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O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DEMANDAS REPETITIVAS EM SEDE DOS TRIBUNAIS SUPERIORES

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Academic year: 2020

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O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DEMANDAS REPETITIVAS EM SEDE DOS TRIBUNAIS SUPERIORES: APLICABILIDADE DO INSTITUTO PERANTE

COMPETÊNCIA ORIGINARIA DO STF E STJ

THE REPETITIVE DEMANDS RESOLUTION INCIDENT IN HEADQUARTERS OF THE SUPERIOR COURTS: APPLICABILITY OF THE INSTITUTE TO THE

JURISDICTION OF THE STF AND STJ

Thais Felix*

RESUMO: O presente artigo visa desenvolver minúcias decorrentes do novo instituto processual: Incidente de Demandas Repetitivas. Dando ênfase no microssistema de demandas repetitivas e formação de precedentes. Entre as controvérsias pertinentes ao instituto, o artigo abordará a aplicação do IRDR diante dos tribunais superiores. Passando pela concessão de efeito suspensivo em âmbito nacional. Aplicabilidade ou não do incidente diretamente aos tribunais superiores sobre qualquer demanda, mesmo que de competência de tribunal local. Como escopo do artigo desenvolve-se a problemática presente na doutrina referente ao cabimento ou não do IRDR em face de demandas originárias de tribunais superiores. E por fim, analisa-se a decisão monocrática do Ministro Mauro Campbell Marques no Conflito de Competência nº 148.519, em sede no Superior Tribunal de Justiça.

PALAVRAS-CHAVE: IRDR; microssistema; demandas repetitivas; competência originária; tribunais superiores.

ABSTRACT: This article aims to develop in detail a change from the new procedural institute: the Repetitive Demands Resolution Incident. Emphasizing the microsystem of repetitive demands and formation of precedents. Among the controversies pertinent to the institute, the article will study the application of the RDRI before the higher courts. An important point to be mentioned is the granting of suspensive effect at the national level. Another point is the applicability of the incident directly to the higher courts on any claim, even if it is within the competence of a local court. The development of the problematic present in the doctrines, with respect to the use or not, of the RDRI in demands originating from superior courts is the main scope of this article. Finally, the monocratic decision of the Minister Mauro Campbell Marques in Conflict of Competence nº 148.519, at the Superior Court of Justice, is analyzed. KEYWORDS: RDRI; microsystem; repetitive demand; original competence; superior courts.

SUBMETIDO EM 28/11/2017 APROVADO EM 30/07/2018

INTRODUÇÃO

Diante do notório crescimento da complexidade nas relações jurídicas e o volume de litígios jurisdicionalizados, se faz necessário desenvolver técnicas

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processuais que garantam a proximidade à isonomia e à segurança jurídica. Objetivando, assim, evitar decisões conflitantes em casos análogos.

Nesse contexto, o Código de Processo Civil (Lei nº 13105/15) dispõem no artigo 9281 sobre duas técnicas processuais destinadas ao julgamento de demandas repetitivas, quais são: incidente de resolução de demandas repetitivas e recursos especial e extraordinário repetitivos. Esses mecanismos se juntam as súmulas vinculantes, julgamento por improcedência liminar do pedido, dentre outros meios processuais na busca da uniformização da jurisprudência pátria.

Evitando-se, que o Judiciário julgue a mesma questão inúmeras vezes, apenas por se referir a sujeitos processuais distintos. Trazendo os benefícios da celeridade, isonomia e segurança jurídica ao jurisdicionado.

O incidente de resolução de demandas repetitivas é considerado pela doutrina como uma das maiores inovações do novo diploma processual. O instituto utiliza a técnica do julgamento modelo ou padrão, baseado no modelo alemão denominado Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz2. O “IRDR”, como é chamado, em conjunto a outros mecanismos de formação e uniformização de jurisprudência vem a substituir o incidente de uniformização de jurisprudência previsto no CPC 73 (art.476), o qual tinha a finalidade de prevenir ou eliminar uma divergência jurisprudencial.

Segundo entendimento majoritário na doutrina o IRDR e os recursos repetitivos possuem dupla função3: a de gerir demandas repetitivas dando tratamento adequado, prioritário e racional às questões repetitivas; como também se destinam a formar precedentes obrigatórios.

Nessa toada, vem se consolidando o posicionamento de microssistema de demandas repetitivas, o qual consiste na aplicação conjunta de normas, que se intercomunicam, garantindo, assim, unidade e coerência. Fredie Didier vai além, ao propor um microssistema híbrido às técnicas de demandas repetitivas, passando a integrar tanto o microssistema de formação de precedentes, como o microssistema de gerência de casos repetitivos.

1

Art. 928 CPC: Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a decisão proferida em:

I - incidente de resolução de demandas repetitivas; II - recursos especial e extraordinário repetitivos.

Parágrafo único. O julgamento de casos repetitivos tem por objeto questão de direito material ou processual.

2 Procedimento padrão denominado “Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz” foi introduzido no

ordenamento jurídico alemão em 16 de agosto de 2005, pela Lei de Introdução do Procedimento-Modelo para os investidores em mercado de capitais (Gesetz zur Einfuhrung von Kapitalanleger-Musterverfahren, abreviada de KapMuG). CABRAL, Antônio do Passo. O novo procedimento-modelo (Musterverfahren) alemão: uma alternativa as ações coletivas. Revista de processo, São Paulo, v. 32, n.147, maio/2017, p. 123–146. Disponível em:

<http://biblioteca2.senado.gov.br:8991/F/?func=item-global&doc_library=SEN01&doc_number=000792261> . Acesso em 10 de julho de 2017.

3 Luiz Guilherme Marinoni entende que, no IRDR, não há formação de precedente, “pois apenas

resolve casos idênticos, criando uma solução para a questão replicada nas múltiplas ações pendentes. Já nos recursos repetitivos há formação de precedentes, pois são julgados por cortes supremas, que são as cortes de precedentes. Para ele, enquanto o IRDR pertence ao discurso do caso concreto, os precedentes dizem respeito ao discurso da ordem jurídica". In: MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo Civil. Vol. 2 - 3ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.

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A simples interpretação literal dos artigos envolvendo o incidente de demanda repetitiva não causam grandes questionamentos, porém uma análise sistema do instituto, tendo como base o microssistema, geram inúmeras indagações.

O presente artigo tem como escopo analisar a aplicação do incidente de demanda repetitiva frente aos Tribunais Superiores. Enfrentando o cabimento ou não do incidente em casos originários do STJ e STF, sejam ações, incidentes ou recursos. Para tanto serão examinados os posicionamentos doutrinários formados sobre o tema, como também o julgamento monocrático proferido pelo Ministro Mauro Campbell Marques no Conflito de Competência nº 148.519, em sede no Superior Tribunal de Justiça.

1. CABIMENTO E COMPETÊNCIA DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS

O incidente de demandas repetitivas surge como uma técnica processual, possuindo natureza jurídica de incidente, como seu próprio nome indica.

Ao ser instaurado o IRDR transfere-se a competência ao Tribunal para julgar o caso concreto, como também fixar o entendimento frente a uma questão jurídica que se revela comum em diversos processos, formando assim a ratio decidendi, a qual orientará o julgamento das demandas já propostas e as futuras que enfrente a questão de direito já decidida em IRDR. Nota-se a natureza de precedente obrigatório do instituto.

Os pressupostos de admissibilidade do incidente estão disciplinados no artigo 9764 do CPC. É necessário: haver efetiva repetição5 de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito; ser unicamente de direito, material ou processual; ter risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica; haver causa pendente no tribunal.

Há, ainda, um requisito negativo previsto no dispositivo 976, § 4º não ter afetação de recurso especial ou extraordinário repetitivo sobre questão a ser firmada tese em IRDR, dando-se assim uma clara preferencia para a uniformização nacional do tema.

Sobre esse pressuposto negativo, Mirelles amplia a interpretação do artigo, entendendo que não pode haver afetação da questão de direito em sede de recurso

4

Art.976: É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando houver, simultaneamente:

I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito;

II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

§ 1º A desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do incidente. § 2º Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente e deverá assumir sua titularidade em caso de desistência ou de abandono.

§ 3º A inadmissão do incidente de resolução de demandas repetitivas por ausência de qualquer de seus pressupostos de admissibilidade não impede que, uma vez satisfeito o requisito, seja o incidente novamente suscitado.

§ 4º É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais

superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.

§ 5º Não serão exigidas custas processuais no incidente de resolução de demandas repetitivas.

5 Enunciado 87 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A instauração do incidente de

resolução de demandas repetitivas não pressupõe a existência de grande quantidade de processos versando sobre a mesma questão, mas preponderantemente o risco de quebra da isonomia e de ofensa à segurança jurídica."

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especial ou extraordinário repetitivo, como também em IRDR instaurado perante o STJ ou STF:

De igual modo, não se deve admitir IRDR em tribunal de justiça ou em tribunal regional federal quando já instaurado IRDR no tribunal superior sobre a mesma questão jurídica. Isso porque há uma nítida preferência pela uniformização nacional do entendimento firmado pelo tribunal superior.6

Nesse sentido Fredie Didier, sintetiza quando não cabe a instauração do IRDR, tendo como base os preceitos positivos e o negativo:

Tais requisitos de admissibilidade denotam: (a) o caráter não preventivo do IRDR, não cabendo casos de potencial risco de multiplicidade de processos (nesses casos cabe IAC) (b) a restrição do seu objeto à questão unicamente de direito, não sendo cabível para questões de fato e (c) a necessidade de pendência de julgamento de causa repetitiva no tribunal competente.7

Quanto ao requisito de estar a causa pendente de julgamento em Tribunal competente, o entendimento foi firmado em enunciado de nº 344 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A instauração do incidente pressupõe a existência de processo pendente no respectivo tribunal”.

Assim, o IRDR é destinado para fixar uma tese, referente a questão repetitiva de direito, em processo de conhecimento ou em processo de execução, seja o procedimento comum ou especial. Enfim, basta para a suscitação do IRDR um caso pendente no tribunal, seja uma ação originaria, um recurso, ou até mesmo um incidente, inclusive em remessa necessária.

Diante da necessidade de ter um processo pendente em sede de tribunal surge o questionamento: seria admissível no sistema processual suscitar o IRDR em casos de competência originaria de tribunal superior? Vejamos.

2. APLICAÇÃO DO INSTITUTO (IRDR) EM TRIBUNAL SUPERIOR 2.1. SUSPENSÃO NACIONAL DOS PROCESSOS ART. 982 CPC

O artigo 982 parágrafo 3º autoriza aos legitimados para a instauração do incidente, requerer a suspensão nacional de todos os processos que versem sobre questão afetada pelo IRDR:

Art.982 § 3º Visando à garantia da segurança jurídica, qualquer legitimado mencionado no art. 977, incisos II e III, poderá requerer, ao tribunal competente para conhecer do recurso extraordinário ou especial, a suspensão de todos os processos individuais ou coletivos em curso no território nacional que versem sobre a questão objeto do incidente já instaurado.

Essa previsão vem sendo interpretada pela doutrina como medida preparatória de eventual recurso de natureza extraordinária, pois caso não seja interposto o recurso especial ou extraordinário cessará o efeito suspensivo nacional, conforme dispõem o § 5º do artigo 982 do CPC.

6

MEIRELES, Edilton; LEITE, Carlos Henrique Bezerra (org.). Do incidente de resolução de demandas repetitivas no processo civil brasileiro e suas repercussões no processo do trabalho: Novo CPC. Repercussões no processo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 204. 7

DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, 3a. Ed. Salvador: Jus Podivm, 2017. p.719.

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Sobre o assunto Scarpinella salienta que não se pode confundir o efeito suspensivo em âmbito nacional com uma nova interposição de IRDR direcionado ao tribunal superior:

O par 3º do art.982, não trata, propriamente, da instauração de um novo incidente no âmbito dos Tribunais Superiores, considerando que a questão objeto do incidente possa ser comum em todo o território nacional (...). Seu objetivo é, apenas, o de obter a suspensão dos processos individuais ou coletivos.8

Quanto a essa aplicação do IRDR não há grandes questionamentos a serem feitos, as disposições previstas no CPC indicam o seu objetivo: evitar que se dissemine decisões contraditórias em todo o território. Sua relevância na prática forense tende a ser de alta aplicação.

2.2. INSTAURAÇÃO DO IRDR DIRETAMENTE NOS TRIBUNAIS SUPERIORES SOBRE DEMANDAS DE COMPETÊNCIA DE TRIBUNAIS DE JUSTIÇAS E TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS

Uma parte minoritária da doutrina argumenta sobre a possibilidade de suscitar diretamente aos tribunais superiores IRDR sobre qualquer processo, não sendo relevante de qual tribunal seria competente para julgar a ação, recurso ou incidente. Pois deste modo evitaria que cada Estado (TJ’s) ou regiões (TRF’s) estabelecesse um posicionamento sobre determinada questão de direito, o que levaria a insegurança jurídica.

Sobre o tema André Vasconcelos Roque entende que a propositura deveria dar-se diretamente âmbito dos Tribunais superiores, a depender da matéria abordada. Em seu argumento utiliza um caso pratico para ilustrar as consequências práticas da propositura regionalizada do IRDR:

Corremos o risco de criar uma tese jurídica geral em São Paulo incompatível com a firmada no Rio de Janeiro. Pior: é possível que, não sendo interpostos recursos para os tribunais superiores nem no Rio ou São Paulo, sobrevenha decisão posterior do STJ – oriunda, por exemplo, de um terceiro IRDR no Rio Grande do Sul – contrária ao que se estabeleceu nos outros dois Estados. E muitos processos no Rio ou em São Paulo já podem ter transitado em julgado. Nessa situação, o que fazer? Deixar conviver uma massa de decisões contraditórias do ponto de vista lógico Brasil afora, o que o IRDR quis combater – mas acabou chancelando? Ou admitir ações rescisórias para reverter as decisões de todos esses processos no Rio de Janeiro e em São Paulo? Vamos chegar ao ponto de ter que lidar com um inusitado... Incidente de Resolução de Rescisórias Repetitivas?9

É de se salutar os questionamentos abordados do André Vasconcelos, várias podem ser as controvérsias a serem geradas na prática ao aplicar vários incidentes de demandas repetitivas com decisões não padronizadas envolvendo a

8

BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil. 2a Ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 649

9

ROQUE, André Vasconcelos. Abracadabra- O incidente de resolução de demandas repetitivas não faz milagres. Jota, Rio de Janeiro, jan. 2015. Disponível em: https://jota.info/artigos/abracadabra-05012015. Acesso em: 09 jul. 2017, 10h15.

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mesma questão de direito. Entretanto, não se pode deixar de lado a competência que cada tribunal possui estabelecida no ordenamento pátrio.

Scarpinella, acompanhado de parte majoritária da doutrina, entende que isso transformaria em verdadeira avocação de processos, com inegável supressão (dupla) de instâncias. Para o STJ ou o STF analisar os casos repetitivos de competência de tribunal estadual ou federal continua sendo necessário a interposição de recurso especial ou extraordinário.

Ademais para evitar tal abalo ao sistema de precedentes obrigatórios, o CPC trouxe a previsão de efeito suspensivo em âmbito nacional, a qual já foi analisada anteriormente.

2.3. INSTAURAÇÃO DO IRDR DIRETAMENTE NOS TRIBUNAIS

SUPERIORES EM RELAÇÃO ÀS DEMANDAS DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA

A Constituição Federal de 1988 estabelece as competências dos tribunais superiores, dentre eles o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, os artigos 102 e 105 explanam sobre tais competências respectivamente.

Dentre as atribuições previstas na CF88, encontra-se ações originárias (propostas diretamente no STF e STJ), como também recurso ordinário (nesses casos o tribunal superior julga como natureza de duplo grau de jurisdição), e por fim julgamento de recurso extraordinário e especial.

Quanto a competência de recursos de natureza extraordinária já há previsão de técnica processual para gerir demandas repetitivas, o mecanismo de julgamento de recursos repetitivos. Entretanto, ao analisar o ordenamento não há um instrumento processual sobre demanda repetitiva destinado aos recursos ordinários e as ações originárias de competência desses tribunais superiores.

Imaginemos uma repetição em massa de conflitos referentes a competência entre diversos juízos estaduais e do trabalho que digam respeito a questões de direito, ou ainda diversos recursos ordinários repetitivos em mandado de segurança que tramitem no STJ ou STF. Seria o caso de aplicar a nova técnica processual advinda com o CPC, o incidente de resolução de demanda repetitiva?

Ao analisar essa indagação nota-se duas correntes doutrinarias: uma que se restringe a literalidade dos artigos que disciplinam o incidente restringindo a aplicação do instituto aos tribunais de justiça e aos regionais federais; em contrapartida a outra corrente analisa de forma sistêmica que admite a aplicação em sede de STJ e STF.

A primeira corrente, pressupõem que o IRDR é um instituto novo destinado exclusivamente aos TJ’s e aos TRF’s, sendo um meio de dar maior efetividade as suas decisões e um forte mecanismo de uniformização jurisprudência local ou regional. Entendendo que por caber recurso especial e extraordinário das decisões que recaem sobre o IRDR não seria plausível ter instauração direta nos tribunais superiores.

Ademais, argumentam no sentido da lei ser omissa sobre essa possibilidade, caso fosse o interesse do legislador ampliar essa hipótese de cabimento, assim o teria feito.

A doutrina majoritária se posiciona nesse sentido, podendo ser encontrada como exemplo nas obras de Cassio Scarpinella Bueno; Humberto Theodoro Júnior; Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitiero. Em ambos tratam o incidente como competência exclusiva dos tribunais de justiça e regionais federais.

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O enunciado 343 FPPC também se enquadra nessa corrente: “o incidente de resolução de demandas repetitivas compete a tribunal de justiça ou tribunal regional”.

A segunda corrente se posiciona de modo contrário, admitindo a aplicação do instituto perante tribunal de justiça ou tribunal regional federal, como também em tribunal superior. O principal adepto a essa corrente é Fredie Didier, vejamos:

O IRDR pode ser suscitado perante tribunal de justiça ou tribunal regional federal (no âmbito trabalhista, em tribunal regional do trabalho; no âmbito eleitoral, em tribunal regional eleitoral, ambos por força do art. 15 do CPC). Nos Juizados Especiais Federais e nos Juizados Especiais da Fazenda Pública, há o pedido de uniformização de interpretação de lei federal, não sendo cabível o IRDR.10

Argumenta o autor que, de fato, em âmbito de tribunal superior já há previsão de recurso extraordinário e especial repetitivos, porém isso não veda a aplicação do novo incidente em ações originárias e em demais recursos de competência do STJ e STF. Ademais, a citação de cabimento de recurso extraordinário e especial frente as decisões do IRDR não constituem elemento linguístico válido para vedar a aplicação do incidente em tribunal superior. Didier afirma: “não há nada, absolutamente nada, no texto normativo que impeça o IRDR em tribunal superior”11.

O autor Meireles relembra um ponto interessante sobre essa controvérsia, o antigo projeto da Câmara do Deputados havia previsão expressa de aplicação do IRDR somente a tribunais de justiça e tribunais regionais de justiça:

Durante a tramitação legislativa do projeto de lei que deu origem ao CPC-2015, a versão final aprovada pela Câmara dos Deputados continha um parágrafo no art. 978 que dizia expressamente que o IRDR só era cabível em tribunal de justiça e em tribunal regional federal. Na versão final, não há essa restrição. O CPC foi aprovado, enfim, sem qualquer restrição quanto ao cabimento do IRDR.12 Seguindo o posicionamento da segunda corrente, com a admissão do IRDR, suspendem-se os processos pendentes, individuais ou coletivos, em que se discute a mesma questão, em âmbito de TJ suspende os processos de competência do Estado correspondente; sendo TRF suspende os processos de competência da região a que corresponde o tribunal; caso seja IRDR instaurado em STJ ou STF a consequência obtida será a suspensão nacional.

As bases que estruturam esse posicionamento é a ideia de microssistema13 de demandas repetitivas e formação de precedente. Assim leva a uma aplicação das normas desses microssistemas de forma a se interpretarem e integrarem.

10

DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, 3a. Ed. Salvador: Jus Podivm, 2017. p.723

11

DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, 3a. Ed. Salvador: Jus Podivm, 2017. p. 724

12

MEIRELES, Edilton; LEITE, Carlos Henrique Bezerra (org.). Do incidente de resolução de

demandas repetitivas no processo civil brasileiro e suas repercussões no processo do trabalho: Novo CPC. Repercussões no processo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 200

13 Enunciado n. 345 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "O incidente de resolução de

demandas repetitivas e o julgamento dos recursos extraordinários e especiais repetitivos formam um microssistema de solução de casos repetitivos, cujas normas de regência se complementam reciprocamente e devem ser interpretadas conjuntamente".

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3. ANÁLISE DO JULGAMENTO MONOCRÁTICO PROFERIDO PELO MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 148.519, STJ

Em meados de outubro de 2016, o ministro Mauro Campbell Marques, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em decisão monocrática determinou a suspensão nacional do trâmite dos processos que discutem a competência referente as demandas sobre contribuição sindical compulsória dos servidores públicos estatutários, se seria competência da Justiça Comum ou da Justiça do Trabalho.

A suspensão dos processos sobre a referida controvérsia de direito se deu com base na admissibilidade de IRDR instaurado perante o STJ (demanda originaria do tribunal), na qual monocraticamente o relator suspendeu os processos:

CONFLITO SUSCITADO NA VIGÊNCIA DO CPC/2015.

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONFLITO NEGATIVO DE

COMPETÊNCIA. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL COMPULSÓRIA

(IMPOSTO SINDICAL). SERVIDOR PÚBLICO. ART. 114, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS – IRDR. CONFLITO RECEBIDO COMO

REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 976, DO

CPC/2015. DISCUSSÃO SOBRE A COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÕES QUE TÊM POR OBJETO A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL DE SERVIDORES PÚBLICOS ESTATUTÁRIOS. POSSIBILIDADE DE

REVISÃO DA SÚMULA N. 222/STJ. DECISÃO.14

A decisão proferida pelo ministro, entretanto mostra uma certa confusão entre os institutos relacionados a gerencia de demandas repetitivas, IRDR e recursos repetitivos, vejamos:

Verifica-se que o tema em apreço, apesar de já julgado neste STJ por inúmeros precedentes, continua a ser suscitado reiteradas vezes para julgamento por esta Corte, havendo, inclusive, evidente conflito entre a jurisprudência mais recente e a Súmula n. 222/STJ (“Compete à Justiça Comum processar e julgar as ações relativas à contribuição sindical prevista no art. 578 da CLT”), a caracterizar a efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito (art. 976, I, CPC/2015) e o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica (art. 976, II, CPC/2015).

Ante o exposto, tendo em vista a aplicação por analogia do art. 1.036, §5º, do CPC/2015, recebo o presente conflito de competência como emblemático da controvérsia, a ser dirimida pela Primeira Seção (art. 978, do CPC/2015), conjuntamente com o CC n. 147.784 – PR, adotando-se as seguintes providências:

a) Identifico a questão a ser submetida a julgamento como sendo “a definição da competência para o julgamento das demandas onde se discute a contribuição sindical dos servidores públicos estatutários”, nos termos do art. 1.037, I, do CPC/2015, aplicável por analogia; b) Determino a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão

14

CC nº147784 (2016/0193111-2 - 03/10/2016). STJ. Decisão Monocrática- Ministro MAURO

CAMPBELL MARQUES, disponível em <

https://ww2.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/MON?seq=64912249&tipo=0&nreg=201601931 112&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20161003&formato=PDF&salvar=false> Acesso em 31 de Jul. de 2017.

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identificada e tramitem no território nacional, nos termos do art. 982, I, e art. 1.037, II, do CPC/2015, sendo que os pedidos de tutela de urgência deverão ser dirigidos aos juízos onde se encontrarem os processos suspensos na data da publicação desta decisão (art. 982, §2º, do CPC/2015)15. (grifos nosso)

Nota-se no trecho acima a aplicação simultânea do procedimento de instauração do IRDR e do processamento dos recursos repetitivos, sendo citado os artigos do CPC: 976 (hipóteses de cabimento do IRDR); 978 (julgamento o incidente cabe ao órgão indicado pelo regimento interno); 982 (atos do relator perante a admissibilidade do incidente); 1036 §5º (poder do relator selecionar dois ou mais recursos representativos da controvérsia); 1037 (ditames procedimentais do relator em recurso repetitivo como ex. a suspensão).

A admissibilidade do incidente foi feita diretamente pelo relator, com a justificativa de utilizar por analogia o disposto no art. 1037 CPC. Entretanto, contrariando o art. 981 do CPC, o qual prevê que a admissibilidade do incidente será realizada pelo colegiado competente.

Assim, a peculiar decisão monocrática do ministro relator, se dirige no sentido de confirmar a segunda corrente, admitindo a instauração de IRDR em demandas originárias de tribunal superior. Entretanto, acabou por criar um novo procedimento para o incidente. Consequentemente a decisão da força ao microssistema de gestão de demandas repetitivas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o exposto, resta claro que o CPC fornece ampla aplicação as técnicas de demandas repetitivas, buscando fortificar a isonomia e a celeridade das decisões. O IRDR é criado como instituto inovador que visa dar maior força aos tribunais locais.

Por ser uma novidade, questionamentos quanto a sua aplicação surgem. O presente trabalho buscou desenvolver a problemática do cabimento do incidente de resolução de demandas repetitivas diretamente no STF e STJ.

Concluiu-se pela inviabilidade da utilização do incidente em ações e recursos de competência dos tribunais de justiça e tribunais regionais federais. Afinal, instaurar o incidente nas cortes superiores seria uma supressão de instância, sendo vedado pelo ordenamento pátrio. O caminho processual válido para essas causas chegarem a análise desses tribunais é por recurso extraordinário ou especial.

Quanto aplicação do IRDR sobre demandas de competência originária dos tribunais superiores, duas correntes doutrinárias se formam, e ambas possuem fundamentos lógicos.

Seja o posicionamento que restringe a aplicação do IRDR aos tribunais estaduais e federais, por se restringirem aos ditames legais. Sendo uma posição mais cautelosa, o que torna a corrente majoritária na doutrina, dando base até mesmo para a criação de enunciado no Fórum Permanente de Processualistas Civis.

15

CC nº147784 (2016/0193111-2 - 03/10/2016). STJ. Decisão Monocrática- Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, disponível em

<https://ww2.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/MON?seq=64912249&tipo=0&nreg=20160193 1112&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20161003&formato=PDF&salvar=false> Acesso em 31 de Jul. de 2017.

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Porém, com a presença do microssistema de demandas repetitivas e formação de precedentes, a segunda corrente ganha relevância e aplicabilidade, ao admitir a aplicação do incidente em causas de competência originária dos tribunais superiores. Entretanto, é tese minoritária na doutrina.

Há uma possibilidade desse questionamento ser resolvido, diante da admissibilidade de IRDR de forma monocrática de relator, em sede do STJ frente a conflito de competência, segundo a CF88 é caso de competência originária de tribunal superior.

Perante essa decisão, a segunda corrente ganha maior prestígio. Sendo necessário aguardar o posicionamento da Corte, a qual poderá afastar o cabimento do incidente ou levar a julgamento colegiado processo afetado pelo IRDR.

Caso se confirme o cabimento do IRDR perante as demandas de competência originária dos tribunais superiores, o microssistema de gestão de ações repetitivas e formação de precedentes se amplia, mostrando sua relevância diante das inovações trazidas com o novo CPC.

REFERÊNCIAS

BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil. 2a Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

CABRAL, Antônio do Passo. O novo procedimento-modelo (Musterverfahren)

alemão: uma alternativa as ações coletivas. In: Revista de processo, São Paulo, v. 32, n.147, maio/2017, p. 123–146. Disponível em:

<http://biblioteca2.senado.gov.br:8991/F/?func=item-global&doc_library=SEN01&doc_number=000792261> . Acesso em 10 de julho de 2017.

DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 3, 3a. Ed. Salvador: Jus Podivm, 2017.

DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 20º Ed. São Paulo: Atlas, 2016.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo Civil. Vol. 2 - 3ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. ______. A ética dos precedentes: justificativa do novo CPC. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

MEIRELES, Edilton; LEITE, Carlos Henrique Bezerra (org.). Do incidente de resolução de demandas repetitivas no processo civil brasileiro e suas

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Referências

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