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Global Payments Week 2012, Banco Mundial Alocução de boas-vindas pelo Governador Carlos da Silva Costa 1 Lisboa, 23 de Outubro de 2012

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Alocução de boas-vindas pelo Governador Carlos da Silva Costa1

Lisboa, 23 de Outubro de 2012

1. INTRODUÇÃO

Minhas senhoras e meus senhores, muito bom dia.

É um prazer e uma honra dar-vos as boas-vindas a Lisboa para a edição de 2012 da Global

Payments Week do Banco Mundial.

Embora largamente invisíveis para o público em geral, os sistemas de pagamentos e de liquidação são de importância crucial para o nosso dia-a-dia. Os sistemas de pagamentos facilitam as transações e apoiam a afetação eficiente de recursos – são o sistema circulatório de qualquer economia moderna. Praticamente todas as transações económicas envolvem a utilização de um instrumento de pagamento, seja numerário, cheque ou pagamento eletrónico.

A qualidade, eficiência e segurança do sistema de pagamentos afetam a intensidade e âmbito geográfico das trocas. A inovação nos sistemas de pagamentos permitiu a inclusão de novos agentes económicos no comércio internacional, tornando muito mais fácil e barato para as pequenas e médias empresas e consumidores individuais realizar transações internacionais. O grau atual de globalização económica e financeira simplesmente não seria atingível sem sistemas de pagamentos sofisticados e fiáveis.

É bem sabido que os bancos centrais têm um interesse estratégico nos sistemas de pagamentos. Este interesse estratégico resulta quer do papel dos bancos centrais na preservação da estabilidade financeira, quer da sua responsabilidade na condução da política monetária. Se não forem adequadamente geridos, os sistemas de pagamentos podem potencialmente causar graves perturbações no sistema financeiro e na economia em geral.

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Durante as últimas décadas, a indústria de pagamentos sofreu uma enorme transformação a par do aumento do volume de transações e dos avanços tecnológicos. Alterações regulamentares e um reforço da cooperação tentaram acompanhar o ritmo de mudança. Os esforços no sentido de se construir infraestruturas seguras, fiáveis e eficientes para a liquidação e os pagamentos ao longo das últimas décadas foram recompensados. Com efeito, os sistemas de pagamentos apresentaram uma resiliência notável na atual crise financeira. Os operadores de mercado conseguiram liquidar as suas transações atempadamente mesmo num contexto de preocupações generalizadas sobre a solidez das contrapartes e de graves tensões como o colapso do Bear Sterns e do Lehman Brothers.

Como sublinhado pelo FMI no seu relatório de 2010 intitulado Central Banking Lessons from

the Crisis2

“A crise teria sido muito mais grave se os bancos centrais não tivessem envidado

esforços no sentido de introduzir sistemas de pagamentos e de liquidação robustos … nas duas décadas antes da crise.”

:

(Naturalmente o mérito não é apenas dos bancos centrais e deverá ser partilhado entre todos os intervenientes!).

Embora devamos estar satisfeitos com o facto de os sistemas de pagamentos terem funcionado de forma regular em condições tão restritivas, esta satisfação não deve desviar-nos a atenção do trabalho a realizar e dos desafios que enfrentamos no contexto atual de crescente interdependência a nível mundial.

2. DESAFIOS

Permitam-me realçar brevemente três categorias de desafios:

• Desafios respeitantes às instituições financeiras e aos prestadores de serviços de liquidação e pagamentos;

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• Desafios enfrentados pelos bancos centrais e outras autoridades a nível mundial; • Desafios específicos no plano europeu.

2.1. Instituições financeiras e prestadores de serviços de liquidação e pagamentos

Um importante desafio para as instituições financeiras e prestadores de serviços é a necessidade de adaptar continuamente práticas de gestão de risco à conjuntura mais complexa que resulta de um maior grau de interdependência e inovação.

Esta preocupação tem estado no topo da agenda internacional, tendo sido abordada num relatório produzido em 2008 pelo Comité dos Sistemas de Pagamento e Liquidação (CPSS) do BIS3

i) Perspetivas de gestão de risco alargadas e abrangentes; . O relatório preconiza:

ii) Controlos de gestão de risco proporcionais ao papel desempenhado por cada instituição ou prestador de serviço na infraestrutura mundial de liquidação e pagamentos;

iii) Uma ampla coordenação entre intervenientes interdependentes.

2.2. Bancos centrais e outras autoridades a nível mundial

Irei agora abordar os desafios enfrentados pelos bancos centrais e outras autoridades a nível mundial. Aqui a questão crítica é a capacidade de rever de forma contínua os regulamentos e normas existentes e, sempre que necessário, adaptá-los a uma conjuntura em mudança e cada vez mais complexa.

Estão a ser dados passos importantes para reforçar a superintendência a nível mundial. Refiro-me, em particular, aos novos CPSS-IOSCO Principles for Financial Market Infrastructures (princípios para as infraestruturas do mercado financeiro) publicados no passado mês de abril – tópico que irá ocupar a maior parte do vosso dia amanhã.

3 Comité dos Sistemas de Pagamento e Liquidação(2008), “The interdependencies of payment and settlement systems”,

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Os bancos centrais em todo o mundo estão agora a envidar todos os esforços para implementar os novos princípios. Questões importantes a tratar no processo de implementação incluem:

• A possível adoção dos princípios através de um ato jurídico a nível do Eurosistema para os sistemas de pagamentos sistemicamente importantes;

• A revisão dos padrões de superintendência para os sistemas de pagamentos de retalho;

• A adoção de recomendações de superintendência para ligações entre sistemas de pagamentos de retalho.

Para além dos princípios para as infraestruturas do mercado financeiro, está também a ser desenvolvida e implementada diversa legislação a nível regional, que inclui:

• O Regulamento relativo às infraestruturas do mercado europeu, de 4 de julho de 2012, relativo aos derivados do mercado de balcão, às contrapartes centrais e aos repositórios de transações;

• O futuro Regulamento relativo às Centrais de Depósito de Títulos na União Europeia; • A Lei Dodd-Frank nos EUA.

É obviamente crucial assegurar que estas regras sejam implementadas de forma consistente a nível mundial.

Muitos outros tópicos importantes estão atualmente na agenda global, incluindo

• O desenvolvimento de uma metodologia de testes de esforço (“stress tests”) para os sistemas de pagamentos;

• A cedência de liquidez do banco central a contrapartes centrais; ou

• As implicações de inovações nos instrumentos de pagamento de retalho tanto para a confiança do público na moeda como para a transmissão da política monetária. Retomarei o tópico da inovação no contexto dos desafios específicos no plano europeu.

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A nível europeu é evidente que os sistemas de pagamentos são uma componente chave da união bancária em construção, e um elemento central para a manutenção da estabilidade financeira na área do euro. De um modo mais geral, temos de analisar os sistemas de pagamentos enquanto importante catalisador na promoção da integração europeia e da concretização do potencial do Mercado Único.

Irei realçar três importantes desafios neste contexto:

• Primeiro, a conclusão do projeto TARGET2-Securities, que irá resultar numa plataforma pan-europeia para a liquidação de valores mobiliários;

• Segundo, a criação da SEPA, a Área Única de Pagamentos em Euros. A SEPA possibilitará a consumidores e empresas efetuar pagamentos em moeda escritural em euros para qualquer pessoa localizada na área do euro a partir de uma única conta e utilizando um conjunto harmonizado de instrumentos de pagamento;

• E terceiro, promover a inovação nos pagamentos de retalho assegurando a sua segurança.

i) TARGET2-Securities

O TARGET2-Securities irá eliminar muitos dos obstáculos existentes à compensação e liquidação transfronteiras e atuar como catalisador para uma maior harmonização nos serviços de pós-negociação. Tal constituirá um avanço significativo no sentido da criação de um mercado único de valores mobiliários.

A nova plataforma irá otimizar a interação do TARGET2 com as centrais de depósito de títulos e reduzir o hiato temporal entre a liquidação física e financeira de valores mobiliários através da entrega-contra-pagamento em tempo real em moeda do banco central.

Assentando em larga medida numa infraestrutura com custos fixos, o sucesso do TARGET2-Securities dependerá bastante de se atingir uma “massa crítica” de utilizadores e operações. Neste sentido, a celebração em junho deste ano de um Acordo-Quadro pelas centrais de depósito de títulos que representam 99% do volume de transações em valores mobiliários da área do euro constitui uma excelente notícia e sugere que a nova plataforma será um sucesso.

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ii) SEPA – Área Única de Pagamentos em Euros

A aprovação, em março deste ano, do Regulamento que estabelece requisitos técnicos e de negócio para as transferências a crédito e os débitos diretos em euros4

iii) Promover a inovação nos pagamentos de retalho assegurando a sua segurança representa um avanço fundamental no projeto SEPA. O Regulamento fixa fevereiro de 2014 como data-limite para a migração para os novos instrumentos SEPA.

Num contexto de rápida evolução tecnológica e em resposta às exigências de consumidores e empresas, as autoridades europeias têm dedicado cada vez mais atenção às soluções de pagamento móveis e através da Internet.

Os custos dos pagamentos de retalho para a sociedade não são negligenciáveis. Um relatório recente do BCE – que vos será apresentado esta tarde – estima que o custo dos pagamentos de retalho na União Europeia se situe próximo de 1% do PIB5

Contudo, os pagamentos eletrónicos também estão sujeitos a taxas mais elevadas de fraude do que os métodos de pagamento tradicionais. Através da sua função de superintendência, o Eurosistema procura assegurar a segurança e eficiência da estrutura de mercado global para pagamentos, nomeadamente criando um limiar comum mínimo de segurança que irá reforçar a confiança dos consumidores nos pagamentos eletrónicos.

. Os pagamentos eletrónicos são muito mais rápidos e baratos do que os instrumentos de pagamento tradicionais em suporte de papel e, por conseguinte, implicam um potencial importante de poupança em termos de custos.

Neste contexto, o Eurosistema facilitou a criação do fórum europeu sobre a segurança dos pagamentos de retalho, ou Secure Pay, um fórum de cooperação que reúne autoridades que exercem a superintendência e a supervisão na União Europeia e no Espaço Económico Europeu. O Secure Pay desenvolveu uma série de recomendações para a segurança dos

4 Regulamento (UE) N.º 260/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho de 14 de Março de 2012 que estabelece

requisitos técnicos e de negócio para as transferências a crédito e os débitos diretos em euros e que altera o Regulamento (CE) N.º 924/2009.

5 Schmiedel, Heiko, Gergana Kostova e Wiebe Ruttenberg (2012), “The social and private costs of retail payment

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pagamentos efetuados através da Internet. Estas recomendações foram submetidas a consulta pública e serão publicadas em breve para posterior adoção pelo mercado.

3. CONCLUSÕES

Permitam-me que conclua.

A evolução do panorama dos sistemas de pagamentos traz novas oportunidades e novos desafios a todos os intervenientes.

Os custos sociais dos pagamentos de retalho são significativos e a migração para pagamentos de retalho eletrónicos eficientes tem potencial para gerar poupança em termos de custos, estimulando assim o consumo, o comércio e o crescimento económico em geral.

Contudo, para colher os benefícios de novos produtos e serviços, dever-se-á enfrentar de forma adequada os desafios associados. À semelhança dos mercados financeiros e das economias que estes apoiam, os sistemas de pagamentos e de liquidação estão cada vez mais interdependentes, o que significa que o bom funcionamento de sistemas individuais depende do bom funcionamento de outros sistemas relacionados.

Para assegurar a segurança da infraestrutura mundial de pagamentos e de liquidação, os operadores dos sistemas, instituições financeiras e prestadores de serviços terão de compreender de forma clara e profunda os riscos envolvidos e geri-los de forma eficiente. Por seu turno, as autoridades deverão encontrar o justo equilíbrio entre eficiência e segurança. O processo regulamentar deverá evoluir no sentido de apoiar um desenvolvimento ordenado dos novos sistemas e processos.

As autoridades também deverão assegurar que os novos produtos e serviços cubram todos os segmentos da população e que a defesa do consumidor e a literacia financeira tenham o tratamento adequado no contexto da prestação de serviços de pagamento. De facto, o acesso a serviços de pagamento é também um ponto de entrada no setor financeiro, reduzindo barreiras geradoras de exclusão social. Mais, a melhoria da literacia financeira permite aos

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consumidores fazer escolhas informadas, contribuindo para evitar a utilização incorreta de serviços de pagamento e a fraude.

Um último ponto, mas não menos importante: é evidente que a evolução dos sistemas de pagamentos gera importantes ganhos de produtividade. É também evidente que a eficiência das infraestruturas de pagamentos depende da escala. No entanto, a escala implica um número reduzido de prestadores de serviços e um número bastante elevado de utilizadores. Só se poderá reduzir os custos das transações económicas e colher os benefícios da inovação se os ganhos de escala forem transferidos para os utilizadores finais. Por outro lado, convém também termos em conta que a infraestrutura envolve custos.

Assim, um importante desafio para os reguladores em todo o mundo é evitar o abuso de posição dominante, assegurando que o mecanismo de fixação de preços leve a que as comissões cobradas pela utilização dos sistemas de pagamentos reflitam de forma justa os custos de transação e a necessidade de remunerar o capital investido.

Durante o dia de hoje e amanhã irão ter certamente muitas discussões animadas e proveitosas sobre estes e outros tópicos importantes. Assim sendo, não é minha intenção atrasar os vossos debates.

Referências

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