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Relação entre variáveis climáticas e mortalidade de idosos por doenças cardiovasculares no município de Londrina, PR

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RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS CLIMÁTICAS E

MORTALIDADE DE IDOSOS POR DOENÇAS

CARDIOVASCULARES NO MUNICÍPIO DE LONDRINA, PR.

RELATIONSHIP BETWEEN CLIMATE VARIABLES AND

MORTALITY OF ELDERLY FOR CARDIOVASCULAR

DISEASES IN THE MUNICIPALITY OF LONDRINA, PR.

RELACIÓN ENTRE VARIABLES CLIMÁTICAS Y

MORTALIDAD DE LOS ANCIANOS POR ENFERMEDAD

CARDIOVASCULARES EN EL MUNICIPIO DE LONDRINA,

PR

Cristina Maiara de Paula Faria1

Vinicius Fernandes2

Maysa de Lima Leite3

Resumo: A mortalidade dos idosos por doenças do aparelho circulatório ainda é alta e sofre várias influências. Realizou-se com isso estudo ecológico com dados do DATASUS e do IAPAR, visando identificar quais as doenças mais pertinentes e as suas relações com elementos climáticos. A doença cerebrovascular foi a de maior importância, obtendo-se uma relação inversa com elevação de mortalidade enquanto os dados demonstravam diminuição de temperatura, umidade e pluviosidade.

Palavras chave: bioclimatologia. Mortalidade. Doenças cardiovasculares.

Abstract: The mortality of the elderly due diseases of the circulatory system is still high and undergo vary influences. Therefore, an ecological study was performed with data from DATASUS (Department of Informatics of the Unified Health System) and IAPAR (Agronomic Institute of Paraná), aiming to identify which are the most relevant diseases and their relationships with climatic elements. The cerebrovascular disease was the most importante, obtaining an inverse relation with elevation of mortality while the data showed decrease of temperature, humidity and rainfall.

Keywords: bioclimatology. Mortality. Cardiovascular diseases.

Resumen: La mortalidade de los ancianos por enfermedad del aparato circulatório sigue siendo alta y sufre varias influencias. Se realizo um estudio ecologico com datos del DATASUS (Departamento de Informática del Sistema Único de Salud) y del IAPAR (Instituto Agronómico de Paraná), con el fin de identificar cuáles son las enfermedades más pertinentes y sus relaciones con elementos climaticos. La enfermedad cerebrovascular fu ela

1 Acadêmica de Enfermagem. UEPG. E-mail: cristinafaria95@hotmail.com 2 Acadêmico de Medicina. UEPG. E-mail: viniciusfbio@hotmail.com

3 Doutora em Agronomia. Professora associada DEBIO (Departamento de Biologia). UEPG. E-mail: mleite@uepg.br

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de mayor importancia, obteniéndose uma relación de inversa con elevación de mortalidade mientras los datos

demonstraban disminución de temperatura, humedad y pluviosidade. Palabras-clave: bioclimatogía. Mortalidad. Enfermedad cardiovasculares.

Envio 25/12/2017 Revisão 29/12/2017 Aceite 18x/07/2018

Introdução

O mundo sofre constante transformação, nos avanços tecnológicos, no padrão de vida de uma sociedade e no aumento da expectativa de vida também, o que interfere direta ou indiretamente no processo Saúde X Doença. Desta forma, identifica-se que a transição epidemiológica se caracteriza pela mudança nas causas de mortalidade, saindo de cena as doenças transmissíveis e prevalecendo as doenças crônicas não transmissíveis. Dentre essas, destacam-se as Doenças do Aparelho Circulatório (DAC), maior causa de óbitos mundiais, com 15 milhões de mortes em 2015 (OMS, 2017).O Brasil segue a mesma tendência, com 340.284 óbitos em 2014, sendo que deste valor, 268.008 eram idosos (DATASUS, 2017).

Conhecendo a transição epidemiológica e como a mesma se relaciona ao aumento da expectativa de vida, não é estranho, pois, os idosos serem uma faixa etária bastante propensa à mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis.

Dentro das DAC existe um grande número de doenças, como as cerebrovasculares, hipertensivas, isquêmicas, aneurismas, insuficiência cardíaca, infecções cardíacas, doenças dos vasos, etc. Observa-se um maior número de mortalidade no Brasil por doenças cerebrovasculares e isquêmicas de 2006 a 2015(DATASUS, 2017), destacando-se a faixa etária acima dos 60 anos.

As Doenças do Aparelho Circulatório podem ter muitas causas, intensificadas com as transformações que a sociedade sofreu e sofre no decorrer dos anos, pois estas acabam por impactar a forma com a qual as pessoas trabalham, se alimentam e vivem, interferindo assim na sua saúde (DUARTE; BARRETO, 2012). Entretanto, os fatores climáticos também podem afetar as condições de saúde de uma população.

Segundo o documento “Mudança Climática e Saúde: Um perfil do Brasil” (2009) organizado pela OPAS / OMS (Organização Pan-Americana de Saúde / Organização Mundial de Saúde) e pelo Ministério da Saúde, eventos climáticos extremos têm impactos imprevisíveis

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sobre a saúde humana, considerando-se não somente a relação direta com o ambiente, mas

também com o organismo humano e as doenças não-transmissíveis.

Diversas variáveis climáticas podem contribuir para a manifestação dos agravos à saúde, como temperatura, umidade, precipitação pluviométrica, entre outros, que por sua vez interferem no dia a dia e no bem-estar da população, em especial as mais vulneráveis, como os idosos. No entanto, não há uma unilateralidade quanto a responsabilidade desses eventos, visto que existem outras características que são intrínsecas aos indivíduos, sejam físicas, psíquicas ou sociais. Essas resultam, portanto, em um somatório de contribuições para que determinadas comunidades sofram com diversas doenças do aparelho circulatório(MURARA; AMORIN, 2010).

Nas últimas décadas, mais pesquisas relacionando as variáveis climáticas com o processo saúde-doença vêm sendo realizadas a fim de que melhor compreendam a interferência do meio ambiente sobre a saúde de uma população(RIBEIRO et al., 2016). A partir desse pressuposto, podemos trazer uma expressão que melhor avalia esses parâmetros, a bioclimatologia. Ela identifica as consequências do espaço urbano junto aos componentes do clima e suas implicações na saúde da população, visto que a incorporação dessa avaliação traz inúmeras contribuições para as pesquisas nesta área, ampliando os conhecimentos dos efeitos do clima sobre as comunidades (DA SILVA; RIBEIRO; SANTANA, 2014).

Além do mais, quando falamos de estudos de mortalidade é importante levar em consideração quando os fatos ocorreram, em que espaço de tempo e o que se relaciona a isso. As séries temporais, por exemplo, auxiliam na organização de informações quantitativas no tempo e associá-las (série temporal de mortalidade e série temporal de fatores externos) faz com que se analise de forma mais ampla os dados obtidos em um determinado estudo. Pode ser que não exista relação causal entre uma e outra série, mas também pode ser que exista, e é na estatística que se identifica e encontra os valores de significância presentes (ANTUNES; CARDOSO, 2015). No caso da epidemiologia, conhecer como uma doença se comportou no passado além de detalhar a situação de saúde de uma região em especial, é uma forma de prevenção de novos casos no futuro, porque é possível prevê-los e averiguar sua tendência.

No presente trabalho, objetivou-se conhecer quais as principais categorias de doenças das Doenças do Aparelho Circulatório que levam idosos a óbito e a relação destas com a temperatura média do ar, precipitação pluviométrica e umidade relativa do ar registradas no

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município de Londrina, no estado do Paraná, no período de janeiro de 1998 a dezembro de

2014.

Metodologia

Realizou-se um estudo ecológico, analisando-se a taxa de mortalidade dos idosos do município de Londrina no estado do Paraná por Doenças do Aparelho Circulatório (DAC). Os dados históricos para análise compreendem o período de janeiro de 1998 a dezembro de 2014. Conhecer os dados específicos de um município auxiliam na tomada de decisão referente a situação de saúde daquela própria localidade, ainda mais na população idosa, tão afetada com as doenças crônicas como as Doenças do Aparelho Circulatório. Também a série temporal tem grande importância para a relevância do estudo, a mesma foi escolhida devido aos dados climáticos já tabulados para o período e por ser o ano onde a base de dados de mortalidade estava mais atualizada.

Obteve-se os dados referentes à mortalidade a partir do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no site do Ministério da Saúde (http://datasus.saude.gov.br), que classifica as doenças empregando a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10), onde as Doenças do Aparelho Circulatório correspondem ao Capitulo IX. Realizou-se então o agrupamento dos dados em categoria de doenças, sendo elas: Doença Cerebrovascular, Doença Isquêmica, Doença Hipertensiva e Outras. Considerou-se para inclusão no estudo três grupos distribuídos nas seguintes faixas etárias: entre 60 e 69 anos, de 70 a 79 anos e maiores de 80 anos.

As informações podem ser acessadas via internet, assim como seus dados agregados por município, não sendo, portanto, coletadas de maneira individual e nominal, diminuindo possíveis danos de ordem física ou moral na perspectiva do indivíduo e das coletividades.

Utilizou-se também a comparação entre os coeficientes de mortalidade (equação 1) em conjunto com as variáveis climáticas: temperatura média do ar, precipitação pluviométrica e umidade relativa do ar, obtidas junto ao Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), (25º13’ – latitude sul, 50°01’ – longitude oeste e 880m altitude). Para a complementação da série foi utilizado o Gerador Estocástico de Cenários Climáticos - PGECLIMA_R(VIRGENS FILHO

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= ú ó

çã í 10.000 Equação 1

Na equação 1, para o cálculo do Coeficiente de Mortalidade utilizou-se a média da população idosa central (junho e julho) de cada ano, conforme orientação do Ministério da Saúde. Com isso, dividiu-se o número de casos do mês pela média da população central do seu respectivo ano, e em seguida multiplicou-se por 10.000 habitantes.

Efetuou-se então a tabulação dos dados coletados por meio do EXCEL, permitindo a elaboração de gráficos de distribuição mensal, sazonal e anual, possibilitando a análise e identificação das ocorrências das doenças.

Assim, elaborou-se a análise descritiva das variáveis já mencionadas, realizando-se, em seguida, a análise inferencial associada aos principais índices epidemiológicos pertinentes.

Resultados

No presente estudo, verificou-se que a doença cerebrovascular foi a que apresentou os maiores coeficientes de mortalidade dentro das Doenças do Aparelho Circulatório (DAC), como observa-se na figura 1. Esse dado está em consonância com os dados estaduais, sendo a categoria que mais levou idosos à óbito, no mesmo período (DATASUS, 2017).

Figura 1 – Coeficiente médio de mortalidade por categoria de doenças

0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 60 - 69 70 - 79 80 ou + Coe ficie nt e de m orta lida de Faixa - etária

Coeficiente médio de mortalidade por categoria de doenças

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Figura 1 – Coeficiente médio de mortalidade por categorias de DAC, segundo faixa etária.

1998 – 2014, Londrina/PR.

A doença isquêmica, por sua vez, ocupa o segundo lugar para as idades de 60 – 69 e 70 – 79, e o último para idade de 80 anos ou mais, diferente dos dados mundiais, já que segundo a Organização Mundial da Saúde a patologia ocupa a primeira causa de mortalidade em 2015 (OMS, 2017) seguido da doença cerebrovascular. Já a doença hipertensiva alcançou o terceiro lugar entre as DAC de 60 – 69 anos e 80 ou mais, e o quarto para 70 – 79 anos.

Ainda, a categoria denominada “outras” caracteriza a mortalidade por diferentes causas, como aneurismas, infecções, reumatismos e insuficiência cardíaca. Essas doenças, quando somadas, são a segunda maior causa de mortalidade nos idosos de 80 anos ou mais no período estudado, evidenciando a fragilidade dos mais longevos às demais DAC.

Quando associamos a temperatura média do ar às faixas etárias, observa-se uma grande representatividade desse grupo, sendo, portanto, uma das variáveis mais significativas do estudo. O coeficiente de mortalidade no município de Londrina, apresentou seu ápice durante os meses correspondentes ao inverno, onde as temperaturas do ar registravam em média 19,15ºC, enquanto no outono apresentavam, em média, 19,69ºC, conforme figura 2. Contudo, nota-se que a linha de mortalidade já começa a elevar-se significativamente na transição entre outono e inverno, evidenciando-se o clima frio como contribuinte nessa relação.

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Figura 2 – Relação entre o coeficiente médio de mortalidade por DAC e a Temperatura

médiado ar, sazonalmente e segundo a faixa etária. 1998 – 2014, Londrina/PR.

Em relação à precipitação pluviométrica ou pluviosidade, Londrina possui chuvas em todas as estações, podendo ocorrer secas no período de inverno. Segundo o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), a precipitação pluviométrica anual em 2016, foi de 1976,4 mm, sendo janeiro e fevereiro os meses mais chuvosos e julho e setembro os meses mais secos, ou seja, meses correspondentes ao verão indicaram a maior precipitação pluviométrica do ano, ocorrendo o inverso com os meses de inverno (IAPAR, 2017). Em média, no período estudado constatou-se uma menor pluviosidade nos meses que compreendem as estações outono e inverno; tendo nesse intervalo de tempo uma relação inversa, com os maiores coeficientes de mortalidade (figura 3), ou seja, acréscimos na taxa nos meses mais frios e mais secos.

Figura 3 – Doenças do Aparelho Circulatório X Precipitação pluviométrica 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

Verão Outono Inverno Primavera

T em pe ratura M édia ( ºC) Coef ic iente de M ort ali da de Legenda

DAC X Temperatura Média

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Figura 3 – Relação entre o coeficiente médio de mortalidade por DAC e a Precipitação

Pluviométrica, sazonalmente e segundo a faixa etária. 1998 – 2014, Londrina/PR.

A tendência do coeficiente de mortalidade para umidade relativa do ar segue os parâmetros vistos na figura anterior, haja visto que a relação de inversão também se configura na figura 4. Isso é possível devido a íntima coexistência entre precipitação pluviométrica e umidade relativa do ar.

Figura 4 – Doenças do Aparelho Circulatório X Umidade relativa do ar 0,00 100,00 200,00 300,00 400,00 500,00 600,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

Verão Outono Inverno Primavera P

re ci pitaç ão Pl uviométri ca -P P (m m) Coef ic iente de mort alidade Legenda

DAC X Precipitação Pluviométrica

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Figura 4 – Relação entre o coeficiente médio de mortalidade por DAC e a Umidade relativa

do ar , sazonalmente e segundo a faixa etária. 1998 – 2014, Londrina/PR.

Ademais, com as figuras representadas, nota-se e vale ressaltar que a faixa etária dos 80 anos ou mais constituiu-se como a que mais levou idosos à óbito no período, seguida do grupo correspondente às faixas dos 70 e 60 anos respectivamente.

No que se refere ao comportamento anual das doenças, apesar da oscilação averiguada nos valores dos coeficientes de mortalidade no decorrer dos anos, outro fator de destaque, não representado graficamente, porém percebido e levado em consideração é a diminuição dos coeficientes médios de mortalidade de acordo com o avanço temporal para todas as doenças elencadas e para os três níveis de faixa etária destacados, havendo exceção somente para Doença Hipertensiva nos idosos maiores de 80 anos, quando o coeficiente de mortalidade aumentou nos últimos anos descritos no presente estudo.

Discussão

As doenças do aparelho circulatório compreendem patologias multicausais, devendo-se a fatores genéticos, ambientais e comportamentais, como clima, sedentarismo, má alimentação, tabagismo, alcoolismo, além da própria idade. Abrangendo, portanto, elementos bióticos e abióticos. No que se refere aos fatores climáticos, sabe-se que existem grupos que são mais susceptíveis às patologias; nesse aspecto, os idosos são alvos de estudos, pois possuem maior

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

Verão Outono Inverno Primavera

Umidade re lativa do a r (% ) Coef icie nt e de morta lida de Legenda

DAC X Umidade relativa do ar

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sensibilidade tanto ao frio quanto ao calor (KRUGER et. al., 2012 apud DA SILVA; RIBEIRO;

SANTANA, 2014). Uma pesquisa em Beijing (China) observou que extremos de frio e calor aumentaram a mortalidade por doenças coronarianas especialmente em mulheres e idosos (TIAN et. al., 2012), evidenciando que pesquisas neste assunto formam perfis importantes para se planejar as ações de promoção e prevenção em saúde.

Pinheiro et. al. (2013) confirma essa associação com temperaturas muito baixas ou muito altas como significativos e potenciais fatores de risco no quesito mortalidade cardiovascular. Aliás, traz em seus estudos uma estimativa de qual seria a melhor zona de temperatura que possivelmente seria menos danoso à saúde, compreendido em torno de 20ºC.

Neste sentido, a classificação de Köppen mostra que o município de Londrina apresenta clima do tipo Cfa, ou seja, clima subtropical úmido, apresentando uma temperatura média do mês mais quente, geralmente, superior a 25,5° C e a do mês mais frio, inferior a 16,4° C (LONDRINA, 2017).

A partir do grande grupo das Doenças do Aparelho Circulatório, as doenças cerebrovasculares pontuam grande importância devido ao número de mortes registradas. Corroborando com os coeficientes já demonstrados no presente trabalho, Natal(2015) observou que o período que compreende os anos de 2003 a 2012, 30,4% das mortes por DAC, se deviam à doença cerebrovascular, sendo a principal causa de óbito no Distrito Federal. Isso ocorreu para todas as faixas etárias pesquisadas e de maneira crescente, ou seja, à medida que se elevou a faixa etária. Muller & Gimeno(2015) verificaram essa mesma tendência em seu estudo no estado do Paraná entre 1979 – 1981 e entre 2006 – 2008.

Para as doenças isquêmicas, as temperaturas baixas apresentam papel significativo na mortalidade, visto que o mecanismo regulador da temperatura corpórea (manutenção da homeostasia) proporciona vasoconstrição periférica e consequentemente a pressão arterial se eleva; sendo PA= DC x RVP (onde PA: pressão arterial; DC: débito cardíaco; RVP: resistência vascular periférica), há uma sobrecarga das câmaras cardíacas com possível prejuízo para o indivíduo. Todo esse processo tem repercussão maior quando se entende que os idosos são os mais acometidos. Além disso, se essa população estiver mais propensa ao desenvolvimento das consequências do processo aterosclerótico mais facilmente a luz de um vaso será obstruída, podendo levar a uma doença isquêmica, ou até mesmo cerebrovascular (FROTA; SHIFFER, 2001 apud NATAL, 2015).

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Ainda, as situações onde o indivíduo enfrenta ondas de frio ou calor causam prejuízo

sob outras vertentes. As associações dos ventos com temperaturas baixas podem levar à hipotermia, desestimulando o cérebro a ponto de perder a sua capacidade homeotérmica. Com isso, diversos outros reguladores sofrem alterações levando à queda da frequência cardíaca e respiratória, diminuição e até perda da consciência, além de parada cardíaca (MURARA; AMORIN, 2010).

Sabe-se que há interligação entre a morbidade e a mortalidade, visto que uma pode ser o desfecho da outra, neste sentido, um estudo averiguou a internação por Doenças do Aparelho Circulatório na cidade de Florianópolis no estado de Santa Catarina, no período de 2001 a 2010 e constatou que a taxa de internação apresentou um ligeiro aumento nos meses em que a temperatura era menor (MURARA; MENDONÇA; BONETTI, 2013), conforme o que se averiguou nesta pesquisa, mas para a mortalidade por DAC.

Contudo, os estudos dos fatores climáticos não são de exclusividade brasileira. Diversos pesquisadores pelo mundo abordam o assunto com propriedade, tentando entender as relações e contribuições desses parâmetros no processo saúde/doença. Dilaveris et. al. (2006)

pesquisaram os índices de mortalidade para doenças isquêmicas do coração (infarto agudo do miocárdio) em Atenas no ano de 2001 fazendo uso de dados de temperatura, pressão atmosférica e umidade relativa do ar; registraram 3126 mortes, sendo que destas 31,8% foram maiores no inverno que no verão. Ainda, os dados de variações mensais foram mais significativos quanto à idade, ou seja, o fator idade também se mostrou importante nessa relação. O que também foi possível observar neste estudo, com os idosos de 80 anos ou mais sendo a faixa etária com o maior coeficiente de mortalidade para as Doenças do Aparelho Circulatório somadas.

Quanto às doenças hipertensivas, um estudo em Santa Gertrudres (São Paulo) de 1991 a 2001 mostrou que os dias com maior número de crises hipertensivas estavam relacionados tanto a chuvas isoladas/períodos longos de seca, quanto à maiores amplitudes térmicas (diferença entre a temperatura máxima e mínima); mudanças bruscas no tempo atmosférico e baixos valores de umidade relativa do ar também se mostraram significativos às crises (PITTON; DOMINGOS, 2004 apud DA SILVA; RIBEIRO; SANTANA, 2014). Além disso, Souza, Souza e Silva(2011) encontraram algo similar em pesquisa realizada num município da Paraíba, onde o número de crises hipertensivas se exacerbava quando os valores da umidade

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relativa do ar diminuíam independentemente da estação do ano. Assim, com este e os demais

estudos aqui apresentados, percebe-se uma possível relação presente entre os elementos climáticos e a morbimortalidade por Doenças relacionadas ao Aparelho Circulatório.

Todos esses fatores climáticos expostos (temperatura do ar, precipitação pluviométrica, umidade relativa do ar), além daqueles discutidos indiretamente (pressão atmosférica, ventos, entre outros) contribuem de forma dinâmica na saúde da população, sobretudo dos mais vulneráveis, como os de idade avançada, levando-os a morbimortalidade por doenças sistêmicas. Isso é possível já que o corpo humano permanece em contato com o meio que o rodeia através de mudanças térmicas, hídricas e até mesmo gasosas (DE SOUZA et. al., 2012). Por último cabe destacar, de forma geral, a diminuição do coeficiente médio de mortalidade evidenciado com o decorrer dos anos, onde para Doença Isquêmica, Cerebrovascular e para categoria de Outras em todas as faixas etárias do estudo verificou-se essa “tendência”. “Tendência” a qual foi observada também em outro estudo realizado no estado do Paraná (MULLER; GIMENO, 2015), evidenciando-se isso em homens e mulheres, tanto para a Doença Isquêmica e para Doença Cerebrovascular quanto para todas as Doenças Cardiovasculares, porém para idade entre 30 e 79 anos.

Apenas a categoria de Doença Hipertensiva para os idosos com 80 anos ou mais apresentou um aumento nos números de coeficiente médio de mortalidade com o passar dos anos do estudo, onde para o triênio 1998-2000 tinha média de 0,54 mortes a cada 10.000 idosos, enquanto nos últimos três anos a mesma foi de 1,04. Porém foi somente essa dentre as demais doenças e faixas etárias que apresentou essa alternância.

É evidente que esses últimos dados apontam uma diminuição da mortalidade por DAC para o município de Londrina, contudo as doenças cardiovasculares continuam configurando a principal causa de óbitos mundial, como já citado anteriormente e confirmado pela OPAS / OMS (Organização Pan-Americana de Saúde / Organização Mundial de Saúde) em 2017, evidenciando que as pessoas morrem mais por Doenças do Aparelho Circulatório do que por qualquer outra causa, e quando relaciona-se isso aos fatores socioeconômicos encontra-se que mais de ¾ da mortalidade por doenças cardiovasculares ocorre em países de baixa e média renda, sendo que com o diagnóstico precoce e adequado manejo medicamentoso os óbitos poderiam ser evitados.

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Verificou-se aqui neste estudo a interferência climática também na mortalidade,

expondo prováveis relações existentes entre o clima e a saúde, Ainda mais diante das transformações que o mundo vem sofrendo, com o clima também sendo afetado. E, com uma mudança climática global, deve se considerar quais as principais vulnerabilidades atribuídas a ela e quais os prováveis efeitos que podem acarretar a saúde de uma população (DA SILVA; RIBEIRO; SANTANA, 2014), possibilitando, assim, uma visão de maior abrangência quanto as causas de mortalidade e servindo de base para ações de cuidado e prevenção em saúde voltadas a elas, isso, de uma população em especial, os idosos.

Considerações finais

Sabe-se o quanto as doenças crônicas afetam os mais diversos lugares do mundo, sobretudo as doenças cardiovasculares. Quando não são controladas adequadamente, podem gerar complicações e elevar a morbimortalidade. Para o presente estudo, as que mais se destacam são, principalmente as cerebrovasculares e as isquêmicas, levando à morte uma grande quantidade de idosos. Uma categoria que chamou atenção foi a de Outras, que abrange as demais Doenças do Aparelho Circulatório e que foi a segunda maior causa de óbito entre os idosos com mais de 80 anos. Os aspectos climáticos se apresentam direta e indiretamente ligados a esse processo, constatando-se com o registro dos menores índices de temperatura, precipitação pluviométrica e umidade relativa do ar, a elevação do coeficiente de mortalidade, seja por doenças específicas ou das Doenças do Aparelho Circulatório como um todo.

Demonstrando, portanto, uma relação existente entre a série temporal de mortalidade e a série temporal das variáveis climáticas. Como bem apresentaram as outras pesquisas descritas no decorrer do texto. A partir deste conhecimento e da análise local realizada foi possível perceber que as principais categorias que afetam a localidade afetam também todo território estadual, nacional e mundial e que é possível, então, aliar as forças para buscar medidas protetivas, inovadoras e efetivas para o manejo das morbidades elencadas.

A Atenção Primária de Saúde, além de tratar possui o dever de promover ações de saúde que visam a prevenção dos agravos e até mesmo o surgimento de novos casos, a fim de diminuir os índices de mortalidade relacionados ao tema. Portanto, a iniciativa dos profissionais inseridos na área da saúde, seja realizando grupos para orientação de boas práticas de saúde diárias, seja disseminando conhecimento científico das patologias e de suas principais causas,

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ajudam a melhorar a abrangência do cuidado, conhecendo assim, seu território e o perfil de seus

pacientes. Com isso, as taxas de mortalidade poderão diminuir e a saúde da população colher os frutos de um trabalho multiprofissional e de boa qualidade.

Agradecimentos

À Fundação Araucária pelo apoio científico que possibilitou a realização do estudo.

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Figura 1 – Coeficiente médio de mortalidade por categoria de doenças
Figura 2 – Relação entre o coeficiente  médio de mortalidade por DAC e a  Temperatura  164
Figura  3  –  Relação entre  o coeficiente  médio  de  mortalidade  por DAC  e a  Precipitação  Pluviométrica, sazonalmente e segundo a faixa etária
Figura 4 –  Relação entre o coeficiente médio de mortalidade por DAC e a Umidade relativa  do ar , sazonalmente e segundo a faixa etária

Referências

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