Diferença em %

/b/ 5,23 11,31 53,76

/d/ 4,10 9,81 58,2

/g/ 2,35 9,35 74,87

Média 3,89 10,15 62,27

Com os dados de nativos e aprendizes agrupados por média, encontramos um padrão que faltava ao analisar os dados dos informantes separadamente. Aqui, é possível notar que a produção dos nativos exibe valores de duração relativa de VOT progressivamente menores, quanto mais posterior é o ponto de articulação. Em outras palavras, a bilabial exibe vozeamento maior que a alveolar, que exibe vozeamento maior que a velar. Entretanto, os aprendizes apresentam índices bastante próximos de vozeamento para três pontos de articulação, algo em torno de 10% em relação à sentença-veículo.

7 Discussão

Os dados obtidos nos permitem vislumbrar que aprendizes brasileiros de inglês e falantes nativos norte-americanos produzem tanto oclusivas surdas quanto sonoras de maneira distinta. No entanto, essa diferença não se dá em termos de presença ou ausência de uma dada característica fonológica, como geralmente se assume em abordagens tradicionais de aquisição de língua estrangeira. O que o dado fonético nos permite ver é que tanto a aspiração quanto à sonoridade ocorrem na fala dos dois grupos, porém em níveis distintos. Tal olhar implica assumir uma perspectiva dinâmica de aquisição de LE, na qual o primitivo de análise

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passa a ser o gesto articulatório3. Sob essa perspectiva, o que está em jogo não é a aquisição de um aspecto fonológico absolutamente novo por parte dos aprendizes, mas a tentativa de aprimorar algo que eles já produzem, organizando e coordenando os gestos articulatórios de maneira distinta. Em última instância, professores e aprendizes podem partir de uma produção já existente e concentrar esforços visando seu refinamento.

8 Conclusões

A presente pesquisa procurou investigar a produção de oclusivas em posição inicial por aprendizes brasileiros, comparando-a com a produção de nativos. Através da análise acústica dos índices de VOT presentes nos dados, foi possível vislumbrar os percentuais de diferença que separam a produção de aprendizes daquela exibida por nativos. Assim, acredita-se estar contribuindo para a formulação e execução de futuras estratégias que viacredita-sem o refinamento da produção de nossos aprendizes em relação à língua-alvo.

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Gesto articulatório é o primitivo de análise utilizado na Fonologia Gestual. O leitor encontrará mais detalhes em Browman & Goldstein, 1992.

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